MERCADO DE TRABALHO NA PRODUÇÃO DE ALGODÃO E SOJA: UMA ANÁLISE
COMPARATIVA
Alexandre Nunes de Almeida1; Augusto Hauber Gameiro2. (1) Centro de Estudos Avançados em
Economia Aplicada, CEPEA/ESALQ/USP, Caixa Postal 132, 13400-970. Piracicaba, SP, Brasil. E-mail:
[email protected] e (2) Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, CEPEA/ESALQ/USP,
Caixa Postal 132, 13400-970. Piracicaba, SP, Brasil. [email protected].
RESUMO
O objetivo do presente trabalho é comparar e analisar através de alguns indicadores sócioeconômicos se existe uniformidade salarial para o pessoal ocupado entre estas duas grandes culturas
nos principais estados produtores como Mato Grosso, Mato grosso do Sul, Paraná, Bahia, Goiás e São
Paulo no ano de 2000. Para a análise do pessoal ocupado, foram utilizados os microdados do Censo
2000 e escolhido dois tipos de categorias de ocupação: empregado com carteira de trabalho assinada
e empregado sem carteira de trabalho assinada. De acordo com os resultados, pode-se concluir que a
soja emprega uma porcentagem significativamente maior de trabalhadores registrados do que a cultura
do algodão, e que alguns estados apresentaram uma grande diferença salarial entre as duas culturas
analisadas. Diferença salarial que também se observou ao comparar a mesma cultura com estados
diferentes.
INTRODUÇÃO
Já é bastante conhecido o fato de que a modernização da agricultura, o aumento da
produtividade e a expansão da fronteira agrícola têm colocado o Brasil numa privilegiada posição no
comércio agrícola mundial. A cada rodada de negociação internacional, melhoria da logística com a
redução do chamado “Custo Brasil” e aumento no dinamismo do mercado interno, produtos agrícolas
como a soja, milho e algodão disputam ano a ano seu espaço em estados como Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul, Goiás, Bahia, dentre outros. Para o algodão nacional, uma vez superada a grave crise
no período de 1989 e 1997 (Pinazza & Alimandro, 2000), agora, tem atingido recordes de
produtividade, resultado esse da visão de um moderno produtor rural em buscar as melhores técnicas
produtivas com melhores sementes, tratos culturais especializados e colheitas mecanizadas,
principalmente nos estados da região Centro-Oeste. Devido a isso, é evidente que tem ocorrido uma
tendência decrescente na demanda por mão-de-obra (Gasques & Conceição, 2000). Por outro lado, na
oferta de trabalho, aumentam-se as exigências por empregados com qualificação adaptada às novas
tecnologias e com um nível de escolaridade mais elevado. Neste trabalho, pretende-se analisar e
comparar brevemente o perfil socio-econômico dos empregados com carteira assinada e sem carteira
assinada na cultura do algodão e na na cultura da soja nos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do
Sul, Goiás, Bahia, São Paulo e Paraná. Serão analisadas características como número de
trabalhadores, salários, recebimento por hora trabalhada e escolaridade. A base de dados utilizada
corresponde aos microdados do Censo 2000 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
MATERIAL E METÓDOS
Na análise das informações sobre o pessoal ocupado na atividade agrícola algodoeira e da soja
será feito uso dos microdados do Censo Nacional 2000 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia
1
e Estatística (IBGE). O censo populacional tem sido realizado a cada dez anos e tem por objetivo
levantar dezenas de informações acerca do domicílio e dos indivíduos. Neste último, que foi realizado
em 2000, foram recenseadas cerca de 169.799.170 pessoas. As informações referentes à população
economicamente ativa correspondem à semana de 23 a 29 de julho, para indivíduos acima de 10 anos
de idade. Nesse levantamento, o indivíduo é questionado se trabalha ou não, no caso de uma reposta
afirmativa, o entrevistado responde seguidamente ao recenseador qual ocupação está inserida,
baseado na classificação brasileira de ocupações (CBO), e em qual atividade econômica, baseado na
classificação nacional de atividade econômica, comumente conhecida por CNAE/95. Neste trabalho,
as informações referentes aos trabalhadores com carteira e sem carteira, é bom lembrar que um
produtor (empregador) de algodão da região Centro-Oeste, por exemplo, pode dedicar uma parte da
propriedade na produção de soja, por isso, espera-se que as características socioeconômicas de seu
empregados não sejam tão discrepantes.
Nas figura 1 e 2 estão o percentual de trabalhadores com carteira assinada e sem carteira para
as culturas da soja e do algodão para os principais estados produtores1. Pode-se observar que, no
gráfico 1, a atividade econômica da soja apresentou mais trabalhadores com carteira de trabalho do
que a do algodão em 2000. Os estados de Mato Grosso e São Paulo são os que apresentam o maior
percentual de trabalhadores que possuem carteira assinada com cerca de 60% do total. Com relação a
categorias de empregados sem carteira assinada, o algodão apresenta maior percentual que a soja
para todos os estados analisados. Por exemplo, no caso do algodão produzido na Bahia, quase 100%
dos trabalhadores não possuem carteira assinada. Apenas o estado de Goiás possui o mesmo número
de trabalhadores com carteira de trabalho e sem carteira.
Analisando separadamente cada categoria de ocupação, para os trabalhadores registrados,
observa-se que existe uma diferença salarial considerável para os estados do Mato Grosso do Sul e
Goiás, cerca de 1 salário mínimo a mais para os trabalhadores da cultura do algodão no recebimento
médio mensal (figura 3) com relação aos trabalhadores da soja. Os trabalhadores de algodão do
Paraná também possuem um diferencial de salário positivo em relação aos trabalhadores da soja. Já o
estado do Mato Grosso, responsável por mais de 50% da safra nacional de algodão, os trabalhadores
com carteira assinada apresentavam praticamente a mesma remuneração daqueles que trabalhavam
com soja. Essa baixa diferença pode ser perfeitamente explicada pelo fato dos produtores de soja
também produzirem algodão.
Para os trabalhadores sem carteira assinada e para todos os estados analisados, é a cultura da
soja que remunerou melhor do que aqueles que trabalham com algodão (figura 4). O estado Mato
Grosso, conhecido por ter alta produtividade nestas duas lavouras, remunerou bem melhor tantos os
trabalhadores de algodão e os da soja com relação aos outros estados.
Na figura 5 tem-se o recebimento médio por hora trabalhada para as duas categorias de
trabalhadores analisados. Observa-se que o estado do Mato Grosso, para ambas as culturas e
categorias de trabalhadores, é o estado que apresenta menor diferença salarial entre estes dois
grupos. Cada trabalhador recebe por hora trabalhada entre 1,5 e 2,0 reais tanto para a soja como para
o algodão. No estado de Goiás, o trabalhador que mais recebeu em julho de 2000 por hora trabalhada
é aquele empregado com carteira que trabalha na cultura algodoeira. Já o menor rendimento por hora
trabalhada corresponde ao empregado que trabalha com algodão, mas não possui carteira assinada,
no estado do Mato Grosso do Sul e no Paraná.
Com relação a escolaridade do trabalhador agrícola, já é fato conhecido que educação está
positivamente correlacionada com desenvolvimento econômico. Seguindo exemplo dos países
desenvolvidos, aqueles em estão em desenvolvimento como o Brasil e México perceberam que para se
aumentar a produtividade do seus fatores de produção é necessário não somente usar altas
tecnologias, mas investir no capital humano disponível. Por isso, quanto maior for a disponibilidade de
trabalhadores com grau de instrução elevado mais fácil será capacitá-los para operar máquinas e
implementos altamente avançados, por exemplo. Na figura 6 tem-se a escolaridade média dos
1
Cada coluna do gráfico 1 e 2 soma 100%.
2
trabalhadores com e sem carteira de trabalho para a cultura da soja e do algodão nos principais
estados analisados. Observa-se que Mato Grosso, conhecido pela sua alta produtividade, é o estado
que mais apresenta homogeneidade com relação ao nível de instrução de seus trabalhadores. Em
linhas gerais, os trabalhadores com carteira assinada possuem maior escolaridade do que aqueles que
não tem carteira assinada. Este fato merece ser mais analisado, porque uma vez que for mais instruido
um trabalhador temporário, este, além de poder aumentar a eficiência produtiva de máquinas, pode
reduzir alguns custos variáveis, como desgaste operacional das mesmas.
CONCLUSÕES
O estudo da dinâmica do emprego no campo é importante para o conhecimento da importância
social para as culturas, especialmente em localidades onde os setores estão em fase de rápida
evolução, como as fronteiras agrícolas do Centro-Oeste brasileiro.
De acordo com os resultados, pode-se concluir que a soja emprega uma porcentagem
significativamente maior de trabalhadores registrados do que a cultura do algodão. Provavelmente o
grande contingente de trabalhadores avulsos (não registrados), para as capinas manuais no algodão,
seja uma explicação para esse fato. Segundo trabalhos de levantamento de custo de produção do
CEPEA/ESALQ (Ferreira-Filho & Gameiro, 2002), as lavouras de algodão do Centro-Oeste geralmente
exigem duas capinas, cada uma com 6 homens-dia/hectare, em média, para ser realizada. Essa
informação ilustra a importância dessa categoria de mão-de-obra. Entretanto, é importante a ressalva
de que a metodologia da pesquisa do IBGE, por considerar o emprego em um momento específico no
tempo – mês de julho – pode apresentar limitações, uma vez que nesse período, está-se em plena
colheita de algodão em estados importantes como o Mato Grosso.
100
80
60
40
20
Mato
Grosso
Mato
Grosso do
Sul
Goiás
Algodão
Bahia
Paraná
Sao Paulo
Soja
Figura 1. Percentual de empregados com carteira assinada
Fonte: Censo 2000 (microdados).
3
100
80
60
40
20
0
Mato Grosso Mato Grosso
do Sul
Goiás
Bahia
Algodão
Paraná
Sao Paulo
Soja
salário mínimo
Figura 2. Percentual de empregados sem carteira assinada
Fonte: Censo 2000 (microdados).
4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
Mato Grosso
Mato Grosso do
Sul
Goiás
Algodão
Bahia
Paraná
Sao Paulo
soja
salário mínimo
Figura 3. Recebimento médio mensal em salários mínimos para empregados com carteira de trabalho em 2000
Fonte: Censo 2000 (microdados).
3,50
3,00
2,50
2,00
1,50
1,00
0,50
0,00
Mato Grosso Mato Grosso
do Sul
Goiás
Algodão
Bahia
Paraná
Sao Paulo
Soja
Figura 4. Recebimento médio mensal em salários mínimos para trabalhadores sem carteira de trabalho em 2000.
Fonte: Censo 2000 (microdados).
4
R$/h
3,00
2,50
2,00
1,50
1,00
0,50
0,00
Mato
Grosso
Mato
Grosso do
Sul
Goiás
Bahia
Paraná
Sao Paulo
Soja - empregado com carteira
Algodão - empregado com carteira
Algodão - empregado sem carteira
Soja - empregado sem carteira
Figura 5. Recebimento médio por hora trabalhada para trabalhadores com e sem carteira trabalho em 2000
Fonte: Censo 2000 (microdados).
7,0
6,0
5,0
4,0
3,0
2,0
1,0
Mato Grosso Mato Grosso
do Sul
Goiás
Bahia
Paraná
São Paulo
Soja - empregado com carteira
Algodão - empregado com
Algodão - empregado sem carteira
Soja - empregado sem cart
Figura 6. Escolaridade média para trabalhadores com carteira e sem carteira em 2000
Fonte: Censo 2000 (microdados).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FERREIRA FILHO, J.B.S. GAMEIRO, A.H. Avaliação econômica do algodão Bollgard no Brasil. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 40.,2002, Passo Fundo.
Anais...
GASQUES, J.G.; CONCEIÇÃO, J. C. P. R Transformações estruturais da agricultura e produtividade
total dos fatores. Brasília: IPEA – DISET, 2000. 28p.
Pinazza, L. A., Alimandro, R. Fibra resistente: da proibição da rainha à abertura do governo, a
cotonicultura brasileira resiste e ensaia passos de recuperação. Agroanalysis. v.20, n.11, p.18-21,
2000.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo populacional 2000, microdados
(cd-rom).
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