6
QUARTA-FEIRA
21 de Julho de 2010
EDIFÍCIOS INTELIGENTES
NATURA TOWERS BRILHAM EM XANGAI
A ADENE escolheu as torres da MSF para representar Portugal numa conferência
internacional sobre cidades inteligentes. A promotora imobiliária tenciona replicar
o conceito verde nos próximos projectos.
A
s Natura Towers representaram
Portugal na Expo Xangai 2010, na
conferência internacional “Edifícios mais inteligentes em cidades
inteligentes”. O empreendimento foi seleccionado pela Agência para a Energia
(ADENE) por se destacarem não só em matéria de inovação, mas também no que diz
respeito ao seu desempenho ambiental e
energético. As Natura Towers já conquistaram o Certificado de Desempenho Energético e da Qualidade do Ar Interior com a
classificação máxima (classe A+) e integram ainda o grupo restrito de partners do
programa GreenBuiling, da Comissão Europeia, que congrega projectos inovadores
em matéria de sustentabilidade e eficiência energética em edifícios não residenciais.
Localizadas na zona de Telheiras Norte,
em Lisboa, as Naturas Towers são constituídas por duas torres de escritórios com 8
pisos. A Torre Norte está já ocupada com a
sede do grupo MSF, promotor do empreendimento, enquanto a Torre Sul está actualmente em comercialização, através das
consultoras Jones Lang LaSalle e Abacus
Savilis. “O perfil de utilizador deste tipo de
empreendimento corresponde a todas as
pessoas e organizações que tenham como
preocupação pessoal e corporativo a salvaguarda do ambiente e a sustentabilidade
energética e que acreditem que, subjacente à sua actividade económica, tem que estar o respeito pelas gerações futuras”, explica José Fortunato, administrador da
MSF Tur.Im. José Fortunato sublinha que
“as rendas praticadas estão dentro dos va-
lores do mercado e existem grandes poupanças energéticas, pelo que nos parece
que qualquer empresa que procure um
espaço num edifício novo dificilmente
conseguirá um racional económico mais
positivo”. Para os colaboradores, a diferença de conforto e condições de trabalho é
sentida quando a iluminação natural quase dispensa a luz artificial, quando o sistema de climatização sem filtros e poeiras
melhora o ar respirável e quando as fachadas e espaços comuns estão povoadas com
grandes superfícies verdes.
TECNOLOGIA, DESIGN E SUSTENTABILIDADE
A MSF investiu mais de 30 milhões de euros neste projecto, que a empresa quis tornar exemplar ao nível energético e ambiental. “No ano em que assinalámos os 40
anos inaugurámos a nossa nova sede nas
Natura Towers, um projecto singular na
conjugação de tecnologia, design e sustentabilidade. São estes os três vectores que
estão subjacentes à concepção e construção deste empreendimento e que considero como fundamentais não só nos sectores
da construção e imobiliário, como também a nível de desenvolvimento integrado
e sustentado dos países e civilizações”, declara José Fortunato ao OJE.
Eficiência e sustentabilidade são palavras de ordem num conceito imobiliário
onde a poupança é a consequência natural. Os edifícios permitem ganhos de poupança energética anual na ordem dos 69%
para o aquecimento, 41% para o arrefecimento, de 20% para a iluminação e de
100% para o aquecimento das águas,
graças à utilização de painéis solares nas
coberturas, para aquecimento das águas e
à utilização energética de painéis foto-voltaicos nas fachadas para iluminação dos
espaços comuns de cada piso. “A nossa
vontade de criar um conjunto com uma
forte vertente bioclimática ref lecte-se
também no exterior dos edifícios, que tem
características inovadoras”, constata ainda José Fortunato, evocando o revestimento vegetal, que permite uma plantação xerófita e autóctone, que produz oxigénio e
pretende minimizar a pegada ecológica;
um sistema de rega gota a gota integrado
nos painéis da fachada, obtido através da
captação e reutilização de águas pluviais; e
a plantação da flora adequada, que permite a variação do aspecto do edifício com a
passagem das estações, com floração das
diversas espécies a surgir em diferentes alturas do ano.
CONCEITO VERDE VEIO PARA FICAR
O futuro passará pela construção de edifícios sustentáveis do ponto de vista ambiental e energético. Esta é a convicção de José Fortunato perante a identificação de
projectos que replicam os conceitos verdes
já inaugurados nas Natura Towers. “É com
orgulho que verificamos esta tendência,
pois a replicação do que fizemos não só
comprova que estamos no caminho certo
mas também porque desta forma estamos
a colaborar para um futuro melhor para
as próximas gerações”, assume o administrador da MSF, realçando, no entanto, que
o retorno financeiro de um projecto desta
natureza será sempre mais demorado, o
Fotos: Carlos
Noronha - Crusader
que muitas vezes acaba por condicionar os
promotores e investidores.
O Grupo MSF já assumiu publicamente
a intenção de manter o conceito verde no
maior número possível de projectos, desde
que tal não os inviabilize economicamente. “Mantemo-nos sempre atentos a novas
técnicas e produtos e pretendemos estar
sempre na vanguarda nesta área”, refere
José Fortunato.
Aliás, novas soluções estão já a ser
implementadas no projecto Royal Óbidos
Spa & Golf Resort, actualmente em construção.
Do lado da procura, José Fortunato não
tem dúvidas sobre a sua evolução crescente no que respeita a edifícios que se
adequam a empresas que praticam uma
política de inovação e sustentabilidade.
Quanto ao mercado, esse, ganha muito,
desde logo porque passa a integrar produtos mais eficientes e sustentáveis. “Se estivermos certos, conseguiremos que a concorrência caminhe no mesmo sentido e
estaremos, dessa forma, a contribuir para
um futuro diferente para melhor”, conclui o administrador da MSF.
A eficiência energética em elevadores: contributo para a sustentabilidade
Opinião
JOSÉ
PIRRALHA
DIRECTOR DE ENGENHARIA DA
THYSSENKRUPP ELEVADORES
OS ELEVADORES como meio de transporte
de pessoas e mercadorias são hoje equipamentos essenciais na vida de um edifício,
seja um edifício de serviços de grande
altura, seja um normal edifício residencial.
O desenvolvimento da construção em
altura, marca fortemente a fisionomia das
nossas cidades e está intimamente associado aos elevadores.
As questões demográficas do nosso
tempo, com o significativo aumento da esperança de vida, levam a que cada vez mais
cidadãos tenham problemas de mobilidade, tornando-se depedentes dos elevadores, para puderem disfrutar de condições
de vida com um mínimo de autonomia e
independência.
Desde sempre, mas com particular enfoque nas últimas décadas do séc. XX, sobretudo a partir dos anos 70, o desenvolvimento dos elevadores foi orientado no sentido
da melhoraia do conforto e segurança dos
utilizadores, ao mesmo tempo que se desenvolviam soluções electrónicas de co-
mando e regulação de velocidade.
Porém, nesta primeira década do século
XXI, assiste-se a uma completa mudança de
paradigma, passando o desenvolvimento
dos elevadores a estar centrado na procura
de soluções mais ecológicas e capazes de
reduzir drasticamente o consumo de energia.
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
Embora os elevadores sejam responsáveis
por apenas 3 a 5% do consumo de electricidade nos edifícios, estudos realizados recentemente na Europa (*) mostram que os
cerca de 5 milhões de elevadores existentes
na UE-27, apresentam um consumo anual
de energia (fase de operação) de 18TWh, o
que se pode considerar equivalente à produção de 2 centrais nucleares.
QUE POTENCIAL DE POUPANÇA?
Falar de eficiência energética numa perspectiva de sustentabilidade, só é possível se
se considerar o ciclo de vida do elevador.
Não basta
que se concebam elevadores cada
vez mais
rápidos,
seguros,
confortáveis,
isentos de
ruídos e
vibrações e
capazes de
chegar cada
vez mais alto
Este, começa na concepção/desenvolvimento, passa pela produção, assenta na operação, tem em conta o serviço/manutenção e
a modernização e termina no desmantelamento/reciclagem.
Cada uma destas etapas pode ser abordada nas suas diferentes vertentes, técnica,
funcional e de segurança, mas, é sobretudo
na perspectiva integrada da eficiência energética e na sua correlação com as questões
ambientais que mais se tem investido.
No actual estado da arte, o desenvolvimento de componentes e/ou sistemas para
elevadores deve ter em conta:
- A redução de consumos em standby
- A optimização da eficiência do sistema
- A utilização de sistemas de regeneração
- O uso de materias com baixa incorporação de energia primária
- A redução das massas em movimento
- A utilização de sistemas de comando e
controlo com algoritmos cada vez mais
flexíveis
Se consideramos apenas o equipamento
(sistemas de tracção, controlo, guiamento,
iluminação, etc) é necessário que se criem
instrumentos de suporte à avaliação de
consumos quer na fase de movimentação
da cabina, quer em standby, permitindo
que se estabeleça uma classificação/etiqueta, a exemplo do que se passa hoje nos electrodomésticos ou até nos edifícios.
A Alemanha foi pioneira neste processo,
através da VDI 4707-1, sendo já possível
hoje enquadrar os sistemas de elevação em
classes de eficiência.
O estudo já referido (*) mostra, com base
numa campanha de monitorização e
medição de consumos, que os consumos
em standby no caso de elevadores de baixo
tráfego podem atingir 90% do consumo
total, o que dá bem a ideia do muito que há
a fazer, especialmente nos aos elevadores
existentes, naturalmente mais antigos e
suportados em tecnologias de menor eficiência.
Os números que o já aludido estudo nos
apresenta, dão bem a ideia do enorme
potencial de poupança, que o uso das melhores tecnologias disponíveis (ou em desenvolvimento) nos permitirá atingir.
O FUTURO
A sustentabilidade em qualquer actividade
é o resultado da intersecção das vertentes
económica, ambiental e social.
Não basta que se concebam elevadores
cada vez mais rápidos, seguros, confortáveis, isentos de ruídos e vibrações e
capazes de chegar cada vez mais alto. É
necessário que se utilizem novos materiais
(mais leves) que os processos produtivos
sejam mais equilibrados ambientalmente,
que os consumos de funcionamento e em
especial de standby sejam reduzidos, que
se minimizem as perdas mecânicas e/ou
eléctricas, em suma que as soluções caminhem no sentido da sustentabilidade.
Na Thyssenkrupp Elevadores respondemos hoje aos desafios do futuro.
(*) – E4 (Energy Efficient Elevators and
Escalators). Projecto desenvolvido no âmbito do
programa da União Europeia, Intelligent Energy
Europe.
QUARTA-FEIRA
21 de Julho de 2010
EDIFÍCIOS INTELIGENTES
3
Certificação Energética dos Edifícios
– breve nota sobre o seu enquadramento legal
ENQUADRAMENTO
LEGAL
*Leonor Sarsfield Costa Freitas
U
m “edifício inteligente” deve disponibilizar aos seus proprietários e utilizadores conforto e segurança, através de tecnologias avançadas, mas sempre de forma sustentável no que respeita
aos respectivos custos e consumos. Ou
seja, a “inteligência” de um edifício implica a sua eficiência em termos energéticos.
Segundo a Agência para a Energia
(ADENE), o sector dos edifícios contribui
em cerca de 40% para o consumo de
energia final na Europa. Porém, grande
parte desse consumo pode ser reduzida
através de medidas que incrementem a
sustentabilidade dos edifícios numa dupla perspectiva: a poupança de energia e
a protecção do ambiente. Tais medidas
estão naturalmente sujeitas a enquadramento legal.
Ao nível europeu, a Directiva nº.
2002/91/CE de 16 de Dezembro impôs aos
Estados-membros a obrigação de estabelecerem um sistema de certificação energética dos edifícios.
Tal directiva foi implementada em Portugal pelo Decreto-Lei nº 78/2006 de 4 de
Abril que aprovou o Sistema Nacional de
Certificação Energética e da Qualidade do
Ar Interior nos Edifícios (SCE) com a finalidade de: (i) assegurar a aplicação do Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios
(RCCTE) e do Regulamento dos Sistemas
Energéticos e de Climatização dos Edifícios (RSECE); (ii) identificar as medidas
correctivas ou de melhoria de desempenho aplicáveis aos edifícios e respectivos
sistemas energéticos e (iii) certificar o desempenho energético e a qualidade do ar
interior nos edifícios.
O referido diploma introduziu assim
na ordem jurídica portuguesa o Certificado de Desempenho Energético e Qualidade do Ar Interior nos Edifícios (Certificado Energético ou Certificado).
O certificado é equiparado à “etiqueta
do desempenho energético” dos edifícios,
classificando-os conforme a sua eficiência energética numa escala de A+ (melhor
desempenho) a G (pior desempenho).
Para além desta classificação essencial, o
certificado contém outras informações,
nomeadamente: identificação do perito
responsável pela certificação, descrição
das soluções adoptadas a nível, de climatização, iluminação, preparação de águas
quentes sanitárias, aproveitamento de
energias renováveis e ventilação, entre
outras, e um resumo de melhorias propostas.
A sujeição dos edifícios ao SCE ocorreu de acordo com a calendarização da
Portaria nº 461/2007 de 5 de Junho, tendo por base a tipologia, o fim e a área
útil dos edifícios: iniciou-se em 1 de Julho de 2007, relativamente aos novos
edifícios (ou edifícios sujeitos a grandes
remodelações), de habitação e serviço,
com grandes áreas úteis com pedidos de
licenciamento ou autorização de edificação posteriores a essa data; estendeuse em 1 de Julho de 2008 a todos os edifícios com pedidos de licenciamento ou
autorização de edificação posteriores a
tal data e culminou em 1 de Janeiro de
2009 com a sujeição dos demais edifícios
de habitação e serviços, mas apenas
aquando da celebração de contratos de
compra e venda e de locação, incluindo
o arrendamento, casos em que o proprietário deve apresentar ao potencial
comprador, locatário ou arrendatário o
certificado energético, emitido no âmbito do SCE.
Do acima exposto não poderemos concluir, face à lei em vigor, pela existência
de um dever geral de obtenção do certificado energético para a totalidade dos
edifícios.
De facto, quanto aos edifícios já existentes em 1 de Janeiro de 2009, tal obrigação só se verifica para efeitos da celebração de contratos translativos da sua
O certificado
é equiparado
à “etiqueta
do desempenho
energético”
dos edifícios,
classificando-os numa
escala
de A+ a G
propriedade ou utilização. Trata-se do
mínimo exigível face às finalidades do
SCE, pois o certificado energético permite ao potencial comprador, locatário
ou arrendatário obter informação quanto à situação do imóvel em termos de
eficiência energética e quais as medidas
que poderão ser implementadas para a
reforçar.
Na prática, os entendimentos quanto
à exigência do certificado para a celebração dos referidos negócios não são
uniformes, o que, por vezes, cria situações de dúvida e de impasse que não são,
naturalmente, desejáveis.
Não obstante, segundo o citado
Decreto-Lei nº 78/2006 o não requerimento da emissão do certificado, dentro
dos prazos legais, constitui uma contraordenação, sujeita ao pagamento de coima e, eventualmente, a sanções acessórias.
Apesar de algumas questões de técnica legislativa que poderão suscitar dúvidas quanto à eficácia de certas medidas
adoptadas, e que eventuais actualizações
dos diplomas poderiam clarificar, a plena aplicabilidade do SCE deverá ser entendida como um importante passo no
sentido de se assegurar a construção, alteração e utilização dos edifícios de forma mais eficiente no que respeita ao
consumo de energia e, por isso, mais
“inteligente”.
*Sócia da Gouveia Pereira, Costa Freitas &
Associados – Sociedade de Advogados, R.L.
PUB
Download

A eficiência energética em elevadores: contributo para a