Sexta-feira e fim de semana
23, 24 e 25 de janeiro de 2015
Jornal do Comércio - Porto Alegre
Economia
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Editor: Luiz Guimarães
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AVIAÇÃO
Padilha revê posição sobre
expansão do Salgado Filho
Comitê celebra decisão do ministro
Marina Schmidt
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MARCELO G. RIBEIRO/JC
Incidente com avião da Azul, ocorrido no dia 19, teria feito o ministro
da Aviação Civil mudar sua contrariedade quanto ao aumento da pista
Obras de expansão do terminal de passageiros já estão em andamento, com conclusão prevista para 2017
N
o dia 16 desse mês, em
reunião com o prefeito de
Porto Alegre, José Fortunati, o ministro da Secretaria
de Aviação Civil, Eliseu Padilha,
alegou que, atualmente, o Rio
Grande do Sul não movimenta
carga suficiente para justificar a
expansão da pista do aeroporto
Salgado Filho. No entanto, um
incidente ocorrido logo após esse
encontro, no dia 19, teria feito o
dirigente mudar a sua postura
quanto à ampliação da estrutura. Na manhã daquele dia, um
avião comercial da companhia
Azul Linhas Aéreas, que deveria
aterrissar na Capital, teve que fazer um pouso de emergência na
Base Aérea de Canoas.
Em nota assinada pelo próprio Padilha e divulgada nesta
quinta-feira, o ministro declara
que “cientificado do incidente com a aeronave da Azul, a
Secretaria de Aviação Civil da
Presidência da República encaminhou, imediatamente, à Infraero o Ofício n. 33/2015/SAC-PR,
solicitando que seu Conselho de
Administração avaliasse a conveniência e oportunidade de ser
dado andamento ao projeto de
ampliação da pista do Salgado
Filho, levando em conta não a
alegada, mas incomprovada, demanda de carga, até então fator
determinante, mas sim e espe-
cialmente a indispensável segurança de voo”.
O comunicado admite que
a Infraero esperava pela carga para ampliar a pista. Como
a principal variável levada à
consideração do Conselho de
Administração da Infraero para
definir o momento de início das
obras de expansão da pista foi a
alegada necessidade decorrente
do aumento de cargas aéreas a
serem movimentadas no aeroporto, isso afetou a rapidez das
ações. Conforme a Secretaria
de Aviação Civil, as operações
com cargas no aeroporto permanecem em torno de 35 mil toneladas ao ano há mais de cinco
anos, e a Infraero passou a sustentar que “as obras de ampliação da pista seriam iniciadas se
e quando fossem necessárias”.
A justificativa é que atualmente
a estrutura opera com cargas e
passageiros, com grande folga,
utilizando apenas 54% de sua
capacidade.
Ainda de acordo com a nota,
citando como fonte a Infraero, a
ampliação e operação da pista só
serão possíveis quando da plena
e efetiva posse da União de toda
a área do sítio aeroportuário.
Além disso, terá que ser alicerçada em um complexo sistema de
estacas, fixadas a uma profundidade média de 25 metros, que
suportará uma plataforma em
concreto destinada a servir de
base para a construção dos 920
metros adicionais de pista. Dada
à inconsistência do solo, essa iniciativa tem um custo estimado
em mais de R$ 650 milhões.
Com as obras de expansão,
a pista do Salgado Filho passaria a ter uma extensão de 3,2 mil
metros. Também está previsto
dentro do empreendimento o
aumento do terminal de passageiros 1, que se encontra em desenvolvimento, com conclusão
prevista para janeiro de 2017,
elevando a área hoje disponível de 41.502 metros quadrados
para 60,3 mil metros quadrados.
Soma-se a isso a ampliação do
pátio de aeronaves e pistas de
táxi, com término previsto para
março de 2015, e a construção
de um novo terminal de cargas,
com área de 18 mil metros quadrados, com finalização prevista
para setembro de 2016.
Outras melhorias seriam as
construções de um novo edifício-garagem a ser executado em
parceria com o setor privado,
com previsão de lançamento do
edital em junho de 2015, e de um
hotel com, no mínimo, 200 apartamentos, também em parceria
com o setor privado, com expectativa do fim das obras em abril
de 2016.
A notícia de que a pista do
aeroporto Salgado Filho será ampliada foi recebida sob aplausos
no recém instalado Comitê do
Aeroporto Salgado Filho. Na tarde
de ontem, quando a reconsideração do ministro da Secretaria de
Aviação Civil da Presidência da
República, Eliseu Padilha, foi emitida – e imediatamente repercutida
pela imprensa –, o grupo formado
por integrantes de entidades da sociedade civil estava reunido para
a primeira reunião, realizada na
sede da Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB-RS), em Porto Alegre.
O encontro começou destacando a importância da expansão
da pista e teve a argumentação
técnica principal apresentada pelo
engenheiro civil Fernando Cavalcanti Bizarro, que refutou argumentos defendidos anteriormente
por Padilha, que na semana passada afirmou que a ampliação da
pista do aeroporto era desnecessária neste momento. “Nos últimos
15 anos, perdemos bilhões de reais
em tributos e negócios que deixaram de ser realizados por falta de
transporte aéreo adequado”, disse.
A defesa encontrou consonância entre os demais presentes,
como o presidente do Sindicato
das Empresas de Transporte de
Cargas e Logística (Setcergs), Afrânio Rogério Kieling, que criticou a
declaração do ministro de que o
Estado não movimenta carga aérea suficiente para justificar a ampliação da pista. Kieling disse que,
atualmente, a carga exportada segue por via rodoviária até outros
aeroportos, como de Viracopos,
em Campinas, distante em centenas de quilômetros da Capital.
Um outro argumento muito
forte usado para justificar a intervenção foi o incidente envolvendo
o pouso emergencial feito por um
avião da Azul na segunda-feira. A
aeronave vinha de Confins, Minas
Gerais, com destino a Porto Alegre,
mas por problemas técnicos acabou
pousando na Base Aérea de Canoas,
que tem 471 metros a mais de pista.
Segundo passageiros, o problema
enfrentado – não confirmado pela
assessoria de imprensa da companhia – era de frenagem. Além de
gastar combustível no ar, o piloto,
segundo os presentes, utilizou toda
a extensão da pista em Canoas.
“Temos esse fato recente do
pouso da Azul que comprova a
necessidade de ampliação da pista”, sustentou a presidente da Comissão de Defesa do Consumidor
da OAB/RS, conselheira seccional
Teresa Moesch. Foi justamente ela
que, pouco tempo depois, interrompeu os debates para anunciar
que o ministro Padilha havia solicitado a ampliação da pista do
Salgado Filho. Os aplausos e a comemoração que se seguiu provaram que o grupo formado já tinha
um foco bem-definido: a garantia
de operação do aeroporto internacional na Capital, com capacidade
ampliada para receber aeronaves
maiores, embora o discurso seja
o de ampliação do debate sobre
um tema que vem se estendendo
há mais de uma década e meia e
que, cada dia que passa, parece
encontrar menos consenso entre
entes do poder público e da sociedade civil.
Crea-RS considera expansão um risco
O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Sul (Crea-RS) vê a ampliação
como um risco, já que a pista atualmente instalada não suportaria
aviões com mais de 120 toneladas.
“Um grande avião cargueiro tem
300 toneladas”, pontuou o presidente do Crea-RS, engenheiro civil
Melvis Barrios Junior, acrescentando que a aterrissagem cotidiana de
aeronaves de grande porte pode levar à degradação da pista. “Recuperar a pista atual custaria R$ 500
milhões ou R$ 600 milhões.”
Barrios diz que a presença do
aeroporto na Capital deprecia áreas urbanas da cidade, o mesmo
ocorre nas proximidades da Base
Aérea de Canoas. Somados, os
dois terrenos têm 1,2 mil hectares
– área que, segundo o dirigente,
comportaria novas construções,
com a obrigação de que 200 hectares fossem utilizados para construção de parques e áreas verdes
e que valeria R$ 10 bilhões. “Com
esse dinheiro, o poder público fazia um novo aeroporto sem gastar
R$ 1,00”, justificou, ressaltando
que o objetivo da entidade é alertar para os riscos técnicos e defender que sejam feitos debates mais
abrangentes sobre o assunto. “É
um tema que afeta 10 milhões de
pessoas.”
Outras vozes dissonantes no
encontro vieram de produtores
rurais de Portão, desta vez contra
a instalação do novo aeroporto na
cidade, que alertaram para problemas ambientais decorrentes do
projeto e sinalizaram para a intenção das famílias de agricultores da
região que querem permanecer
no local. “Nós protegemos nossas
figueiras centenárias, nossos mananciais e nosso gado. Eu tenho
uma propriedade rural e não quero a indenização. Eu sou da roça
e quero ficar na roça”, destacou o
produtor rural Marino Costa.
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