MARIA DA PENHA NOGUEIRA DE AZEVEDO BARRAGENS DE TERRA – SISTEMAS DE DRENAGEM INTERNA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Anhembi Morumbi no âmbito do Curso de Engenharia Civil com ênfase Ambiental. SÃO PAULO 2005 MARIA DA PENHA NOGUEIRA DE AZEVEDO BARRAGENS DE TERRA – SISTEMAS DE DRENAGEM INTERNA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Anhembi Morumbi no âmbito do Curso de Engenharia Civil com ênfase Ambiental. Orientador: Prof. Dra. Campos SÃO PAULO 2005 Gisleine Coelho de i AGRADECIMENTOS Aos meus pais e irmãos, pela força, apoio e incentivo; Ao Kleber, meu esposo, pela dedicação e paciência; À minha orientadora Dra. Gisleine Coelho de Campos, que sem ela certamente não seria possível a realização deste trabalho; A CNEC Engenharia S.A, pela contribuição em meus conhecimentos e minha formação; Ao Dr. Ciro Humes pela ajuda, incentivo e material fornecido; Ao Eng° João Vicente Pires pela grande ajuda oferecida; A CESP e seus colaboradores na pessoa do Eng° Júlio Cesar Pínfari, Eng° José Ulisses Peloso e o Sr. Ariovaldo Antônio de Araújo, pelas informações e pela oportunidade de visita técnica a obra de Paraibuna além dos materiais fornecidos que subsidiaram este trabalho; A Construções e Comércio Camargo Correa S.A., por possibilitar acesso as informações técnicas sobre a Barragem de Paraibuna; A todos que fizeram possível a realização deste trabalho. ii RESUMO Este trabalho apresenta um estudo sobre barragens de terra e os sistemas de drenagem interna. Inicialmente são abordados os tipos de barragens, suas finalidades e características. Apresentam-se também os fatores que podem influenciar a escolha de cada tipo de seção (barragem homogênea, de enrocamento ou de concreto). Posteriormente são discutidos a importância e os critérios de dimensionamento dos filtros de barragens de terra, apresentando os problemas que podem ocorrer pela ineficiência deste sistema, considerado pelos especialistas a “alma da barragem”. A barragem de Paraibuna, localizada no rio Paraibuna, constitui o estudo de caso: abordam-se as medidas mitigadoras que foram tomadas em relação aos impactos ambientais causados pela obra e as características dos sistemas de drenagem interna. Verifica-se que não houve, ao longo do tempo, grandes avanços tecnológicos nesses sistemas; desde 1922, empregam-se os critérios de filtro de Terzaghi. Os avanços deram-se em relação à ferramenta utilizada em seu dimensionamento que é, na maioria das vezes, executado através de softwares específicos. Palavras Chave: barragens de terra; drenagem interna; filtros; impactos ambientais. iii ABSTRACT This paper describes a research performed about earth dams and usual internal drainage systems . The different types of dams are also presented, with emphasys in some aspects that can influence on their behaviour. Internal drainage systems, considered by geotechnical engineers the “heart” of an earth dam, are discussed. Most common problems involving these systems are described and some factors of their project are presented. Paraibuna dam, located in Paraibuna river, illustrate the main theoretical aspects discussed in this paper. Environmental impacts of its construction are also presented. Finally, this paper shows that there is not great technological development in earth dams. Nowadays, engineers are using the same materials and geometries in drainage systems that Terzaghi used in the last century. Key Worlds: earth dams; internal drainage; drains; environmental impacts. iv LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 5.1: Barragem de Rosana .............................................................................11 Figura 5.2: Barragem do Vigário ..............................................................................12 Figura 5.3: Barragem de Itumbiara............................................................................14 Figura 5.4: Barragem de São Simão, leito do Rio, Barragem de enrocamento .......15 Figura 5.5: Barragem de São Simão .........................................................................16 Figura 5.6: Barragem de Itaúba, seção transversal na estaca 11 ............................18 Figura 5.7: Vista aérea da barragem de Campos Novos ..........................................19 Figura 5.8: Vista da UHE Americana – Barragem de concreto gravidade ................20 Figura 5.9: Barragem de saco Nova Olinda – PB .....................................................21 Figura 5.10: Usina de Funil da Furnas Centrais Elétricas ........................................22 Figura 6.1: Seção sem filtro ......................................................................................31 Figura 6.2: Seção com filtro horizontal e enrocamento de pé ..................................31 Figura 6.3: Seção com filtro horizontal e vertical ......................................................32 Figura 6.4: Conceitos mais recentes de filtros ..........................................................32 Figura 6.5: Curva granulométrica .............................................................................34 Figura 6.6: Barragem de Itumbiara............................................................................35 Figura 6.7: Barragem de Passaúna...........................................................................37 Figura 6.8: Esquema de Injeções de calda de cimento em rocha .............................39 Figura 6.9: Trincheira de vedação em fundação muito permeável............................40 Figura 6.10: Esquema ilustrativo de Piping ...............................................................42 Figura 7.1: Barragem de Paraibuna .........................................................................46 Figura 7.2: Barragem de Paraibuna .........................................................................47 v Figura 7.3: Barragem de Paraibuna .........................................................................50 Figura 7.4: Barragem de Paraibuna – filtro vertical ..................................................51 Figura 7.5: Poço de inspeção....................................................................................52 Figura 7.6: Gráfico do medidor de Vazão MV-01 .....................................................53 Figura 7.7: Vista da chegada da água no medidor de Vazão MV-01 ........................54 Figura 7.8: Medidor triangular de vazão do fluxo pela fundação ...............................56 Figura 7.9: Detalhe do medidor de vazão. ................................................................56 Figura 7.10: Gráfico do medidor de Vazão MV-34 ...................................................58 Figura 7.11: Material arenoso decorrente de carreamento por águas de surgência .59 Figura 7.12: Gráfico do medidor de Vazão MV-41 ...................................................59 Figura 7.13: Medidor de vazão da drenagem interna do dique .................................60 Figura 7.14: Situação do inclinômetro .......................................................................63 Figura 7.15: equipamento de leitura do inclinômetro.................................................63 Figura 7.16: leitura de piezômetro de tubo ................................................................65 Figura 8.1: Vista dos tanques de piscicultura ............................................................68 Figura 8.2: Viveiro de mudas.....................................................................................68 vi LISTA DE TABELAS Tabela 6.1: Valores típicos de coeficientes de permeabilidade.................................27 Tabela 7.1: instrumentos instalados, em funcionamento e danificados ....................61 Tabela 7.2: instrumentos em funcionamento na UHE Paraibuna..............................64 vii LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CBDB Comitê Brasileiro de Barragens CBGB Comitê Brasileiro de Grandes Barragens BT Barragem de terra OD Ombreira Direita OE Ombreira Esquerda DQME Dique Margem Esquerda DQ Dique CESP Companhia Energética de São Paulo USP Universidade de São Paulo CCR Concreto Compactado a Rolo (CCR) Rip-Rap Proteção do talude de montante da barragem de terra com blocos de rocha viii LISTA DE SÍMBOLOS k Permeabilidade / condutividade V velocidade d Dimensão ix SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................1 2 OBJETIVOS.........................................................................................................3 2.1 Objetivo Geral ........................................................................................................ 3 2.2 Objetivo Específico ............................................................................................... 3 3 METODOLOGIA DO TRABALHO.......................................................................5 4 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................6 5 TIPOS DE BARRAGENS E APLICAÇÕES.........................................................8 5.1 5.1.1 Barragens de seção homogênea ................................................................. 10 5.1.2 Barragens Zoneadas ..................................................................................... 15 5.1.3 Barragens de enrocamento .......................................................................... 17 5.1.4 Barragem de concreto ................................................................................... 20 5.2 6 Classificação quanto a seção de barragens.................................................... 9 Critérios de projeto ............................................................................................. 23 5.2.1 Materiais disponíveis ..................................................................................... 23 5.2.2 Condições climáticas e trabalhabilidade ..................................................... 24 5.2.3 Fatores geológico-geotécnicos e topográficos ........................................... 24 DRENAGEM INTERNA DE BARRAGEM DE TERRA ......................................26 x 6.1 Permeabilidade .................................................................................................... 26 6.1.1 O estado do solo ............................................................................................ 28 6.1.2 O Grau de saturação ..................................................................................... 28 6.1.3 Estrutura e anisotropia .................................................................................. 29 6.1.4 Temperatura ................................................................................................... 29 6.2 Filtros em barragens de terra ........................................................................... 30 6.3 Filtro vertical (filtro chaminé) ou inclinado .................................................... 35 6.4 Drenos horizontais (tapete drenante).............................................................. 36 6.5 Fatores de segurança em filtros....................................................................... 37 6.6 Controle de fluxo ................................................................................................. 39 6.6.1 Piping – Erosão regressiva ........................................................................... 41 6.6.2 Saturação e instabilização de taludes ......................................................... 42 6.6.3 Perda excessiva de água.............................................................................. 43 7 BARRAGEM DE PARAIBUNA – UM ESTUDO DE CASO ...............................44 7.1 Características da barragem ............................................................................. 45 7.2 Seção tipo ............................................................................................................. 47 7.3 Drenagem interna ................................................................................................ 51 7.3.1 7.4 Vazão .............................................................................................................. 53 Diques – observações relevantes .................................................................... 54 7.4.1 Dique 4............................................................................................................ 55 7.4.2 Dique da Margem esquerda ......................................................................... 57 xi 7.5 Instrumentação .................................................................................................... 61 8 ANÁLISE CRÍTICA ............................................................................................67 9 CONCLUSÕES ..................................................................................................70 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................................73 ANEXOS ......................................................................................................................I Anexo A – Ensaio de Proctor Normal ........................................................................... ii Anexo B – Mapa com a localização da usina de Paraibuna ....................................iii 1 1 INTRODUÇÃO As barragens são utilizadas para formação de reservatórios (lagos) para atender demandas de abastecimento de água, geração de energia elétrica e para acúmulo de rejeitos industriais (Moreira, 1981). No Brasil há muitos rios que possibilitam aproveitamento hidrelétrico e isso é um incentivo para a geração deste tipo de energia. Contudo, a formação de reservatórios ocasiona grandes impactos ambientais e sociais, que precisam ser ponderados e avaliados (relação custo / benefício). As barragens de terra são amplamente utilizadas no Brasil e no mundo, pois a sua estrutura não exige muito da fundação e ela pode ser utilizada em diferentes tipos de solo; porém, vem aumentando significativamente o uso de barragens de enrocamento devido a sua esbeltez e rapidez de construção. Os principais problemas encontrados na construção de barragens são: ambientais, sociais e econômicos. O enchimento do reservatório inunda grandes regiões, podendo ocasionar danos irreparáveis para o meio ambiente e para a população. Áreas de uso agrícola deixam de existir, mudando por completo as características das regiões afetadas pelo reservatório. Entretanto, as obras de barramento trazem progresso e conforto, e são de grande importância para o desenvolvimento econômico do País. 2 As barragens precisam atender dois requisitos básicos que são: eficiência e segurança. Uma ruptura em um sistema de barramento traz conseqüências catastróficas e prejuízos incalculáveis, e até mesmo perda de vidas humanas, daí a importância de uma construção bem dimensionada, segura e com monitoramento constante. O papel dos sistemas de drenagem interna na estabilidade de barragens de terra é essencial, pois alivia os níveis de subpressão, disciplina o fluxo que é percolado pelo corpo da barragem a um destino seguro além de evitar o carreamento de materiais finos que pode ocasionar problemas de piping1. A drenagem interna pode ser considerada como a alma da barragem. 1 Pipping é uma erosão regressiva, o mesmo que erosão interna, e consiste na desagregação e carreamento de partículas de solo. 3 2 OBJETIVOS Os sistemas de barramento são de grande importância, pois trazem benefícios e conforto ao homem. Contudo, esses sistemas precisam ser seguros e estáveis para que se consiga um aproveitamento sem riscos de ruptura. O objetivo do trabalho é estudar sistemas de drenagem interna, com foco em um caso de barragem de terra, apresentando suas características técnicas e forma de utilização. 2.1 Objetivo Geral O objetivo deste trabalho é estudar as barragens de terra, com seu foco voltado para a drenagem interna, que constitui um dos principais elementos para a segurança e eficiência de um sistema de barramento, o qual deve ser estanque e estável. Também será apresentado um breve relato sobre outras estruturas de barramento, como concreto e enrocamento. 2.2 Objetivo Específico Analisar sistemas de drenagem interna em barragens de terra, descrevendo os motivos que conduzem a escolha da drenagem. Suas principais características, finalidades e desempenho são pautados, com mais ênfase, no estudo de caso da 4 barragem de terra de Paraibuna, que se localiza no Município de Paraibuna, no Estado de São Paulo. 5 3 METODOLOGIA DO TRABALHO A elaboração deste trabalho baseou-se em pesquisas na Internet, livros técnicos, anais de congressos e seminários de geotecnia, relatórios de obras e visita técnica. A Internet foi utilizada como ferramenta de busca de livros atualizados, dos quais foram obtidas informações conceituais básicas sobre geotecnia e mecânica dos solos; dos anais de congresso, que também tratam dos temas acima, dados mais específicos e objetivos sobre casos de obras foram extraídos. Fez-se uma enriquecedora visita técnica à Barragem de Paraibuna, com acompanhamento de técnicos da Companhia Energética de São Paulo – CESP, que forneceram relatórios técnicos e informações de grande importância e aplicabilidade para o estudo de caso discutido no presente trabalho. 6 4 JUSTIFICATIVA Barragens são em geral obras de grande porte e conseqüentemente obras de grande impacto ambiental e social. Para a construção de uma barragem de terra que tenha um desempenho seguro e eficiente, a drenagem interna deve ser dimensionada adequadamente, a bem da verdade ela é a “alma” da barragem, pois ela é controladora de fluxo, retém partícula de solo que poderiam ser carreadas, minimiza os níveis de pressão neutra e por conseqüência, resulta em maior segurança na estabilidade da barragem. Uma drenagem interna com dimensionamento criterioso conduz a um sistema seguro e estável. O assunto ao qual o trabalho se refere deve ser tratado com seriedade pois há histórico de casos catastróficos que ocorreram em barragens de terra, trazendo mortes e prejuízos à população, como é o caso da barragem de Teton, E.U.A., que rompeu em junho de 1976, ocasionando a morte de 14 pessoas, além de altos prejuízos materiais. O rompimento da barragem de Teton deu-se devido a formação de piping ou erosão regressiva, que teria se iniciado no contato solo-rocha (Massad, 2003). Ocorreu recentemente, no Brasil, o rompimento da barragem de Camará na Paraíba, fato que foi amplamente divulgado pelos meios de comunicação. O rompimento da barragem inundou as cidades de Alagoa Grande e Mulungu, destruiu plantações e 7 imóveis rurais, causando a morte de pelo menos 5 pessoas e deixando centenas de pessoas desabrigadas. Fatos como estes ocorridos na Barragem de Teton, E.U.A., e da Barragem de Camará na Paraíba, ilustram o quanto é desastroso o rompimento de uma barragem e a enorme responsabilidade de quem a projeta, de quem a constrói, bem como de quem a opera e mantém. 8 5 TIPOS DE BARRAGENS E APLICAÇÕES Segundo Caputo (1987), barragens são estruturas construídas para se represar água de um vale; não se deve confundir com diques que são obras executadas ao longo de um curso d´água com a finalidade de se evitar o transbordamento para terrenos mais baixos. “As Barragens são estruturas construídas em vales e destinadas a fechálos transversalmente, proporcionando assim um represamento de água”, (Caputo, 1987). As barragens podem ser resumidas quanto a sua finalidade em dois grupos que são descritos a seguir: • “Barragens de regularização” As barragens de regularização são barragens que têm como objetivo regularizar o regime hidrológico dos rios, ou seja, equilibrar a demanda com o consumo de água. Estas barragens possuem diversas finalidades, entre elas o uso para aproveitamento hidroelétrico, que consiste em transformar a energia potencial hidráulica em energia elétrica, devido ao desnível criado pela estrutura de barramento. 9 A formação de reservatório para abastecimento de água constitui uma outra finalidade das barragens de regularização. Outro uso específico destas barragens é para represar a água de forma a se ter a possibilidade de navegação (Moreira, 1981). • “Barragens de retenção” As barragens de retenção são estruturas que são construídas com a finalidade de reter água, na maioria das vezes para controle de cheias (Moreira, 1981). É o caso da barragem de Taiaçupeba, que foi construída com a finalidade de reservatório para abastecimento público e que também é utilizada para controle de cheias. Outro exemplo de barragem de retenção é a sua utilização para contenção de resíduos industriais ou sedimentos, amplamente utilizada na mineração entre outros. 5.1 Classificação quanto a seção de barragens Para se obter a melhor solução em sistema de barramento, a barragem nunca deve ser analisada isoladamente. A melhor solução, tanto relacionada à eficiência quanto à economia, deve levar em consideração todo o conjunto na etapa de otimização. 10 As barragens podem ser classificadas quanto ao tipo de seção, como barragens homogêneas (terra), barragens zoneadas, barragem de enrocamento, barragens de concreto, entre outras. O que predomina na seleção do tipo de barragem está associado diretamente ao arranjo geral do empreendimento, e também a disponibilidade dos diversos materiais de construção empregados na execução da barragem (Moreira, 1981). 5.1.1 Barragens de seção homogênea Barragens homogêneas são aquelas executadas com solo compactado. Apesar da denominação de homogênea, a seção destas barragens não são executadas com a utilização exclusiva de um único material; podem ser executadas também com o emprego de solos compactados com diferentes características. Essas barragens possuem na realidade o solo compactado como predominante, pois além do maciço a seção possui também filtro drenante e proteção de taludes de montante e jusante. É considerado como Montante o que está acima de um eixo de referência que corta a seção transversal do rio e Jusante é o que está abaixo deste mesmo eixo (CPFL, 2001). As barragens homogêneas, executadas em solo compactado, possuem no seu interior filtro drenante, e na sua fundação a jusante tapete drenante para controle de fluxo, subpressões e intercepto de fluxo pelo corpo da barragem. 11 Como exemplo de barragem com seção homogênea cita-se a Usina Hidroelétrica (UHE) Rosana: é uma barragem com 2.308 metros de comprimento, construída com a finalidade de geração de energia elétrica. Essa UHE é um bom exemplo de adoção de barragem de seção homogênea empregada, principalmente, em regiões onde o vale é aberto, como é ilustrado pela figura 5.1. Figura 5.1: Barragem de Rosana (CBDB, 2005) 12 As seções destas barragens homogêneas requerem taludes mais abatidos para que se garanta a estabilidade do maciço, e como o nível de solicitação da fundação é menor em relação aos outros tipos de seções, ela é a mais adaptável a qualquer tipo de fundação, resultando em um menor custo em sua execução (considerando apenas a barragem), desde que se disponha material para a sua construção em distância economicamente viável. A figura 5.2 apresenta uma seção típica de barragem homogênea. Dreno Chaminé 10 N.A. 398 401,50 1 1 2,5 3,8 1 2,5 Argila Compactada 4 Linha de Escavação Enrocamento 2,5 Filtro de Areia (0,6 Mínimo) Terreno natural Rocha 1 1 370 Drenos da Fundação Figura 5.2: Barragem do Vigário (Cruz, 1996) Mesmo sendo barragens executadas em solo, apenas com filtros e proteção de taludes empregando outro tipo material, essas seções podem ter zoneamentos com diferentes tipos de solo. Esse zoneamento se dá em função dos materiais 13 disponíveis na região e do seu melhor aproveitamento, e ainda, as condições de trabalhabilidade no espaldar de montante2. No espaldar de montante, até a zona central, é necessário a utilização de um material com característica mais impermeável para que se garanta a estanqueidade da barragem. Já a jusante esse material pode possuir características de permeabilidade menos rigorosas, portanto na indisponibilidade de materiais com características tecnológicas ideais de impermeabilidade, recorre-se a um zoneamento de forma a se otimizar a seção. Em termos de estabilidade das barragens, a compactação do maciço é fator fundamental para se conseguir tal resultado, uma vez que a compactação dos solos, por meios mecânicos, conduz a redução rápida do seu índice de vazios. A finalidade dessa compactação é melhorar as propriedades destes solos como: resistência ao cisalhamento, redução de recalques e resistência a erosão (Massad, 2003). A permeabilidade está relacionada com a umidade dos solos, por isso geralmente nas barragens de terra, costuma-se criar um núcleo mais impermeável, utilizando uma compactação acima da umidade ótima, porém essa umidade deve ser limitada para que se evitem problemas como laminações que podem levar a um caminho preferencial de percolação. 2 Espaldar de montante: Região entre o talude de montante e o núcleo da barragem 14 A umidade acima da ótima pode também levar a formação de solo “borrachudo”, que é o fenômeno que ocorre quando se tenta compactar o solo e ele se comprime com a passagem do equipamento, porém em seguida volta a se dilatar como se fosse mesmo uma borracha. Na realidade o que se consegue comprimir são as bolhas de ar ocluso (Pinto, 2000). A compactação ótima está diretamente ligada a energia de compactação e ao teor de umidade do solo. Para se estabelecer estes fatores faz-se uso do ensaio de Proctor, que é descrito no Anexo A. A figura 5.3 ilustra o caso de uma barragem utilizando uma compactação do núcleo com umidade acima da ótima. Enrocamento de proteção Cascalho argiloso compactado Enrocamento fino compactado (transição) Argila Compactada (Wot-3%<W<Wot+1,5%) 523,00 1 2,5 3 1 canaleta 2,5 Dreno vertical de areia natural Argila Compactada (Wot-3%<W<Wot+1,5%) 1 Argila Compactada (Wot-1%<W<Wot+1,5%) Filtro "sanduíche" Solo residual de Gnaisse Rocha alterada Figura 5.3: Barragem de Itumbiara – ABMS/ABGE, 1983 (Cruz, 1996) 15 5.1.2 Barragens Zoneadas A denominação de barragem zoneada se dá quando na seção da barragem não apresenta a predominância de um único material, como é o caso das barragens de seção de terra já citadas anteriormente. A escolha desta seção se dá em função da otimização dos materiais disponíveis na região. Barragens zoneadas devem sempre conter um núcleo impermeável para se garantir a estanqueidade do barramento (ELETROBRÁS, 2003). A seção da barragem de São Simão, no leito do rio, é um exemplo didático de barragem zoneada. Observa-se na figura 5.4 a otimização máxima do emprego dos materiais. Figura 5.4: Barragem de São Simão, leito do Rio, Barragem de enrocamento (Moreira 1981) 16 A barragem de São Simão localiza-se no Rio Paranaíba, na Bacia do Paranaíba. Tem como finalidade geração de energia elétrica e possui mais de quatro quilômetros de extensão. Nesta seção empregaram-se diferentes materiais como cascalho, argila compactada, areia, material de transição, material para rip-rap e random que é um material não selecionado que pode ser composto por solo, enrocamento e cascalho. Enrocamento é um material formado por blocos de rocha, lançados em camadas e compactados com equipamentos adequados, resultando em uma estrutura resistente e permeável. Na figura 5.5 é mostrada uma foto aérea da barragem em operação. Figura 5.5: Barragem de São Simão (CBDB, 2005) 17 5.1.3 Barragens de enrocamento Barragens são denominadas como de enrocamento quando na sua seção há a predominância de material rochoso. Em épocas anteriores, quando do início da utilização de enrocamento nas estruturas de barragens, os blocos de rochas eram simplesmente espalhados sem nenhuma compactação. Por serem só espalhados, com o primeiro enchimento do reservatório, poderia ocorrer um “amolecimento” nos contatos entre rochas, no caso de rochas sedimentares, havendo acomodação entre blocos, resultando em recalques elevados e imediatos. Com o desenvolvimento de novas tecnologias, descobriu-se que a compactação deste material rochoso com rolos lisos de aço vibratórios seria bastante eficiente, reduzindo-se deste modo o recalque por molhagem. Durante a compactação o expediente de molhar o enrocamento tornou-se também um método eficiente de se conseguir densidades mais elevadas. De acordo com Massad (2003), as estruturas de enrocamento (pedras) são mais estáveis, em função do elevado ângulo de atrito do material, não havendo relatos de ruptura de seus taludes. Para a formação do reservatório é necessário uma estanqueidade do barramento, que é garantida com o uso de um núcleo argiloso ou com membrana externa impermeável. 18 Apresenta-se na figura 5.6 um exemplo de barragem de enrocamento com núcleo 183,00 N.A. Norm. Eixo da barragem argiloso, a seção da barragem de Itaúba. 184,00 N.A. MÁX. 182,00 N.A. Mín. 170,00 187,00 Areia Artificial A+ B Enrocamento A+ B Enrocamento A Enrocamento A+ B A Enrocamento Argila compactada Núcleo Transição de GM A C A+ B Enrocamento Fino Enrocamento Enrocamento C A+ B Enrocamento A+ B C A Enrocamento Figura 5.6: Barragem de Itaúba, seção transversal na estaca 11 (Cruz, 1996) O uso de barragens de enrocamento vem aumentando a cada dia no Brasil e no mundo. Isso se deve a sua capacidade de tolerar taludes bem mais íngremes que as barragens de seção homogênea, e pela sua rapidez de execução. Cabe ressaltar que as barragens de enrocamento com taludes mais inclinados só se aplicam em fundação rochosa ou com boa capacidade de suporte. Cresce também interesse em estudos de novas tecnologias na sua execução, como é o caso do uso de núcleo asfáltico para servir como material impermeável, já utilizado em barragens 19 Européias, substituindo o emprego de argila compactada como núcleo. No Brasil esta tecnologia nunca foi empregada. A topografia e a geologia muitas vezes favorecem o emprego de barragens de enrocamento. A UHE Campos Novos é um outro exemplo de barragem que está utilizando enrocamento em toda a sua seção, figura 5.7. Trata-se de uma barragem de enrocamento com face de concreto encontrando-se, atualmente, em fase final de construção (2005). Figura 5.7: Vista aérea da barragem de Campos Novos (CNEC, 2004) 20 5.1.4 Barragem de concreto O concreto também é um material amplamente utilizado na construção de barragens no país. • Concreto gravidade Essas barragens são denominadas de barragens de concreto gravidade por serem executadas de tal forma que resistem, apenas por peso próprio, aos esforços (empuxo) que são aplicados pela água do reservatório (CPFL, 2001). A figura 5.8 apresenta barragem de gravidade concluída. Figura 5.8: Vista da UHE Americana – Barragem de concreto gravidade (CBDB, 2005) 21 • Barragem CCR As barragens de Concreto Compactado a Rolo (CCR) também são de gravidade porém o seu processo construtivo é diferente; neste caso o concreto é lançado em camadas pequenas e em seguida compactados com a utilização de um equipamento especial, geralmente um rolo compressor pesado (CPFL, 2001). Segundo a Associação Brasileira de Cimento Portland – ABCP (2002), a primeira barragem construída totalmente utilizando a tecnologia de concreto compactado a rolo foi a barragem de Willow Creeck nos Estados Unidos no ano de 1984. Já no Brasil a primeira barragem construída totalmente em CCR foi a Barragem de saco Nova Olinda na Paraíba (figura 5.9) e foi finalizada no ano de 1986. Figura 5.9: Barragem de saco Nova Olinda – PB (ABCP,2002) 22 • Barragem em arco Também é uma barragem construída em concreto, curvada para montante e na direção do reservatório. A estrutura consegue transferir os esforços da água do reservatório (empuxo) para as ombreiras ou margens, isso é possível devido a sua geometria. Neste caso não é o peso próprio que resiste aos esforços o que possibilita uma redução significativa no volume de concreto a ser utilizado, porém essa estrutura é utilizada em vales profundos e estreitos e quando o material de apoio nas margens (rocha) é de excelente qualidade (CPFL, 2001). A barragem de Funil é um exemplo clássico de barragem em arco no Brasil, de Furnas Centrais Elétricas, ilustrado na figura 5.10. Sua concepção é de arcogravidade (ABCP, 2002). Figura 5.10: Usina de Funil da Furnas Centrais Elétricas (ABCP, 2002) 23 5.2 Critérios de projeto Ao se pensar no arranjo geral de uma barragem, independente da finalidade, devese equilibrar ao máximo o uso de materiais resultantes da movimentação de volumes de corte de solo e rocha da própria obra. Quando os materiais disponíveis, resultantes das escavações obrigatórias, não satisfazerem às exigências quanto a características tecnológicas adequadas e volumes, se faz necessário o uso de áreas de empréstimo e bota-fora (ELETROBRÁS, 2003). 5.2.1 Materiais disponíveis As características dos materiais disponíveis é um dos fatores de grande influência na escolha do tipo de seção a utilizar. A princípio todos os materiais são potencialmente úteis para o emprego na seção da barragem, incluindo solos e rochas. Porém os materiais provenientes de escavação nas proximidades da barragem serão os primeiros a serem analisados e eventualmente utilizados, pois são, geralmente, mais econômicos (ELETROBRÁS, 2003). 24 5.2.2 Condições climáticas e trabalhabilidade Condições climáticas e de trabalhabilidade também são fatores limitantes na escolha da seção da barragem, pois as condições dos materiais quanto a umidade, em loco, influenciam na trabalhabilidade, podendo colocar assim alguns materiais em vantagens ou desvantagens. Regiões com grande intensidade de chuvas podem diminuir dias úteis trabalhados, podendo assim atrasar os cronogramas. Para compensar a perda de horas trabalhadas pode ser exigido um número maior de equipamentos, ou que possam ser utilizados em condições climáticas adversas. E assim, nestas regiões, os materiais que necessitam de menos compactação podem ser mais competitivos, como é o caso do emprego de enrocamento. 5.2.3 Fatores geológico-geotécnicos e topográficos A geologia e a topografia da região onde será implantada a obra de barramento também é um dos fatores limitantes a que tipo de seção será utilizado. A escolha do projeto se dá, principalmente, em função das condições geológicas da fundação e da conformação da região onde será implantado o barramento. 25 Para se conhecer as condições da fundação e se caracterizar os materiais é necessário a realização de sondagens investigatórias. É muito importante essa investigação, pois as seções de barragens homogêneas são menos exigentes em relação à fundação; em compensação, necessitam de taludes mais abatidos para que fique estável, enquanto que as barragens de enrocamento, que exigem mais da fundação, podem ser executadas sem problemas utilizando taludes mais íngremes (ELETROBRÁS, 2003). 26 6 DRENAGEM INTERNA DE BARRAGEM DE TERRA O sistema de drenagem interna é um dos fatores predominantes para o bom funcionamento de uma barragem. Estatisticamente verifica-se que a maioria dos acidentes com barragens de terra deram-se devido a falta de um sistema eficiente de controle de fluxo (Massad, 2003). Por mais compactado que seja o material que compõe a estrutura de uma barragem de terra, sempre haverá fluxo pelo seu maciço. Este fluxo deve ser conhecido, quanto à vazão e ao caminho preferencial (redes de fluxo), e deve ser direcionado de forma a não ocasionar problemas. 6.1 Permeabilidade A permeabilidade de um meio poroso pode ser descrita como a facilidade ou a dificuldade que os vazios ou poros oferecem à passagem da água. Uma permeabilidade alta significa facilidade de percolação. Essa “facilidade” depende das características tecnológicas de cada material (Cruz, 1996). 27 Os valores de permeabilidade são tanto menores quanto menores forem os índices de vazios de um solo, bem como, menores forem os tamanhos das partículas. Na tabela 6.1 apresentam-se, como ordem de grandeza, valores típicos de coeficientes de permeabilidade (k). Tabela 6.1: Valores típicos de coeficientes de permeabilidade Material k (m/s) Argilas < 10-9 m/s Siltes 10-6 a 10-9 m/s Areias argilosas 10-7 m/s Areias finas 10-5 m/s Areias médias 10-4 m/s Areias grossas 10-3 m/s Fonte: Pinto (2000). Como citado anteriormente, a permeabilidade de um solo está diretamente relacionada ao tamanho dos grãos e a presença de vazios; seria como dizer que solos porosos seriam mais permeáveis que os solos densos (Cruz, 1996). 28 Segundo Pinto (2000), os seguintes fatores podem influenciar na permeabilidade de um solo: 6.1.1 O estado do solo O solo é constituído por três fases: partículas sólidas, água e ar. Dependendo da relação de cada uma destas três fases o comportamento do solo varia. No caso de solos arenosos pode-se dizer que quanto mais fofo for o solo mais permeável ele é; já nos solos argilosos, a permeabilidade depende do arranjo dos grãos, do seu tamanho e da quantidade de vazios. 6.1.2 O Grau de saturação Mesmo com diferença de permeabilidade sendo pouco significativa, pode-se dizer que a permeabilidade de um solo saturado é maior que a de um solo não saturado, pois a percolação da água não remove todo o ar em um solo não saturado, onde as bolhas de ar são obstáculos ao fluxo da água. 29 6.1.3 Estrutura e anisotropia Solos que possuem macro poros em sua estrutura, como é o caso de solos residuais, possuem conseqüentemente permeabilidades maiores, isso mostra que a permeabilidade não depende somente da quantidade de vazios, mas também das suas dimensões e da disposição relativa dos grãos. Geralmente solos compactados mais secos permitem maior fluxo de água que os compactados mais úmidos, mesmo com índices de vazios semelhantes. Os solos geralmente apresentam anisotropia em relação a permeabilidade, ou seja, comportamento variável segundo direções diferentes. Solos compactados, bem como solos sedimentares costumam apresentar coeficientes de permeabilidades bem maiores na horizontal que na vertical. Esse fato é decorrente das partículas tenderem a ficarem com suas maiores dimensões orientadas na horizontal. Este aspecto tem grande importância nos problemas de percolação pois haverá um caminho preferencial de fluxo na horizontal. 6.1.4 Temperatura Com variação de temperatura, o peso específico do líquido e a viscosidade varia, sendo que a viscosidade possui maior variação. E como o coeficiente de 30 permeabilidade depende também destas propriedades, verifica-se que a temperatura influencia na permeabilidade. 6.2 Filtros em barragens de terra Como já citado anteriormente, sempre haverá passagem de água pelo maciço da barragem e este fluxo precisa ser conduzido adequadamente. A captação e condução desta água são feitas através de filtros, que precisam garantir um septo drenante total para que no talude de jusante não haja fluxo emergente. Segundo Albuquerque (2003), os filtros visam uma otimização da barragem, tendo como principais fatores: drenar a água na base da barragem, otimizar as redes de fluxo, vazões de percolação e gradiente de saída além de controle de percolação pela fundação. A evolução do sistema de drenagem interna de barragens de terra, segundo Massad (2003), seguiu a seguinte ordem: a) Inicialmente as barragens eram construídas sem filtros, conforme ilustrado na figura 6.1, onde o problema apresentado seria a emergência de água na face de jusante da seção, podendo assim ocasionar piping. 31 Figura 6.1: Seção sem filtro (Massad, 2003) b) Já a solução ilustrada na figura 6.2 teoricamente resolveria o problema se o solo compactado fosse isotrópico3, o que não corresponde a realidade e continuando assim a possibilidade de formação de piping. Figura 6.2: Seção com filtro horizontal e enrocamento de pé (Massad, 2003) c) A solução encontrada por Terzaghi é mostrada na figura 6.3, onde se chegou a uma combinação de filtro vertical e filtro horizontal. Essa combinação intercepta o fluxo da água antes que ele consiga sair no talude 3 Isotrópico: Que apresenta as mesmas propriedades físicas em todas as direções. 32 de jusante. Se os filtros forem dimensionados de forma criteriosa, podem-se eliminar problemas de piping. Figura 6.3: Seção com filtro horizontal e vertical (Massad, 2003) d) A figura 6.4 apresenta casos de idéias mais recentes onde se apresentam soluções como filtros inclinados para montante, que tem como vantagem, quando do rebaixamento rápido do N.A., a melhora da estabilidade do talude de montante. Nesta mesma figura mostra-se o caso de filtros inclinados para jusante, que aumenta o caminho de percolação da água, se mostrando bastante interessante quando se tem fundação mais permeável. Mostra ainda uma solução proposta por Mello 1975 (apud Massad, 2003) que combina as vantagens dos dois casos anteriores. Figura 6.4: Conceitos mais recentes de filtros (Massad, 2003) 33 Verifica-se que mesmo nas soluções mais recentes se manteve o critério de Terzaghi, onde se emprega filtro horizontal juntamente com outro filtro. A função básica dos filtros é prevenir fenômenos de erosão regressiva formada por forças de percolação intensas, rupturas hidráulicas e trincas ocasionadas por deformações diferenciais no corpo da barragem. Os filtros são essenciais nas barragens. A escolha do material filtrante, segundo Terzaghi, baseia-se em dois critérios: a) O primeiro indica que o filtro deve ser mais permeável que o solo. D15(filtro)>5*D15(solo) b) O segundo critério limita o tamanho dos vazios do filtro de forma que não permita a passagem dos grãos do solo. D15(filtro)>5*D85(solo) 34 Onde D15 (D quinze) é o diâmetro que na curva granulométrica corresponde a porcentagem que passa igual a 15% e D85 (D oitenta e cinco) é o diâmetro abaixo do qual se situam 85% em peso das partículas. A curva granulométrica apresentada na figura 6.5 mostra a granulometria de materiais diferentes e exemplifica as limitações acima citadas. Figura 6.5: Curva granulométrica (Pinto, 2000) O único material que satisfaz as duas condições, tanto permeabilidade quanto tamanho dos grãos, para servir como filtro para o solo da curva S, é o material da curva Q (Pinto, 2000). 35 6.3 Filtro vertical (filtro chaminé) ou inclinado Segundo Cruz (1996), o dreno vertical de uma barragem deve sempre ser levado até a altura do nível de água máximo. Já os drenos inclinados são indicados em barragens com maciço de altura superior a 20 ou 30 metros. Esses filtros possuem como função básica evitar que o material seja carreado de montante para jusante. Como a sua função é cicatrizante e sua capacidade de vazão é muito superior à vazão que é percolada pelo maciço, o filtro deve ser projetado obedecendo larguras mínimas construtivas (Sá, 1981). A figura 6.6 refere-se a seção da Barragem de Itumbiara e mostra a utilização do filtro vertical. 523,00 1 2,5 3 canaleta 1 2,5 Dreno vertical de areia natural 1 Filtro "sanduíche" Solo residual de Gnaisse Rocha alterada Figura 6.6: Barragem de Itumbiara – (Cruz, 1996) 36 O dreno vertical representou no Brasil uma inovação no conceito de drenagem, e a barragem de seção homogênea e filtro vertical constitui um modelo de “Barragem Brasileira”. 6.4 Drenos horizontais (tapete drenante) O filtro horizontal possui um papel fundamental em um sistema de drenagem interna. A sua função não é exclusivamente impedir o carreamento de materiais da fundação, mas também promover a drenagem das águas de percolação através da fundação e do maciço (Sá, 1981). Os filtros horizontais podem ser dimensionados hidraulicamente de duas formas: - Dimensionar a espessura do dreno para que o fluxo escoe livremente. Fluxo este, baseado na lei de Darcy4, resultante do volume de percolação previsto sob determinadas condições de cargas hidráulicas. - Determinar a espessura do filtro necessária, com base em análise de percolação através do conjunto fundação, maciço compactado e filtro. O dreno horizontal deve ser contínuo e revestir toda a área da fundação, leito do rio e ombreiras, sendo levado no mínimo até o N.A. máximo normal do reservatório. 4 Lei de Darcy: Q= KiA Onde: K= coeficiente de permeabilidade; i= gradiente hidráulico; A= área. 37 A figura 6.9 mostra o emprego de filtro horizontal em barragens de terra. Trata-se da Eixo da barragem barragem de Passaúna, localizada na cidade de Curitiba no Estado do Paraná. N.A. MÁX. Solo Compactado Pseudo Núcleo Areia grossa com pedegrulho Filtro vertical Filtro horizontal Solo Compactado Argila verde micácea Solo de alteração de rocha Figura 6.7: Barragem de Passaúna (Cruz, 1996) 6.5 Fatores de segurança em filtros Os fatores de segurança convencionais empregados em relação a vazão para filtros e drenos é muito alto. Esses valores variam de 10 a 100. Valores tão altos para fatores de segurança são facilmente justificados devidos aos fatores que são expostos a seguir (Sá, 1981). 38 • Incertezas com relação aos coeficientes de permeabilidade dos materiais, notadamente de fundação; • As permeabilidades variam em escala logarítmica; • Os materiais tanto da fundação quanto do maciço são heterogêneos. • Incertezas quanto a colmatação dos filtros. Colmatação é a obstrução dos vazios de um material drenante, com conseqüente diminuição de sua permeabilidade. Ela pode ser causada pela precipitação de óxidos ferrosos ou pelo carreamento de finos do material a montante do filtro; • No caso de problemas com drenagem interna o seu reparo é muito difícil e oneroso; e • Incertezas com relação ao fluxo através da rocha. 39 6.6 Controle de fluxo De acordo com Cruz (1996), o fluxo pela fundação de barragens, mesmo em casos de fundação em rocha, pode ser maior em relação ao fluxo pelo maciço. O sistema de drenagem da fundação é importante para o controle destes fluxos. É apresentada, a seguir, uma opção para se reduzir a percolação de fluxo pela fundação em rocha, e outra para esse controle quando a fundação é em solo. Esses sistemas são aplicados a fim de não sobrecarregar o sistema de drenagem interna da barragem. Ainda segundo Cruz (1996) uma solução que vem sendo utilizada extensamente no Brasil para o tratamento de fundação em rocha é a utilização de injeções de cimento que visa à homogeneização quanto a permeabilidade dos maciços rochosos. A calda de cimento é injetada na rocha geralmente utilizando caldas grossas (fator água/cimento 0,7:1,0 à 0,5:1,0) e com pressões baixas (15 a 25 kN/m²/m). Figura 6.8: Esquema de Injeções de calda de cimento em rocha 40 Já para fundações em solo uma forma utilizada é a execução de trincheiras de vedação. Trata-se de uma escavação localizada ao longo da barragem até se atingir rocha ou um material com menor coeficiente de permeabilidade a fim de se diminuir a percolação pela fundação da estrutura. A base da trincheira deve ter no mínimo 4 ou 6m para que se permita a compactação do solo. As trincheiras de vedação mais comuns são centrais. A figura 6.9 mostra um exemplo de trincheiras de vedação. Figura 6.9: Trincheira de vedação em fundação muito permeável (ELETROBRÁS, 2005) De acordo com Moreira (1981), os problemas ocasionados por ineficiência da drenagem interna podem ser resumidos em três principais, que são mostrados a seguir: 41 6.6.1 Piping – Erosão regressiva Piping é uma erosão regressiva, ou seja, diferente da erosão superficial onde se consegue observar o carreamento de solo na superfície. No caso do piping isto ocorre internamente ao maciço da barragem, e é denominado como erosão regressiva porque o seu avanço é no sentido contrário ao fluxo. Para que se evite a sua formação os vazios do filtro devem ser suficientemente pequenos para se garantir que o solo não migre através dos filtros. A formação de piping é uma das principais preocupações de uma obra de barramento, pois a sua formação é muito comum e suas conseqüências podem ser trágicas. Para evitar sua ocorrência é necessário que no contato dos materiais a granulometria do filtro impeça o carreamento de solo do maciço. Segundo Massad (2003), os fatores condicionantes ao piping e que também podem levar a formação de brechas5 nas barragens de seção homogêneas são: - Ausência de filtros horizontais tipo sanduíche, construídos com materiais francamente permeáveis; - As condições de compactação do maciço de solo; 5 Brechas: fendas ou aberturas no maciço da barragem 42 - Ausência de transições adequadas entre materiais granulares; e - Presença de fundações arenosas. Figura 6.10: Esquema ilustrativo de Piping 6.6.2 Saturação e instabilização de taludes Valores de subpressão elevados na fundação e no corpo de barragem é fator importante para promover a instabilização do maciço, pois a pressão neutra é a parcela que minimiza a tensão efetiva e conseqüentemente as forças estabilizantes, ’=( -u). Onde: ’ – Tensão efetiva (kN/m²) – Tensão total (kN/m²) u – Pressão neutra (kN/m²) 43 Outro fato a ser considerado, é a presença de gradiente hidráulico elevado no pé da barragem, que pode implicar em arraste de partículas, gerando erosão regressiva tubular. Deste modo o tapete horizontal e o dreno de pé tem também a função de redução destes valores de gradiente os conduzindo a valores aceitáveis. A saturação no pé da barragem pode ser evitada por meio de drenagem tipo espinha de peixe, ou intercepto através de trincheira drenante no pé do talude de jusante. 6.6.3 Perda excessiva de água Como já mencionado anteriormente, a função de um barramento é represar água ou rejeitos. Para que se tenha uma estrutura eficiente é importante que se tenha o mínimo possível de perda d’água. A perda d’água de forma excessiva é um problema que pode tomar grandes proporções, principalmente quando o reservatório é alimentado por rios de pequena vazão. Para que isso não ocorra devem-se adotar materiais na construção da barragem que garanta o máximo de estanqueidade, a adoção destes materiais deve ser feita de forma criteriosa. 44 7 BARRAGEM DE PARAIBUNA – UM ESTUDO DE CASO A obra em estudo refere–se à barragem de Paraibuna que se localiza na Rodovia dos Tamoios, km 38 - Bairro do Rio Claro, na cidade de Paraibuna, no estado de São Paulo, e faz parte de um conjunto de obras do plano de regularização e aproveitamento do alto Paraibuna. No anexo B é apresentado a localização da usina. A Barragem UHE Paraibuna está localizada no rio Paraibuna e foi construída tendo como principal finalidade a regularização da vazão do Rio Paraíba do Sul, responsável pelo fornecimento de água para várias cidades do Vale do Paraíba e do Estado do Rio de Janeiro. Porém, aproveitou-se a sua construção também para a geração de energia elétrica, por meio de duas unidades geradoras com potência total instalada de 85 MW. Segundo a Companhia Energética de São Paulo (CESP, 2005) a área total do reservatório é de 224 km², composta pelo reservatório de Paraibuna com 177 km², interligado ao reservatório de Paraitinga, com 47 km². Esses reservatórios, juntamente com o da Usina Hidrelétrica Jaguari, são os principais reguladores das vazões do Rio Paraíba do Sul. 45 7.1 Características da barragem As primeiras investigações realizadas pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), indicavam que o melhor local para a implantação da Barragem de Paraibuna seria em Natividade da Serra, onde havia um estrangulamento notável do vale, associado a outros fatores como condições geológicas e capacidade de armazenamento (Hidroservice, 1971). Investigações e estudos posteriores mostraram que havia uma região mais interessante, situada a jusante do rio, apresentando características semelhantes ao da opção de Natividade, porém com a possibilidade de um volume de armazenamento consideravelmente maior. Esse local foi o escolhido para implantação da barragem. Ainda segundo a Hidroservice (1971), o sítio adotado para a construção do barramento, a montante de uma área densamente povoada, exigiu estudos bastante criteriosos: precauções especiais foram necessárias para garantir absoluta segurança frente a severas condições hidrológicas. O conjunto de obras da Barragem de Paraibuna é composto por: Barragem de terra com altura máxima de 94,00m, tomada d’água, um dique principal na margem esquerda, cinco diques auxiliares na margem direita, casa de força e subestação. Um arranjo geral do empreendimento é apresentado na figura 7.1 46 Figura 7.1: Barragem de Paraibuna (CBDB, 2005) 47 A figura 7.2 mostra uma vista aérea da barragem. Figura 7.2: Barragem de Paraibuna (CBDB, 2005) 7.2 Seção tipo Como mencionado no capítulo 5.2, a caracterização e os volumes dos materiais tecnologicamente adequados para as construções, existentes na região do empreendimento, foi de muita importância. Por estes motivos, antes de se decidir pela melhor alternativa para o aproveitamento, fez-se necessário o reconhecimento da área de implantação da barragem e do dique da margem esquerda, onde foram 48 executadas 129 sondagens. Essas sondagens foram utilizadas na caracterização dos tipos de materiais existentes na região. Ainda para a caracterização dos materiais instalou-se inicialmente na cidade de Paraibuna um laboratório de solos equipado com aparelhos adequados para a execução de ensaios de caracterização e compactação, operados por profissionais capacitados. Com o início das obras este laboratório foi transferido para o canteiro de obras. De acordo com a Hidroservice (1971), o local proposto para a implantação da barragem e dos diques apresentou afloramento rochoso apenas ao longo de alguns pontos no leito do rio e em vales profundos e secos. Nas ombreiras, detectou-se a ocorrência de capeamento de solo residual e solo de alteração bastante espesso. Essas condições geológicas foram determinantes na escolha do tipo de estrutura a ser utilizada no barramento. Como alternativa, foi analisada a hipótese de se executar as obras de barramento em concreto gravidade. Esta solução foi descartada de imediato, visto que seria necessário um grande volume de escavação em solo para se atingir a superfície da rocha sã, particularmente nas ombreiras, condição esta exigível para a fundação de estruturas deste tipo. A opção pela construção de barragens de seção homogênea ou de enrocamento tornou-se mais atrativa, uma vez que estas suportam maiores recalques que os que seriam permitidos às estruturas de concreto, o que proporcionou considerável 49 diminuição nas escavações para a sua implantação, evitando assim a escavação até a superfície da rocha sã. Para a implantação da barragem e dos diques removeram-se as camadas de solo superficial poroso e friável6, muito compressível e permeável, e de baixa capacidade de carga, apoiando assim os maciços em solos de alteração de rocha menos compressíveis. Na região da calha do rio a barragem foi apoiada em rocha ligeiramente alterada ou sã, após a remoção dos aluviões permeáveis ou de baixa capacidade de carga. Já nas ombreiras, ao longo do eixo, foi realizada a escavação de uma trincheira de interceptação, aprofundando-se nos solos de alteração de rocha. Os enrocamentos estão apoiados em rocha de alteração ou sã e em solos duros de alteração de rocha. Outro fator relevante na escolha da seção da barragem foi a disponibilidade de materiais. O material que foi empregado na construção dos maciços de terra constitui-se por argilas siltosas de alta a média plasticidade, quando compactado apresenta-se impermeável e coesivo com umidades ótimas de 25% e 35%. Esse material foi encontrado em camadas que variavam de 2m a 4m de profundidade. A camada de material que se encontrava logo abaixo desses solos argilosos tratavase de solos muitos siltosos que em relação à compactação também se 6 solo poroso e friável é um solo solto, de fácil desagregação 50 apresentavam impermeáveis, porém menos coesivos e com umidades ótimas entre 15% e 25%. Esse material também foi utilizado na construção dos maciços de terra. Na região também se encontravam camadas de areias finas e médias, porém esses solos não foram utilizados nos maciços de terra. Baseados em estudos de algumas alternativas de implantação da barragem adotando várias seções transversais chegou-se a uma seção de núcleo de terra compactada com talude de montante de 1V:1H, e a montante zona de enrocamento com talude externo de 1V:2H, já o talude de jusante com declividade de 1V:2H, 1V:2,5H e 1V:3H. (Hidroservice, 1971). A geometria da seção da barragem é ilustrada na figura 7.3. N.A. DO RESERVATÓRIO 2 2 2 1 3 3 E 4 Rocha sã 1 ENROCAMENTO DE GNAISSE 2 SOLO ARGILOSO 3 SOLO SILTOSO 4 SILTÃO Figura 7.3: Barragem de Paraibuna (CBDB, 2005) 51 7.3 Drenagem interna De acordo dom Hidroservice (1971), a solução executada para a drenagem interna da barragem foi a seguinte: O sistema de drenagem interna da barragem é composto pelo sistema clássico, compreendendo filtro vertical situado logo a jusante do eixo (figura 7.4). A função do filtro vertical é a de proteger o talude de jusante contra erosões que poderiam ser provocadas pela percolação de água através de eventuais trincas transversais no maciço. Filtro vertical Filtro horizontal Figura 7.4: Barragem de Paraibuna – filtro vertical (CBDB, 2005) 52 A função dos tapetes de areia – filtro horizontal (figura 7.4), colocados em contato com a fundação, é de drenar para jusante a água que percola pelos maciços e pelas ombreiras. Os coletores principais deste sistema de drenagem são ligados a poços de inspeção, situado no pé do talude de jusante da barragem conforme ilustrado na figura 7.5. Figura 7.5: Poço de inspeção O tapete drenante da barragem foi dimensionado para que o escoamento das águas de percolação se faça sem necessidade de tubos de concreto, havendo apenas uma ligação do tapete ao poço de inspeção através de tubo fechado de concreto. 53 7.3.1 Vazão Para quantificar o volume de água percolado, encontra-se instalados na barragem de terra um medidor de vazão do tipo triangular (90°), denominado de MV-1. Este medidor recebe as contribuições da drenagem interna do maciço. Nas ombreiras da barragem localizam-se três medidores de vazão: MV-17, MV-39 e o MV-11. Segundo Pínfari (2004), as vazões medidas no MV-01 (Drenagem interna), mantiveram-se dentro do esperado, acompanhando a evolução do nível d’água de montante. Não se verificou indício de colmatação dos filtros. A figura 7.6 apresenta a evolução da vazão medida no MV-01 ao longo do tempo. Figura 7.6: Gráfico do medidor de Vazão MV-01 (CESP, 2004) 54 Figura 7.7: Vista da chegada da água no medidor de Vazão MV-01 7.4 Diques – observações relevantes De acordo com as informações prestadas por Araújo (2005), os problemas enfrentados pelo departamento de segurança de barragens da CESP estiveram relacionados aos diques. Os aspectos mais relevantes são mencionados nos tópicos a seguir. 55 7.4.1 Dique 4 O dique 4, apresentado na figura 7.1, apresentou grande percolação de água pela fundação. Quando o fluxo foi percebido, logo se fez uma interceptação por tapetes drenantes, e em seguida conduzindo até um medidor de vazão, onde é possível a obtenção de dados para monitoração constante. Na época da visita técnica observou-se que a saída da drenagem interna do dique encontrava-se seca em função do nível d’água encontrar-se abaixo da cota de captação dos filtros vertical e horizontal, o que comprova que o fluxo emergente a jusante do dique é realmente proveniente de percolação pela fundação. As figuras 7.8 e 7.9 apresentam a saída do fluxo e o medidor de vazão de águas coletadas pelos tapetes drenantes. 56 Figura 7.8: Medidor triangular de vazão do fluxo pela fundação Figura 7.9: Detalhe do medidor de vazão. 57 Ainda segundo Araújo (2005), essa drenagem não estava prevista pelo projeto e foi necessário o acréscimo de instrumentação na região onde atualmente existe o filtro. Essa instrumentação é composta por Piezômetros, medidores de nível d’água e um medidor de vazão já ilustrados nas figuras 7.8 e 7.9. 7.4.2 Dique da Margem esquerda Uma outra ocorrência foi o surgimento de água no talude de jusante do dique da margem esquerda. Essa ocorrência acarretou grandes preocupações devido ao aparecimento de material arenoso, que estava sendo carreado, pois não se sabia a origem do material (imaginava-se que poderia ser da drenagem interna do dique). Para se averiguar e avaliar a situação foram contratados profissionais específicos da área de geotecnia. Segundo Pires (2005), para verificar se o material era proveniente da drenagem interna, foram feitas observações em campo, onde na saída dos drenos foram colocados tecidos de algodão, não se verificando sinais de carreamento. A situação com que se encontrava a caixa da saída da drenagem, com fissuras e presença de raízes levava a crer que a areia depositada no fundo da referida caixa era proveniente do terreno adjacente. A argila que também era carreada, não se depositava no fundo da caixa devido a turbulência, sendo transportada através dos drenos para fora. Na época que foi 58 percebido esta ocorrência solicitou-se o reparo da caixa bem como a observação e medição do material que continuasse a ser carreado. Conforme Pínfari (2004), esse fluxo de surgência é aferido por dois medidores de vazão de nº MV-34, que se mostrou influenciado pelas precipitações pluviométricas e apresentou valores da ordem de 2,0 a 8,0l/s na maior parte do período analisado, conforme ilustrado na figura 7.10. O MV-41 apresentou-se seco a maior parte do período em análise e também é ilustrado na figura 7.12. Figura 7.10: Gráfico do medidor de Vazão MV-34 (CESP, 2004) 59 A figura 7.11 mostra a caixa de inspeção onde se capta o material resultante do carreamento pela água de surgência. Figura 7.11: Material arenoso decorrente de carreamento por águas de surgência Figura 7.12: Gráfico do medidor de Vazão MV-41 (CESP, 2004) 60 A vazão decorrente da drenagem interna do dique da margem esquerda é medida por um outro medidor de vazão de n° 40. As vazões medidas mantiveram-se dentro do esperado, sem índices de colmatação e acompanhando as variações de nível d’água de montante. A figura 7.13 apresenta o medidor de vazão da drenagem interna do dique. Figura 7.13: Medidor de vazão da drenagem interna do dique 61 7.5 Instrumentação Segundo Cruz (1996), os principais objetivos da instrumentação de barragens são: verificar os critérios e parâmetros adotados em projeto, de modo a se aperfeiçoar a própria obra ou projetos futuros; verificar a adequação dos métodos construtivos e verificar as condições de segurança da obra, de modo se necessárias, tomar providências corretivas em tempo hábil. Ainda segundo Cruz (1996), a tabela 7.1 mostra a quantidade de instrumentos instalados (I) e em funcionamento (F), bem como porcentagem de instrumentos danificados (D) em diversas barragens brasileiras. Tabela 7.1: instrumentos instalados, em funcionamento e danificados TOTAL Instrumento I (unid) F (unid) D (%) Medidor de nível d´água 150 146 3 piezômetro de tubo aberto 1024 979 4 Piezômetro hidráulico 88 82 7 Piezômetro elétrico 340 189 44 Piezômetro pneumático 212 110 48 Célula de tensão total 106 54 49 Medidor de recalques de tubos telescópicos 47 46 2 Medidor de recalques USBR 8 0 100 Medidor de recalques KM 36 34 6 Medidor de recalques cx. Sueca 7 5 29 Medidor de recalque magnético 4 4 0 Inclinômetro 33 30 9 Extensômetro de hastes 79 79 0 Medidor de vazão 59 52 12 Sismógrafo 6 5 17 Fonte: Cruz (1996). 62 Para se verificar o comportamento de barragens em relação à percolação, é utilizado instrumentação adequada como piezômetros, medidores de nível d’água e medidores de vazão nas regiões mais críticas. Com os resultados adquiridos a partir destas instrumentações pode-se avaliar a segurança da obra nas suas fases de funcionamento, tomar medidas oportunas de controle, além de se verificar as hipóteses originais de projeto. A obra em questão é dotada de vários dos instrumentos relacionados na tabela 7.1, porém alguns dos instrumentos já perderam a sua função, como é o caso do inclinômetro, que foi utilizado durante anos e que atualmente existe fisicamente na obra, porém não é mais aferido. O instrumento denominado como inclinômetro refere-se a um aparelho que é utilizado para medir a movimentação horizontal do talude, para que se possa verificar se o mesmo encontra-se dentro dos parâmetros de segurança. A sua desativação no caso de Paraibuna, segundo Araújo (2005), deve-se ao fato da barragem ser antiga e do seu maciço já ter se estabilizado em relação as inclinações do talude. A figura 7.14 apresenta uma foto do instrumento em loco e a figura 7.15 apresenta o aparelho que é utilizado para se fazer as medições. 63 Figura 7.14: Situação do inclinômetro Figura 7.15: equipamento de leitura do inclinômetro 64 O restante dos instrumentos e que estão em funcionamento são apresentados na tabela 7.2. Tabela 7.2: instrumentos em funcionamento na UHE Paraibuna Sigla Instrumento Localização BT OD MS Marco superficial 41 MV Medidor de vazão 2 NA Medidor de nível d´ 3 OE DQME DQ-1 DQ-2 41 2 4 1 1 DQ-4 DQ-5 TOTAL 3 3 88 13 3 26 21 3 27 5 52 139 água PZ Piezômetro de tubo 31 13 7 18 4 9 Fonte: Pínfare (2004). Além dos instrumentos acima citados existe também instalado na região da barragem de Paraibuna, segundo PELOSO (2005), um sismógrafo. Esta instrumentação faz parte de um trabalho de monitoramento realizado pela Universidade de São Paulo - USP. Na ocasião da visita a obra pode-se ter a oportunidade de encontrar um funcionário realizando leituras em piezômetros e medidores de nível d’água, conforme mostrado na figura 7.16. 65 Figura 7.16: leitura de piezômetro de tubo 66 Logo após as leituras das instrumentações as informações são encaminhadas à Ilha Solteira para o Departamento de Engenharia da Manutenção Civil e segurança de Barragens da CESP onde são feitas as avaliações, relatórios e tomadas as eventuais providências. 67 8 ANÁLISE CRÍTICA A construção das barragens de Paraibuna e Paraitinga foi responsável por grandes modificações em toda a região, exigindo a relocação da cidade de Natividade da Serra e seus 10 mil habitantes. Com o desenvolvimento das obras, foi necessário promover à construção de cinco pontes e cerca de 400 km de estradas municipais e secundárias, hoje importantes para a economia e o turismo da região. As obras de Paraibuna foram iniciadas em 1972 com inauguração em 1978. Naquela época questões relacionadas ao meio ambiente não eram bem definidas nem Normalizadas. Apenas em 23 de janeiro de 1986, através da Resolução CONAMA 01/86, que a situação foi regulamentada e passou a ser obrigatória a elaboração de relatórios de impacto ambiental. Mesmo assim a CESP teve consciência da magnitude dos impactos ambientais causados pela obra e, como medida mitigadora, foi executado pela empresa um sistema de piscicultura para repovoar o reservatório, tendo-se o respeito de colocar no meio as espécies nativas da região. Na figura 8.1 pode-se observar os tanques onde é feito o manejo das espécies de peixes. Na usina encontra-se um projeto dedicado à reprodução de aves que estão entrando em extinção e encontra-se também uma região destinada ao cultivo de árvores nativas para o reflorestamento das ilhas do reservatório e das regiões afetadas pela construção da barragem conforme ilustrado na figura 8.2. 68 Figura 8.1: Vista dos tanques de piscicultura Figura 8.2: Viveiro de mudas 69 A barragem de Paraibuna foi uma das primeiras barragens a empregar na composição de sua seção o chamado “siltão” que é um solo siltoso muito micáceo; esse material não era tido como aceitável na construção de barragens de terra, onde até então usavam-se sempre argilas. A utilização deste material se fez necessário devido a indisponibilidade de materiais argilosos suficientes na região; contudo, para que o uso do siltão fosse viabilizado efetuaram-se vários ensaios de caracterização de solo, até que se concluiu que o material apresentava características tecnológicas satisfatórias. Após o êxito da construção, outras barragens foram construídas com a utilização deste material, o que significou grande avanço, pois se pôde assim melhor aproveitar os materiais disponíveis no entorno das obras. Com o enchimento do reservatório perdeu-se a ligação de muitos acessos importantes para a região. Como alternativa, a CESP implantou um sistema de transporte através de balsas, sistema este que está em funcionamento até os dias de hoje, e que acarreta para a empresa constantes gastos com o transporte e sua manutenção. 70 9 CONCLUSÕES As barragens podem ser construídas com diversos materiais e de diversas formas. A escolha do tipo de seção a ser utilizada é influenciada por diversos fatores, tais como: disponibilidade de materiais, clima da região e fatores geológico-geotécnicos do vale onde será implantada. As obras de barramento em estruturas homogêneas (terra), com filtro horizontal e tapete drenante, são amplamente utilizadas no Brasil e no mundo, o que garante larga experiência na construção destes sistemas. Há relatos de inúmeros acidentes ocorridos com estas obras por falta de sistema de drenagem interna adequado, que serviram para ampliar os aprendizados, a fim de se evitar que tais fatos voltem a ocorrer. Pode-se concluir que o sistema de drenagem interna é essencial para a segurança e estabilidade destas barragens, pois a maioria dos rompimentos destas estruturas deu-se devido a sua ineficiência ou má execução. Observa-se que não houve, ao longo do tempo, muitas variações nas características de implantação, nem tampouco muitos avanços tecnológicos no emprego da drenagem interna de barragens. O que na realidade ocorreu foram avanços no que diz respeito ao seu dimensionamento, pois atualmente os estudos, caracterização e dimensionamento dos filtros, são feitos através de softwares específicos, que 71 permitem a realização de simulações do comportamento durante as diversas etapas da vida de uma barragem (enchimento e esvaziamento do lago, por exemplo).. A barragem de Paraibuna, foco do estudo de caso, possui como drenagem interna um sistema tradicional composto por filtro vertical de areia e tapete drenante; decorridos quase 30 anos de sua execução, o seu sistema funciona dentro das condições esperadas, sem apresentar indícios de colmatação ou carreamento de materiais. O monitoramento da drenagem interna é feito através de instrumentação, localizada em pontos estratégicos do maciço. Esse controle é fundamental e seu investimento é desprezível em face dos problemas e custos que podem ser acarretados caso haja ruptura da estrutura. A instrumentação instalada na barragem de Paraibuna não acusa quaisquer anormalidades que possam colocar em dúvida o funcionamento do seu sistema de drenagem. Nos dias de hoje são exigidos estudos de impactos ambientais para a autorização da construção de novas barragens; depois da obra executada ainda se faz necessário uma licença de funcionamento. Ressalta-se que, na época em que a barragem de Paraibuna foi executada, não se tinha a mesma preocupação ambiental que se tem hoje, mas mesmo assim, a CESP adotou medidas mitigadoras, através da construção de viveiro de reprodução de pássaros em extinção, tanques de piscicultura para repovoamento do reservatório e viveiro de árvores nativas da região para reflorestamento das áreas afetadas pela construção da obra. Isso mostra que a engenharia é capaz de colaborar com o progresso 72 nacional e, simultaneamente, prover condições mínimas para minimizar os impactos sobre os recursos naturais do local de implantação de uma barragem. 73 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABCP – Associação Brasileira de Cimento Portland, Uso de concreto compactado com rolo – CCR, na construção de barragens. 2002, 77p. ALBUQUERQUE, P; Capítulo 6, Fundações e Obras de Terra – Notas de aula. Sorocaba, 2003. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10520: apresentação de citações em documentos: procedimento. Rio de Janeiro, 1988. ARAÚJO, A. A.; Ariovaldo Antônio de Araújo – Departamento de Segurança de Barragens, CESP. Entrevistadora: M. P. N. Azevedo. Paraibuna, 2005. CAPUTO, H. P. Mecânica dos solos e suas aplicações: Mecânica das Rochas – Fundações – Obras de Terra; Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Científicos Editora, 1987; 6ª Edição. CBDB – Comitê Brasileiro de Barragens. Cadastro de Barragens, 2004. Disponível em: <www.cbdb.org.br>. Acesso em 26 de abril de 2005 as 15 horas. CESP – Companhia Energética de São Paulo, Usinas. Disponívelem: <http: //www.cesp.com.br /usinas /usi_para.html>. Acesso em 29 de Maio de 2005 as 21 horas. CPFL Geração. Usinas Hidrelétricas: Conceitos e Noções Básicas, 2001, 34p. Cruz, P. T. 100 Barragens Brasileiras: casos históricos, materiais de construção, projeto; São Paulo, Oficina de textos, 1996. ELETROBRÁS, Critérios de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas. CBDB, 2003, 277 pg. 74 ELETROBRÁS, Diretrizes para Projetos de PCH, Capítulo 7 - Projeto das Obras Civis e dos Equipamentos. Disponível em: < http:// www.eletrica.ufu.br / siteatual / laboratorios/ nerfae/pch/cap7.1.1.PDFl>. Acesso em 17 de Agosto de 2005 as 18 horas. HIDROSERVICE - Paraibuna – Paraitinga, Relatório de Apresentação do Projeto das Barragens dos Rios Paraibuna e Paraitinga , Costruções e Comércio Camargo Corrêa S.A.; 1971. MASSAD, F. Obras de terra: Curso básico de geotecnia; São Paulo, Oficina de textos, 2003. MOREIRA, J.E.; Fatores Predominantes na seleção do tipo de barragem de terra e enrocamento. In: ABMS, Barragem de Terra e Enrocamento - Curso de Extensão Universitária. Núcleo Regional de Brasília, 1981, cap. III. PELOSO, U. P.; José Ulisses Peloso – Departamento de Segurança de Barragens, CESP. Entrevistadora: M. P. N. Azevedo. Paraibuna, 2005. PIRES, J. V.; João Vicente Pires – Engenheiro Geotécnico. Entrevistadora: M. P. N. Azevedo. São Paulo, 2005. PÍNFARI, J. C, CESP, Relatório Técnico OMC/003/05, UHE Paraibuna – Auscultação no Período de Janeiro a Dezembro de 2004. PINTO, C. S. Curso básico de mecânica dos solos. São Paulo: Oficina de textos, 2000, 247p. SÁ, M.B.L.; Fatores Análise e controle de percolação. In: ABMS, Barragem de Terra e Enrocamento - Curso de Extensão Universitária. Núcleo Regional de Brasília, 1981, cap. IX. i ANEXOS ii Anexo A – Ensaio de Proctor Normal Cópia de: PINTO, C. S. Curso básico de mecânica dos solos. São Paulo: Oficina de textos, 2000, 247p. página de 66 a 69. iii Anexo B – Mapa com a localização da usina de Paraibuna 112 Saneamento básico segundo bacia hidrográfica IBGE Atlas de saneamento Uso múltiplo da água - Paraíba do Sul - 2000 400.000 600.000 500.000 700.000 900.000 800.000 Bacia do Paraíba do Sul - 2002 Localização da Bacia do Paraíba do Sul Vazão do Rio Paraíba do Sul, com permanência de 95% - (Q95) s Volume (m³/s) ia S ã 7.400.000 o P # Santa Branca $T nal Pi Ri T$ # ! T$ 7.600.000 # o an i t i n r do R Transposição para Sistema Light/Guandu i (F) Campos dos Goytacazes Catete A ô ! ô ! ## ! Gr # ! Nova Friburgo !! ô ô c # ! o o #! # ## ! ! P gr São Fidelis â o Ne a í b a do c R io ar Ri o P o Ri o Ilha dos Pombos Além Paraíba #Teresópolis ô! ! ôô !! ô ô ! Sul is Do ## ! r do # s Ri o de ## ! ba raí Vigário d e o O c e a n t l o 7.500.000 a ing ai t Maiores usinas hidrelétricas Brasil - 2000 Pa ra ib un a Municípios mais populosos - 2000 Municípios Paraibuna População São José dos Campos Juiz de Fora Campos dos Goytacazes Petrópolis Taubaté Volta Redonda Jacareí Nova Friburgo Barra Mansa Teresópolis Pindamonhangaba Resende Guaratinguetá a u l o 538 909 456 432 406 511 286 348 244 107 242 046 191 358 173 321 170 593 138 019 125 722 104 482 104 022 Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000. 400.000 Petrópolis # ! ô ô ! ir P ESCALA 1: 1 600 000 8 0 8 16 32 PROJEÇÃO UTM-23 í ra ô ! A ngú Nome da Usina Potência (Mw) o (A) a Santa Cecília ô ! o # São José dos Campos #Jacareí Barra Mansa ô ô ! ! ! ô ô ! ! # (E) Pindamonhangaba #Caçapava ô ! Guaratinguetá ! ô Ri í ar #! io ! Santa RIsabel ## # Arujá Ja gu ô ! Bocaina ## Aparecida ! Ri # ! #T$ ! T$ S Taubaté ô ! Jaguari o do T$ (C) undes io P $TRAreal Fag a # ! Ri ba ul # Lorena ô ! o ## #!# ! Par a í ô ! # # Ri Isabel ô ! ô ! T$ ## Vassouras ! ##Barra do Piraí Volta! #Redonda # ! na ## ! ô ! T$ ô ! Funil B Sodré T$ T$ !#! # Resende ô ! do ô ! ô ! Ri o (B) # o rvo a Rio d o ! d re T$ a Santo Antônio de Pádua e Rio P iab anh # ! #! ! # # #Cruzeiro #! #Cachoeira Paulista #! #! !#!##!!# Ri o Tu s s # # Valença ! o Fl r et o Pa p et i n g #! ! ## n R # #! ! (D) Três Rios ## ô ! Ri o Pr e t o o g ad i b u na Ri o C Pa r a to io P r e o ra #Miracema a T$ Ri o Sobragi Nota: As letras em verde indicam a posição dos pontos de medição no mapa. Ri á Ri o Pi mb a Ri Ri o ô ! ô ! Po Leopoldina u a queq e r do # Marmelos 1-2 T$T $!ô Joasal $ T Paciência P e ixe Fontes: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto Alberto Luiz Coimbra de PósGraduação e Pesquisa de Engenharia - COPPE, Laboratório de Hidrologia e Estudos do Meio Ambiente; Capacidade de geração do Brasil. In: Agência Nacional de Energia Elétrica. Banco de Informações de Geração. 7.500.000 io Juiz de Fora (Localização dos pontos de medição) o Itaperuna ri aé l ! #! #!# ## São João ! Neponuceno Ri Ana Maria Maurício T$ N ovo Ri #!# Mu J T$ Piau T$ Pa # ! ## # #! Cataguases i ô ! Ri o Santos Dumont! # Foz do Rio Paraíba do Sul o Montante do Rio Pomba Ri o Su Montante do Rio Paraibuna (MG) e Piabanha R Montant e de Santa Cecília R 7.600.000 Montant e de Funil Miguel Pereira 7.700.000 Rio de Janeiro S a n t o la (A) 0 Jusante dos Rios Paraibuna (SP) e Piratininga go 50 r T$ (D) São Paulo t o an #Muriaé potó 100 ! ## ! Coronel Domiciano Ca # ! ## Ubá ! T$ Ri o do ## Visconde ! Rio Branco Xo (B) n i M Ri o 150 s a # Gl ór (E) (C) 200 ! # Carangola # í r i s p 250 r e G Minas Gerais E 7.700.000 Ri o 300 i a (F) Transposição de águas para o sistema Light/Guandu (retirada de até O 350 500.000 600.000 Funil Ilha dos Pombos Vigario Paraibuna Sobragi Santa Branca Rosal Santa Cecilia Jaguari Piau Areal 216,0 164,0 88,0 85,0 60,0 57,2 55,0 32,0 27,6 18,0 18,0 Fonte: Capacidade de geração do Brasil. In: Agência Nacional de Energia Elétrica. Banco de Informações de Geração. 2002. Disponível em: <http://www.aneel.gov.br>. Acesso em: 23 mar. 2003. 700.000 # Sobragi # Rios principais Limite da bacia do Paraíba do Sul Pontos de medição de vazão do rio Paraíba do Sul Usinas Hidrelétricas Captação de Água para Potência Instalada (Mw) Consumo Humano (m3/s) $T T$ $T T$ Nome de Usina Hidrelétrica Cidades principais Limite estadual Principais concentracões urbano-industriais 800.000 T$ até 7,9 8 a 29,9 30 a 59,9 60 a 119,9 120 a 216 ô ! ! # # ! ! # ! # até 49,99 50 a 119,9 7.400.000 m. S. 120 a 249,99 250 a 479,99 480 a 1650 900.000 m. E Fontes: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia - COPPE, Laboratório de Hidrologia e Estudos do Meio Ambiente; Capacidade de geração do Brasil. In: Agência Nacional de Energia Elétrica. Banco de Informações de Geração. 2002. Disponível em: <http://www.aneel.gov.br>. Acesso em: 23 mar. 2003.