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Sexta-feira, 13 de Junho de 2014
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Valor Econômico
13/06/14
00
ESPECIAL
Bases do PSDB cobram políticas sociais
Por Marcos de Moura e Souza
e Cristiane Agostine | De Belo
Horizonte e São Paulo
Daqui a dez dias, a campanha
presidencial do senador Aécio
Neves (PSDB-MG) terá pronto um
primeiro documento com as
propostas de políticas sociais de
um eventual governo tucano.
Os
responsáveis
pela
elaboração do documento
defendem a manutenção - com
melhorias - de programas do PT
que serão slogans da campanha de
reeleição da presidente Dilma
Rousseff.
Críticos constantes da política
econômica do governo Dilma
Rousseff (PT), sobre a qual
defendem revisões urgentes, Aécio
e seus aliados adotam uma postura
diferente em relação às políticas
sociais petistas.
"Temos de sinalizar para o
eleitor que não queremos destruir
nada", disse ao Valor o deputado
federal Eduardo Barbosa (PSDBMG) que, junto com a ex-deputada
Rita Camata, do Espírito Santo,
está à frente do grupo de trabalho
sobre políticas sociais da
campanha de Aécio.
"Precisamos sinalizar e nos
posicionarmos diante de alguns
desses programas que são carroschefes [de Dilma], como o Bolsa
Família, Minha Casa, Minha Vida,
Pronatec e Mais Médicos. Votamos
sempre favoráveis a eles", disse
Barbosa. "Agora, tem coisa que
precisa melhorar."
Entre as melhorias, ele cita a
necessidade de aprimorar o Bolsa
Família e ajudar os beneficiários
a reduzir sua dependência em
relação ao programa. Aprimorar e
avançar também vale para o Minha
Casa, Minha Vida, disse ele, sem
antecipar o que será proposto.
Os programas sociais em curso
alcançam milhões de eleitores e
uma crítica mais aberta a eles
poderia ser um tiro no pé da
campanha tucana. Desde 2009, o
Minha Casa, Minha Vida programa que concede condições
facilitadas para a compra da casa
própria - já contratou 3.408.184 de
casas ou apartamentos e entregou
1.666.242 a famílias de mais baixa
renda, segundo o Ministério das
Cidades. No programa de
capacitação
e
educação
profissional (Pronatec), já se
matricularam 6,9 milhões alunos
em 4 mil municípios, segundo o
Ministério da Educação.
O Bolsa Família atende a mais
de 14,1 milhões de famílias, quase
50 milhões de pessoas, segundo o
Ministério do Desenvolvimento
Social. As famílias mais pobres
recebem um valor médio de R$
242. Dilma anunciou há algumas
semanas reajuste de 10% do valor
pago às famílias que estão no
Bolsa Família.
Continua
Continuação
Mesmo perdendo prestígio, a
presidente ainda é vista como
favorita, principalmente, entre as
famílias de mais baixa renda e que
são beneficiadas pelos programas
sociais. Aécio procura atrair esse
eleitorado e para isso se esforça
para afastar as versões de que, se
eleito, cortará programas sociais
e adotará medidas que atendem
prioritariamente interesses dos
mais endinheirados.
13/06/14
consiga um emprego registrado
mais seis meses do Bolsa Família.
"O Bolsa Família está
enraizado, faz parte sim da
paisagem econômica e social das
famílias", disse ele em maio em
São Paulo num encontro com
empresários.
Muitas dessas versões são
alimentadas pelo PT, por Lula e
pela própria presidente e
candidata Dilma. Em visita a
Minas Gerais, base eleitoral de
Aécio, ela disparou contra os
adversários dias atrás: "Eles estão
tentando aparecer como grandes
defensores do Bolsa Família,
quando a gente lembra que
chamavam o Bolsa Família de
bolsa esmola, nunca foram a favor
de políticas sociais".
Entre fim de abril e durante todo
maio, Barbosa e Camata ajudaram
a promover reuniões chamadas de
"rodadas sociais" em Campina
Grande, Curitiba, Goiânia, Manaus
e São Paulo. Participaram
funcionários públicos que
trabalham com assistência social
e também lideranças de
movimentos e organizações
populares que o PSDB tem mais
acesso. Entre ajustes e mudanças
pontuais, Barbosa e Camata
ouviram demandas por maior
diálogo com governo sobre
políticas sociais.
No ano passado, o senador
mineiro apresentou um projeto de
lei que transforma o programa em
política de Estado. Outro projeto
dele garante ao beneficiado que
O texto com as propostas será
finalizado no dia 23, disse
Barbosa. E será, então, levado ao
coordenador do plano de governo,
o ex-governador de Minas Antonio
Anastasia (PSDB). Anastasia já
disse ao Valor que a orientação do
candidato é que o plano de governo
dê ênfase às pessoas e políticas
sociais.
Eduardo Barbosa afirma que,
para além das ações existentes, das
propostas do texto haverá uma
política para idosos, pela qual o
Estado passe a dar uma assistência
maior à população que começa a
envelhecer; e também uma política
para pessoas com deficiências. Os
tucanos têm falado também em uma
integração dos programas hoje
espalhados por alguns ministérios.
Outra promessa é que experiências
dos governos estaduais tucanos
ganhem escala nacional.
Em Minas, governos tucanos
adotaram uma experiência
semelhante ao Bolsa Família, com
a diferença de que os beneficiários
recebem, como estímulo,
depósitos em uma conta poupança
à medida que avançam nos estudos
ou no trabalho.
Ao buscar exemplos em São
Paulo, Estado comandado pelo
Continua
Continuação
PSDB há 20 anos, Aécio poderá
exibir programas sociais
semelhantes a projetos adotados no
governo federal.
Na comparação com o
Pronatec, uma das principais
bandeiras de Dilma, os tucanos
mostrarão que o Estado dobrou o
número de escolas técnicas (Etecs)
nos últimos dez anos e aumentou
as matrículas de 62,8 mil para
178,8 mil. Nos últimos quatro
anos, na gestão do governador e
candidato à reeleição Geraldo
Alckmin, foram criadas 24 escolas
técnicas, distribuídas de forma
semelhante no interior e na região
metropolitana. No interior,
principal base eleitoral de
Alckmin, o governador implantou
11 escolas técnicas e na região
metropolitana, tradicional reduto
petista, foram 13. Nesse mesmo
período, o número de faculdades
de ensino tecnológico (Fatecs)
quadruplicou e as matrículas
saltaram de 15, 1 mil para 72 mil.
Na área da saúde, para fazer um
contraponto ao Mais Médicos, o
13/06/14
PSDB poderá exibir o pagamento
de bônus aos médicos que
trabalharem em hospitais da
periferia, anunciado por Alckmin
dois meses depois do lançamento
do programa federal. O programa
paulista foi sancionado há dois
meses e prevê um adicional de
30%
aos
médicos.
Os
profissionais com mestrado,
doutorado e pós-doutorado
poderão ter gratificação ainda
maior. Com os dois bônus, o teto
do salário da rede passa a ser de
R$ 17,7 mil para a jornada de 40
horas semanais - mais do que os
R$ 10 mil do Mais Médicos.
No combate às drogas, o PSDB
reforçou em São Paulo o programa
Recomeço, de tratamento dos
dependentes químicos, depois da
ampliação de ações do governo
federal e do prefeito da capital,
Fernando Haddad (PT), na região
da Cracolândia, no centro de São
Paulo, para recuperar drogados.
Na área de habitação, o PSDB
paulista pretende usar como vitrine
as 170 mil moradias construídas
desde 2011 e prometidas até o fim
deste ano por meio da CDHU,
companhia estadual de habitação,
e do programa Casa Paulista - que
é integrado com o Minha Casa,
Minha Vida, do governo federal.
Na mesma linha da gestão
Dilma, Alckmin anunciou no fim do
ano passado o Programa Estadual
de Inclusão, que cria um sistema
de bônus para negros, pardos e
indígenas em concursos públicos
do Estado. Segundo o governo
estadual, a medida pode beneficiar
mais de um terço da população
paulista. Um mês antes, a
presidente havia encaminhado ao
Congresso um projeto para
reservar 20% das vagas em
concursos públicos para negros e
pardos. A lei federal que prevê a
cota foi sancionada no início deste
mês.
Com a criação de bandeiras
semelhantes às do governo federal
em São Paulo, os tucanos tentam
minimizar as críticas do PT sobre
os problemas do Estado na área
social.
Valor Econômico
13/06/14
00
EMPRESAS
Na luta para reduzir papel,
ESPM até dispensa cartório
Por João Luiz Rosa | De São
Paulo
Todo mundo que já passou pelo
banco de uma universidade sabe
como alguns procedimentos
escolares podem ser desgastantes
- de fazer a matrícula e pedir uma
revisão de prova até se ver
obrigado a comprar um livro
inteiro para ler um único capítulo.
No fim de 2012, a Escola Superior
de Propaganda e Marketing
(ESPM) começou a testar o uso de
tecnologias para minimizar esses
problemas. Mas em vez de um
fornecedor de sistemas ou uma
consultoria de tecnologia, a
companhia encontrou um parceiro
inusitado para quem quer reduzir
a quantidade de papel em
circulação: a fabricante americana
de impressoras Lexmark.
O projeto, que ganhou novas
etapas desde então, sublinha tanto
o interesse das universidades em
simplificar processos internos,
como a necessidade dos fabricantes
de impressoras de depender cada
vez menos dos equipamentos e
mais dos serviços. Para esses
últimos, é praticamente uma
reinvenção do modelo de negócio.
Na ESPM, o primeiro ponto a
ser atacado foi o vestibular. Com
a adoção das novas tecnologias, o
tempo para imprimir 6 mil páginas
de provas e corrigir os gabaritos
caiu de três dias para seis horas.
Antes, a escola precisava usar um
tipo de papel especial para
confeccionar os gabaritos e uma
máquina específica para conferir
as respostas, o que aumentava o
custo do processo. Mesmo assim,
cerca de 30% das provas
precisavam ser reimpressas,
devido a falhas que dificultavam a
leitura das questões ou
imprecisões que poderiam causar
problemas na hora da correção.
Recuperar as provas também
ficou mais fácil. "Antigamente,
quando um aluno pedia uma
revisão de prova, a busca tinha de
ser feita manualmente", diz Paulo
Henrique Marsula, diretorexecutivo de informação da ESPM.
Um funcionário era obrigado a
vasculhar as caixas até encontrar
a prova em questão. Sob o modelo
digital, é gerada uma chave de
indexação com os dados do aluno,
o que automatiza a busca
eletrônica, explica Carlos Eduardo
Bretos, vice-presidente e gerentegeral da Lexmark na América
Latina.
Para a fabricante de
impressoras, chegar a esse ponto
exigiu uma mudança radical no
curso dos negócios. Em 2010, a
Lexmark começou a adquirir
vários empresas de software para
integrar os programas a seus
equipamentos e passar a oferecer
serviços a companhias. Na área
educacional, por exemplo, a
mesma máquina que imprime as
provas é capaz de corrigir os testes
Continua
Continuação
de múltipla escolha. A reorientação
estratégica levou a Lexmark a
abandonar os equipamentos para
uso residencial em 2011.
O negócio de software e
serviços ainda é uma parte
relativamente pequena do
faturamento da Lexmark, mas vem
crescendo rapidamente desde que
se tornou prioridade na empresa.
No primeiro trimestre fiscal, as
vendas na área aumentaram 18% e
passaram a responder por 28% da
receita total, com a expectativa de
chegar a US$ 1 bilhão neste ano.
Em 2013, a participação foi de
20% do faturamento, de US$ 3,7
bilhões.
Na ESPM, a atualização
tecnológica forneceu as bases para
a instituição ingressar em uma área
que despertou interesse: a
certificação digital. "Nos
transformamos em uma entidade
certificadora
para
fins
específicos", afirma Marsula. Na
prática, isso significa o fim do
cartório para uma série de
atividades burocráticas. É o caso
da matrícula. "Reformulamos todo
o processo logístico", diz Leonardo
13/06/14
Fernandes, gerente de negócios e
processos da ESPM. Em vez de
passar no cartório para fazer
cópias de documentos e autenticar
a papelada, o aluno só precisa
apresentar os originais. Os
documentos são digitalizados na
escola, que também é responsável
pela autenticação. O processo, que
anteriormente gerava fila e
obrigava o aluno a agendar a
matrícula, hoje não passa de 25 a
30 minutos, diz Fernandes.
Para a Lexmark, o Brasil é o
quarto maior mercado global e o
único onde a empresa produz
equipamentos, à exceção da China.
A produção local é feita pela
Flextronics, de manufatura sob
encomenda, para aproveitar os
benefícios proporcionados pelo
Processo Produtivo Básico (PPB).
No fim do ano passado, a
Lexmark reorganizou os negócios
no Brasil. Fortaleceu a área de
serviços, renovou a equipe interna
de vendas, reuniu três braços que
atuavam em separado em torno de
uma diretoria de negócios
empresariais e passou a rever o
relacionamento com seus canais de
venda. "O próximo passo é criar
uma estrutura própria de suporte
ao pós-venda", afirma Luiz Claudio
Menezes, presidente da Lexmark
no Brasil.
A ESPM, cujo projeto com a
Lexmark foi liderado pela
integradora de tecnologias
Tecnoset, prepara-se para levar a
outros campi um sistema adotado
inicialmente no Rio. A escola
fechou acordos com editoras de
livros universitários e espalhou
pelos corredores aparelhos
multifuncionais, que fazem as
vezes de impressora, scanner etc.
Agora, quando precisa ler apenas
alguns trechos de um livro, o aluno
não precisa disputar os exemplares
da biblioteca, entrar na fila da
copiadora ou gastar em um obra
que provavelmente ficará
abandonada na estante. As obras,
digitalizadas, estão disponíveis
nos aparelhos multifuncionais.
Basta selecionar o texto e obter a
impressão. Nem é preciso nem tirar
dinheiro vivo da carteira. A
compra é feita pelo Paypal, o
sistema de pagamento on-line.
Valor Econômico
13/06/14
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EU & FIM DE SEMANA
Entrevista / João Manuel Cardoso de Mello, economista
Constituinte versus desordem
Por Célia de Gouvêa Franco e
Vanessa Jurgenfeld | De Campinas
É extremamente duro o
diagnóstico sobre o Brasil do
economista João Manuel Cardoso
de Mello, que ganhou
proeminência nacional ao
participar, na década de 1980, da
elaboração do Plano Cruzado, a
primeira de uma série de tentativas
de derrubar a inflação. Para ele, o
país vive uma fase de desordem
político-institucional e a única
saída para resolver a situação é a
convocação de uma Constituinte
com critérios muito rígidos ninguém que ocupa um cargo
público poderia, por exemplo, ser
eleito. Além disso, já se partiria
do princípio de acabar com a
possibilidade de releição para o
Executivo. E vereadores,
deputados e senadores só
poderiam tentar ser reeleitos uma
única vez.
Professor da presidente Dilma
Rousseff quando ela iniciou sua
pós-graduação em economia na
Unicamp, João Manuel - ninguém
o trata pelo sobrenome - não
culpou, em uma rara entrevista à
imprensa, o atual governo pela
situação de desordem. Disse que,
depois de décadas em que os
principais problemas do Brasil não
foram atacados seriamente, acabou
se criando um clima de
insatisfação, de mau humor com o
Brasil que pode ser até uma ameaça
à democracia, na medida em que
abre espaço tanto para políticos
"salvadores da pátria" quanto para
os saudosistas dos tempos da
ditadura. "As pessoas estão
enojadas. Você conversa aqui com
meus funcionários [da Facamp],
desde o jardineiro até o professor,
eles têm nojo", especificou.
João Manuel apresentou ao
Valor, no seu escritório na Facamp,
a universidade que criou há 15
anos, uma lista detalhada de
indícios da desordem institucional
- e de consequências dessas
circunstâncias. Ele fumou dez
cigarros ao longo da conversa e de
um almoço, que contou também
com a presença do economista
Luiz Gonzaga Belluzzo, amigo
desde os 10 anos e sócio de João
Manuel na Facamp, hoje
reconhecida como uma das
melhores instituições de ensino
superior privada do país.
De certa forma, sua fonte de
inspiração para o lançamento da
proposta da Constituinte são as
palavras ditas por Ulysses
Guimarães, ex-presidente da
Câmara dos Deputados e da
Assembleia Constituinte de 1988.
Segundo João Manuel, antes de
iniciar a campanha das Diretas Já,
de 1984, que tentaria pressionar o
governo militar a permitir a
escolha dos governantes pela
escolha das urnas, o "dr. Ulysses"
fez uma consulta a um grupo de
amigos, reunidos na casa dele. Pelo
que João Manuel se lembra, apenas
Continua
Continuação
ele apoiou a proposta do amigo.
Os outros disseram que não haveria
apoio popular. "Dr. Ulysses" ouviu
todas as opiniões, mas depois
afirmou: "Eu não quero saber se
vai dar certo ou errado. O meu
dever é fazer" a campanha, que
acabou mobilizando centenas de
milhares de brasileiros em
manifestações nas grandes
cidades.
Além de Ulysses Guimarães,
que morreu em 1992, João Manuel
foi próximo de outras figuras
marcantes da vida nacional, como
Zeferino Vaz, que esteve à frente
da criação e da organização da
Unicamp - sendo depois o seu
primeiro reitor - e de Dilson
Funaro, o ministro da Fazenda do
governo Sarney que abriu caminho
para um grupo de economistas que
formulou o Plano Cruzado.
Muito discreto sobre seu
relacionamento com a presidente,
ele disse que "ela é minha amiga,
foi minha aluna e eu gosto dela".
Na sua avaliação sobre a situação
da educação no Brasil, foi muito
crítico sobre as universidades de
forma geral e particularmente
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ácido sobre as instituições de
ensino privadas. A seguir, os
principais trechos da sua
entrevista:
Valor: Viemos aqui fazer uma
entrevista sobre economia...
João Manuel Cardoso de Mello:
Não vou falar de economia. Não
quero falar de economia
propriamente dita e nem de
eleição.
Valor: Vamos falar sobre a
Copa?
João Manuel: Também não.
Quero falar que o debate atual no
país é uma vergonha. De péssimo
nível. E que o grande problema
brasileiro, ao contrário do que as
pessoas pensam, é uma desordem
político-institucional.
Valor: Em que sentido?
João Manuel: No sentido de que
isso aqui é uma desordem. Uma
desordem. Desordem políticoinstitucional. Nosso sistema tem 30
partidos. A política se transformou
num negócio. O partido da
presidente tem 20% do Legislativo,
logo a presidente é refém de
partidos de aluguel. Esse é o
problema. São 39 ministérios
necessários para acomodar os
anões, para não dizer os ladrões.
Uma campanha para presidente da
República custa R$ 700 milhões.
Portanto, se estabelecem aqui
relações espúrias e incestuosas
entre os financiadores da
campanha e o Executivo. E aí vem
o problema do financiamento
público das campanhas.
Valor: Qual outro sintoma
dessa desordem?
João Manuel: O Supremo
Tribunal legisla. E não pode! Sei
disso porque nasci numa família de
professores de direito. Meu pai,
meu avô, meu bisavô. Isso é uma
verdadeira barbaridade! E o
Tribunal de Contas... Meu pai foi
presidente do Tribunal de Contas.
Valor: De qual?
João Manuel: Do Tribunal de
Contas do Estado de São Paulo.
Meu pai [João de Deus Cardoso
de Mello], quando era moço, deu
Continua
Continuação
trombada numa árvore e ficou
míope, tinha medo de guiar. Não
gostava muito de motorista e nem
nós tínhamos muito dinheiro. Ele
tomava o ônibus no Jardim
Paulistano, descia na praça da
República, atravessava o viaduto
do Chá e ia até a rua do Ouvidor,
onde era o Tribunal de Contas.
Tudo a pé. O presidente do
Tribunal de Contas não tinha carro.
Mas hoje o Tribunal de Contas
interrompe obra. Para quê? Pode
funcionar
isso?
Eles
interromperam várias obras do
governo federal. Não estou dizendo
que o governo federal funciona,
que é uma maravilha. Longe disso.
Mas não pode. Isso aqui está tudo
errado. O próprio Ministério
Público tem poderes exorbitantes.
Como é que um país pode funcionar
assim? Além disso, os códigos de
processo não são atualizados.
Valor: Por que não?
João Manuel: Porque o lobby
dos advogados não deixa passar.
Porque quanto mais demora o
processo, mais eles ganham. Então,
o Código do Processo Civil e o
do Processo Penal especialmente
são absurdos, são muito velhos. A
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lei de execuções penais é um
absurdo, certo? Então, como é que
o país vai funcionar? E ainda
anotei na minha lista que a Receita
Federal quer estabelecer a política
fiscal no Brasil. A Receita Federal
tem poder... Alguém manda na
Polícia Federal? Não manda nada.
Então, você tem setores autônomos.
Isso é o que estou chamando de
desordem completa.
"O debate atual no país é uma
vergonha. De péssimo nível. O
grande problema brasileiro é uma
desordem político-institucional"
Valor: O senhor anotou outra
questões?
João Manuel: Existem 19 mil
cargos de confiança no governo.
Isso é um absurdo completo
porque, para funcionar, um Estado
tem que ter uma burocracia no
sentido weberiano, com gente que
ganha bem, que tem prestígio,
guiada pela honra, pelo interesse
público, com boa formação, a
meritocracia. Tem 19 mil cargos
para botar quem? O parente, o
amigo, o "zebedeu".
Valor: São problemas do atual
governo?
João Manuel: Estamos falando
de problemas estruturais que vêm
se arrastando desde o governo
Collor. Não tem a ver com Lula,
com Dilma ou com FHC. Eu estou
propondo aqui uma Constituinte,
para reformar a coisa políticoinstitucional.
Valor: Uma Constituinte em
que bases?
João Manuel: Com os seguintes
critérios: acabar com a reeleição
[nos cargos executivos], deixar
deputados com mandatos de cinco
anos, uma reeleição só e acabou.
Valor: Cargos executivos sem
reeleição?
João Manuel: É claro. [José]
Sarney está aqui há 30 anos! Não
é possível!
Valor: E uma boa parte do
Parlamento está lá há muito
tempo...
João Manuel: É isso, claro, e
eles não vão mudar nada. Porque
vivem disso. Você acha que tem
Continua
Continuação
cabimento? Eu me lembro que
estava na casa do dr. Ulysses
[Guimarães] quando apareceu a
história dos anões do orçamento.
Ele estava acabrunhado. Baixava
a cabeça. E eu perguntava: "Você
está aborrecido?" "João Manuel,
[imita a voz de Ulysses] aconteceu
uma coisa horrível. "O que foi?"
"A corrupção chegou ao
Legislativo." Ele não me contou
mais nada.
Valor: Quais as consequências
dessa desordem no dia a dia do
país?
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proposta de Constituinte teria
apoio da sociedade?
João Manuel: Eu acho que isso
é o pré-requisito de qualquer
discussão. Você quer fazer política
econômica num país desses? Quer
ter uma estratégia de longo prazo?
Como se faz? E fica essa discussão
'gué-gué-gué-gué-gué-gué'. Uma
discussão completamente idiota.
Valor: Falta um projeto para
o país?
João Manuel: Você acha que o
Estado é capaz de organizar
estratégias de longo prazo? Com
essa
desordem
políticoinstitucional, não é possível fazer
nada. Neste clima que a gente está
vivendo, em que aumentaram as
manifestações.... As pessoas estão
enojadas. Você conversa aqui com
meus funcionários, desde o
jardineiro até o professor, eles têm
nojo. O mal-estar que existe no
país é imenso. Porque as pessoas
estão cheias desse negócio. Essa
é que é a verdade.
João Manuel: Qualquer país
tem. Qualquer país que se preze
tem um projeto. Agora, para isso,
é preciso a centralidade da
política. Se o país não tem um
mínimo de organização política, a
coisa não vai. Você vê a Dilma ela é minha amiga, foi minha aluna
e eu gosto dela -, tem todos os
defeitos que todo mundo sabe,
certo? Muito bem. Mas fica de
mãos amarradas. Cercada.
Inclusive pelo PT. As pessoas
estão enojadas e isso a longo prazo
é um perigo para as instituições
democráticas. Porque aparece um
aventureiro aí...
Valor: O senhor acha que uma
Valor: E há pessoas que falam
que no tempo da ditadura era
melhor porque roubavam, mas
roubavam pouco.
João Manuel: O que é verdade.
Pior é isso.
Valor: Essa situação é um
risco?
João Manuel: É, porque
ninguém vai imaginar que a
democracia está enraizada na alma
brasileira. Não está.
Valor: O que os seus
estudantes falam sobre essa
situação?
João Manuel: Alunos e
professores. Tem um bom
professor que me falou nesta
mesma sala: "Professor, eu não
quero falar de política porque fico
com vontade de vomitar".
Valor: Mas esse sentimento de
mal-estar abre um potencial
para a mudança, não abre?
João Manuel: Sim, desde que
haja coisas articuladas e que
alguém faça alguma coisa.
Continua
13/06/14
Continuação
Valor: Mas como se
articularão essas mudanças que
o senhor propõe? Via partidos
políticos?
João Manuel: Não, fora dos
partidos.
dar dois exemplos, mas podia dar
dez. Como é que você não usa o
pré-sal para alavancar a indústria
metal-mecânica, o serviço técnico
especializado nesse setor? Estão
fazendo isso?
incapazes, não fazemos nada. Na
verdade, o país está paralisado.
Esse mal-estar é isso.
Valor: Isso é uma fase do
processo democrático? Faz parte
do amadurecimento?
Valor: Não.
Valor: Pelos movimentos
sociais?
João Manuel: Não sei como é
que faz. Ninguém sabe. Agora,
temos que colocar pelo menos o
problema. Porque as pessoas
começam a falar loucuras.
Valor: Quais loucuras?
João Manuel: As pessoas dizem
banalidades: o problema é a
produtividade... Mas quem
defende a improdutividade?
Ninguém. Ah, o problema é a
saúde. Ninguém vai defender a
doença. O problema do Brasil é a
educação...
Valor: Algumas pessoas dizem
que o problema nosso é a falta
de política industrial.
João Manuel: Essas coisas são
de uma complexidade enorme. Vou
João Manuel: Não, você tem
uma agricultura pujante, não tem?
Uma agroindústria que vai crescer
barbaramente. Tem problemas de
produtividade, especialmente a
pecuária. Mas que são resolvíveis
com algum investimento
vagabundo. Os chineses passaram
a comer carne. Bom, isso é uma
fronteira de expansão enorme.
Você tem que colar a agricultura
com a indústria de equipamentos
e implementos agrícolas. Foi
feito? Não. Você montou uma
indústria farmacêutica brasileira
que bem ou mal está aí. É óbvio
que você tem que montar institutos
de pesquisas. Os chineses hoje têm
os maiores institutos de pesquisa
do mundo. A China já é o segundo
país onde mais se gasta em
pesquisa e desenvolvimento. Os
chineses formam 600 mil
engenheiros por ano. O que é isso?
É um país organizado! Nós somos
João Manuel: Isso é
amadurecimento? Isso é uma
degeneração.
"A política se transformou num
negócio. O partido da presidente
tem 20% do Legislativo, logo a
presidente é refém de partidos de
aluguel"
Valor: O país não precisaria
passar por isso?
João Manuel: As pessoas
perguntam por que eu não entrei
em política. Eu tive vários convites
para ser ministro, nunca aceitei.
Porque não tenho estômago.
Quando eu voltei do Ministério
[Fazenda] e fui fazer uma palestra
no Instituto de Economia [na
Unicamp] e aí levantou um menino
e disse: "Professor, vou fazer uma
pergunta desagradável. O senhor
parece que não roubou. Explique
por quê". Não roubei, é fato. E
Continua
Continuação
ainda tive que vender uma Belina
verde para pagar as dívidas porque
o que eu ganhava não pagava. Eu
não roubei porque meu pai falou
que não era para roubar. A
explicação é simples.
Valor: Haveria um momento
- político, econômico e social mais apropriado para propor as
mudanças?
João Manuel: Eu não sei. Eu
resolvi propor.
Valor:
Perdeu-se
a
oportunidade de uma proposta
dessas em algum momento?
João Manuel: Não creio. Mas
daqui a pouco passa o momento. A
situação vai se agravando, se
agravando... O único sujeito, a bem
da verdade - eu nunca fui do PT,
muito menos desse PSDB -, a
única pessoa que falou disso foi o
Lula. Ligeiramente. O que
acontece é que alguém precisa
falar alguma coisa.
Valor: Além disso, os países
desenvolvidos continuam em
crise, com crescimento baixo.
13/06/14
João Manuel: Temos o mundo
central em crise... Crise terrível.
E nós não podemos colar nosso
destino em um sujeito que está
capenga. Isso a presidente está
fazendo direito, aliás contra a
corrente do Itamaraty.
Valor: Uma crise nos países
centrais não é oportunidade para
avanços do Brasil?
João Manuel: Nosso caminho na
verdade é dos Brics, é fazer um
acerto com a China, que é
economia dinâmica.
Valor: E a proposta de
integração latino-americana?
João Manuel: Vai fazer
integração com quem?
Valor: A melhora da economia
do país passaria por uma solução
via indústria mais forte?
João Manuel: Claro. Política
industrial é uma coisa de altíssima
complexidade. Alguém que nunca
entrou numa empresa, numa
fábrica, não pode ser ministro da
indústria, não sabe nem como é que
produz um parafuso. Você vê:
fecharam 120 empresas têxteis.
Como é que você deixa fechar 120
empresas grandes?
Valor: Esse processo não está
associado a um movimento de
financeirização das empresas?
João Manuel: Mas aí você
aceita isso? E então deixa quebrar
o setor têxtil?
Valor: Tem que ser feito um
contramovimento interno a essa
tendência global?
João Manuel: Claro, você
precisa articular o país. Esse é o
problema. Bom, não podemos fazer
tudo, mas então vamos fazer isso,
fazer aquilo, vamos entrar nas
cadeias de valor globais assim.
Certo? Mas ninguém toma nenhuma
providência.
Valor: Mas o BNDES tentou
fazer uma articulação de
cadeias, de grandes grupos,
minimamente...
João Manuel: Não tentou
porque não é da natureza do
Continua
Continuação
BNDES fazer isso.
Valor: E os financiamentos
para os frigoríficos?
João Manuel: Há uma alguma
lógica, porque nós somos o maior
exportador de carnes do mundo.
Valor:
A
inserção
internacional
promoveria
grandes grupos no Brasil,
ajudaria a indústria?
João Manuel: Não é um
problema de grandes grupos, você
tem que escolher o que financiar.
Valor: Tem que escolher
setores na política industrial?
João Manuel: Claro, tem que
escolher. Isso tudo é muito
complicado.
13/06/14
você vê o quê? Soja, um sujeito
no trator e favela na cidade.
Agricultura não cria emprego, não
cria arrecadação fiscal. O Brasil
não pode abrir mão da indústria.
Valor: Mas o país já não abriu
mão da indústria?
João Manuel: Não, ainda temos
uma indústria importante.
Valor: Como criar uma
política industrial se não mexe
na política econômica?
João Manuel: Câmbio e juros.
Com esse câmbio aí não vai. Você
valorizou o câmbio por quanto
tempo? Vinte anos? São 20 anos
de valorização. Ninguém aguenta.
E foram todos: o seu Gustavo
Franco, o seu Fernando Henrique,
seu Lula, que surfou no câmbio.
e dá uma canetada. Salários de
professores sobem 7%. E eu tenho
que subir a mensalidade 7%,
certo? Se eu não fizer isso, eu
quebro. Na minha lista incluí
também a questão de como se
justifica a existência da Justiça do
Trabalho. Essa pergunta tem que
ser feita. Quando Getúlio Vargas
fez a Justiça do Trabalho, na
década de 30, por que ele fez? As
justiças estaduais eram todas
manejadas pelas oligarquias,
inclusive em São Paulo. Mas hoje
a Justiça do Trabalho se justifica?
O Brasil é o único país que tem
Justiça do Trabalho.
"O STF legisla. E não pode!
Isso é uma verdadeira barbaridade!
(...) O Tribunal de Contas
interrompe obra. (...) Está tudo
errado"
Valor: Tem que escolher
grupos campeões?
Valor: Crescer agora passa por
uma desvalorização cambial?
Valor: A melhora da indústria
passa por um governo
desenvolvimentista?
João Manuel: Esse negócio de
campeão... isso não é o problema
central. O problema central é o que
nós vamos fazer. Agricultura, na
verdade, não cria emprego. Desde
que o [Raul] Prebisch fez a crítica
do modelo primário exportador era
isso. Você vai lá em Sinop (MT) e
João Manuel: E com cuidado,
porque haveria impacto sobre a
inflação. Parte da economia está
indexada. Mensalidades escolares
estão indexadas, há falsos
dissídios porque o sindicato não
representa ninguém, o sindicato
patronal muito menos. E o juiz pega
João Manuel: Não há mais
desenvolvimentismo. Nós nunca
fomos desenvolvimentistas no
Instituto de Economia [da
Unicamp]. Isso aí é um equívoco.
Isso aí é saudosismo. Hoje, você
tem liberais idiotas e saudosistas.
Nós não somos nem uma coisa nem
Continua
Continuação
outra. Você tem que lidar com os
problemas que o mundo está pondo
para você, que não são os de 50
anos atrás. Falta planejamento. Há
um livro que se chama "China em
Uma Hora", que mostra uma cidade
na China que foi feita inteirinha
sem ninguém, planejada para 10
milhões de habitantes. Primeiro
fizeram a cidade e depois
chegaram os 10 milhões de
habitantes. Isso é outra coisa que
nós não fizemos. Você acha que é
possível uma cidade ter 20 milhões
de habitantes? Tem água, lixo, tudo
que está escondido e você não vê...
É imanejável.
Valor: O centro do debate
econômico deveria ser como se
planeja o futuro do país?
João Manuel: O debate é o
seguinte: como é que nós vamos
organizar o país? Como se
organiza a indústria, como
organizar a agricultura, como é que
se faz o entrosamento entre o setor
público e o setor privado. Não se
faz isso há 30 anos. Vamos olhar
para a China, que tinha uma renda
per capita em 1980 de US$ 160.
Sabe quantas pessoas saíram do
campo para cidade em 30 anos?
460 milhões... Veja o planejamento
13/06/14
do espaço que eles fizeram. Isso é
outra coisa que nós perdemos. Nós
perdemos a coisa do planejamento
regional.
Valor: E na sua área, a
educação?
João Manuel: Bom, vamos
primeiro, então, aos fatos, depois
à teoria e à reflexão. São Paulo tem
365 mil professores. O salário
médio é de R$ 2,4 mil. A jornada
média de trabalho é 46 horas
semanais. Um professor, para dar
uma boa aula, pode no máximo dar
20 horas por semana. Para dar
tempo de ele preparar a aula,
corrigir prova. Ou seja, sem
aumentar o salário, seria preciso
contratar tanta gente que dobraria
o gasto com professores. O que se
pode fazer então? Tem que se
começar a resolver o problema por
etapas. Criar uma carreira
paralela, ir montando devagar,
criando escolas de tempo integral,
pagando melhor. Isso leva 20 anos,
mas alguém precisa começar. Se
não, daqui a 20 anos nós estamos
aqui falando a mesma coisa.
Alguém faz? O grande problema
está no ensino médio e
fundamental. Não nos enganemos:
é preciso professores competentes
com uma carga horária razoável e
escolas em tempo integral. É tarefa
para uma geração. Para isso,
precisamos
enfrentar
o
corporativismo dos professores, o
gigantismo das máquinas
educacionais e fazer um grande
esforço fiscal.
Valor: A regulamentação do
ensino também precisa ser
mudada, não?
João Manuel: Você vai ler na
Constituição que as competências
da educação são concorrentes, há
municípios com universidade. Mas
o que é isso? O currículo das
escolas brasileiras é absurdo. Não
tem nenhum país do mundo que tem
física, química e biologia no
ensino fundamental. Tem ciências.
Foi para tirar os pobres da
universidade que foi feito um
currículo desses. Você faz um
currículo desse tamanho, tem que
saber quais são os 53 elementos
químicos... Na Alemanha, você
abre o livro, tem coisas
elementares: por que eu aperto
aquele botão e acende a luz, por
que eu ligo carro e o carro anda,
por que o avião voa. E assim por
diante.
Continua
Continuação
Valor: A escola privada é
melhor?
João Manuel: O problema não
é só no ensino público.
Valor: E as universidades
brasileiras?
João Manuel: Hoje, a
universidade pública brasileira
está completamente obsoleta.
Porque o modelo de universidade
está obsoleto, não existe mais isso.
Universidade com 90 mil alunos
não é possível, não há como
administrar isso. Na época da
criação da Unicamp, O Zeferino
Vaz me mandou calcular os custos.
Eu sou um dos poucos sujeitos no
Brasil que entendem de custos
universitários. Ele dizia: "Você vai
estudar custos aqui, ninguém sabe
nada desse negócio". Eu não sabia
nada também. A Unicamp foi
projetada para ter 5 mil alunos de
graduação e 5 mil de pós-
13/06/14
graduação. Fiz todas as contas.
Inclusive, depois de 10 mil alunos
é mais barato fazer outra
universidade. Em termos de
economias de escala... para não
dizer os custos pedagógicos. Eles
quebraram as universidades. E
fomos nós que inventamos esse
negócio.
Valor: O que poderia ser feito?
João Manuel: As universidades
públicas brasileiras são uma
piada. Precisava haver uma
reforma universitária. Hoje,
existem dois modelos de
universidade sendo discutidos. É
uma discussão enorme no mundo e
evidentemente não chegou aqui,
por supuesto. No modelo francês,
há a Sorbonne, que é uma
universidade de massas. Da última
vez em que estive lá com amigos,
tinha um galpão. E perguntei que
galpão era esse? "Aqui são as aulas
de geografia." Quantos alunos têm?
"Trinta mil." Aí tem as grandes
écoles. Esse é um modelo. O outro
é o americano, no qual dentro das
universidades você tem ilhas de
excelência, o resto é ensino de
massa. Teve uma grande discussão
na década de 30 nos Estados
Unidos sobre isso. Foi quando eles
massificaram a universidade.
Faculdade de direito nos Estados
Unidos não é graduação, é pósgraduação. Então, faculdade de
direito de Harvard... [faz com a
mão, mostrando que ela está lá em
cima]. Agora, se você vai para
outra faculdade... [faz com a mão,
mostrando lá para baixo]. Aí tem
200 alunos na classe, um cara com
microfone. Então, é uma catástrofe.
Valor: E as universidades
privadas?
João Manuel: Instalou-se um
segmento privado no país de
compra e venda de diplomas!
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OPINIÃO
Luiz Garcia
Cotas negras
Nosso racismo é diferente, bem
mais brando, mas não deixa de
merecer atenção. Se não existisse,
obviamente Dilma não sentiria a
necessidade de fazer algo a respeito
Não há dúvida de que é bem
intencionada a lei sancionada esta
semana pela presidente Dilma
Rousseff reservando 20% das vagas
em concursos públicos do governo
federal para negros. Como ela
mesma disse, trata-se de mais uma
decisão de seu governo para
garantir a igualdade racial no Brasil,
algo parecido com a política de cotas
para o acesso às universidades.
A intenção é, obviamente,
louvável. Mas é bom não esquecer
um velho e nunca desmentido
provérbio que nos diz que de boas
intenções o inferno está calçado.
Dilma lembrou, com razão, que ainda
existe racismo no Brasil. Pode não
ser parecido com o fosso que ainda
existe entre brancos e negros, por
exemplo, em uma vasta área do Sul
dos Estados Unidos, apesar dos
históricos esforços de seu governo
federal e de grande maioria dos
políticos e intelectuais americanos. O
nosso racismo é diferente, bem mais
brando, mas não deixa de merecer
atenção. Se não existisse,
obviamente Dilma não sentiria a
necessidade de fazer alguma coisa a
respeito.
explicar como chegou à decisão de
estabelecer a cota de 20%.
Certamente não corresponde ao
tamanho da população negra do
Brasil. Talvez Dilma tenha à sua
disposição algum levantamento
mostrando que os 20% levam em
conta o número, ainda
lamentavelmente reduzido, de negros
e pardos em condições de exercer
cargos públicos na administração
pública. A cota pode ser realista.
Mas
é
certamente
um
reconhecimento de que ainda
estamos longe da igualdade
desejável.
Seja como for, a novidade ainda
depende de regulamentação. A
administração federal vai produzir
um parecer estabelecendo critérios
pelos quais os candidatos podem
ocupar as vagas destinadas aos
cidadãos negros. Um observador
ingênuo diria que devem ser iguais
àqueles existentes para quaisquer
outros cidadãos desejosos de
trabalhar para o governo federal. A
existência da cota de 20% leva à
conclusão de que a nova lei parte
da constatação de que a presidente
de alguma maneira ficou sabendo
que essa cota corresponde ao
número cidadãos negros
interessados em servir ao governo
federal — e que, obviamente, são
capazes de fazê-lo.
Luiz Garcia é jornalista
Nossa presidente se esqueceu de
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SOCIEDADE
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SOCIEDADE
13/06/14
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LIÇÃO APRENDIDA
A Previ pretende alocar R$ 100
milhões em um segundo FIP (Fundo
de Investimentos em Participações)
na área de educação.
O Bozano Educacional II (da
fusão das gestoras BR
Investimentos, Mercatto e Trapezus)
está em fase de captação e poderá
chegar a R$ 500 milhões de
patrimônio.
Um outro FIP, o Neo Capital
Mezanino III, que receberá R$ 60
milhões da Previ, terá uma
novidade. Desta vez, ela não
participará do comitê de
investimentos (só do de
acompanhamento).
A decisão torna o fundo atrativo
ao investidor estrangeiro, que não
aceita a interferência de fundações.
MERCADO ABERTO
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METRÓPOLE
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Continuação
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METRÓPOLE
JORNAL DO SENADO
13/06/14
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EDUCAÇÃO
Senadores divergem sobre
novo Plano Nacional de Educação
Aprovado pela Câmara no dia 3,
o Plano Nacional de Educação
(PNE) será sancionado pela presidente Dilma Rousseff nos próximos
dias para substituir o texto que vigorou de 2001 a 2010. A eficácia do
novo PNE, no entanto, causa divergência entre os senadores.
não vai trazer resultados.
O plano estipula 20 metas para
os próximos dez anos. O item mais
debatido durante a tramitação do
projeto (PLC 103/2012) foi o que
destina 10% do produto interno bruto (PIB) para a educação — com
uma parte proveniente da exploração do petróleo do pré-sal. O
percentual aumenta progressivamente, até chegar a 10% em 2024. Hoje,
o país investe 5,3%.
Cristovam calcula que o pré-sal
renderá à educação R$ 30 bilhões,
mas diz que o setor exige R$ 450
bilhões por ano.
Na avaliação de Cristovam
Buarque (PDT-DF), o novo PNE
— Estamos mais uma vez fingindo com o PNE e fingindo com os
recursos do pré-sal. Os recursos do
pré-sal são ridículos diante do total
de dinheiro necessário para a educação.
ver dinheiro no quintal de uma escola, vai virar lama. Não chega à cabeça dos meninos porque não se
sabe o que fazer com ele.
Para o líder do PT, Humberto
Costa (PE), a crítica é infundada. O
dinheiro do pré-sal, segundo ele, fará
grande diferença ao ser aliado a planejamento, metas e prazos, que obrigam as esferas federal, estadual e
municipal a atuar juntas.
Ele ressalta que o importante não
é ter 10% do PIB, e sim planejar
como investir o dinheiro.
— Vamos incrementar de forma
bastante expressiva, especialmente
com os recursos do pré-sal, os gastos públicos e privados com educação.
— Temo que esses 10% sejam
dinheiro jogado fora, porque não dissemos como aplicar. Não tenho otimismo com o PNE 2, até porque o
PNE 1 não deu resultado. Se cho-
Ele ressalta que o planejamento
dos gastos é feito nas leis orçamentárias, não no PNE.
JORNAL DO SENADO
13/06/14
00
EDUCAÇÃO
Cristovam diz que analfabetismo
remete a direitos humanos
Cristovam Buarque (PDT-DF) disse na quarta-feira
que o analfabetismo é um problema de direitos humanos,
que ultrapassa a dimensão educacional.
— Uma pessoa que é analfabeta pode evoluir, mas
depois que deixa de ser analfabeta. Uma pessoa no estado
de analfabetismo não tem como evoluir na sociedade —
alertou o parlamentar, que atribuiu a culpa da situação
aos dirigentes do país, por se empenharem na defesa dos
direitos humanos, mas não cumprirem o dever de erradicar
o -analfabetismo.
O senador informou que durante audiência pública na
Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa
(CDH), na segunda-feira, enumerou 19 limitações que os
analfabetos enfrentam na sociedade contemporânea. Ele
lembrou que essas pessoas têm dificuldades para se
deslocar, votar, obter informações ou procurar emprego,
o que faz o analfabeto ser torturado psicologicamente em
cada minuto de sua vida.
— O direito de ir e vir é um direito de qualquer
sociedade que respeite os direitos humanos. O analfabeto
não tem esse direito pleno, porque ele não sabe ler as
placas dos ônibus. Ele não sabe ler as placas de informes
de onde ele está. Ele não sabe ler a palavra “perigo” na
frente dele e, aí, ele vai para onde não queria, caminha e
cai. A maior parte dos acidentes em construções civis, no
Brasil, é devida ao analfabetismo da vítima, que não soube
ler o anúncio — exemplificou Cristovam Buarque.
JORNAL DO SENADO
13/06/14
00
EDUCAÇÃO
Sancionada lei que reabre prazo para
faculdades parcelarem dívidas federais
Texto que dá novo prazo para
parcelamento de dívidas tributárias
de instituições foi apresentado pelo
Executivo e aprovado pelo Senado
em maio
As instituições de ensino superior com dívidas referentes a tributos
federais ganharam novo prazo para
parcelar os débitos dentro do Programa de Estímulo à Reestruturação
e ao Fortalecimento das Instituições
de Ensino Superior (Proies). A medida entrou em vigor na quarta-feira
com a publicação da Lei 12.989/
2014.
Oriunda do PLC 32/2014, a lei
reabre por 90 dias o prazo para requerimento da moratória e do
parcelamento. A adesão ao Proies
implicará a remissão dos valores devidos à União a título de Imposto de
Renda retido na fonte dos rendimentos pagos que tenham sido quitados
direta ou indiretamente perante o
município ou o estado — nesse caso,
haverá também a anistia das multas
de mora ou de ofício, juros de mora
e encargos legais.
Plenário vota texto que permite parcelamento de dívidas tributárias
de faculdades, em sessão presidida por Renan Foto: Waldemir Barreto
As instituições de ensino superior não integrantes do sistema federal de ensino deverão requerer, por
intermédio de suas mantenedoras, a
adesão ao sistema em 30 dias.
JORNAL DE BRASÍLIA
13/06/14
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PONTO DO
SERVIDOR
MILENA LOPES
VAGAS!
Vaga para diretor na UnB
O Decanato de Gestão de Pessoas (DGP) da Universidade de
Brasília (UnB) abriu processo seletivo para inscrições de servidores públicos para o cargo comissionado de diretor de Administração de Pessoas. O cargo será destinado aos servidores de nível
superior, para atuação no DGP, com remuneração relativa ao cargo de direção.
Requisitos
Para se candidatar à vaga, é necessário ter diploma de curso
superior em administração ou ciências contábeis e experiência em
gestão de pessoas no âmbito da administração pública federal nas
áreas de aposentadoria, pensão, cadastro e pagamento.
Inscrições
A jornada de trabalho é de oito horas diárias. As inscrições
podem ser feitas até domingo pelo site http://dgp.unb.br/concursos/processo-seletivo-dap-2014
JORNAL DE BRASÍLIA
13/06/14
00
OPINIÃO
JORNAL DE BRASÍLIA
13/06/14
00
ECONOMIA
JORNAL DE BRASÍLIA
13/06/14
00
CIDADES
Download

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