Clipping Nacional de Educação Sexta-feira, 13 de Junho de 2014 Capitare Assessoria de Imprensa SHN, Quadra 2 Bloco F Edifício Executive Tower - Brasília Telefones: (61) 3547-3060 (61) 3522-6090 www.cpitare.com.br Valor Econômico 13/06/14 00 ESPECIAL Bases do PSDB cobram políticas sociais Por Marcos de Moura e Souza e Cristiane Agostine | De Belo Horizonte e São Paulo Daqui a dez dias, a campanha presidencial do senador Aécio Neves (PSDB-MG) terá pronto um primeiro documento com as propostas de políticas sociais de um eventual governo tucano. Os responsáveis pela elaboração do documento defendem a manutenção - com melhorias - de programas do PT que serão slogans da campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff. Críticos constantes da política econômica do governo Dilma Rousseff (PT), sobre a qual defendem revisões urgentes, Aécio e seus aliados adotam uma postura diferente em relação às políticas sociais petistas. "Temos de sinalizar para o eleitor que não queremos destruir nada", disse ao Valor o deputado federal Eduardo Barbosa (PSDBMG) que, junto com a ex-deputada Rita Camata, do Espírito Santo, está à frente do grupo de trabalho sobre políticas sociais da campanha de Aécio. "Precisamos sinalizar e nos posicionarmos diante de alguns desses programas que são carroschefes [de Dilma], como o Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida, Pronatec e Mais Médicos. Votamos sempre favoráveis a eles", disse Barbosa. "Agora, tem coisa que precisa melhorar." Entre as melhorias, ele cita a necessidade de aprimorar o Bolsa Família e ajudar os beneficiários a reduzir sua dependência em relação ao programa. Aprimorar e avançar também vale para o Minha Casa, Minha Vida, disse ele, sem antecipar o que será proposto. Os programas sociais em curso alcançam milhões de eleitores e uma crítica mais aberta a eles poderia ser um tiro no pé da campanha tucana. Desde 2009, o Minha Casa, Minha Vida programa que concede condições facilitadas para a compra da casa própria - já contratou 3.408.184 de casas ou apartamentos e entregou 1.666.242 a famílias de mais baixa renda, segundo o Ministério das Cidades. No programa de capacitação e educação profissional (Pronatec), já se matricularam 6,9 milhões alunos em 4 mil municípios, segundo o Ministério da Educação. O Bolsa Família atende a mais de 14,1 milhões de famílias, quase 50 milhões de pessoas, segundo o Ministério do Desenvolvimento Social. As famílias mais pobres recebem um valor médio de R$ 242. Dilma anunciou há algumas semanas reajuste de 10% do valor pago às famílias que estão no Bolsa Família. Continua Continuação Mesmo perdendo prestígio, a presidente ainda é vista como favorita, principalmente, entre as famílias de mais baixa renda e que são beneficiadas pelos programas sociais. Aécio procura atrair esse eleitorado e para isso se esforça para afastar as versões de que, se eleito, cortará programas sociais e adotará medidas que atendem prioritariamente interesses dos mais endinheirados. 13/06/14 consiga um emprego registrado mais seis meses do Bolsa Família. "O Bolsa Família está enraizado, faz parte sim da paisagem econômica e social das famílias", disse ele em maio em São Paulo num encontro com empresários. Muitas dessas versões são alimentadas pelo PT, por Lula e pela própria presidente e candidata Dilma. Em visita a Minas Gerais, base eleitoral de Aécio, ela disparou contra os adversários dias atrás: "Eles estão tentando aparecer como grandes defensores do Bolsa Família, quando a gente lembra que chamavam o Bolsa Família de bolsa esmola, nunca foram a favor de políticas sociais". Entre fim de abril e durante todo maio, Barbosa e Camata ajudaram a promover reuniões chamadas de "rodadas sociais" em Campina Grande, Curitiba, Goiânia, Manaus e São Paulo. Participaram funcionários públicos que trabalham com assistência social e também lideranças de movimentos e organizações populares que o PSDB tem mais acesso. Entre ajustes e mudanças pontuais, Barbosa e Camata ouviram demandas por maior diálogo com governo sobre políticas sociais. No ano passado, o senador mineiro apresentou um projeto de lei que transforma o programa em política de Estado. Outro projeto dele garante ao beneficiado que O texto com as propostas será finalizado no dia 23, disse Barbosa. E será, então, levado ao coordenador do plano de governo, o ex-governador de Minas Antonio Anastasia (PSDB). Anastasia já disse ao Valor que a orientação do candidato é que o plano de governo dê ênfase às pessoas e políticas sociais. Eduardo Barbosa afirma que, para além das ações existentes, das propostas do texto haverá uma política para idosos, pela qual o Estado passe a dar uma assistência maior à população que começa a envelhecer; e também uma política para pessoas com deficiências. Os tucanos têm falado também em uma integração dos programas hoje espalhados por alguns ministérios. Outra promessa é que experiências dos governos estaduais tucanos ganhem escala nacional. Em Minas, governos tucanos adotaram uma experiência semelhante ao Bolsa Família, com a diferença de que os beneficiários recebem, como estímulo, depósitos em uma conta poupança à medida que avançam nos estudos ou no trabalho. Ao buscar exemplos em São Paulo, Estado comandado pelo Continua Continuação PSDB há 20 anos, Aécio poderá exibir programas sociais semelhantes a projetos adotados no governo federal. Na comparação com o Pronatec, uma das principais bandeiras de Dilma, os tucanos mostrarão que o Estado dobrou o número de escolas técnicas (Etecs) nos últimos dez anos e aumentou as matrículas de 62,8 mil para 178,8 mil. Nos últimos quatro anos, na gestão do governador e candidato à reeleição Geraldo Alckmin, foram criadas 24 escolas técnicas, distribuídas de forma semelhante no interior e na região metropolitana. No interior, principal base eleitoral de Alckmin, o governador implantou 11 escolas técnicas e na região metropolitana, tradicional reduto petista, foram 13. Nesse mesmo período, o número de faculdades de ensino tecnológico (Fatecs) quadruplicou e as matrículas saltaram de 15, 1 mil para 72 mil. Na área da saúde, para fazer um contraponto ao Mais Médicos, o 13/06/14 PSDB poderá exibir o pagamento de bônus aos médicos que trabalharem em hospitais da periferia, anunciado por Alckmin dois meses depois do lançamento do programa federal. O programa paulista foi sancionado há dois meses e prevê um adicional de 30% aos médicos. Os profissionais com mestrado, doutorado e pós-doutorado poderão ter gratificação ainda maior. Com os dois bônus, o teto do salário da rede passa a ser de R$ 17,7 mil para a jornada de 40 horas semanais - mais do que os R$ 10 mil do Mais Médicos. No combate às drogas, o PSDB reforçou em São Paulo o programa Recomeço, de tratamento dos dependentes químicos, depois da ampliação de ações do governo federal e do prefeito da capital, Fernando Haddad (PT), na região da Cracolândia, no centro de São Paulo, para recuperar drogados. Na área de habitação, o PSDB paulista pretende usar como vitrine as 170 mil moradias construídas desde 2011 e prometidas até o fim deste ano por meio da CDHU, companhia estadual de habitação, e do programa Casa Paulista - que é integrado com o Minha Casa, Minha Vida, do governo federal. Na mesma linha da gestão Dilma, Alckmin anunciou no fim do ano passado o Programa Estadual de Inclusão, que cria um sistema de bônus para negros, pardos e indígenas em concursos públicos do Estado. Segundo o governo estadual, a medida pode beneficiar mais de um terço da população paulista. Um mês antes, a presidente havia encaminhado ao Congresso um projeto para reservar 20% das vagas em concursos públicos para negros e pardos. A lei federal que prevê a cota foi sancionada no início deste mês. Com a criação de bandeiras semelhantes às do governo federal em São Paulo, os tucanos tentam minimizar as críticas do PT sobre os problemas do Estado na área social. Valor Econômico 13/06/14 00 EMPRESAS Na luta para reduzir papel, ESPM até dispensa cartório Por João Luiz Rosa | De São Paulo Todo mundo que já passou pelo banco de uma universidade sabe como alguns procedimentos escolares podem ser desgastantes - de fazer a matrícula e pedir uma revisão de prova até se ver obrigado a comprar um livro inteiro para ler um único capítulo. No fim de 2012, a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) começou a testar o uso de tecnologias para minimizar esses problemas. Mas em vez de um fornecedor de sistemas ou uma consultoria de tecnologia, a companhia encontrou um parceiro inusitado para quem quer reduzir a quantidade de papel em circulação: a fabricante americana de impressoras Lexmark. O projeto, que ganhou novas etapas desde então, sublinha tanto o interesse das universidades em simplificar processos internos, como a necessidade dos fabricantes de impressoras de depender cada vez menos dos equipamentos e mais dos serviços. Para esses últimos, é praticamente uma reinvenção do modelo de negócio. Na ESPM, o primeiro ponto a ser atacado foi o vestibular. Com a adoção das novas tecnologias, o tempo para imprimir 6 mil páginas de provas e corrigir os gabaritos caiu de três dias para seis horas. Antes, a escola precisava usar um tipo de papel especial para confeccionar os gabaritos e uma máquina específica para conferir as respostas, o que aumentava o custo do processo. Mesmo assim, cerca de 30% das provas precisavam ser reimpressas, devido a falhas que dificultavam a leitura das questões ou imprecisões que poderiam causar problemas na hora da correção. Recuperar as provas também ficou mais fácil. "Antigamente, quando um aluno pedia uma revisão de prova, a busca tinha de ser feita manualmente", diz Paulo Henrique Marsula, diretorexecutivo de informação da ESPM. Um funcionário era obrigado a vasculhar as caixas até encontrar a prova em questão. Sob o modelo digital, é gerada uma chave de indexação com os dados do aluno, o que automatiza a busca eletrônica, explica Carlos Eduardo Bretos, vice-presidente e gerentegeral da Lexmark na América Latina. Para a fabricante de impressoras, chegar a esse ponto exigiu uma mudança radical no curso dos negócios. Em 2010, a Lexmark começou a adquirir vários empresas de software para integrar os programas a seus equipamentos e passar a oferecer serviços a companhias. Na área educacional, por exemplo, a mesma máquina que imprime as provas é capaz de corrigir os testes Continua Continuação de múltipla escolha. A reorientação estratégica levou a Lexmark a abandonar os equipamentos para uso residencial em 2011. O negócio de software e serviços ainda é uma parte relativamente pequena do faturamento da Lexmark, mas vem crescendo rapidamente desde que se tornou prioridade na empresa. No primeiro trimestre fiscal, as vendas na área aumentaram 18% e passaram a responder por 28% da receita total, com a expectativa de chegar a US$ 1 bilhão neste ano. Em 2013, a participação foi de 20% do faturamento, de US$ 3,7 bilhões. Na ESPM, a atualização tecnológica forneceu as bases para a instituição ingressar em uma área que despertou interesse: a certificação digital. "Nos transformamos em uma entidade certificadora para fins específicos", afirma Marsula. Na prática, isso significa o fim do cartório para uma série de atividades burocráticas. É o caso da matrícula. "Reformulamos todo o processo logístico", diz Leonardo 13/06/14 Fernandes, gerente de negócios e processos da ESPM. Em vez de passar no cartório para fazer cópias de documentos e autenticar a papelada, o aluno só precisa apresentar os originais. Os documentos são digitalizados na escola, que também é responsável pela autenticação. O processo, que anteriormente gerava fila e obrigava o aluno a agendar a matrícula, hoje não passa de 25 a 30 minutos, diz Fernandes. Para a Lexmark, o Brasil é o quarto maior mercado global e o único onde a empresa produz equipamentos, à exceção da China. A produção local é feita pela Flextronics, de manufatura sob encomenda, para aproveitar os benefícios proporcionados pelo Processo Produtivo Básico (PPB). No fim do ano passado, a Lexmark reorganizou os negócios no Brasil. Fortaleceu a área de serviços, renovou a equipe interna de vendas, reuniu três braços que atuavam em separado em torno de uma diretoria de negócios empresariais e passou a rever o relacionamento com seus canais de venda. "O próximo passo é criar uma estrutura própria de suporte ao pós-venda", afirma Luiz Claudio Menezes, presidente da Lexmark no Brasil. A ESPM, cujo projeto com a Lexmark foi liderado pela integradora de tecnologias Tecnoset, prepara-se para levar a outros campi um sistema adotado inicialmente no Rio. A escola fechou acordos com editoras de livros universitários e espalhou pelos corredores aparelhos multifuncionais, que fazem as vezes de impressora, scanner etc. Agora, quando precisa ler apenas alguns trechos de um livro, o aluno não precisa disputar os exemplares da biblioteca, entrar na fila da copiadora ou gastar em um obra que provavelmente ficará abandonada na estante. As obras, digitalizadas, estão disponíveis nos aparelhos multifuncionais. Basta selecionar o texto e obter a impressão. Nem é preciso nem tirar dinheiro vivo da carteira. A compra é feita pelo Paypal, o sistema de pagamento on-line. Valor Econômico 13/06/14 00 EU & FIM DE SEMANA Entrevista / João Manuel Cardoso de Mello, economista Constituinte versus desordem Por Célia de Gouvêa Franco e Vanessa Jurgenfeld | De Campinas É extremamente duro o diagnóstico sobre o Brasil do economista João Manuel Cardoso de Mello, que ganhou proeminência nacional ao participar, na década de 1980, da elaboração do Plano Cruzado, a primeira de uma série de tentativas de derrubar a inflação. Para ele, o país vive uma fase de desordem político-institucional e a única saída para resolver a situação é a convocação de uma Constituinte com critérios muito rígidos ninguém que ocupa um cargo público poderia, por exemplo, ser eleito. Além disso, já se partiria do princípio de acabar com a possibilidade de releição para o Executivo. E vereadores, deputados e senadores só poderiam tentar ser reeleitos uma única vez. Professor da presidente Dilma Rousseff quando ela iniciou sua pós-graduação em economia na Unicamp, João Manuel - ninguém o trata pelo sobrenome - não culpou, em uma rara entrevista à imprensa, o atual governo pela situação de desordem. Disse que, depois de décadas em que os principais problemas do Brasil não foram atacados seriamente, acabou se criando um clima de insatisfação, de mau humor com o Brasil que pode ser até uma ameaça à democracia, na medida em que abre espaço tanto para políticos "salvadores da pátria" quanto para os saudosistas dos tempos da ditadura. "As pessoas estão enojadas. Você conversa aqui com meus funcionários [da Facamp], desde o jardineiro até o professor, eles têm nojo", especificou. João Manuel apresentou ao Valor, no seu escritório na Facamp, a universidade que criou há 15 anos, uma lista detalhada de indícios da desordem institucional - e de consequências dessas circunstâncias. Ele fumou dez cigarros ao longo da conversa e de um almoço, que contou também com a presença do economista Luiz Gonzaga Belluzzo, amigo desde os 10 anos e sócio de João Manuel na Facamp, hoje reconhecida como uma das melhores instituições de ensino superior privada do país. De certa forma, sua fonte de inspiração para o lançamento da proposta da Constituinte são as palavras ditas por Ulysses Guimarães, ex-presidente da Câmara dos Deputados e da Assembleia Constituinte de 1988. Segundo João Manuel, antes de iniciar a campanha das Diretas Já, de 1984, que tentaria pressionar o governo militar a permitir a escolha dos governantes pela escolha das urnas, o "dr. Ulysses" fez uma consulta a um grupo de amigos, reunidos na casa dele. Pelo que João Manuel se lembra, apenas Continua Continuação ele apoiou a proposta do amigo. Os outros disseram que não haveria apoio popular. "Dr. Ulysses" ouviu todas as opiniões, mas depois afirmou: "Eu não quero saber se vai dar certo ou errado. O meu dever é fazer" a campanha, que acabou mobilizando centenas de milhares de brasileiros em manifestações nas grandes cidades. Além de Ulysses Guimarães, que morreu em 1992, João Manuel foi próximo de outras figuras marcantes da vida nacional, como Zeferino Vaz, que esteve à frente da criação e da organização da Unicamp - sendo depois o seu primeiro reitor - e de Dilson Funaro, o ministro da Fazenda do governo Sarney que abriu caminho para um grupo de economistas que formulou o Plano Cruzado. Muito discreto sobre seu relacionamento com a presidente, ele disse que "ela é minha amiga, foi minha aluna e eu gosto dela". Na sua avaliação sobre a situação da educação no Brasil, foi muito crítico sobre as universidades de forma geral e particularmente 13/06/14 ácido sobre as instituições de ensino privadas. A seguir, os principais trechos da sua entrevista: Valor: Viemos aqui fazer uma entrevista sobre economia... João Manuel Cardoso de Mello: Não vou falar de economia. Não quero falar de economia propriamente dita e nem de eleição. Valor: Vamos falar sobre a Copa? João Manuel: Também não. Quero falar que o debate atual no país é uma vergonha. De péssimo nível. E que o grande problema brasileiro, ao contrário do que as pessoas pensam, é uma desordem político-institucional. Valor: Em que sentido? João Manuel: No sentido de que isso aqui é uma desordem. Uma desordem. Desordem políticoinstitucional. Nosso sistema tem 30 partidos. A política se transformou num negócio. O partido da presidente tem 20% do Legislativo, logo a presidente é refém de partidos de aluguel. Esse é o problema. São 39 ministérios necessários para acomodar os anões, para não dizer os ladrões. Uma campanha para presidente da República custa R$ 700 milhões. Portanto, se estabelecem aqui relações espúrias e incestuosas entre os financiadores da campanha e o Executivo. E aí vem o problema do financiamento público das campanhas. Valor: Qual outro sintoma dessa desordem? João Manuel: O Supremo Tribunal legisla. E não pode! Sei disso porque nasci numa família de professores de direito. Meu pai, meu avô, meu bisavô. Isso é uma verdadeira barbaridade! E o Tribunal de Contas... Meu pai foi presidente do Tribunal de Contas. Valor: De qual? João Manuel: Do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. Meu pai [João de Deus Cardoso de Mello], quando era moço, deu Continua Continuação trombada numa árvore e ficou míope, tinha medo de guiar. Não gostava muito de motorista e nem nós tínhamos muito dinheiro. Ele tomava o ônibus no Jardim Paulistano, descia na praça da República, atravessava o viaduto do Chá e ia até a rua do Ouvidor, onde era o Tribunal de Contas. Tudo a pé. O presidente do Tribunal de Contas não tinha carro. Mas hoje o Tribunal de Contas interrompe obra. Para quê? Pode funcionar isso? Eles interromperam várias obras do governo federal. Não estou dizendo que o governo federal funciona, que é uma maravilha. Longe disso. Mas não pode. Isso aqui está tudo errado. O próprio Ministério Público tem poderes exorbitantes. Como é que um país pode funcionar assim? Além disso, os códigos de processo não são atualizados. Valor: Por que não? João Manuel: Porque o lobby dos advogados não deixa passar. Porque quanto mais demora o processo, mais eles ganham. Então, o Código do Processo Civil e o do Processo Penal especialmente são absurdos, são muito velhos. A 13/06/14 lei de execuções penais é um absurdo, certo? Então, como é que o país vai funcionar? E ainda anotei na minha lista que a Receita Federal quer estabelecer a política fiscal no Brasil. A Receita Federal tem poder... Alguém manda na Polícia Federal? Não manda nada. Então, você tem setores autônomos. Isso é o que estou chamando de desordem completa. "O debate atual no país é uma vergonha. De péssimo nível. O grande problema brasileiro é uma desordem político-institucional" Valor: O senhor anotou outra questões? João Manuel: Existem 19 mil cargos de confiança no governo. Isso é um absurdo completo porque, para funcionar, um Estado tem que ter uma burocracia no sentido weberiano, com gente que ganha bem, que tem prestígio, guiada pela honra, pelo interesse público, com boa formação, a meritocracia. Tem 19 mil cargos para botar quem? O parente, o amigo, o "zebedeu". Valor: São problemas do atual governo? João Manuel: Estamos falando de problemas estruturais que vêm se arrastando desde o governo Collor. Não tem a ver com Lula, com Dilma ou com FHC. Eu estou propondo aqui uma Constituinte, para reformar a coisa políticoinstitucional. Valor: Uma Constituinte em que bases? João Manuel: Com os seguintes critérios: acabar com a reeleição [nos cargos executivos], deixar deputados com mandatos de cinco anos, uma reeleição só e acabou. Valor: Cargos executivos sem reeleição? João Manuel: É claro. [José] Sarney está aqui há 30 anos! Não é possível! Valor: E uma boa parte do Parlamento está lá há muito tempo... João Manuel: É isso, claro, e eles não vão mudar nada. Porque vivem disso. Você acha que tem Continua Continuação cabimento? Eu me lembro que estava na casa do dr. Ulysses [Guimarães] quando apareceu a história dos anões do orçamento. Ele estava acabrunhado. Baixava a cabeça. E eu perguntava: "Você está aborrecido?" "João Manuel, [imita a voz de Ulysses] aconteceu uma coisa horrível. "O que foi?" "A corrupção chegou ao Legislativo." Ele não me contou mais nada. Valor: Quais as consequências dessa desordem no dia a dia do país? 13/06/14 proposta de Constituinte teria apoio da sociedade? João Manuel: Eu acho que isso é o pré-requisito de qualquer discussão. Você quer fazer política econômica num país desses? Quer ter uma estratégia de longo prazo? Como se faz? E fica essa discussão 'gué-gué-gué-gué-gué-gué'. Uma discussão completamente idiota. Valor: Falta um projeto para o país? João Manuel: Você acha que o Estado é capaz de organizar estratégias de longo prazo? Com essa desordem políticoinstitucional, não é possível fazer nada. Neste clima que a gente está vivendo, em que aumentaram as manifestações.... As pessoas estão enojadas. Você conversa aqui com meus funcionários, desde o jardineiro até o professor, eles têm nojo. O mal-estar que existe no país é imenso. Porque as pessoas estão cheias desse negócio. Essa é que é a verdade. João Manuel: Qualquer país tem. Qualquer país que se preze tem um projeto. Agora, para isso, é preciso a centralidade da política. Se o país não tem um mínimo de organização política, a coisa não vai. Você vê a Dilma ela é minha amiga, foi minha aluna e eu gosto dela -, tem todos os defeitos que todo mundo sabe, certo? Muito bem. Mas fica de mãos amarradas. Cercada. Inclusive pelo PT. As pessoas estão enojadas e isso a longo prazo é um perigo para as instituições democráticas. Porque aparece um aventureiro aí... Valor: O senhor acha que uma Valor: E há pessoas que falam que no tempo da ditadura era melhor porque roubavam, mas roubavam pouco. João Manuel: O que é verdade. Pior é isso. Valor: Essa situação é um risco? João Manuel: É, porque ninguém vai imaginar que a democracia está enraizada na alma brasileira. Não está. Valor: O que os seus estudantes falam sobre essa situação? João Manuel: Alunos e professores. Tem um bom professor que me falou nesta mesma sala: "Professor, eu não quero falar de política porque fico com vontade de vomitar". Valor: Mas esse sentimento de mal-estar abre um potencial para a mudança, não abre? João Manuel: Sim, desde que haja coisas articuladas e que alguém faça alguma coisa. Continua 13/06/14 Continuação Valor: Mas como se articularão essas mudanças que o senhor propõe? Via partidos políticos? João Manuel: Não, fora dos partidos. dar dois exemplos, mas podia dar dez. Como é que você não usa o pré-sal para alavancar a indústria metal-mecânica, o serviço técnico especializado nesse setor? Estão fazendo isso? incapazes, não fazemos nada. Na verdade, o país está paralisado. Esse mal-estar é isso. Valor: Isso é uma fase do processo democrático? Faz parte do amadurecimento? Valor: Não. Valor: Pelos movimentos sociais? João Manuel: Não sei como é que faz. Ninguém sabe. Agora, temos que colocar pelo menos o problema. Porque as pessoas começam a falar loucuras. Valor: Quais loucuras? João Manuel: As pessoas dizem banalidades: o problema é a produtividade... Mas quem defende a improdutividade? Ninguém. Ah, o problema é a saúde. Ninguém vai defender a doença. O problema do Brasil é a educação... Valor: Algumas pessoas dizem que o problema nosso é a falta de política industrial. João Manuel: Essas coisas são de uma complexidade enorme. Vou João Manuel: Não, você tem uma agricultura pujante, não tem? Uma agroindústria que vai crescer barbaramente. Tem problemas de produtividade, especialmente a pecuária. Mas que são resolvíveis com algum investimento vagabundo. Os chineses passaram a comer carne. Bom, isso é uma fronteira de expansão enorme. Você tem que colar a agricultura com a indústria de equipamentos e implementos agrícolas. Foi feito? Não. Você montou uma indústria farmacêutica brasileira que bem ou mal está aí. É óbvio que você tem que montar institutos de pesquisas. Os chineses hoje têm os maiores institutos de pesquisa do mundo. A China já é o segundo país onde mais se gasta em pesquisa e desenvolvimento. Os chineses formam 600 mil engenheiros por ano. O que é isso? É um país organizado! Nós somos João Manuel: Isso é amadurecimento? Isso é uma degeneração. "A política se transformou num negócio. O partido da presidente tem 20% do Legislativo, logo a presidente é refém de partidos de aluguel" Valor: O país não precisaria passar por isso? João Manuel: As pessoas perguntam por que eu não entrei em política. Eu tive vários convites para ser ministro, nunca aceitei. Porque não tenho estômago. Quando eu voltei do Ministério [Fazenda] e fui fazer uma palestra no Instituto de Economia [na Unicamp] e aí levantou um menino e disse: "Professor, vou fazer uma pergunta desagradável. O senhor parece que não roubou. Explique por quê". Não roubei, é fato. E Continua Continuação ainda tive que vender uma Belina verde para pagar as dívidas porque o que eu ganhava não pagava. Eu não roubei porque meu pai falou que não era para roubar. A explicação é simples. Valor: Haveria um momento - político, econômico e social mais apropriado para propor as mudanças? João Manuel: Eu não sei. Eu resolvi propor. Valor: Perdeu-se a oportunidade de uma proposta dessas em algum momento? João Manuel: Não creio. Mas daqui a pouco passa o momento. A situação vai se agravando, se agravando... O único sujeito, a bem da verdade - eu nunca fui do PT, muito menos desse PSDB -, a única pessoa que falou disso foi o Lula. Ligeiramente. O que acontece é que alguém precisa falar alguma coisa. Valor: Além disso, os países desenvolvidos continuam em crise, com crescimento baixo. 13/06/14 João Manuel: Temos o mundo central em crise... Crise terrível. E nós não podemos colar nosso destino em um sujeito que está capenga. Isso a presidente está fazendo direito, aliás contra a corrente do Itamaraty. Valor: Uma crise nos países centrais não é oportunidade para avanços do Brasil? João Manuel: Nosso caminho na verdade é dos Brics, é fazer um acerto com a China, que é economia dinâmica. Valor: E a proposta de integração latino-americana? João Manuel: Vai fazer integração com quem? Valor: A melhora da economia do país passaria por uma solução via indústria mais forte? João Manuel: Claro. Política industrial é uma coisa de altíssima complexidade. Alguém que nunca entrou numa empresa, numa fábrica, não pode ser ministro da indústria, não sabe nem como é que produz um parafuso. Você vê: fecharam 120 empresas têxteis. Como é que você deixa fechar 120 empresas grandes? Valor: Esse processo não está associado a um movimento de financeirização das empresas? João Manuel: Mas aí você aceita isso? E então deixa quebrar o setor têxtil? Valor: Tem que ser feito um contramovimento interno a essa tendência global? João Manuel: Claro, você precisa articular o país. Esse é o problema. Bom, não podemos fazer tudo, mas então vamos fazer isso, fazer aquilo, vamos entrar nas cadeias de valor globais assim. Certo? Mas ninguém toma nenhuma providência. Valor: Mas o BNDES tentou fazer uma articulação de cadeias, de grandes grupos, minimamente... João Manuel: Não tentou porque não é da natureza do Continua Continuação BNDES fazer isso. Valor: E os financiamentos para os frigoríficos? João Manuel: Há uma alguma lógica, porque nós somos o maior exportador de carnes do mundo. Valor: A inserção internacional promoveria grandes grupos no Brasil, ajudaria a indústria? João Manuel: Não é um problema de grandes grupos, você tem que escolher o que financiar. Valor: Tem que escolher setores na política industrial? João Manuel: Claro, tem que escolher. Isso tudo é muito complicado. 13/06/14 você vê o quê? Soja, um sujeito no trator e favela na cidade. Agricultura não cria emprego, não cria arrecadação fiscal. O Brasil não pode abrir mão da indústria. Valor: Mas o país já não abriu mão da indústria? João Manuel: Não, ainda temos uma indústria importante. Valor: Como criar uma política industrial se não mexe na política econômica? João Manuel: Câmbio e juros. Com esse câmbio aí não vai. Você valorizou o câmbio por quanto tempo? Vinte anos? São 20 anos de valorização. Ninguém aguenta. E foram todos: o seu Gustavo Franco, o seu Fernando Henrique, seu Lula, que surfou no câmbio. e dá uma canetada. Salários de professores sobem 7%. E eu tenho que subir a mensalidade 7%, certo? Se eu não fizer isso, eu quebro. Na minha lista incluí também a questão de como se justifica a existência da Justiça do Trabalho. Essa pergunta tem que ser feita. Quando Getúlio Vargas fez a Justiça do Trabalho, na década de 30, por que ele fez? As justiças estaduais eram todas manejadas pelas oligarquias, inclusive em São Paulo. Mas hoje a Justiça do Trabalho se justifica? O Brasil é o único país que tem Justiça do Trabalho. "O STF legisla. E não pode! Isso é uma verdadeira barbaridade! (...) O Tribunal de Contas interrompe obra. (...) Está tudo errado" Valor: Tem que escolher grupos campeões? Valor: Crescer agora passa por uma desvalorização cambial? Valor: A melhora da indústria passa por um governo desenvolvimentista? João Manuel: Esse negócio de campeão... isso não é o problema central. O problema central é o que nós vamos fazer. Agricultura, na verdade, não cria emprego. Desde que o [Raul] Prebisch fez a crítica do modelo primário exportador era isso. Você vai lá em Sinop (MT) e João Manuel: E com cuidado, porque haveria impacto sobre a inflação. Parte da economia está indexada. Mensalidades escolares estão indexadas, há falsos dissídios porque o sindicato não representa ninguém, o sindicato patronal muito menos. E o juiz pega João Manuel: Não há mais desenvolvimentismo. Nós nunca fomos desenvolvimentistas no Instituto de Economia [da Unicamp]. Isso aí é um equívoco. Isso aí é saudosismo. Hoje, você tem liberais idiotas e saudosistas. Nós não somos nem uma coisa nem Continua Continuação outra. Você tem que lidar com os problemas que o mundo está pondo para você, que não são os de 50 anos atrás. Falta planejamento. Há um livro que se chama "China em Uma Hora", que mostra uma cidade na China que foi feita inteirinha sem ninguém, planejada para 10 milhões de habitantes. Primeiro fizeram a cidade e depois chegaram os 10 milhões de habitantes. Isso é outra coisa que nós não fizemos. Você acha que é possível uma cidade ter 20 milhões de habitantes? Tem água, lixo, tudo que está escondido e você não vê... É imanejável. Valor: O centro do debate econômico deveria ser como se planeja o futuro do país? João Manuel: O debate é o seguinte: como é que nós vamos organizar o país? Como se organiza a indústria, como organizar a agricultura, como é que se faz o entrosamento entre o setor público e o setor privado. Não se faz isso há 30 anos. Vamos olhar para a China, que tinha uma renda per capita em 1980 de US$ 160. Sabe quantas pessoas saíram do campo para cidade em 30 anos? 460 milhões... Veja o planejamento 13/06/14 do espaço que eles fizeram. Isso é outra coisa que nós perdemos. Nós perdemos a coisa do planejamento regional. Valor: E na sua área, a educação? João Manuel: Bom, vamos primeiro, então, aos fatos, depois à teoria e à reflexão. São Paulo tem 365 mil professores. O salário médio é de R$ 2,4 mil. A jornada média de trabalho é 46 horas semanais. Um professor, para dar uma boa aula, pode no máximo dar 20 horas por semana. Para dar tempo de ele preparar a aula, corrigir prova. Ou seja, sem aumentar o salário, seria preciso contratar tanta gente que dobraria o gasto com professores. O que se pode fazer então? Tem que se começar a resolver o problema por etapas. Criar uma carreira paralela, ir montando devagar, criando escolas de tempo integral, pagando melhor. Isso leva 20 anos, mas alguém precisa começar. Se não, daqui a 20 anos nós estamos aqui falando a mesma coisa. Alguém faz? O grande problema está no ensino médio e fundamental. Não nos enganemos: é preciso professores competentes com uma carga horária razoável e escolas em tempo integral. É tarefa para uma geração. Para isso, precisamos enfrentar o corporativismo dos professores, o gigantismo das máquinas educacionais e fazer um grande esforço fiscal. Valor: A regulamentação do ensino também precisa ser mudada, não? João Manuel: Você vai ler na Constituição que as competências da educação são concorrentes, há municípios com universidade. Mas o que é isso? O currículo das escolas brasileiras é absurdo. Não tem nenhum país do mundo que tem física, química e biologia no ensino fundamental. Tem ciências. Foi para tirar os pobres da universidade que foi feito um currículo desses. Você faz um currículo desse tamanho, tem que saber quais são os 53 elementos químicos... Na Alemanha, você abre o livro, tem coisas elementares: por que eu aperto aquele botão e acende a luz, por que eu ligo carro e o carro anda, por que o avião voa. E assim por diante. Continua Continuação Valor: A escola privada é melhor? João Manuel: O problema não é só no ensino público. Valor: E as universidades brasileiras? João Manuel: Hoje, a universidade pública brasileira está completamente obsoleta. Porque o modelo de universidade está obsoleto, não existe mais isso. Universidade com 90 mil alunos não é possível, não há como administrar isso. Na época da criação da Unicamp, O Zeferino Vaz me mandou calcular os custos. Eu sou um dos poucos sujeitos no Brasil que entendem de custos universitários. Ele dizia: "Você vai estudar custos aqui, ninguém sabe nada desse negócio". Eu não sabia nada também. A Unicamp foi projetada para ter 5 mil alunos de graduação e 5 mil de pós- 13/06/14 graduação. Fiz todas as contas. Inclusive, depois de 10 mil alunos é mais barato fazer outra universidade. Em termos de economias de escala... para não dizer os custos pedagógicos. Eles quebraram as universidades. E fomos nós que inventamos esse negócio. Valor: O que poderia ser feito? João Manuel: As universidades públicas brasileiras são uma piada. Precisava haver uma reforma universitária. Hoje, existem dois modelos de universidade sendo discutidos. É uma discussão enorme no mundo e evidentemente não chegou aqui, por supuesto. No modelo francês, há a Sorbonne, que é uma universidade de massas. Da última vez em que estive lá com amigos, tinha um galpão. E perguntei que galpão era esse? "Aqui são as aulas de geografia." Quantos alunos têm? "Trinta mil." Aí tem as grandes écoles. Esse é um modelo. O outro é o americano, no qual dentro das universidades você tem ilhas de excelência, o resto é ensino de massa. Teve uma grande discussão na década de 30 nos Estados Unidos sobre isso. Foi quando eles massificaram a universidade. Faculdade de direito nos Estados Unidos não é graduação, é pósgraduação. Então, faculdade de direito de Harvard... [faz com a mão, mostrando que ela está lá em cima]. Agora, se você vai para outra faculdade... [faz com a mão, mostrando lá para baixo]. Aí tem 200 alunos na classe, um cara com microfone. Então, é uma catástrofe. Valor: E as universidades privadas? João Manuel: Instalou-se um segmento privado no país de compra e venda de diplomas! 13/06/14 00 OPINIÃO Luiz Garcia Cotas negras Nosso racismo é diferente, bem mais brando, mas não deixa de merecer atenção. Se não existisse, obviamente Dilma não sentiria a necessidade de fazer algo a respeito Não há dúvida de que é bem intencionada a lei sancionada esta semana pela presidente Dilma Rousseff reservando 20% das vagas em concursos públicos do governo federal para negros. Como ela mesma disse, trata-se de mais uma decisão de seu governo para garantir a igualdade racial no Brasil, algo parecido com a política de cotas para o acesso às universidades. A intenção é, obviamente, louvável. Mas é bom não esquecer um velho e nunca desmentido provérbio que nos diz que de boas intenções o inferno está calçado. Dilma lembrou, com razão, que ainda existe racismo no Brasil. Pode não ser parecido com o fosso que ainda existe entre brancos e negros, por exemplo, em uma vasta área do Sul dos Estados Unidos, apesar dos históricos esforços de seu governo federal e de grande maioria dos políticos e intelectuais americanos. O nosso racismo é diferente, bem mais brando, mas não deixa de merecer atenção. Se não existisse, obviamente Dilma não sentiria a necessidade de fazer alguma coisa a respeito. explicar como chegou à decisão de estabelecer a cota de 20%. Certamente não corresponde ao tamanho da população negra do Brasil. Talvez Dilma tenha à sua disposição algum levantamento mostrando que os 20% levam em conta o número, ainda lamentavelmente reduzido, de negros e pardos em condições de exercer cargos públicos na administração pública. A cota pode ser realista. Mas é certamente um reconhecimento de que ainda estamos longe da igualdade desejável. Seja como for, a novidade ainda depende de regulamentação. A administração federal vai produzir um parecer estabelecendo critérios pelos quais os candidatos podem ocupar as vagas destinadas aos cidadãos negros. Um observador ingênuo diria que devem ser iguais àqueles existentes para quaisquer outros cidadãos desejosos de trabalhar para o governo federal. A existência da cota de 20% leva à conclusão de que a nova lei parte da constatação de que a presidente de alguma maneira ficou sabendo que essa cota corresponde ao número cidadãos negros interessados em servir ao governo federal — e que, obviamente, são capazes de fazê-lo. Luiz Garcia é jornalista Nossa presidente se esqueceu de 13/06/14 00 SOCIEDADE 13/06/14 00 SOCIEDADE 13/06/14 00 LIÇÃO APRENDIDA A Previ pretende alocar R$ 100 milhões em um segundo FIP (Fundo de Investimentos em Participações) na área de educação. O Bozano Educacional II (da fusão das gestoras BR Investimentos, Mercatto e Trapezus) está em fase de captação e poderá chegar a R$ 500 milhões de patrimônio. Um outro FIP, o Neo Capital Mezanino III, que receberá R$ 60 milhões da Previ, terá uma novidade. Desta vez, ela não participará do comitê de investimentos (só do de acompanhamento). A decisão torna o fundo atrativo ao investidor estrangeiro, que não aceita a interferência de fundações. MERCADO ABERTO 13/06/14 00 METRÓPOLE Continua Continuação 13/06/14 13/06/14 00 METRÓPOLE JORNAL DO SENADO 13/06/14 00 EDUCAÇÃO Senadores divergem sobre novo Plano Nacional de Educação Aprovado pela Câmara no dia 3, o Plano Nacional de Educação (PNE) será sancionado pela presidente Dilma Rousseff nos próximos dias para substituir o texto que vigorou de 2001 a 2010. A eficácia do novo PNE, no entanto, causa divergência entre os senadores. não vai trazer resultados. O plano estipula 20 metas para os próximos dez anos. O item mais debatido durante a tramitação do projeto (PLC 103/2012) foi o que destina 10% do produto interno bruto (PIB) para a educação — com uma parte proveniente da exploração do petróleo do pré-sal. O percentual aumenta progressivamente, até chegar a 10% em 2024. Hoje, o país investe 5,3%. Cristovam calcula que o pré-sal renderá à educação R$ 30 bilhões, mas diz que o setor exige R$ 450 bilhões por ano. Na avaliação de Cristovam Buarque (PDT-DF), o novo PNE — Estamos mais uma vez fingindo com o PNE e fingindo com os recursos do pré-sal. Os recursos do pré-sal são ridículos diante do total de dinheiro necessário para a educação. ver dinheiro no quintal de uma escola, vai virar lama. Não chega à cabeça dos meninos porque não se sabe o que fazer com ele. Para o líder do PT, Humberto Costa (PE), a crítica é infundada. O dinheiro do pré-sal, segundo ele, fará grande diferença ao ser aliado a planejamento, metas e prazos, que obrigam as esferas federal, estadual e municipal a atuar juntas. Ele ressalta que o importante não é ter 10% do PIB, e sim planejar como investir o dinheiro. — Vamos incrementar de forma bastante expressiva, especialmente com os recursos do pré-sal, os gastos públicos e privados com educação. — Temo que esses 10% sejam dinheiro jogado fora, porque não dissemos como aplicar. Não tenho otimismo com o PNE 2, até porque o PNE 1 não deu resultado. Se cho- Ele ressalta que o planejamento dos gastos é feito nas leis orçamentárias, não no PNE. JORNAL DO SENADO 13/06/14 00 EDUCAÇÃO Cristovam diz que analfabetismo remete a direitos humanos Cristovam Buarque (PDT-DF) disse na quarta-feira que o analfabetismo é um problema de direitos humanos, que ultrapassa a dimensão educacional. — Uma pessoa que é analfabeta pode evoluir, mas depois que deixa de ser analfabeta. Uma pessoa no estado de analfabetismo não tem como evoluir na sociedade — alertou o parlamentar, que atribuiu a culpa da situação aos dirigentes do país, por se empenharem na defesa dos direitos humanos, mas não cumprirem o dever de erradicar o -analfabetismo. O senador informou que durante audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), na segunda-feira, enumerou 19 limitações que os analfabetos enfrentam na sociedade contemporânea. Ele lembrou que essas pessoas têm dificuldades para se deslocar, votar, obter informações ou procurar emprego, o que faz o analfabeto ser torturado psicologicamente em cada minuto de sua vida. — O direito de ir e vir é um direito de qualquer sociedade que respeite os direitos humanos. O analfabeto não tem esse direito pleno, porque ele não sabe ler as placas dos ônibus. Ele não sabe ler as placas de informes de onde ele está. Ele não sabe ler a palavra “perigo” na frente dele e, aí, ele vai para onde não queria, caminha e cai. A maior parte dos acidentes em construções civis, no Brasil, é devida ao analfabetismo da vítima, que não soube ler o anúncio — exemplificou Cristovam Buarque. JORNAL DO SENADO 13/06/14 00 EDUCAÇÃO Sancionada lei que reabre prazo para faculdades parcelarem dívidas federais Texto que dá novo prazo para parcelamento de dívidas tributárias de instituições foi apresentado pelo Executivo e aprovado pelo Senado em maio As instituições de ensino superior com dívidas referentes a tributos federais ganharam novo prazo para parcelar os débitos dentro do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento das Instituições de Ensino Superior (Proies). A medida entrou em vigor na quarta-feira com a publicação da Lei 12.989/ 2014. Oriunda do PLC 32/2014, a lei reabre por 90 dias o prazo para requerimento da moratória e do parcelamento. A adesão ao Proies implicará a remissão dos valores devidos à União a título de Imposto de Renda retido na fonte dos rendimentos pagos que tenham sido quitados direta ou indiretamente perante o município ou o estado — nesse caso, haverá também a anistia das multas de mora ou de ofício, juros de mora e encargos legais. Plenário vota texto que permite parcelamento de dívidas tributárias de faculdades, em sessão presidida por Renan Foto: Waldemir Barreto As instituições de ensino superior não integrantes do sistema federal de ensino deverão requerer, por intermédio de suas mantenedoras, a adesão ao sistema em 30 dias. JORNAL DE BRASÍLIA 13/06/14 00 PONTO DO SERVIDOR MILENA LOPES VAGAS! Vaga para diretor na UnB O Decanato de Gestão de Pessoas (DGP) da Universidade de Brasília (UnB) abriu processo seletivo para inscrições de servidores públicos para o cargo comissionado de diretor de Administração de Pessoas. O cargo será destinado aos servidores de nível superior, para atuação no DGP, com remuneração relativa ao cargo de direção. Requisitos Para se candidatar à vaga, é necessário ter diploma de curso superior em administração ou ciências contábeis e experiência em gestão de pessoas no âmbito da administração pública federal nas áreas de aposentadoria, pensão, cadastro e pagamento. Inscrições A jornada de trabalho é de oito horas diárias. As inscrições podem ser feitas até domingo pelo site http://dgp.unb.br/concursos/processo-seletivo-dap-2014 JORNAL DE BRASÍLIA 13/06/14 00 OPINIÃO JORNAL DE BRASÍLIA 13/06/14 00 ECONOMIA JORNAL DE BRASÍLIA 13/06/14 00 CIDADES