Doppler ultrasonography in gynaecology Abstract Resumo O ultra-som com Doppler é utilizado para estudar a hemodinâmica e, a partir das características do fluxo, auxiliar na diferenciação entre processos normais e patogênicos. O objetivo deste trabalho foi revisar as aplicações clínicas do Doppler em ginecologia e os mais recentes avanços na área. Entre elas, podem-se citar: diagnóstico de lesões ovarianas, alterações do climatério, miomas, adenomioses, doenças do endométrio e do colo do útero, alterações nas mamas, doença vascular uterina (congestão como causa de dor pélvica crônica) e diagnóstico em reprodução humana, cujos índices de pulsatilidade (IP) encontrados na artéria uterina auxiliam na avaliação da receptividade endometrial. O Doppler colorido pode demonstrar a origem da massa, bem como detectar áreas de neovascularização anormal. Combinado à ultra-sonografia transvaginal, proporciona avaliação fisiológica das massas anexiais, e não apenas morfológica. O Doppler tem tornado os diagnósticos mais precisos e avançados. Além do que já se tem, ainda há grande potencial, uma gama de possíveis aplicações, destacando este como um vasto campo a ser estudado. The Doppler ultrasonography is used to study hemodynamics as well as assist on the differentiation between physiologic and pathologic process, by means of examining flow patterns. The aim of this study was to review the applications of Doppler ultrasonography in gynaecology and the recent advances in this area. The applications include the diagnosis of ovarian lesions, climateric alterations, myomas, adenomiosis, endometrial and uterine cervix pathology, breast pathologies, uterine vascular pathology (congestion as the cause of chronic pelvic pain) and diagnosis in human reproduction (the pulsatility index (IP) in the uterine artery can be used to evaluate endometrial receptivity). The color Doppler can demonstrate the origin of a mass, as well as detect abnormal neovascularized areas. Together with the vaginal ultrasound, not only can we make a morphologic evaluation, but also a physiologic assessment of adnexal masses. The Doppler ultrsonography has contributed to a more precise diagnosis. In addition to what is already available, there is still potential for other applications yet to be further investigated and developed. AT U A L I Z A Ç Ã O Ultra-sonografia Doppler em ginecologia Camila Finger Viecelli1 Wellington de Paula Martins2 Francisco Maximiliano Pancich 3 Gallarreta Daniela de Abreu Barra4 Adílson Cunha Ferreira5 Francisco Mauad Filho6 Palavras-chave Ultra-sonografia Ultra-sonografia Doppler Técnicas de Diagnóstico Obstétrico e Ginecológico Diagnóstico por Imagem Keywords Ultrasonography Doppler ultrasonography Gynecology Diagnostic techniques and Procedures Diagnostic Imaging 1 Pós-graduação em Ultra-sonografia em Ginecologia e Obstetrícia pela Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de Ribeirão Preto - EURP 2 Doutor em Ginecologia e Obstetrícia. Médico assistente no HC-FMRP-USP e professor da EURP 3,4 Mestre em Ginecologia e Obstetrícia. Professor da EURP 5 Doutor em Ginecologia e Obstetrícia. Professor da EURP 6 Doutor em Ginecologia e Obstetrícia. Diretor administrativo da EURP. Professor da Pós-Graduação da FMPR-USP FEMINA | Agosto 2008 | vol 36 | nº 8 Femina_agosto.indb 497 497 23.09.08 10:27:55 Ultra-sonografia Doppler em ginecologia Introdução A ultra-sonografia com Doppler é utilizada para estudar a hemodinâmica e, adicionalmente, caracterizar processos normais e patogênicos. As características do fluxo em massas pélvicas podem ser fundamentais na diferenciação entre lesões benignas e malignas. A Dopplervelocimetria (efeito Doppler) é o processo pelo qual se obtêm as informações hemodinâmicas dos fluxos pela análise de ondas espectrais de velocidade, expressas por meio de mapeamento hemodinâmico colorido. Já o termo Dopplerfluxometria se refere à medida do fluxo sangüíneo por volume, em função do tempo, o que é raramente usado na prática clínica. Atualmente, estão disponíveis quatro tipos de processamento Doppler em medicina: Doppler contínuo, Doppler pulsátil, Doppler colorido (dc) e o power Doppler. O Doppler colorido indica a direção, velocidade e topografia do fluxo sangüíneo e o Doppler pulsátil quantifica o fluxo. Ambos são muito importantes na determinação do estudo hemodinâmico da pelve. O exame transvaginal com DC é uma técnica particularmente valiosa na análise de pequenos vasos cuja identificação é difícil só com o uso do Doppler pulsátil. O power Doppler é uma modalidade que utiliza movimentos de baixa freqüência das paredes arteriais para reproduzir a imagem dos vasos em um plano bidimensional. Nesse tipo de processamento, a amplitude dos sinais Doppler é utilizada para produzir o mapeamento mais nítido dos vasos insonados. É cinco a 10 vezes mais sensível que o mapeamento com Doppler colorido convencional, sendo capaz de demonstrar a vascularização do plano estudado, sem a interrupção do trajeto dos vasos. Entretanto, não é capaz de demonstrar o sentido do fluxo nos vasos. As aplicações do Doppler em ginecologia incluem o diagnóstico de lesões ovarianas, alterações do climatério, miomas, adenomioses, doenças do endométrio e do colo do útero, alterações nas mamas, doença vascular uterina (congestão e varizes como causadoras de dor pélvica crônica) e em reprodução humana, cujos índices de pulsatilidade (IP) encontrados na artéria uterina servem para prognóstico na implantação de embriões. Anatomia e fluxo ovarianos normais O ovário é irrigado pela artéria ovariana e pelo ramo anexial da artéria uterina. A artéria ovariana se origina da aorta abdominal e tem um trajeto em direção ao ovário através do ligamento infundíbulopélvico. O ramo anexial da artéria uterina dá outros ramos, os intra-ovarianos, que penetram na cápsula ovariana, ficando 498 espiralados e tortuosos, especialmente em áreas desprovidas de folículos. Quando se forma um corpo lúteo, formam-se pequenos vasos em sua parede, resultando numa “arcada vascular”. O fluxo sangüíneo dentro dessa arcada vascular tem fluxo diastólico relativamente alto e baixa pulsatilidade. Assim, é importante ressaltar que, na pré-menopausa, na fase lútea do ciclo menstrual, muitas mulheres têm áreas de fluxo de baixa impedância no ovário. Por isso, deve-se evitar examinar mulheres nessa fase do ciclo se o 1 pedido do exame visar à avaliação de massa anexial. Nas mulheres na pré-menopausa, o fluxo vascular do ovário depende de um corpo lúteo funcionando e a neovascularização relaciona-se às alterações hormonais que variam durante o ciclo menstrual. Na fase folicular, os vasos exibem alta resistência. Já na fase lútea, com a formação do corpo lúteo, podem ser identificados padrões de baixa resistência vascular em decorrência 1 da neovascularização. Na menopausa, os ovários geralmente são hipovascularizados, com apenas os ramos arteriais principais mostrando cor. É importante a realização de mais estudos para determinar o uso do DC na avaliação da vascularização ovariana nas mulheres em 1 menopausa que fazem reposição estrogênica. Morfologia das massas anexiais É importante estar atento às características morfológicas das massas anexiais retratadas por análise convencional em escala de cinza, ao interpretar-se o DC. Certos tumores (endometriomas, cistos dermóides, hidrossalpinge, piossalpinge, hematossalpinge, pseudocistos peritoneais, cistos para-ovarianos, cistos de corpo lúteo hemorrágico, miomas, abcessos e fibromas ovarianos, tecomas e tumores de Brenner) podem ter características típicas 2 na imagem de escala de cinza. Sabe-se que de todas as massas ovarianas, 80% são benignas, 10 a 15% são malignas e aproximadamente 5% são lesões metastáticas. O ovário é composto histologicamente de três tipos de células, que se organizam em camadas: celômica, de células germinativas e de estroma. Tumores do estroma ovariano ou do cordão sexual costumam ser hormonalmente ativos e representam 10% das massas ovarianas. Tipicamente, esses tumores demonstram fluxo de baixa impedância, provavelmente secundário a seu aumento de perfusão e vasodilatação.1 As massas anexiais predominantemente císticas incluem processos benignos, como os cistos fisiológicos, endometriomas e as massas paratubárias. Também são incluídas nessa categoria as lesões ovarianas epiteliais, que 1 abrangem tipos celulares benignos e malignos. Entre as massas FEMINA | Agosto 2008 | vol 36 | nº 8 Femina_agosto.indb 498 23.09.08 10:27:56 Ultra-sonografia Doppler em ginecologia complexas podem-se citar os cistos ovarianos benignos, tais como teratomas ovarianos e complexos tubovarianos, endometriomas e cistos hemorrágicos em cada uma das várias etapas de retração 1 do coágulo. As massas anexiais sólidas, em geral, são malignas. Costumam originar-se das células germinativas ou estroma. Uma exceção é o tumor de Brenner, que é lesão epitelial benigna, ainda 1 que seja sólida. As características morfológicas que sugerem malignidade incluem excrescências papilares de base ampla ou áreas sólidas irregulares. Outros achados ultra-sonográficos em doença ovariana metastáticas incluem ascite e espessamento omental. Essas características devem ser observadas antes da avaliação com DC, uma vez que é tipicamente visto fluxo anormal 1 nas áreas de anormalidade morfológica. Aplicações do Doppler em ginecologia Massas Anexiais A ultra-sonografia transvaginal é capaz de realizar uma avaliação detalhada da morfologia das massas anexiais, entretanto, algumas vezes é inespecífica. A ultra-sonografia com Doppler colorido (DC) com análise espectral torna possível a caracterização dessas lesões, com base na análise de sua vascularização. O DC pode demonstrar a origem da massa, bem como detectar áreas de neovascularização anormal. A partir do DC é possível retratar os vasos pélvicos que irrigam o útero e ovário. A análise espectral correlaciona-se com certos processos fisiológicos, como vasodilatação ou vasoconstrição, e a configuração vascular de certos leitos parenquimatosos. Uma combinação entre ultra-sonografia transvaginal e DC proporciona avaliação fisiológica das massas 1 anexiais, e não apenas morfológica. Um examinador experiente usando ultra-som pode discriminar entre tumores pélvicos benignos e malignos na região anexial com sensibilidade que varia entre 88 e 100% e especificidade entre 62 e 96%.3 Adicionar o exame do Doppler à avaliação subjetiva da imagem de escala de cinza do ultra-som pode aumentar a confiança com que um diagnóstico correto de benignidade ou malignidade é feito. 1 Fleischer et al. , em um estudo duplo-cego, demonstraram que o DC acrescentou informações clínicas importantes em 40% das pacientes 1 submetidas à ultra-sonografia transvaginal. Pesquisas demonstram que o DC aumenta o valor preditivo positivo e especificidade em 4 termos de caracterização de uma massa anexial. As arteríolas normais têm revestimento muscular interno, que regula a perfusão dos órgãos. Na angiogênese tumoral, os vasos tendem a não ter esse revestimento muscular interno e também pode haver um shunt artério-venoso nos vasos tumorais, levando à redução da resistência. Nos processos fisiológicos, a neoangiogênese é autolimitada, como ocorre nas alterações cíclicas relacionadas à formação do corpo lúteo e à neovascularização e vasodilatação encontradas na inflamação aguda. Nos vasos tumorais, esse processo não é autolimitado e é requisito para continuar o crescimento tumoral até 3 a 5 mm.1 O Doppler colorido requer a avaliação de múltiplos parâmetros: localização dos vasos, impedância relativa, velocidade e presença ou ausência de uma incisura na onda durante a diástole. Os vasos devem ser localizados como centrais, periféricos ou miscelâneos 1 (ou seja, dentro de projeções, septações). As massas malignas tendem a ter aumento da vascularização mais central ou nas projeções papilares. A incisura indica resistência momentânea ao fluxo anterógrado, que é rapidamente superada e geralmente é sinal de que um vaso tem revestimento muscular, como um grande vaso hilar ou “alimentador”. Essa incisura costuma estar ausente nas doenças malignas. Vasos parenquimatosos, em que a resistência geralmente é baixa, podem apresentar incisura diastólica. Entretanto, tal achado é inespecífico, pois afecções benignas que estejam associadas a fluxo de baixa impedância podem não o demonstrar. Um cisto hemorrágico de corpo lúteo tipicamente contém material parecido com uma teia de aranha. Tecido sangüíneo irregular pode também ser visualizado. Até os examinadores mais experientes podem confundir esse tecido com projeções papilares ou componentes sólidos. Esta explanação está sendo feita porque há risco de classificação do cisto de corpo lúteo como um tumor maligno. O Doppler pode ajudar a discriminar entre um cisto (sem sinal detectável pelo Doppler) e um componente sólido (detectável por sinal Doppler). Muitas vezes, um tecido sangüíneo se moverá como gelatina quando o ovário é empurrado usando o transdutor vaginal. Quando em dúvida, o ideal é repetir o exame após seis a 12 semanas. Contudo, alguns cistos hemorrágicos podem persistir após esse período. Na mulher pós-menopáusica, deve-se ter atenção especial para qualquer massa anexial, pois 80% dos carcinomas ovarianos originam-se nas mulheres após 50 anos. Um cisto que preenche todos os critérios para um cisto simples é benigno em quase 100% das mulheres na menacme 1 e em 95% das mulheres em menopausa. Nas pacientes nessa faixa etária, não se deve observar fluxo sangüíneo nos ovários ou, se existir, o índice de resistência deverá ser próximo de 1 em razão de seu estado não-funcional. O uso de estrógenos, com ou sem progesterona, produz a revascularização de todo o trato genital, exceto dos ovários. A utilização do power Doppler tem reduzido as taxas de falso-negativos em relação ao DC, no estudo das lesões ovarianas.4 FEMINA | Agosto 2008 | vol 36 | nº 8 Femina_agosto.indb 499 499 23.09.08 10:27:56 Ultra-sonografia Doppler em ginecologia Massas tubárias, doença inflamatória pélvica e leiomiomas uterinos podem apresentar baixos índices de resistência. As alterações morfológicas que indicam que essas massas se originam fora do ovário associadas à história clínica da paciente são fundamentais para o diagnóstico (Quadro 1). A avaliação dos complexos tubo-ovarianos por DC será variável, dependendo da presença ou não de inflamação. Caracteristicamente, naquelas pacientes ativamente infectadas haverá baixa resistência ao fluxo diastólico (IP baixo). Isso reflete o processo inflamatório ativo com vasodilatação ocorrendo nessas regiões. Por outro lado, se já tratadas adequadamente, esse complexo tubo-ovariano será apenas um resíduo de doença prévia, uma massa estéril, com 1 aumento da resistência diastólica e altos valores de IP. Quadro 1 - Achados típicos de ultra-sonografia transvaginal com Doppler colorido em massas ovarianas benignas e malignas Resistência, Tipo de Massa Distribuição dos vasos Velocidade relativa Corpo lúteo Periférica Baixa, alta Endometrioma Periférica Variável Cisto dermóide Periférica e central Variável Muito alta, quando presente Torção ovariana Ausente Tumor ovariano epitelial Periférica Alta, baixa benigno Tumor ovariano maligno Periférica e central Baixa, alta Adaptado de: Fleischer et al., 2000. O ultra-som transvaginal com Doppler vem se mostrando um método diagnóstico promissor nos casos de doença inflamatória pélvica. É capaz de detectar a hiperemia associada à inflamação da tuba uterina, com valor preditivo positivo de 91% e valor preditivo negativo de 100%. Entretanto, o uso do Doppler para avaliação desses casos tem suas limitações, como a necessidade de um ecografista experiente para discernir de outras doenças que também causam hiperemia tubária (por exemplo, a endometriose).5 Os leiomiomas uterinos costumam apresentar uma camada de estroma (representando a superfície peritoneal) junto à parede uterina, separando-a do ovário. Os índices de resistência dos 1 leiomiomas uterinos podem ser bastante variáveis. O DC é um exame imprescindível para o diagnóstico de torção anexial. Entretanto, é importante estar atento, pois há grande variedade nos achados de DC identificados nessa afecção. Esse amplo espectro deve-se à variação na totalidade da obstrução da irrigação ovariana. Na torção incompleta ou intermitente, os achados podem ser mínimos, enquanto nas completas não será detectado fluxo. Tipicamente, o primeiro achado é o de falta de fluxo venoso, caso em que o fluxo arterial ainda pode ser de500 monstrado, embora possa haver fluxo de alta resistência nesses 1 vasos. Mais tarde, demonstra-se ausência de fluxo arterial. Avanços no processamento do DC tornaram possível a visualização de vasos menores e também daqueles com menos velocidade. Assim, os menores ramos até as arteríolas (aproximadamente 100 microns) podem ser vistos e sua densidade vascular e padrão de ramificação determinados com o intuito de detectar pequenas malformações artério-venosas, que existem nos tumores.6,7,8 Embora alguns parâmetros da morfologia das ondas obtidas pelos Doppler, como velocidade média, estejam sendo correlacionados com marcadores bioquímicos de angiogênese, destaca-se a estimativa ultra-sonográfica da “densidade vascular” como a ferramenta 6 mais promissora na detecção de malignidades. Recentemente, com a contribuição do ultra-som tridimensional, associada ao DC é possível determinar espacialmente as lesões, visualizando-se a morfologia e a rede vascular.6,7,8 Nas doenças malignas pode-se observar uma distribuição na qual os vasos penetram na lesão, neovascularização, agrupamento de vasos, shunts e ramificações não-hierárquicas. Os vasos anormais podem ser tortuosos, apresentar áreas de estenose e dilatação aneurismal. Tais alterações normalmente são vistas na microvascularização, porém também podem ser percebidas na macrovascularização. Por outro lado, as lesões benignas apresentam um padrão periférico, com ramificações 6 regulares. Futuramente, técnicas utilizando contrastes poderão ajudar a distinguir os arranjos vasculares que sugiram malignidade 6 dos benignos. Patologias uterinas O Doppler colorido pode determinar o fluxo sangüíneo no 9 endométrio e miométrio. Para a identificação de pólipos endometriais, é fundamental a determinação, a partir do DC, do vaso 10,11 que o está irrigando. Porém, ainda não está bem estabelecido se existe um diâmetro limite para detecção desse vaso que nutre 12 o pólipo. Outra questão que permanece sem resposta é se o número, arranjo e fluxo sangüíneo nessas massas polipóides 13 poderiam ter alguma correlação histológica. O DC pode ser extremamente útil para confirmar a presença e extensão de leiomiomas. Por meio do DC pode-se determinar sua localização como submucosa, intramural ou subserosa, o que é fundamental nos casos em que será feita embolização da artéria uterina e mesmo para decisão de qual cirurgia será feita 6, 12 para ressecção da lesão. Outra aplicação importante do DC é na diferenciação entre leiomiomas e adenomiose. Os leiomiomas costumam ter borda de FEMINA | Agosto 2008 | vol 36 | nº 8 Femina_agosto.indb 500 23.09.08 10:27:56 Ultra-sonografia Doppler em ginecologia vasos periféricos, enquanto as áreas de adenomiose não. Como o DC demonstra as alterações na vascularização uterina, que podem estar relacionadas ao sangramento excessivo e/ou dor, outra utilidade para o método pode ser o seguimento de pacientes que estejam realizando tratamento medicamentoso para sangramento uterino anormal e dor. A correlação entre a vascularização uterina vista ao DC 6 e sintomas ainda necessita de investigações complementares. O DC também vem sendo utilizado para comparar as diferenças entre hormonioterapias clássicas utilizadas na pós-menopausa, como o raloxifeno e a tibolona. Um estudo recente comparou essas duas medicações que foram administradas por um período de seis meses em mulheres pós-menopáusicas, a partir do Doppler transvaginal. Foram estudadas a espessura endometrial, índices de pulsatilidade e de resistência nas artérias uterinas. A conclusão dos autores foi que ambas as drogas exercem efeitos semelhantes na espessura endometrial e suprimento sangüíneo.14 A ecografia transvaginal serve como rastreio para carcinoma endometrial em mulheres pré e pós-menopáusicas. A maioria dos autores estabeleceu como suspeito um endométrio cuja espessura seja superior a 5 mm (especificidade de 95%). Além disso, devese valorizar também a ecorrefringência, homogeneidade ou não e a delimitação do endométrio. Ao acrescentar o DC no estudo desses casos, mesmo antes do aparecimento dos sintomas, podese detectar a angiogênese anômala que invade e irriga o tumor endometrial. Esses vasos podem ser detectados e avaliados pelo Doppler. Estabeleceu-se que IR entre 0,5 e 0,6 e IP entre 1 e 1,3, intra-endometriais, em idades avançadas devem ser considerados suspeitos de neoplasia maligna. A sensibilidade diagnóstica, quando valorizada exclusivamente a espessura endometrial, é de 82%, com índices de falso-positivos de 5%; quando associados ao Doppler, a sensibilidade chega a 100% e os falso-positivos em torno de 2,6%. Na mulher pós-menopáusica, o útero é atrésico e apresenta máxima resistência e os índices de pulsatilidade são superiores a três em toda a vascularização genital. O Doppler não se aplica no diagnóstico precoce do câncer de colo uterino. As alterações vasculares do colo do útero só podem ser vistas ao Doppler quando a invasão já está avançada, comprometendo os paramétrios e o terço superior da vagina, quando esse método pode acrescentar informações importantes tanto diagnósticas quanto terapêuticas. Congestão pélvica A dor pélvica crônica é um motivo freqüente de consultas ginecológicas de mulheres na idade reprodutiva. Entre as possíveis etiologias, encontra-se a congestão pélvica, que é a distensão das veias ovarianas e para-uterinas associada à estase vascular. Define-se a síndrome da congestão pélvica como um quadro de dor pélvica com duração de mais de seis meses, após a exclusão de outras causas como adenomiose, endometriose, aderências, dor menstrual atípica, desordens urológicas e gastrintestinais e problemas psicossociais. Com a endosonografia é possível visualizar esses vasos pélvicos dilatados e, freqüentemente, confundir essas imagens com ovários policísticos ou pequenos cistos. O incremento do Doppler pulsátil foi fundamental para a realização do diagnóstico diferencial, pois ele demonstra a natureza vascular das imagens. E com o acréscimo do DC, pode-se diferenciar o componente arterial do venoso e detectar 6,15 alterações vasculares em nível tanto periférico como intra-uterino. Varizes ovarianas são encontradas em 50-73% das pacientes que são tipicamente multíparas e pré-menopáusicas. A dilatação da veia ovariana durante a gestação leva a uma incompetência valvular e ao fluxo venoso retrógrado. Outros fatores que podem contribuir são a estenose de veia renal e a incompetência valvular primária devido ao aumento da resistência valvular periférica secundária a variantes anatômicas, como compressão da veia ovariana esquerda 15 pela artéria ilíaca comum ipsilateral. As veias do anexo esquerdo têm a tendência de aparecerem mais dilatadas que as do lado direito porque a veia ovariana esquerda é tributária da veia renal esquerda, enquanto a veia ovariana direita tem trajeto mais curto até a veia cava. Para auxiliar a visualização dos vasos pélvicos durante o exame, o paciente 6 pode realizar a manobra de Valsalva. Existem três tipos de congestão pélvica: a) congestão venosa ou varizes pélvicas; b) congestão arterial; c) congestão artériovenosa generalizada ou mista. É importante, ao se tratar uma paciente com dor pélvica crônica, saber que é apenas da congestão arterial que se originam as dores persistentes e que essas artérias tendem a aparecerem dilatadas em localizações intraparenquimatosas. Doppler em reprodução humana O ultra-som transvaginal tem papel fundamental no diagnóstico, manejo e tratamento de pacientes inférteis. Suas maiores aplicações clínicas incluem a avaliação do endométrio em pacientes com inadequação de fase lútea, observação da permeabilidade tubária e detecção e acompanhamento de distúrbios que podem estar relacionados à infertilidade, como a endometriose, miomas e malformações uterinas. É imprescindível na monitorização folicular, aspiração folicular FEMINA | Agosto 2008 | vol 36 | nº 8 Femina_agosto.indb 501 501 23.09.08 10:27:57 Ultra-sonografia Doppler em ginecologia orientada, transferência de embriões e canulação transcervical da 16 tuba para a transferência intratubária de gametas (GIFT). Com o acréscimo do DC à ecografia transvaginal, houve grande avanço na avaliação e tratamento dos distúrbios reprodutivos, como desordens no ciclo ovulatório e a síndrome dos ovários policísticos.6,17 O DC traz informações sobre a vascularização intra-ovariana referente ao desenvolvimento folicular, o que pode ser útil na otimização do tratamento de pacientes com desordens ovulatórias. Os folículos que apresentam um anel vascular em torno de si tendem a produzir folículos fertilizáveis. Por outro lado, os folículos que não se romperam (luteinizaram) 6,18 são pobremente vascularizados. O power Doppler tem sido usado para predizer o desfecho de tratamentos como a fertilização in vitro e a inseminação intrauterina. A taxa de fertilidade pode ser sugerida pelo aumento da vascularização perifolicular. Por sua vez, folículos com vascularização mais pobre parecem apresentar piores taxas de fertilização. A taxa de gestações por ciclo mostrou-se mais alta quando a transferência embrionária derivou de folículos com alto grau de vascularização na comparação com folículos com médio ou baixo grau de vascularização. Entretanto, esses estudos ainda são inconclusivos, 4 sendo necessárias mais pesquisas nesse campo. Estudo recente demonstrou que o índice de resistência e de pulsatilidade da artéria intra-ovariana medidos no dia da aspiração folicular podem ser um bom indicativo de luteinização folicular, 19 oxidação e qualidade do oócito. Outro trabalho recente, realizado com vacas, também avaliou em detalhes o fluxo sangüíneo em folículos ovarianos e no corpo lúteo, por meio do DC. Verificou-se que as mudanças do suprimento sangüíneo de dado folículo estavam intimamente ligadas à dinâmica folicular, crescimento e atresia. O fluxo sangüíneo detectado na teca externa de folículos maduros rapidamente aumenta perto do pico de LH e é mais ativo antes da ovulação. Também se viu que o suprimento sangüíneo para o folículo que está se luteinizando aumenta proporcionalmente ao seu volume e à concentração plasmática de progesterona; e o fluxo sangüíneo em torno do corpo lúteo maduro rapidamente decresce em 20 resposta às prostaglandinas (PGF²α). O Doppler colorido também pode ser empregado na determinação do desenvolvimento endometrial, a partir da visualiza6,17 ção de sua vascularização. Sabe-se que para a realização de transferência embrionária, o ideal é dispor de um endométrio ricamente vascularizado, com vasos espiralados, que podem ser evidenciados com o DC.6 Outro avanço tecnológico, o Doppler colorido tridimensional pode ser utilizado para determinar a estrutura e a patência tubária.6,21 Além 502 disso, pode-se realizar o exame injetando-se solução salina ou contraste positivo (microbolhas), tornando possível, indiretamente, determinar a relação da trompa com o ovário e a presença de aderências, pela visualização da mobilidade tubária em tempo real. O examinador pode realizar uma pressão na área com o probe transvaginal. Se houver aderências, a trompa terá pouca mobilidade.6 Doenças mamárias O Doppler colorido também tem seu campo na mastologia, provendo informações sobre a vascularização de nódulos mamários. Pode ser usado para melhor visualização dos limites de uma massa e determinação de chances de malignidade a partir da análise da densidade do vaso e seu arranjo. A hipervascularidade, que é vista como densidade vascular ao DC, pode ser comprovada microscopicamente após a retirada da peça.6,22 A utilização de contrastes também pode ser útil na diferen6,23 ciação entre lesões benignas e malignas. Como no ovário, os nódulos malignos na mama exibem arranjos vasculares caóticos, 6 com vasos agrupados. Conclusões Este trabalho revisou as aplicações clínicas do Doppler em ginecologia e, a partir dele, pôde-se perceber que é um vasto campo em crescimento. O Doppler tem tornado os diagnósticos mais precisos e avançados. O surgimento de novas técnicas, como o uso de contraste - que já vem sendo amplamente empregado para análise cardiológica, hepática e vascular- é uma grande promessa em ginecologia, com diversas possíveis aplicações, como na detecção precoce do câncer de ovário. A maioria dos avanços técnicos descritos nessa revisão resulta de melhoramentos na aquisição de sinais e processamento de imagens. É importante considerar que isso ocorreu sem ônus aos pacientes como desconforto ou aumento do risco biológico. Entretanto, sempre é importante continuar monitorizando a intensidade dessas técnicas. O ecografista deve estar atento aos índices mecânicos e térmicos para cada 6 estudo, conforme a regulamentação. Esta revisão demonstra que o Doppler em ginecologia tem evoluído e cada vez mais essa técnica vem ajudando no diaa-dia do especialista. Deve-se saber que há grande potencial, uma gama de possíveis aplicações e avanços tecnológicos FEMINA | Agosto 2008 | vol 36 | nº 8 Femina_agosto.indb 502 23.09.08 10:27:57 Ultra-sonografia Doppler em ginecologia Leituras suplementares 1. Fleischer AC, Cullinan JA, Kepple DM. Ultra-sonografia com Doppler para melhorar a qualidade do que já temos e existe ainda colorido em massas pélvicas. In: Fleischer AC, Cullinan JA, Kepple muito a ser estudado. DM. Ultra-Sonografia em Obstetrícia e Ginecologia: princípios e prática. Rio de Janeiro: Revinter; 2000. p.791-813. 13. Alcázar JL, Castillo G, Mínguez JÁ,Galán M. Endometrial blood flow mapping using transvaginal Doppler de amplitude sonography in women with postmenopausal bleeding and thickened endometrium. Ultrasound Obstet Gynecol. 2003; 21: 583-8. 2. Valentin L. Use of morphology to characterize and manage common 14. Botsis D, Christodoulakos G, Papagianni V, Lambrinoudaki I, adnexal masses. Best Prac Res Clin Obstet Gynecol. 2004; 18: 71-89. Aravantinos L, Makrakis E, Creatsas G. The effect of raloxifene and tibolone on the uterine blood flow and endometrial thickeness: A transvaginal Doppler study. Maturitas. 2006; 53:362-8. 3. Valentin L, Hagen B, Tingulstad S, Eik-Nes S. Comparison of pattern recognition and logistic regression models for discrimination between benign and malignant pelvic masses. 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FEMINA | Agosto 2008 | vol 36 | nº 8 Femina_agosto.indb 503 503 23.09.08 10:27:57 Vitaminas: C, E, B6, B12, Ácido Fólico Minerais Quelatos: Zn, Cu, Mg, Se ina itam h e r V l A Mu u da o s e ! d ário e eitu c e R Auxilia a mulher na prevenção das doenças associadas às deficiências de vitaminas e minerais Supre as necessidades diárias das Vitaminas B6, B12, C, E e Ácido Fólico e dos Minerais Zinco e Cobre 1,2,3, 4,5,6,18,2 3 7,2 3 Ácido Fólico 400 microgramas Atende às recomendações da OMS, para mulheres em idade reprodutiva 18 Apresentação: 30 comprimidos revestidos Posologia: 1comprimido, 2 vezes ao dia 23 1 OLIGOVIT® - Referência Bibliográfica: 1 - Krause, M.V. e Mahan. L.K. – Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. São Paulo: 7ª ed. Roca, 1991. cap. 6: Vitaminas; cap. 7: Minerais. 2 - Hughes, D.A. – Effects of dietary antioxidants on the immune function of middle-aged adults. 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OLIGOVIT® (Vitamina E + associações) pode ser utilizado como coadjuvante na prevenção e tratamento de doenças originadas ou agravadas pela presença de radicais livres no organismo. CONTRA-INDICAÇÕES: OLIGOVIT® (Vitamina E + associações) está contra-indicado em pacientes com história de manifestação alérgica a algum dos componentes. PRECAUÇÕES E ADVERTÊNCIAS: OLIGOVIT® (Vitamina E + associações) não deve ser utilizado na gravidez e lactação sem que haja orientação médica específica. Pacientes com hipersensibilidade aos componentes da fórmula devem fazer uso do OLIGOVIT® (Vitamina E + associações) com cautela. Pacientes com perda de sangue podem ter seu quadro modificado pela presença de vitamina B12 e ácido fólico na formulação. O uso de substâncias antioxidantes em fumantes permanece controverso. Pacientes com calculose devem ter o uso deste medicamento avaliado pelo médico devido à presença de ácido ascórbico na formulação. Este medicamento não deve ser utilizado por mulheres grávidas sem orientação médica ou do cirurgião-dentista. POSOLOGIA: Tomar 2 comprimidos por dia, meia a uma hora antes do almoço ou jantar. Recomenda-se a administração dos comprimidos de OLIGOVIT® (Vitamina E + associações) meia a uma hora antes das refeições para evitar o desconforto ou dores abdominais devido as altas concentrações de vitaminas antioxidantes e pela presença de sais aminoácidos quelatos. Só o médico pode definir a dose e o tempo de administração de acordo com as peculiaridades do paciente e a(s) patologia(s) que apresenta. ATENÇÃO: Este produto é um medicamento novo e embora as pesquisas tenham indicado eficácia e segurança, quando corretamente indicado, podem ocorrer reações adversas imprevisíveis, ainda não descritas ou conhecidas. Em caso de suspeita de reação adversa, o médico responsável deve ser notificado. M.S. nº 1.1861.0101.003-5. Fabricado e Embalado por: Ativus Farmacêutica Ltda. Rua Fonte Mécia, 2050 - Valinhos - SP - Cep.: 13270- 000. SAC: 0800 55 1767. Indústria Brasileira. Para maiores informações, vide bula do produto. CLASSIFICAÇÃO: MEDICAMENTO. A PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO anúncio oligovit 21 21,0 0 x 27 27,5.indd 5 indd 1 Femina_agosto.indb 504 17/4/2008 16:27:00 23.09.08 10:27:57