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Paulo A. C. Kawasaki
O novo homem do café
no Governo
Com a experiência vivida em 6 anos de trabalho na diretoria agrícola, onde criou as Cédulas de Produto
Rural (CPR’s), – além de nove anos como diretor geral da bolsa de físicos na BM&FBovespa, Edilson
Alcântara assumiu a diretoria do Departamento do Café do MAPA com o objetivo de estruturar uma
política plurianual e desenvolver ações estratégicas de promoção e marketing para os Cafés do Brasil.
Confira, abaixo, entrevista exclusiva da Revista do Café com o novo responsável pela cafeicultura no
governo federal.
Revista do Café – O senhor assumiu o cargo em
dezembro e já realizou alguns encontros com o setor
privado. Qual análise faz da atual conjuntura do
agronegócio café no Brasil?
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Edilson Alcântara – A conjuntura do café é favorável,
com alguns fatores que podem, de uma forma não
estrutural, mas momentânea, preocupar alguns agentes
do mercado. Contudo, de todas as cadeias produtivas que
conheço, o café é a que tem a melhor estrutura para ser
administrada.
RC – Qual sua impressão sobre o setor de produção?
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Alcântara – Nota-se que a produção vem evoluindo de
forma sustentável ao longo dos últimos, pelo menos,
cinco anos, o que revela uma maturidade do produtor no
que diz respeito a ter consciência sobre produzir bem.
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RC – Os industriais de café do Brasil vivem uma nova
realidade a respeito da tributação desde o dia 1º de
janeiro...
Alcântara – No caso dos industriais, enxergamos uma
postura um pouco melhor depois que foi aprovada a
Instrução Normativa nº 1.233 da Receita Federal do Brasil,
referente à contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins.
Essa, talvez, foi a medida mais acertada do governo,
porque traz, tanto para a indústria de torrefação, quanto à
de solúvel, um benefício, um bônus de 7,4% na compra
do café verde e o produtor poderá vender diretamente às
indústrias.
RC – O setor exportador reflete as variedades de café que
o Brasil oferece ao mundo. Como o senhor analisa isso?
Alcântara – Tenho uma experiência muito grande de
relacionamento com os exportadores e vejo maturidade
na relação entre o exportador, o trader e o produtor,
porque, se de um lado a produção vem oferecendo
melhores condições de produto, do outro temos o
comprador final, que exige dele um maior cuidado na
aquisição do café. Já notamos iniciativas de grandes
exportadores com produtores para buscar a certificação
da sustentabilidade. Acho que estamos num caminho
muito positivo para construir essa parceria, a qual chamo,
principalmente para a produção, de inclusão de mercado.
RC – É possível que todos sejam incluídos nesse mercado?
Alcântara – Temos produtores, hoje, no Brasil, que estão
em patamares melhores, mas temos muito produtores
que estão abaixo dessa linha de qualidade e
produtividade. Portanto, o nosso objetivo, aqui no Dcaf, é
construir um modelo, juntamente com a Embrapa e todas
as instituições que são agregadas ao
CDPC para colocar, ou tentar
colocar, quase todos os
produtores nessa mesma
“plataforma café”.
RC – Como fazer isso?
Alcântara –
Desenvolvendo tecnologia
e a aplicando na produção.
E, exatamente nesse
momento do processo, (o
governo) ajudar na
certificação
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da sustentabilidade, que nós vamos buscar, por enquanto,
no degrau mínimo, para que haja um menor
investimento, mas que coloque o produtor dentro do
mercado. Essa preocupação existe porque, amanhã,
quando todo mundo estiver comprando somente
certificado, o cafeicultor que não estiver nesse patamar,
automaticamente estará excluído. E a nossa intenção é
incluí-lo.
RC – A coordenação desse processo caberia a quem?
Alcântara – À Embrapa. Ela coordenaria esse papel do
governo de estimular o produtor a buscar a certificação de
sustentabilidade.
RC – Essa nivelação dos produtores seria realizada através
de um trabalho de pesquisa e transferência de tecnologia?
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Alcântara – Não. Em verdade, pelo menos nos últimos
seis anos, temos investido bastante em tecnologia.
Porém, por deficiência da estrutura financeira ou de
financiamento da própria Embrapa Café, essa pesquisa foi
para a prateleira. Mas não adianta incentivarmos pesquisa
alguma para ficar na biblioteca. Ela tem que ficar na casa
do produtor, dentro da fazenda. Esse é o grande diferencial
que temos que construir. O maior orgulho para o
pesquisador é conseguir aplicar e ver a aplicabilidade
daquele trabalho que desenvolveu.
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RC – Como evitar que os trabalhos de pesquisa vão à
biblioteca?
Alcântara – Em função de recursos, estávamos tolhidos
por essa iniciativa. Agora, queremos que essa
aplicabilidade da tecnologia venha em forma de uma
espécie de consultoria. Acho que a agricultura brasileira
perdeu muito quando deixamos de investir na extensão
rural. Falo em aproveitar todo o investimento que fizemos
em tecnologia, fazer o repasse da tecnologia para ser
aplicada e, nesse momento, instruir o produtor para buscar
a certificação.
RC – Pode-se afirmar que estamos diante da iminente
criação de uma “certificação Brasil” para nossos cafés?
Alcântara – Existem vários certificadores no mundo e
acho que não é a hora, nesse primeiro momento, de
pensarmos em uma certificação em nível de Brasil,
porque isso implicará mais recursos a serem investidos
e mais preocupação, porque certificar não é
simplesmente ir lá, olhar e certificar. Tem que ter
acompanhamento e todo um processo de
fiscalização, e entendo que o governo, hoje, ainda
não está preparado. Então, nesse primeiro
instante, o caminho seria focar nas várias
certificações no setor privado. Há também a
experiência do Certifica Minas Café, que está
sendo um exemplo, mas isso é uma
experiência que o produtor precisa de apoio para se
adequar à certificação. O lado bom é que, vindo ao
encontro desse nosso pensamento, existe uma
tendência, no CDPC, de se aprovar uma verba específica
para apoiar o produtor a se adequar no processo de
certificação.
RC – Não sendo a intenção criar uma certificação em
nível de Brasil, nesse momento, como o produtor usaria
esse recurso para se adequar aos processos de
certificação?
Alcântara – Existem vários níveis de certificação. A
intenção inicial é trabalhar com o nível mínimo,
objetivando colocar a plataforma cafeeira dentro da
inclusão de mercado. Como a gente imagina que deva
ser? O consultor ou aquele que estiver trabalhando com
a parte de certificação, receberá toda a orientação da
Embrapa sobre o processo. A partir daí, essa consultoria
ou esse agente certificador fará um projeto para que
possa se credenciar junto ao Banco do Brasil ou a outra
instituição financeira que integra o programa para, enfim,
solicitar o financiamento. Certamente esse será um
investimento que “dará um gás”, com prazo adequado
para que os envolvidos possam pagar e se adequar.
Acredito que um projeto de adequação é algo que
sempre deva existir no âmbito da área rural. A intenção,
de fato, é o governo, o Funcafé, sinalizar que estamos
apoiando essa inclusão de mercado.
RC – O CDPC retomou suas atividades após quase três
anos. Como o citado amadurecimento da cadeia café
pode contribuir?
Alcântara – O grande vácuo que notei, em relação ao
café, é que, no Ministério, todas as cadeias produtivas
têm um assento ou uma câmara setorial. Reúnem-se
duas, três, quatro vezes ao ano e discutem uma
estratégia, a partir da qual governo e Ministério adotam
políticas para atender aos setores que estão aqui.
Quando assumimos a diretoria do Dcaf, o CDPC
completaria três anos sem se reunir. Surgiram diversas
explicações e uma das maiores foi que não existia um
ambiente técnico racional para se discutir a cafeicultura.
Fomos buscar o consenso de todos os participantes,
lembrando que não iríamos discutir o passado, mas sim
buscar uma agenda positiva para o futuro do café.
RC – A criação de um plano plurianual para a cafeicultura
brasileira seria a plataforma estruturadora dessa união?
Alcântara – Não há porque separarmos os temas
relacionados a café. Precisamos alargar um pouco mais a
nossa visão e sentimos a pré-disposição de todos para
fazer esse planejamento. No dia 29 (de fevereiro), na
reunião dos Comitês Diretores de Planejamento
Estratégico e de Promoção e Marketing do CDPC, saímos
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com a determinação de planejar, de pensar o futuro do
café, estabelecendo um raio-x atual sobre como estão
produção, exportação, beneficiamento, tecnologia,
marketing, enfim, estabeleceremos um retrato do que é
a cafeicultura hoje e vamos projetar. Sabemos que o
mercado consumidor cresce de 2,5% a 3% ao ano e
precisamos estimular o consumo do produto. Tendo
como base esse crescimento, e, na condição de principal
indutor da produção no mundo, temos que nos preparar
para atender nossos mercados interno e externo.
Portanto, temos que pensar como estaremos em 2013 e
o que precisamos fazer para 2014 e 2015.
RC – Porque um plano plurianual projetado até 2015?
Alcântara – Temos um ciclo do governo até 2015 e, com
base nessa projeção para as outras culturas é que vamos
planejar o plano plurianual para a cafeicultura. Apesar de
ser este nosso objetivo, nada impede que o setor pense
em 2016, 2018 ou um programa de ação até 2020, por
exemplo.
RC – Em relação a esse planejamento e à oferta que
devemos gerar para manter ou ampliar o market share,
alguns especialistas dizem que a “máscara da Colômbia
caiu”. Isso é fato?
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Alcântara – Tudo tem um interesse econômico. Acho
indevido colocar que a máscara da Colômbia caiu, já que
estava no lugar que estava porque investiu muito em
marketing e foi eficiente na promoção do produto dela. E
o Brasil nunca teve essa preocupação. Temos a marca
Cafés do Brasil e precisamos investir nessa marca,
vender a qualidade do café brasileiro associado a essa
marca e mostrar que somos um café de qualidade.
RC – De que forma o senhor pretende estruturar essa
ação de promoção e marketing dos Cafés do Brasil?
Alcântara – Tenho que valorizar o produtor brasileiro,
que já está numa linha de frente, pois não há
comparação se analisarmos a produtividade da
cafeicultura brasileira com qualquer outra. O que temos
que vender é a qualidade do café nacional. E, por meio
do Funcafé, devemos investir em promoção externa e
interna.
RC – O Brasil sediará três eventos de porte mundial nos
próximos anos. Quais ações a serem desenvolvidas na
Copa das Confederações, na Copa do Mundo e nas
Olimpíadas?
Alcântara – Mesmo um pouco atrasados, com certeza
aproveitaremos a Copa das Confederações, a do Mundo
e os jogos Olímpicos para promovermos da melhor
forma o nosso café. Em 2013, também teremos a
Jornada Mundial da Juventude, que acontecerá no Rio de
Janeiro. E, nesse sentido, entendo que precisamos colocar
o jovem bebendo um pouco mais de café. Esses são
eventos que nos permitem pensar, não em nível de
governo, mas do setor café como um todo, em um
planejamento sobre como evoluir com essa marca.
RC – O senhor foi o criador das CPR’s, um dos principais
instrumentos de comercialização de café...
Alcântara – Quando comecei na área rural do BB, vindo
do marketing, fui com a responsabilidade de gerenciar as
CPR’s. Fizemos um de parceria muito forte com a BM&F,
tanto que, com o lançamento da CPR de café, e por esta
ser o colateral perfeito do mercado futuro, as operações
envolvendo futuros no Brasil expandiram de forma
extraordinária. Para tanto, tivemos que entrar na cultura
do produtor, entender como se comporta e tentar mudar
a cabeça dele. Dizer: “oh, você planta hoje e quando vai
vender todos estão vendendo, então vamos vender
agora, ter lucro e, depois, teremos melhores
possibilidades”. Fizemos essa mudança de mentalidade
ao longo de seis anos, até que a BM&F me convidou para
criar uma bolsa de físicos. Fui diretor geral dessa bolsa
durante nove anos, o que me permitiu entender mais do
agronegócio, e não só do café, porque trabalhávamos
com trigo, arroz, feijão, sorgo, soja, boi gordo e outros
produtos.
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