Formação, séc. XXI Laboratórios Integrados de Acesso Remoto c e n t r o at l a n t i c o. p t m a g a z i n e • O u t u b ro 2 0 0 3 24 FORMAÇÃO, SÉC. XXI Por António Jesus Teixeira, Prof. Auxiliar da Universidade de Aveiro e Paulo Sérgio de Brito André, Investigador Auxiliar do Instituto de Telecomunicações e Prof. Auxiliar Convidado da Universidade de Aveiro Laboratórios Integrados de Acesso Remoto A distância entre as instituições funciona por vezes como um travão ao seu desenvolvimento, podendo a Internet servir como ponte de ligação entre elas, disponibilizando equipamento, dados, e outros serviços dos quais os intervenientes necessitam O laboratório de acesso remoto permite separar fisicamente as instalações onde são realizadas as experiências/testes e a localização do investigador/responsável pelos testes, podendo, neste conceito, reunir o melhor conjunto de circunstâncias possível para cada uma das partes envolvidas. Neste modelo a preparação, realização e acompanhamento da experiência pode ser efectuada em tempo real através de um acesso Internet. A utilização da Internet para a partilha física das potencialidades de várias instituições permite uma racionalização de recursos, situação lógica tendo em conta as condições sócio-económicas actuais e muito mais em países de reduzida dimensão. Este sistema permite o acesso a infra-estruturas laboratoriais de ponta, as quais apenas estão disponíveis em determinadas instituições ou empresas, viabilizando assim a sua partilha e melhor proveito pelas várias instituições. Especificamente em investigação financiada por fundos públicos, um uso racional dos fundos deve ser feito bem como obter o máximo proveito das infra-estruturas optimizando a utilização desse equipamento, dos técnicos a ele adictos e da própria instituição. No nosso caso específico, a possibilidade de poder partilhar com outros organismos vários equipamentos existentes no laboratório, permite uma troca de experiências entre os intervenientes, e coloca-nos potencialmente, caso o processo se divulgue, à disposição todo o equipamento dos restantes laboratórios, num processo em que todos ganham. Poderemos obter dados que de outra forma exigiriam deslocação a um local remoto onde as condições de trabalho teriam que ser adaptadas à visita, e como tal não teria à disposição todo o material de suporte (ex. livros e outras ferramentas específicas) para a interpretação dos resultados, causa de possível limitação na extensão da investigação. Outra situação premente relaciona-se com a demonstração de fenómenos ou mesmo o alertar e divulgar da ciência, a um conjunto mais amplo de pessoas, em que os equipamentos utilizados requerem condições muito especiais de funcionamento, como é caso das comunicações ópticas, onde se requer, com frequência, salas escuras. Seria fisicamente complicado deslocar uma plateia para um Fig.1. A investigadora acede de casa ao laboratório para controlar uma experiência de caracterização que vai ficar a correr durante a noite. Universidade de Manibota [3], onde os exames do coração são executados remotamente. Um exemplo mais envolvente e que se relaciona com partilha de equipamento dispendioso é a partilha de um microscópio colocado na Califórnia [4] e que está também disponível para uma equipa de investigadores russos. Os investigadores podem controlar o microscópio, alterar os seus parâmetros, realizar as suas experiências e adquirir os seus dados, tudo isto em “real-time”, graças ao sistema de controlo remoto via Internet disponibilizado pelo LabView. Uma vez que sendo de noite na Rússia durante o horário de trabalho na Califórnia, e vice-versa, é possível tirar um maior rendimento do equipamento. No Instituto de Telecomunicações de Aveiro foram desenvolvidas algumas aplicações Web de entre as quais poderemos salientar duas apenas como exemplos. A caracterização remota de redes de Bragg gravadas em fibras ópticas (FBG), tipicamente utilizadas como sensores e como filtros em telecomunicações, cujo painel de controlo é apresentado na fig. 2. Este painel é o que é observado pelo utilizador que pretende caracterizar uma rede de Bragg, permite o controlo dos lasers e do equipa- Fig. 2. Painel de controlo do sistema de caracterização de redes de Bragg. Poderemos ver os diversos equipamentos que podem ser controlados em simultâneo e em conjunto. Formação, séc. XXI Laboratórios Integrados de Acesso Remoto sítio desses, sendo por isso difícil a demonstração de resultados para um grupo de pessoas de uma forma interactiva. Com esta plataforma esse problema fica resolvido pois a localização dos intervenientes, equipamento e executante, estão puramente dissociadas. A fig. 1 exemplifica um caso onde o investigador controla de casa, confortavelmente, a longa experiência de caracterização que vai ser executada durante a noite. A evolução das tecnologias nas áreas das redes bem como na área da aquisição de dados e automação tem vindo a transformar a forma como são feitas as medidas experimentais. Usando as tecnologias de redes que permitem a interligação entre vários aparelhos e a existência de um bom software de controlo desses equipamentos consegue-se tirar o melhor partido de todas as máquinas existentes, facilitando o acesso às medidas efectuadas e ao mesmo tempo armazená-las e processá-las. O desenvolvimento de plataformas que permitam o acesso e respectivo controlo de vários equipamentos existentes apenas em laboratórios de ponta e acessíveis apenas a alguns, vem facilitar o acesso e uso destes por parte de uma vasta comunidade científica, até aqui impossibilitada de a estes ter acesso. Seguindo este novo paradigma de operação de equipamento e execução de experiências poderemos citar alguns exemplos que demonstram a crescente utilização desta metodologia para atingir os mais diversos fins. Por exemplo, na Escócia [1], o departamento de Bioquímica tem um laboratório de acesso remoto que permite controlar um microscópio para experiências no âmbito da citologia. Permite aos técnicos recolher amostras e guardá-las remotamente num sistema. Outra situação passa-se numa universidade do Texas [2] onde um laboratório de biomedicina foi desenvolvido para uma variedade de experiências biomédicas. Os alunos podem assim explorar nas experiências desenvolvidas os conceitos estudados. As experiências são controladas e automatizadas utilizando o LabView. Outro exemplo, agora na área de telemedicina, é o caso da 25 c e n t r o at l a n t i c o. p t m a g a z i n e • O u t u b ro 2 0 0 3 Um exemplo é a partilha de um microscópio muito dispendioso colocado na Califórnia e que está também disponível para uma equipa de investigadores russos. Formação, séc. XXI Laboratórios Integrados de Acesso Remoto c e n t r o at l a n t i c o. p t m a g a z i n e • O u t u b ro 2 0 0 3 26 Fig. 3. Painel de Controlo do setup de caracterização de amplificadores ópticos. mento de medida, processado os dados em bruto por forma a obter os resultados já processados e que no caso é a sua função de transferência. Outro exemplo de bancada de medição é a plataforma que está a ser desenvolvida para permitir a partilha de algumas experiências entre o laboratório do referido instituto e a Siemens Portugal. Essa bancada, cujo painel se apresenta na fig. 3, permite a caracterização de amplificadores ópticos do tipo EDFA, cuja utilização mais comum é o restaurar da amplitude dos sinais ópticos que foram atenuados pela transmissão ao longo de dezenas de quilómetros de fibras ópticas de forma a se estabelecerem ligações de milhares de quilómetros ou fornecerem sinais a muitos utilizadores. Os dados em bruto são processados e apresentados como se pode ver na fig. 3 num gráfico 3-D que comprime centenas de dados. O acesso remoto é realizado através de um Web browser que permita correr aplicações Java através do qual o utilizador se pode ligar a um servidor, que no caso é baseado no LabView, ligado ao processo experimental, e com isto controlar os parâmetros necessários e adquirir os dados e resultados. A comunicação cliente-servidor é implementada via protocolo TCP mantendo-se activa enquanto o cliente não fechar a ligação, sendo esta bastante adequada para a implementação do controlo remoto de todos os instrumentos envolvidos na experiência, já que estes poderão necessitar de um ajuste contínuo dos seus vários parâmetros. Uma vez adquirido o controlo da experiência, o utilizador autenticado tem acesso total a todos os parâmetros desta, sendo possível a outros utilizadores acederem através do browser à mesma experiência e visualizá-la. Deste modo, apenas um utilizador pode controlar a experiência de cada vez, sendo possível uma troca de controlo por parte de utilizadores em qualquer momento. É possível, no entanto, através do computador servidor adquirir controlo da experiência sempre que necessário. Outra facilidade será a possibilidade de após iniciar uma experiência, desconectar-se e voltar-se a conectar ao servidor algum tempo depois, enquanto a experiência decorre, permitindo assim uma mudança do local de controlo remoto. Desta forma é possível, em experiências em que em intervalos de tempo não muito pequenos haja a necessidade de alteração de parâmetros do sistema, se possa deixar o local da experiência, podendo alterar esses parâmetros mais tarde a partir de qualquer local sem a necessidade da deslocação ao laboratório. Em todo este processo ainda não foi possível eliminar a intervenção humana especializada, quer na implementação/montagem do dispositivo/componentes/equipamento ou objecto de estudo experimental, quer no acompanhamento da experiência, caso seja necessário. No entanto essa intervenção é reduzida a níveis mínimos sendo apenas necessária no início da experiência. • Referências [1] Laboratório remoto para experiências em citologia, Departamento de Bioquímica, Dundee, Escócia [2] Virtual Instrumentation to Develop a Modern Biomedical Engineering Laboratory, J. B. OLANSEN, F. GHORBEL, J. W. CLARK, Jr. Rice University, 6100 Main Street_MS321, Houston, Texas 77005, USA, A. BIDANI, University of Texas Medical Branch, Galveston, Texas 77555, USA http://www.ijee.dit.ie/latestissues/ Vol16-3/ijee1127.pdf [3] Exames ao coração ECG remotamente, Dean Reske and Zahra Moussavi, Department of Electrical Engineering, University of Manitoba, Winnipeg, MB, Canada R3T 2N2 http://www.ee.umanitoba.ca/~mousavi/papers/ telemed_Reske.pdf [4] Microscópio electrónico de alta potência, National Instruments http://www.ni.com/pdf/academic/us/distance_ learning.pdf