Estudo e Prática da
Mediunidade
Módulo V
Atendimento aos Espíritos
Comunicantes
Roteiro 1
Características do diálogo com
os Espíritos
Mas o que sai da boca procede do coração,
e isso contamina o homem.
Jesus (Mateus, 15:18)
O intercambio entre os planos espiritual e fisico está
fundamentado nas leis de afinidade e sintonia
mediúnicas, uma vez que está “[...] a mente na base
de todas as manifestações mediúnicas, quaisquer
que sejam os característicos em que se
expressem[...]”. (17) Os médiuns ostensivos, em
particular, devem estar suficientemente esclarecidos
a respeito da tarefa que lhes cabem realizar, que é a
de estabelecer uma ponte entre os dois mundos, o
físico e o espiritual, como esclarece Allan Kardec:
“Dai aos médiuns que escolherdes para
transmissores dos vossos ensinamentos,
consciência do mandato que lhes é conferido e da
gravidade do ato que vão praticar, a fim de que o
façam com o fervor e o recolhimento precisos”. (1)
Os benfeitores espirituais protegem o local, na
sala mediúnica, onde acontecerá a manifestação
dos Espíritos e o diálogo com eles, por meio de
uma extensa corrente magnética. No livro
Missionários da Luz, o orientador Alexandre
explica a finalidade desse amparo: “[...] Trata-se
da cadeia magnética necessária à eficiência de
nossa tarefa de doutrinação. Sem essa rede de
forças positivas, que opera a vigilância
indispensável, não teríamos elementos para
conter as entidades perversas e recalcitrantes”.
(13)
No atendimento aos Espíritos
necessitados destaca-se a
atuação dos médiuns
psicofonicos e a do médium
esclarecedor, também chamado
dialogador ou doutrinador. Os
demais membros do grupo
cooperam, em silencio. Elucida
André Luiz:
Os médiuns esclarecedores e passistas, além dos
deveres específicos que se lhes assinala, servirão,
ainda, na condição de elementos positivos de
proteção e segurança para os médiuns psicofônicos,
sempre que estes forem mobilizados em serviço.
Imprescindível reconhecer que todos os
participantes do conjunto são equiparáveis a pilhas
fluídicas ou lâmpadas, que estarão sensibilizadas ou
não para os efeitos da energia ou da luz que se lhes
pede em auxilio dos que jazem na sombra de
espírito. Daí o imperativo do teor vibratório elevado
nos componentes da reunião, a fim de que os
doentes da alma se reaqueçam para o retorno ao
equilíbrio e ao discernimento. (4)
Uma explicação se faz necessária, em
relação à palavra doutrinação, que sofreu
certo desgaste ao longo do tempo, em
razão de ser utilizada na forma de
catequese ou de sermão, durante o
intercambio mediúnico. Neste Curso, ela
é empregada como sinônima de diálogo
com os Espíritos ou de esclarecimento
doutrinário aos comunicantes que
necessitam de apoio espiritual.
1. Condições favoráveis a um bom diálogo
com os Espíritos
Allan Kardec assinala que há três condições
essenciais para que um Espírito se
comunique: “1o.) Que lhe convenha fazê-lo;
2o.) Que sua posição ou suas ocupações lho
permitam; 3o.) que encontrem no médium um
instrumento apropriado à sua natureza”. (2)
Considerando esses fatores, apontamos, em
seguida, as principais condições propícias a
um bom diálogo
1.1 O Amor
A arte da doutrinação se aperfeiçoa com a prática,
como acontece a qualquer outra mediunidade,
sobretudo se há empenho do doutrinador na
aquisição de valores intelectuais e morais, Francisco
Thiesen nos lembra, no prefácio do livro Diálogo
com as sombras, as palavras do autor da referida
obra de que “[...] o segredo da doutrinação é o
amor”. (3) Porquanto, se o “[...] conhecimento auxilia
por fora, só o amor socorre por dentro [...]. Com a
nossa cultura retificamos os efeitos, quanto possível,
e só os que amam conseguem atingir as causas
profundas”. (10)
É importante reconhecer que não basta a
doutrinação para garantir a transformação dos
Espíritos comunicantes. É preciso que o médium
esclarecedor aprenda a sublimar os sentimentos.
Quem possui uma razoável bagagem de
conhecimento fala mais à inteligência do
sofredor, mas não se encontra habilitado para
redimir corações. (11) “[...] Para esse fim, para
decifrar os complicados labirintos do sofrimento
moral, é imprescindível haver atingido mais
elevados degraus da humana compreensão”.
(11)
1.2 A palavra
No atendimento mediúnico a Espíritos necessitados,
a palavra expressa tanto “o que dizer”e “o como
dizer”, que deve ser pronunciada num tom de voz
harmônico.
A [...] palavra, qualquer que ela seja, surge
invariavelmente dotada de energias elétricas
específicas, libertando raios de natureza dinâmica. A
mente, como não ignoramos, é o incessante gerador
de força, através dos fios positivos e negativos do
sentimento e do pensamento, produzindo o verbo
que é sempre uma descarga eletromagnética,
regulada pela voz.
Por isso mesmo, em todos os nossos
campos de atividade, a voz nos tonaliza a
exteriorização, reclamando apuro de vida
interior, de vez que a palavra, depois do
impulso mental, vive na base da criação;
é por ela que os homens se aproximam e
se ajustam para o serviço que lhes
compete e, pela voz, o trabalho pode ser
favorecido ou retardado, no espaço e no
tempo. (12)
Retiramos do livro Nos Domínios da
Mediunidade um exemplo de diálogo bem
conduzido, tendo como base o tom e as
vibrações amorosas das palavras
utilizadas pelo esclarecedor encarnado,
André Luiz relata a manifestação de
Libório, um perseguidor espiritual, numa
sessão mediúnica, onde é atendido por
Raul Silva, dialogador e dirigente do
grupo no plano físico, sob amparo de
Clementino, orientador espiritual.
Raul Silva [...] não recebia Libório, qual se fora
defrontado por um habitante das sombras,
suscetível de acordar-lhe qualquer impulso se
curiosidade menos digna. Ainda mesmo
descontando o valioso concurso do mentor que o
acompanhava, Raul emitia de si mesmo sincera
compaixão de mistura com inequívoco interesse
paternal. Acolhia o hóspede [Espírito
comunicante] sem estranheza ou irritação, como
se o fizesse a um familiar que regressasse
demente ao santuário doméstico. Talvez por essa
razão o obsessor a seu turno se revelava menos
agastadiço. [...]
- Estamos em prece por sua paz – falou Silva,
com inflexão de bondade e carinho.
- Grande novidade! Que há de comum entre nós?
Devo-lhe algo?
- Pelo contrário – exclamou o interlocutor,
convicto -, nós somos quem lhe deve atenção e
assistência. [...] Ante o argumento enunciado
com sinceridade e simpleza, o renitente sofredor
pareceu apaziguar-se ainda mais. Jatos de
energia mental, partidos de Silva, alcançavam-no
agora em cheio, no tórax, como a lhe buscarem o
coração.
Libório tentou falar, contudo, à maneira de um viajante
que já não pode resistir à aridez do deserto, comoveuse diante da ternura daquele inesperado acolhimento
[...] Sob o sábio comando de Clementino, falou o
doutrinador com afetividade ardente:
- Libório, meu irmão!
Essas três palavras foram pronunciadas com tamanha
inflexão de generosidade fraternal que o hóspede não
pôde sopitar o pranto que lhe subia do âmago.
Raul avançou para ele, impondo-lhe as mãos, das
quais jorrava luminoso fluxo magnético e convidou:
- Vamos orar! (20)
1.3 O esclarecimento doutrinário
O médium esclarecedor deve ter
consciência, mais que outro trabalhador da
mediunidade, de que é indispensável “[...]
cuidar do coração, como fonte emissora do
verbo, para que não percamos a harmonia
necessária à própria felicidade. O que sai
do coração e da mente, pela boca, é força
viva e palpitante, envolvendo a criatura
para o bem ou para o mal, conforme a
natureza da emissão”. (22)
Seja qual for o rumo tomado pelo diálogo,
durante a manifestação mediúnica de um
Espírito, o esclarecimento doutrinário deve ser
conduzido com equilíbrio e ponderação, lógica e
amor, controle emocional e bom senso. O
dialogador deve guardar a convicção de que se
encontra perante um ser humano, ainda que não
possua corpo físico, mas portador de sofrimento
e angústias, cuja extensão escapa à avaliação
imediata. É alguém que precisa ser socorrido
com gentileza, afabilidade e doçura. As
orientações espíritas devem esclarecer e
consolar, dosando-as em nível do entendimento
do comunicante.
Assim, não basta doutrinar o Espírito, no sentido de
transmitir-lhes informações ou ensinar-lhe algo, é
importante evangelizar.
Há grande diversidade entre ambas as tarefas. Para
doutrinar, basta o conhecimento intelectual dos
postulados do Espiritismo, para evangelizar é
necessária a luz do amor no íntimo. Na primeira,
bastarão a leitura e o conhecimento, na segunda, é
preciso vibrar e sentir com o Cristo. Por estes motivos,
o doutrinador muitas vezes não é senão o canal dos
ensinamentos, mas o sincero evangelizador será
sempre o reservatório da verdade, habilitado a servir
às necessidades de outrem, sem privar-se da fortuna
espiritual de si mesmo. (21)
1.4 A prece, o passe e as irradiações
mentais
A prece e o passe são recursos valiosos no
diálogo com os Espíritos, sobretudo quando
se esgota qualquer tentativa de
entendimento. O dialogador deve, sempre
que possível, lançar mão desses recursos
em benefício do Espírito que sofre. A prece
e o passe trazem a necessária harmonia
tanto ao manifestante portador de
desequilíbrio, quanto ao próprio médium.
Os trabalhadores da equipe espiritual recolhem
também as forças mentais emitidas pelos participantes
do grupo, inclusive a que flui abundante do médium.
(14) “[...] Esse material [...] representa vigorosos
recursos plásticos para que os benfeitores [...] se
façam visíveis aos irmãos perturbados e aflitos ou
para que materializem provisoriamente certas imagens
ou quadros, indispensáveis ao reavivamento da
emotividade e da confiança nas almas infelizes”. (15)
As energias magnéticas favorecem a manifestação da
entidade espiritual necessitada, permitindo que ela se
aposse temporariamente do órgão vocal do médijm,
“[...] apropriando-se do seu mundo sensório,
conseguindo enxergar, ouvir e raciocinar com algum
equilíbrio[...]” (18)
Essas mesmas forças têm o poder de
conter o Espírito em suas manifestações
mais agitadas. “[...] Pela corrente nervosa,
conhecer-lhe-á as palavras na formação,
apreciando-as previamente [...] Pode,
assim, frustrar-lhe qualquer abuso,
fiscalizando-lhe os propósitos e
expressões, porque se trata de uma
entidade que lhe é inferior, pela perturbação
e pelo sofrimento em que se encontra, e a
cujo nível não deve arremessar-se, se
quiser ser-lhe útil”. (19)
2. Qualidades de um bom doutrinador
O encarnado encarregado do diálogo deve
desenvolver esforços de combate às
imperfeições, trabalhando na aquisição de
virtudes. O seu comportamento no bem e as
suas atitudes equilibradas, têm efeito moral
sobre os Espíritos com quem dialoga,
sobretudo para os que possuem maiores
imperfeições.
A tarefa de doutrinação pressupõe também o
desenvolvimento destas outras qualidades e
habilidades.
• A paciência e a tolerância são virtudes
necessárias que acalmam e apóiam os
irmãos sofredores que precisam ser
esclarecidos. Os médiuns
esclarecedores, ou dialogadores,
mantidos no grupo mediúnico “[...] sob a
condução e a inspiração dos Benfeitores
espirituais, são os orientadores da
enfermagem ou da assistência aos
sofredores desencarnados”. (5)
• A fé e a tolerância são requisitos
fundamentais para que o atendimento
ocorra num clima de otimismo. A fé e a
confiança em Deus, em Jesus e nos
benfeitores espirituais, são fatores que
propiciam segurança e conforto moral.
• Intuição. Os doutrinadores devem guardar
“[...] atenção no campo intuitivo, a fim de
registrarem, com segurança, as sugestões
e os pensamentos dos benfeitores
espirituais que comandam as reuniões”. (5)
• Os dialogadores só devem tocar “[...] no
corpo do médium em transe somente
quando necessário”. (5)
• É importante estudares “[...] os casos de
obsessão, surgidos na equipe de médiuns
psicofônicos, que devem ser tratados no
órbita da psiquiatria, a fim de que a
assistência médica seja tomada na medida
aconselhável”. (6)
• Necessitam cultivar “[...] o tato psicológico,
evitando atitudes ou palavras violentas, mas
fugindo da doçura sistemática que anestesia a
mente sem renová-la, na convicção de que é
preciso aliar raciocínio e sentimento, compaixão
e lógica, a fim de que a aplicação do socorro
verbalista alcance o máximo rendimento”. (6)
• Os médiuns esclarecedores, pelo que ouçam
do manifestante necessitado, deduzam qual o
sexo a que ele tenha pertencido, para que a
conversação elucidativa se efetue na linha
psicológica ideal”. (7)
• Os doutrinadores precisam analisar, “[...]
sem espírito de censura ou de escândalo, os
problemas de animismo ou mistificação
inconscientes que porventura venham a
surgir, realizando o possível para esclarecer,
com paciência e caridade, os médiuns e os
desencarnados envolvidos nesses processos
de manifestações obscuras, agindo na
equipe com o senso de quem retira
criteriosamente um desajuste do corpo sem
comprometer as demais peças orgânicas”.
(7)
• Devem anular “[...] qualquer intento de
discussão ou desafio com entidades
comunicantes, dando mesmo razão,
algumas vezes, aos Espíritos infelizes e
obsessores, reconhecendo que nem
sempre a desobsessão real consiste em
desfazer o processo obsessivo, de
imediato, de vez que, em casos diversos,
a separação de obsidiado e obsessor
deve ser praticada lentamente”. (8)
• Pode utilizar-se “[...] a hipnose construtiva,
quando necessário, no ânimo dos Espíritos
sofredores comunicantes, quer usando a
sonoterapia para entregá-los à direção e ao
tratamento dos instrutores espirituais
presentes, efetuando a projeção de quadros
mentais proveitosos ao esclarecimento,
improvisando idéias providenciais do ponto
de vista de reeducação, quer sugerindo a
produção e ministração de medicamentos ou
recursos de contenção em favor dos
desencarnados que se mostrem menos
acessíveis à enfermagem do grupo”. (9)
• No curso do trabalho mediúnico, os esclarecedores
não devem constranger os médiuns psicofônicos a
receberem os desencarnados presentes, repetindo
ordens e sugestões nesse sentido, atentos ao
preceito de espontaneidade, fator essencial ao êxito
do intercâmbio”. (10)
• “Os esclarecedores permitirão aos Espíritos
sofredores que se exprimam pelos médiuns
psicofônicos tanto quanto possível, em matéria de
desinibição, ou desabafo, desde que a integridade
dos médiuns e a dignidade do recinto sejam
respeitadas, considerando, porém, que as
manifestações devem obedecer às disciplinas do
tempo”. (10)
Retomando às palavras de Jesus, inseridas na
introdução deste Roteiro, de que o que “saí da boca
procede do coração, e isso contamina o homem”,
lembramos, com Emmanuel, que o auxílio fraterno
promovido pelo diálogo com os Espíritos é
imensurável.
A [...] alegria semeada, por intermédio das palavras
salutares e construtivas, cresce e dá os seus
resultados. [...] O ato de bondade é invariável força
benéfica, em derredor de quem o mobiliza. Há
imponderáveis energias edificantes, em torno
daqueles que mantém viva a chama dos bons
pensamentos a iluminar o caminho alheio, por
intermédio da conversação estimulante e sadia. (23)
Estudo e Prática da
Mediunidade
Prática V
Experimentação Mediúnica
Atividade 1
Diálogo com os Espíritos
1. KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o espiritismo. Cap 28, item 6
2. ________, O que é o espiritismo, Cap 1. Item: Meios de comunicação.
3. MIRANDA, Herminio C. Diálogo com as Sombras. Item: Doutrinação e
desobsessão.
4. XAVIER, Francisco C. e VIEIRA, Waldo. Desobsessão. Cap 20
5. ________, Cap 24, p 99
6. ________, p 100
7. ________, Cap 33, p 129
8. ________, p 129-130
9. ________, p 130
10. ________, Cap 34, p 133
11. XAVIER, Francisco C.. Entre a terra e o céu. Cap 22, p 176
12. ________, p 177-178
13. ________, Missionários da Luz. Cap 17, p 367-368
14. ________, p 369-370
15. ________, p 370
16. ________, No mundo maior. Cap 4
17. ________, Nos domínios da mediunidade, Cap 1.
18. ________, Cap 6, p 61-62
19. ________, p 62
20. ________, Cap 7
21. ________, O Consolador, Questão 237
22. ________, Vinha de Luz, Cap 97, p 217
23. ________, p 218
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Características do dialogo com os Espíritos