III CONGRESSO I BEROAM ERICANO DE PELOIDES III CONGRESO IBEROAM ERICANO DE PELOIDES SÃO MIG UEL, AÇORES OUT.2013 Termas da Terronha/Vimioso: da prospeção e pesquisa à exploração das águas minerais sulfúreas da Terronha 1 Alcino S. Oliveira1 & Solange M. S. Almeida2 Engenheiro Geólogo (PhD), Prof. Auxiliar, Dep. de Geologia da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, apartado 1013, 5001-801 Vila Real, Portugal, [email protected]; Diretor Técnico das Termas da Terronha, Câmara Municipal de Vimioso, Praça Eduardo Coelho, 5230-315 Vimioso, Portugal 2 Engª Civil (MSc), Doutoranda na FEUP. Universidade do Porto, Rua Dr. Roberto Frias, s/n 4200-465 Porto, Portugal, [email protected] RESUMO Do ponto de vista de recursos hidrominerais portugueses a região NE de Portugal continental pode considerar-se como aquela que apresenta maior diversidade hidroquímica. Registam-se inúmeras ocorrências, que se integram em 5 famílias hidroquímicas principais, distribuídas por cerca de 22 polos hidrominerais distintos. Não obstante, é das regiões do país onde os aproveitamentos são mais escassos, concretamente na vertente de termalismo. A contrariar esta regra a Câmara Municipal de Vimioso, numa perspetiva de desenvolvimento regional, em parte a ancorar no termalismo, desde fevereiro de 2005, promoveu o desenvolvimento de um programa ambicioso e abrangente, desde a prospeção e pesquisa até à construção de um balneário termal com vocação para termalismo nas vertentes clássica e de saúde e bem-estar. A água mineral sulfúrea, bicarbonatada, sódica, fluoretada, com tendência cloretada, alcalina, captada no polo hidromineral da Terronha, vai alimentar as Termas da Terronha, que vão funcionar este ano pela primeira vez. Neste trabalho procura mostrar-se todo o processo desde a prospeção e pesquisa de um recurso hidromineral, nunca antes explorado, até à conceção de um balneário termal, onde se fará o seu aproveitamento. Neste processo, inclui-se ainda a identificação e caracterização do recurso, o processo de reconhecimento como mineral natural, a descrição das principais vocações terapêuticas e também o projeto de um balneário termal, dimensionado em articulação com as atuais e futuras potencialidades do recurso e com as especificidades do público alvo. Palavras Chave Águas minerais, Recursos hidrogeológicos, Prospeção hidrogeológica, Termalismo. ABSTRACT Since February 2005, the Municipality of Vimioso promoted the development of an ambitious and comprehensive programme in the hydrotherapy field, from the prospection and research of mineral water phase to the thermal Spa building stage. This is a project of considerable local and regional strategic significance, with a huge influence on the local retail, services and people. The sulphurous mineral water, bicarbonated, sodium, fluoride, alkaline, exploited in the Terronha hydromineral pole, should provide the Terronha/Vimioso Spa, due to open this year for the first time. This paper aims to describe the entire process from the prospecting and research until the thermal Spa. This includes the identification and the characterization of the resource, recognition as a natural mineral water process, the various therapeutic properties of the mineral water and also the thermal Spa architecture design. The last scaled in conjunction with the current and the future potential of the natural resource and the specifics of the target audience. Keywords Mineral waters, Hydrogeological research, Hydrogeological resources, Spa. INTRODUÇÃO As águas minerais naturais da Terronha enquadram-se num contexto hidromineral único no território nacional típico da região do NE de Portugal continental (Sousa Oliveira et al. 2012). A diversidade hidroquímica resulta da conjugação de fatores de natureza geológica, III CONGRESSO I BEROAM ERICANO DE PELOIDES III CONGRESO IBEROAM ERICANO DE PELOIDES SÃO MIG UEL, AÇORES OUT.2013 geomorfológica e temporal. A diversidade hidroquímica integra águas de origem meteórica (Marques, 1999; Sousa Oliveira, 2001; Andrade, 2002) que são conduzidas por fraturas geológicas a milhares de metros de profundidade, ficando em contacto com litotipos diversificados durante elevado tempo de residência antes de emergirem à superfície do terreno, processo que pode durar 10 000 anos (Sousa Oliveira, 2001). Deste cenário resultam inúmeras ocorrências que podem integrar-se em 5 famílias hidroquímicas principais, distribuídas por cerca de 22 polos hidrominerais distintos (Portugal Ferreira e Sousa Oliveira, 2000; Sousa Oliveira, 2001). Destaca-se a família das águas bicarbonatadas, sódicas, sulfúreas e alcalinas onde se enquadram as águas minerais naturais abordadas neste trabalho. Este potencial hidromineral não é, contudo, acompanhado na mesma escala em termos do seu aproveitamento. De facto, trata-se da zona do país onde o aproveitamento dos recursos hidrominerais na vertente do termalismo é mais escasso. Historicamente é do conhecimento das populações da região de Vimioso a ocorrência de águas sulfúreas na área da Terronha associadas a uma emergência natural, conhecida por “Água da Terronha”, que tem sido utilizada no alívio, ou cura, de doenças, particularmente do foro dermatológico. Atualmente, estudos médico hidrológicos desenvolvidos nesta tipologia de águas tem revelado efeitos terapêuticos ao nível dos sistemas músculo-esquelético, dermatológico e ORL. Francisco Henriques, no seu Aquilégio Medicinal de 1726, refere-se a esta água identificando a emergência principal no sítio de “Torronha”, junto do rio Angueira, salientando o seu carácter sulfúreo, manifestado pela cor e cheiro a enxofre, e as suas propriedades curativas (págs. 73 e 74, edição fac-similada, IGM, 1998). No Inventário Hidrológico de Portugal, 2º Vol., 1970, de Amaro D’Almeida e João D’Almeida, vem também uma referência a esta água. Neste documento é apresentado um quadro com valores de parâmetros físico-químicos da água, a sua classificação como sulfúrea, sódica, fluoretada, fortemente alcalina e é, ainda, feita uma comparação com outras águas da região de Trás-os-Montes e Alto Douro, consideradas como águas sulfúreas, nomeadamente em relação ao pH e ao teor em flúor. Também no livro “Vimioso - Notas Monográficas” de Francisco Alves e Adrião Amado (reimpressão fac-similada da 1ª edição de 1968 - Câmara Municipal de Vimioso, 2002) estas águas são citadas como “muito aproveitáveis para o tratamento de moléstias de pele”. A Câmara Municipal de Vimioso, num quadro estratégico de desenvolvimento regional, promoveu um projeto, que teve início em fevereiro de 2005, cujo programa de trabalhos passou pela prospeção e pesquisa de águas minerais naturais na zona da Terronha até à construção de um balneário termal com o objetivo de desenvolver termalismo clássico e de saúde e bem estar. O estudo das águas do polo hidromineral da Terronha desenvolveu-se por contrato de prospeção e pesquisa de águas minerais naturais com a Direção-Geral de Geologia e Energia (DGGE) - agora designada por Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG) -, celebrado em 15/02/2005. Nesse estudo, realizou-se um furo de captação (furo de captação AQ1), de onde se obteve água sulfúrea sobre a qual, e decorrente de um programa de controlo analítico, foi emitido parecer favorável pela Direção Geral de Saúde (DGS), em 08/05/2009, quanto à sua qualificação como água mineral natural. Trata-se de água bicarbonatada, sódica, sulfúrea, fluoretada, de tendência cloretada, alcalina, com uma estrutura típica de águas sulfúreas. Posteriormente, em julho de 2009, com base nos estudos anteriormente desenvolvidos e com o referido parecer favorável da DGS, a Câmara Municipal de Vimioso requereu a concessão de exploração deste recurso hidromineral, cujo contrato de exploração veio a ser estabelecido em 16/03/2011, sob a denominação “Termas da Terronha”. Em 02/05/2011 a CMV apresentou à DGS a documentação com proposta para o Estudo Médico Hidrológico. Em 01/07/2011 a DGS aprovou os protocolos de Estudo Médico Hidrológico a desenvolver nas Termas da Terronha visando a aprovação das vocações terapêuticas: doenças reumáticas e músculo-esqueléticas e doenças do aparelho respiratório. Em dezembro de 2011 a Câmara Municipal iniciou os trabalhos de construção do edifício termal das Termas da Terronha para realizar o estudo III CONGRESSO I BEROAM ERICANO DE PELOIDES III CONGRESO IBEROAM ERICANO DE PELOIDES SÃO MIG UEL, AÇORES OUT.2013 médico hidrológico e também para explorar a água mineral natural sulfúrea. Na sequência de uma visita técnica efetuada pela Comissão de Avaliação Técnica (CAT) às Termas da Terronha, em 07/05/2013, foi emitido parecer favorável para a realização do referido estudo que teve inicio em julho de 2013. ENQUADRAMENTO O polo hidromineral da Terronha localiza-se a cerca de 3500 m a SE da vila de Vimioso (distrito de Bragança) e enquadra a nascente tradicional e o furo de captação AQ1, ambos localizados na margem direita do rio Angueira (fig. 1). Este polo integra-se na área concessionada para exploração. O edifício termal, devidamente equipado, foi construído na zona de Maceirinha, a cerca de 2600 m a SE do centro da Vila de Vimioso (fig.1), junto à estrada nacional N218 que liga esta vila a Miranda do Douro e a Espanha. Este local situa-se a cerca de 1200 m a NNW da captação AQ1 e fora da área concessionada. A escolha do local de construção do balneário termal teve por base a conciliação de vários fatores como a facilidade do acesso dos termalistas e a minimização dos custos de infraestruturas rodoviária, de abastecimento de água, de saneamento básico e de energia elétrica. O abastecimento de água mineral natural é feito a partir do furo de captação AQ1 por uma conduta de aço inox ASI316L com cerca de 1500 m de comprimento (fig.1). Figura 1. Planta de localização do furo de captação AQ1 e do balneário termal Termas da Terronha. (Adaptado de Google earth, 2013). Do ponto de vista geomorfológico a área do polo hidromineral da Terronha e a respetiva área concessionada e zona envolvente é bastante acidentada na zona da nascente hidromineral da Terronha e do furo de captação AQ1, com declive médio de 48%, sendo marcada pelo encaixe do rio Angueira. O traçado deste rio é fortemente condicionado por fatores litoestruturais e tectónicos, com destaque para o padrão de fracturação da região, particularmente segundo as direções NNE-SSW a N-S, NE-SW a ENE-WSW e NW-SE. III CONGRESSO I BEROAM ERICANO DE PELOIDES III CONGRESO IBEROAM ERICANO DE PELOIDES SÃO MIG UEL, AÇORES OUT.2013 Geologicamente os terrenos da área concessionada e envolvente enquadram-se no setor leste do domínio da Zona da Galiza Trás-os-Montes, onde se enquadram terrenos paleozoicos associados aos domínios Peritransmontano e Centrotransmontano (Ribeiro, 1974). Inserem-se num espaço onde se discriminam litotipos principalmente caracterizados por afloramentos geológicos de unidades metassedimentares associadas à unidade estrutural autóctone e sub-autóctone do NE Transmontano e por granitóides hercínicos sin, tardi a pós tectónicos relativamente a D3 (fig. 2). Destaca-se ainda a presença de alguns depósitos cenozóicos de cobertura. As principais famílias de fraturas seguem os andamentos NNE-SSW a NE-SW, NW-SE a WNW-ESE e NE-SW a ENE-WSW e os eixos de dobramento a direção NW-SE a WNW-ESE. Legenda: Rochas granitóides (a); Rochas metassedimentares (b); Rochas do complexo ofiolítico (básicas e ultrabásicas) (c); Rochas sedimentares (d). Fratura geológica ; Carreamento Figura 2. Enquadramento geológico do polo hidromineral da Terronha (Termas da Terronha-Vimioso). Base geológica: Carta Geológica de Portugal (1992); Escala original 1:500 000. TRABALHOS DE PROSPEÇÃO E PESQUISA E CARACTERIZAÇÃO DO RECURSO Os trabalhos de prospeção e pesquisa permitiram, numa primeira fase, caracterizar em pormenor a zona da Terronha (polo hidromineral da Terronha), que enquadra a nascente tradicional, do ponto de vista geomorfológico, geológico e hidrogeológico e identificar os locais com potencial hidromineral acrescido para o desenvolvimento de prospeção mecânica. Posteriormente, num desses locais procedeu-se à execução de uma sondagem mecânica, que veio a transformar-se em furo de captação (furo de captação AQ1). Tanto os trabalhos de cartografia geológica de pormenor como os trabalhos de prospeção geofísica por métodos eletromagnéticos foram fundamentais para a caracterização da zona de descarga do sistema hidromineral da Terronha. A localização da área de descarga do polo hidromineral é assim controlada por fatores de ordem geomorfológica e geológica. Em relação aos aspetos geomorfológicos, trata-se de uma zona encaixada com a emergência tradicional e a boca do furo de captação AQ1 a situarem-se em cerca de 223 m abaixo das cotas mais elevadas dos III CONGRESSO I BEROAM ERICANO DE PELOIDES III CONGRESO IBEROAM ERICANO DE PELOIDES SÃO MIG UEL, AÇORES OUT.2013 terrenos envolventes. A área de descarga enquadra-se num contexto geológico correspondente ao contacto entre o granito hercínico de Caçarelhos (granito de duas micas, de grão médio, equigranular e sin tectónico) e rochas metassedimentares silúricas (xistos sílico carbonosos, filitos, metapsamitos, metagrauvaques e corneanas pelíticas). O contacto do granito com as rochas metassedimentares (no contacto tratam-se de corneanas pelíticas) é controlado por fraturas que se integram principalmente nas famílias NNE-SSW a NE-SW e NW-SE a WNW-ESE e também na família NE-SW a ENE-WSW que se associam em nós estruturais onde o potencial hidromineral de descarga é mais elevado. Com o objetivo de intersetar o sistema hidromineral sulfúreo num dos nós estruturais identificados desenvolveu-se uma sondagem mecânica vertical à roto-percussão pneumática, com diâmetros variáveis entre 16” e 61/2”, que, posteriormente, foi transformada na captação AQ1. Esta sondagem atravessou sempre material granítico, revelando um sistema hidromineral sulfúreo do tipo fissural, com artesianismo, e intersetou várias zonas produtivas entre os 35 m e os 100 m de profundidade. A captação, com 105,5 m de profundidade, é totalmente entubada por uma coluna de aço inox ASI 316L. Até à profundidade de 64 m foi entubada com o diâmetro 61/2” e abaixo desta profundidade com o diâmetro 3” onde existem setores onde se instalou tubo ralo. Na captação aplicou-se um dreno de seixo calibrado entre os 60 e os 105,5 m de profundidade e o espaço anular entubamento/parede do furo foi cimentado desde a superfície até aos 60 m de profundidade. Os resultados dos ensaios de caudal apontam para a presença de um sistema hidromineral cativo com transmissividades variáveis situadas em dois escalões, a variar entre: T1= 9,5 a 44,1 m2/dia e T2 = 1,9 a 7,7 m2/dia e permeabilidades situadas em dois patamares: K1 = 0,095 a 0,441 m/dia e K2 = 0,019 a 0,077 m/dia. A curva característica do furo de captação aponta para um caudal ótimo de exploração de 1,2 l/s, contudo este valor deve necessariamente ser acautelado para garantir a qualidade da água mineral sulfúrea. O estudo físico químico detalhado da água sulfúrea do furo de captação AQ1, desenvolvido durante o período de um ano, com amostragens regulares mensais, mostrou que a mesma apresenta elevada estabilidade neste domínio. Os resultados deste estudo permitiram qualificar a água sulfúrea da Terronha como água mineral natural, menção que mereceu parecer favorável da DGS. Trata-se de uma água que se pode classificar como bicarbonatada, sódica, (de tendência cloretada), sulfúrea, fluoretada, alcalina, com uma estrutura típica de água sulfúrea. É uma água hipotermal, com temperatura média de 17,5 ºC, pH de 8,7 e mineralização total 441,5 mg/l (quadro 1). As características desta água são em tudo semelhantes à da nascente tradicional. Quadro 1. Parâmetros físico químicos estatísticos da água mineral sulfúrea da Terronha (furo de captação AQ1). Amostragem: outubro de 2007 a dezembro de 2012; valores médios de 38 amostras. Aniões FCl- mg/l 17,5 " 66,8 HCO3 CO3 2HS- " 162,3 " 6,9 SO4 2H3 SiO4 NO3 - " 11,0 Catiões Li+ Na+ K+ Mg2+ Ca2+ NH4 + " 6,0 " 5,0 " 0,2 " 0,6 " 130,6 " 2,3 " 0,4 " 3,7 " 1,8 Parâmetros globais Condutividade pH Temperatura Alcalinidade Dureza total Sílica Silício total CO2 total Sulfuração total Resíduo seco a 180ºC Resumo comp. química Aniões Catiões Mineralização total (mS/cm) temp. de ref. 20 ºC) 554,3 à temp. de Temperatura 8,7 (ºC) (ml/lde HCl 0,1M) 17,5 31,9 (p.p.105 CaCO3) 1,08 (mg/l de SiO2) 26,5 (mg/l de SiO2) (mmol/l de CO2) 29,7 2,76 (ml/l I2 0,01N) 42,0 (mg/l) 366,5 mg/l 275,8 mg/l 139,2 mg/l 441,5 III CONGRESSO I BEROAM ERICANO DE PELOIDES III CONGRESO IBEROAM ERICANO DE PELOIDES SÃO MIG UEL, AÇORES OUT.2013 Na definição do modelo hidrogeológico, para além da zona de descarga anteriormente referida, a área de recarga estará relacionada principalmente com níveis da Formação do Quartzito Armoricano, com afloramentos do granito de Caçarelhos, ambos localizados em setores mais elevados que a área da Terronha, e com os domínios correspondentes ao contacto entre o granito de Caçarelhos e corneanas pelíticas. Nestes domínios, localizados nos setores N, NE e E relativamente à área de descarga, privilegiam-se os setores de maior intensidade de fracturação. As zonas de interação água/rocha (e de reservatório – setores mais profundos) determinantes das características físico químicas da água sulfúrea da Terronha entendem-se estar associadas ao maciço granítico de Caçarelhos, privilegiando-se as zonas de maior densidade de fracturação e de contacto com as corneanas por se tratar de setores de maior favorabilidade para o processo de interação água/rocha e consequente mineralização. SISTEMA DE CAPTAÇÃO E DE ADUÇÃO O furo de captação AQ1 é protegido por uma casa abrigo (fig. 3) e está dotado de um equipamento de bombagem que é constituído por uma coluna de elevação com 60 m de aço inox AISI 316, uma bomba elétrica submersível e elementos como os de controlo de níveis, medição e registo automático de parâmetros físico químicos e de caudal, entre outros. A água captada no furo de captação AQ1 é conduzida ao edifício termal por uma conduta de adução elevatória com cerca de 1500 m de comprimento, 50,8 mm de diâmetro, sendo constituída por aço inox do tipo AISI 316L, tal como todos os elementos e sistemas a ela associados (fig. 4). Esta conduta, envolvida por manga térmica, está instalada e protegida numa galeria técnica devidamente vedada e construída em meia cana de betão. (a) (b) Figura 3. Casa abrigo e vedação de proteção do furo de captação AQ1 – Terronha (a). Aspeto do interior da casa abrigo e do cabeçote do furo de captação AQ1 (b). (a) (b) Figura 4. Pormenor da galeria técnica (a) que acomoda a conduta de adução envolvida pela manga térmica de proteção que integra um sistema de purga, de válvula de seccionamento e de manómetro de pressão (b). III CONGRESSO I BEROAM ERICANO DE PELOIDES III CONGRESO IBEROAM ERICANO DE PELOIDES SÃO MIG UEL, AÇORES OUT.2013 EDIFÍCIO TERMAL E EXPLORAÇÃO DO RECURSO O edifício termal das Termas da Terronha (fig. 5) foi construído para se realizar o estudo médico hidrológico no sentido de se proceder ao reconhecimento das vocações terapêuticas para doenças reumáticas/músculo-esqueléticas e das vias respiratórias, e também para desenvolver, posteriormente, o aproveitamento económico do recurso, quer na perspetiva do termalismo clássico, quer no domínio do termalismo de saúde e de bem estar. O edifício termal, para além das práticas termais, permite ainda a prática de atividade física. O edifício está estruturado em dois pisos, o piso 0 e o piso -1. Piso 0: este piso integra (figs. 5, 6 e 7): - Área de acolhimento - constituída por entrada, receção, sala de espera e instalações sanitárias de apoio. - Área termal: Vestiários e instalações sanitárias para os termalistas. Área médica - gabinete médico. Área de vias respiratórias (ORL) - com seis postos de tratamento para duches nasais e nebulizações. Área de tratamentos (balneoterapia) - Constituída por oito salas equipadas, para diferentes tipos de tratamentos: - Duche Vichy. - Hidromassagem. - Vapor à coluna. - Duche de jato. (a) (b) (c) Figura 5. Vista geral S do edifício das Termas da Terronha e da área envolvente (a). Vista poente (b) pavimento ao nível do piso 0. Vista nascente (c) - a parte inferior corresponde ao piso - 1 e a parte superior ao piso 0. III CONGRESSO I BEROAM ERICANO DE PELOIDES III CONGRESO IBEROAM ERICANO DE PELOIDES SÃO MIG UEL, AÇORES OUT.2013 Figura 6. Edifício das Termas da Terronha - planta do piso 0. - Duche circular. - Manilúvio e Pedilúvio. - Bertolaix. - Vapor aos membros. Área de repouso para termalistas. - Área de piscina/ginásio - Esta área localiza-se no setor oposto à área termal e destina-se a todos os utentes do edifício termal. A área está dividida em dois espaços, um para a piscina e outro para o ginásio. - Vestiários e instalações sanitárias para os utentes da piscina e do ginásio. Piso -1: este piso integra: - Área técnica - onde se localizam todos os sistemas mecânicos e operacionais de apoio aos equipamentos para aplicação das técnicas termais, nomeadamente os reservatórios, os sistemas de aquecimento de água, de pressurização e de higienização/desinfeção dos circuitos hidráulicos termais. - Acesso de pessoal - reservado aos colaboradores do edifício termal. - Área de desinfeção/esterilização - dividida em duas zonas, uma zona designada de suja para receção, triagem e lavagem de material e uma zona limpa com armazenagem de material esterilizado. - Vestiários e instalações sanitárias - para uso exclusivo dos colaboradores do balneário termal. - Área técnica de apoio à piscina - dotada dos equipamentos necessários de apoio à piscina. OUTRAS VALÊNCIAS DE DESENVOLVIMENTO A par da exploração das diferentes valências que deverão ser praticadas no edifício termal é expectável a dinamização económica do concelho ao nível do comércio, dos serviços e do turismo. As características regionais nas suas vertentes de geodiversidade, de biodiversidade e também antrópica podem constituir um atrativo para os visitantes nacionais e estrangeiros. III CONGRESSO I BEROAM ERICANO DE PELOIDES III CONGRESO IBEROAM ERICANO DE PELOIDES (a) (b) (c) (d) (e) (g) SÃO MIG UEL, AÇORES OUT.2013 (f) (h) (i) Figura 7. Alguns equipamentos instalados no edifício das Termas da Terronha: banheira de hidromassagem (a); vapor à coluna (b); ORL (c); manilúvio e pedilúvio (d); equipamentos do ginásio (e); piscina terapêutica (f); duche de jato (g); duche circular (h); bertolaix (i). III CONGRESSO I BEROAM ERICANO DE PELOIDES III CONGRESO IBEROAM ERICANO DE PELOIDES SÃO MIG UEL, AÇORES OUT.2013 Numa perspetiva regional o enquadramento geográfico das Termas da Terronha, únicas no nordeste Transmontano, coloca esta infraestrutura numa posição estratégica de capitalização de termalistas desta região do país e até de regiões de Espanha mais próximas. Num quadro global espera-se que o turismo de saúde venha a ter uma significativa relevância nesta região. Estas termas mesmo excluindo os postos de trabalho diretos, podem constituir um meio de alavancagem do desenvolvimento local e regional com a consequente criação de postos de trabalho indiretos e assim contribuir para o melhoramento das condições económicas e sociais da população da região. CONCLUSÕES Na perspetiva do aproveitamento dos recursos naturais para a promoção do desenvolvimento regional a Câmara Municipal de Vimioso estabeleceu um contrato com o estado português no sentido de desenvolver estudos de prospeção e pesquisa de águas minerais naturais sulfúreas na zona da Terronha. Estes estudos permitiram caracterizar o sistema hidromineral sulfúreo da Terronha. Desenvolveu-se um furo de captação e fez-se a qualificação da água mineral captada através da DGS. Por último, construi-se um edifício termal que, entre outras valências, enquadra um balneário termal onde está a decorrer o estudo médico hidrológico para o reconhecimento de vocações terapêuticas da água sulfúrea explorada. Neste, terminado o estudo médico hidrológico e reconhecidas as vocações terapêuticas da água, vai explorar-se o recurso nos domínios do termalismo terapêutico e de saúde e bem estar. Com este recurso hidromineral e com a infraestrutura que lhe está associada crê-se dar um contributo importante para o desenvolvimento económico e social da região de Vimioso. AGRADECIMENTOS Devem-se agradecimentos à Câmara Municipal de Vimioso pelo patrocínio concedido na produção e divulgação deste artigo bem como pela autorização da divulgação da informação nele contida. Agradece-se ainda as contribuições da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e do Centro de Geofísica da Universidade de Coimbra. REFERÊNCIAS Almeida, A. e Almeida, J. D. (1970). Inventário hidrológico de Portugal: Trás-os-Montes e Alto Douro. Instituto de Hidrologia de Lisboa, 2, 639p. Alves, F. M., Amado, A. M., 2002. Vimioso. Notas monográficas. Reimpressão fac-similada da 1ª ed. De 1968. Publicação da Câmara Municipal de Vimioso, Vimioso, 597 p. Andrade, M. P. L. (2002). A geoquímica isotópica e as águas termominerais. 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