48 IEEE LATIN AMERICA TRANSACTIONS, VOL. 2, NO. 1, MARCH 2004 Perda Adicional no Núcleo em Transformadores Trifásicos Alimentando Cargas Não-Lineares L. R. Lisita, J. W. L. Nerys, A. J. Batista, A. M. de Oliveira e A. C. Moreira Resumo--Com o crescente desenvolvimento tecnológico de equipamentos elétricos e eletrônicos e suas utilizações sendo alimentadas pelos transformadores de distribuição, surgem como conseqüências destas cargas não-lineares, distorções nas formas de ondas das correntes e, numa escala menor, nas tensões dos transformadores. Estas correntes e tensões não-senoidais em transformadores provocam perdas adicionais que elevam a temperatura, comprometendo a isolação e reduzindo a vida útil. Uma destas perdas adicionais localiza-se no núcleo, podendo haver elevações da corrente de excitação e do ruído sonoro. A proposta deste trabalho é analisar o comportamento das tensões e correntes em transformadores alimentando cargas não-lineares e, a partir daí, calcular a perda no núcleo (PNL). As medições são efetuadas pela configuração back-to-back e o modelo adotado é o trifásico instantâneo com medições e cálculos realizados por fase. Este trabalho é estruturado no Sistema de Aquisição de Dados (DAQ) e usa programação computacional em LabVIEW. Termos de Indexação—Medidas digitais, harmônicas, cargas não-lineares, perdas em transformadores, perda no núcleo I. INTRODUÇÃO crescente utilização de cargas não-lineares tem elevado o grau de poluição harmônica dos sistemas elétricos, apresentando como conseqüência a redução da eficiência, e por vezes a má operação destes sistemas e de seus componentes. Mesmo quando alimentadas por tensões senoidais, cargas não-lineares produzem correntes nãosenoidais. Correntes não-senoidais causam perdas adicionais em equipamentos elétricos, principalmente nos transformadores. Equipamentos para acionamentos com velocidades controladas em motores ac e dc, cargas alimentadas por diodos e tiristores, computadores, TVs, eletrodomésticos acionados por motores universais, lâmpadas eletrônicas, etc., causam na fonte transformadora altos níveis de correntes harmônicas em relação às condições normais (lineares) de operação. A vida da isolação de transformadores está ligada diretamente a pontos nos quais existam concentrações de perdas (regiões de altas temperaturas). Estas regiões de alta densidade de perdas se tornam um dos principais fatores na determinação do desempenho dos transformadores. Asignificantemente II. MODELAGEM As perdas nos transformadores podem ser classificadas como perda no núcleo ou perda de excitação (PNL); perda em carga ou perda nas impedâncias (PLL) e perda total (PTOTAL) que é a soma das perdas no núcleo e em carga [1]-[2], conforme equação 1. A modelagem matemática utilizada neste trabalho para o cálculo da perda adicional no núcleo para cada transformador trifásico alimentando cargas não-lineares pela configuração de medições back-to-back, Fig. 1 [3], apresenta os seguintes aspectos: - Cargas balanceadas (não)-lineares. - As medições instantâneas são realizadas pelos lados da baixa tensão. - Os parâmetros dos transformadores são referidos para os lados de suas respectivas baixas tensões. - A modelagem matemática baseia-se no cálculo de uma resistência em ac efetiva por fase (Racefi) que representa as perdas no cobre para qualquer Fator de Perda Harmônica (FHL) [4] ou Distorção Total de Corrente (THDi), independentemente da temperatura. A composição desta resistência é mostrada na equação ( 2). (2) Racefi = Rdc + RECefi onde, Rdc - Representa a resistência média por fase do enrolamento em corrente contínua na temperatura de operação, obtida do ensaio de resistência dos enrolamentos em dc, conforme apêndice A. RECefi – Representa a resistência efetiva por fase responsável pela perda adicional por correntes parasitas nos enrolamentos (PEC) [3]-[4], para qualquer temperatura. O subíndice i representa a fase. - Adota-se inicialmente o Modelo L, Fig. 2, para o cálculo da resistência efetiva de dispersão (Racefi) e também da corrente de excitação 12 (i1 − i 2 ) e, a posteriori, o Modelo T, ( Este trabalho é financiado pela Companhia Energética de Goiás e pela Escola de Engenharia Elétrica e de Computação da Universidade Federal de Goiás. (1) Ptotal = PNL + PLL ) Fig.3, para o cálculo da tensão de excitação relativa à perda no núcleo para cada transformador. - As medições das tensões e correntes de entrada e saída, LISITA et al.: ADDITIONAL LOSS IN THE CORE OF bem como o cálculo da perda no núcleo para cada transformador, são estruturadas na programação LabVIEW em sua forma instantânea [5]-[6] em tempo real. A Fig. 1 mostra a ligação de dois transformadores trifásicos delta-Y, configurados back-to-back, com suas respectivas medições realizadas pelos lados das baixas tensões. 49 ou seja um segundo. O valor da indutância de dispersão (Lac) é considerado constante durante o processo de simulações práticas com cargas não-lineares. Pesquisas recentes mostram que a indutância de dispersão pode apresentar variação em altas freqüências [5], ou seja, acima de 3000 Hz. As freqüências amostradas neste trabalho são até a qüinquagésima harmônica (50 th). O valor médio desta indutância de dispersão é obtido pelo ensaio de rotina de curto-circuito [4], Apêndice A. A equação de “potência por fase” (4) é o resultado da manipulação aritmética entre as tensões e correntes de entrada e saída. v1i − v2i = Racefi ⋅ i1i + Lac ⋅ di1i di + Racefi ⋅ i21 + Lac ⋅ 2i dt dt d (i1i + i2i ) ⋅ (i1i + i2i ) ⋅ dt dt 0 T Racefi = Fig. 1. Configuração back-to-back de dois transformadores trifásicos Delta-Y, alimentando carga não-linear e, medições sendo realizadas pelos lados de baixa tensão. A Fig. 2 apresenta o modelo L por fase de dois transformadores conectados back-to-back, mostrando as tensões, correntes e parâmetros. (3) T ∫ (v1i − v2i ) ⋅ (i1i + i2i ) ⋅ dt − Lac ∫ 0 T ∫ (i1i + i2i ) ⋅ (i1i + i2i ) ⋅ dt (4) 0 A determinação da Perda no Núcleo (PNL) para cada transformador é feita calculando-se as tensões relativas de excitação para cada fase, conforme modelo T, Fig. 2. As correntes de excitação são consideradas as mesmas para ambos os transformadores e valem cinqüenta por cento da diferença entre as correntes de entrada e saída [9] para a configuração back-to-back, Fig. 2. A perda no núcleo por fase e total para o primeiro transformador é determinada pelas equações (5) e (6). T PNL1i = 1 2T ∫ v ⋅ (i o1i 1i ) − i2i ⋅ dt (5) 0 3 (6) PNL1 = ∑ PNL1i Fig. 2. Configuração de dois transformadores conectados back-to-back por fase para o modelo L. i =1 A perda no núcleo por fase e total para o segundo transformador é determinada pelas equações (7) e (8). A Fig. 3 mostra o modelo T por fase de dois transformadores conectados back-to-back, com a indicação das tensões, correntes e parâmetros. T ( ) PNL2i = 21T ∫ vo 2i ⋅ i1i − i 2i ⋅ dt (7) 0 3 PNL2 = ∑ PNL2i (8) i =1 Fig. 3. Configuração de dois transformadores conectados back-to-back por fase para o modelo T. O cálculo de Racefi é realizado pela diferença entre as tensões de entrada e saída (modelo L), conforme Fig. 1. Multiplicando-se a equação (3) pela soma das correntes i1 e i2 com o intuito de representação na forma de potência, e integrando-a no período amostrado, obtém-se o valor efetivo da resistência (Racefi), que representa a perda no cobre (Pcu). O período amostrado equivale a sessenta ciclos da fundamental, A tensão de excitação relativa à perda no núcleo para cada transformador (vo1 e vo2) é determinada pelas equações (9) para o transformador T1 e (10) para o transformador T2, de acordo com o Modelo T, Fig. 3. di1i dt di = v2i + Racbaixa ⋅ i2i + 12 ⋅ Lacef ⋅ 2i dt vo1i = v1i − Racbaixa ⋅ i1i − 12 ⋅ Lacef ⋅ vo 2i (9) (10) A resistência efetiva em ac da baixa tensão ( Racbaixa ), bem como a indutância de dispersão ( 12 ⋅ Lacef ), também da baixa 50 IEEE LATIN AMERICA TRANSACTIONS, VOL. 2, NO. 1, MARCH 2004 tensão, refere-se ao Modelo T, conforme Apêndice A. carga linear com variação do fator de potência indutivo. III. SIMULAÇÃO PRÁTICA A parte experimental é composta por quatro etapas. A primeira representa os dois transformadores conectados backto-back alimentando carga linear nominal e também transformador a vazio. A segunda etapa apresenta os transformadores alimentando carga linear com diversos valores de fator de potência indutivo. Na terceira etapa os transformadores alimentam cargas não-lineares. Esta configuração de carga não-linear resulta em correntes harmônicas com predominância de ordem ímpar. A quarta e última etapa apresenta os dois transformadores alimentando cargas não-lineares com predominância de componentes harmônicas de corrente de ordem par. Para todas as situações de cargas são utilizados dois transformadores trifásicos do mesmo lote de fabricação, cujos números de série são seqüenciais. As cargas não-lineares escolhidas representam interfaces comumente encontradas nos conversores ac/dc de potência, tanto em cargas residenciais quanto industriais. Os dados dos transformadores bem como da indutância de dispersão média e resistência média em dc na temperatura de ensaio são apresentadas no Apêndice A. Estes parâmetros foram obtidos pelos ensaios em curto-circuito e resistência dos enrolamentos em dc na temperatura de 25 °C (ambiente). Os resultados para a simulação prática da perda no núcleo e corrente de excitação para a condição de carga linear nominal e também com transformadores operando a vazio, referente à primeira etapa, são apresentados na Tabela I para o transformador T1 e Tabela II para o transformador T2. Tabela I. Perda no núcleo a vazio e com carga linear nominal para o transformador T1 THD v1 (%) THD i1 (%) Iorms (A) Carga PNL 1 (W) Linear 118.6870 2.3462 7.9049 1.4931 Vazio 129.7199 2.5621 34.7222 1.6432 Tabela II. Perda no núcleo a vazio e com carga linear nominal para o transformador T2 THD v2 (%) THD i2 (%) Iorms (A) Carga PNL 2 (W) Linear 128.0337 2.3000 2.3069 1.4931 Vazio 127.5007 2.5362 xxxxxxx 1.6432 A Tabela III apresenta as perdas no núcleo para os dois transformadores alimentando carga linear com diversos valores de fator de potência indutivo. Esta tabela refere-se à segunda etapa da simulação prática. Tabela III. Perda no núcleo com carga linear e fator de potência indutivo PNL1 (W) FP out PNL2 (W) FP in 0.9888 127.1287 1.0000 149.4628 0.9703 124.4965 0.9926 147.0544 0.9603 123.0343 0.9851 145.8231 A Fig. 4 representa as perdas no núcleo para os dois transformadores conectados back-to-back, considerando-se Fig. 4. Perda no núcleo para os dois transformadores em função do fator de potência de entrada e saída. Na terceira etapa, os transformadores conectados back-toback alimentam carga não-linear composta por conversor ac/dc a seis diodos. As Tabelas IV e V mostram o comportamento das perdas no núcleo para os transformadores T1 e T2 em função de diversos valores de FHL, THDv , THDi e Fator de potência (Fp) em condições de cargas não-lineares. Estas cargas não-lineares são compostas por conversor ac/dc a seis diodos com variações no filtro capacitivo. Tabela IV. Perda no núcleo para T1 da configuração back-to-back alimentando cargas não-lineares em ponte ac/dc composta por seis diodos. THD v1 (%) THD i1 (%) Fp in PNL1 (W) FHL 1 3.6316 2.2611 26.7928 0.9440 119.0246 4.7188 2.1374 37.2384 0.9023 119.1779 4.8057 2.1059 37.8687 0.9011 119.2652 5.2179 2.0333 40.9459 0.8940 119.9143 Em todas as situações de representatividade das perdas no núcleo em valores percentuais, é tomado como base destas perdas a perda nominal no núcleo em condições de carga linear e nominal, conforme tabela II. Tabela V. Perda no núcleo para T2 da configuração back-to-back alimentando cargas não-lineares em ponte ac/dc composta por seis diodos. FHL 2 THD v2 (%) THD i2 (%) FP out Iorms (A) PNL2 (W) 3.6296 4.8552 4.9830 5.4187 6.8131 8.1867 8.3552 9.0992 25.6882 37.6262 38.4047 41.6627 0.9583 0.9124 0.9098 0.8994 1.6055 1.7006 1.5853 1.5982 147.2067 147.6752 147.8531 148.1631 A Fig. 5 representa a perda percentual no núcleo para o segundo transformador em função do Fator de Perda Harmônica (FHL2), referente à Tabela V. A Fig. 6 representa a mesma perda em função do fator de potência de saída (Fpout). LISITA et al.: ADDITIONAL LOSS IN THE CORE OF 51 Tabela VI. Transformador T1 da configuração back-to-back alimentando cargas não-lineares em ponte ac/dc composta por três diodos. FHL 1 THD v1 (%) THD i1 (%) FP in Pnl 1 (W) 3.0055 2.1864 61.7452 0.8242 135.8977 3.6275 2.4210 80.1860 0.7791 139.0467 3.5849 2.3688 90.0891 0.7341 137.6099 -‘Tabela VII. Transformador T2 da configuração back-to-back alimentando cargas não-lineares em ponte ac/dc composta por três diodos. THD v2 THD i2 FP Iodc Iorms Pnl 2 FHL 2 (%) (W) (%) out (A) (A) 2.6716 7.2538 64.8479 0.6677 4.7480 6.9942 149.0294 4.1942 9.5555 91.4272 0.6088 4.8060 8.4778 163.0237 4.0626 12.3931 108.4765 0.5648 5.0639 9.3715 175.6204 Fig. 5. Perda no núcleo para o transformador T2 em relação ao Fator de Perda Harmônica (FHL 2). Fig. 6. Perda no núcleo para o transformador T2 em relação ao Fator de Potência de saída (Fp out). Observa-se pela Fig. 6 a influência do filtro capacitivo no fator de potência da carga. A perda no núcleo aumenta com a diminuição do fator de potência capacitivo. A causa disto é o avanço angular e aumento da amplitude da tensão de excitação em relação à tensão de alimentação do transformador T2 para a condição de carga linear nominal. A base para as perdas da quarta etapa desta simulação prática é a perda nominal no núcleo para a condição de carga linear nominal, e a base para as correntes de excitação referentes às Figs. 10 e 11 é a corrente de excitação nominal, conforme Tabela II. Fig. 7. Perda no núcleo para o transformador T2 em relação à Distorção Harmônica Total de Tensão (THD v2). A Fig. 8 representa a perda no núcleo em função da Distorção Harmônica Total de corrente (THDi) para as duas situações de cargas não-lineares. Na quarta etapa da simulação prática os transformadores T1 e T2 alimentam cargas não-lineares composta por conversor a três diodos com filtro capacitivo. As Tabelas VI e VII apresentam as perdas no núcleo para os transformadores T1 e T2, referentes à quarta etapa. A Figura 7 mostra a perda percentual no núcleo para o transformador T2 em função da Distorção Harmônica Total de tensão (THDv2), para as duas condições de cargas não-lineares, ou seja, conversores a seis e a três diodos. Fig. 8. Perda no núcleo para o transformador T2 em relação à Distorção Harmônica Total de corrente (THD i2). 52 IEEE LATIN AMERICA TRANSACTIONS, VOL. 2, NO. 1, MARCH 2004 Observa-se que, pelo tipo de conversor, há uma região que não apresenta valores para a THDi, relativo ao transformador T2, apesar da tentativa em alterar os filtros para este propósito. Nas situações do limite superior do conversor a seis diodos e inferior do conversor a três diodos, há uma tendência das perdas no núcleo em se igualarem. A Fig. 9 mostra a influência do filtro capacitivo no fator de potência da carga. Observa-se que há um acentuado aumento da perda no núcleo com a diminuição do fator de potência para o lado capacitivo. A causa é o avanço da tensão de excitação, bem como o aumento da amplitude da desta tensão em relação à tensão de alimentação do transformador T2 para a condição de carga linear nominal. Fig. 11. Perda no núcleo em relação à corrente de excitação (Iorms), para carga composta por ponte a 3 diodos As correntes de excitação para a terceira etapa, ou seja, cargas não-lineares compostas por conversor a seis diodos com variação do filtro capacitivo, não apresentaram grandes variações em valores rms, conforme Tabela V. Fig. 9. Perda no núcleo para o segundo transformador em relação ao Fator de Potência de saída (Fp out). As Figs. 10 e 11 representam as perdas no núcleo em relação à componente dc da corrente de excitação, e também as perdas no núcleo em função da própria corrente de excitação, referentes às cargas não-lineares do conversor a três diodos. Na Fig. 11 há um aumento exagerado da corrente de excitação, da ordem de aproximadamente 630%. A principal causa deste aumento é a componente dc da corrente de carga. As perdas no núcleo, relativas ao Fator de Perda Harmônica (FHL), Distorção Total de tensão e corrente (THDv e THDi) e Fator de potência, apresentam comportamentos semelhantes em função do tipo de carga. Para cargas não-lineares compostas por conversor a seis diodos, a variação do filtro capacitivo pouco influencia nestas perdas. Para cargas nãolineares compostas por conversor a três diodos, a variação do filtro capacitivo é um fator preponderante na determinação destas perdas. A perda no núcleo do segundo transformador pode parecer a priori menor que para o primeiro transformador, devido ao seu valor de tensão rms a princípio ser menor, mas este não é o caso (com exceção dos transformadores a vazio). A perda no núcleo depende de outros fatores além do nível de tensão. Um destes fatores é o defasamento angular entre a tensão de excitação (modelo T) que gera a corrente de excitação no núcleo (vo1 ou vo2) e a própria corrente de excitação. Em outras palavras, a impedância de dispersão e o fator de potência influenciam na perda no núcleo. Outro fato ainda mais importante é o nível da corrente de excitação que, dependendo da componente dc, pode vir a saturar o núcleo, aumentando ainda mais a perda no mesmo. A Fig. 10 referente às cargas não-lineares compostas por ponte a três diodos, mostra a influência da componente dc da corrente de carga na excitação do transformador. Esta componente dc, além de aumentar a amplitude da corrente de excitação, provoca aumento do ruído sonoro e magnetiza o núcleo, podendo aumentar definitivamente a perda no mesmo. Fig. 10. Perda no núcleo em relação à componente dc da corrente de excitação (Iodc). As Figs. 12 a 15 referem-se à pior situação analisada, ou seja, carga composta por ponte a três diodos com valor de FHL2 igual a 4,0626. Estas figuras referem-se à Tabela VII. LISITA et al.: ADDITIONAL LOSS IN THE CORE OF 53 Fig. 12 . Tensão e corrente de excitação na fase a do transformador T2. A forma de onda das correntes de carga na fase c dos enrolamentos de baixa tensão dos transformadores T1 e T2 são mostradas nas Figs. 13 e 14. Fig.15. Tensão de saída para o transformador T2 alimentando carga não-linear composta por ponte ac/dc a três diodos, com THDv2 igual a 12.3931. IV. CONCLUSÃO Fig. 13 Corrente no primário do transformador T1 com THDi2 igual a 108.4765. O pico da corrente de carga para o transformador T2 é aproximadamente 90 A, conforme Fig. 14. O valor da corrente de pico nominal é 32,23 A, ou seja, para este tipo de carga não-linear, a corrente de pico do transformador T2 atinge quase três vezes a corrente de pico nominal. Uma das conseqüências da carga não-linear da Fig. 14 é a distorção da tensão de saída do segundo transformador, que atingiu uma THDv2 igual a 12,3931, conforme Tabela VII e Fig. 15. Fig. 14 . Corrente no secundário do transformador T2 alimentando carga não-linear composta por ponte ac/dc a três diodos, com THDi2 igual a 108.4765. Observa-se que, para o caso de cargas não-lineares compostas por ponte ac/dc a três diodos, a componente dc força a magnetização do núcleo sempre no mesmo sentido. O valor médio da corrente de excitação para este tipo de carga está acima do eixo da abscissa. Este fato tem como conseqüências imediatas, aumento da perda no núcleo e provável comprometimento da curva de histerese. Da Fig. 10, verifica-se um aumento da perda no núcleo em função do aumento da componente dc da corrente de excitação, com tendência à saturação. A perda do núcleo aumenta de forma quase que quadrática em termos da corrente de excitação total (pior situação), conforme Fig. 11. As conseqüências destas cargas não-lineares no núcleo de transformadores são as perdas adicionais que provocam aquecimento, aumento do ruído sonoro, alteração do ponto de operação da curva de histerese e provavelmente aumento definitivo da perda no núcleo. O fator de potência das cargas não-lineares analisadas torna-se capacitivo devido aos conversores ac/dc compostos por diodos com filtros capacitivos. Nestas situações, quanto menor o fator de potência maior será a perda no núcleo, conforme Figs. 6 e 9. Isto se explica, devido à corrente de carga adiantar-se em relação à tensão de entrada. Com isto as tensões vo1 e vo2 (que dependem da queda de tensão nos parâmetros de dispersão de ambos os transformadores) também avançam em relação às condições de operação linear nominal. Nesta situação, as amplitudes destas tensões e da própria corrente de excitação crescem, aumentando a perda no núcleo de forma quadrática. O mesmo não acontece com cargas indutivas, pois o processo é inverso, quanto menor o fator de potência menor é a perda no núcleo, conforme Fig 4, pois os níveis das tensões e correntes de excitação caem. Como pode ser visto, além destes conversores influenciarem nesta perda, filtros capacitivos modificam o fator de potência da carga, podendo ter como conseqüência um aumento drástico na perda no núcleo. A perda no núcleo de transformador na verdade, depende diretamente do tipo de carga alimentada, bem como da tensão de alimentação. Não se pode afirmar que ela depende apenas da tensão e que é constante, como se afirmam na literatura. Deste trabalho sugere-se que sejam elaborados procedimentos normalizados que impeçam o uso de equipamentos danosos e poluidores ao 54 IEEE LATIN AMERICA TRANSACTIONS, VOL. 2, NO. 1, MARCH 2004 sistema de energia elétrica, principalmente o conversor ac/dc a três diodos, bastante difundida em equipamentos residenciais e industriais, devido seu custo inicial reduzido. O valor médio da resistência dc por fase para a conexão Y é dado pela equação (13). RdcYmédio = 12 ⋅ ∑ V. APÊNDICES ab. 1) Dados dos Transformadores Transformadores Trifásicos imersos em óleo mineral cujos números de séries são 6266 e 6267. Ambos transformadores apresentam os seguintes dados de placa:13,8/0,38 kV, 60 Hz, 15 kVA, conexão Delta-Y. 2) Indutância de Dispersão O ensaio em curto-circuito [8] foi realizado com equipamento analisador de energia elétrica de alta precisão (DRANETZ-BMI). Deste ensaio obteve-se como valor médio das indutâncias de dispersões por fase para cada transformador (Lac) e, referido à baixa tensão o valor de: mH 3) Resistência dc Do Ensaio de Resistência dos Enrolamentos em corrente contínua obteve-se o valor de Rdcmédio por fase para cada transformador. O procedimento adotado está de acordo com a conexão do mesmo e, obedece a seguinte seqüência de cálculos: a) Conexão Delta O valor médio da resistência dc para a conexão delta é dado pela equação (11). Rdc∆médio = 32 ⋅ ∑ (Rdc− AB + Rdc−BC + Rdc−CA ) 3 (11) Rdc −bc - Resistência equivalente em dc medida dos terminais bc. Rdc −ca - Resistência equivalente em dc medida dos terminais ca. O valor da resistência em dc equivalente referida à baixa tensão (conexão Y) será determinado pela soma de RdcYmédio mais o valor de Rdc∆ − y referido à baixa tensão. As tabelas VIII e IX mostram os valores encontrados pelos ensaios de resistências dos enrolamentos em dc na temperatura de 25 °C para as resistências em dc nas conexões ∆ (alta tensão) e Y (baixa tensão), para os dois transformadores. Foi utilizado um medidor de resistência em dc de precisão (FLUKE 8508A REFERENCE MULTIMETER). Tabela IX. Resistência dos Enrolamentos em dc para o transformador T1 (Ohms) Rdc − AB 292,20 Rdc −ab 0,1780 Rdc − BC 289,50 0,1780 Rdc −CA Rdc−bc 289,20 Rdc−ca 0,1790 ∑ terminais BC. Rdc −CA - Resistência equivalente em dc medida dos terminais CA. O valor de Rdc∆médio deverá ser modificado para conexão Y pela transformação de impedâncias ∆ -Y, uma vez que, o modelo adotado para todo sistema de medição é o Y. Trabalhando-se com este valor médio, o valor desta transformação ( Rdc∆ −Y ) é o resultado da divisão da equação (11) por três, conforme equação (12). b) Conexão Y (12) ∑ 0,5350 Conexão Y Tabela X. Resistência dos Enrolamentos em dc para o transformador T2 (Ohms) Rdc − AB - Resistência equivalente em dc medida dos terminais AB. Rdc − BC - Resistência equivalente em dc medida dos 867,80 Conexão ∆ onde: Rdc∆ −Y = 13 ⋅ Rdc∆médio (13) 3 Rdc − ab - Resistência equivalente em dc medida dos terminais A. Dados dos Transformadores Lac1médio = Lac2médio = Lac = 0,5087 (Rdc−ab + Rdc−bc + Rdc−ca ) Rdc − AB 289,10 Rdc −ab 0,1850 Rdc − BC 289,50 Rdc −CA Rdc−bc 0,1860 289,20 Rdc−ca 0,1860 ∑ 867,80 Conexão ∆ ∑ 0,5570 Conexão Y O valor adotado nas simulações práticas será o valor médio entre os dois transformadores, já que estes valores são quase idênticos. Para o transformador T1 o valor de Rdcmédio é 0,2025 Ohms. Para o transformador T2 o valor de Rdcmédio é 0,1993 Ohms. Quando se adota o valor médio entre os dois transformadores, o erro cometido é de aproximadamente de 0,75%. LISITA et al.: ADDITIONAL LOSS IN THE CORE OF 55 Finalmente, o valor médio da resistência equivalente em dc (Rdc) referido à baixa tensão por fase na temperatura de ensaio (Tensaio) é: Rdc = 0,2009 Ω O valor desta resistência é corrigido para a temperatura de operação (Top) é dado pela equação (14). Rdc −corrigido = Rdc ⋅ (T op +β) (Tensaio + β ) (14) Onde β é uma constante de temperatura e depende do tipo de condutor. Para o cobre vale 234,5 °C. Erro% Sensor Escala (A) Erro% v11 0-500 0,2 i11 0-75 0,1 v12 0-500 0,2 i12 0-75 0,1 v13 0-500 0,2 i13 0-75 0,1 v21 0-500 0,2 i21 0-75 0,1 v22 0-500 0,2 i22 0-75 0,1 v23 0-500 0,2 0-75 0,1 xxx xxx xxx 0-75 0,1 i23 iN 2) Amostragem dos Dados 4) Modelo T adotado para os transformadores Para a obtenção do Modelo T adotado para os transformadores, é considerado que a indutância de dispersão da baixa tensão é a metade do valor da indutância de dispersão do Modelo L, conforme Figuras 2 e 3 . A resistência ac efetiva da baixa tensão ( Racbaixa ) é composta pela resistência em dc da baixa tensão ( RdcYmédio ) e pela metade do valor da resistência por correntes parasitas em enrolamentos ( RECefi ), referente ao Modelo L. A equação (15) mostra esta composição. Racbaixa = RdcYmédio + 12 ⋅ R ECefi Tabela XI. Precisão dos sensores Sensor Escala(V) As medidas são feitas através do Conversor AnalógicoDigital (ADC) em uma Placa de Aquisição de Dados (DAQ) de 12 bits. Esta placa apresenta 68 pinos com 16 canais disponíveis. Para as medições deste trabalho utilizam-se 13 canais com freqüência de amostragem de 20kS/s (Samples per second). A cada 2s adquire-se 40000 amostras, ou seja, para cada período do sinal amostrado tem-se 333.3 pontos amostrados. Um período do sinal medido de 60 Hz corresponde a 16,7ms e, o tempo entre duas medidas consecutivas é (0,0167s)/333,3 que é igual a 50us. De acordo com o critério de Nyquist o período da máxima harmônica amostrada corretamente é Th = 50 × 3 = 150us . Isto equivale a dizer que a máxima freqüência harmônica é: (15) B. Transdutores utilizados e Placa de Aquisição de Dados(DAQ) Com a utilização de dois transformadores trifásicos conectados back-to-back, Fig. 1, realiza-se as medições pelos lados de baixa tensão, com utilizações de transdutores de tensão e corrente do tipo compensado em malha fechada de alta precisão, conforme Tabela X. Com este procedimento evita-se medições através de transformadores de potencial e de corrente, bem como de divisores de tensão e corrente na aquisição de dados. As vantagens são os menores erros nas medições das próprias correntes e tensões e a outra importante, é trabalhar na baixa tensão. f h = 6666 Hz ou 6666 Hz = 111th que é a ordem harmônica máxima. 60 Para este trabalho, analisou-se até a qüinquagésima harmônica. Portanto, o dimensionamento para o sistema de medição apresenta uma ótima margem de segurança para o sinal amostrado. A Tabela XI apresenta as larguras de faixa dos Transdutores e Placa de Aquisição de Dados (DAQ) Tabela XI. Largura de Faixa dos transdutores e Placa de Aquisição de Dados Largura de Faixa (Bandwidth) Transdutores 1) Precisão dos Sensores A precisão dos sensores de tensão e corrente, bem como seus fundos de escala, é mostrada na tabela X. Corrente Tensão dc – 500 kHz dc – 300 kHz Placa de Aquisição de Dados PCI-MIO16E-1 dc – 1MHz 56 IEEE LATIN AMERICA TRANSACTIONS, VOL. 2, NO. 1, MARCH 2004 VI. REFERÊNCIAS [1] IEEE Std C57.12.90.-1993, IEEE Standard Test Code for LiquidImmersed Distribution, Power, and Regulating Transformers and IEEE Guide for Short Circuit Testing of Distribution and Power Transformers. [2] IEEE Std C57.12.91-1995, IEEE Guid for Loading Mineral-OilImmersed Transformers. [3] Ewald F. Fuchs, et. al., Measurement of Eddy-Current Loss Coefficient PEC-R, Derating of Single-Phase Transformers, and Comparison with K-Factor Approach, IEEE Transactions on Power Delivety, Vol. 5, No.1, January 2000 [4] IEEE,Std C57-110-1998, IEEE Recomended Pratice for Establishing Tranformer Capability When Supplying Nonsinusoidal Load Currents. [5] Measurements Manual, National Instruments, Part Number 322661A01, July 2000. [6] DAQ, PCI E Series User Manual, Multifunction I/O Devices for PCI Bus Computers, National Instruments, Part Number 370509B-01, July 2002 Editon. [7] Arthur W. Kelly, et al., Transformer Derating for Harmonic Currents. A wide-Band Measurement Approach for Energized Transformers. [8] NBR 5380-1993, Transformador de Potência, Método de ensaio. [9] Ewald F. Fuchs, D. Yildirim and T. Batan, Innovative procedure for measurement of losses of transformeres supplying nonsinusoidal loads, IEE Proc. Gener. Transm. Distrib. , Vol 146, Nº 6, November 1999. Luiz Roberto Lisita nasceu em Goiânia, Goiás, Brasil em 11 de janeiro de 1955. Graduou-se em engenharia elétrica pela Escola de Engenharia da Universidade Federal de Goiás em 1980. Trabalhou na área de Planejamento de Distribuição de Energia Elétrica na Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia., é professor na área de máquinas elétricas da Escola de Engenharia Elétrica e de Computação (EEEC) da Universidade Federal de Goiás. Obteve o título de mestre pela EEEC em 2004. Atualmente realiza pesquisas em transforamdores e motores de indução. Alexandre Cândido Moreira – Nasceu em Goiânia em 1981. Graduou-se em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Goiás (UFG) em 2004. Atualmente cursa mestrado na Universidade de Campinas (UNICAMP). Atua na área de aquisição e tratamento de sinais. Adalberto J. Batista nasceu em Uruana, Goiás, Brasil, em 1960. Recebeu o título de Engenheiro Eletricista pela Universidade Federal de Goiás (UFG) em 1984, o título de Mestre pela Universidade Federal de Uberlândia em 1991 e o título de Doutor pela Unversidade Federal de Santa Catarina em 1998. Desde 1985, é professor na Escola de Engenharia Elétrica e de Computação da UFG. Atualmente é coordenador do Núcleo de Estudo e Pesquisa em Processamento da Energia Elétrica e Qualidade (PEQ). Antonio Melo de Oliveira – Obteve os títulos de Bacharel, Mestre e Doutor em Engenharia Elétrica, respectivamente pela Universidade Federal de Pernambuco (1980), Universidade Estadual de Campinas (1985) e Universidade de São Paulo (1993). Trabalhou como Engenheiro Sênior na Comissão Nacional de Energia Nuclear CNEN/S de dezembro/83 a maio/94, onde participou do desenvolvimento do acionamento elétrico das ultracentrífugas para enriquecimento de urânio. Desde 1994 atua como professor da Escola de Engenharia Elétrica e de Computação da Universidade Federal de Goiás, onde desenvolve atividades de ensino, pesquisa e extensão, envolvendo alunos de Graduação e de PósGraduação e onde atualmente é Professor Titular. É membro do Núcleo de Estudo e Pesquisa em Processamento da Energia Elétrica e Qualidade (PEQ). José Wilson Lima Nerys – Nasceu em Conceição do Araguaia, Pará, Brasil, em 1961. Graduou-se em Licenciatura em Física pela Universidade Católica de Goiás em 1983 e em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Goiás (UFG) em 1985. Obteve o título de Mestre em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Uberlância em 1993 e o título de Doutor pela Universidade de Leeds, Inglaterra, em 1999. É professor na Escola de Engenharia Elétrica e de Computação da UFG desde 1986, onde atua nos cursos de graduação e pósgraduação e desenvolve atividades de pesquisa nas áreas de acionamentos elétricos, qualidade da energia. e fontes renováveis. É membro do Núcleo de Estudo e Pesquisa em Processamento da Energia Elétrica e Qualidade (PEQ).