Ano V • Nº 8 • Semestral • Julho de 2003 • Salvador, BA Departamento de Ciências Sociais Aplicadas Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Urbano INDEXAÇÃO: A Revista de Desenvolvimento Econômico – RDE é indexada por: – GeoDados: Indexador de Geografia e Ciências Sociais < http//www.geodados.uem.br > – Universidad Nacional Autónoma de México CLASE Citas Latinoamericanas en Ciencias Sociales y Humanidades: < http://www.dgbiblio.unam.mx > Depósito legal junto à Biblioteca Nacional, conforme decreto nº 1.825, de 20 de dezembro de 1907. Ficha Catalográfica – Sistema de Bibliotecas da Unifacs RDE – Revista de Desenvolvimento Econômico / UNIFACS. Departamento de Ciências Sociais Aplicadas 2. Ano 1, n. 1, (nov. 1998). – Salvador: DCSA2 / UNIFACS, 1998. Semestral ISSN 1516-1684 Ano I, nº 1, nov. 1998 e nº 2, jun., 1999; Ano II, nº 3, jan., 2000 e nº 4, jul. 2001; Ano III, nº 5, dez., 2001; Ano IV, nº 6, julho, 2002 e nº 7, dez. 2002; Ano V, nº 8, julho 2003. A partir do v. 2, nº 3, o órgão de vinculação e editora da RDE passou a ser o Departamento de Ciências Sociais Aplicadas. 1. Economia – Periódicos. II. UNIFACS – Universidade Salvador. CDD 330 Pede-se permuta On demande l´échange We ask for exchange Pede-se canje Si rischiede lo scambo Mann bitted um austausch 2 Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO EDITORIAL Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA EXPEDIENTE: Revista de Desenvolvimento Econômico A Revista de Desenvolvimento Econômico é uma publicação semestral do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Urbano da Universidade Salvador – UNIFACS. UNIVERSIDADE SALVADOR – UNIFACS REITOR: Prof. Manoel Joaquim F. de Barros Sobrinho VICE-REITOR: Prof. Guilherme Marback Neto PRÓ- REITOR DE GRADUAÇÃO: Profª Maria das Graças Fraga Maia PRÓ- REITOR DE PÓS-GRADUAÇÃO: Prof. Luiz Magalhães Pontes PRÓ-REITOR COMUNITÁRIO: Prof. Sérgio Augusto Gomes V. Viana PRÓ-REITOR ADMINISTRATIVO: Profª Verônica de Menezes Fahel DEP. DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS: Prof. Manoel Joaquim F. de Barros PROG. DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL E URBANO – PPDRU: Prof. Alcides dos Santos Caldas CONSELHO EDITORIAL Prof. Dr. Alcides Caldas Profª Dra. Bárbara-Christine Nentwig Silva Prof. Dr. Fernando C. Pedrão Prof. Dr. Noelio D. Spinola Prof. Dr. Pedro Vasconcelos Profª Dra. Regina Celeste de Almeida Souza Profª Dra. Rosália Piquet Prof. Dr. Fossine Cruz Prof. Dr. Sylvio Bandeira de Melo e Silva Profª Vera Lúcia Nascimento Brito Prof. Victor Gradin EDITOR Prof. Dr. Noelio D. Spinola SECRETARIA: Johilda Gonzaga CAPA E EDITORAÇÃO GRÁFICA: Joseh Caldas FOTOLITOS E IMPRESSÃO: CAPA GRÁFICA E EDITORA TIRAGEM: 1.000 exemplares Os artigos assinados são de responsabailidade exclusiva dos autores. Os direitos, inclusive de tradução, são reservados. É permitido citar parte dos aartigos sem autorização prévia desde que seja identificada a fonte. É vedada a reprodução integral de artigos sem a formal autorização da redação. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA: Alameda das Espatódias, 915 - Caminho das Árvores, Salvador, Bahia, CEP 41820-460 - Tel.: 71-273-8557 E-MAIL: [email protected] [email protected] Departamento de Ciências Sociais Aplicadas Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Urbano – PPDRUU RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Após consideráveis esforços para superar as dificuldades de financiamento, um problema crônico de quem tenta trabalhar com ciência e cultura no Brasil, notadamente no Nordeste, edita-se o oitavo número da Revista de Desenvolvimento Econômico (RDE), uma publicação do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Urbano – (PPDRU) vinculado à Universidade Salvador – Unifacs. Este número contém sete artigos que tratam de temas variados, porém compatíveis com a linha da revista, que se dedica aos estudos relacionados com o desenvolvimento econômico, especialmente o regional e urbano, nestes últimos incluídos assuntos vinculados ao meio ambiente e ao turismo. O primeiro artigo resulta de um texto submetido para apresentação na Conferência Internacional sobre a Subsistência Rural, Florestas e Biodiversidade, realizada em maio de 2003, em Bonn, Alemanha. Escrito por um conjunto de especialistas no tema, o artigo trata do desenvolvimento e do debate sobre questões de certificação florestal direcionada para produtos florestais alternativos às madeiras (non-woods forest products), no plano do desenvolvimento sustentável, apresentando três estudos de caso na Bolívia, Gana e Namíbia. O papel das redes de cooperação nos “distritos industriais rurais” é o segundo artigo desta edição: constitui uma contribuição original de Marcos Arzua Barbosa que trata de um tema de grande relevância para a Bahia e para o Brasil, no âmbito da teoria do desenvolvimento local. Por seu turno, a implantação de indicações geográficas protegidas, através da criação de um sistema de denominação de origem, como estratégia de desenvolvimento do território baiano, a qual busca a agregação de valor aos seus produtos, é uma necessidade no ambiente de globalização. Sobre isto discorre Alcides do Santos Caldas no terceiro artigo da série. Do global ao local: globalização, desenvolvimento sustentável e ecologia – os três grandes paradigmas do fim do século é o tema abordado por Luís Coelho de Araújo, no quarto artigo da série. Nesse trabalho, o autor busca traçar a dinâmica histórica e o estágio atual dos paradigmas, de natureza planetária, que mobilizam a sociedade e a economia mundial nesses anos de transição do séc. XX para o séc. XXI: a globalização e seus efeitos em todos os países, o desenvolvimento sustentável – ao mesmo tempo um conceito em discussão e uma força transformadora das questões ambientais e sociais, pelas esperanças e expectativas que carrega consigo – e a ecologia, uma bandeira verde desfraldada em defesa do meio ambiente e de uma melhor qualidade de vida, vinculando estreitamente os seus resultados às ações dos agentes econômicos globais ante as novas exigências dos mercados, dos governos e da sociedade organizada, por uma sustentabilidade que se inicia nos menores lugares e procura afirmar-se em todo mundo. Na parte reservada para os estudos relacionados com o turismo, Paulo Rodrigues dos Santos escreve sobre a crise regional, a diversificação econômica e o desenvolvimento social, examinando a problemática turística da cidade baiana de Ilhéus. O autor, nesse trabalho, pretende trazer elementos para uma avaliação do papel da dimensão política na determinação da condição de não-regionalidade local. Procurando cobrir todas as áreas de concentração do PPDRU, a revista contempla, também, a área de desenvolvimento urbano, apresentando o artigo de Lídia Aguiar sobre a revitalização da área do comércio: estratégias alternativas para Salvador. Esse artigo foi elaborado a partir da dissertação defendida pela autora no Mestrado em Análise Regional da Unifacs, versando sobre a revitalização da área conhecida popularmente como o “comércio” localizada na “Cidade Baixa”, antigo centro comercial e financeiro de Salvador. A autora aborda o processo de decadência da área e as iniciativas que vêm sendo promovidas para a sua revitalização, sob um enfoque que se direciona, cada vez mais, para novas formas de desenvolvimento local. Assim, é analisada no artigo a evolução da área, do ponto de vista histórico e físico-espacial, caracterizando seus principais aspectos e apreciando as principais propostas atuais que estão sendo apresentadas no sentido de favorecer a sua recuperação . O penúltimo artigo, de Terezinha Brumatti Carvalhal e Antonio Thomaz Júnior, aborda um tema relevante e inovador, o da questão do gênero na atividade sindical em uma cidade média paulista, sob a perspectiva da geografia do trabalho . Fechando a edição, é apresentado o trabalho de Fernando Alcoforado que trata do Desenvolvimento do Estado da Bahia nos últimos 50 anos. Este artigo tem como principal objetivo avaliar as políticas governamentais de desenvolvimento econômico e social do estado da Bahia, implementadas nos últimos 50 anos à luz da experiência dos países líderes do capitalismo mundial ao longo da história e, particularmente, pelos países da região do pacífico asiático no século XX. A RDE é uma produção coletiva que deriva dos esforços de toda a comunidade que participa do PDRU, notadamente do seu Mestrado em Análise Regional. Busca abrir espaços para a produção acadêmica represada pelo obscurantismo dos donos do poder, coerentemente insensíveis em relação à academia. Mas a revista sobreviverá porque é movida pela esperança, idealismo e teimosia dos que a produzem. Nossa luta continua. Salvador, julho de 2003 Noelio Dantaslé Spinola Editor Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 3 SUMÁRIO ARTIGOS 5 IMPACT OF CERTIFICATION ON THE SUSTAINABLE USE OF NWFP LESSONS-LEARNT FROM THREE CASE STUDIES. SVEN WALTER, DAVE COLE, WOLFGANG KATHE, PETER LOVETT AND MARCELO PAZ SOLDÁN. 19 CAMBIO ESTRUCTURAL Y DESARROLLO ECONÓMICO LOCAL: EL PAPEL DE LAS REDES DE COOPERACIÓN EN DISTRITOS INDUSTRIALES RURALES. MARCOS ARZUA BARBOSA 25 AS DENOMINAÇÕES DE ORIGEM COMO UNIDADE DE PLANEJAMENTO, DESENVOLVIMENTO LOCAL E INCLUSÃO SOCIAL. ALCIDES DOS SANTOS CALDAS 33 DO GLOBAL AO LOCAL: GLOBALIZAÇÃO, DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E ECOLOGIA – OS TRÊS GRANDES PARADIGMAS DO FIM DOS SÉCULOS. LUÍS COELHO DE ARAÚJO 40 CRISE REGIONAL, DIVERSIFICAÇÃO ECONÔMICA E DESENVOLVIMENTO SOCIAL: O CASO DO TURISMO EM ILHÉUS. PAULO RODRIGUES DOS SANTOS 50 REVITALIZAÇÃO DA ÁREA DO COMÉRCIO: ESTRATÉGIAS ALTERNATIVAS PARA SALVADOR LÍDIA AGUIAR 59 A QUESTÃO DE GÊNERO NOS SINDICATOS DE PRESIDENTE PRUDENTE, SP, SOB A PERSPECTIVA DA GEOGRAFIA DO TRABALHO. TEREZINHA BRUMATTI CARVALHAL E ANTONIO THOMAZ JÚNIOR 70 4 O DESENVOLVIMENTO DO ESTADO DA BAHIA NOS ÚLTIMOS 50 ANOS FERNANDO ALCOFORADO Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO IMPACT OF CERTIFICATION ON THE SUSTAINABLE USE OF NWFP1: LESSONS-LEARNT FROM THREE CASE STUDIES2 Sven Walter3, Dave Cole4, Wolfgang Kathe5, Peter Lovett6 and Marcelo Paz Soldán7 Abstract Although the development of and debate on forest certification currently focuses on wood products, certification is also relevant to nonwood forest products (NWFP). While discussions on NWFP certification have increased recently, the applicability and impact of certification as a tool to promote the sustainable use of NWFP remains unclear and less debated.This paper aims at contributing to this discussion by analysing the status of certification of three well-known NWFP using case studies from their main exporting countries: brazil nuts (Bertholletia excelsa) in Bolivia, sheabutter (Vitellaria paradoxa) in Ghana and devil’s claw (Harpagophytum spp.) in Namibia. For this purpose, the principle production systems and producers as well as the trade in and markets for the products have been investigated. In addition, the actual and potential use of forest management, organic, social and product quality certification have been analysed.All three case studies have shown that trade in certified NWFP is still marginal compared to the trade of non-certified products. Major challenges of NWFP certification include lack of market demand, high costs of certification system establishment and difficulties in establishing a monitoring system due to the dispersion of collectors. However, the case studies also highlighted benefits of certification such as the provision of higher prices for producers and promotion of the establishment of a functioning monitoring system. Positive influences on tenure rights and local empowerment were identified as possible additional benefits of certification but the examples show that other factors might emerge as more significant side benefits from NWFP certification. The environmental impact of certification on the exploitation of NWFP depends very much on the nature of the resource used. Key Words: Regional development, forest certification, non-wood forest products. Resumo O artigo trata de três estudos de caso realizados na Bolívia, Gana e Namíbia relacionado com os processos de certificação de produtos não florestais. RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO 1 2 3 4 5 6 7 Palavras-chave: desenvolvimento regional; certificação florestal; produtos florestais não-madereiros. 1. Introduction The issue of forest certification is a highly discussed and disputed topic in the forestry sector. The discussion on certification emerged due to identification of the potential benefits that could be provided by this concept. These benefits might include: i) provision of binding and verifiable agreements between key actors; ii) strengthening or clarifying of user rights; iii) provision of valueaddition and market premium prices for certified products; iv) empowerment of normally disadvantaged stakeholders, especially local communities; v) acting as a catalyst of social reform processes through stakeholder participation and consultation; vi) provision of market niches for specific products or services and vii) encouragement of the establishment of collaborative partnerships and/or global allian- Non-Wood Forest Products. Paper submitted for presentation at the International Conference on Rural Livelihoods, Forests and Biodiversity19-23 May 2003, Bonn, Germany. The authors would like to thank Victor Antwi (TechnoServe), Frank Barsch (Consultant to TRAFFIC), Christine Holding Anyonge (FAO), Susanne Honnef (TRAFFIC), Roland Melisch (TRAFFIC), and Paul Vantomme (FAO) for their support and contributions. FAO, Forest Products Division, Non-Wood Forest Products Programme, Viale delle Terme di Caracalla, 00100 Rome, Italy, www.fao.org. Centre for Research Information Action in Africa, Southern Africa Development and Consulting (CRIAA SA-DC Namibia), P. O. Box 23778, Windhoek, Namibia, www.criaasadc.org. TRAFFIC Europe, Boulevard Emile Jacqmain 90, 1000 Bruxelles, Belgium, www.traffic.org. Consultant to TechnoServe Ghana, P.O. Box 135, Accra, Ghana, www.technoserve.org/africa/ ghana-overview.html. Consultant to Nuevo Milenio, [email protected], Cochabamba, Bolivia. Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 5 ces between producers and consumers for the responsible use of forest resources (GTZ, 2002; KRUEDENER v., 2000; FAO, 2000). However, forest certification might also create disadvantages for producers and other stakeholders. These disadvantages include high financial and managerial costs and reduced short-term revenue due to lower output volumes (FAO, 2000). Although the development of and debate on forest certification currently focuses on wood products, certification is also relevant to NWFP. While discussions on NWFP certification have increased recently, the applicability and impact of certification as a tool to promote the sustainable-environmentally friendly, economically viable and socially equitable - use of NWFP remains unclear and less debated (see e.g. FALLS BROOK CENTRE, undated; NTFP DEMONSTRATION PROJECT, undated; VIANA et al., 1996; MALLET, 1998; FSC NTFP WORKING GROUP, 1999; MALLET, 2000; MALLET & KARMANN, 2000; MAAS & ROS-TONEN, 2000; FOREST STEWARDSHIP COUNCIL UNITED STATES, 2001; PIERCE et al., 2002 and most recently the comprehensive study by GUILLEN et al., 2003). This paper aims at contributing to this discussion by analysing the status of certification of three wellknown NWFP using case studies from their main exporting countries: brazil nuts (Bertholletia excelsa) in Bolivia, sheabutter (Vitellaria paradoxa) in Ghana, and devil’s claw (Harpagophytum spp.) in Namibia. For this purpose, the main production systems, producers and the trade in and markets for the products have been investigated. 2. Theory Certification is defined by the International Organization for Standardization (ISO, 1996) as a procedure by which written assurance 6 is given that a product, process or service is in conformity with certain standards. Although different definitions and categories exist, the main types of certification schemes distinguish between first, second and third party certification as well as between system-based and performance-based certification (see annex). Certification schemes relevant for the use of and trade in NWFP not only focus on forest management certification, but also include certification schemes mainly used in the agricultural sector such as social (fair and ethical trade) and organic certification. A fourth major certification system identified focuses on product quality. Forest management certification programmes often focus on ecological aspects of resource management, both at the forest and species or product level (e.g. chain-of-custody certification). Many different programmes exist on international, regional and national levels (e.g. Forest Stewardship Council, FSC; Pan European Forest Certification Programme, PEFC), which focus almost exclusively on timber products and include NWFP only marginally. Social certification systems, such as fair and ethical trade (e.g. Fair Trade Labelling Organization, FLO; Trans Fair, International Federation of Alternative Trade), assure that labour conditions are acceptable and benefits are equally shared among those involved in production and trade. These initiatives foster business partnerships and management supply chains, which include secure and fair commercial deals and support the provision of market information (KRUEDENER v., 2000). Organic agriculture (e.g. International Federation of Organic Agricultural Movements, IFOAM, EU Regulation 2092/91) is a holistic production management system which promotes and enhances Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA agroecosystem health, including biodiversity, biological cycles, and soil biological activity...” (FAO/ WHO, 1999a). Wild crafted and semi-domesticated NWFP can also be considered as organic and many NWFP such as pine nuts, mushrooms, herbs and honey are increasingly commercialized as organic food products. Product quality certification (e.g. Good Manufactory Practices, GMP; Good Laboratory Practices, GLP) aims at ensuring that defined production standards have been taken into consideration. These standards focus on the product itself as well as the way it is processed and manufactured. Product quality parameters include product identity, purity, efficiency and safety. These parameters are relevant for a wide range of internationally traded NWFP mainly used in the food and pharmaceutical industries. Key opportunities and challenges with regards to NWFP certification have been documented by Walter & Vantomme (2003) and are presented in Table 1. 3. Methodology The FAO NWFP Programme aims at analysing the relevance and applicability of certification in the field of NWFP as a means of i) increasing market opportunities and revenues for NWFP producers, and ii) encouraging sustainable management of the resources providing NWFP. Relevant literature on NWFP certification has been reviewed and documented (Walter, 2002a; Walter 2002b; Walter & Vantomme, 2003; Walter et al., 2003). In addition to the literature review, case studies have been commissioned by FAO in order to assess the (potential) impact of certification on the sustainable use of NWFP. These case studies cover different product categories, geographical areas and certification schemes and compare the use of certified and uncertified products. RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TABLE 1. NWFP certification: key requirements, opportunities and challenges Source: Based on Walter & Vantomme (2003) This paper summarizes the preliminary results of three case studies: brazil nuts exported from Bolivia for the food industry (FAO, 2003a); sheabutter exported from Ghana for the food and cosmetic industries (FAO, 2003b); and devil’s claw exported from Namibia for pharmaceutical and non-pharmaceutical markets (FAO, 2003c; FAO, 2003d). It is mainly based on a secondary literature review and interviews with key stakeholders, which provided an overview on the use of the respective products and documented relevant standards and certification schemes. 4. Findings 4.1 Certification of brazil nuts (Bertholletia excelsa) in Bolivia Product & Markets Brazil nuts produced for the international food market are mainly sold as raw nuts and used for the preparation of teas and ice cream. The oil of brazil nuts is also used for cooking, in lamps, soaps and hair conditioners. The mean annual production is estimated by FAOSTAT (2003) at 62 000 t (1997-2002). The main producing countries are Bolivia (48% of world production) and Brazil (43%) and the main consumer countries are the USA (36% of world RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO imports in 1997-2001) and the United Kingdom (UK, 18%). The mean annual export value is estimated at US$66 million (1997-2001), which corresponds to 1% of the international nut trade (SEARCE, 1999). Production & Producers The brazil nut is the fruit of the Bertholletia excelsa tree, which is found in its natural and wild form in the Amazon forests of Bolivia, Brazil, Peru, Guyana, and Colombia. The main stakeholders involved in brazil nut production in Bolivia are processors (beneficiadoras), concession holders (barracas), middlemen (contratista) and gatherers (zafreros). Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 7 TABLE 2. Production of and trade in brazil nuts Source: FAOSTAT (2003). The centre of the Bolivian brazil nut industry is the northern city of Riberalta, where 20 processing plants in 2002 employed 2 500 quebradoras (workers responsible for cracking the brazil nuts), 4 000 helpers, 650 permanent manufacturing workers and 1 300 temporary workers. Some 180 concessions have been issued to barracas; current trends show a process of vertical integration, in which concessions are being transferred to processing units. The harvest (zafra) period coincides with the rainy season. In December more than 15 000 people go deep into the forest to collect brazil nuts and do not return until February or March. These harvesters are hired on behalf of the barracas by contradista through the so-called habilito, which is an informal contract system in which a beneficiadora, barraquero or contractor pays a sum of money in advance to their brazil nut collector (zafrero) for future production. From March to December the same labor force that participated in the collection moves to the processing plants where the beneficiado takes place. to collect the crop only in this area. Collection areas are controlled by certifiers such as ImoControl Latino America and Bolicert, who verify that there are no contamination risks, garbage containers, etc. in the collection area. This does not mean, however, that the area is designed for the exclusive use of one specific beneficiadora; other beneficiadora/barracas may also collect nuts in this area in order to trade them as conventional products. Volumes and values of organically certified and exported brazil nuts are still low. Export values of organic brazil nuts reached on average 2.2% of total exports per year between 1993 and 2001 (Augsburger, 1996; FAOSTAT, 2003; N.R. Santalla, Bolivian Association of Organization of Ecological Producers (AOPEB), pers. comm., 2003; O. Status of Certification Chevez, Northwestern brazil Nuts Out of the 24 existing processing Beneficiadores Association (ABAN), plants in Bolivia, only two sell pers comm., 2003). Production voorganically certified nuts according lumes of Bolivian organic brazil to the European Regulation 2092/ nuts reached 213 t in 2001 (0.6% of 91 and the National Organic Pro- total production), of which parts gramme (NOP) regulations and were destined to the fair trade market. incorporating some aspects from The price paid for fair trade brazil the guides for the organic collection nuts is usually higher than world of Naturland and the FSC certifi- market prices as a means of enacation standards. bling farmers to attain a favourable For one of the organic brazil nut trading position (see Table 3). The exporters, the authorized area for main importers of organic brazil the wild collection of brazil nuts is nuts are Rapunzel Naturkost (Ger350 000 ha. This area is composed of many), Community Foods (USA), discontinuous Amazon forests se- Horizon Natuurvoeding (The Neparated by pastures, roads, urban therlands) and El Puente (Gercentres and small agricultural areas many). and is located in the Department of Following a consultation process Pando (Bolivian northern region). that started at the beginning of 1998, The certified company is authorized the Bolivian Council for Voluntary Forestry Certification TABLE 3 (CFV) elaborated the Price for brazil nuts Bolivian Standards for (US$ per kg FOB) Brazil Nut Forestry Management Certification (CFV, 2001). The promotion of this certification is based on the principles and procedures for the developSource: N.R. Santalla, pers. comm. (2003); O. Chevez, pers. comm. ment of forestry certi(2003) 8 Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO fication standards from FSC. Until now, neither brazil nut collection nor processing have been certified according to the FSC standards, mainly due to legal issues related to land access. Quality standards include the Codex Alimentarius (e.g. international codes for nut tree sanitation, hazard analysis control point system) and ISO 9002, which provide guidelines for the establishment of quality systems. Certification of brazil nuts in Bolivia – some lessons learnt Certification of brazil nuts is still rudimentary. However, producers are becoming more interested in certification since FOB prices for certified brazil nuts are 15-35% higher compared to the price paid for non-certified products. In the case of one Bolivian exporter, a farmers’ cooperative, the extra money received is shared among all members. Brazil nuts are already derived from an environmentally friendly production system without any inorganic inputs. The main obstacles for brazil nut certification in Bolivia are the limited international demand for certified products and the country’s unclear land tenure situation. Since 1980, a general trend of rising brazil nut exports has been observed. This increase was accompanied by a reduction of international market prices, which has affected the revenues of the sector making it necessary to increase export volumes. The conditions to access international markets are becoming more and more difficult because of the growing amount of mandatory and voluntary regulations that have to be followed by Bolivian brazil nut exporters. Bolivian regulations are based mainly on European standards as they are considered stricter than their North American counterparts and so fulfilment qualifies the product for both markets. Even though a large amount of Bolivian brazil nuts leave the country as conventional, uncertified products, they still have to meet a series of specifications required by importers. These certificates only document measurements with regard to the aflatoxins level. 4.2 Certification of sheabutter (Vitellaria paradoxa) in Ghana Product & Markets Shea products exported from Africa are mainly used in the food industry (margarines and confectionary). The most important commercial use is as one of only six plant species whose vegetable fat can be used in the production of cocoa butter equivalents (CBEs) for addition to chocolate products (Official Journal of the European Communities, 2000). Recently, as the beneficial properties of sheabutter have been realised, there has been a growing demand (estimated at 1 000-3 000 t per year) for utilization in cosmetic and pharmaceutical products. Locally, sheabutter is used for a multitude of purposes, the most important being cooking the cheapest source of vegetable oil in semi-arid sub-Saharan West Africa (Abbiw, 1990; Lamien et al., 1996). Apart from the fat or oil extracted from the kernels, other benefits and products of V. paradoxa are also known (e.g. fruit pulp, caterpillars, wood, fuelwood). Total annual production of sheanuts is estimated by FAOSTAT (2003) at approximately 640 000 t per year (1997-2002) although gross estimates are extremely variable due to inaccurate assessments of local markets and the fact that often only export figures are readily available (HALL et al., 1996). The main producing countries are Nigeria, Mali and Burkina Faso, and the main exporters are Ghana and Burkina Faso (see Table 4). Production & Producers Vitellaria paradoxa occurs in the ‘agroforestry parklands’ of semiarid Africa (PULLAN, 1974; RAISON, 1988; BOFFA, 1999), defined by BONKOUNGOU et al. (1994) as TABLE 4 Production of and trade in sheabutter (1997 – 2002) Source: FAOSTAT (2003). RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 9 “land-use systems in which woody perennials are deliberately preserved in association with crops and/ or animals in a spatially dispersed arrangement and where there is both ecological and economic interaction between trees and other components of the system”. The main selection stage of V. paradoxa occurs when fallow (rarely virgin woodland) is cleared. Most immature individuals are removed and only selected large trees are maintained on cultivated land. The selection criteria used for mature trees are based primarily on fruit productivity (as a function of age, health and size) and competitive effects with annual crops (determined by tree size, leaf density and spacing). New recruits for farmland shea populations are selected from regeneration by not cutting and then protecting from fire, during the cyclical clearing of fallow land (LOVETT and HAQ, 2000). Sheanuts are collected by women and children early in the rainy season (April-August). Women have the main rights to harvest from land cultivated by their families but as the harvest progresses, longer distances must be covered as fruit near homesteads is quickly collected. Open access collection rights are granted in fallow or woodland areas though women usually prefer to harvest on cleared land claiming fewer risks from snakes or scorpions and that trees produce higher yields because fires occur before flowering (GRIGSBY & FORCE, 1993). Most sheabutter sold on western markets is extracted and/or refined in developed countries although in the last few years locally processed sheabutter is also being used in cosmetics. These include the BodyShop, which buys approximately 100 t annually from Ghana (TAWIAH, 1994; A. JONES, pers. comm., 1996) and COVOL Uganda, which aims to add value at the source by assisting local farmers to produce an exportable grade of sheabutter 10 (MASTERS & PUGA, 1994). Recently there has been increased demand for crude, in-country extracted butter for export to, and refining in, Europe, with the aim of saving in waste, transport and labour costs. The demand for this type of sheabutter from Ghana was 6 000 t during the 2002/3 season although technical hitches have resulted in about half this target being met. Status of Certification Although there have been a number of past and current attempts to export organic sheabutter, currently this industry is still in its infancy. There is, however, much interest in sourcing organic sheabutter for the manufacture of organic chocolates (five year supply contracts have been offered) and ‘natural’ personal care products. It is often claimed that shea trees are ‘wild’ (since they are almost never traditionally planted) and could therefore be certified under ‘wild-crafting’ schemes such as the Standards for Organic Farming & Production of the Soil Association. The degree of management afforded to shea in the agroforestry parklands and the fact that shea trees are usually intercropped at some stage in their life, suggest that a suitable certification scheme would be either one already used for other ‘horticultural fruit’ production systems or one that is designed specifically for these indigenous parklands. Any organic certification for shea should also include at least an attempt to show where the next generation of trees will come from. Given that most shea is already produced in a sustainable system with no inorganic inputs (since few subsistence farmers in the ‘shea zone’ can afford them), a key issue is the lack of a transparent chain-ofcustody arrangement from harvest to final sheabutter and information on farm location, management methods, etc. for many hundreds or Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA thousands of illiterate small-scale rural producers. There are few recorded examples of some hundreds of tonnes of strictly ‘fairly traded’ sheabutter since organizations such as the Fairtrade Labelling Organizations International (FLO) demand a high degree of transparency and documentation. A number of organizations have, however, developed their own internal standards for fair trade processing and purchase of their raw materials, such as the trade in sheabutter between women cooperatives in Northern Ghana and the BodyShop in the UK. The fair trade market place has seen rapid growth in recent years due to consumer awareness and offers many opportunities for sheabutter processors. The benefit of fair trade is that only simple changes are needed for basic certification: formation of registered groups of women processors that receive a higher than local-market price for their product. More widely and internationally recognized forms of fair trade certification are also possible but require better recordkeeping and working conditions. Existing examples of fair trade have relied on the ‘buyer’ to offer higher prices to certain groups that are then assisted by external ‘development’ agencies. If, in the future, more fair trade-linked organizations would offer advice and support to those groups, increased access to existing market opportunities could be provided to shea producers and other stakeholders. One commonly cited constraint to improving the sheabutter market is the consistency of quality. Complaints are focused on butter colour, smell, texture, etc., and many tests are performed to check quality. Full laboratory analysis is often expensive and for a non-expert, this analysis can be bewildering. A more concise set of standards or a grading system, simple to perform without the need for expensive laboratories RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO or procedures, has therefore been called for. Key beneficiaries of improved quality could be local producers as the value addition for quality would be directed to the source. Unfortunately, constraints in terms of lack of traceability, mechanisms to ensure product quality and customer confidence often hinder the application of product quality standards. Due to the nature of the agroforestry parkland system - indigenous ‘wild’ trees inter-cropped with annual crops in a managed farming cycle - sheabutter is not truly a product of a wild ‘forest/woodland’ system and therefore does not easily fit under forest certification programmes. Certification of sheabutter in Ghana – some lessons learnt Although the quantities of certified sheabutter currently available are limited, demand is estimated to be in the range of thousands of tonnes, making this potential market an extremely attractive proposition if current constraints can be overcome. The two main constraints responsible for the low volume of certified sheabutter are market demand and traceability. Firstly, the obvious market for a certified product (with premium price potential) is the personal care and cosmetic market, which is still a small portion of the total trade of sheabutter. An even smaller portion of this market is actually sourced locally as opposed to that from ‘refined’ sheabutter from the trade in western processed sheanuts. Since traditional sheabutter can easily be obtained at low prices in village markets there has been little incentive to attempt certification, particularly if these ‘new’ businesses have other costs when entering the marketplace. The second and possibly most important reason is that traceability is crucial for certification. Given the vast land area and number of small- holders necessary to produce a value is added at source and the caurealistic tonnage of sheabutter for se of these increased benefits are export, the logistics and costs invol- clearly highlighted in the comved are tremendous. It is therefore munity. It is clear that demand for only possible with ‘developmental’ sheabutter is on the increase but, in support, either from the private the absence of mechanisms to encousector or non-governmental organi- rage improved management, it is zations. produced from a resource which is Although only rudimentary heavily under threat from an ininformation exists, it would seem creasing population and alternative that the resource poor women in the land uses. semi-arid lowlands of Ghana (and across the rest of the African shea 4.3 Certification of devil’s zone) would be able to benefit claw (Harpagophytum spp.) economically from the application in Namibia of certification systems if these two obstacles could be overcome. There Product & Markets The African devil’s claw (Harpais also a huge opportunity for entrepreneurs with the requisite gophytum spp.) is a medicinal plant, capital, and willingness to take which is both used in traditional risks, to link with women proces- medicine and traded on the internasors and increase/share in these tional market. In the main consumer benefits. In the case of fair trade, the countries (USA and EU countries), rules of this certification system will devil’s claw is chiefly used for its also dictate that a good proportion effects to treat articular ailments of the benefits are received by the such as osteo-arthritis and rheumawomen. It is uncertain, however, tism (CHRUBASIK & SHVARTZhow large the market place is for MAN 1999; DEUTSCHE APOTHE‘fair traded’ sheabutter and how KERZEITUNG, 2001; CHRUBASIK necessary links with other certifi- & EISENBERG, 1999). In 2001, total cation systems will be to ensure a trade reached 700 t, mainly supplied premium price (organic or quality). by Namibia (92% of world exports) The biggest hurdles for organic as well as Botswana (5%) and South certification are the start-up costs Africa (3%). The main importer is and time required to ensure ‘proof’. Germany (459 t imported from In the absence of grants to support Namibia), followed by France and this, it is likely that economically South Africa (CITES, 2002). Namiempowered individuals/compa- bian exports of devil’s claw are nies will be required as partners. estimated to be worth more than The question therefore arises as to US$1.5 million and possibly as how benefits will be shared with the much as US$ 2.2 million in foreign less empowered stakeholders. Cer- exchange earnings per annum, tification of locally-produced high- which represents a significant conquality sheabutter (by simple low- tribution to the country’s economy cost methods) offers some of highest (COLE & DU PLESSIS, 2001). potential for increasing TABLE 5 the benefits to the rural Export* and production** of devil’s claw poor because it will cir(t) cumvent the need for, and price control by, overseas refining (LOVETT, 2003). Following examples in Uganda, it is predicted that impact on the environment will be positive if Source: CITES (2002) RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 11 Production & Producers Devil’s claw is found in most Southern African countries in the sandy Kalahari areas. H. procumbens is mainly found in Namibia but also occurs in Botswana, Zimbabwe and South Africa. H. zeyheri occurs in the above countries as well as in Angola, Zambia and Mozambique (COLE & DU PLESSIS, 2001). H. procumbens is preferred on the market, because it is said to have a higher concentration of active ingredients. These ingredients are mainly found, in both species, in the secondary roots (storage tubers), which are used exclusively as raw material for producing devil’s claw products. Concern regarding the sustainability of devil’s claw sourcing was highlighted at the international level when, at the eleventh Conference of the Parties of the Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna and Flora (CITES) in 2000, Germany proposed that both species, H. procumbens and H. zeyheri, be listed on Appendix II. Namibia and other Southern African range states did not support the listing and the proposal was withdrawn largely on the basis of a lack of scientific data available to support the listing of Harpagophytum spp. However, certain decisions were made to facilitate continued monitoring of the trade in devil’s claw. Sustainable wild collection can be achieved if only some of the secondary tubers are removed, the taproot is not disturbed and the hole that had to be dug in the ground to get at the roots is refilled after the removal of tubers (COLE & DU PLESSIS, 2001). Although commercial cultivation of devil’s claw is receiving attention, these efforts face considerable obstacles such as the plant’s low germination rate, disease control and economic viability (see e.g. DE JONG, 1985; cited in KUMBA et al., 2002). Production of cultivated devil’s claw for 2002 was estimated at between four to six 12 tonnes (COLE, 2002) and 40–50 t (FAO, 2003d). In terms of supply, four main groups of stakeholders in Namibia can be distinguished: harvesters, middlemen, exporters and importers (COLE, 2002). Harvesters are drawn from the very poorest sections of society, who earn a minimal living under the most marginal of agricultural and socio-economic conditions. It is estimated that between 5 000 and 10 000 harvesters in Namibia rely on the harvesting and sale of devil’s claw to generate cash income. For many harvesters, the sourcing of devil’s claw from the wild is the prime or even only source of income. It is estimated that between 50 and 100 middlemen link individual and group harvesters with exporters. For the period 1995 to 2002 there were 17 Namibian exporters, each having exported at least two tonnes of dried devil’s claw in total (and many others, exporting very small quantities). For this same period, nine exporters exported 100 tonnes or more. In general, exporters have additional sources of income and the contribution from the export of devil’s claw to their incomes is relatively small (between 2.5% and 25%). Between 60%-80% of all devil’s claw supplied by Namibian exporters went to international buyers that clean, grade, pre-process (grinding) and repack it. Only 12% of the exports went directly to extractors/ manufacturers (excluding the unknown percentage that a major buyer may have extracted/manufactured itself). During the period 1996 to November 2002 one buyer accounted for 25% of all Namibian supplies (LOMBARD, 2002). Status of Certification Organic certification of devil’s claw that has been collected from the wild has been documented for two projects. In South Africa, appro- Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA ximately 10 t are collected per year on about 10 000 ha of farmland for the German market and certified by ECOCERT (HANNIG, MARTIN BAUER GMBH, pers. comm.; ORDOWSKI, ECOCERT International, pers. comm). In Namibia, the Sustainably Harvested Devil’s Claw (SHDC) Project provides between 1.6 t (2002) and 10.2 t (1999) per year collected in an area of 307 415 ha and certified by the Soil Association. The price paid for organically certified devil’s claw corresponds to 150% of the price paid for nonorganic material (export data provided by the Ministry of Environment and Tourism (MET) and SHDC). The entire quantity of organically certified devil’s claw supplied by the harvesters of the SHDC project was sold to a company that was not producing an ‘organically certified’ or an equivalent product, despite a higher price having been paid for the material. Other German companies also obtain their material from sustainable ‘organic’ production using internal, company specific standards that may be no less strict than standards required for certification. These companies do not use third party certification systems for financial reasons (FRANKE, SALUS-HAUS, pers. comm.). A variety of possible product quality certification schemes are of potential interest to companies trading in botanicals and producing herbal medicine such as devil’s claw products. Management certification according to ISO 9000 is of minor importance to the companies, because German law already requires an equivalent for pharmaceutical companies and the ISO 9000 certification of companies in the source countries is of no obvious relevance for marketing issues or legal requirements. Certification schemes relating to product quality such as ‘good practices’ seem to become increasingly RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO • Prohibition to advertise organic certification directly on product labels in Germany according to the German Law on Advertising Drugs; and • Greater concern of buyers with the level of active ingredients as opposed to other issues such as sustainability. Table 6. Quantities of organic and non-organic production of devil’s claw in Namibia Note: The above prices are prices paid to exporters by buyers (FOB). The prices for organic material are based on SHDC data. The prices for non-organic material are based on information obtained from exporters as part of the National Devil’s Claw Situation Analysis (in press) and reflect an average price only. The exchange rate used is based on the average US$ / Namibian dollar exchange rate for that particular year. Source: MET and SHDC export data important, especially those relating to the sourcing of raw material such as ‘Good Agricultural Practices’ (GAP) or ‘Good Wild Collection Practices’ (various abbreviations). In recent years, China, Japan, and the European Union have developed such guidelines and the World Health Organization (WHO) is about to develop a similar document. Product quality is the main criterion for the pharmaceutical companies. Regulations on this issue have become stricter in recent years and companies have been forced to adapt. Ecological and social aspects of sustainability are typically still poorly addressed by product quality certification guidelines; however, most stakeholders involved in medicinal plants sourcing, trade and production have increasingly become aware that ecological and social aspects of sourcing and trade are relevant parameters for product quality. Social certification systems such as fair trade initiatives have not yet been widely recognized by consumers of species used for medicinal purposes. However, especially with products such as the African devil’s claw, the potential for such certification systems seems to be relatively high. Fair trade certification initiatives related to Harpagophytum were already carried out by Ham- bleden Herbs and were found to provide higher prices (12 times higher compared to conventional products) paid to individual harvesters and community controlled funds by creating direct links between harvesters and international buyers (Leith, undated). Despite these positive results, in general, social certification is still in less demand than organic certification. Certification of devil’s claw in Namibia – some lessons learnt The presently lower volumes of supply of organically certified devil’s claw can be attributed to: • Lack of demand for certified material from buyers, manufacturers and end users; • Reluctance on the part of buyers to pay higher prices for certified material; • Logistical, institutional and resource management difficulties at various levels related to meeting certification standards; • High costs of certification caused by the current market price and the supply of larger volumes of less expensive non-certified material; • Difficulties in establishing an effective monitoring system; • Insufficient availability of data on the size and distribution of Harpagophytum populations and ecology; RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Good practice guidelines could easily be linked to organic and social certification systems and could promote a participatory structure of these systems in which the companies themselves take over the responsibility for the monitoring and documentation of raw material sourcing. The real potential of these guidelines largely depends on the companies, while the influence of the consumer and even of authorities is rather limited. During the last two years, the market for devil’s claw has expanded; in addition to pharmacies, also drugstores and supermarkets have started to offer various devil’s claw products that are sold as ‘traditional pharmaceuticals’. This could result in an increase in sales figures because large wholesalers sell almost exclusively goods produced in mass production. However, these wholesalers, and consequently also the producers supplying the wholesalers, usually calculate with extremely tight margins. Therefore, this growing market would probably not promote the use of certified material. 4.4 Lessons-learnt The discussion of the case studies has shown that traceability, tenure rights, rural livelihood/ empowerment, market potential, costs, harvesting and mainstreaming are among the key issues with regard to NWFP certification. A summary of the preliminary lessons learnt from the three case studies with regard to these key issues is documented in Table 7. Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 13 TABLE 7 Preliminary lessons learnt from case studie 14 Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TABLE 7 Preliminary lessons learnt from case studie RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO (Conclusion) Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 15 5. Conclusions References All three case studies have shown that trade in certified NWFP is still marginal compared to non-certified products. Major challenges of NWFP certification include i) lack of market demand; ii) difficulties in establishing a monitoring system due to the dispersion of collectors and, in the case of devil’s claw, iii) high costs for the establishment of a certification system. On the other hand, it was shown that certification of NWFP provides, in general, higher prices for producers (although these products are not necessarily commercialized as certified products) and promotes the establishment of a functioning monitoring system. Positive influences on tenure rights and local empowerment were identified but the examples show that other factors might have more influence on these issues. The environmental impact of certification on the exploitation of NWFP depends very much on the kind of resource used. As many NWFP such as sheabutter and brazil nuts are already exploited in a sustainable way, the ecological impact of certification is negligible. However, other cases of destructively exploited resources providing NWFP are known (e.g. devil’s claw). For these resources, certification might promote the environmental friendly collection of these resources. Although difficult to assess, it is estimated that certification has a positive impact on the production of and trade in conventional, uncertified products by providing a model for the sustainable use of NWFP. However, this influence is obviously limited due to the variety of factors influencing the production of and trade in NWFP. A BBIW , D.K. 1990. Useful plants of Ghana, West African uses of wild and cultivated plants. Intermediate Technology Publications and The Royal Botanic Gardens, Kew, London. 66-67. 16 AUGSBURGER, F. 1996. Agricultura ecológica en Bolivia: ¿Una opción para la economía campesina?. Ruralter No. 15. (p. 265-279) BLOWFLIELD, M. undated. Ethical trade: A review of developments and issues. Third World Quarterly 20:4. Also available at www.nri.org/NRET/3wqart.pdf BOFFA , J.M. 1999. Agroforestry Parklands in sub-Saharan Africa. FAO Conservation Guide, No. 34. (forthcoming – final draft seen). BONKOUNGOU, E.G., D.Y. ALEXANDRE, E.T. AYUK, D. DEPOMMIER, P. 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(2003) Números anteriores: Secretaria da Revista: Johilda Gonzaga Tel.: (71) 273-8557 - e-mail: [email protected] 18 Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO CAMBIO ESTRUCTURAL Y DESARROLLO ECONÓMICO LOCAL: EL PAPEL DE LAS REDES DE COOPERACIÓN EN DISTRITOS Marcos Arzua Barbosa1 Resumo Este artigo analisa brevemente o papel das redes de cooperação interempresariais nas novas funções previstas para as chamadas zonas industriais ( distritos industriais) rurais. Começa debatendo as reformas estruturais dinamizadas pela globalização.Em seguida discute alguns efeitos das pressões para o aumento da competitividade em alguns setores localizados em territórios com insuficiências socioeconômicas importantes, como na Europa rural mediterrânea – e na América Latina. Finalmente, destaca, com base na teoria do desenvolvimento local, a importância das instituições que apóiem a cooperação, o ajuste tecnológico e financeiro nas economias locais, respeitando, porém, suas especificidades geográficas e culturais. Palavras-chave: globalização, desenvolvimento local, especialização flexível,distritos industriais, redes de empresa. Resumen Este artículo analiza brevemente el papel de las redes de cooperación interempresariales en los nuevos roles previstos para las llamadas zonas industriales (distritos industriales) rurales. Empezamos por el debate sobre las reformas estructurales dinamizadas por la globalización. Luego, discutimos algunos efectos de las presiones por elevación de la competitividad en deter- minados sectores ubicados en territorios con insuficiencias socioeconómicas importantes, como en la Europa rural mediterránea – y Latinoamérica.Finalmente, destacamos, según proposiciones del desarrollo local, la importancia de de unas instituciones que apoyen la cooperación, y el ajuste tecnológico y financiero, en las economías locales, pero respectando sus especificidades geográficas y culturales. Palabras-clave: Globalización. Desarrollo Local. Especialización Flexible. Districtos Industriales. Redes de Empresas. Introducción A lo largo de la última década, el nuevo contexto de globalización de la economía mundial ha acelerado el dinamismo del cambio económico e institucional. La profundidad del cambio estructural consecuente ha evidenciado la necesidad de adaptar los marcos institucionales, tecnológicos y competitivos a los nuevos ambientes territoriales local, regional, nacional e internacional. Sin embargo, las políticas ortodoxas de ajuste estructural (en general) siguen enfocando la estabilidad macroeconómica, tratando de mantener los equilibrios básicos de carácter monetario, y orientando en mayor medida las respectivas economías hacía los mercados internacionales, suponiendo que con ello se asegura el desarrollo económico. En RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO realidad, hubo ejemplos (frecuentes en Latinoamérica) en los que la desregulación y la privatización no han podido lograr criterios de eficiencia y calidad en los mercados de servicios y bienes. Las políticas de reforma estructural, sí, han tendido a mejorar el funcionamiento de los mercados, suprimiendo obstáculos y rigideces derivadas del sistema centralizador de regulación estatal del pasado. Por otro lado, algunas versiones simplistas de este tipo de políticas, propugnan las ventajas del “Estado mínimo” evitando la discusión sobre nuevos roles más flexibles y cercanos al territorio, en un contexto distinto, que obliga a adaptaciones sócio-institucionales en los procesos de regulación. Asumimos que el Estado y el mercado no son esferas necesariamente antitéticas. No obstante, el funcionamiento de la actividad empresarial no se realiza en el vacio, sino que se encuentra en una localización geográfica, dentro de un conjunto de organizaciones (universidades, institutos de investigación, bancos, sindicatos, asociaciones privadas, etc.) y cadenas productivas – con proveedores de factores, de un lado, y con clientes y consumidores, de otro. Es decir, se debe “localizar” la empresa, tanto en su territorio concreto, como en su “cluster” (red o 1 Doutor em Economia da Indústria e da Tecnologia (Universidade de Córdoba – Espanha).Professor (NRD6) do Mestrado em Planejamento Regional e Gestão de Cidades da Universidade Cândido Mendes. E-mail [email protected] Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 19 “ ... el ajuste macroeconómico debe enfocar la identificación de “nichos internacionales” de mercado... ” agrupamiento) respectivo, dentro de mecanismos más o menos predecibles de relaciones de mercado. La eficiencia productiva no depende tan sólo de lo que ocurra al interior de la empresa, en términos de su reorganización inteligente. También es resultado de la dotación, orientación y calidad de las infraestructuras básicas y los servicios avanzados de apoyo a la producción existente en su entorno territorial, y de la eficiencia alcanzada en el conjunto de relaciones y redes existentes en el agrupamiento al que pertenezca dicha empresa. tecnologías, líneas de comercialización, cooperación entre empresas, etc., son aspectos de un mercado de factores estratégicos que se puede fomentar territorialmente por medio de la concertación estratégica público-privada. Pero, se requiere acompañar esas acciones con políticas microeconómicas, así como adaptaciones socio-institucionales desde el nivel mesoeconómico. De hecho, lo largo de las dos últimas décadas surgió, a nivel mundial, un conjunto diverso de iniciativas locales de desarrollo, creando nuevas actividades, empresas, o nuevos empleos por medio de: i. ii. iii. Las adaptaciones al cambio estructural en sectores de los territórios Parece patente que las empresas no protagonizan en solitario la pugna competitiva en los mercados, sino que también realizan transacciones con el entorno territorial e institucional en el que dichas empresas se encuentran, el cual, también explica el patrón de los contratos que median las relaciones, la eficiencia productiva y competitividad empresarial. La existencia de recursos humanos cualificados, la vinculación del sistema de capacitación con el perfil productivo de cada territorio, el acceso a líneas apropiadas de financiación para las Pequeñas y Medianas Empresas (en adelante PYMES), la disponibilidad de información, 20 iv. v. El estímulo de la innovación y del fomento de la iniciativa empresarial, a fin de facilitar, mediante políticas desde la oferta, los microajustes en la actividad productiva local; la organización de redes de interdependencia entre empresas y actividades ligadas a los mercados; el impulso de la diversificación productiva basada en la diferenciación y calidad de productos y procesos productivos, así como en la mejor identificación de la segmentación de la demanda y emergencia de nuevos mercados; la valorización de los recursos endógenos existentes en cada territorio; la búsqueda de nuevas fuentes de empleo, evitando el convencional supuesto que conecta la solución del desempleo a la recuperación del crecimiento económico. Ello, supone un proceso (evidente principalmente en los EUA y en el seno de la UE) de movilización de los agentes implicados en los procesos de desarrollo local, a fin de construir los sistemas de información empresarial pertinentes en cada territorio, mejorar la base innovadora, la cualificación huma- Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA na, la orientación de las infraestructuras básicas, la coordinación de los instrumentos de fomento para las PYMES, el acceso a líneas de financiación, y, para crear la institucionalidad apropiada para el desarrollo territorial. La gestión de las iniciativas de desarrollo local exige reconocer que la inserción de sólo algunos segmentos de actividades productivas al núcleo globalizado de la economía mundial no resulta suficiente para difundir las innovaciones tecnológicas y sociales. De ahí, el ajuste macroeconómico debe enfocar la identificación de “nichos internacionales” de mercado, con políticas territoriales orientadas a estos objetivos de transformación productiva de los sistemas locales de empresas. El territorio no debe, pues, confundirse con la visión en términos de espacio homogéneo que incorpora la macroeconomía convencional. El territorio es un actor decisivo de desarrollo, sin el cual no es posible dar respuestas completas ni eficientes al cambio estructural, en esta fase histórica de transición tecnológica, social e institucional. Desde el surgimiento del concepto de “distritos industriales”, aportado por la literatura económica italiana, han ido emergiendo en diversos países de Europa Occidental iniciativas locales que constituyen una adaptación a las nuevas exigencias estructurales, desde una articulación en redes de los diferentes agentes socioeconómicos locales (empresas, investigadores, municipalidades). Se trata de incorporar mayores opciones a las técnicas productivas conocidas, por vía de una mejor vinculación entre los sistemas de formación y los sistemas productivos y distributivos locales. Según Albuquerque (1997), el desarrollo no se difunde por una sola vía (la basada en la gran empresa, la producción a gran escala y la gran concentración urbana), sino que también se despliega por la via RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO de los sistemas locales de empresas o distritos, los cuales muestran también su eficiencia en la organización productiva, al tiempo que indican cómo, desde los territorios, es posible impulsar políticas sectoriales de desarrollo, a pesar de las dificultades del actual contexto internacional. La capacidad para fortalecer sectores, identificar nuevos productos y procesos productivos, así como nuevos segmentos de mercado y oportunidades de negocios depende, de forma determinante (sobre todo en el caso de las PYMES), de la construcción de mecanismos de cooperación y vínculos institucionales que faciliten la formación de redes entre empresas y mayor eficiencia en los encadenamientos existentes entre las mismas y otros agentes relevantes. Generar sinergias entre agentes provoca externalidades positivas y permite reducir considerablemente los costes de transacción. De esta forma, se constituye un espacio “meso” de organización de mercados, al ser una posición intermedia entre las decisiones privadas internas de las empresas y las políticas gubernamentales de carácter general. No se cuestiona con esto el principio genérico de que el mercado sea mejor sistema de gestión entre la oferta y la demanda; pero algunas intervenciones se justifican para ayudar al refuerzo de tales mecanismos de mercado, o para la corrección de sus imperfecciones, ya que dicho funcionamiento nunca es genérico, sino que se sitúa en un contexto institucional determinado. De este modo, la construcción de redes de cooperación entre empresas, y entre empresas y su entorno, para acceder a los servicios avanzados a la producción, permite reducir significativamente los costes de transacción e incrementar la eficiencia en esos mercados de servicios o factores estratégicos. En esto consiste la eficacia de la existencia de distritos industriales, o de los sistemas locales de empresas, al facilitar la información desde el lado de la oferta productiva (relación entre PYMES y grandes empresas) en el ámbito territorial. Zonas Industriales Rurales (Distritos Industriales La atención prestada en los últimos años a las zonas rurales demuestra una interpretación más compleja de la articulación entre las instituciones económicas locales y externas. El interés en dichas zonas tiene su origen en la bibliografía sobre especialización flexible y el neoinstitucionalismo. El punto de partida para el estudio de las regiones industriales es el trabajo de Alfred Marshall (1920)2 para quien la eficiencia económica podía lograrse no sólo a través de las economías de escala de las grandes empresas en expansión, sino también en los grupos de pequeñas empresas aglomeradas espacialmente y situadas en “zonas industriales” concretas. De acuerdo con Caldentey (1998), se considera que el papel de las autoridades locales y regionales en el desarrollo de los distritos industriales ha sido importante (formación, infraestructuras e investigación) pero no fue el elemento principal. Para el autor, el distrito industrial es un caso especial de distintos tipos de relación entre la producción y el territorio. Así, propone que se trata de un análisis esencialmente empírico - apoyado en los recientes desarrollos teóricos - sobre diferentes relaciones entre estructuras productivas basadas en las PYMES y territorios específicos. Distintos autores ampliaron el concepto de distrito industrial con la discusión sobre “sistemas productivos locales”, en la que consideran la existencia de situaciones intermedias entre desarrollo endógeno y desarrollo exógeno en cuan- RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Sólo en Italia “ se han identificado más de sesenta zonas industriales... ” to a que los procesos de decisión pueden estar repartidos entre agentes interiores al territorio y agentes exteriores. Según Caldentey (1998), “un sistema productivo local es definido como un modelo organizativo de la producción con fuertes interrelaciones entre el sistema productivo y el sistema socio-institucional local, de manera que intervienen tres dimensiones: económica, territorial y social”. Al igual que la discusión propuesta anteriormente, el interés de los investigadores que estudian las zonas industriales se ha centrado en la necesidad de abandonar explicaciones del cambio de carácter global. Como resultado, las nuevas zonas industriales han sido analizadas por los interesados como formas de organización económica basadas en la (arriba citada) “especialización flexible” en oposición al modelo “fordista” de desarrollo. Fanfani (ver Vipraio, 1996) acuñó las expresiones “zona agroindustrial” o “zona agroalimentaria” para introducir una dimensión explicitamente rural y agraria al estudio de las zonas industriales. Las zonas agroindustriales se encuadran en el contexto de una integración, cada vez mayor, entre la producción, la elaboración y la comercialización de alimentos. Sólo en Italia se han identificado más de sesenta zonas industriales, muchas de las cuales se caracterizan, desde un punto de vista geográfico, por conglomerados de pequeñas ciudades rodeados de regiones rurales. 2 Estudiado en profundidad por Bellandi (1989). Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 21 “ Las tecnologias utilizadas en cada empresa son muy similares y no plantean problemas de comprensión a los agentes locales... ” En el período de posguerra en Italia, como en la mayor parte de la Europa rural, tuvo lugar un aumento de la concentración espacial de los distintos tipos de producción agraria. La estrechas interconexiones creadas entre las explotaciones agrarias locales, la industria de transformación, los distribuidores y los minoristas, contribuyen a mejorar la flexibilidad necesaria para la adptación a los cambios tecnológicos y del mercado, y, al mismo tiempo, permiten que el valor añadido en los aspectos no agrarios de la cadena alimentaria permanezca en las economías locales y no sea absorbido por empresas de alimentación exógenas. La concentración de empresas y explotaciones de producción alimentaría especializada (incluidos los proveedores de factores) y los centros de transformación de alimentos en áreas o regiones específicas permiten que, en el marco del sistema local, las empresas intercambien productos semielaborados en lo que podríamos denominar un proceso de producción colectiva caracterizado por el bajo nivel de los costes de transacción. Las tecnologias utilizadas en cada empresa son muy similares y no plantean problemas de comprensión a los agentes locales. Este entorno tecnológico local garantiza que los costes de información también sean bajos. Además, como es conocido, las relaciones entre las empresas locales 22 no se regulan únicamente conforme a las leyes y reglamentos nacionales formales, sino también por medio de normas y costumbres (instituciones informales) locales. Así, Becattini (1990) señala que las zonas industriales disponen de “una densidad local de relaciones industriales duradera y constituyen una red compleja de externalidades positivas y negativas y legados histórico-culturales”. Por supuesto, esta densa red de relaciones sociales, económicas e institucionales es un elemento clave para comprender el éxito de las zonas agroindustriales. En ese sentido, según Amin (1993), hay cuatro rasgos de las zonas industriales de éxito que tampoco pueden relacionarse de una forma simplista con los costes: (a) dependencia entre empresas; (b) estructuras de sociabilidad; (c) entorno industrial local y (d) densidad institucional. La dependencia entre empresas se basa en la especialización productiva, no a escala individual, sino en el marco de un sistema integrado caracterizado por “una división de tareas detallada entre productores especializados que se benefician del ahorro de costes generado por una especialización más basada en las tareas que en los productos” (Amin, 1993). Con las estructuras de socialidad, o “integración industrial local”, se hace referencia a la adaptación de la división del trabajo habitualmente relacionada con la “especialización a lo largo de una cadena productiva generadora de valor añadido y en los servicios empresariales afines”. La integración local de dicha cadena no es un elemento predeterminado y se basa en la capacidad de los centros locales de establecer mercados de un tamaño suficiente para generar una demanda sostenible de productos intermedios de otros proveedores locales. El entorno industrial local representa “la consolidación de un área con centro de creación de cono- Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA cimiento, capacidad de innovación, capacidad empresarial y difusión de información en el marco de un sector industrial local”. En estas condiciones, las fortalezas de una zona, desde el punto de vista competitivo se basan en la utilización de tecnologias flexibles polivalentes y de destrezas técnicas, la adaptabilidad productiva y el fluxo de información y conocimiento técnicos a través de todos los canales del sistema económico local (empresas, instituciones). De esta forma, el conocimiento se crea y difunde colectivamente en un entorno de sociabilidad y confianza aprendidas. Para que estos mecanismos funcionen, es necesario que las redes de instituciones medien en los conflictos y faciliten la cooperación. Esta “densidad institucional” constituye el cuarto rasgo de una zona industrial señalado por Amin y se define como “una fuerte presencia institucional, es decir, la existencia de múltiples organizaciones amparadas por instituciones, formales e informales, (cámaras de comercio, centros de innovación, instituciones financieras, agencias de formación, asociaciones comerciales, sindicatos, autoridades locales, agencias de gubernamentales, consejos de comercialización) altamente interactivas, que facilitan una confianza generalizada en la representación colectiva”. Los rasgos institucionales de las zonas industriales a los que se hizo referencia nos indican la compleja naturaleza de las relaciones locales que se ponen de manifiesto en los estudios de caso específicos. No obstante, todavia no se ha desarrollado una teoría que permita analizar estas combinaciones y vínculos institucionales. La capacidad de comparar y compreender las distintas zonas industriales depende de una investigación teórica rigurosa. Amin (1993), por ejemplo, analiza un conjunto de estudios de caso de la “Tercera Italia” (Emilia-Romagna, Toscana, las Marcas, los Abruzzos, Veneto) y distin- RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO gue “diferencias significativas entre ellos en cuanto a su orígenes y su consolidación como zonas industriales”. Para este autor, “en el marco de la nueva ortodoxia, casi todos los ejemplos de vida económica localizada nueva o pujante en los que se detectan ciertos signos de colaboración entre unidades especializadas se considera necesariamente una zona industrial”. Pero, es notable que, incluso en las zonas de alta tecnología de Estados Unidos se distinguen diferencias acusadas en cuanto a organización social entre áreas como las de Silicon Valley. Así, especulamos con la posibilidad de que existan varios tipos de nuevos complejos productivos muy diferentes entre sí, cuyo desarrollo no se guía por una estructura dominante de transformación. El papel de la interacción en las redes de empresas A medida que las jerarquías económicas nacionales y regionales sucumben a las tendencias de globalización, los vínculos internos y externos de las regiones se someten a una amplia reestructuración. Desde un punto de vista optimista, respaldado por casos como los de Tercera Italia, se hace hincapié en la descentralización de la gestión y la producción como un proceso que puede dar lugar a la creación de nuevos complejos de relaciones y vínculos locales que sirvan de base a la regeneración de regiones anteriormente marginales. No obstante, resulta más habitual que la cristalización de las redes interempresariales y las alianzas entre sectores no constituya un fenómeno localizado y, por tanto, una base para la consolidación de las economías locales, sino que implique la formación de una red mundial de vínculos empresariales a lo largo de la cadena de generación de valor añadido. Considerando la distinta y, en ocasiones, divergente naturaleza de las zonas industriales rurales que logran el éxito, y sus diferentes procesos de integración en las nuevas configuraciones económicas (o de exclusión de las mismas), no cabe duda de que los enfoques teóricos destinados a determinar las razones de estos resultados deben caracterizarse por la flexibilidad y la capacidad de explicar las prácticas existentes. En este contexto, deben abodarse la generación de valor y el control en las cadenas de producción y consumo, cuestiones clave pra explicar el éxito de dichas zonas. Resaltar aspectos como la densidad institucional exige conocer el modo en que se establecen las asociaciones entre actores económicos, el ejercicio del control y obtención del valor. Utilizar la terminología de asociaciones o redes permite analizar la integración local de éstas en las regiones, sus relaciones con el exterior y las condiciones que permiten una retención eficaz del control y del valor por parte de los agentes locales (Murdoch, 1995). Estas cuestiones suelen analizarse en relación con el paradigma de las redes propuesto por Cooke y Morgan (1994). En un estudio de las nuevas tendencias de la estrategia empresarial y el desarrollo regional describen el modo en que varios teóricos han utilizado las “redes”. Puede considerarse que el paradigma antes aludido marca la aparición de una forma económica relativamente distinta en la que las transacciones no se realizan mediante intercambios discretos ni autorizaciones administrativas, sino a través de redes de individuos o instituciones que llevan a cabo acciones de apoyo mutuo, recíprocas y preferentes. Es decir, la complementariedad y la adaptación constituyen la piedra angular de las redes de producción eficaces. De acuerdo con Cooke y Morgan (1994), una gama amplia y cada vez mayor de actividades empresariales parece ajustarse actualmente al RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO modo de organización en redes. Las dos formas de organización económica más extendidas hasta el momento - basadas en el mercado y en la jerarquía, respectivamente -, acusan imperfecciones en el primer caso y rigideces en el segundo. Estos sistemas “se encontraban muy polarizados (y) no conseguían intergrar una amplia gama de actividades económicas consistentes en formas de colaboración entre empresas, como las alianzas estratégicas, las asociaciones entre compradores y proveedores, las empresas conjuntas y los consorcios empresariales”. Se considera que esta creación de redes interempresariales en las que participan proveedores y subcontratistas está impulsada por el cambio tecnológico, la reducción de la vida de los productos, los mercados a medida de los clientes, las presiones competitivas, etc. Según Green y Dos Santos(1992), las prácticas de creación de redes también pueden observarse a escala intraempresarial. Las empresas se ven cada vez más obligadas a coordinar sus actividades internas con mayor eficacia, y la mayoría de las multinacionales tiende a pasar de una organización centralizada a otra basada en redes integradas. La terminología de los análisis de redes permite considerar con algún detalle el modo en que ciertos conjuntos de asociaciones llegan a tener un gran éxito (en lo que refiere a control y valor añadido), mientras que otros desaparecen. No obstante, aún reconociendo el valor de este Las empresas “ se ven cada vez más obligadas a coordinar sus actividades internas con mayor eficacia... ” Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 23 enfoque, consideramos erróneo tratar de equiparar las redes a una nueva época económica como el posfordismo. Sin embargo, no se propone que las redes constituyan un fenómeno de nuevo cuño y que el mercado y las relaciones jerárquicas estén desapareciendo. Evitamos los prejuicios respecto a la naturaleza de las relaciones en las redes: se admite que los intercambios pueden ser desiguales; ciertos actores pueden encontrarse en una posición mejor que otros para determinar la forma de las redes, así como algunos pueden asumir mayor poder de conexión con los sistemas económicos internacionales, lo que alimenta la formación de poderes discriminatorios de mercado. Finalmente, proponemos como cuestión fundamental la profundización del análisis teórico sobre el modo en que las instituciones económicas tradicionales pueden adaptarse al paradigma de las redes. Referencias ALBUQUERQUE, F. “Cambio Estructural, Desarrollo Económico Local y Reforma de la Gestión Pública”. CEPAL /ILPES. Santiago. Chile. 1997. AMIN, A. “The globalization of the economy: an erosian of regional networks?”. In: GRABHER, G. (ed.): “The embedded firm: on the socioeconomics of industrial networks”. Ed. Routledge. London and New York. 1993. 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CEDRE – CENTRO DE ESTUDOS DO DESENV OL VIMENTO REGIONAL DESENVOL OLVIMENTO O CEDRE realiza estudos e pesquisas, elabora projetos e presta consultoria nas áreas de: • ECONOMIA REGIONAL E URBANA (Análises regionais para programas de desenvolvimento – Avaliações e acompanhamento de programas de fomento – Estudos de viabilidade econômica – Estudos setoriais de oportunidades de investimento – Estudos de localização industrial – Projetos de implantação e ampliação de empresas – Diagnósticos municipais – Planejamento espacial e econômico nos planos macro e microeconômicos – Planos diretores de desenvolvimento urbano – análises urbanas). • TURISMO E MEIO AMBIENTE (Planejamento turístico macro e microeconômico – Estudos de viabilidade econômica de empreendimentos turísticos – Projetos turísticos – Estudos de impactos ambientais (Rima). Sendo uma instituição universitária o CEDRE não tem finalidades lucrativas e opera em termos bastante accessíveis para as prefeituras municipais e as pequenas e médias empresas . Tel: (71) 273 - 8528 E-mail: [email protected] 24 Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO AS DENOMINAÇÕES DE ORIGEM COMO UNIDADE DE PLANEJAMENTO, DESENVOLVIMENTO LOCAL E INCLUSÃO SOCIAL Alcides dos Santos Caldas1 Resumo A implantação de indicações geográficas protegidas, através da criação de um sistema de denominação de origem, como estratégia de desenvolvimento do território baiano, a qual busca a agregação de valor aos seus produtos, é uma necessidade no ambiente de globalização. As regiões e os lugares assumem uma perspectiva singular de oportunidades de novas formas de organização do território, desenvolvimento tecnológico, inclusão social e melhoria de qualidade vida das comunidades locais. A última Cúpula da Organização Mundial do Comércio (Cancún, 2003), garante o direito ao cidadão de obter informações da procedência do seu consumo alimentar. Essa nova tendência da sociedade mundial e reforçam a necessidade da instalação desse Sistema na Bahia como forma de agregar valor aos produtos, associar ao território a marca ou origem do produto, promovendo a inclusão social e contribuindo para a redução das desigualdades regionais. Palavras-chave: denominação de origem, organização do território, desenvolvimento local, desenvolvimento regional, inclusão social. Resumen La implantación de indicaciones geograficas protegidas, a través de la criación de un sistema de denominación de origen, como estrategia de desarrollo del território baiano, la cual busca añadir valor a sus productos, es una necesidad en el ambiente de globalización. Las regiones y los lugares asumen una perspectiva singular de oportunidades de nuevas formas de organización del território, desarrollo tecnológico, inclusión social y mejora de calidad vida de las comunidades locales. La última Cumbre de la Organización Mundial del Comércio (Cancún, 2003), garantiza el derecho ciudadano de obtener informaciones de la procedencia de su consumo alimentar. Esa nueva tendencia de la sociedad mundial reforza la necesidad de la instalación de ese Sistema en Bahia como forma de añadir valor a los productos, asociar al território la marca u origen del producto, promocionando la inclusión social y contribuyendo para la reducción de las desigualdades regionales. Palabras-clave: denominación de origen, organización del territorio, desarrollo local, desarrollo regional, inclusión social. (OMC), ficou estabelecido o nãoaumento dos subsídios para os produtos agrícolas da União Européia e dos Estados Unidos. Nesse evento, foi também debatida a segurança alimentar, destacando-se questões relacionadas com a procedência dos produtos para o consumo, uma das exigências dos mercados mais exigentes como o europeu, o norte-americano e o japonês. A importância desse assunto para as regiões periféricas como a nossa deve estar na ordem do dia. Uma das estratégias para se alcançar esses mercados é informar ao consumidor o modo de produção, a elaboração e a procedência do produto, como também a forma de fazê-lo, comercializá-lo e distribuí-lo. Assim, a certificação de um produto sob as determinações de uma denominação de origem é também uma forma de enfrentar as barreiras não tarifárias estabelecidas no comércio internacional. Aliás, este é um quesito fundamental para se atingir: a rastreabilidade alimentar, uma das principais reivindicações do consumo alimentar mundial. Logo se torna premente reconhecer 1 1 Introdução Após o encerramento da Cúpula de Cancún (2003), convocada pela Organização Mundial do Comércio RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Geógrafo (UFBA, 1986); Mestre em Arquitetura e Urbanismo (UFBA, 1995); Doutor em Geografia (Universidade de Santiago de Compostela-Espanha, 2001). Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Urbano da UNIFACS. [email protected] Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 25 o direito do consumidor de conhecer a qualidade, as características de produção e a procedência do que se está consumindo. Vivemos atualmente numa economia globalizada, a qual Santos (1994, p. 48) definiu como [...] uma estrutura de relações econômicas que abarca todo o planeta, em que as condições de vida de uma localidade estão influenciadas pelas relações econômicas que esta mantém com o resto do globo. É o estágio supremo da internacionalização, a ampliação do sistema-mundo de todos os lugares e de todos os indivíduos, embora em graus diversos. Para atender a essas exigências, regiões e localidades devem passar por processo de reestruturação/ estruturação em sua base local de produção, revisitando o seu território, identificar as potencialidades e descobrir novas formas produtivas, através do uso da criatividade, visando a adequar-se às nova exigências do mundo globalizado e inserir-se neste contexto. Este tema foi destaque na Cúpula de Cancún (2003), quando a União Européia defendeu a adoção de regras mais precisas para regulamentar rótulo de origem de alimentos e bebidas. A pretensão da União Européia era que a OMC aumentasse o apoio às “indicações geográficas”, principalmente a de 41 nomes de regiões produtoras de vinhos2 e de queijos3. Isso significa que apenas os produtos de certas regiões tradicionais da Europa, como o vinho La Rioja, da Espanha, e o queijo Roquefort, da França, poderiam ter etiquetagem dessas indicações geográficas. Dessa forma, a região argentina de La Rioja, a qual recebeu o nome de La Rioja dos colonizadores espanhóis, ficaria proibida de mencionar essa indicação geográfica em seus vinhos, ou seja, a província teria que abandonar o direito de usar esse nome em seus produtos. Essas questões, em época de globalização, trazem para a escala do local desafios que necessitam ser 26 “ O conhecimento da procedência do produto de consumo torna-se uma exigência dos consumidores... ” superados, com o fim de buscar a organização da produção, a melhoria tecnológica dos processos produtivos, a geração de emprego e renda, o aumento da auto-estima dos produtores. O desenvolvimento local dentro da globalização é uma resultante direta da capacidade dos atores e da sociedade locais se estruturarem e se mobilizarem, com base nas suas potencialidades e a sua matriz cultural, para definir e explorar suas prioridades e especificidades, buscando a competitividade num contexto de rápidas e profundas transformações. No novo paradigma de desenvolvimento, isto significa, antes de tudo a capacidade de ampliação da massa crítica e da informação. (BUARQUE, 1999, p.15). Local não é sinônimo de pequeno e não se refere necessariamente à diminuição ou redução. Pelo contrário, considera a maioria dos que trabalham com a questão local que não se trata de um espaço micro, podendo ser tomado, como unidade local, um município ou uma região compreendendo vários municípios ou parte desses. De acordo com Franco (2000, p. 16), o desenvolvimento local é entendido como Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA [...] um novo modo de promover o desenvolvimento que possibilita o surgimento de comunidades mais sustentáveis, capazes de suprir as suas necessidades imediatas; descobrir ou despertar para valorização de suas potencialidades e possibilidades; e fomentar o intercâmbio externo, aproveitando-se de suas vantagens locais. Portanto, as políticas de desenvolvimento local convertem-se numa necessidade premente para as diversas localidades que buscam incluir-se no processo produtivo. Este artigo tem o objetivo de discutir a necessidade da implantação de indicações geográficas protegidas, através da criação de um sistema de denominação de origem, como estratégia de desenvolvimento do território baiano, a qual busca agregação de valor aos seus produtos. O ponto de partida é a convicção de que as regiões e lugares, a partir de suas especificidades e potencialidades, podem encontrar formas de transformações de suas realidades, em busca de melhoria da qualidade de vida, a partir dos processos globais. A última Cúpula da Organização Mundial do Comércio de Cancún (2003) discutiu temas relevantes para as regiões periféricas que buscam inserir-se no contexto global. O conhecimento da procedência do produto de consumo tornase uma exigência dos consumidores e, nesse sentido, é preciso buscar formas de atendê-la. As regiões baianas devem adequar-se a esta nova realidade e, para isso, a organização dos produtores, a uniformização da produção, sob critérios de qualidade, o marketing local/regional e a articulação dos processos de comercialização são atividades que devem ser implementadas. O artigo começa numa perspectiva histórica, apresentando e conceituando as denominações de origem e sua evolução no mundo, na 2 Vinhos aguardentes: Beaujolais, Bordeaux, Bourgogne, Chablis, Champagne, Chianti, Cognac, Grapa (di Barolo, del Piemonte, di Lombardia, del Trentino, del Venetto, etc. Graves, Liebfraumilch, Malaga, Madeira, Medoc, Porto, Ouzo, Rhin, , etc. 3 Asiago, Comte, Feta, Fontina, Gorgonzola, Grana, Padano, Manchego, Mozzarella di Bufala Campagna, Parmeggiano, Reggiano, Reblochon, Roquefort, Queijo de São Jorge. RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO América Latina e no Brasil, demonstrando que a tendência atual é a de garantir ao consumidor transparência dos processos produtivos. Em seguida, é enfocada a estrutura das denominações de origem e apresentada a proposta de criação do Conselho e da Agência de Regulação e Desenvolvimento da Denominação de Origem. Essas duas instituições seriam também responsáveis pela mobilização dos atores sociais, pelas ações de desenvolvimento local e regional, visando a metas de inclusão social. Por fim, encontra-se a discussão sobre a possibilidade da implantação de um sistema de denominações de origem como estratégia de desenvolvimento do território baiano. 2 As denominações de origem: conceito e história O desenvolvimento mais significativo da cultura e regulamentação técnica e legal das denominações de origem procede, indiscutivelmente, da Europa. Legendre (1995) assinala que é muito antigo o costume de designar os produtos com o nome do lugar de sua fabricação ou de sua colheita. Por exemplo, o queijo Roquefort adquiriu sua notoriedade sob o nome de seu local de origem desde o século XIV. Interessante notar que, desde o século XVI, já havia a preocupação em se proteger os vinhos produzidos na Galícia, especificamente na Comarca do Ribeiro, conforme foi publicado nas Ordenanças municipais de Ribadavia, em 1579, as quais dizem: [...] que non se debe meter viño na vila de partes onde non se colle bo, o que producirá gran dano porque baixo unha cuba de bo viño que se pode cargar sobre mar, polo tanto, non se pode metr viño algún na vila en ningún tiempo del año, de la otra parte del rio Miño, ni dende el rigueiro de Jubín para fuera, ni dende el puente de Paoz para arriba, ni dende la Lazea de Fontán de “ As denominações de origem são um meio eficaz para identificar e assegurar a qualidade de um produto... ” Mendo abaixo, ni dende la Baroza arriba y desde los dichos términos a dentre se pueda meter en la dicha vila. (apud EIJÁN, 1920, p. 344). As denominações de origem vinculam-se às regiões especializadas na produção e elaboração de determinados produtos, os quais apresentam características semelhantes, seja na forma de fazê-los, produzilos ou coletá-los. A utilização de denominações de origem pressupõe a delimitação de territórios onde a produção, as práticas culturais, as produções máximas, os sistemas de elaboração, o controle de qualidade, a base tecnológica, a qualificação profissional, o marketing, os critérios de produção e elaboração, a configuração territorial, reunidos numa marca, garantem a especificidade da região e a fazem diferenciar-se de outras regiões produtoras, podendo também designá-las como uma marca ou grife do território. As denominações de origem são um meio eficaz para identificar e assegurar a qualidade de um produto elaborado num território com características específicas, homogêneas e bem demarcadas, com o objetivo de garantir a sua procedência e, o mais importante, para firmar a relação de confiança que se estabelece entre o consumidor e o produtor e o seu local de produção. As denominações de origem estão regulamentadas em diversos países. Por isso, o seu estudo já apresenta um significativo arcabouço teórico-conceitual dentro do qual se RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO destacam: a Organização Mundial da Propriedade Intelectual, o Acordo de Madrid de 1891, o Acordo de Lisboa de 1958, o Protocolo de Harmonização de Normas sobre Propriedade Intelectual no Mercosul, a resolução nº 75 do Instituto Nacional da Propriedade Intelectual, a qual estabelece as condições para o registro das indicações geográficas no Brasil e a lei nº 9.279, de 14/05/1996, que regula os direitos e obrigações relativos à propriedade intelectual no Brasil e que, no seu art. 178, conceitua denominações de origem como [...] o nome de uma região determinada ou de um lugar determinado que serve para designar um produto agrícola ou alimentício originário de dita região, na qual a sua qualidade ou características se devem fundamentalmente ao meio geográfico, e onde a sua produção, transformação e elaboração se realizam na zona geográfica determinada. Dessa maneira, pode-se questionar se as denominações de origem são efetivamente uma garantia de qualidade. É evidente que a elaboração de qualquer produto, sob determinados padrões de qualidade, assume uma perspectiva de futuro para uma determinada região. As denominações de origem asseguram, para um conjunto de produtores, reconhecimento, confiança, aumento da auto-estima, uniformização da produção, competitividade intra- e extra-região produtora e a garantia de espaço da região no mundo da competitividade. Entretanto, exigem, do produtor, a responsabilidade de produzir com qualidade, de seduzir o cliente e de despertar o sentimento de confiança e tradição do consumidor em relação à procedência do produto. 2.1 As denominações de origem no mundo e no Brasil O país com maior tradição no estabelecimento das denominações de origem e suas variações é a França. Nesse país, esse sistema adqui- Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 27 “ A União Européia é a maior produtora de vinhos de qualidade do mundo... ” riu uma expressiva importância econômica, cultural, sociológica e ambiental, sendo considerado parte do patrimônio nacional. A experiência francesa remonta ao século XVIII, quando surgiu a primeira appellation d’origine, Châteauneuf-duPape. Somente em 1935, foi aprovado o sistema jurídico para as denominações de origem e criado o Institute Nacional de las Appellation de Origine (INAO), vinculado ao Ministério de Agricultura. A classificação do território como um sistema de denominações de origem é incentivado e bastante desenvolvido na Europa, a partir anos 1970, quando a União Européia decidiu generalizar um sistema de qualificação e etiquetação de seus territórios, que visava a relacionar o produto ao território produtor e aos produtores responsáveis pelo processo de elaboração, identificados por características semelhantes utilizadas em seus processos de produção. O exemplo mais clássico de um sistema de denominação de origem é aquele que diz respeito ao mundo dos vinhos. A União Européia é a maior produtora de vinhos de qualidade do mundo. Em 1999, segundo a FAO, esse continente produziu 92,28% de todo o vinho fabricado no mundo e é detentor, também, de 55,57% dos vinhedos cultivados em todo o mundo. A partir, principalmente dos anos 1970, a então Comunidade Européia implementou esse sistema com o objetivo de sistematizar, organizar, padronizar, comercializar e promover os vinhos produzidos 28 nesse continente. São exemplos os vinhos produzidos sob o sistema de denominações de origem: aqueles do Porto e de Dão (Portugal), de Bordeaux, Provença e da Champanhe (França - appelation d’origine controlée), de La Rioja, Ribera del Douro, Ribeiro (Espanha - denominación de origen), do Sarre, da Mosela e Fraken (Alemanha - Gebiet), da Sicilia, Puglia, Toscana (Itália denominazione controllata), etc. Somente na Espanha existem 54 denominaciones de origen de vinhos (ver figura 1), que representam 57,19% do total de uva destinada a vinificação. A grande quantidade dos vinhos elaborados nesse país está protegida por esse sistema, o qual garante a qualidade do produto elaborado e está associado a um território produtor. No México, a tequila é o melhor exemplo para ilustrar uma denominação de origem de uma bebida alcoólica obtida de uma variedade agrícola, produzida numa limitada zona do México el agave azul tequilana Weber, a qual se protege desde 1974 e se vincula à denominação de origem Tequila, como figura protegida pela propriedade industrial a uma norma oficial mexicana, não obstante esta bebida já estar sujeita ao cumprimento de normas desde a Lei de Propriedade Industrial de 1942. No caso do Peru, as denominações de origem assumem um status de importância do Estado e foram instituídas através do decreto legislativo 823 da Lei de Propriedade Industrial, que dispõe, em seu Artigo 218, que “es el Estado Peruano el titular de las denominaciones de origen peruanas y sobre ella se concede autorizaciones de uso”. Em 1990, através da resolución directoral nº 072087, de 12 de dezembro, a República do Peru declarou que a denominação de origem Pisco é uma denominação exclusiva para os produtos obtidos da destilação dos caldos resultantes unicamente da fermentação de uva madura, ela- Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA borada na costa dos estados de Lima, Ica, Arequipa, Moquegua e nos vales de Locumba, Sama e Caplina do Departamento (Estado) de Tacna. Mediante uma lei de 4 de março de 1992, a República da Bolívia autoriza o uso da denominação de origem apenas ao Singani, um produto legítimo e exclusivo da produção agroindustrial boliviana. Trata-se de uma aguardente obtida pela destilação de vinhos de uva moscatel fresca, produzida, destilada e engarrafada nas zonas de produção de origem da região de Potosí. Em novembro de 2000, a República da Venezuela, através da resolución nº 206, de 14 de novembro, reconhece Chuao como denominação de origem do cacau proveniente da zona de Chuao, um dos primeiros povoados fundados na Venezuela, na metade do século XVI, onde foi instalada uma fazenda de cacau em 1568, pertencente à família Caribe. Avanços significativos vêm sendo desenvolvidos no sentido de definir ou delinear a marca Brasil. Um exemplo disto foi o recente reconhecimento da cachaça, perante a comunidade internacional, como produto genuíno brasileiro, diferenciando do rum produzido em Cuba e em Porto Rico. O decreto nº 4.042, publicado no Diário Oficial de 21/ 12/2001, esclarece que cachaça é a denominação típica e exclusiva da aguardente de cana produzida no Brasil, com graduação alcoólica de 38% a 48% em volume, a 20º Celsius, obtida pela destilação do mosto fermentado de cana-de-açúcar. Já o rum é definido como bebida com graduação alcoólica de 35% a 54% em volume, a 20º Celsius, obtida do destilado alcoólico simples do melaço, total ou parcialmente em recipiente de carvalho. O decreto também define a caipirinha como bebida típica brasileira, com graduação alcoólica de 15% a 36% a 20º Celsius, obtida exclusivamente com cachaça, acrescida de limão e açúcar. RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO As primeiras iniciativas de demarcação de territórios produtores foram estabelecidas pelo Conselho das Associações dos Cafeicultores do Cerrado (CACCER), localizado no município de Patrocínio, no Estado de Minas Gerais, instituído em 1993 e contando atualmente com 3.500 produtores rurais e 160 mil hectares plantados com pés de café. A criação do conselho permitiu a demarcação de uma região de origem que produz café de alta qualidade e o lançamento de uma marca para o produto, denominada Café do Cerrado. O CACCER desempenha o papel de representação única de todos os produtores da região, garantindo a qualidade dos serviços, a padronização do produto, o controle de estoques, o marketing institucional, etc. Também estabelece cotas dos produtores, acompanha o a embalagem, o armazenamento e o embarque do produto. Vale destacar, também, a recente criação da denominação de origem Vale dos Vinhedos, na Serra Gaúcha, produtora de vinhos finos, entre os municípios de Bento Gonçalves e Garibaldi, no Estado do Rio Grande do Sul, e a promulgação da lei nº 12.177, de 07/01/2002, do Estado de Santa Catarina, a qual dispõe sobre a certificação de qualidade, origem e identificação de produtos agrícolas e de alimentos e estabelece outras providências. 3 Estrutura e desenvolvimento das denominações de origem As denominações de origem estão relacionadas com a marca e necessitam, para o seu pleno desenvolvimento, a harmonia e o equilíbrio dos atores sociais na produção do território. Dessa forma, deve existir um conselho de desenvolvimento e regulação da denominação de origem, composto pelos produtores (grandes, médios, pequenos), sindicatos patronais e de trabalhadores, técnicos especializados, representantes de cooperativas e associações profissionais, representantes dos governos estadual e municipal, que terão as seguintes incumbências: a) representar institucionalmente a denominação de origem; b) coordenar, orientar e fiscalizar a produção, a elaboração, a comercialização e a distribuição dos produtos que utilizarão a marca da região produtora; c) expedir e controlar os certificados de origem; d) expedir os selos de garantia e os códigos de barras; e) organizar o plano de propaganda; f) vigiar o mercado nacional e internacional, evitando e perseguindo as falsificações. A estrutura administrativa de uma denominação de origem deve funcionar nos moldes da democracia moderna, garantindo a participação dos atores sociais que efetivamente produzem na região. O funcionamento de um sistema vinculado a uma denominação de origem sugere a criação da agência de desenvolvimento e regulação da denominação de origem, a qual terá a incumbência de operacionalizar as deliberações do conselho e efetivamente fazer valer os estatutos, os quais deverão ser aprovados em assembléia geral, instância máxima de deliberação da estrutura administrativa da denominação de origem. Essas agências deverão ser compostas por uma estrutura administrativa enxuta e deverão funcionar através de redes, devendo existir apenas um coordenador executivo da DO; um secretário executivo da DO; uma coordenação de controle e qualidade; uma coordenação de desenvolvimento tecnológico e uma coordenação de desenvolvimento social. RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO 4 As denominações de origem como unidade de planejamento e indutor do desenvolvimento local Com as transformações substantivas no contexto das relações comerciais globais, o território passa, então, a ser alvo de modificações de suas estruturas produtivas que visam à identificação e à promoção de suas potencialidades (físicas e humanas), no sentido de aplicar as políticas de renovação que objetivem a incorporação dos territórios periféricos ao cenário produtivo estadual, regional, nacional e internacional, logrando assim a melhoria da qualidade de vida da população envolvida. Atualmente, organizar o território diz respeito, sobretudo, à necessidade da requalificação territorial voltada para as suas potencialidades, segundo os moldes da flexibilização, da transferência de tecnologia, da requalificação dos recursos humanos, da melhoria da imagem do território, da potencialização das inovações e das criatividades locais. Nesse sentido, a inovação é entendida como a aplicação de novos conhecimentos ou invenções à melhoria ou à modificação dos processos para a produção de novos bens (MÉNDEZ, 1997). A melhoria desses processos produtivos pode ser a aplicação prática de um inven- ... a inovação é “entendida como a aplicação de novos conhecimentos ou invenções à melhoria ou à modificação dos processos produtivos... Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA ” 29 “ ... a capacidade de inovação de um território está vinculada, efetivamente, à natureza criativa de seus habitantes... ” to na transformação ou a melhoria de um determinado produto, mas pode também ser constituída pela reformulação dos processos de gestão do trabalho, o que pode conferir nova feição à organização interna do processo produtivo. Deve-se partir, então, do pressuposto de que a capacidade de inovação de um território está vinculada, efetivamente, à natureza criativa de seus habitantes na sua capacidade de transformar seus recursos, sejam eles humanos, ambientais, culturais ou artísticos, em produtos de atração e de comercialização. Nas últimas décadas, também, as questões relacionadas ao desenvolvimento das atividades produtivas estão sendo repensadas e a noção de localidade assume um papel fundamental nas estratégias utilizadas pelas empresas, com o objetivo de manter a sua sobrevivência. Nesse sentido, a idéia de desenvolvimento local assume o centro das discussões sobre essa nova dimensão da produção. Segundo Houée (1997), o desenvolvimento local é definido como uma mudança global de implementação e de busca de sinergias, por parte dos agentes locais, para a valorização dos recursos humanos e materiais de um dado território, mantendo uma negociação ou diálogo com os centros de decisão econômica, social e política onde se integram e dos que dependem. 30 Nesse sentido, o desenvolvimento local deve contemplar as ações dos atores sociais locais, as lógicas integradas de valorização dos recursos humanos e de suas capacidades para atuarem na transformação do território em que vivem, potencializando, assim, os espaços de decisão da comunidade local, visando à melhoria da qualidade de vida de seus habitantes. O Estado da Bahia está caracterizado por concentrar, na Região Metropolitana de Salvador, a produção e conseqüentemente a população e o consumo estaduais em detrimento dos territórios interioranos. Na Bahia, a desconcentração da produção é de fundamental importância para garantir níveis de bem-estar social adequados à nova perspectiva do desenvolvimento sustentável, definido pelo Relatório Brundtland como “aquele que satisfaz as necessidades da geração presente, sem comprometer a capacidade das gerações futuras para satisfazer suas próprias necessidades”. No Fórum Social Mundial, realizado em fevereiro de 2002, em Porto Alegre a sustentabilidade é baseada num enfoque democrático e de justiça ambiental que requer o reconhecimento do direito de todos os seres a serem atores na definição de seu próprio desenvolvimento e concretizar uma negociação democrática sobre o desenvolvimento nacional e internacional e requer coerência entre o discurso e a ação, e entre as necessidades humanas e políticas. A partir da sua instalação, o conselho de desenvolvimento e regulação da denominação de origem que, conforme vimos anteriormente, deve ser composto pelos representantes dos atores sociais envolvidos em toda a cadeia produtiva, bem como representantes da sociedade civil, terá a incumbência de zelar pelo bom funcionamento do sistema da denominação de origem e deverá, também, funcionar com um braço executivo através da instalação da agência de desenvolvimento e regulação da denomi- Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA nação de origem. Esta estratégia poderá dinamizar a região de origem com o incremento dos avanços tecnológicos empregados na constante capacitação dos recursos humanos da região, o aumento da demanda de comércio e serviços, o desenvolvimento do marketing territorial, a melhoria da infra-estrutura de transportes e de comunicações, a geração de emprego e renda, a organização dos produtores, o que induzirá à melhoria da qualidade de vida da população local e, conseqüentemente, a sua inserção nas relações econômicas e comerciais. 5 As denominações de origem como instrumento de inclusão social As políticas locais devem, no mundo da globalização, buscar a inclusão social da população, a qual deve assumir as prerrogativas da inclusão no mundo produtivo, inclusão no mundo do consumo, inclusão no mundo da cidadania e do respeito aos direitos humanos. As denominações de origem têm como um dos seus objetivos o investimento na base produtiva local, através da transferência de tecnologia, do incentivo à organização dos produtores, a sua capacitação, buscando o desenvolvimento da criatividade, do reconhecimento do trabalho realizado, elevando a autoestima dos atores sociais envolvidos em todos os processos da cadeia produtiva. A defesa do território produtor e do produto elaborado e da marca instituída de comunicação com o mercado, sustentará todos os critérios de qualidade, sejam eles relacionados com a sustentabilidade institucional, econômica, ambiental, social, cultural e política, os quais serão acompanhados por sistema de indicadores de desenvolvimento sustentável. Nos critérios de qualidade devem estar garantidas as preocupações sociais e não deverá ser admitido, em RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO nenhuma região produtora que utilize a denominação de origem o trabalho infantil, o analfabetismo, a fome, o tráfico de drogas e armas, o desrespeito aos direitos humanos. Dessa forma, a instituição das denominações de origem estaria contribuindo para o fazer de novas regiões pautadas nos princípios da solidariedade, da colaboração da redução dos desequilíbrios socioterritoriais e do exercício da cidadania. TABELA 2 Ranking da balança comercial dos principais estados brasileiros Fonte: Ministério da Agricultura e da Produção Agropecuária (MAPA) 6 As denominações de origem: implicações para a Bahia A Bahia possui uma área de 564.692,67 km² e de acordo com o Censo 2000 do IBGE, habitam 13.070.250 pessoas, dos quais 4.297.902 vivem na zona rural, ou seja 32,87%, da população baiana, o que representa a maior população rural do Brasil. Quando analisamos a distribuição dessa população nos três principais ecossistemas existentes no território baiano, o semi-árido, o litoral e o cerrado podemos constatar que na região semi-árida vivem 48,26% da população total da Bahia, seguida do Litoral com 47,91% e o cerrado com 3,73% da população total. Vale destacar ainda que a região semi-árida vem perdendo população desde os anos 1980, quando detinha 50,86% da população total do estado. De acordo ainda com o IBGE (2000), no espaço rural baiano estão instalados 699 mil estabelecimentos, distribuídos em 33 milhões de hectares, dos quais 4 milhões ocupados com lavouras, 14 milhões de pastagens, 7,2 milhões de matas e 5 milhões de terras disponíveis. De acordo com a SEI (2003), [...] apesar de empregar 40% dos baianos, o trabalho no campo paga os piores salários. O estudo, que reúne dados da SEI e do IBGE, mostra que os trabalhadores rurais estão em franca desvantagem em relação aos urbanos. No campo, o rendimento médio é 1/3 do rendimento nas cidades. É lá também onde está a maior taxa de analfabetismo (36,6%) e a pior representação do Produto Interno Bruto do estado (12%). O agronegócio brasileiro apresenta uma estrutura concentrada e, em apenas sete estados da Federação, concentram-se 79,75% de suas atividades. Entre estes, São Paulo e Rio Grande do Sul se destacam como os principais produtores e exportadores. A Bahia, neste contexto, assume a sétima colocação, mas contribuindo apenas com 3,03%, o que representa, em termos da região Nordes- TABELA 1 Evolução da população por grandes áreas (1980-2000) Fonte: IBGE. Censos demográficos de 1980, 1991 e 2000. RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO te, 1/3 das exportações, e representou também 32% do total das exportações da Bahia, segundo dados da Ministério da Agricultura e da Produção Agropecuária (MAPA). A importância do agronegócio baiano ainda deve passar por ajustes estruturais para que seja desenvolvida uma agricultura sustentável, a qual possa ocupar um lugar de destaque no cenário nacional e internacional. Apesar dessa situação, a Bahia possui condições para atingir este objetivo, uma vez que significativos avanços foram incorporados na modernização das estruturas econômicas e sociais no campo baiano. Nos últimos vinte anos, modificações na estrutura territorial baiana foram implementadas, com o objetivo de torná-la mais competitiva. A implantação de um sistema de denominações de origem para a Bahia somente poderia agregar valor ao produto, associando-o a um determinado território produtor. Dessa forma, no Estado da Bahia, podem-se perfeitamente agregar regiões que se diferenciem de outras, mas reunidas pela semelhança do processo produtivo e que possam transpor as fronteiras municipais e intermunicipais, englobando um ou mais municípios ou partes destes, organizando-as numa nova divisão administrativa, ou seja, incorporando novas formas de gestão do território. Essas novas regiões deveriam ser implantadas a partir Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 31 da perspectiva do estabelecido na Agenda 21, no documento específico de agricultura sustentável, o qual assim recomenda: A importância territorial da agricultura brasileira faz com que tudo o que diga respeito à organização socioeconômica, técnica e espacial da produção agropecuária deva ser considerado de interesse estratégico e vital, do ponto de vista dos impactos sobre o meio ambiente (Agenda 21 brasileira). É possível até antecipar alguns exemplos de futuras denominações de origem da Bahia, pois, na realidade, seus nomes já são familiares no Estado e estão associados aos lugares de origem tais como: mangas de Juazeiro, uvas de Juazeiro, charutos do Recôncavo, cachaça de Abaíra, papaia do Extremo Sul, cravo-da-índia da Bahia, de Valença, feijão de Irecê, dendê de Taperoá, cacau de Ilhéus, couro de Ipirá, caprinos do Sertão, caprino defumado de Campo Formoso, sisal de Valente, café do planalto de Conquista, camarão de Valença, flores da chapada Diamantina, mel do Recôncavo, mel de Nova Soure, sempreviva de Mucugê, bromélias da Chapada Diamantina, flores de Maracás, helicônias de Ituberá, helicônias de Una, rendas da ilha de Maré, artesanato do Litoral Norte, cerâmicas de Maragojipinho, pedras ornamentais de Jacobina, etc. As nossas regiões agrícolas devem estar preparadas para desenvolver as suas potencialidades locais e conquistar o seu espaço no contexto da economia globalizada, com uma produção qualificada, agregando valor ao produto, a qual deverá estar apta a competir no mercado mundial. volvimento local, que visa à redução das desigualdades regionais e à inclusão dos diversos atores sociais que constroem novas regiões que necessitam ser reconhecidas como os novos territórios produtores da Bahia. Os resultados que se pretendem alcançar com esta pesquisa são primeiramente o de olhar o território baiano a partir de uma perspectiva de inovação e do desenvolvimento sustentável, identificar as suas potencialidades, mapear e registrar as informações e, por fim, organizar a intervenção territorial, criando um sistema de denominações da Bahia, capaz de organizar a produção, a comercialização, a logística, o marketing dos territórios produtores, garantindo assim a sua projeção no mercado nacional e internacional e, conseqüentemente, melhorando a qualidade de vida da população inserida no processo produtivo. Este trabalho está sendo desenvolvido no Mestrado de Análise Regional da Universidade Salvador - UNIFACS -, na área de concentração Desenvolvimento Regional, na linha de pesquisa Formação e reestruturação de regiões no Nordeste do Brasil, com o objetivo de contribuir para a elaboração de políticas de intervenção para o território baiano e demais regiões do Nordeste brasileiro, visando a garantir a melhoria da qualidade de vida da população envolvida, gerando emprego e renda, principalmente naqueles territórios periféricos e atrasados. Referências BAHIA. SEI. O perfil do trabalho no campo. Disponível em: http://www. sei.ba.gov.br. 5 Conclusão BOISIER, Sergio. Modernidad y territorio.. Santiago do Chile: ILPES/CEPAL, 1996. O sistema de denominação de origem é uma alternativa de desen- BENKO, Geoges. Economia, espaço e globalização na aurora do século XXI. São Paulo: Hucitec, 1996. BENKO, Georges; LIPIETZ, Alain. 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CONHEÇA E P AR PAR ARTICIPE TICIPE DOS PROJETOS DE PESQUISA DO CEDRE. 32 Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DO GLOBAL AO LOCAL GLOBALIZAÇÃO, DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E ECOLOGIA – OS TRÊS GRANDES PARADIGMAS DO FIM DOS SÉCULOS Luiz Coêlho de Araújo1 Resumo O trabalho busca traçar a dinâmica histórica e o estágio atual dos paradigmas, de natureza planetária que galvanizam a sociedade e a economia mundial nestes anos de transição do séc. XX para o séc. XXI: a Globalização e seus efeitos em todos os países, o Desenvolvimento Sustentável, ao mesmo tempo um conceito em discussão e uma força transformadora das questões ambientais e sociais, pelas esperanças e expectativas que carrega consigo; e a Ecologia, uma bandeira verde desfraldada em defesa do meio ambiente e de uma melhor qualidade de vida, vinculando estreitamente os seus resultados às ações dos agentes econômicos globais ante as novas exigências dos mercados, dos Governos e da sociedade organizada, por uma sustentabilidade que se inicia nos menores lugares e procura afirmar-se em toda a Terra, delimitada pelo progresso econômico, as demandas sociais e as promessas de um futuro ambiental equilibrado, construído desde o presente. Palavras-chaves: globalização, desenvolvimento sustentável, sustentabilidade, ecologia, ambiente, sustentabilidade local. Abstract This paper seek to outline the historical dynamics and the current status of the paradigms of planetary nature that galvanize the society and the world economy on the transition years from Century XX to Century XXI: The Globalization and its effects in all the countries, the Sustainable Development, at the same time a concept in discussion and a transformer force of the environmental and social subjects, as a result the hopes and expectations that itself carries; and the Ecology, a green flag spread in defense of the environment and of a better life quality, tightly linking its results to the global economic agents’ actions in the face of the new demands from the markets, Governments and organized society, seeking a sustainability that begins in the smallest places and it tries to affirm for the whole Earth that it is defined by the economic progress, social demands and promises of a balanced environmental future, built from the present. Keywords: globalization, sustainable development, sustainability, ecology, environment, local sustainability. Para além do bem e do mal, os três grandes paradigmas da história da humanidade, nesta esquina do tempo que marca a transição do século XX para o século XXI, chamam-se Globalização, Desenvolvimento Sustentável e Ecologia, símbolos e significados que incidem dramaticamente sobre todos os lugares da Terra, fazendo do Lugar a síntese de todas as possibilidades e de todas as influências que os novos paradigmas oferecem, sugerem, determinam. RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Repetidos, até a exaustão dos nossos olhos e ouvidos, pela mídia eletrônica e escrita, via satélite e pela Internet, essas expressões recentes, de não mais que 30 anos, de há muito perderam a paternidade e são hoje como companheiros da jornada cotidiana de todos nós: onde quer que vamos, onde quer que estejamos, elas nos dizem que aqui estamos no Planeta Terra, entre a frustração das promessas de um mundo globalizado, tragado pelo desemprego global, a fome global e a global especulação das finanças, e as expectativas e esperanças de um desenvolvimento sustentável que “atenda as necessidades do presente, sem comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem suas próprias necessidades” (Relatório Brundtland – 1987). Embora se possa argumentar que a ecologia está inserida no desenvolvimento sustentável como um dos seus pilares de sustentação, e que este último é fruto de uma consciência planetária só possibilitada pelos avanços do processo de globalização, o fato real e histórico é que os três paradigmas têm raízes distintas e distintas amplitudes. A globalização é para o aqui e agora, é um estágio avançado do capitalismo mundial que articula o macro e o micro em todos os países, a partir das ações e reações do centro hegemônico; a questão ecológica tem a dimensão do presente-fu1 Mestre em Economia. Professor da UNIFACS e UEFS – [email protected] Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 33 “ A globalização econômica é o “pano de fundo” sobre o qual os atores globalizados ... atuam na defesa dos seus interesses e propostas... ” turo, como um despertar da consciência mundial para os riscos concretos da destruição inexorável do planeta, pela voracidade produtiva e desperdício consumista da economia globalizada. Nesse sentido, e pelas repercussões que provocam, induzindo a mudanças comportamentais em diferentes níveis da atividade econômica e da vida social, são paradigmas, que se confrontam, como antípodas, mas que se deixam permear mutuamente: as empresas globais e os governos nacionais começam a inserir a dimensão ambiental em suas ações; os organismos internacionais estabelecem parâmetros ambientais em seus programas e políticas; acordos sobre clima, florestas, animais em extinção, pesca, etc., fazem parte da Agenda Global da ONU; os partidos “verdes” e as ONG´s ecológicas influenciam a mudança das legislações de controle do meio ambiente, entre muitas outras evidências da penetração da consciência ecológica nos domínios da globalização econômica. O desenvolvimento sustentável assume, por si só, as dimensões dos outros dois paradigmas: como um terceiro estágio da questão do desenvolvimento econômico, só tem significado concreto na medida em que se globaliza, contrapondo-se ao conceito puro e simples de crescimento do PIB / PNB, incorporando 34 tanto o vetor ecológico quanto a luta pela melhoria das condições sociais dentro do processo de desenvolvimento, questões a serem resolvidas no presente e para o futuro da humanidade. Não por coincidência, esse três “paradigmas do fim dos séculos” têm uma origem histórica comum, nos anos 60/70, convergindo nos anos 90/2002 para uma múltipla absorção dos processos e conceitos neles envolvidos. A globalização econômica é o “pano de fundo” sobre o qual os atores globalizados – Governos, empresas, ONG´s, a sociedade civil-organizada, os organismos internacionais – atuam na defesa dos seus interesses e propostas sem perder de vista as questões sociais – a luta pela terra, alimentação, habitação, educação, saúde, segurança, etc. – e ecológicas – a poluição, a devastação florestal, o buraco na camada de ozônio, a perda de biodiversidade, as mudanças climáticas, etc. Sistematicamente, desde a ECO92, é a ONU quem assume o papel de coordenação planetária das questões do desenvolvimento sustentável e da defesa do meio ambiente, acompanhando, mensurando e monitorando avanços e retrocessos nesses campos, a exemplo do Relatório apresentado em setembro de 2002 na Conferência Mundial de Johannesburgo – África do Sul, a Rio +10, que traçou um quadro dramático da destruição ambiental em todos os continentes, sob a égide de um processo de globalização que também causou a erosão das economias nacionais dos países periféricos, acentuando os problemas do desemprego, da fome e das desigualdades sociais em níveis jamais alcançados anteriormente. Em função desses resultados globais, as reuniões do G-8, o grupo dos países mais desenvolvidos do mundo, realizam-se sob protestos e sempre em paralelo aos Fóruns Sociais Mundiais, em que delegados das nações em desenvolvimento e re- Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA presentantes de organizações nãogovernamentais discutem e questionam as disparidades entre Norte e Sul, exigindo mudanças nos padrões atuais da globalização. Mudanças estas que vêm sendo encampadas até mesmo pelo FMI, após a derrocada da Argentina, a crise de confiança do Brasil em 2002 e os riscos globais do capitalismo a partir dos atos terroristas de 11 de setembro de 2001 em Nova York e Washington. 1 A globalização A Globalização, um receituário geopolítico-ideológico cunhado pelo prêmio Nobel de Economia Frederick Hayek, no auge da Guerra Fria, trouxe em seu início muitas sementes de esperança em um mundo mais solidário, mais equilibrado, mais desenvolvido e menos desigual entre ricos e pobres, entre as nações do norte e do sul, equalizando, flexibilizando e uniformizando procedimentos gerenciais, práticas comerciais, tecnologias, condutas públicas e privadas, relações capital / trabalho, comportamentos e atitudes nos mercados financeiros, tudo sob a égide de um poder geopolítico hegemônico construído sobre as ruínas da “guerra fria”, o eixo anglo-saxão EUA-Inglaterra, de “elevado padrão ético e moral”, que arrasou praticamente todas as economias/países do mundo, passando como um maremoto e deixando milhões de desempregados, reservas exauridas, empresas falidas, tesouros endividados e vazios, violência, miséria e marginalidade social para todos os povos. Um “salve-se quem puder”, que tem preço: “nos últimos 26 meses, o mercado financeiro global perdeu pelo menos US$11 trilhões. Isso é mais que toda a produção dos Estados Unidos no ano passado, mais que 36% do produto mundial bruto” (www.cartacapital.com.br - 17/ 07/2002). RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO A rigor, a Globalização como fenômeno econômico sintetizado na integração sistêmica dos mercados nacionais de produção e de ativos financeiros, revela-se dotado de amplas ramificações geopolíticas que amplificam o seu alcance, em termos da base ideológica – o neoliberalismo, do Consenso de Washington (1973), praticado nos Governos Reagan (EUA) e Thatcher (Inglaterra); e das suas premissas de integração sistêmica – abertura dos mercados, privatização, reformas estruturais e Estado mínimo -, comportando assim diferentes ângulos de análise, e podendo revelarse como um caleidoscópio, apresentando-se em suas múltiplas faces como: – uma globalização assimétrica, que se estende do centro para a periferia em ondas de choque sucessivas, representadas, no modelo padrão, pela abertura forçada dos mercados locais, a privatização do patrimônio público, o controle da inflação via controle estrito da moeda, juros altos, câmbio engessado por empréstimos avalizados pelo FMI, a recessão como terapia não-desenvolvimentista, a dependência externa, as crises sucessivas por “inquietações”do mercado, o colapso da economia; – uma globalização em círculos concêntricos, fazendo convergir para um todo, que é maior que as partes componentes, as globalizações das técnicas de produção, e das práticas gerenciais, das bolsas de valores e mercados financeiros, das comunicações e dos transportes, da tecnologia e monetária, abrindo caminho para a inevitabilidade de um mundo de blocos econômicos regionais perfeitamente estratificados e concorrentes, porém amplamente permeáveis e intercomunicantes em matéria indusRDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO trial, tecnológica, comercial e financeira; – uma globalização transversa, compreendendo dois movimentos: um de sentido horizontal, a nível dos países e das suas relações geopolíticas, de mercado e finanças, arbitrado por agências internacionais como o FMI, a OMC, o Banco Mundial, que reproduzem em sua composição e na origem dos seus recursos, nos seus valores e decisões, a hegemonia dos integrantes do G-8 nas relações políticas e econômicas entre os Estados do Norte e do Sul, tendo como força dissuasória o aparato bélico da OTAN/Eixo do Atlântico, com assento privilegiado no Conselho de Segurança da ONU; – outro de sentido vertical, fazendo aprofundar as relações e integrar os interesses das grandes empresas, do grande capital internacional, desde os centros econômicos mundiais às subsidiárias na periferia, em uma dinâmica de fusões e incorporações que tornam ainda mais oligopolizados e transnacionalizados os segmentos de produção de ponta na indústria – química e petroquímica, automobilística, siderurgia, energia, comunicações, informática, microeletrônica, energia, indústria bélica e aeronáutica, alimentos e bebidas, o setor financeiro, o turismo, o agrobusiness, os serviços, enfeixados em uma rede invisível de negócios intra-empresas e entre empresas de interesses convergentes, independente da localização e da nacionalidade do controle acionário, cujos fluxos financeiros convergem para as melhores oportunidades de lucros especulativos, em nome dos acionistas e investidores – fundos de pensão, corretoras, grandes bancos e corporações, petro e narcodólares, megaespeculadores; – e uma globalização da vida cotidiana, mensurada pelos padrões globais de consumo, que a “Nova Geografia” prefere denominar de mundialização (Ortiz-1996, Loula-2002) e que alcança praticamente todos os recantos da vida moderna, tornando-nos “cidadãos do mundo” nos modos de vestir e alimentar-se, de comprar, de acessar a informação (via TV e Internet), de viajar e hospedarse, de consumir culturas, lugares e eventos de massa, falando uma língua universal (o inglês) e pagando em uma mesma moeda (o dólar, através do câmbio e seus efeitos sobre os preços internos) independente da nação em que nascemos e onde estamos vivendo. Há, também, globalizações espúrias, indesejadas, não previstas, que não são objeto específico desta pesquisa, mas que repercurtem no estágio atual do processo, reforçando e redirecionando os resultados globais negativos do âmbito econômico e geopolítico: o terrorismo global; o tráfico internacional de drogas e armamentos; a corrupção globalizante, que unifica a antiga e tradicional corrupção das periferias àquela outra sempre presente na atuação das grandes empresas multinacionais, encoberta pelo manto da hipocrisia empresarial, sob o nome genérico e impessoal de lobby, na fronteira entre o ilegal e o não-ético. 2 Desenvolvimento sustentável e ecologia – a luta pelo planeta Embora se possa identificar a gênese das questões ecológicas e do desenvolvimento sustentável nos anos 60, a prevalência do conflito ideológico Leste-Oeste e a radicali- Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 35 zação econômica/bélica decorrente da “guerra fria” impediram a sua emergência ao longo da década, com os blocos em confronto buscando a todo custo demonstrar a eficácia dos seus sistemas produtivos e formas de organização política e social, do que resultou uma exploração predatória dos recursos ambientais sem qualquer remissão a aspectos como qualidade de vida e biodiversidade, em níveis insuportáveis e com uma extensão até então inimaginável, face inclusive à transposição para os países periféricos dos novos padrões tecnológicos e de consumo de massa, na busca, para estes, de um “desenvolvimento a qualquer preço”. O esfacelamento do bloco soviético propiciou, nos anos 80, as condições hegemônicas para um avanço da globalização “made in USA”, que em pouco mais de duas décadas provocou danos incalculáveis nos países que experimentaram as regras do FMI para sua “modernização”. As centrais sindicais e os sindicatos, acuados pela crise do desemprego, abriram mão de muitos dos seus dogmas e passaram a praticar o “sindicalismo de resultados”, eufemismo para encobrir a capitulação pura e simples do trabalho ao capital, na luta sem glória pela manutenção dos empregos em um mundo de milhões e milhões de desempregados. O Secretário Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, assim descreve no prefácio do livro “O Estado do Mundo-2002”, as implicações do processo de globalização: A última década revela que milhares de pessoas ao redor do planeta experimentaram a globalização, não como um agente de progresso, e sim como uma força desagregadora e até destrutiva, e muitos milhões mais têm estado absolutamente excluídos de seus benefícios. A globalização tem sido vista por muitos como inevitável. Se bem que seu principal motor sejam a tecnologia e a expan- 36 “ O primeiro grito de alerta estava centrado na ecologia, no polêmico documento “Os Limites do Crescimento Econômico”... ” são e integração dos mercados, não é correto ressaltar que a globalização não é uma “força da natureza”, sinal do resultado dos processos impulsionados por seres humanos. É nesse preciso sentido que corresponde controlá-la para o serviço da humanidade. Para isso, requer ser cuidadosamente administrada, nacionalmente, por países soberanos, e internacionalmente, através de uma cooperação. A conscientização, crescente, quanto aos efeitos perversos da globalização, acompanhou “paripassu” a sua expansão em âmbito planetário, gerando dialeticamente uma substituição de atores no confronto geopolítico: o conflito passa a ser entre o Norte desenvolvido e os países do Sul na periferia do mundo; os sindicatos e partidos políticos de esquerda, órfãos do comunismo, saem temporariamente da cena principal, cedendo lugar às ONG’s ambientalistas, aos partidos “verdes” e aos que se transferem da luta político-ideológica para a trincheira das melhorias sociais, um componente importante do conceito evolutivo do desenvolvimento sustentável. O clássico embate entre capitalismo versus socialismo, a partir da incorporação da temática verde nas lógicas de ambos, vem sendo duramente discutida ao longo dos anos. “O velho enfrentamento, mesmo que inconfesso, assume a feição ecológica, embora alguns defendam Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA que o ecologismo esteja além do embate ideológico clássico. O ecologismo, dentro das argumentações feitas, é um campo de lutas entre o eco-capitalismo e o eco-socialismo, tendo na dimensão ética com relação à natureza a principal fronteira entre ambos” (ANTUNIASSI, 1989). O primeiro grito de alerta estava centrado na ecologia: em 1968, o Clube de Roma lançou o polêmico documento “Os Limites do Crescimento Econômico”, advertindo, com base no trabalho de centenas dos mais renomados cientistas, para o estado de degradação do planeta provocado pelas atividades econômicas e para as suas conseqüências. A Conferência Mundial do Meio Ambiente, em Estocolmo (1972), foi um marco nos anos 70, ao propugnar pela “Terra Única”, responsabilidade de todos os países, apesar da visão ilusória de que “os avanços do conhecimento científico seriam suficientes para permitir o surgimento de um estilo de desenvolvimento sustentável” (ONU, 2002). Em 1980, pela primeira vez, a expressão desenvolvimento sustentável é referida em um documento oficial, o “World Conservation Strategy”, lançado pelo PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. De maior impacto foi o relatório “Nosso Futuro Comum”, (Relatório Brundtland) de 1987, lançado pela Comissão Mundial de Meio Ambiente, preparatório para a Conferência Mundial para o Desenvolvimento e Meio Ambiente – a ECO-92, realizada no Rio de Janeiro. O Relatório Brundtland não apenas estabeleceu o conceito mais abrangente de desenvolvimento sustentável (“aquele que atende as necessidades do presente, sem comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem suas próprias necessidades”), como igualmente indicou as bases para a concretização desse novo paradigma, que requer, em âmbito nacional e internacional: RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO - “Um sistema político que assegure a efetiva participação dos cidadãos no processo decisório; - Um sistema econômico capaz de gerar excedentes e knowhow técnico em bases confiáveis e constantes; - Um sistema social que possa resolver as tensões causadas por um desenvolvimento nãoequilibrado; - Um sistema de produção que respeite a obrigação de preservar a base ecológica do desenvolvimento; - Um sistema tecnológico que busque constantemente novas soluções; - Um sistema internacional que estimule padrões sustentáveis de comércio e financiamento; - Um sistema administrativo flexível e capaz de autocorrigir-se”. África do Sul, a Rio+10, mostra que nenhuma destas áreas se saiu bem. “O meio ambiente continua a ser desvalorizado e cada vez mais degradado, apesar de alguns avanços legais e formais encorajadores. O desenvolvimento está cada vez mais distante para a maioria das nações pobres – e de certa forma pode estar se decompondo em nações mais ricas, concluindo-se que será necessário um novo conceito de desenvolvimento, que seja criado em torno da saúde ambiental e do avanço social para todos os povos”. Transcorridas três décadas desde a Conferência de Estocolmo e uma década depois de concluída a Conferência do Rio-92, entre os tempos da “Terra Única” (Estocolmo) e do “Meio Ambiente e Desenvolvimento” (Rio), não há dúvida que mudou de maneira visível a percepção acerca da questão ambiental: Os anos 90 começaram com grandes mudanças na agenda internacional. O ponto de inflexão foi a Cúpula da Terra, celebrada no Rio de Janeiro em 1992, “organizandose as bases para uma nova visão mundial do desenvolvimento sustentável, através de convenções como da diversidade biológica e das mudanças climáticas. Deste modo, a abertura dos espaços para o desenvolvimento sustentável estava estritamente vinculada com a evolução dessa situação, da agenda (ecológica mundial) e dos desafios ambientais na última década, e com as profundas mudanças que o mundo tem experimentado, particularmente a partir da intensificação do processo de globalização” (CEPAL, 2001). A Rio-92 foi o primeiro encontro internacional de importância que analisou conjuntamente as questões ambientais e desenvolvimentistas. Dez anos depois, uma avaliação do “Estado do Mundo”, feita pela ONU, para a Conferência Mundial de Johannesburgo – Na Rio+10, “os governos reconhecem que houve avanços significativos, principalmente no que se refere à tomada de consciência e à entrada em vigor de normas jurídicas internas e internacionais. Apesar disso, permanecem os desafios para fazer do desenvolvimento sustentável uma realidade. Ainda há muito que avançar para que se possam materializar as necessárias mudanças nos modelos atuais de desenvolvimento” (ONU, 2002). 3 O estado do mundo em 2002 A Rio+10 foi uma oportunidade para os países reverem seus planos de desenvolvimento e discutirem soluções para o futuro do planeta. Cerca de 70% da superfície do globo poderá ser afetada pelo impacto de mineração, estradas e cidades em 2032 se a humanidade não tomar, previamente, providências urgentes. A conclusão é de um relatório da ONU, no qual trabalharam mais de mil cientistas, conhecido como “Geo-3” (sigla em inglês para Panorama Ambiental Global), prepara- RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO do pelo PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Ambiente) para servir como indicador da saúde ambiental da Terra às vésperas da Rio+10. O mais amplo estudo sobre a saúde da Terra realizado nos últimos dez anos traçou um futuro sombrio para o planeta, “caso medidas urgentes para combater o desenvolvimento desordenado não sejam tomadas”. De acordo com o “Geo-3” “um quarto dos mamíferos estará extinto ao longo das próximas três décadas. Hoje metade dos rios já estão poluídos, 15% do solo estão degradados e 80 países sofrem com escassez de água”. O documento mostra que há 2,2 bilhões de pessoas a mais do que em 1972. Cerca de dois bilhões de hectares de solo, ou 15% da superfície do planeta, foram degradados pelo homem. Desde 1990, as florestas do mundo foram reduzidas em 2,4%. Segundo o relatório, em três décadas, 50% da população do mundo viverão em área de escassez de água. O oeste da Ásia tende a ser a região mais afetada, com 90% da população sofrendo com a falta de água. O relatório identifica mais de 11 mil espécies de animais e plantas ameaçadas de extinção. Uma em cada oito espécies de aves está em perigo, além de cinco mil diferentes plantas e quase mil mamíferos, um quarto das espécies do mundo. Fatores responsáveis pela extinção dos mamíferos continuam aumentando de intensidade, segundo o PNUMA. A destruição dos habitats dos animais e a introdução de espécies invasoras são os maiores responsáveis pela perda de biodiversidade no mundo. Segundo o PNUMA, os fatores que levaram à extinção de espécies em épocas recentes continuam ocorrendo, com cada vez mais intensidade,. O estabelecimento do homem em regiões selvagens remotas e a ação da indústria tive- Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 37 ram um impacto dramático na sobrevivência de plantas e animais ameaçados. Os especialistas reunidos pelo PNUMA disseram que as drásticas mudanças pelas quais está passando o planeta agravarão o problema da fome, de doenças infecciosas e tornarão tragédias climáticas mais freqüentes. O relatório informa que muitos problemas poderiam ter sido amenizados se os governos tivessem implementado os tratados e convenções aprovados desde a Rio 92. Isso inclui o Protocolo de Kioto (um desdobramento da Convenção de Mudanças Climáticas), a Convenção de Biodiversidade e a Agenda 21. Percebe-se que grande parte do acerto feito na Rio 92 não saiu do papel, embora, em tese, tenha o apoio da maior parte dos governos. Quanto a América Latina, o relatório do PNUMA diz “que a situação é preocupante, porque além de sofrer com a poluição, a superpopulação e a escassez de água que afetam boa parte do mundo, a região tem alguns dos maiores índices de desflorestamento do planeta”. Dos mais de 400 milhões de hectares de florestas derrubadas nos últimos 30 anos, mais de 40% correspondem à América Latina. 4 O global e o local – o lugar O lugar, visto por FRÉMONT (1989) apud FONSECA (2000), como “elemento essencial da estrutura do espaço”, e por SANTOS (1998) como “expressão da singularidade”, no contexto da globalização evidencia-se como: das firmas e das economias, universalização dos gostos, do consumo, da alimentação” (SANTOS, 1998). Esse lugar é particularmente vulnerável à transformação dos hábitos e costumes, da cultura e das tradições das suas comunidades, porquanto, no dizer de TUAN (1983): “Se faz de experiências, em sua maior parte fugazes e pouco dramáticas, repetidas dia após dia e através dos anos. É uma mistura singular de vistas, sons e cheiros, uma harmonia ímpar de ritmos naturais e artificiais, como a hora do sol nascer e se pôr, de trabalhar e brincar. Sentir um lugar é registrado pelos nossos músculos e ossos”. Isto é tanto mais verdadeiro – e quase sempre de forma negativa, em termos dos seus efeitos – quanto menor e mais isolado o lugar, e mais rico e variado o ecossistema regional em que se encontra incrustado, como um nicho de humanidade em um espaço-território ainda relativamente preservado em seus aspectos naturais. Essa situação é vista na literatura regional por autores como COÊLHO, 1994, e MUZIO-1999, citados por LOULA – 2002, que enfatizam exatamente essa possibilidade da existência do lugar como contraponto ao processo global, extraindo deste as condições para afirmar a sua singularidade enquanto comunidade. “Universalização das trocas, universalização do capital e de seu mercado, universalização da mercadoria, dos preços e do dinheiro como mercadoria-padrão, universalização do modelo de utilização dos recursos por meio de uma universalização relacional das técnicas, universalização do trabalho, isto é, do mercado de trabalho e do trabalho improdutivo, universalização do ambiente 38 Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA - “o processo de reestruturação econômica rompe com as integrações regionais, compartilhadas horizontalmente, e cria possibilidades de novas integrações. Ciência, tecnologia e informação se constituem em base de formas de utilização do território. Desenvolve-se uma exarcerbação do processo de competição espacial a partir das especializações produtivas de cada local. O que se pensava ser uma negação do local ... passa a ser a sua reafirmação, transformando-o em agente capaz de oferecer opções de integração local/global a partir da construção de redes, da articulação local de fornecedores, de pontos nodais de fluxos da informação e dos transportes” (COÊLHO, 1994: 30). - “... qualquer iniciativa que tenda a fortalecer as possibilidades de sobrevivência do nível local, das culturas e estilos de vida locais é, em si mesma, uma possibilidade para ser contraposta ao caminho de integração do planeta via o projeto de globalização, que de outro modo não enfrentaria nenhum obstáculo significativo para afirmar sua dominação” (MUZIO, 1999: 161) Milton SANTOS, em trabalhos de 1994, 1996 e 1998, já contemplava o panorama da inserção do lugar nas redes da globalização, conforme referido por FONSECA-2001: “Os lugares, enquanto funcionalização do mundo, são moldados visando beneficiar as firmas e as classes hegemônicas. Os que apresentarem maiores virtualidades técnicas (infraestrutura, acessibilidade, equipamentos), organizacionais (leis, impostos, relações trabalhistas, mãode-obra qualificada, etc.) e naturais – hoje com menor importância relativa dentro do processo produtivo – estão mais aptos a atrair investimentos externos. Estas vantagens buscam atrair a produção, como também consumidores, fazendo com que se estabeleça uma acirrada competição entre os lugares, onde alguns “ganham” e outros “perdem”. Os que “ganham” contém maior densidade técnico-científica, são funcionalmente especializados, e, por isso, apresentam maior intensidades de fluxos de entradas e saídas. Os que “perdem”, podem entrar em estagnação. Com isso, amplia-se a diferença hierárquica entre os lugares, pois, apesar de estarem unificados por intermédio de múltiplas redes técnicas, nem todos são atingidos com a mesma intensidade pelo processo de globalização. Por outro lado, os lugares, ao serem redefinidos por interesses próximos e longínquos, locais e globais, são focos de resistência contra a lógica de acumulação global. Segundo SANTOS (1994), no lugar ocorre a união dos homens pela diferença e pela cooperação, apesar da existência cotidiana de conflitos. É onde são tecidas relações primárias, identitárias e cotidianas, pois pressupõe proximadamente e contigüidade que favorecem o fortalecimento de laços de solidariedade, capazes de gerar resistências contra a ordem determinista global (SANTOS, 1996). Assim, o lugar, o singular, apesar de conter o universal (global) e ser du- RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO ramente afetado por este, também apresenta suas contingências, engendradas internamente, em virtude do cotidiano e dos laços de solidariedade que são estabelecidos entre os agentes. É dessa forma que a lógica de acumulação global pode ser contrariada no lugar” 5. Conclusão Neste artigo, buscou-se evidenciar a gênese comum, nos anos 60/ 70, dos processos históricos que determinaram a emergência do paradigma da globalização econômica como o fato marcante deste inicio do séc. XXI nas relações entre países, governos, organismos internacionais e empresas transnacionais, em paralelo ao avanço da luta global na defesa do meio ambiente e do futuro planetário, consubstanciada nos parâmetros que orientam o desenvolvimento sustentável, um novo amálgama de conceitos em torno da idéia essencial de que o desenvolvimento deve incorporar, de forma evolutiva e ampla, a sustentação da qualidade da vida e a melhoria dos padrões societários em escala mundial e de modo definitivo a partir do presente. O entrelaçamento dos interesses, por vezes convergentes, por vezes conflitantes, dos múltiplos atores que comandam e sofrem os efeitos resultantes dessa nova “última etapa” de expansão do capital, aprofunda-se até os níveis regional e local das sociedades contemporâneas, impondo a todos os lugares da Terra, das megalópoles às menores co- munidades, a inescapável tarefa de tecer e construir no dia-a-dia das relações cotidianas o “nosso futuro comum” – mesmo sem qualquer garantia de que haverá futuro e de que será ele (qualquer que seja) comum para todos nós, no sentido de nãoexcludente, amplamente inclusivo, para além do antigo paradigma socialista – “ a cada um de acordo com a sua necessidade, de cada um de acordo com a sua capacidade”. nhos da Sustentabilidade Cinco Anos Depois da Rio – 92, Rio de Janeiro: FASE, 1997. GARDNER, Gary. O desafio de Johanesburgo: criar um mundo mais seguro. In: ONU – Estado do Mundo 2002. Salvador: UMA, 2002. Pg. 22/30. GIDDENS, Anthony. 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Palavras-chave: desenvolvimento regional, espaço Sul Baiano, transição econômica, diversificação econômica, desenvolvimento social. Abstract This paper considers main statements of the Southern Bahia Region: The overcoming of the mono-agricultural culture exportation model; the economical diversification and its dead lock, the disagreement between economical and social trends, the obstinacy interference of the Brazilian Federal Government as a source of regionalism; the tourism industry jam and its obstacles. Brings up elements to an evaluation of political dimension role on the condition settlement of a not local regionalism. Key words: Regional development, Southern Bahia Region, economical 40 transition, economical diversification, social development. Introdução É comum a identificação da crise regional sul baiana como crise da economia cacaueira sem maior atenção à complexidade da situação local/regional em termos dos óbices ao seu desenvolvimento social no atual momento histórico. A construção da crise regional como crise cacaueira pode ser vista como integrando o campo dos antagonismos e confrontos de forças sociais que se concretizam também nas práticas discursivas . Este artigo aborda aspectos históricos-geográficos da transição em Ilhéus e Região de uma economia de base agro-exportadora, de caráter monocultor e perfil pré-capitalista para uma economia complexa, de base capitalista assentada num processo de diversificação ainda em curso. Pretende analisar determinantes da crise regional que emperram o processo de transição ou de consolidação do quadro diversificado da economia local e do próprio desenvolvimento regional. O artigo divide-se em quatro seções, mais esta introdução; a primeira trata a transição/diversificação da economia, a segunda traz considerações teóricas relativas ao implemento do setor turístico em Ilhéus, Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA a terceira analisa a situação do turismo marítimo e sua condição local. Nas considerações finais, são discutidos aspectos políticos que desviam as forças locais da busca da superação da crise regional e do desenvolvimento social regional. O velho e o novo no contexto sul baiano Partimos do postulado da existência de uma transição de uma economia centrada em um modelo agro-exportador, para uma economia com um perfil complexo, a partir de um quadro econômico diversificado em setores organizados sem a subordinação ou sobre o comando do pólo agro-exportador. De fato, é possível falar da economia cacaueira como uma espécie de modelo agro-exportador tardio na economia brasileira, assentado em relações sociais de produção pré-capitalistas (A. FILHO, 1976), na monocultura e na concentração da terra. A cacauicultura não remete ao latifúndio, pois as condições do solo regional propício ao cacau não favoreceram a formação da grande propriedade na região, onde a concentração fundiária assume a forma do grande proprietário possuidor de diversas fazendas. 1 Mestre em Geografia – UFBa. Email: [email protected]. RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Estrutura similar à da economia cacaueira encontra-se nos seringais da Amazônia brasileira, na região norte do país, que apresentam semelhanças com as antigas fazendas de cacau, fato que parece não ter sido explorado por estudos geográficos. São exemplos desta semelhança a constituição, entre o fim do século XIX e início do século XX, do caráter monocultor, agro-exportador, pré-capitalista, a ocorrência do sistema de barracão (A. FILHO, 1976), o produto (borracha, cacau, castanha) oriundo da floresta, altos resultados monetários, a concorrência da Malásia, entre outros aspectos, que nos permite falar, em termos de analogia, de uma espécie de sub-ciclo agro-exportador tardio, em relação aos “ciclos econômicos” da história econômica do país, (estudados entre outros autores por PRADO Jr., 1994; HOLANDA, 1973; FURTADO, 1964). A economia regional, assentada na base primária exportadora, deu conformação a um subsistema urbano regional, em conformidade com as análises de Silva, Silva e Leão (1987), e se mantém, em larga medida, condicionante da realidade regional. A idéia aqui trabalhada é que tal situação não é de forma alguma estática. Desdobra-se, desde os anos 1950, um processo de transformação que evolui para modificar a estrutura econômica regional com clara tendência a desprincipalização do setor primário exportador e para a conformação da economia regional a uma nova realidade, que se impõe com múltiplas determinações: a inserção da pecuária por iniciativa interna, a presença da indução endógena e exógena na diversificação agrícola e no turismo; novas territorializações com a indústria e com o polo de informática e eletroeletrônicos. Silva, Silva e Leão (1987) e a Fundação CPE (FCPE) (1992a), entre outros, apontam o ano de 1950 como o início da diversificação no Sul da Bahia, tendo por substrato a série de crises conjunturais, que desde o começo do século, logo desde o princípio da constituição dessa economia, geraram uma situação de insegurança econômica para a maioria dos cacauicultores. A FCPE (1992a) pontua o episódio da política cambial do Governo Federal em 1953, que gerou um imenso confisco de recursos regionais, como um acontecimento que desnorteou inúmeros cacauicultores, levando-os a buscar a pecuária como alternativa ao cacau e como forma de repudio a essa política do Governo Federal da época. Esses autores descrevem a pecuarização da região cacaueira; como o gado, no início, ocupa terras não aproveitadas pela lavoura cacaueira para, em seguida, avançar sobre os terrenos do cacau competindo com essa lavoura e, em muitos municípios, passa a dividir o espaço com o cacau. Silva, Silva e Leão (op. cit.) indicam o conjunto de 26 municípios que chegam em 1970 a ter a pecuária como a principal atividade de ocupação do solo na região contra 16 com predominância do cacau, sendo que, no primeiro grupo, 16 são exclusivamente pecuaristas. Apontam os fatores, que levaram ao processo de diversificação: as crises econômicas enfrentadas pelos cacauicultores, a assistência fornecida pela Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) e o fato da pecuária ter tido o estímulo para sua expansão na implantação das indústrias de leite Glória, em Itapetinga e Nestlé, em Itabuna. Lavigne (1958), considerando a relevância do porto de Ilhéus para Itabuna no final dos anos de 1950, afirma “(...) em Itabuna, cujo comércio marítimo, pelo nosso porto, é tanto, senão mais, que o de Ilhéus, por ser o mais movimentado centro comercial do interior do Estado.” (p. 13) Assim, também o comércio consta como uma das atividades iniciais do processo de diversificação da RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO economia regional. Um estudo regional da FCPE (1992b) aponta a evolução da importância do comércio para Ilhéus e Itabuna. “Segundo dados do Censo Comercial – IBGE -, o valor da receita total do comércio de Ilhéus revelou-se, quase o dobro do de Itabuna, tendo como responsável o comércio atacadista. O valor do comércio atacadista de Itabuna em 1980, representou apenas 23% do de Ilhéus; já no comércio varejista, o quadro se alterna com Itabuna representando valores duas vezes maiores que o em Ilhéus” (p.15). Portanto, temos no ano de 1950 o início do processo de transição da economia regional para um modelo econômico mais complexo, sem que seja possível indicar, até este momento, uma data do término da transição ou, ao contrário, é correto afirmar que este processo está em desdobramento. A transição é uma situação efetiva, que emerge como condicionante da questão do desenvolvimento regional. Considero, de fato, a diversificação econômica regional o aspecto central dessa transição na região. A pecuária inicia esse processo e cresce com constância no decorrer da segunda metade do século XX; o comércio é um elemento relevante; na agricultura a diversificação registra a ocorrência do cultivo do guaraná, da pimenta do reino, do café, do dendê e a emergência de uma fruticultura regional; ocorre a implantação de uma estrutura industrial, que começa com o beneficiamento do cacau e cresce com novas industrias em ramos diversificados, com destaque para o Pólo de Informática e de eletroeletrônicos em Ilhéus; o setor turístico, surgiu como uma alternativa que envolve alguns municípios da antiga Zona do Cacau, constituindo no Estado da Bahia uma sub-região turística a – Costa do Cacau – integrando os municípios de Canavieiras, Una, Ilhéus, Itacaré, Santa Luzia e Uruçuca. Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 41 Referindo-se à diversificação econômica em Ilhéus, com ênfase no turismo, o estudo sobre Ilhéus e Itabuna, anteriormente citado (FCPE, 1992b), afirma que “Ilhéus foi, sem dúvida, a cidade que sofreu maiores alterações na sua estrutura urbana, pois essas novas atividades exigiram também uma nova cidade” (p.15); mas relativiza a dinâmica do processo de diversificação como capaz de ter transformado a situação regional até aquele momento, afirmando que a estrutura econômica regional segue “preservada, assim como a rede de cidades que lhe dá apoio” (p.17). É possível apontar a ocorrência de um confronto de forças sociais na transição em curso na região cacaueira? Penso que sim, o confronto entre as forças que querem a hegemonia da cacauicultura, portanto, a vigência da lavoura cacaueira como epicentro econômico da região e as forças ligadas ao processo de diversificação da economia regional. Tal embate se desenvolve desde os anos de 1950, portanto, desde o princípio de diversificação da estrutura produtiva que, certamente, levará à superação da economia cacaueira, enquanto conformação a um modelo econômico com características pré-capitalistas. Contudo, tal confronto de forças sociais tem uma especificidade regional. Não são sociedades que se confrontam, ou mesmos classes sociais locais, distanciadas/diferenciadas, mas ao contrário, o confronto vem ocorrendo no interior da classe dominante regional. Parcelas do segmento da cacauicultura iniciaram a diversificação, ou seja, elementos endógenos à região deram os primeiros passos para a superação do modelo agro-exportador, entretanto, são subgrupos desse mesmo segmento que se aferram a cacauicultura ao longo ao das últimas décadas. Fato que explica, até certo ponto, a grande lentidão do avanço da diversificação da economia regional por conta da intensa 42 “ ... aqui não está acontecendo nem crescimento nem desenvolvimento... ” elasticidade do apego à “cultura do cacau” e à mentalidade cacaueira. Não estamos minimizando a importância da atuação de instâncias exógenas que, de fato, vem favorecem tanto a tendência à diversificação quanto à conservação do modelo agro-exportador. Do ponto de vista do sistema o que é decisivo na sua transformação é a integração das forças locais. (SANTOS, 1997; SILVA, 1999; BOISIER, 1999) Conforme estudo da FCPE (1992b, p.20): Embora a maioria das análises sobre a economia regional destaque a importância e necessidade de diversificação das lavouras, isto vem acontecendo de forma muito lenta. Este processo encontra como entraves a falta de recursos, as condições fundiárias, a tradição do cultivo do cacau, etc. O apego dos produtores a lavoura cacaueira revela-se a cada crise, onde persiste-se sempre na esperança de sua recuperação, haja visto os períodos anteriores em que grandes auges econômicos sucederam-se a piques de crise. A consciência da situação de impasse regional, a sensação que se estar a meio caminho de uma mudança, às vezes, revela-se em certas colocações de agentes locais como a frase de Zugaib (1995) “(...) aqui não está acontecendo nem crescimento nem desenvolvimento.” Referindo-se à situação de aprofundamento da crise cacaueira e da inércia que domina a região. As forças, que buscam preservar o modelo mono-agro-exportador configuram o aspecto retrógrado desse processo, lutam pela preservação do velho, da monocultura, aferram-se à perspectiva de um “renascimento”, de uma “revita- Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA lização”, de um “retorno” do cacau como tábua de salvação regional, como a via para as soluções dos problemas econômicos da região. Algumas leituras querem situar a atual recuperação da lavoura cacaueira coordenada pela Ceplac, com a clonagem, isto é, cacaueiros resistentes à praga da vassoura de bruxa, como correspondendo à adoção de novos comportamentos, por parte dos produtores, voltados então a uma racionalidade capitalista. De fato, uma série de comportamentos de agentes econômicos locais, como a inércia, a descrença de si, a falta de perspectivas, o derrotismo, a depressão, o baquear, o esmorecer, frente à “crise da vassoura de bruxa”, parecem traduzir, nesse segmento, alguma coisa que parece não ser mais do que conceber o futuro como retorno do passado. Portanto, mesmo reconhecendo que a região tem uma lógica própria, que não se reduz à soma de suas partes, percebe-se a grande influência desses comportamentos como um quase resultado, ou seja, um comportamento local dominante. Neste sentido, a atual crise, potencializa e dramatiza, a questão regional como contradição entre um passado, que é imposto ao presente, e que, ao mesmo tempo, se busca superar. Não se trata de uma saga, à Jorge Amado, mas de uma mentalidade moribunda, que mais do que nunca se faz regionalismo no sentido dado a esta categoria por Castro (1992). A questão da transição tem importância para o desenvolvimento regional por apontar elementos da divisão das forças sociais da região, ao revelar a ausência de um pensamento partilhado sobre os problemas da região e de clareza sobre que atividades poderão melhor aproveitar e direcionar as forças locais para o desenvolvimento social. Enfim, a situação de desencontro entre as forças sociais locais, como um dos impedimentos para se formular e se alcançar objetivos comuns. RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Segundo autores que lidam com a problemática do desenvolvimento regional em contextos de economias periféricas (entre outros: SILVA e SILVA 1996, 1997, 1998; BOISIER 1996, 1999; SOUZA, 1996), o desenvolvimento de uma região passa, entre outros fatores, pela questão da criação de sinergia, da produção de entendimentos e consenso sobre objetivos comuns, pela capacidade de se auto-organizar, de se constituir enquanto região para si, isto é, embebida numa consciência de pertencimento, de reconhecimento de si, de sua identidade, de sua cultura. Numa palavra, o desenvolvimento social passa por um querer, pela vontade social regional, pela autodeterminação coletiva que se faz alavanca, que se constitui em força social capaz de vencer obstáculos, de criar condições e gerar os meios necessários, que levam aos propósitos arquitetados coletivamente. A presença de tais fatores é fundamental na elaboração de um projeto político de desenvolvimento regional, requisito básico para a realização dos trabalhos de busca e implemento do desenvolvimento social. Essa sinergia, essa harmonização de intenções e de vontades regionais em absoluto tem como pré- requisito a homogeneidade de cores políticas, antes, realiza-se em contexto de concorrência, de conflitos de interesses que conseguem se harmonizar para lutar pelo propósito comum do desenvolvimento, para o enfrentamento de inimigos comuns, em tais condições a região torna-se um espaço objetivamente compartilhado, um chão comum capaz de dar unidade a forças heterogêneas num contexto de economia capitalista. É importante ao fecharmos essa seção considerar o papel do Governo Federal, através da Ceplac, na conformação da situação em estudo. A Ceplac não foi criada no contexto do “milagre econômico” mas “ ... a Ceplac consolidou na região, uma estrutura agrária de alta concentração de rendas e terras... ” se firmou como instituição chave, na perspectiva de ação local do Governo Federal, para uma política de desenvolvimento da região na conformação da lógica “desenvolvimentista”, isto é, no modelo conceituado como “desenvolvimento a qualquer custo”. Neste sentido, atuou maximizando a produtividade de uma commodity, que trazia alta rentabilidade monetária, ao invés de construir um projeto de desenvolvimento agrícola, com uma pauta de diversificação da agricultura regional, em que o cacau fosse erigido em destaque no processo de diversificação, a partir do desenvolvimento das virtualidades verticais – a agroindústria; em sentido inverso, a instituição optou por uma perspectiva horizontalizante: aumentar a produtividade, ampliar a área de cultivo, estendendo-a a solos mais pobres e apoiando-se em insumos industriais, adubos e pesticidas; e, por fim, buscando substituir o sistema “cabruca” pelo sistema “derruba total”. (quanto ao sistema cabruca e a derruba total ver SAMBUICHI, 2002 e MAY E ROCHA, 1996). Ao formular e implementar metas voltadas para transformar o Brasil no maior produtor mundial de cacau, a Ceplac consolidou na região, uma estrutura agrária de alta concentração de rendas e terras, de grande dependência ao mercado mundial e um sistema de expansão da cacauicultura agregado a outro RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO sistema florestal que, no somatório, levou o sistema econômico regional à entropia. No início a instituição buscou conter os impactos da vassoura de bruxa com o incremento do uso de agro tóxicos, sem considerar a possibilidade do uso extensivo e fora dos padrões normais de tais agentes químicos estarem na base da vulnerabilidade regional àquela praga e posteriormente voltou seus esforços para reverter a extensão alcançada pela crise com pesquisas que levaram a possibilidade da clonagem, desenvolvendo sistematicamente campanhas indicativas de uma futura solução da situação, ou seja, alimentando expectativas de um retorno aos “bons tempos”. Sinergia e não regionalidade: o caso do turismo em Ilhéus. O exemplo do turismo é favorável para a análise de obstáculos à concretização da diversificação econômica, no Sul baiano, por se constituir em um setor econômico novo no contexto regional. O turismo é tido localmente por atividade de grande relevância, esteio da nova estruturação econômica de Ilhéus, relacionada com diversos segmentos da sociedade local, do porto aos fazendeiros de cacau. Um negócio, que deu ânimo para alguns cacauicultores retornarem à ação econômica no decorrer da crise da vassoura-de-bruxa, re-alocando, aí, recursos da lavoura cacaueira. A perspectiva na consideração do setor turístico é para o comportamento da cidade, em relação a esta nova atividade. Como vem construindo as articulações, o consenso, a sinergia para desenvolver o turismo? A que distância se encontra da formulação de um projeto turístico para a cidade? Qual nível de articulação, de entendimentos, de parcerias elaboradas internamente e entre os municípios turísticos da Costa do Cacau? E de forma geral, pers- Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 43 crutar como o turismo vem se desenvolvendo em Ilhéus no sentido de consolidar a diversificação da economia do município? A questão do turismo foi abordada por Silva (1999, p.5), tendo em conta que: região – os resorts. Foi assim implantado, um novo segmento turístico: o segmento de lazer padrão internacional. (...) a holding suíça Corviglia, inaugura em Ilhéus, um novo modo de gestão da atividade, onde o turismo passa a assumir um caráter estritamente empresarial.” (p.27) de 221% no fluxo de turismo receptivo. Em 1991, cerca de 1,9 milhão de turistas visitaram a Bahia, enquanto, em 2000, esse fluxo elevouse para 4,2 milhões. No mesmo período, o número de visitantes estrangeiros aumentou em 247%, evoluindo de 160 mil para 556 mil turistas.” (...) o crescimento e a difusão espacial do turismo, teórica e empiricamente, tem contribuído para a valorização dos fatores internos do processo de crescimento local/regional e para o redirecionamento dos fatores externos de crescimento também local/regional.” O take off dado por investimentos externos recebe um reforço, com a entrada de novas inversões durante o Plano Cruzado, que se concentrou na rede hoteleira de Ilhéus. No decorrer da década de 80, segundo a FCPE (1992b, p. 27): Para atingir a meta de descentralização da atividade no Estado foi formulada uma “Nova Geografia Turística”, com sete áreas turísticas, cada uma com um destino turístico principal: Baía de Todos os Santos, Costa das Baleias, Costa do Dendê, Costa do Cacau, Costa dos Coqueiros, Costa do Descobrimento e a Chapada Diamantina. O estudo do BNDES (2001, p.3) assinala que: O autor salienta a importância da indução endógena, que pode fortalecer o território e a situação inversa com a indução externa que o pode enfraquecer. Pondera que “evidentemente, os dois processos tendem a ser interdependentes mas, é preciso destacar, pela importância de seus desdobramentos, os fatores, que teriam dado origem ao processo, a intensidade e a forma de relacionamento entre os mesmos” (p.6). A interatividade necessária das duas situações pode, segundo Silva (1999), gerar três situações: a persistência do fator original; a substituição do fator inicial, sua desprincipalização e o equilíbrio entre os fatores internos e externos. O turismo em Ilhéus começa com a presença da indução exógena, registrando-se em decorrência, a emergência de um movimento endógeno e a interação dos dois fatores na conformação da atividade, que apresenta um perfil bem segmentado, com um setor de médio e alto padrão de renda implantado por indução externa e um setor de médio e pequeno porte implantado por indução endógena. Estudo da FCPE (1992b) afirma que: O declínio da rentabilidade da monocultura contribuiu para que novos capitais ingressassem no setor turismo, concentrando-se basicamente, em investimentos de médio e pequeno porte. Pela primeira vez, na história da Zona Cacaueira, os capitais acumulados com a secular cultura iniciaram um processo de migração para outra atividade desenvolvida na região, sem vínculo algum com a tradicional lavoura ou mesmo com o setor agropecuário.” Com um setor turístico diversificado, podendo atender à demanda regional e desenvolver o turismo receptivo para segmentos de padrão elevado nacional e internacional, a cidade de Ilhéus apresenta condições excepcionais para essa atividade. Tal situação é potencializada por movimentos exógenos de grande significado, como o caso da participação do Estado da Bahia no setor turístico, com destaque no panorama nacional. Segundo o BNDES (2001, p.1), A expansão do setor foi deflagrada em meio a atual crise do cacau, através de investimentos turísticos realizados por empreendedores externos a zona Cacaueira. O boom ocorre, a partir da descoberta das potencialidades regionais por um grupo de empresarial suíço em 1981, que introduz um novo estilo de hotel na 44 Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA A partir de 1991, foi estabelecido um novo plano estratégico, contemplando um horizonte temporal com visão até 2005. Este plano teve como objetivo básico promover a desconcentração do desenvolvimento do turismo, bem como ampliar e melhorar a qualidade do produto turístico baiano. Atualmente, conta com 14 produtos turísticos dotados de completa infra-estrutura, voltados para diferentes segmentos de turistas. Essa nova estratégia para o desenvolvimento do turismo na Bahia, resultou para o período de 1991 a 2000, em um crescimento da ordem Nos últimos dez anos, o Governo da Bahia vem empreendendo, no entorno das zonas turísticas, investimentos em infra-estrutura básica, com obras de saneamento básico, construção e modernização de rodovias e aeroportos, geração e distribuição de energia e recuperação do Patrimônio Histórico, cujas inversões, até 1999, perfizeram cerca de US$ 1,4 bilhão. Para o período 1991/2005, os investimentos públicos planejados deverão totalizar cerca de US$ 2,2 bilhões.” Segundo dados da Superintendência do Desenvolvimento do Turismo do Estado da Bahia (Sudetur), para a Costa do Cacau, entre 1991 a 2005, estão previstos investimentos públicos da ordem de US$ 212,8 milhões e investimentos planejados pela iniciativa privada para o período de 1991 a 2012, de cerca de US$ 463,6 milhões. Ainda quanto à investimentos externos na região, registra-se a presença do Governo Federal, com o PRODETUR, que até 1999 realizou investimentos, segundo o BNDES, (1999), no Estado da Bahia da ordem de R$ 300 milhões. Siqueira (2001) notifica a existência de políticas públicas, no governo federal, voltadas para valorização e consolidação da política de pólos econômicos na zona da mata do Nordeste para gerar a recuperação econômica da economia açuca- RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO reira e cacaueira frente à situação de crise existente. Observa-se um verdadeiro dinamismo em perspectivas e efetivas ações da indução exógena ao desenvolvimento do turismo na Costa do Cacau, em que Ilhéus deveria despontar como principal destino turístico. O desenvolvimento da indução endógena, segundo Silva (1999), “é decorrente também, do uso eficiente dos recursos e das inovações da comunidade” (p. 5). O estudo realizado por Siqueira (2001) sobre a zona da mata do Nordeste, ao analisar os pólos turísticos no Estado, aponta três áreas de efetiva expansão da atividade: em primeiro lugar, a região de Salvador, seguido da região em torno de Porto Seguro e, “(...) em terceiro, as cidades ao longo da faixa litorânea entre Salvador e os municípios em direção a Aracaju/Sergipe, localizadas na “Linha Verde”, que teria como principal atração as praias” (p.162). Em uma entrevista publicada na revista Ilhéus (2000), o prefeito foi questionado da seguinte forma: – O senhor fala do turismo como uma das mais importantes saídas econômicas para o município, mas o turista queixa-se da falta de opção de lazer. – Bom, turismo é uma atividade que deve ser trabalhada com muito cuidado, e o nosso trade vem se profissionalizando. Temos aqui, empresários que avançaram e outros não. Não é uma atitude crítica, e sim uma constatação. De nossa parte, recuperamos a Casa de Jorge Amado, o teatro municipal, construímos o circo Folias de Gabriela, lutamos para a total recuperação do Bar Vesúvio, e estamos recuperando o Bataclan. Isso além de organizando a Orla Norte, com cabanas padronizadas, calçadão, iluminação moderna. Também continuamos investindo na Litorânea Sul, assim como já estamos realizando obras de urbanização na Litorânea Norte, no Malhado, que terá praças de esporte e lazer a beira-mar, além das praças e jardins. – Mas nos referimos a equipamentos que possam fazer o turista permanecer por mais tempo na cidade. - Como boate? Choperia? Casa de “ Do ponto de vista da governança ... o que importa são resultados, não os riscos ou setor de atuação. ” Shows? Isso não cabe de forma alguma à Prefeitura, e sim a iniciativa privada, aos empresários que são responsáveis por esses tipos de equipamentos. Constata-se que o executivo municipal não pensa na gestão do setor turístico e da própria municipalidade como empresariamento. A lógica do “dever de casa” é própria de uma concepção de governança setorizada (MILANI, 1999). Não se vê a necessidade de fazer mais e viabilizar a decolagem do setor que, nesse caso, poderá ocorrer através do empresariamento de uma estrutura de equipamentos de lazer e consumo. Do ponto de vista da governança enquanto importante aspecto atual do capitalismo, o que importa são resultados, não os riscos ou setor de atuação. Estudo da FCPE (1992b) prevê o desenvolvimento de Ilhéus como o centro de um novo núcleo de turismo na região, e considera as virtualidades de Salvador como centro comercial e de serviços, de lazer e recreação, observando que o conjunto destes recursos: permite intenso dinamismo à sua região turística. Já Porto Seguro conseguiu incrementar a atividade aliando a história e a natureza ao poder de atração da lambada. A região de Ilhéus, entretanto, carece de novos elementos que venham potenciar a expansão do turismo na Zona Cacaueira”.(p.30) Após mais de duas décadas da arrancada do setor Ilhéus ainda não tem uma característica distintiva, RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO um tipo de identidade turística, ou um perfil turístico definido ou em definição. Carece igualmente de consciência quanto à existência das dificuldades para a consolidação da atividade no município, e mesmo o reconhecimento de que o setor não decolou, significa dizer que pouco ou nada se faz para enfrentar os problemas, que vem crescendo sem o ordenamento de um projeto especifico. Os impasses podem ser constatados pela classificação do técnico do BNDES (SIQUEIRA, 2001) da terceira área de expansão do turismo no Estado da Bahia como “cidades ao longo da faixa litorânea entre Salvador e os municípios em direção à Aracaju...”. Não foi destacado um centro receptor, o núcleo da área em causa, como no caso de Salvador e Porto Seguro; e isso acontece, porque o que este setor oferece, segundo o estudo referido, são as praias. Ilhéus vem recebendo através da indução externa, os meios para implantar no município uma sólida estrutura turística. Embora, como salientou Santos (1997, p. 17): A ação externa ou exógena é apenas um detonador, um vetor que traz para dentro do sistema um novo impulso, mas, que por si só não tem as condições para valorizar esse impulso.” Em um estudo realizado sobre o turismo em Ilhéus, Menezes (1998) descreve um quadro em que os diversos segmentos da atividade turística local são envolvidos em constantes conflitos, formando uma rede de acusações mútuas e um estado permanente de desencontros e desarmonia que envolve as diversas agências e categorias do turismo local, como a Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), a Prefeitura, a Ilhéustur, o Sebrae, o Senac, agências de turismo, a rede hoteleira, empresários, barraqueiros, taxistas, garçons, agentes culturais, entre outros. A autora aponta categorias, que são recorrentes nas carac- Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 45 “ O panorama do turismo marítimo mundial é o de uma atividade em grande crescimento... ” terizações, pelos próprios agentes locais, do turismo em Ilhéus: “abuso”, “amadorismo”, “despreparo” “exploração”, “desinteresse”, “preguiça”, “incompetência”, “irresponsabilidade”. Correspondendo às retóricas existentes no setor e definidas por Menezes (Op. Cit., p. 100) como “as retóricas acusatórias daqueles que propõem normalizar os supostos traços negativos (...) e o que chamamos aqui de retóricas defensivas (...)”. As condições apresentadas apontam dificuldades para a construção do consenso, do entendimento, da sinergia indispensável, para a organização dos diversos segmentos e a formulação de um projeto para o turismo na cidade, como meio de viabilizar os aportes externos disponibilizados no lugar. mente seis milhões, segundo dados da Embratur. Para o BNDES (2000, p.2), “A participação do Brasil e da América do Sul, em geral, no cenário mundial de turismo marítimo, é bastante reduzida, se forem considerados outras regiões muito menores, como o Caribe e a Espanha.” Segundo dados da Embratur, a entrada de turistas no Brasil por vias de acesso apresentou as seguintes proporções: 70% por via aérea, 27% por via terrestre, 2% por via marítima e apenas 1% por via fluvial. Segundo estudo do BNDES (2000, p.4): O número de turistas que embarcaram no Brasil, na temporada 1998/ 1999, foi de 20 mil, enquanto no período 1999/2000, esse número declinou para 15 mil passageiros”. Para essa agência governamental, em 1999, (...) os cruzeiros marítimos com duração de 3 e 4 dias, foram os que obtiveram maior crescimento (cerca de 19,6%),relativamente a 1998, podendo se presumir, naquele ano, uma preferência dos turistas por cruzeiros de curta duração. Ainda, em 1999, observaram-se incremento nos cruzeiros de 18 dias ou mais ( 13,4%), nos de 9 a 17 dias (11%), e naqueles de 6 a 8 dias(1,3%).”(...) “Os cruzeiros marítimos são equiparados, na visão mercadológica, a um resort flutuante, devido aos diversos serviços e atividades de lazer oferecido, como aulas de ginástica, infra-estrutura aquática (piscina) e outros esportes. Os atrativos noturnos são variados, podendo ser destacados os bares (com música ao vivo) teatros e cassinos, além de realizações de festas” (p.5). O turismo marítimo em Ilhéus: obstáculos e perspectivas. O turismo marítimo tem destaque na situação do turismo local a partir da condição de Ilhéus enquanto município portuário. Essa modalidade desenvolve-se, desde 1990, com a freqüência, na alta estação, dos cruzeiros marítimos na cidade. Vamos considerar, inicialmente, alguns aspectos deste tipo de atividade em âmbito mundial e nacional. O panorama do turismo marítimo mundial é o de uma atividade em grande crescimento, o número de passageiros de cruzeiros marítimos, em 1999, foi de aproximada46 Estudo do BNDES (2000) faz referência a existência de uma nova situação para a cabotagem, que foi liberada para navios com bandeiras estrangeiras pela Emenda Constitucional nº 7, de 15 de agosto de 1995. Tal medida deverá atrair os cruzeiros marítimos de rotas internacionais para o país, que agora poderão realizar escalas em portos brasileiros com embarque e desembarque de passageiros locais. Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA A questão da participação dos portos brasileiros no turismo marítimo apresenta-se como um dos principais problemas para o desenvolvimento dessa modalidade de turismo no Brasil. Segundo o BNDES (2000, p.5): (...) tanto em função das tarifas portuárias praticadas, quanto pela falta de uma infra-estrutura adequada. Esses óbices acabam por retirar o Brasil do planejamento de rotas de navios de cruzeiro marítimo, ou mesmo diminuir suas estadas. A melhoria da logística portuária, que agilize, por exemplo, a operação de desembarque de turistas nos portos brasileiros é essencial.” Para Lima (1999, p.370) No Brasil a atividade ainda engatinha. Não existem instalações especiais para recepção dos navios e não existe uma estrutura para recepção dos turistas em terra, tudo é improvisado. No Rio de Janeiro até junho de 1999, eram esperados apenas 17 navios que realizarão 104 paradas, trazendo cerca de 100 mil passageiros que gastarão, aproximadamente, US$ 30 milhões em compras. Nas capitais nordestinas a situação não é muito diferente, destacando-se apenas Salvador, que desenvolveu um trabalho de valorização de seu patrimônio cultural e histórico, de tal forma a adicionar “valor” às belezas naturais.” Esse autor (op. Cit., p.370) aponta quatro portos no Brasil, que apresentam condições para se transformarem em centros concentradores de rotas turísticas. São eles: Rio de Janeiro, Salvador, Recife e Manaus. Dá destaque, a situação de Recife ao afirmar que: (...) possui um extenso rol de possibilidades culturais e históricas como por exemplo, a cidade de Olinda, e o riquíssimo folclore pernambucano. Fernando de Noronha, Maceió, Aracaju, Salvador e Ilhéus, ao sul e Natal e Fortaleza, ao norte são escalas perfeitamente viáveis para cruzeiros de sete a dez dias, iniciadas no Porto do Recife. Para tanto, é necessária a criação de uma infra-estrutura adequada para a recepção e o embarque de passageiros – um terminal especializado”. RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO O mesmo autor considera que: Os problemas enfrentados pelo porto do Recife são bastante similares aos de Salvador, Maceió, João Pessoa, Natal, Fortaleza, sendo correto apontar a existência de uma lacuna no planejamento regional que coordenasse esforços para a atração do turismo marítimo ao Brasil.” E considera, a necessidade dos portos nordestinos “(...) examinar a possibilidade de construir terminais especializados para navios de cruzeiros com as seguintes características: a) capacidade para receber navios de 200 a 300 metros de comprimento, com 20 a 35 metros de largura e 9 metros de calado; e b) capacidade de atendimento para até 2 mil passageiros, além do embarque de dezenas de toneladas de alimentos para o abastecimento a bordo” (p.371). O porto de Ilhéus, a partir dos anos noventa, registra a freqüência de cruzeiros marítimos e revela um nível de especialização pouco flexível, quando parece que não há muitas possibilidades para diversificações, nem abertura para atividades não lucrativas para o porto, em termos contábeis, como é exemplo o turismo, independente da importância dessa atividade para a cidade. Por ocasião da realização do XI CONGRESSO BRASILEIRO DOS MUNICÍPIOS PORTUÁRIOS transcorrido em julho de 1999, em Ilhéus, representantes do setor de turismo marítimo historiaram o transcurso da década de noventa, como repleto de dificuldades para os cruzeiros marítimos no porto de Ilhéus. As dificuldades dos cruzeiros com a atracação no porto de Ilhéus, apesar da notificação de chegada com até seis meses de antecedência, foi definida como obstáculo para o turismo marítimo em Ilhéus. Ao chegar ao porto e se deparar com o cais ocupado, o cruzeiro deve custear a operação de deslocamento do cargueiro para poder atracar como contratado anteriormente. Tal fato impõe custos elevados e inviabiliza, segundo um empresário do setor, as paradas dos cruzeiros marítimos em Ilhéus, que passou a ser considerada porto de risco para o setor. Para o Diretor de Operações da Companhia das Docas do Estado da Bahia (Codeba), a empresa cumpre a legislação que regulamenta as atracações nos portos brasileiros. Trata-se da portaria M.V.O.P. np. nº 496, de 26 de outubro de 1964 que regula a concessão de prioridades de atracação. A legislação determina que as despesas de atracação e desatracação do navio, que deve liberar o cais, sejam pagas pelo navio de passageiro. Um funcionário da administração da Codeba de Ilhéus considerou a questão dos cruzeiros marítimos no porto de Ilhéus. Segundo ele: (...) O cruzeiro tem o privilégio de atracar a hora que chegar ocupar o berço interromper a operação de um cargueiro mas tem que arcar com o ônus que é o mínimo possível porque ele não indeniza a operação do cargueiro, apenas assume as despesas da saída do navio daquele trecho e do retorno ao trecho (...)”. Depois de enfatizar, que os cruzeiros não são, comparativamente, vantajosos para o porto, o entrevistado relativiza a responsabilidade portuária na questão. Temos que atentar para as cidades em que estes navios chegam para fazer city tour. Elas devem oferecer atrativos e estruturas. Imagine o que é receber um navio com mil e duzentos, mil e quinhentos, e até dois mil passageiros que vão andar na cidade e tem que ter restaurantes para atender, eles vão fazer refeições, almoçar, jantar vão querer usar essa estrutura. Aí perguntamos, será que a nossa cidade está estruturada para isso? Do ponto de vista da concessionária do porto de Ilhéus, a Codeba, o turismo marítimo é anticomercial. Os cruzeiros não geram receitas portuárias, pagam taxas mínimas, paralisam operações, fato que implica custos, aumenta o tempo de permanência dos cargueiros indo, portanto, de encontro aos interesses das empresas marítimas e da Codeba. Numa palavra, na atual gestão portuária, os indicadores locais de desenvolvimento não são priorizados. RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Para um “ porto do interior do Nordeste, os custos de Ilhéus são relativamente elevados. ” Em Ilhéus, a situação complicase ainda mais, pela pequena extensão do cais comercial (432 m), e pela falta de berço próprio para o turismo marítimo. Segundo cálculos da Codeba, estima-se em um valor aproximado de 10 a 15 mil reais os custos de atracagem de um cargueiro em Ilhéus, o que eleva os custos operacionais para o cruzeiro marítimo no porto para R$ 30 mil e o coloca com tarifas próximas às do porto do Rio de Janeiro (cálculo realizado em maio de 2001). Para um porto do interior do Nordeste, os custos de Ilhéus são relativamente elevados. Da perspectiva dos empresários do setor, Porto Seguro, onde não há porto organizado, é muito mais atrativo, uma vez que não tem os custos portuários, o que pode explicar a preferência do local para os cruzeiros marítimos na região. A Associação dos Municípios Portuários reivindicou, através de um documento oficial do XI CONGRESSO BRASILEIRO DOS MUNICÍPIOS PORTUÁRIOS – a Carta de Ilhéus -, que os cruzeiros marítimos fossem isentados de custos adicionais de atracagem condicionada a um aviso com antecedência da chegada do navio, revelando assim, desconhecer a Lei 8.463, que regula a concessão de prioridades de atracação, uma lei de 1964, portanto, anterior a reforma portuária que prossegue em vigor para prejuízo do turismo marítimo no país. A situação leva a que cidades como Ilhéus, com cais comercial pequeno, praticamente não tenham como desenvolver essa modalidade de turismo. Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 47 “ Um olhar sobre a micro região Ilhéus-Itabuna pode revelar uma plêiade de problemas... ” A situação do turismo, suas dificuldades, principalmente, localizadas na dispersão das forças locais, na dissensão dos agentes do trade, na falta de projeto para o setor, na ausência de empresariamento por parte do poder publico, explica-se, não apenas por questões pontuais ao turismo, mas também por efeitos decorrentes do próprio contexto. Por outro lado , não se deve relacionar tal situação, exclusivamente, como é moeda corrente, aos efeitos prolongados da crise do setor cacaueiro. Considerações finais Uma questão se impõe ao contexto regional Sul Baiano - que fatores são obstáculos para a formação de um consenso regional, da união entre as forças sociais locais, que permita à região formular e conduzir um indispensável projeto político de desenvolvimento social regional? Um olhar sobre a micro região Ilhéus-Itabuna pode revelar uma plêiade de problemas que inclui a crise da cacauicultura, a questão portuária, as dificuldades de decolagem agro-industrial da fruticultura, o impasse do turismo, as questões ambientais, a inexistência de esforços para a endogeneização do Pólo de Informática e de eletro-eletrônicos de Ilhéus, as dificuldades na efetivação da diversificação econômica entre outros que no somatório colocam a questão do desenvolvimento social local como luta contra a condição de não-região 48 (BOISIER, 1999) que hoje vem caracterizando o Sul Baiano. O cerne da situação regional, sua atual paralisia, no sentido da alienação frente aos seus problemas, poderá ser melhor apreendido considerando-se a dimensão política na história recente do país. A redemocratização “não democrática” da sociedade brasileira gerou estruturas partidárias que atuam como máquinas antagônicas caracterizando o exercício político como luta perene entre tais estruturas e cujos políticos, individualmente, não se reconhecem mutuamente enquanto lideranças sociais, a não ser na conveniência de entendimentos transversais indivíduo/partido. Tal conformação partidária determina amplamente o fazer política como eleitoralismo, o sistema eleitoral determinando toda a ação concreta. Na região Ilhéus-Itabuna, a situação agrava-se pela inexistência de uma bancada parlamentar regional, que poderia, em tese, permitir um tipo, pouco freqüente, de objetivação política - a ação regional. Ilhéus, há cerca de três mandatos, não constitui representação parlamentar e Itabuna possui apenas dois deputados estaduais. A dificuldade da região para gerar representação parlamentar é um indicativo, que não se pode descartar, do nível de divergência e de desencontro entre os segmentos políticos partidários e a sociedade local. A ausência de representação parlamentar regional revela o não desenvolvimento de relações políticas positivas entre as municipalidades regionais, principalmente entre Ilhéus e Itabuna, nas últimas décadas. A existência de um quadro político relativamente estanque, em que inexistem espaços de entendimentos e interações entre as lideranças locais; que funciona sem a construção de sinergia frente à série de problemas comuns para as duas cidades que comandam a região pode ser explicado pelo histórico revelado no levantamento dos dados dos Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA sete últimos mandatos dos prefeitos de Ilhéus e Itabuna que abarcam cerca de três décadas – 1973 a 2004 apresentando um quadro em que o desencontro entre cores partidárias, portanto, a situação de divergência política ocorre cinco vezes sobre duas situações de convergências nas cores partidárias; com a agravante de que nos últimos treze anos as duas cidades não tiveram a situação de convergência. O quadro torna-se ainda mais problemático, em função das relações político-partidárias entre a região, através de cada um dos seus municípios, e o estado que também desenvolve sua ação, em larga medida, através dos antagonismos partidários. Tal engrenagem domina igualmente instituições públicas como a Codeba, para dar um exemplo relevante ao contexto local, que desde 1990, com a extinção da Portobrás, passa a ser administrada por um gestor que representa um partido e que, igualmente, tem condicionantes no seu comportamento em relação aos lugares, de determinações extras portuárias. Não se pressupõe que o fato de dois governantes pertencerem a uma mesma instituição partidária se traduza em articulações em prol de um planejamento regional, mas a situação inversa, no contexto nacional de forma geral, aponta ainda mais para dificuldades dessa possibilidade, uma vez que as atuais máquinas partidárias funcionam como se programadas para impedir a formação local de sinergia, ações que resultem em benefício para o oponente, mesmo gerando autobenefício, são excluídas. Prefeitos atuam como se munidos de softs gerados por máquinas partidárias que condicionam a leitura da realidade local aos interesses eleitorais da engrenagem partidária. A prioridade central é a reprodução do poder, a reconquista do mandato, o que ocorre necessariamente em oposição ao outro. Assim, governantes da região vêm logrando retornar ao RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO cargo pensando e agindo, exclusivamente, no mandato que têm e em função do mandato a conquistar, ou seja, em curtíssimo prazo. Quais as condições de possibilidades da reversão do ciclo de crises, de obstáculos e problemas subregionais? Acreditamos que a dominância plena do eleitoralismo como ocorre nas últimas três décadas no Sul Baiano vem gerando conseqüências tão graves e diversas na realidade social local que nem mesmo os partidos políticos ficaram imunes às suas conseqüências. A gravidade da situação poderá levar alguns partidos a tomarem para si, como bandeira, projetos para o desenvolvimento local. A condição de se alcançar “a outra forma de fazer política”, (SANTOS, 2000) dependerá da participação política dos diversos segmentos sociais como o trade turístico, a comunidade portuária, os cacauicultores, os pecuaristas, os comerciantes, os intelectuais, numa palavra, a sociedade regional em seus múltiplos segmentos de quem hoje poderá vir as soluções aos problemas locais. __________. Turismo ecológico: Uma atividade sustentável. Rio de Janeiro, n. 10, mar. 2000. Disponível em htpp// www.bndes.gov.br . Acesso em 27 nov. 2001. __________. Breve panorama sobre o mercado de cruzeiros marítimo. Rio de Janeiro, n. 17, jun. 2000. Disponível em htpp/ / www.bndes.gov.br. Acesso em 27 nov. 2001 __________. As potencialidades turísticas do Estado da Bahia. Rio de Janeiro, n. 28, jun. 2001. Disponível em htpp// www. bndes.gov.br . Acesso em 27 nov. 2001. BOISIER, S. El desarrollo territorial a partir de la construcción de capital sinergetico. Redes. v. 4, n. 1, jan-abr. 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Leia todos os números da RDE pela Internet acessando: www.unifacs.br/cedre/revista.htm RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 49 REVITALIZAÇÃO DA ÁREA DO COMÉRCIO: ESTRATÉGIAS ALTERNATIVAS PARA SALVADOR Lídia Aguiar1 Resumo A decadência da área do Comércio na Cidade Baixa, antigo centro comercial e financeiro de Salvador, se deve a uma série de fatores, dentre os quais, as novas relações intra e inter-regional m, como também político-espaciais que privilegiaram novos meios de transportes e a descentralização do espaço urbano da cidade, configurando alterações no seu território. O Comércio, hoje em dia uma área em decadência, ativa somente no horário comercial, goza de infra-estrutura urbana, comércio, serviços e cultura, apresentando grande potencial náutico, além de abrigar no seu entorno o porto de Salvador. Possui um patrimônio urbano construído com grande número de edifícios arruinados ou subutilizados que conservam muito de sua autenticidade apesar do desgaste do tempo, e se recuperados propiciarão a criação de um novo mix de atividades comerciais, de serviços e residência e a valorização urbanística da área. A integração da área ao cais do porto de Salvador possui relevante importância no processo de sua revitalização, empreendimento complexo que deverá ser assumido pela sociedade, poder público e privado em uma parceria público-privada, conduzidos através de uma administração urbana, em um conjunto integrado de ações, favorecendo a proposição de uma política pública de revitalização urbana para a área. 50 Palavras-chave: Decadência, mix de atividades, parceria público-privada, desenvolvimento urbano, revitalização urbana. Key words: Decadence, mix of activities, public-private partnership, urban development, urban revitalization. Abstract The decadence of Salvador’s Commerce, old commercial and financial center, dues to some elements. That have changed its drawing some of them are: the new inter and intraregional relationship, urban space decentralization. Commerce, today in decadence and alive only during work time period, has urban infrastructure for shopping, services and culture, besides good tourist and nautical potential, being surrounded by Salvador’s port. It has a lot of dilapidated buildings, which are ruined or partial/totally unoccupied, conserving its originality even with time corrosion. If these buildings were revitalized, they would permit the creation a new mix of activities, growing the areas. Port integration is a very important element in the area’s revitalization process, complex enterprise, involving public and private administration in a public-private partnership besides civil organization in an urban administration, and will contribute the area must constitute a set of integrated and complementary actions, leading to the proposition of a public policy of urban revitalization for the area. Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 1. A Revitalização dos Centros Urbanos A degradação de áreas urbanas centrais vem se tornando cada vez mais comum em cidades de médio e grande porte, sendo substituídas por outras partes da cidade como centros de atração de investimentos e de consumo. Com a perda de importância dos centros, os investimentos públicos e privados diminuem e são direcionados para outras áreas, especialmente quando os governos atrelam suas ações aos interesses do capital imobiliário, gerando um desperdício que não interessa à sociedade porque as áreas centrais já contam com infra-estrutura instalada que passa a ser subutilizada. Entre as décadas de 30 e 70, muitas intervenções urbanas ocorreram sob a ótica de ações de embelezamento ou de grandes projetos de renovação urbana, de caráter “saneador”, modificando radicalmente a configuração das áreas e exigindo grandes investimentos, destruindo grande número de imóveis com sua posterior reedificação para 1 Arquiteta. Mestre em Análise Regional pela UNIFACS. E-Mail: lí[email protected]. RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO novos usos comerciais e de serviços, produzindo edificações e espaços públicos marcados pela monumentalidade e pelo “urbanismo modernista”2, atendendo mais aos interesses do capital imobiliário, sobrepondo-os a outros fatores como a qualidade de vida e a valorização da cidadania (VAZ, 2002). Na revitalização urbana, os novos modelos urbanísticos recomendam as operações integradas de ações favorecendo sua multi-funcionalidade e reforçando o seu papel na região em que se inserem, apoiando outras ações que permitam melhorar a qualidade do ambiente urbano e envolvendo a participação de todos os setores interessados. O governo no papel de coordenar e articular com a iniciativa privada e a sociedade civil, a partir do estabelecimento de uma prática mais democrática do que a realização de intervenções radicais, de base tecnocrática e autoritária. É pressuposto básico, o respeito à vontade e necessidades dos cidadãos que se utilizam da área , sendo necessário encontrar mecanismos para garantir sua participação na formulação de políticas de revitalização urbana, na elaboração de projetos e na sua implantação. O fortalecimento da identidade cultural local, ao mesmo tempo em que prevê ações de preservação do patrimônio histórico e arquitetônico e a criação de novos espaços de moradia, lazer, recreio e convivência reforça esse processo que passa não só pela reestruturação econômica e preservação do patrimônio e do ambiente, mas também pelo desenvolvimento de condições de acessibilidade, manutenção da segurança pública, combate ao desemprego e assistência social. Os poderes públicos pela falta de capacidade de investimentos encontram-se impedidos de realizarem grandes intervenções apenas com recursos próprios, impondo parcerias junto à iniciativa privada para o financiamento de projetos realizando ações de forma integra- da com as empresas beneficiadas, fazendo com que elas assumam parte dos custos. Recursos também podem ser obtidos através de operações urbanas e de agentes financiadores com programas específicos para revitalização de centros históricos. Com a criação de um mix de atividades incluindo moradias e com a requalificação dos espaços públicos, como ruas, avenidas, largos e praças, assim como, com a melhoria da infra-estrutura e iluminação dos locais de encontro dos residentes, se inicia um processo de valorização da área, devendo-se ter o cuidado no entretanto, para que essa não cause especulação na área a ser revitalizada, com aumento dos aluguéis dos imóveis e de impostos. A degradação do centro produz efeitos negativos na sociedade, devido a sua importância simbólica com parcela do patrimônio histórico, artístico e arquitetônico. Nas metrópoles do Primeiro Mundo, o processo de conversão de áreas abandonadas e decadentes como os grandes centros da Europa e Estados Unidos, vêm transformando as regiões portuárias e os centros urbanos em bairros modernos e habitáveis, em uma tentativa de reverter a tendência de abandono desses locais. O estudo das experiências internacionais de reconversão de áreas portuárias, como as de Boston, Baltimore, Barcelona, Buenos Aires, Cingapura, importantes exemplos para a cidade portuária de Salvador, criam modelos referenciais em torno da revitalização dessas áreas. Porém, para Harvey (1996) por trás de projetos bem sucedidos, podem encontrar-se sérios problemas sociais e econômicos, que em muitas cidades, assu- RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO mem a forma de uma cidade dual de um centro renovado cercado por um mar de pobreza crescente. As experiências bem sucedidas podem servir de fontes de inspiração, mas nunca como “modelos” a serem simplesmente copiados. No Brasil, os projetos de recuperação e preservação de centros históricos, associados a processos de reestruturação urbana, têm sido também uma constante, principalmente a partir do final da década de 80 e início de 90. Pelourinho em Salvador, Bairro do Recife na capital pernambucana, porto de Belém, Rio de Janeiro e centro de São Paulo, Curitiba, Porto Alegre e Fortaleza são alguns exemplos nacionais de locais que vêm sofrendo este tipo de intervenção, entretanto convém observar as opiniões de Vainer, Maricato e Arantes3, que: A preservação do passado, usualmente defendida como um fator de qualidade de vida para as populações urbanas, vem muitas vezes propor uma falsa reinterpretação do passado urbano, revelando omissões e escolhas evidentes, destacando-se aí, a mercantilização e a centralidade da cultura, num processo comandado pelo capital, que caracteriza os modelos europeu e americano de cidade-empresa-cultural importados”. Em Salvador, a degradação do centro da cidade, manifestada pela destruição do seu patrimônio arquitetônico resulta de mudanças na composição de capitais aí sediados e de sua relação com o resto do sistema urbano, ocorrendo a expansão de um comércio de cunho mais moderno no sentido Barra-Iguatemi, ao mesmo tempo que antigos espaços da área urbana perdem as suas funções de principais zonas de concentração de atividades terciá- 2 Esse estilo transfere para a arquitetura e o desenho urbano o ideal fordista da produção e consumo em massa e padronizado. A cidade é conceituada segundo os princípios do urbanismo modernista como uma indústria fordista, com setorização rigorosa e a casa como uma máquina de habitar, denominação cunhada por Le Corbusier, um dos pais da arquitetura e urbanismo modernista (WERNA, 1996). 3 Ver in “Prós e Contras da Revitalização de Centros Urbanos”, http:// www.comciência.br/ cidades, o debate dos autores sobre a revitalização dos centros urbanos. Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 51 rias. O Comércio na Cidade Baixa, antigo centro comercial da década de 60, que concentrava grande parte das atividades comerciais, financeiras e de serviços e atraía manifestações sócio-culturais e institucionais da cidade, altera seu perfil desenvolvendo um comércio voltado para o consumo popular, mesmo mantendo ainda uma estrutura significativa de escritórios e serviços na área, contígua a zona portuária de Salvador. 2. A Administração Urbana: uma fundamentação teórico-conceitual Esse estudo apresenta uma fundamentação de natureza teóricoconceitual, ao utilizar o referencial apresentado (originalmente em 1989) por David Harvey, sobre novas formas de mudança da administração urbana no capitalismo, buscando a identificação destes elementos conceituais no estudo da área do Comércio. Visto sob essa lógica, o processo de revitalização da área mostra-se como um tema vasto para a verificação dos pressupostos teórico-conceituais trabalhados. Harvey (1996) considera que o capitalismo está sujeito a um grande dinamismo e que as atividades estão sempre em transformação, quando trata da mudança do gerenciamento (managerialism) urbano para o empresariamento (entrepreneuralism) urbano nessas últimas décadas nos ambientes urbanos construídos, assim como nas instituições urbanas. A abordagem do gerenciamento dos anos sessenta, deu lugar a formas de ação de empresariamento nos anos setenta e oitenta, que fazem o melhor possível para maximizar a atratividade local para o desenvolvimento capitalista. Para Harvey (1996:52), a gestão urbana significa muito mais do que “governo urbano” e o poder de reorganizar a vida urbana e o espaço se lo52 caliza numa aliança de forças mais ampla, mobilizadas por diversos agentes sociais, na qual o governo desempenha apenas o papel de agilizar e coordenar. Harvey considera também, que uma das características principais do empresariamento urbano compreende a parceria público-privada, cujo objetivo político e econômico imediato (embora não exclusivo) é muito mais o investimento e o desenvolvimento econômico através de empreendimentos imobiliários pontuais. As reivindicações locais estão integradas com os poderes públicos locais para tentar atrair fontes externas de financiamento, novos investimentos diretos ou novas fontes geradoras de emprego, é empresarial precisamente porque ela tem uma execução e uma concepção especulativas. Para Moura (1995:69) enquanto no gerenciamento urbano diferentemente do empresariamento urbano, não se enfatiza a busca da competitividade, mas a garantia de níveis satisfatórios de emprego e de geração e distribuição de renda, relacionado a mudanças no plano da política local, o empresariamento urbano indica um movimento de redefinição do papel e da atuação dos governos locais no tocante à economia, associado a idéias de busca da eficiência da gestão urbana, visando à integração competitiva no mercado global. O gerencialismo e o empresariamento urbano destacam a questão da cidadania e da democracia, da economia local e da cidade como negócio. O papel do governo local, como ativista político, catalizador e articulador de forças, empreendedor e as formas de interação produzidas, participativas, negociadoras e compartilhadas. De acordo com Harvey (1996), há uma tendência de alteração no papel dos governos locais, o governo assume o papel de facilitador e coordenador de um conjunto de forças mobilizadoras por agentes sociais diversos, e a formação de parcerias público-privadas como base Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA para novos investimentos, ou a atração de fontes de financiamento extras. Segundo Moura (1995:66) a partir dos anos 70, é possível configurar dois movimentos de revalorização do local e da gestão pública propulsores de inovação, que estão presentes no cenário brasileiro, abordados por Harvey como ativismo democrático (administração gerencial urbana) e empreendedorismo competitivo (administração empresarial urbana). O gerenciamento urbano remete a idéias e práticas de gestão pública que emergem no Brasil no bojo da transição democrática, sendo apresentada como fruto da confluência, das ações de movimentos sociais e de governos municipais conduzidos por setores de esquerda e progressistas. Participação popular nos processos decisórios, democratização das informações e do acesso aos bens e serviços públicos, resgaste da autonomia e da identidade local sintetizam esse ideário (MOURA, 1995). Para essa autora, o que Harvey denomina de novo empreendedorismo urbano tem a ver com o estilo de governo, ou de “governance” em que o governo assume o papel de facilitador e coordenador de um conjunto de forças mobilizadas por agentes sociais diversos e a formação de parcerias público-privada como base para novos investimentos ou a atração de fontes de financiamento externas. Para assegurar vantagens comparativas, num quadro de competitividade interurbana, seriam essenciais a reorganização da vida urbana nesses moldes, devendo a cidade adquirir o espírito de empresa (PEÑALVA E FINQUELIEVECH, 1993 in MOURA, 1995). No entanto, Moura (1995:75) considera possível encontrar convergências do empresariamento em experiências identificadas com o gerenciamento urbano. Para Moura (1995:71) independentemente das RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO “ ... a história da área do Comércio confunde-se com a própria história da cidade no seu período colonial... ” diferenciações, as duas abordagens refletem sobre o mesmo fenômeno, a difusão do ideário e de um conjunto de práticas que enfatizam a dimensão empreendedora da gestão local, no sentido da busca da eficiência e efetividade econômica, que tem a ver com a qualidade de vida urbana, que passa a ser um elemento essencial para tornar a cidade mais competitiva. 3. A Área do Comércio Protegida pela Lei Municipal 3.289/83, como área de “Preservação Rigorosa Simples”, dentro da categoria de Áreas de Proteção Rigorosa (APR), consideradas vinculadas à identidade da cidade, tanto por possuírem monumentos históricos, quanto por referenciarem, simbolicamente lugares importantes no âmbito e na história da cidade, a área do Comércio possui monumentos tombados, como o Elevador Lacerda, o Mercado Modelo, o Forte de São Marcelo, dentre outros. Numa visão retrospectiva do movimento secular de constituição da cidade, a história da área do Comércio confunde-se com a própria história da cidade no seu período colonial, originariamente, combinando as funções defensivas e as facilidades de relacionamentos conferidas pelo porto. Locus do poder central, principal porto, com a exportação de açúcar, fumo, couro e peles, importação de escravos e especiarias, Salvador foi marcada por uma forma de organização econômica, que corresponde ao modo mercantil colonial escravista de formação de capital, deixando sua influência para as subseqüentes formas de organização do espaço urbanizado, como no modo de urbanização das encostas, com os riscos próprios de perfil geológico da área, sendo progressivamente afetada pela construção de elevadores e de ladeiras, que direcionaram o tráfego de pedestres entre a parte alta e a baixa da cidade (PEDRÃO, 1998). No período de sua expansão urbana, a área do Comércio manteve caráter de prestadora de serviços, concentrando a atividade bancária, financeira e comercial atacadista e de importação/exportação de produtos regionais, cacau e fumo. Para Pedrão (1995) mais recentemente, quando a cidade passa por um processo de recomposição dos capitais mercantis, dentre os quais distinguem-se aqueles que se modernizaram e internacionalizaram, tendo como conseqüência a constituição de um novo centro de transações econômicas, lazer e circulação de transportes na área do Iguatemi, há no Comércio, um esvaziamento das atividades de comércio e de serviços com o deslocamento de repartições públicas, de escritórios de advocacia, de comércio aduaneiro, de representações comerciais e de agências bancárias contribuindo para a perda de status do antigo Comércio da cidade. Ao lado disso, as centralidades geradas pelos shoppings centers, que surgem a partir de 1980, começam a ser repartidas com o centro da cidade, em especial, o Comércio. Assim a hegemonia única e radioconcentradora da área do Comércio, vai diminuindo para dar lugar a uma lógica que já não sustenta mais a existência de um único centro. Dentre os principais fatores do declínio da área, pode-se identificar a sua baixa acessibilidade, a insegurança RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO proporcionada pelo deserto noturno em que se transformou a área, o decréscimo do valor da propriedade pelo mercado imobiliário frente aos novos espaços na cidade, o contínuo esvaziamento de atividades produtivas com as atividades do setor informal ocupando parte do espaço público, grande parte dos imóveis abandonados ou invadidos apresentando problemas de legalização de propriedade, a tipologia dos antigos edifícios sem previsão de garagem para veículos, assim como também, a perda de importância relativa do Porto de Salvador na economia local e regional, com repercussão no dinamismo da região. A área é caracterizada pelo uso predominante de comércio varejista e de serviços com demanda para a população de média e baixa renda. O mercado propiciado pela baixa renda é expressivo, vez que o poder aquisitivo individual é multiplicado por uma grande massa de consumidores. O desenvolvimento de Salvador ao criar novos espaços econômicos e incorporar novas áreas ao tecido urbano, perdeu gradativamente, algumas de suas características tradicionais e acabou redefinindo e consolidando novas funções. Uma das importantes referências sócio-econômicas fundamentais da área do Comércio, hoje, é seu caráter como espaço de consumo por excelência da população de renda média-baixa. Assim, ao lado da degradação de áreas e edificações, o que ocorre é uma transformação do perfil da clientela e da oferta de bens e sua especialização como espaço de consumo das camadas mais populares. É também o espaço de concentração do comércio de rua de Salvador, onde verifica-se a convergência de uma pluralidade de formas de informalidade, desde aquelas relativamente legitimadas pela permanência até as eventuais, notando-se não uma simples coleção desordenada de atividades, mas uma tendência a auto- Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 53 organizar-se, cada vez mais, interagindo com a formalidade. Os principais acessos à área são a avenida Mário Leal Ferreira (Bonocô), através do túnel Américo Simas, a avenida do Contorno, a San Martin (acesso Norte e BR-324 ) e a Avenida Suburbana em direção à Calçada. Articula-se com a Cidade Alta pelos ascensores verticais, Elevador Lacerda e Plano Inclinado Gonçalves, encontrando-se outras ligações diretas com o Centro Histórico. Em termos de sistema viário e circulação, caracteriza-se por ser o único ponto de passagem entre a meia-encosta da montanha e o mar, para os deslocamentos no sentido norte-sul e sul-norte da cidade. O sistema de transporte coletivo atual é operado pelo modo rodoviário, com veículos convencionais, padron e articulados. Além do subsistema rodoviário, operam o trem do subúrbio (pela CBTU e em fase de transferência para a PMS), que liga os antigos subúrbios de Plataforma, Coutos, Periperi e Paripe à região da Calçada, próxima a área do Comércio; os ascensores (Elevador Lacerda e os planos Inclinados Gonçalves e Liberdade-Calçada), ligando a Cidade Alta e a Cidade Baixa e as barcas que interligam a parte continental e as ilhas da Baía de Todos os Santos. Atualmente, observa-se uma grande movimentação no terminal de centro da Avenida da França e nos ascensores, esses últimos de grande importância na articulação entre os dois níveis da cidade, tendo uma demanda diária de 43.100 passageiros, enquanto o trem do Subúrbio, tem pouca significância, pois se encontra bastante degradado. Por sua vez, o subsistema de barcas é de fundamental importância para as comunidades que vivem nas ilhas urbanas e metropolitanas, que com suas seis linhas atendem uma demanda diária de cerca de 249 viagens (SEMPI, 2001). Dentre os principais pontos turísticos e culturais que caracterizam 54 a área, podemos citar, o Solar do Unhão que sedia o Museu de Arte Moderna da Bahia, o Parque das Esculturas, um museu de céu aberto sob os arcos da Avenida do Contorno, a Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, erguida quando da origem da cidade, o Elevador Lacerda, patrimônio da Prefeitura Municipal do Salvador, que recentemente passou por uma grande reforma que lhe proporcionou uma completa modernização no interior e na iluminação das suas instalações, a Praça Visconde de Cayru, ou simplesmente praça Cayru, onde está situada a Rampa do Mercado, pequeno ancoradouro dos saveiros onde, no passado, chegavam e saíam de diversas localidades da Ilha de Itaparica e do Recôncavo, descarregando pescados, frutas e farinha de mandioca de Maragogipe e Nazaré, além de transportar passageiros até Mar Grande na ilha de Itaparica, o Mercado Modelo, localizado também na Praça Cayru, uma construção de 1861, que apresenta uma rotunda ao fundo, onde atracavam os navios para descarregar mercadorias na Alfândega, ocupação do prédio na época, o Forte de S. Marcelo, com forma arredondada e implantado a 300 metros da costa, sobre um banco de areia. O prédio da Associação Comercial da Bahia, concluído na primeira metade do século XIX, é uma das construções pioneiras de estilo neoclássico da Bahia. O frontispício da cidade, que constitui-se numa estreita zona de cotas elevadas e de grandes declividades, separando a Cidade Alta da Cidade Baixa, apresenta-se também como mais uma das características da área e traço marcante da cidade. 4. As Principais Propostas e Estudos existentes para a Área Em virtude da importância do Comércio da Cidade Baixa existem Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA estudos, planos, projetos e propostas para a área, provenientes do setor público e outros originários da iniciativa privada e da sociedade civil, sendo que alguns encontramse com as ações em curso e outros deverão ter suas implementações à curto, médio e longo prazos. Os projetos governamentais existentes são iniciativas que poderão dar impulso à revitalização da área, como o Projeto de Revitalização do Porto de Salvador, o Via Náutica, a Modernização do Trem do Subúrbio, a Ligação Viária Água de Meninos Dois Leões, a Modernização dos Ascensores, a Requalificação da Praça Cayru, o Programa de Saneamento Bahia Azul, a recuperação da encosta do Centro Histórico, os estudos de Reabilitação Habitacional que vêm sendo desenvolvidos, e outros de menor porte. Os programas, planos e projetos citados têm o mérito de buscar soluções para a revitalização da área e poderão contribuir para levar à proposição de uma política pública de reabilitação urbana. Seus efeitos, impactos e perspectivas sobre a área foram analisados como também as entrevistas realizadas com os diversos agentes envolvidos nesse processo, como representantes de órgãos públicos, agentes financeiros, entidades institucionais e empresários do ramo imobiliário e local. Encontram-se apresentadas a seguir, em uma síntese, as principais propostas dos planos e projetos para a área: 1.Desenvolvimento de novas atividades econômicas e culturais e diversificação do uso do solo, através do: • incentivo à instalação de serviços de call centers ou assemelhados, de empreendimentos hoteleiros, educacionais e culturais através da recuperação do patrimônio imobiliário e arquitetônico (Lei 6.064/01); • incentivo à implantação de um novo mix de usos do solo, RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO reciclando prédios comerciais ociosos em prédios residenciais ou mistos e criação de um novo centro de comércio e serviços de conveniência para essa nova população que poderá se estabelecer no Comércio (Estudo de Requalificação de Imóveis); • implantação de um Centro de Animação nos armazéns desativados do porto, integrando-o, à cidade (Projetos de revitalização do Porto de Salvador e Via Náutica). 2.Requalificação dos espaços públicos, retrabalhando o desenho urbano e dignificando o espaço público existente, com a criação de novas áreas abertas e de lazer para a população (Projeto de Requalificação da Praça Cayru e outros de menor porte). 3.Implementação de um novo sistema de circulação e estacionamento e ampliação da acessibilidade à área com: • reimplantação de um sistema de estacionamento em toda a área do Comércio e o desenvolvimento de sistemas circulares, por ônibus, nas cidades alta e baixa, articulados com os ascensores (Projeto de Mobilidade para a Área Central de Salvador); • implantação da Via Porto, ligando a Br-324 e o Cais do Porto (Modernização do Sistema de Transporte Coletivo); • substituição dos atuais equipamentos de transporte por um veículo leve sobre trilhos (VLT), estendendo o mesmo da Calçada à área do Comércio (Trem do Subúrbio). O conjunto das intervenções propostas deverá promover uma série de desdobramentos que se repercutirão sobre o espaço urbano, em níveis e intensidades variáveis, tanto em função do tempo, como da abrangência espacial dos impactos gerados. A intensidade dos impactos decorrentes deverá incidir de forma mais direta por sobre o espaço imediato, mas deverão ressoar em seguida nas áreas do entorno dos investimentos efetivados, estendendo-se, dada a natureza dos projetos propostos e suas dimensões econômica, social e ambiental, sobre a cidade. Tais dimensões são de difícil quantificação, vislumbrando-se apenas que as transformações levam, de modo geral à melhor qualificação da área e da cidade, criando as condições essenciais para o desenvolvimento de seus potenciais. Entre as repercussões de maior importância, as propostas deverão permitir a renovação urbana, além de promover o ordenamento urbano, contribuindo tanto na melhoria da qualidade como na imagem da cidade (SEMPI, 2001). A melhoria dos níveis de acessibilidade poderá resultar em revitalização da área, revertendo a atual tendência de deterioração da mesma. As propostas de ligação Largo do Tanque/San Martin e São Joaquim/Água de Meninos, ao lado da recuperação/integração do trem do subúrbio com o sistema VLT, repercutirão sobre o espaço, muito além do âmbito da circulação e do transporte. A construção da ligação proposta (Via Porto) de alta capacidade de tráfego, utilizando-se os corredores da Estrada da Rainha e da rua General Argolo, poderá ser decisivo ao ordenamento do uso do solo lindeiro àqueles corredores, com vistas a assegurar o desempenho do sistema e disciplina da circulação (SEMPI, 2001). Os projetos estruturantes e alavancadores da área deverão estar relacionados com as proposições de desenvolvimento sócio-econômico, de transporte e acessibilidade, devendo haver um equilíbrio com as funções de habitação, comércio e serviços, administrativas e culturais. Tais investimentos, somados aos programas de requalificação habita- RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO cional e de saneamento ambiental ora em curso, além dos projetos de implantação das marinas na orla da baía, abrem novas perspectivas à inserção da área no circuito turístico da Cidade, aproveitando-se seus potenciais naturais, sua paisagem peculiar e os elementos históricoculturais presentes. As propostas e planos pontuais e de menor porte, terão repercussão local e beneficiarão pontualmente a área, devendo estarem integradas aos planos mais abrangentes, para que suas ações possam ser maximizadas. Foram considerados ainda, os principais conflitos e problemas identificados nos processo de revitalização da área, tais como: 1.O Projeto de Revitalização das áreas do Porto de Salvador, vem encontrando impedimentos à efetivação de programas existentes do governo federal como o REVAP (Programa de Revitalização de Áreas Portuárias) que permite a revitalização e integração de áreas do porto com a área do Comércio, devendo estar integrados em um projeto único de recuperação da área, em virtude de desentendimentos existentes entre as esferas governamentais e a direção do porto de Salvador (CODEBA), ocasionados por motivos políticos. 2.Em virtude da extrema importância e emergência para a região do Comércio, o Projeto de Requalificação da área da encosta do Centro Histórico, compreendendo quatro poligonais que delimitam a encosta, a partir da Preguiça até o túnel Américo Simas englobando a área do Pilar, visa requalificar esses espaços, dar visibilidade e sustentabilidade para a área, contribuindo para a solução da segurança na região do Comércio, tendo como premissa manter a população que reside no local, realizando trabalho educacional e social com os seus moradores. Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 55 3.Levando-se em consideração o déficit habitacional existente e a expansão horizontal da cidade, a “volta” ao centro apresenta-se como uma alternativa viável de residência pela existência de grande quantidade de imóveis total ou parcialmente vazios que podem ser recuperados para adequação ao uso misto e habitacional, e de comércio e serviços de apoio ao habitacional ou outros usos previstos na Lei 6.064/01, como empreendimentos culturais. A habitação para as classes popular, média e média alta, nos prédios existentes a serem readaptados, como elemento estimulador de revitalização da área, com os programas patrocinados pela Caixa Econômica, Ministério da Cultura e governo local, dentre outros, que apoiados na análise e em pesquisas realizadas por autores apontam para a necessidade de não poder se intentar a requalificação com base apenas na dinamização de uma função especificamente. Comércio, habitação e serviços estão inter-relacionados (Vieira, 2001). 4.O projeto de Requalificação da Praça Cayru 4, que apesar de privilegiar o pedestre, apresenta a proposta de uma passagem subterrânea para veículos, de alto custo, gerando também indiretamente, uma série de alterações na área, ocasionadas pela passagem de um veículo leve sobre trilhos (VLT), cortando as principais vias centrais da área, com necessidade de desapropriações dos prédios existentes. 5.Como reflexo da política de incentivos fiscais para a região central de Salvador, propiciada pela Lei nº 6064/01, a expectativa é que, ao serem instaladas novas empresas nas áreas beneficiadas, esta iniciativa deverá permitir a criação de novos postos de empregos durante e após as obras, sendo ofereci56 dos benefícios às empresas proporcionais ao número de empregos gerados por cada uma delas. São duas as questões que apresentam-se: trazer novas empresas para o Comércio e trabalhar as empresas locais existentes, beneficiando-as através dos incentivos. Muito embora cresçam as expectativas de recuperação da área por todos os setores interessados, os obstáculos e conflitos existentes à sua revitalização deverão ser assumidos com base numa nova gestão urbana, não devendo ser encarados como atribuição exclusiva do poder público. A situação impõe a busca de parcerias para o financiamento dos projetos, junto à iniciativa privada, sendo necessário que haja uma nova conscientização da cultura existente no meio empresarial local (comerciantes, empresários e proprietários dos prédios), onde existe a expectativa de um modelo intervencionista por parte do Estado, quando as ações a serem implementadas para a reabilitação da área deverão contar com a participação das iniciativas públicas, privadas e da sociedade civil, procurando compatibilizar esforços e investimentos e a integração dessas ações e projetos em uma administração conjunta que coordene as ações em um objetivo comum. Ao longo desse trabalho, no estudo e análise da área e dos planos propostos, assim como durante as entrevistas realizadas com os muitos atores envolvidos nesse processo, pode-se constatar que existe a necessidade de uma homogeneidade entre as diversas esferas governamentais e uma adequada articulação dessas com o setor privado. As relações sociais presentes chamam a atenção para as diferenças existentes nas intenções dos diversos atores com óticas distintas ali Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 4 presentes, evidenciando as relações que deverão ser estabelecidas entre comerciantes, empresários, proprietários e governo local, em seus projetos e estratégias, colocando no espaço o resultado dessas relações. A atuação dos agentes envolvidos no processo será fundamental para o entendimento das relações sociais envolvidas e a conseqüentes possibilidades de revitalização do espaço. Encontrar soluções para o problema complexo da revitalização do centro de uma cidade não é com certeza, uma tarefa simples. O dinamismo do comércio e de todas as relações correlatas, o crescimento urbano progressivo e toda uma variada gama de fatores que intervêm sobre o desenvolvimento e o crescimento urbano apresentam um funcionamento bastante dinâmico, dialético e praticamente imprevisível. As soluções que devem ser tentadas são sempre soluções contingenciais, relativas a cada caso específico e particular, não podendo ser aplicáveis em outros casos, porque as especificidades de cada situação criam possibilidades infinitas de soluções. Mais ainda, a interveniência de fatores estritamente localizados, como o valor histórico de uma determinada área, só pode ser avaliada a partir de considerações específicas (Vieira, 2001). 5. Por uma política de revitalização para a área: a busca de um caminho próprio. A revitalização do bairro do Comércio é de grande importância para a cidade e região, desde quando trata-se de uma área histórica e cultural que faz parte do patrimônio da cidade, possui infra-estrutura urbana e oferta de comércio e serviços, além de grande potencial turís- Para essa análise ver “Plano de Mobilidade na Área Central de Salvador” de autoria da TTC Engenharia de Tráfego e Transporte S/A Ltda, empresa contratada pela Secretaria Municipal de Planejamento e Meio Ambiente (SEPLAM). RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO “ O Comércio não deve ser tratado como uma entidade territorial autônoma, fora do contexto da cidade... ” tico e náutico, contribuindo para a economia urbana da cidade. A sua degradação, cada vez mais acentuada com a destruição do seu patrimônio arquitetônico sentida imediatamente na paisagem, a falta de segurança e contínuo esvaziamento de atividades, as expectativas dos planos e projetos governamentais existentes e a complexibilidade dos processos sociais que interferem na formação, composição e especificidades da área, implicam na recuperação desse espaço da cidade, degradado física e socialmente. Revitalizar a área do Comércio implica também, na definição de um papel para este centro no conjunto da região em que está inserido, não devendo o mesmo ser tratado como uma entidade territorial autônoma, fora do contexto da cidade, nem excluído do conjunto de políticas urbanas públicas para Salvador, devendo fazer parte de um planejamento mais abrangente inserido no Plano Diretor, conforme orienta a Lei nº 10.257, denominada de “Estatuto da Cidade” e observam seus instrumentos jurídicos. Como política de preservação e desenvolvimento deverá ter como premissa básica a utilização adequada e socialmente justa do território, aliando aspectos econômicos, sociais, ambientais e culturais na sua formulação. Faz-se necessário também, a conjunção entre poder público e privado com a participação da sociedade civil em uma gestão compartilhada. A questão da ampliação da cidadania em termos políticos e eco- nômicos, e dentro disto, a idéia de construção de uma nova cultura, com objetivos compartilhados pelos diversos atores sociais incluindo o governo, podem levar a formas de interação e políticas de desenvolvimento diferenciadas das produzidas apenas em um contexto de desenvolvimento de estratégias que tornem a cidade e os segmentos econômicos nela instalados mais competitivos. Nas abordagens sobre o empresariamento urbano é possível encontrar convergências com o gerencialismo urbano, em experiências identificadas com a qualidade de vida urbana, como acontece em Curitiba, o que pode implicar na democratização do acesso a infraestrutura e serviços urbanos a camadas mais amplas da sociedade ou como é o caso de Porto Alegre, em que a questão da integração competitiva parece ter sido substituída pela idéia de “democratização radical” e integração dos excluídos. Da mesma forma que as convergências, as diferenças justificam o tratamento como dois movimentos e não como expressões de um mesmo movimento que se sucederia no tempo, tornando quase indistintas as perspectivas adotadas (Moura, 1995). Em Salvador, a revitalização da área do Comércio trata-se de um movimento baseado em sua reestruturação econômica, com atividades econômicas distintas como forma de revitalização da área, com alternativas de gestão de um empresariamento urbano e de um gerencialismo urbano, em uma administração flexível, rica em ocorrências, participativa, fora do padrão intervencionista, dotada de um senso de sinergia, de como construir alianças e conexões espaciais, responsável pela coordenação de uma estratégia de revitalização, buscando a cooperação dos diversos atores envolvidos, orientados em uma mesma visão. Das necessidades e dificuldades da área, aos desafios e expecta- RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO tivas no conjunto de projetos e intervenções que vem sendo desenvolvidos pelos poderes público, privado e sociedade civil, com o objetivo de reverter a atual situação de degradação da área, com ações de curto, médio e longo prazos, cuja administração urbana deverá ser conduzida através da coordenação de um projeto consistente e único, numa gestão compartilhada com os diversos atores envolvidos. Referências ARANTES, Otília. In: Prós e Contras da Revitalização de Centros Urbanos. Disponível em < http:// www. comciência.br /cidades > Acesso em maio 2002. BORJA, Jordi, de FORN, Manuel. Políticas da Europa e dos Estados para as cidades. Espaço & Debates. Cidades: Estratégias Gerenciais. São Paulo, Ano XVI, n. 39, 1996 p. 32-47. BRITO, Marcelo. Urbis, uma Estratégia de Atuação. Disponível em <http:// www.vitruvius.com.br/arquitextos>. Acesso 10 maio 2002 b. CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. 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Turismo e Meio Ambiente www.unifacs.br [email protected] Tel.: (71) 273-8528 MESTRADO RECOMENDADO PELA CAPES 58 Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO A QUESTÃO DE GÊNERO NOS SINDICATOS DE PRESIDENTE PRUDENTE/SP, SOB A PERSPECTIVA DA GEOGRAFIA DO TRABALHO1 Terezinha Brumatti Carvalhal 2 Antonio Thomaz Júnior 3 Resumo Neste trabalho procuramos expressar a Geografia de gênero nos sindicatos de Presidente Prudente. Para isso, colocamos em discussão o papel do sindicato na questão da mulher trabalhadora, entendendo a relação estabelecida entre as trabalhadoras e o sindicato no que se refere à maior participação da mulher no sindicato. Apreender a ausência de interação entre trabalhadores da base e a direção sindical, a alienação das próprias mulheres sindicalistas e trabalhadoras, reforçada pela estrutura sindical, é o que nos possibilita entender o sentido das lutas sindicais voltadas, prioritariamente, para questões como salários e empregos. Porém, avaliamos que, por meio do sindicato, a mulher pode encontrar mecanismos de conscientização política e de saltar escalas. Palavras-chave: Geografia, Gênero, Trabalho, Sindicato, Lugar of interaction between the women workers and the main directorate of the Union, the alienation of the union women and the own women workers, makes possible to understand the sense to us of the union struggles overturned for the job and the salaries. However, we evaluated that the woman can find tools of political awareness and jump scales, through the Union. Key words – Geography, Gender, Labour, Union, Place O presente artigo versa sobre algumas reflexões realizadas em um dos capítulos da nossa Dissertação de Mestrado, onde em uma escala mais ampliada, intentamos verificar a participação da mulher nos sindicatos e também, como forma de contribuir com a questão de gênero na Geografia4. Pretendemos discutir a posição do movimento sindical em relação à maior participação da mulher nos sindicatos 5, focando 1 Este artigo faz parte da dissertação de Mestrado defendida em abril/03, sob o título de: A Questão de Gênero nos Sindicatos de Presidente Prudente/SP, sob a orientação do Prof. Dr. Antonio Thomaz Júnior e agora publicada em livro: A Questão de Gênero nos Sindicatos de Presidente Prudente, Presidente Prudente, 2004, 144p. 2 Mestre em Geografia pela FCT/UNESP – Presidente Prudente/SP. Endereço p/ correspondência: R. Claudionor Sandoval, 293 - Presidente Prudente/SP – CEP19023-200. Email: [email protected] 3 Professor de Geografia da FCT/UNESP/Presidente Prudente, membro dos Programas de Pós-Graduação em Geografia da FCT/UNESP e do CEUD/ UFMS/Dourados; coordenador do Grupo de Pesquisa “Centro de Estudos de Geografia do Trabalho” (CEGeT) < www.prudente.unesp.br/ceget >; coordenador do Centro de Memória, Documentação e Hemeroteca Sindical “Florestan Fernandes” (CEMOSi); Pesquisador 2B do CNPq/PQ; autor do livro “Por Trás dos Canaviais os Nós da Cana”, São Paulo: Annablume/Fapesp, 2002. E-mail: [email protected] 4 Para a realização dessa pesquisa, realizamos entrevistas com 9 mulheres e 5 homens sindicalistas de 8 sindicatos escolhidos dos 37 existentes na cidade, além de 10 entrevistas com algumas trabalhadoras que fazem parte das categorias trabalhadas, bem como fizemos a aplicação de 135 questionários as mulheres dessas mesmas categorias. Também entrevistamos duas militantes que tem atuado nos movimentos sindicais da cidade, uma atualmente como assessora da CUT. 5 Mais especificamente em 8 sindicatos, onde aprofundamos nossos estudos, trata-se dos seguintes sindicatos: Sindicato dos Servidores Municipais de Presidente Prudente (SSM), Sindicato dos Bancários e Financiários de Presidente Prudente e Região (SEEB); Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil e Pesada, Terraplanagem, Instalação Elétrica e Hidráulica, do Mobiliário e Material Cerâmico de Presidente Prudente e Região (SINTCON); Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas, Farmacêutica e de Fabricação de Álcool de Presidente Prudente e Região (SINDIÁLCOOL); Sindicato dos Empregados em Empresas de Asseio e Conservação de Presidente Prudente e Região (SIEMACO); Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Artefatos e de Curtimentos de Couros e Peles do Oeste e Sudoeste do Estado de São Paulo (STIAC); Sindicatos dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP); Sindicatos dos Empregados no Comércio de Presidente Prudente e Região (SEC). Abstract In this paper we want express the Gender Geography in the Unions of Presidente Prudente. Therefore we aim to discuss the roll of the Union into the work female matter. We understand the relations between work female and the Union in terms of a relevant participation of women into the Union. To conceive the lack 1. A questão de gênero no sindicato RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 59 “ O Congresso da CGT aprova a criação do Departamento Nacional da Mulher Trabalhadora, mas ... impede que ele tenha uma ação sintonizada com as lutas gerais dos trabalhadores. ” também a relação entre movimento sindical, formado majoritariamente por homens, e as mulheres que compõem a base trabalhadoras. Nesse ínterim, apontamos também, como foi desencadeado no interior da CUT (Central Única dos Trabalhadores) o processo de criação da CNMT (Comissão Nacional da Mulher Trabalhadora). O conhecimento da estrutura interna do sindicato e de alguns elementos que motivaram o abandono de ideais, antes componentes das bandeiras de luta, vemos que mesmo tendo executado várias iniciativas de melhoria da condição da mulher trabalhadora, o movimento sindical não tem conseguido adotar pragmaticamente, de forma ampla, a temática de gênero, no seu interior. A relação de poder que se criou no interior dos sindicatos, com as mulheres incorporando o programa de lutas na condição de complementação de forças somente, pode começar a mudar, com a inserção das mulheres em outros espaços públicos, como o movimento feminista, o movimento de mulheres na luta pela terra6, etc. Segundo Araújo (2000), a partir dos anos 1970 houve uma expansão do movimento feminista em todo o país, trazendo a tona, questões 60 como a discriminação da mulher no mercado de trabalho, a dupla jornada de trabalho, a desigualdade de homens e mulheres no mercado e no espaço doméstico, além das “políticas de corpo7”. Ainda segundo a autora, influenciados pelo movimento feminista, os sindicatos passaram a incentivar a participação das mulheres nos sindicatos, por meio dos primeiros congressos das trabalhadoras ocorridas no final dos anos 70, isso serviu segundo SouzaLobo (1991), para encorpar o conjunto dos trabalhadores ou então para reforçar a luta dos homens. Diante desse desencontro entre direção e trabalhadores, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) tem realizado eventos, com o objetivo de manter-se em contato com o movimento dos trabalhadores. E tentando acompanhar as mudanças ocorridas no mercado de trabalho, com a crescente incorporação das mulheres, a CUT passa então a realizar por meio de seus Congressos8, discussões no sentido de encaminhar as propostas apresentadas em forma de teses, cujos conteúdos são voltados para a defesa de direitos dos trabalhadores, dessa forma também começando a levantar a importância da discussão a respeito da questão de gênero no meio sindical. Cada encontro promovido pela CUT, tem tido como pauta, questões que se destacam na conjuntura nacional e internacional além das políticas permanentes, na qual está inserida a questão da mulher, ou de gênero. E a partir do II CONCUT (Congresso Nacional da CUT), é reconhecida a dupla jornada de trabalho, porém com ausência de maiores esclarecimentos do sindicato. Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA Lembrando que a primeira iniciativa de organização de mulheres aconteceu em 1986 no cerne de um Congresso, promovido pela CONCLAT9, que fundaria a CGT (Central Geral dos Trabalhadores). Realizou-se nessa oportunidade o 1 º Congresso Nacional da Mulher Trabalhadora que contou com a participação de 714 entidades. O Congresso da CGT aprova a criação do Departamento Nacional da Mulher Trabalhadora, mas por problemas internos impede que ele tenha uma ação sintonizada com as lutas gerais do restante dos trabalhadores. Mas, segundo Costa (1995), essa iniciativa contribuiu para a maior participação da mulher no meio sindical e serviu de iniciativa à outras centrais de se mostrarem favoráveis a essa política. Como é o caso da CUT que funda a Comissão da Questão da Mulher Trabalhadora vinculada à direção da Central em agosto de 1986, durante a realização do II CONCUT (Congresso Nacional da CUT). Essa comissão surge com o objetivo de conscientização da mulher sindicalizada e mais tarde a comissão se tornará nacional, com o nome de Comissão Nacional da Mulher Trabalhadora (CNMT). Com a criação da comissão, a CUT, procurava atender a demanda de mulheres ingressantes em número cada vez maior no mercado de trabalho, que girava na década de 80 em torno de 32% da força-de-trabalho total. É no II CONCUT que a CUT também lança a campanha “Creche para Todos”, que deveria ser mantida pelo Estado e empresas, porém controlada pelos trabalhadores. No III CONCUT, começa a ser desenvolvida políticas de apoio trabalhis- 6 A esse respeito, ver Franco Garcia e Thomaz Jr., 2003; Valenciano e Thomaz Jr., 2003. 7 Expressão usada, segundo ARAÚJO, para denominar questões ligadas á sexualidade da mulher como: direito de ter ou não filhos, saúde reprodutiva, aborto e a relação entre homens e mulheres. 8 Para mais detalhes ver Teses e Resoluções da CUT. 9 I Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras, que precedeu a criação da CUT e que representava a vontade de divisão, por parte de alguns segmentos de dentro da própria CUT. RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO “ ... o sindicato ao elaborar minutas de reivindicações das mulheres, ainda não conseguio avançar nas discussões a respeito da questão da cidadania... ” tas às mulheres. É no V CONCUT, em 1994, que a política de Cotas passou a ser adotada pela Central, onde se estipulou que 30% dos cargos na diretoria deveriam ser ocupados por mulheres. E lançam na 7ª Plenária Nacional da CUT, em 1995, a discussão da campanha: “Cidadania: Igualdade de Oportunidades na Vida, no Trabalho e no Movimento Sindical”, tendo como prioridade à qualificação profissional no contexto da reestruturação produtiva. Essa campanha foi aprofundada no VI CONCUT, sendo que na mesma plenária tentou-se uma alteração na CNMT, na qual cada ramo de atividade iria indicar uma pessoa de respaldo político e econômico para atuar no seu ramo, na comissão, e levar as discussões para o CECUT (Congresso Estadual da CUT) em São Paulo e CONCUT (Congresso Nacional da CUT). Isso demonstrou, de certa forma que apesar da iniciativa, a comissão está sofrendo a falta de acompanhamento por parte das instâncias de direção da CUT e as comissões criadas têm, agora, que caminharem sozinhas se quiserem ter êxito na luta pela defesa dos direitos femininos. A CNMT teve, segundo Araújo (2000), importância destacada, em vista de sua característica nacional, ao organizar uma carta de direitos específicos femininos e pela igualdade entre os sexos, que deveria in- tegrar a Constituinte de 1988, intitulada “Carta dos Direitos da Mulher”. Porém continuam seguindo a tendência em destacar/enaltecer nas reivindicações somente a importância relacionada à questão de mãe, esposa e trabalhadora. Assim o sindicato ao elaborar minutas de reivindicações das mulheres, apesar da gama de reivindicações terem se ampliado, com a inserção da discussão de gênero no meio sindical, ainda não conseguiram avançar nas discussões a respeito da questão da cidadania. O sindicato ainda não trabalha o caráter político da mulher trabalhadora, vemos que faltam ser atendidas as demandas das trabalhadoras bem como também seus anseios de seres sociais dotadas de consciência, capazes de pensarem o mundo na sua individualidade, porém como parte de uma totalidade. Ou seja, o fato do gênero feminino em particular dotado de especificidades, conceber o mundo de determinada maneira, não significa que sua individualidade esteja desconexa da totalidade social, mas que as individualidades possam se compor para formarem a totalidade. No sentido de incorporação da questão de gênero no movimento sindical, decorrente do acúmulo de discussões, da própria CUT, de movimentos sociais, etc. Confirmando tal questão, ao questionarmos às trabalhadoras, sobre o conhecimento do sistema de cotas, percebemos que as trabalhadoras abordadas não conhecem a política de cotas. Em relação ao total das sindicalistas entrevistadas, pudemos perceber que as opiniões se dividiram, desde aquelas que colocaram que o ideal seria de que houvesse uma ocupação dos espaços dos sindicatos, de forma que não precisassem existir as cotas. Isso de acordo com essa fala: “a mulher necessitaria ter consciência e ocupar seus espaços”, ainda a mesma sindicalista da APEOESP (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Estado de São Paulo) coloca que “como paliativo sim, mas não como obrigatoriedade ter a cota”. Dessa forma demonstrando que para algumas sindicalistas, a política de cotas não deveria ser imposta aos sindicatos, uma vez que, são as próprias mulheres, quem devem buscar ocupar o espaço do sindicato. Uma outra colocou que, para o sindicato: “tem que vir aquelas que têm interesse e que gostam”, no sentido de que “pra você trazer uma pessoa só pra dizer que tem, ela não vai somar, vai atrapalhar”. Por outro lado, as sindicalistas do SSM (Sindicato dos Servidores Municipais) e da APEOPESP, além das duas militantes, se manifestaram a favor da aplicação de tal política nos sindicatos, uma vez que é “uma questão afirmativa, que foi feita para incentivar e que foi fruto de muita discussão de ambas as partes”. Essas opiniões das trabalhadoras estão baseadas nas propostas de ação afirmativa, apoiada pela CUT, que visa o incentivo a maior participação da mulher nos sindicatos10. Pensamos então, na necessidade de incluir o elemento diferente no movimento, pensado, segundo elas, sob a lógica masculina. A questão do machismo no ambiente sindical ficou muito marcante durante a pesquisa de campo. Quando abordamos os homens sindicalistas, percebemos que as opiniões são muito parecidas entre si, no sentido de que não há a consciência de que a mulher tem dificuldade de inserção nos sindicatos e no meio político de forma geral. Além da própria importância dessa atuação do ponto de vista de suas perspectivas particulares, como da própria emancipação da classe como um todo. Na medida em que, sendo a mulher responsável pela reprodução de seres humanos, como também responsável pela manutenção 10 Para mais detalhes ver: Teses e Resoluções da CUT. Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 61 “ ... a inserção da mulher no âmbito do sindicato é uma forma de extrapolar a luta pelos interesses apenas de sua categoria... ” das condições de produção, ao exercerem no lar as funções necessárias para a inserção no mercado de trabalho, são duplamente subjugadas quando também se inserem no mercado de trabalho. Dessa forma, pensamos ser a inserção da mulher no âmbito do sindicato, uma forma de extrapolar a luta pelos interesses apenas de sua categoria, no sentido de levar em conta sua condição de reprodutora da força-de-trabalho, essencial para a manutenção do sistema capitalista de produção. Porém percebemos que, apesar de um sindicalista ter apontado a questão da alienação política dos maridos das mulheres, ao não consentirem com a atuação da mulher nos sindicatos, este não percebe que sua atitude demonstrou tender a um posicionamento machista ao colocar que, “não implementamos, pois não tinha mais mulher para a gente colocar”, ao se relacionar a política de cotas da CUT. Isso além de perpetuar a idéia encontrada em ampla camada da sociedade, de que sindicato não é lugar de mulher, mas também assume o presidencialismo, visto em muitos sindicatos, ao transparecer que cabe ao homem “dono do sindicato” buscar apresentar na sua diretoria uma ampla parcela de mulheres. Percebemos que, muitas vezes o sindicato não tem conseguido cumprir a cota deliberada pela CUT, e acabam se contradizendo, portanto. Pois o mesmo presidente colocou que a política de cotas só não foi implementada porque, além da fal62 ta de disposição da mulher em participar, muitas vezes “ela pode até gostar de política, mas casa com um cara alienado”. Houve ainda outros dois sindicalistas, que se mostraram contrários à política de cotas, mas frisando a questão da iniciativa da mulher ao colocar que “não podemos obrigar ou impedir a participação, fica a critério da pessoa”. Assim, embora alguns sindicalistas se mostrem favoráveis à política de cotas e a maior inserção das mulheres nos sindicatos, fica explícito em suas falas, que o que está colocado em jogo é à “disposição” das mulheres em participar dos sindicatos. Pudemos ainda observar desse total de sindicalistas entrevistados, (nove mulheres e cinco homens e duas militantes) que pelo menos três mulheres e dois homens, nunca ouviram falar da política de cotas, sendo que uma sindicalista sempre esteve em regime de afastamento do trabalho assalariado, com dedicação exclusiva ao sindicato. 2. A interação base/diretoria A partir da década de 1970, até início dos anos 1980, o setor industrial, passou por mudanças profundas, especialmente, no perfil da força-de-trabalho das mulheres, ou seja, na sua distribuição, pelos diversos setores, principalmente em segmentos da indústria metalúrgica e em outros setores como plástico, química, farmacêutica, material elétrico e eletrônico. A entrada crescente das mulheres no mercado de trabalho se deu, segundo Roy (1999), em função da necessidade de aumentar o rendimento familiar, já então defasado pela falta de estabilidade financeira e por outro lado, houve uma modificação na organização do trabalho, com a decomposição das tarefas se tornando mais rotineiras, simples e menos qualificadas. Esses fatores facilitaram a entrada da mulher no trabalho assalaria- Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA do, sendo este trabalho marcado por algumas características peculiares, como salários inferiores aos masculinos mesmo exercendo função semelhante, sendo que essa diferença se acentua com o aumento da idade. Outra característica desse processo é o fato de haver concentração das mulheres em atividades não-qualificadas ou semiqualificadas, encimadas em tarefas monótonas e repetitivas, mas que requerem menos destreza e habilidade. A maior especificidade da questão da mulher trabalhadora, está no fato dela ser explorada duplamente, como já visto e as mulheres se subordinam ainda mais ao capital, ao se empregarem em trabalhos precários, pois a sua polivalência e multiatividade são apropriadas sem serem remuneradas adequadamente. Essa incorporação da mulher no mercado de trabalho foi acompanhada pela crescente taxa de sindicalização, segundo Araújo (2000) no período de entre 1970 e 1978 entre as mulheres o aumento foi de 176% enquanto que o aumento na PEA foi de 123%, sendo que para os homens o crescimento foi de 87% e 67% respectivamente. Porém a mesma autora aponta que na década seguinte o aumento da sindicalização entre as mulheres não foi tão expressivo como foi no mercado de trabalho e nem significou aumento qualitativo nas organizações sindicais, continuando sub-representadas. A baixa participação das mulheres nos sindicatos, se deve ao fato de se sentirem outsiders, ou seja, do lado de fora. Para Araújo (2000) a militância das mulheres tem esbarrado nos problemas de organização dos sindicatos e na própria posição das mesmas no mercado de trabalho. Assim, de um lado sempre existiu uma grande dificuldade em organizar as mulheres que estão em funções de baixa qualificação, onde a rotatividade é maior, sujeitas às demissões e controle das chefias. Por outro lado, o fato dos sindicalistas não reconhecerem as especificidades RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO das mulheres, conduzindo a luta das mulheres como complementar a luta dos homens, além do fato dos sindicatos se negarem a discutir a questão de gênero, já que isso poderia “quebrar a unidade da classe”. Concomitante a isso é possível afirmar que o sindicato é excludente em relação às trabalhadoras por não levar em conta suas responsabilidades domésticas. Pois segundo as próprias trabalhadoras, o sindicato tem oferecido todo tipo de assistência médica, dentária, etc, sem, no entanto, colocar em discussão a questão de gênero e das responsabilidades que isso implica, particularmente para as mulheres. E por fim, existem as convenções sociais que ditam que sindicato não é lugar de mulher. Desta forma, sobrepõe-se à questão de gênero na sociedade capitalista a própria inserção dos sindicatos na luta de classes, o que evidencia a necessária articulação entre duas esferas analíticas, de um lado a mulher e suas especificidades construídas historicamente e de outro os sindicatos surgidos no âmago do desenvolvimento contraditório do capital, através de sua contraparte dialética, os trabalhadores organizados, evidenciarão a capacidade (e a forma) de encampar a emancipação feminina. Conforme verificamos, a inserção da mulher no mercado de trabalho e as repercussões daí resultantes, têm significados diversos, pois como parte da classe trabalhadora vivencia as transformações ocorridas nas formas do trabalho e no seu caso específico, como integrante “privilegiada” da economia informal e parttime, e o sindicato não tem sido eficiente na condução de suas demandas. Além, é claro, no caso da dupla e tripla jornada de trabalho, não houve por parte dos sindicatos ou das empresas, mecanismos para aliviar essa jornada, como creches para seus filhos, durante o exercício do trabalho assalariado, da mãe trabalhadora. Dessa forma, o elemento diferente, para ser aceito no meio masculino deve, então, anular suas especificidades de dupla e tripla jornada de trabalho? Assim se explica o fato de muitas mulheres sindicalistas se encontrarem desquitadas, separadas ou solteiras, pois na maioria das vezes, a vida de militante toma muito tempo da trabalhadora, que acaba tendo que optar por uma de suas tarefas, na medida em que o sindicato não tem tido disponibilidade de recursos e estruturas para a mulhermãe-trabalhadora. O sindicato, então, acaba reproduzindo a divisão sexual do trabalho ao hierarquizar as funções segundo o sexo, atribuindo as funções de secretaria para as mulheres. Sendo dessa forma que, muitas vezes os sindicatos acabam cumprindo a cota de 30% de mulheres, com a especificidade de que as ocupações são caracterizadas como secundárias. Haja vista que, as funções ocupadas pelas mulheres nos sindicatos dirigidos pela maioria masculina, não são voltadas para tomadas de decisões políticas de grande envergadura, como as funções de secretaria. Nesse sentido Antunes (1999), coloca que a luta das mulheres contra as formas históricas e sociais da opressão masculina, será, além disso, uma luta pós-capitalista, pois o fim da sociedade de classe não significa o fim da opressão de gênero, pois esta é pré-capitalista. Assim seria possível o sindicato caminhar no sentido de emancipação da classe trabalhadora, levando em consideração as especificidades de gênero? Ou seja, o sindicato poderia trabalhar a falta de habilidade da mulher com as funções políticas, pois foram educadas a verem o espaço público e político como sendo ocupado pelos homens, reforçado pela própria divisão sexual das funções, que designou à mulher o exercício da dupla jornada de trabalho. Ao contrário disso, o sindicato designa na maioria das vezes às mulheres, funções que reforçam a questão de gênero e que tendem a impedir o desenvolvimento de suas potencialidades, como as funções de secretárias, conforme Quadro 1. Quadro 1. Perfil das Diretoras dos Sindicatos Fonte: Pesquisa de Campo, 2001 RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 63 “ O SSM parece ser o único sindicato que realiza mini-assembléias setoriais nos locais de trabalho... ” O sindicato, de forma geral, passou à luta pela manutenção dos direitos, já conquistados e assumiu, mesmo com o novo sindicalismo, um caráter defensivo, como as questões de gênero que acabam sendo afastadas do plano de ação sindical. E ainda mais, pela inflexão ocorrida no final da década de 1980, em que se luta pela conquista de um conjunto de direitos sociais e trabalhistas sociais. Carvalhal (2000), pondera que há uma consonância da conjuntura sindical nacional, com os sindicatos de Presidente Prudente, onde os sindicalistas ficam presos às ações de manutenção dos direitos já conquistados, com exceção do SSM que ainda tem mostrado que luta por novas conquistas trabalhistas. Outro elemento importante para o avanço de nossas discussões, diz respeito às relações entre a direção sindical e os trabalhadores da base, cujo primeiro aspecto podemos delinear a respeito da freqüência das assembléias podendo indicar o grau de interatividade da base com a direção sindical. Nesse sentido, os sindicatos estariam aquém disso ao não realizar assembléias freqüentemente? O SSM parece ser o único sindicato que realiza mini-assembléias setoriais nos locais de trabalho, além das assembléias ordinárias realizadas duas vezes por ano, o restante, convoca as assembléias de forma esparsa, quando ocorre alteração de salário, demissão, greve. Observamos nos sindicatos pesquisados, que não existe um calendário de assembléias definido ao 64 longo do ano, ao contrário do que ocorre com a diretoria sindical, que se reúne freqüentemente para definir e discutir questões de rotina do sindicato e que não é repassado para os trabalhadores. Do exposto até então, fica explícito uma falta de abertura e interação das diretorias com sua base trabalhadora, ao reforçarem a questão de gênero no interior dos sindicatos e à tomada de decisão da pauta do jornal do sindicato ser totalmente realizada pela direção11. Além do que, mesmo nas entidades dirigidas por mulheres, essas não têm tido a preocupação em marcar as reuniões em períodos adequados às mulheres-mães-trabalhadoras. Pois geralmente os encontros são realizados à noite depois do expediente ou nos finais de semana, fato que obriga parte delas a levarem os filhos para as reuniões, ou no limite, não comparecerem devido ao cumprimento da jornada de trabalho à frente das atividades do lar, ou ainda são impedidas pelos maridos. No que corresponde a participação das mulheres em assembléias, as duas diretoras entrevistadas do SIEMACO (Sindicato dos Empregados em Empresas de Asseio e Conservação de Presidente Prudente e Região), afirmaram que a maior participação é das mulheres, mesmo sendo realizadas no domingo de manhã. O que pode ser considerado natural, já que 70% dos trabalhadores da base são mulheres, fato que poderia explicar a maior participação de mulheres nas assembléias, “que trazem seus filhos, já que não atrapalha”, segundo a presidente. Os diretores (inclusive as diretoras) do SEEB (Sindicatos dos Bancários e Financiários de Presidente Prudente e região) confirmaram a maior participação dos homens nas assembléias (realizadas à noite), o que acaba reafirmando a tradição do homem participar mais do sindicato, segundo o presidente. Esse fato também foi percebido nas falas dos presidentes do SEC (Sindicato dos Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA Comerciários de Presidente Prudente e Região) e do SINTCON (Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil e Pesada, Terraplanagem, Instalação Elétrica e Hidráulica, do Mobiliário e Material Cerâmico de Presidente Prudente e Região) sobre a baixa participação das mulheres nas assembléias. Na situação do SINTCON, a baixa participação das mulheres, poderia ser explicada pela baixa taxa de mulheres na base, porém em números gerais este sindicato possui mais mulheres do que o STIAC (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Artefatos e de Curtimentos de Couros e Peles do Oeste e Sudoeste do Estado de São Paulo). No entanto esse sindicato, além de afirmar que as mulheres são as que mais participam das assembléias, possui a representação de 2 mulheres na sua diretoria, mesmo sendo o sindicato com menor número de mulheres na base. No caso do SEC, a baixa participação das mulheres nas assembléias não se deve ao pequeno número de mulheres na base, pois dos sindicatos pesquisados é o que tem mais mulheres na base territorial. Sobre a participação das mulheres em assembléias, alguns sindicalistas colocaram durante as entrevistas que, de forma geral, há uma tendência à diminuição da participação dos trabalhadores nas assembléias, ocorrendo maior expressividade quando se tratam de campanha salarial, paradeiro e greves. Ou então, conforme nos relataram os presidentes do SINDIALCOOL (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas, Farmacêutica e de Fabricação de Álcool de Presidente Prudente e Região), do SINTCON e da APEOESP que, quando as assembléias ocorrem no local de trabalho há uma boa participação, caso contrário, vive-se, via de regra, o esvaziamento. 11 Para mais detalhes ver: CARVALHAL (2000). RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Poderíamos pensar que, os sindicatos, de forma geral, não possuem muitos exemplos para avaliar a participação dos trabalhadores, já que os encontros com a base acabam ocorrendo, em situações extremas, como a discussão que envolve a permanência de empregos e salários. Por outro lado, isso demonstra que o sindicato não tem procurado se aproximar dos trabalhadores, já que alguns deles, não dependem da contribuição voluntária dos trabalhadores para sobreviverem. Por mais que alguns sindicalistas admitam que, há participação maior das mulheres ou dos homens nas reuniões e assembléias organizadas nos dias e horários em que, na maioria das vezes a mulher tem de exercer sua jornada doméstica, podemos ver que as mulheres, assim como os homens trabalhadores, não participam de assembléias em que se discute questões políticas de âmbito geral. Até porque, além da questão dos horários, as pautas das assembléias assim como as do jornal do próprio sindicato são organizadas pela diretoria, sem a presença de trabalhadores. Em contrapartida a isso, quando questionamos as trabalhadoras se sabiam qual o dia das assembléias realizadas pelo sindicato, cerca de 60% desconheciam, até porque, como vimos, os próprios sindicalistas apontaram a não-regularidade das assembléias realizadas com a base. Da mesma forma, quando questionamos se as trabalhadoras participam das assembléias, cerca de 31%, das 135 trabalhadoras abordadas, disseram que participam, com destaque para as trabalhadoras do SIEMACO, onde dos 30 questionários aplicados, 20 mulheres (66,7%) responderam que participam das assembléias. No entanto, assim como a maioria das outras mulheres pesquisadas, essas também não sabiam o dia da semana em que as assembléias são realizadas. 3. O sindicato é masculino? Dessa forma, vemos que os sindicatos de Presidente Prudente têm se portado da mesma forma que o movimento sindical em geral, incorporando em seu universo de ação política, as reivindicações corporativistas e imediatistas. Além do que, as discussões que ocorrem entre a base e a diretoria, geralmente antecedendo uma greve ou durante a mesma, na luta por melhores salários. Mas como constatamos durante as entrevistas junto às sindicalistas, tem havido um esvaziamento nessas assembléias e mesmo admitindo que a participação, de forma geral, tem sido baixa, as diretorias não têm procurado saber as causas desse desinteresse dos(as) trabalhadores(as). Outra situação encontrada nos sindicatos está relacionada ao tipo de subordinação que as mulheres têm sido expostas e que está colocada implicitamente no interior dos sindicatos, que é a questão das formas de manipulação nos direcionamentos de assuntos que dizem respeito à suas demandas de mulhermãe-trabalhadora. Mas isso passou a mudar quando, de acordo com Souza-Lobo (1991), da Convocação do 1º Congresso das Operárias na década de 8012 que, ao invés de ser considerada como renovação das práticas sindicais, acompanhando o momento de efervescência do novo sindicalismo, se tornou o movimento de eclosão das operárias. Ou seja, o objetivo do congresso foi desviado para ouvir as reivindicações das operárias, cansadas da indiferença e manipulação por parte do sindicato e da discriminação do patronato. Pois o que levou a direção sindical à organização do congresso foi a liberalização da lei sobre a legalização do trabalho noturno para as mulheres e isso, na visão da bancada masculina, poderia ocasionar maior concorrência e a ocupação pelas mulheres de cargos, que eram somente RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO ocupados pelos homens. Atrelado a isso, havia o medo, segundo SouzaLobo (1991), de que o Congresso se tornasse um Congresso feminista. Porém, como o movimento sindical estava numa fase de reorganização, realizando grandes greves e ações de massa, era interessante e natural à consulta às bases trabalhadoras. Daí a finalidade do congresso, pois apostavam no apoio das mulheres para negação de tal lei, pois o discurso da bancada masculina era de que estava em jogo a própria saúde das mulheres e sua sobrecarga de trabalho, haja vista que ao chegarem em casa depois do trabalho noturno, teriam ainda que aprontarem marido e filhos para o dia de trabalho e escola respectivamente. Aqui fica evidente, segundo a autora, qual o verdadeiro motivo da organização do evento, pois o que mais motivou o congresso foi a existência da divisão sexual do trabalho presente no meio sindical, no momento em que havia o medo dos cargos masculinos serem ocupados pelas mulheres. O ponto central do Congresso, foram as reivindicações em torno das questões específicas como mulhermãe-trabalhadora. Mas apesar dessas reivindicações terem sido colocadas como pauta, as mulheres, ao não apoiarem o exercício do trabalho noturno exercido por elas, reafirmaram, segundo Souza-Lobo (1991), a unidade-identidade do movimento, contradizendo as suas posições ideológicas. Pois na verdade, as mulheres queriam que as discriminações sofridas no âmbito do trabalho fossem resolvidas, porém o sindicato, hegemonicamente masculino, ao negar o trabalho noturno às mulheres, ratificou a discriminação. Aqui se destaca a relação que as mulheres têm com o sindicato. Estes colocam as diferenças de gênero 12 Trata-se do congresso das Operárias da Metalurgia de São Bernardo do Campo, realizado entre os dias 21 e 23 de janeiro de 1978, organizado pela diretoria sindical, porém sem a presença de nenhuma mulher. Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 65 e as reivindicações específicas imersas na unidade do movimento e aquelas se deixam levar pela vontade de se integrar à luta dos homens e acabam sufocando suas aspirações pessoais em nome dessa unidade. Dessa forma, ao não transformar o sindicato como um meio usufruído por elas para a discussão e formação da consciência coletiva de discriminação, tratam-no, como uma instância receptora de reclamações13, como se fosse independente delas e que cabe ao sindicato resolver os problemas por elas. Essa posição também é reforçada pela própria atitude do sindicato e sua hegemonia masculina. Para Petras (1998), há duas lutas a serem travadas no interior dos movimentos: a unidade de luta contra o inimigo externo e a luta entre companheiros e companheiras na perspectiva de homogeneizar a condição dentro da classe. Para ele, as mulheres acompanham de maneira igual os homens nas maiores lutas encampadas pelo movimento dos trabalhadores sem-terra, mas após a vitória, a tendência é das mulheres voltarem para casa. Para o autor deve existir igualdade em todo o processo, senão a luta só reproduzirá essa desigualdade. Partindo desse pressuposto, nos questionamos o que deve ser feito para que a questão de gênero se insira no contexto de lutas do sindicato? A diminuição do número de trabalhadoras no setor formalizado do mercado de trabalho, ou o fato da maioria dos dirigentes (homens e mulheres) não ser favorável à política de cotas, seria o motivo de não incentivar outras trabalhadoras a se inserirem no sindicato? Através dessa pergunta feita a todos os sindicalistas entrevistados, obtivemos certo consenso por parte dos diretores e diretoras, cujos sindicatos possuem jornal próprio, de que “se lembram” das mulheres no dia 08 de março, quando prestam homenagem à elas, mas não como trabalhadora, como companheira de 66 luta e membro da classe trabalhadora. Mas de uma forma que acaba reforçando a divisão sexual do trabalho, onde às mulheres cabe a função de mãe e ao mesmo tempo gestora do lar, por isso lembrada como batalhadora e merecedora da homenagem. Percebemos que as homenagens destinadas às mulheres têm um sentido não-classista, ao reforçar o papel da mulher como mãe e como “rainha do lar”, mesmo que trabalhem fora para ajudar no sustento do lar, ou sendo a principal responsável pelo lar, acabam assumindo a dupla jornada de trabalho. Apesar de três destes sindicatos terem sua base formada majoritariamente por mulheres (APEOESP, SSM e SIEMACO), não tem havido, segundo as próprias sindicalistas, artigos nos jornais sobre a conscientização da participação da mulher nos sindicatos. O presidente do SINDIALCOOL, assumiu que seria uma impertinência a existência deste assunto em seus boletins, pois para ele o jornal destina-se às questões conjunturais e também porque na sua categoria, o número de mulheres é muito baixo e que não haveria a necessidade de dedicação de matérias específicas à elas. Diante disso, podemos apontar que o sindicato e seus dirigentes apóiam e lutam por questões mais emergenciais, se despreocupando dos assuntos que se distanciam da luta por salário, manutenção no emprego e cestas-básicas. Assim, apesar das mulheres terem participado nas lutas sindicais da década de 70 e 80, nas greves e manifestações, Araújo (2000) reafirma que ... Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA ...ao encaminhamento de suas demandas específicas, pode-se dizer que tanto o velho como o novo sindicalismo compartilham de uma tradição cultural machista, que se manifestava nas práticas e representações paternalistas ou segregacionistas em relação à mulher trabalhadora por parte do conjunto dos dire- ... o fator “ reprodutivo seria o maior empecilho para a mulher ascender na vida profissional... ” tores e militantes sindicais. (ARAÚJO, 2000, p. 314) Nesse sentido, a questão que se coloca é: como lidar com a dupla jornada de trabalho e com a segregação no ambiente de trabalho e no ambiente sindical, que impedem a mulher de atuar no meio político? Diante disso e de todas as leituras realizadas, pudemos observar que o fator reprodutivo seria o maior empecilho para a mulher ascender na vida profissional. O fato de gerar filhos é um fardo a ser carregado para o resto da vida. Com isso criam-se imagens e estigmas, de que determinadas funções são destinadas para as mulheres, geralmente menos valorizadas e remuneradas. Além de se criar uma barreira para a contratação das mulheres com o argumento de que na gravidez, o empresário pode ter prejuízo, seja pelo custo de sua saída no período da licença maternidade ou pelo medo de que caberá a ele o pagamento do salário da mulher durante sua ausência. Assim o direito de reprodução da mulher se torna então um encargo ideologicamente infiltrado em suas cabeças, a ponto delas próprias acreditarem nisso e se submeterem aos empregos oferecidos e as condições exigidas para exercê-los. Por outro lado, vemos que o movimento sindical, tem tido na reprodução, sua base de luta para conseguirem direitos, como o direi13 Termo usado por SOUZA-LOBO (1991). RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO “ ... é pela inserção nos diversos âmbitos sociais, que a mulher pode vir a ter suas especificidades entendidas e atendidas. ” to de creches, o direito da gravidez, etc. Ajudando de certa maneira a criar um estigma em torno do fato da mulher vir a se tornar mãe, fazendo parecer essa função como sendo a única ou então a mais importante exercida pelas mulheres, criando então uma forte carga ideológica de machismo e patriarcalismo. Vemos que no meio sindical, muitas das respostas às perguntas sobre a questão da participação da mulher no meio político e sobre suas questões específicas de gênero, se voltam para a cobrança de que as mulheres devem se mostrar capazes para continuarem no sindicato. Porém apesar dessas condições apresentadas, de resistência em incorporar a questão de gênero no interior dos sindicatos e resistência em apoiar a maior inserção das mulheres nos sindicatos, as mulheres têm, aos poucos se incorporado nos âmbitos sindicais. E essa inserção é précondição para a incorporação de suas especificidades e individualidades na agenda de lutas dos movimentos sindicais. 4. Algumas Considerações... Assim ao final de nosso trabalho, tivemos a clareza de que é pela inserção nos diversos âmbitos sociais, que a mulher pode vir a ter suas especificidades entendidas e atendidas. E é na condição de trabalhado- ra que pode estar a alternativa de vir a ter a terceira jornada, não como um fardo, um trabalho alienante, sem prazer, cujos frutos lhe são também alienantes. Mas na condição de militante, a mulher pode ter a possibilidade de vir a conhecer seus direitos enquanto trabalhadora, apesar do trabalho alienante. Pois de acordo com Smith (2000), a ocupação de dado espaço é o que dá a condição de saltar escalas e alavancar adiante de sua realidade. O espaço a ser criado pressupõe a construção de referenciais, baseado nas condições de igualdade de classe e gênero. Numa grandeza escalar de maior expressão e que tenha poder para impor a sua configuração geográfica no espaço. Essa configuração terá a Geografia da igualdade como principio de construção de referenciais. Onde as relações de trabalho possam ser, a de produzir o essencial para a subsistência, longe da hierarquização da classe trabalhadora, firmada pela divisão social do trabalho, extremamente excludente. E onde se possa ter o acesso ao espaço construído longe dessa idéia de sociedade dividida em classes sociais, raças e gêneros. É nas relações criadas, com vistas à emancipação de classe e por meio da terceira jornada, obtidas por meio da militância, sindical, partidária ou de algum movimento social de cunho coletivo, que se aposta que as mulheres possam ter acesso a elementos com vistas à sua emancipação de gênero. Dessa forma, o lugar a ser criado/construído pela mulher, deve ser aquele onde as diferenças de classes não são gritantes e onde haja igualdade também entre os sexos. Mas lembremos que, conforme aponta Meszáros (2002), a igualdade num sistema onde se mantém ao mesmo tempo a subordinação do trabalhador no processo de reprodução metabólica do capital é uma contradição. E ainda afirma que “somente uma força comunitária de produção e troca social pode arran- RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO car as mulheres de sua produção subordinada e proporcionar igualdade” (MESZÁROS,2002, p.305). Para Smith (2000), isso só será possível quando dado movimento organizado localmente, tiver condições de saltar escalas, no sentido de dissolver as fronteiras espaciais que são em larga medida impostas de cima e que detêm a produção e reprodução da vida cotidiana. Ele reafirma o conceito de escala como um mecanismo de inclusão social de grupos que podem passar a ampliar as identidades de um dado lugar, tendo em vista a supressão do espaço pelo tempo. As escalas oferecem marcos na recuperação do espaço da aniquilação e uma linguagem mediante a qual a rediferenciação do espaço pode ser desbravada sobre bases sociais discutidas e ajustadas, em vez de seguir a lógica do capital e os interesses de sua classe.” (SMITH: 2000, p.157) Para o autor, o sistema de escala não é ontológico. A escala geográfica, é hierarquicamente produzida como parte das paisagens sociais, culturais, econômicas e políticas do capitalismo e do patriarcado contemporâneo. A escala demarca o sítio da disputa social, tanto do objeto quanto da resolução dessa disputa e é a escala que define as fronteiras e limita as identidades em torno das quais o controle é exercido e contestado. Nesse sentido, as mulheres podem ter a perspectiva de tentar reafirmar seu lugar no espaço do capital, onde haja a igualdade dos trabalhadores entre si e onde portanto, não haja oportunidade para a imposição das condições desse sistema alienante. Referências ANTUNES, Ricardo. 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Nessa avaliação, levou-se em conta os resultados das políticas de desenvolvimento postas em prática pelo governo do Estado da Bahia nos últimos 50 anos tendo como referencial os fatores condicionantes do desenvolvimento econômico e social baseados na experiência desenvolvimentista mundial. Palavras-chaves: desenvolvimento econômico; desenvolvimento regional; economia baiana. Abstract The objective of this article is to evaluate and to extract conclusions about the politics of economic and social development of the State of Bahia carried on the last 50 years taking into account the experience of countries leaders of the world capitalism in its historic evolution and, in special, the experience of the Pacific Asiatic countries during the Century XX. The output in the last 50 years of the politics of economic and social development adopted by government of the State of Bahia were analyzed using as benchmark the factors of economic and social development that were fundamental to develop the countries leaders 70 sem produzir efeitos significativos a montante e a jusante, a economia cacaueira permitiu a manutenção do modelo primário-exportador, garantindo a liderança do setor agrícola na composição do PIB estadual e na pauta de exportações baianas, até meados da década de 70. Mesmo após esse período, quando a Bahia abraça, de fato, a industrialização, a importância do cacau faz-se ainda presente no âmbito regional e nos fluxos de troca internacional estabelecidos pelo Estado. (LIMA e QUEIROZ, 1996, p.68) of the world capitalism and the Pacific Asiatic countries. Key-words: economic development; regional development; state of Bahia economy. 1. A evolução econômica e social da Bahia nos últimos 50 anos A evolução econômica da Bahia é bastante similar àquela processada no Brasil cuja principal marca são as gigantescas desigualdades sociais e regionais que se acumularam ao longo dos últimos 500 anos. A história econômica do estado apresentou duas dinâmicas bem distintas: a primeira, que vai do período colonial até 1970, corresponde à fase de economia primário-exportadora e, a segunda, de 1970 em diante, diz respeito à fase de economia predominantemente industrial inaugurada com a implantação da indústria petroquímica ampliada pela metalurgia do cobre, pela indústria de celulose e, mais recentemente, pela indústria automobilística. Até o início da década de 60, a economia baiana caracterizou-se por uma produção de base predominantemente agrícola, destacando-se produtos como o cacau, sisal e fumo, dentre outros, voltados para a exportação. O cacau, que se tornou o principal produto de exportação do estado a partir de 1925, não foi capaz de desencadear a implantação de outras atividades econômicas que possibilitassem a diversificação da estrutura produtiva da Bahia; Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA A partir da década de 70, no contexto da política do governo federal de substituição de importações, a Bahia foi contemplada com vários projetos industriais que tinham por objetivo a produção de bens intermediários (intensivos em capital e tecnologicamente modernos) complementar à matriz de produção já desenvolvida na região Sudeste do país. O processo de industrialização estadual baseado na indústria de bens intermediários começou com a implantação da Refinaria de Mataripe na década de 50, aproveitandose da disponibilidade local do petróleo; com a formação de um complexo mínero-metalúrgico em Candeias na década de 60; a implantação do Centro Industrial de Aratu (CIA); do Complexo Petroquímico de Camaçari (Copec) e da metalurgia do cobre no início da década de 80. Todo esse conjunto de empreendimentos foi concentrado na Região 1 Doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, Espanha, ex- Secretário do Planejamento de Salvador, ex- Subsecretário de Energia do Estado da Bahia, ex-presidente do IRAE- Instituto Rômulo Almeida de Altos Estudos. Consultor e professor universitário. RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Metropolitana de Salvador (RMS) que responde por 70% da produção industrial do estado. A consolidação da industrialização fez com que ocorressem profundas transformações na estrutura econômica baiana, com uma redução do peso da agricultura e um aumento significativo da participação do setor secundário no PIB , principalmente dos segmentos químico e petroquímico e extrativo mineral. O desenvolvimento desses setores fez com que a Bahia se transformasse em uma das principais fornecedoras nacionais de matérias-primas e bens intermediários. No período 1950/1999 (GRAF. 1) houve declínio do setor primário e a expansão do setor secundário. A partir de 1950, a indústria se transforma no setor mais dinâmico da economia do estadual. Segundo Spinola (2001), no período entre 1950 e 1970, o a Bahia passou por um processo sistemático de planejamento, no qual se destaca como seminal, o Plano de Desenvolvimento da Bahia (Plandeb), concluído em 1959 e contemporâneo do planejamento elaborado por Celso Furtado para o Nordeste, que projetou um setor industrial objetivando um equilíbrio entre a produ- ção de bens de consumo e de capital, além de enfatizar a prioridade para a especialização das grandes empresas produtoras de bens intermediários, aproveitando alguns recursos naturais à época abundantes na região, como o petróleo. Spinola (2001) afirma que o Plandeb propunha projetos que integrariam de forma sistêmica os setores agrícola, industrial e comercial, objetivando o desenvolvimento equilibrado da Bahia e ressalta, ainda, que este plano foi o responsável pela “estratégia de desconcentração concentrada” que preconizava a industrialização estadual mediante a sua inserção no projeto nacional de desenvolvimento posto em prática pelo governo federal. Essa estratégia contemplava a atração de grandes empresas produtoras de bens intermediários que atuariam como pólos do desenvolvimento industrial juntamente com as empresas produtoras de bens finais que se instalariam a jusante nos centros e distritos industriais criados para abrigá-las, tanto na RMS quanto nas cidades do interior. Ressalte-se que, segundo o autor, muitos dos projetos setoriais do Plandeb não saíram do papel e outros foram executados até a década de 80. Entre 1970 e 1980, com financiamentos a juros subsidiados, isenção de impostos e incentivos fiscais, com o aporte de consideráveis recursos públicos a fundo perdido, oriundos dos organismos de fomento ao desenvolvimento do país, foram implantados os distritos industriais do interior e da RMS (o Centro Industrial de Aratu e o Complexo Petroquímico de Camaçari) e montado o parque produtor de bens intermediários concentrados nos segmentos da química/petroquímica e dos minerais não-metálicos. O avanço da indústria de transformação e o declínio do setor agropecuário são responsáveis pelas mudanças na estrutura do PIB da Bahia de 1975 a 1995 (TAB. 1). Na formação do PIB da indústria de transformação em 1995, a indústria química contribuiu com 50,5%, a metalúrgica com 10,3%, a de produtos alimentares com 7,2%, a de papel e papelão com 5,8%, a têxtil com 4,3%, a de bebidas com 1,9%, a de material elétrico e de comunicação com 1,2%, a de borracha com 1% e o restante com 17,8%. Os números mostram que, após 30 anos de crescimento, a participação da indústria baiana declinou em relação à indústria nacional a partir de 1980 (TAB.2) TABELA 1 Estrutura do PIB da Bahia a custo de fatores segundo classes de atividade econômica – 1975–1995 GRÁFICO 1 – Estrutura setorial do PIB da Bahia, 1950–1999 Fonte: IMIC. RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Fonte: Lima e Queiroz, 1996. Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 71 TABELA 2 Participação percentual da indústria baiana na indústria nacional ANO Indústria Bahia/Brasil (%) 1950 1960 1970 1980 1998 1999 1,4 2,1 3,2 4,7 2,8 3,2 TABELA 3 Taxa de Crescimento médio do PIB da Bahia a custo de fatores 1975/1980–1990/1995 Fonte: IMIC, 2000. De 1980 até o momento atual, concretizou-se a implantação do Complexo Petroquímico de Camaçari em conseqüência da evolução do setor petrolífero e químico do Brasil. Ressalte-se que o complexo petroquímico não produziu os efeitos multiplicadores esperados com a implantação de um parque de indústrias de transformação produtoras de bens finais. Além disso, monopolizou a captação dos escassos recursos regionais para o financiamento de outros segmentos industriais alternativos, bem como ampliou a dependência da Bahia às flutuações da economia nacional e internacional; o aumento da integração do mercado nacional foi determinante para a economia baiana, pois condicionou as possibilidades de produção e ampliação das fábricas existentes e as perspectivas de implantação de novas fábricas a regras mercadológicas externas e independentes da capacidade de influência do Estado. (…) a implantação do complexo petroquímico na Bahia, efetivamente concretizado nessa época, foi conseqüência da evolução do setor petrolífero e químico do Brasil e de uma estratégia definida fora das fronteiras baianas, notadamente pela Petrobrás. (SPINOLA, 2001, p.35) Fonte: SEI. Elaboração própria. Preços de 1980 na, como um todo, apresentou seu melhor desempenho no período 1975/1980, excetuando os setores de agricultura, silvicultura e pesca e a indústria extrativa mineral. A partir de 1980, apresentou declínio em seu crescimento no cômputo global e setorial, o que é explicado pela GRÁFICO 2 – Relação PIB da Bahia/PIB do Brasil, 1975/1995 Fonte: SEI. A análise da tabela 3, que apresenta a taxa de crescimento médio do PIB setorial de 1975 a 1995, permite constatar que a economia baia72 profunda crise que vem afetando a economia brasileira desde a década de 1980 até o momento atual. Os gráficos seguintes mostram o declínio da participação do PIB e a do PIB per capita da Bahia no PIB e no PIB per capita do Brasil, a partir de 1984. Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA GRÁFICO 3 – Relação PIB per capita da Bahia/PIB do Brasil per capita, 1975/1995 Fonte: SEI. RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ressalte-se que na década de 90, começou a crescer na Bahia a indústria de papel e papelão, caracterizada por grandes empreendimentos produtores de celulose e papel no Extremo Sul do estado, com a entrada em operação da Bahia Sul Celulose e a implantação da Vera Cruz Celulose. Os ramos tradicionais da indústria baiana, responsáveis pelo crescimento industrial em períodos anteriores, como o de alimentos, fumo, vestuário, couros e peles, dentre outros, reduziram sua importância relativa, dando lugar aos segmentos químico e petroquímico, metalmecânico e de papel e celulose. A indústria de papel e papelão foi a que apresentou no período 1992/1996 o maior crescimento da produção industrial e o maior aumento em efetivo de pessoal ocupado e em horas trabalhadas. A indústria metalúrgica respondeu pela maior produtividade física e por hora trabalhada. No cômputo global, a indústria de transformação da Bahia elevou a produção industrial, reduziu o pessoal ocupado e as horas trabalhadas e aumentou a produtividade física e por hora trabalhada na década de 90 (TAB. 4). Esse desempenho resultou do processo de reestruturação produtiva encetada na década de 90 para fazer frente ao aumento da concorrência gerada pela abertura da economia nacional. Como demonstram os dados da tabela 5, no período de 1996/ 1999, o PIB e o PIB per capita da Bahia deixaram de crescer, isto é, estagnaram. Durante a década de 90, a economia baiana foi bastante afetada pela crise econômica que atingiu profundamente o Brasil conforme pode ser constatado na tabela 6. Quanto ao comércio exterior, a Bahia apresentou em 1995, segundo a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia, (SEI), superávit de US$ 1.207 milhões com as exportações alcançando US$ 1.919 milhões. As exportações de produtos químicos e petroquímicos contri- TABELA 4 Taxas médias anuais de crescimento da produção industrial, do emprego e da produtividade da indústria de transformação da Bahia – 1992–1996 Fonte: Carneiro, e Vieira, 1998. TABELA 5 Produto Interno Bruto per capita – Brasil x Bahia – 1990–1999 Fonte: IMIC. TABELA 6 Crescimento do PIB da Bahia – 1990–1996 Fonte: Carneiro e Vieira, 1998. buíram com 33,97%, papel e celulose com 15,68%, metalúrgicos com 17,15%, derivados de petróleo com 5,11%, cacau e derivados com 6,18%, minerais com 6,45% e outros com 15,68%. No que concerne às importações, os bens intermediários foram RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO responsáveis por 80,50%, combustíveis e lubrificantes por 6,29%, bens de consumo por 5,09% e bens de capital por 8,12%. As exportações da Bahia em relação às do Nordeste como um todo evoluíram de 45,5% em 1991 para 49,1% em 1994. Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 73 A composição da exportação tinha o cacau como produto mais expressivo (62,82%) em 1970, que passa a decair a partir de 1975, chegando a 6,18% em l995. Diferentemente, papel e celulose e os produtos metalúrgicos, químicos e petroquímicos passam a representar maior peso nessa composição (TAB. 7). No que diz respeito ao destino das exportações da Bahia, em 1995, a maior parte destinou-se para a União Européia e o Mercosul. Estes destinos (Argentina especialmente) foram os que apresentaram o maior crescimento entre 1994 e 1995 (TAB. 8). Ressalte-se que “a política de industrialização contribuiu para a concentração das atividades industriais na RMS” (SPINOLA, 2001, p.43) e que houve artificialismo na política de localização industrial com a construção de distritos industriais devido à ausência de empresários locais com vocação industrial e a fragilidade do mercado consumidor na região. Um fato é inconteste: a Bahia cresceu economicamente no período 1967/1999, mas não se desenvolveu. Isto porque, a despeito do aparente progresso material e dos avanços tecnológicos, o conjunto dos benefícios por eles gerados não está disponível para milhões de excluídos que constituem, preponderantemente, a população estadual (…) a Bahia viu agravada a sua dependência externa, tanto no plano nacional quanto no internacional, como decorrência de uma política desenvolvimentista equivocadamente traçada pela tecnoburocracia regional com a cumplicidade das elites agromercantis locais (SPINOLA, 2001, p.35–6). Mais recentemente, segundo Bomfim (1999), o projeto Amazon da Ford foi implantado em Camaçari na Bahia contemplando um investimento total de US$ 1,3 bilhão e a perspectiva de produzir 250 mil veículos de cinco modelos por ano e gerar 5 mil empregos diretos e 50 mil indiretos. Para atrair a Ford para a Bahia, 74 TABELA 7 Composição percentual das exportações – Principais segmentos na Bahia – 1965–1995 Fonte: Lima, e Queiroz, 1996. TABELA 8 Exportações baianas por bloco econômico – 1994–1995 Fonte: Lima, e Queiroz, 19967. o governo do estado derrotou propostas de outros estados oferecendo uma série de incentivos fiscais e financeiros, além do terreno onde foi implantada a indústria. Segundo o governo da Bahia, atraídos pela Ford, deverão se instalar na Bahia cerca de 32 empresas, além de fornecedores de serviços e autopeças. Segundo Paupério (1999), a Bahia também tem atraído empresas ligadas à indústria de confecções e calçados de outros estados devido ao baixo custo da mão-de-obra e a oferta de incentivos fiscais e financeiros. Outra observação importan- Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA te de Pauperio é de que a indústria petroquímica baiana poderá oferecer produtos mais elaborados, a indústria de transformação de plásticos tende a configurar-se e a indústria metalúrgica e mecânica poderão ganhar grande impulso com a perspectiva de suprimento à indústria automobilística implantada no estado. A respeito dessa indústria, uma das críticas à vinda das montadoras diz respeito à não atração de investimentos em fornecedores locais, ocasionando decepções na geração de empregos indiretos, tudo RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO TABELA 9 População e participação da Bahia no Brasil – 1990–1999 em função da vontade das próprias montadoras. Para Milton Santos (A Tarde, 10/06/1997), ‘as modernas empresas multinacionais são como um circo: enquanto têm renda, continuam instaladas em determinadas cidades e, quando o lucro fica escasso, desarmam a tenda e seguem viagem para outras praças’. Desta forma, a transitoriedade do investimento geraria pouco desenvolvimento de raízes mais profundas, através de encadeamentos produtivos mais completos, (PAUPÉRIO, 1999, p.68) A evolução da população do Brasil e da Bahia e a participação da população baiana no conjunto do país, no período 1990/ 1999, é apresentada na tabela 9 . Já a tabela 10 mostra a evolução da população e do grau de urbanização entre 1980 e 1995 e as taxas de crescimento populacional no estado nos períodos 1980/1991 e 1991/1995. Podese constatar que enquanto o grau de urbanização cresceu, a taxa de crescimento populacional decresceu nesse período. A população em idade ativa (PIA) da Bahia, segundo a SEI (1996), correspondia em 1995 a 9.822.187 (77% da população total), enquanto a população economicamente ativa (PEA) totalizava 6.044.298 (47,6% da população total). Os dados sobre o emprego na Bahia, nas décadas de 1980 e 1990, são apresentados nas tabelas seguintes. . A análise da tabela 11 permite constatar que, nos anos de 1981, 1990 e 1995 , houve redução substancial do percentual do pessoal com carteira assinada e dos contribuintes para a previdência e um significativo aumento do pessoal não remunerado entre 1990 e 1995. Em 15 anos, o número de ocupados cresceu aproximadamente 50%, em sua maior parte caracterizado por formas precárias de relações de trabalho conforme demonstra o percentual do pessoal ocupado sem carteira assinada em número bastante superior ao pessoal com carteira assinada. Tal situação reflete as Fonte: IMIC. TABELA 10 População, grau de urbanização e taxas de crescimento – Bahia – 1980–1995 Fonte: SEI. TABELA 11 Pessoal ocupado segundo a posição na ocupação – Bahia – 1981–1995 Fonte: SEI. mudanças ocorridas no mundo do trabalho em função da reestruturação da atividade produtiva no Brasil na década de 1990. Em termos estaduais, a análise da situação do pessoal ocupado segundo os setores de atividade econômica em 1981, 1990 e 1995, (TAB. 12) permite constatar que os setores primário e terciário foram os que mais absorveram mão-de-obra no RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO período. No setor terciário, destacase o comércio e a prestação de serviços. Contraditando a teoria de que a indústria é a grande geradora de empregos observa-se, neste mesmo período, que o setor secundário situa-se em último lugar na criação de postos de trabalho. Registre-se, porém, que o percentual do pessoal ocupado no setor primário estacionou na década de 1990, após que- Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 75 da em relação a 1981. O nível dos empregos no setor secundário sofreu também pequena redução de 1981 a 1995. Por sua vez, o percentual dos trabalhadores do setor terciário cresceu de 1981 a 1990 e se manteve praticamente constante em 1990 e 1995. Refletindo o quadro de estagnação da economia estadual e a perversidade do seu mercado de trabalho, constata-se que na RMS , no período de 1997/2000, a participação da indústria na geração de empregos é inferior em todos os anos da série aos empregos domésticos, sabidamente os que menos pagam (TAB. 13). TABELA 12 Pessoal ocupado segundo os setores Bahia – 1981–1995 Fonte: SEI. TABELA 13 Distribuição dos ocupados, segundo o setor de atividade – RMS — 1997-2000 2. As desigualdades sociais e regionais da Bahia 2.1 As desigualdades sociais A Bahia era, em 1998, o 20o estado brasileiro no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano ( IDH )2 apresentando regressão em relação a 1970 e 1980. Ainda se pode constatar, nesse quadro, que todos os estados brasileiros estão acima da linha média de desenvolvimento que é 0,5 (sendo o máximo 1,0), em que pese alguns estarem apenas um pouco acima dessa linha, como Piauí e Alagoas, comparáveis à situação do Iraque e do Congo. Outros , como São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, ficariam entre as 45 nações mais desenvolvidas do mundo. No Nordeste, Sergipe é o estado mais desenvolvido, superando Pernambuco e Bahia. A distribuição de renda pessoal na Bahia segundo as classes em 1981, 1990, 1993 e 1995 encontra-se na tabela 15. Em 1995, 72,6% da população baiana ganhava até 2 salários mínimos, enquanto 3,7% percebia mais de 10 salários mínimos. Essa tabela espelha a grande concentração de renda existente no estado. As desigualdades de rendimentos existentes na Bahia também es76 Fonte: IMIC. QUADRO 1 IDH dos Estados Brasileiros – 1998 Fonte: Menu Geo Econômica, 2001. tão demonstradas na tabela 16. Enquanto 44,5% das pessoas dispõem de apenas 13,1% da renda total, 1,3% da população dispõe de 21,1% da renda gerada na Bahia. Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 2 O IDH é um índice criado pela ONU para medir o “desenvolvimento humano”, avaliando parâmetros como o nível de escolaridade, a expectativa de vida ao nascer e a renda per capita. Anteriormente, as nações e regiões eram avaliadas somente pelo fator econômico, o que provocava evidentes distorções. RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Estatísticas oficiais, baseadas em dados da SEI e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informam que, nos últimos dez anos (1991-2001), aprofundou-se a desigualdade na distribuição de renda. Mais trabalhadores foram colocados na informalidade com a estagnação da economia estadual. De 1992 a 1999, o décimo mais pobre da população baiana ficou ainda mais pobre. Em 1992, dividia 1,7% da renda apurada no estado. Em 1999, passou a repartir menos ainda, 1,5%. Já os ricos ficaram ainda mais ricos. O décimo mais abastado da população elevou sua participação na renda de 46,7% para 47,1%, durante o mesmo período. Os dados foram divulgados em 2000 e integram a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE. O IBGE revelou ainda que o rendimento médio mensal dos chefes de família na Bahia é de R$ 460,00 superior apenas a Alagoas (R$ 454,00), Maranhão (R$ 343,00) e Piauí (R$ 383,00). Só para se ter uma idéia, a renda média das famílias nas demais regiões são as seguintes: Norte (R$ 577,00), Centro-Oeste (R$ 589,00), Sudeste (R$ 945,00) e Sul (R$ 796,00). Souza (2001) destaca que a renda média mensal dos responsáveis pelos domicílios, em Salvador, evoluiu 26,9% entre 1991 e 2000. É a menor evolução entre as dez maiores capitais brasileiras. A Bahia registra a quarta maior concentração de renda do Brasil, ficando atrás apenas de Ceará, Alagoas e Pernambuco. Caracterizando-se como uma sociedade agrário-escravocrata até o final do século passado, a Bahia conviveu com o contraste entre a opulência e a pobreza desde os primórdios da colonização brasileira, trazendo essa dicotomia para a atualidade. Registram-se, no meio rural baiano, elevados índices de pobreza, constatando-se, mediante a comparação entre os rendimentos médios dos chefes de família residentes na zona rural e os dos centros urbanos, dos estados brasilei- TABELA 15 Pessoas com 10 anos ou mais segundo as classes de renda – Bahia 1981-1995 Fonte: SEI. TABELA 16 Pessoas com 10 anos ou mais segundo as classes de renda Bahia 1981-1995 Fonte: SEI. ros, que a Bahia se aproxima da renda média rural do Nordeste que, por sinal, é muito baixa. Pode-se associar a baixa renda média rural da Bahia à estrutura fundiária concentrada nas mãos de poucos proprietários e assentada sobre grandes extensões de terra — em contraposição à existência de uma infinidade de minifúndios em que foi mantido um vínculo dos pequenos proprietários com o meio rural baiano — assim como à implantação tardia dos pólos industriais, o que contribuiu para a manutenção desse elevado número de residentes na zona rural. As cidades de médio porte não apresentaram uma oferta de empregos capaz de atrair as populações rurais, mantendo-se, desse modo, um contingente populacional significativo na zona rural e um estoque de mão-de-obra RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO para atender às demandas dos centros urbanos. É importante salientar que os investimentos agroindustriais e o processo de modernização da agricultura baiana introduzidos nas décadas de 1970 e 1980, assim como a ampliação da fronteira agrícola, não contribuíram para a reversão dos indicadores socioeconômicos que dimensionam a renda gerada pelas famílias e o desemprego rural, ou seja, para a redução da pobreza no campo. Até períodos recentes, a Bahia tinha uma economia assentada na cacauicultura, dentre outras lavouras de menor destaque, como a cana-de-açúcar, fumo, algodão, sisal, mandioca e cereais, além de grandes áreas de pecuária extensiva, sendo a bovina a de maior importância. A atividade agropecuária, entretanto, caracterizava-se Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 77 “ ... a Bahia registrou o maior número de analfabetos, a maior quantidade de domicílios sem banheiro e o maior número de casas sem abastecimento de água e coleta de lixo... ” como tradicional, com baixa produtividade, pouca diversificação e baixa rentabilidade. Nas áreas agrícolas, verificavase o uso intensivo de mão-de-obra em oposição às áreas de pecuária extensiva. A população ocupada no setor rural (PEA) manteve-se elevada, apesar do êxodo verificado nesse período. Nas áreas agrícolas mais dinâmicas, entretanto, a exemplo do agribusiness cacau, principal produto na pauta das exportações baianas até recentemente, não houve capitalização dos lucros provenientes do desenvolvimento da lavoura em benefício da região nem se observou uma melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores nos anos de maior rentabilidade. Registrou-se, sobretudo, uma profunda drenagem de renda fundiária para os centros urbanos de maior porte, principalmente Rio de Janeiro e Salvador. No que tange especificamente à questão do emprego, observe-se que as taxas de desemprego na RMS superam as do Brasil e , a partir de 1990, elas adquiriram uma tendência crescente. Assim como no resto do país, as condições de emprego do trabalhador na Bahia se deterioraram entre 1992 e 1999. O número de empregados com carteira (que têm 78 direitos trabalhistas assegurados) foi reduzido em 10%, o equivalente a 9.758 postos. O número de trabalhadores sem carteira assinada cresceu 16%, passando de 1,085 milhão para 1,262 milhão. Obter emprego está mais difícil na Bahia do que em outros estados: o PIB baiano vem crescendo mais devagar que o brasileiro. Entre 1990 e 2000, o produto interno bruto do país registrou variação de 30,1%. Nesse mesmo período, a economia da Bahia cresceu apenas 26,6%. Segundo informa o Anuário Estatístico da Bahia, (SEI, 2000), a RMS registrou taxas de desemprego de 21,6% em 1997, de 24,2% em 1998 e 1999 e de 25,2% em 2000. De acordo com o IBGE, a taxa de desemprego aberto (30 dias) em Salvador passou de 10,3% em novembro de 2000 para 11,1% em abril de 2001 Como visto os indicadores de emprego da Bahia pioraram durante o período. Entre todas as regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE, Salvador é justamente a que apresenta a mais elevada taxa de desemprego aberto , maior que o dobro da apresentada pelo Rio (5,1%). Houve, é certo, muitos avanços em todo o país nas áreas de saúde, educação e saneamento: a expectativa de vida do brasileiro subiu 2,1 anos, o número de domicílios com saneamento cresceu 18,1%, a renda média mensal aumentou 29,8% e a mortalidade infantil caiu 22,1%. Nem sempre, porém, a Bahia acompanhou essa evolução. A taxa de atividade para o grupo de crianças de 10 a 14 anos (que revela a existência de trabalho infantil, vedado pela Constituição) diminuiu bastante no país, de 22,4% para 16,6%. Mas subiu justamente na Região Metropolitana de Salvador, de 8,8% em 92 para 10,1% em 1999, que agora apresenta a maior taxa de atividade metropolitana para esse grupo de idade. Mais ainda: entre 1995 e 1999, Salvador foi a metrópole que teve a menor progresso no ICV (Índice de Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA Condições de Vida). Já um indicador importante, como a taxa de mortalidade infantil, caiu bastante na Bahia nesse período, de 57,9 mortes para cada mil nascidos vivos para 45,4 mortes — uma queda maior do que a verificada no conjunto da região Nordeste (de 65,2 para 53,0). Cabe observar que, no Brasil, a Bahia registrou o maior número de analfabetos, a maior quantidade de domicílios sem banheiro ou sanitário e o maior número de casas sem abastecimento de água e coleta de lixo. É também o estado brasileiro com mais domicílios sem rede geral de esgoto ou fossa séptica. Os dados são do IBGE, divulgados em todo o país, e cujos números absolutos colocam a Bahia com o maior contingente de pessoas vivendo em condições subumanas entre 1991 e 2000. Dos 3,1 milhões de domicílios particulares baianos, nada menos que 762 mil não têm banheiro ou sanitário, o que representa cerca de três milhões de baianos fazendo suas necessidades físicas ao relento em pleno século XXI. Esse número chega a ser 20 vezes maior do que os registrados por outros estados. Até mesmo em números relativos, a Bahia tem um dos piores índices de domicílio sem instalação sanitária, ficando em 23o lugar no país. A coleta de lixo na Bahia só chega a 1,9 milhão de residências, ou seja, 40% das casas jogam os detritos a esmo. O IBGE informa que a Bahia possui cerca de 13 milhões de habitantes, o que equivale a uma população de cinco milhões de baianos sem a coleta de lixo. Os dados mostram, ainda, que mais de um milhão de domicílios do estado não possuem abastecimento de água da rede geral, ou seja, a água é adquirida em poço, nascente ou diretamente em rios e lagoas. Resultado: são mais de quatro milhões de baianos bebendo água sem tratamento. A pesquisa do IBGE diz que, também nesse caso, nenhum outro estado possui tantas residências nessas condições precárias. RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Salvador apresenta 83,4% dos 651.293 residências com esgoto ou fossa séptica. Isso equivale a uma população de mais de 500 mil pessoas fazendo suas necessidades fisiológicas ao relento na capital baiana. Ao contrário do que se poderia imaginar, a coleta de lixo em Salvador é péssima. Nas gestões dos prefeitos Fernando José e Lídice da Mata, o IBGE mostrava que a cidade ficava em último lugar entre as dez principais capitais brasileiras. Agora, continua se mantendo em último lugar. Até mesmo Fortaleza, Recife e Belém apresentam índices melhores. Dos 10,3 milhões de baianos com idade igual ou superior a 10 anos, 8,1 milhões são alfabetizados no estado. São mais de dois milhões de analfabetos a partir de dez anos de idade. Nenhum outro estado apresenta tantos analfabetos. Os municípios de Coronel João Sá, Araci e Dário Meira apresentam os piores índices, com metade de suas populações analfabetas.Somente a capital baiana registrava 200 mil analfabetos. Como a Bahia é o sexto estado mais rico do Brasil — ficando atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná —, os números que o IBGE apresentou expressam com mais dramaticidade as desigualdades sociais e a falta de políticas públicas voltadas para a sua superação A situação não é mais drástica pelo fato de que a Bahia apresentou, nos últimos dez anos, um dos menores índices de crescimento populacional do país. Cresceu 10,1% e a média no Brasil foi de 15,6%. No período de 1991 a 2000, a taxa de fecundidade no estado caiu de 3,33 filhos por mulher para 2,3 . 2.2 As desigualdades regionais da Bahia A Bahia possui uma área de 567.295,3 Km2, sendo seu território constituído por 15 regiões econômicas e 415 municípios3. Para mensurar as desigualdades regionais do estado foram utilizados os indicadores seguintes: 1) renda média familiar por município; 2) arrecadação municipal per capita; 3) participação do município no PIB da Bahia. Todos os indicadores foram calculados para o ano de 1996. Em termos da renda média familiar, apenas 43 municípios no universo de 415, possuem renda familiar média superior a R$ 200,00 e somente Salvador ultrapassa a renda de R$ 500,00 por família. O segundo indicador, relativo a arrecadação municipal per capita, mostra que apenas 21 municípios no universo pesquisado apresentam uma arrecadação per capita superior a R$ 20,00 por habitante e que, apenas um (São Francisco do Conde), supera R$ 120,00/habitante. O terceiro mostra que apenas três municípios têm uma participação no PIB estadual superior a 5% e que Salvador, constitui uma exceção, com uma participação entre 35 e 40% do PIB estadual. Esses três indicadores demonstram que as disparidades regionais no estado da Bahia são gigantescas. Segundo Fonseca (2001) constata-se que Salvador, São Francisco do Conde, Camaçari, Feira de Santana e Simões Filho, juntos, conseguiram arrecadar, no mês de dezembro de 2001, R$ 210 milhões em tributos estaduais. A maior parte da arrecadação correspondeu ao Imposto de Circulação de Mercadorias - ICMS, representando, quase 60% da arrecadação estadual ( recursos próprios ) no final do ano em referência. Os R$ 172 milhões que sobraram foram arrecadados pelos 412 municípios restantes, sendo que, desses, 16 não conseguiram, juntos, arrecadar mais que R$ 10 mil. A concentração de renda faz com que a quase totalidade dos municípios baianos sobreviva unicamente com os recursos transferidos do Fundo de Participação dos Estados (FPM), RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO e a Bahia “é o...sexto estado mais rico do Brasil... ” que destina 25% da renda a que a Bahia tem direito, dos recursos globais, incluindo as transferências da União. Juntos, os 16 municípios mais pobres arrecadaram, em impostos próprios, apenas R$ 8 mil, o equivalente a menos de 0,3% do que os cinco mais ricos conseguiram arrecadar no período. O município de Lajedão, a 882 km de Salvador, foi o que menos arrecadou impostos no último mês de dezembro. Somando-se os recursos oriundos do ICMS, ITV, IPVA e outros, foram arrecadados R$ 182,12. A renda mensal auferida pelo município é próxima de 0% do total de impostos próprios arrecadados no estado. Na outra ponta, Salvador arrecadou R$ 133 milhões, o equivalente a, aproximadamente, 30% do total arrecadado pelo estado. 2.3 Núcleos do desenvolvimento regional Os núcleos dinâmicos da economia baiana estão situados na Macrorregião de Salvador, o Litoral, inclusive Salvador, e as regiões sob a influência de Juazeiro, Vitória da Conquista, Irecê, Guanambi e Barreiras. Segundo Porto e Carvalho (1996) analisando-os chega-se às seguintes conclusões: A Macrorregião de Salvador, que abrange os municípios de Salvador, Simões Filho, Camaçari, Lauro de Freitas e Feira de Santana, concentra 90% da indústria de transformação da Bahia (setor químico, metalúrgico, produtos alimentares e outros) que, por sua vez, significa 25,1% do PIB 3 Incluindo-se dois municípios recentemente criados, totaliza 417. Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 79 estadual. Em se tratando dos fluxos comerciais é a região responsável por cerca de 90% das exportações para o Mercosul, considerando apenas os principais produtos e por cerca de 65% do total das exportações baianas. Além disso, é adensada pela presença de suporte comercial e de serviços para todo o Estado e até para outras regiões do Nordeste, cujo conjunto de atividades oferece cerca de 60% das vagas de trabalho no setor formal em todo o Estado. A região denominada Litoral, que abrange o Litoral Norte, Litoral Sul e Extremo Sul e engloba, também, a Macrorregião de Salvador, é constituída de um continuum de subespaços com produções diferenciadas. Esse espaço, além das indústrias da Macrorregião de Salvador, contém toda a produção cacaueira (Região Sul) que representa pouco mais de 2% do PIB baiano, a produção de papel e celulose (Região do Extremo Sul) e absorve mais de 75% do fluxo turístico do Estado (Região de Salvador, Porto Seguro e Ilhéus), ofertando 83% dos leitos em hotéis classificados e não-classificados. Dispõe de uma rede de infra-estrutura que não se assemelha à da Macrorregião de Salvador, como não podia deixar de ser. Entretanto está muito acima dos índices alcançados pelas outras regiões dinâmicas do Estado. Todas as outras áreas dinâmicas da economia baiana têm suas produções calcadas em atividades ligadas à agricultura, embora com produção diversificada. Barreiras se destaca como a região de maior dinamismo agrícola da Bahia como a única a produzir soja, pela crescente pecuária bovina, além de produzir frutas diferenciadas. Vitória da Conquista se destaca pela produção cafeeira, pela pecuária bovina (Itapetinga) e olerícolas (Jaguaquara e Itiruçu). Irecê, sempre associada como a maior região produtora de feijão do Estado, amplia e diversifica para hortícolas e frutícolas, utilizando-se de processos produtivos modernos. Juazeiro emprega os processos produtivos mais modernos do Estado em termos da agroindústria, contem uma pauta diversificada de produção de frutas para exportação e, em menor escala, a produção de hortícolas. A região de Guanambi, especializada na produção de algodão e, vivendo hoje um período de crise, vem buscando outras alternativas, inclusive a extração de urânio em Caetité. O conjunto dessas áreas dinâmicas, afora o Litoral, apresenta índices de infra-estrutura abaixo da 80 TABELA 18 Arrecadação dos cinco municípios mais ricos e dos 16 mais pobres – Bahia – Dez/2001 Fonte: Governo do Estado da Bahia. SEFAZ. média do Estado, exceto as regiões de Irecê, Guanambi e Vitória da Conquista, que alcançam esses valores em termos de rodovias pavimentadas e, no caso dessa última, em densidade telefônica. (PORTO e CARVALHO, 1996, p.200; 203-4) Ressalte-se que o conjunto das áreas dinâmicas da economia baiana concentra mais de 90% do Índice de Renda Municipal, ocupa uma área de apenas 30% do território, onde cerca de 60% da população habita, e é responsável por mais de 95% da arrecadação do ICMS estadual. É neste espaço, portanto, que se concentram as unidades de produção mais dinâmicas e competitivas do Estado, o que não exclui a possibilidade de outras unidades, com essas características, estarem situadas em outras áreas do território, ocorrendo, porém, de forma dispersa e com menor importância. (PORTO e CARVALHO, 1996, p. 197) Como visto anteriormente, a Macrorregião de Salvador alcançou Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA elevado nível de desenvolvimento graças às políticas de desenvolvimento postas em prática pelo governo federal e pelo governo estadual das décadas de 50 a 70. O crescimento da RMS ocorrido nas últimas três décadas, no bojo do processo de industrialização e urbanização, aconteceu simultaneamente com o crescimento de Feira de Santana que, além de ser um ponto de passagem obrigatória no intercâmbio comercial Sudeste/Nordeste e porta de entrada de Salvador, beneficiou-se dos efeitos de polarização da capital. O crescimento simultâneo da RMS e de Feira de Santana fez com que as regiões sob sua influência se integrassem economicamente, passando a constituir a macrorregião de Salvador. As externalidades existentes, superiores às das demais regiões do estado, faz com que a maior parte dos investimentos pro- RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO gramados para a Bahia nos próximos anos se destine a essa região. O Litoral Norte e o Litoral Sul da Bahia são focos dinâmicos de desenvolvimento que têm como principais atividades econômicas o turismo em toda sua extensão e a produção de celulose em Mucuri no Extremo Sul. O papel do governo federal foi fundamental no desenvolvimento do Litoral Sul baiano com a construção da rodovia BR-101 e com a modernização do aeroporto de Ilhéus. O governo do estado teve destacado papel no incentivo aos investimentos turísticos no Litoral Sul e na construção e modernização do aeroporto de Porto Seguro. A expansão do turismo no Litoral Norte é recente, sobretudo a partir da implantação da rodovia Ba-99, “Linha Verde”, pelo governo estadual. O eixo Juazeiro-Petrolina vem se caracterizando como a área mais dinâmica da agricultura irrigada no Nordeste do Brasil,ali convivendo vários sistemas de produção, da agricultura irrigada de porte empresarial até a familiar de subsistência, em sequeiro. O papel do governo federal no desenvolvimento da agricultura irrigada no pólo JuazeiroPetrolina, a partir de 1967 foi fundamental, seja através de investimentos na grande irrigação pública e privada, seja através do apoio à pequena irrigação. No caso da grande irrigação pública, a realização de obras de engenharia e das obras complementares ficava a cargo do governo através da CODEVASF e o cultivo sob a responsabilidade dos parceleiros selecionados pelo estado. A implantação da infra-estrutura de transporte pelos governos federal e estadual e a construção da barragem de Sobradinho pela CHESF alavancaram ainda mais o desenvolvimento da região sob a influência de Juazeiro. Outro fator não menos relevante na contribuição ao desenvolvimento econômico da região é o fato de Juazeiro ser, tanto quanto Vitória da Conquista e Feira de Santana, um dos pontos principais de passagem de bens e serviços do Sudeste para o Nordeste e vice-versa. A região sob a influência de Vitória da Conquista se desenvolveu graças à cafeicultura, a indústria de transformação, o comércio e os serviços. A cidade de Vitória da Conquista concentra a maior parte dos investimentos gerados na região, exercendo um importante papel de centro regional, industrial, comercial e de serviços. Ela se localiza estrategicamente ao longo da rodovia BR-116 implantada pelo governo federal na década de 50, por onde trafega grande parte de mercadorias que circulam entre o Sudeste e o Nordeste do Brasil. A localização estratégica de Vitória da Conquista criou as condições para que surgissem empreendedores que passaram a investir na cafeicultura e implantaram indústrias de transformação voltadas para o atendimento de mercados local e regional apoiadas com incentivos fiscais. A região de Irecê tem como atividade econômica principal a cultura do feijão, de que é a maior produtora na Bahia. Recentemente, essa região vem incrementando a horticultura e a produção de frutas com sistemas produtivos modernos. Irecê apresenta, no entanto, fragilidades devido aos problemas de escassez de recursos hídricos que, em alguns anos, tem comprometido a produção da sua principal commodity. Os avanços econômicos dessa região estão bastante relacionados com os investimentos em infra-estrutura de transportes realizada pelo governo do estado , interligando-a com Feira de Santana/ Salvador e, também com Xique-Xique no vale do rio São Francisco. A região sob a influência de Guanambi tem sua agricultura baseada fundamentalmente no algodão sendo sua principal atividade a mineração (magnesita em Brumado, garimpos de ametista em Caetité RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO O foco “dinâmico da economia baiana sob a influência de Barreiras é um dos mais promissores do estado... ” e Licínio de Almeida e extração de urânio em Lagoa Real). Hoje, Guanambí é o principal pólo de desenvolvimento da região. Quase todos os investimentos previstos para ele destinam-se ao segmento mineral. Da mesma forma que Irecê, os avanços econômicos estão bastante relacionados com os investimentos em infra-estrutura de transportes realizados pelo governo estadual. O foco dinâmico da economia baiana sob a influência de Barreiras é um dos mais promissores do estado . Esse processo, centrado principalmente na produção comercial, foi praticado sob consideráveis inversões privadas e padrões tecnológicos e organizacionais inteiramente novos para a Região Oeste, onde o uso de modernos insumos agrícolas e de práticas de irrigação implicava numa intensa utilização de capital e tecnologia, baixo uso de mão de obra permanente e redução progressiva de mão de obra sazonal, na medida em que avançava a mecanização da lavoura. A introdução da produção de soja no cerrado propiciou a integração da região na divisão inter-regional de expansão da agricultura nacional, estabelecendo laços econômicos com a rede de comercialização dos produtos, insumos e máquinas, criando novas relações sociais nos fluxos migratórios macrorregionais e nacionais. Também a Codevasf exerceu importante papel na introdução da tecnologia de irrigação na região dos cerrados atra- Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 81 “ ... mesmo deficiente em infraestrutura econômica e social, na Região Oeste os empreendimentos são pioneiros, audaciosos e inovadores. ” vés do perímetro de irrigação São Desidério/Barreiras Sul. As potencialidades econômicas e naturais da Região Oeste têm atraído investimentos empresarias, principalmente na instalação de projetos de irrigação, no desenvolvimento de uma pecuária em escala econômica e na produção de grãos, apoiados na estrutura agroindustrial das cooperativas, que permite alcançar os mercados externos. Conquanto a Região Oeste seja deficiente em infra-estrutura econômica e social, os empreendimentos são pioneiros, audaciosos e inovadores. 3. PRINCIPAIS PROBLEMAS DA BAHIA NO PERÍODO RECENTE Como exposto no corpo deste artigo os indicadores seguintes expressam a perda de dinamismo da economia baiana: 1)baixas taxas de crescimento do PIB. À exceção de 1997, cuja taxa de crescimento foi de 6,6% ao ano, nos demais anos, esta taxa variou entre –1,5 e 3,6% ao ano ; 2) declínio da participação estadual no PIB do Brasil. A relação PIB da Bahia/ PIB do Brasil alcançou seu maior valor em 1984 (5,7%). Nos anos subseqüentes o que se observa é uma queda contínua 82 desta relação que atingiu 4,5% em 1999. A Bahia apresenta três grandes problemas do ponto de vista do desenvolvimento regional: 1)Concentração econômica excessiva na RMS que concentra 70% da indústria de transformação e é responsável por 35 a 40% do PIB estadual. Em se tratando dos fluxos comerciais é a região responsável por cerca de 80% das exportações para o Mercosul, considerando apenas os principais produtos e por cerca de 60% do total das exportações baianas. Além disso, é adensada pela presença de suporte comercial e de serviços para todo o estado e até para outras regiões do Nordeste, cujo conjunto de atividades oferece cerca de 60% das vagas de trabalho no setor formal em todo o estado. Com este peso na economia estadual a RMS monopoliza a atração dos investimentos direcionados para a Bahia. 2)Regressão no desenvolvimento da região cacaueira . O cacau era responsável em 1995 por mais de US$100 milhões de receita cambial, representando menos de 1% da pauta de exportações brasileiras. O valor absoluto é ainda expressivo, apesar de estar longe dos valores atingidos no passado, como no ano de 1979, quando chegou, em valores atualizados, a quase US$ 2 bilhões. A receita oriunda do cacau já representou cerca de 35% das exportações nordestinas e quase 80% das baianas na metade da década de 70. Apesar das ações da CEPLAC, não foram adotadas medidas para atingir uma modernização da cultura de forma a elevar a produtividade sistematicamente e a avançar na direção de um desenvolvimento auto-sustentado. Isso se deve principalmente ao tradicionalismo dos cacauicultores e a sua resistência ao cooperativismo que seria uma forma de obter melhorias na cultura e nas condições de negociação da produção. Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 3)Pobreza crônica da região semi- árida . O clima seco predominante na região semi-árida, que abrange cerca de 70% do território da Bahia, e a baixa precipitação pluviométrica nela existente representam uma das explicações para o fato desta região apresentar menor nível de desenvolvimento do que as demais (litoral e oeste). O diagnóstico econômico do Semi-Árido da Bahia indica que essa região se caracteriza por possuir uma agropecuária de baixa produtividade, uma indústria incipiente e atividades ligadas ao comércio e serviços pouco desenvolvidas em comparação com as regiões mais dinâmicas da Bahia. À exceção de poucos empreendimentos ligados à agricultura irrigada, à mineração e ao turismo, a maior parte dos sistemas produtivos do Semi-Árido está totalmente defasada no que respeita às necessidades impostas pela nova ordem econômica mundial, que exige alto poder de competitividade para sobreviver e crescer. Por outro ângulo e conforme demonstrado anteriormente, os principais problemas sociais registrados nos últimos 20 anos na Bahia são os seguintes: 1) elevado nível de desemprego. As taxas de desemprego na RMS superaram as do Brasil. A partir de 1990, elas adquiriram uma tendência crescente.Em março de 2001, atingiram 10,2% da população economicamente ativa. 2) má distribuição da renda. Enquanto 44,5% das pessoas dispõem de apenas 13,1% da renda total, 1,3% da população dispõe de 21,1% da renda gerada na Bahia. 3) pobreza extrema. Um estado que possui o 6o PIB do país, é o 5º. mais miserável no ranking das unidades federativas do Brasil, com, nada menos de 54,80%dos seus habitantes vivendo com menos de R$ 80 por mês, passando fome. RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO 4. AS CARACTERÍSTICAS DE UMA EFICAZ POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL4 A experiência histórica bem sucedida dos países líderes do capitalismo mundial e a dos tigres asiáticos, na segunda metade do século XX, demonstra que as políticas de desenvolvimento econômico e social por eles implementadas foram eficazes porque foram capazes de utilizar ao máximo os fatores internos e externos impulsionadores e inibir ou neutralizar os fatores internos e externos restritivos a seu desenvolvimento. Os fatores impulsionadores e restritivos ao desenvolvimento se localizam em três planos: 1) na economia; 2) na sociedade; 3) no território. O tripé economia-sociedade-território representa a base sobre a qual as políticas governamentais de desenvolvimento devem ser estruturadas para se tornarem eficazes. Uma política desenvolvimentista governamental de um país ou de uma região será eficaz na medida em que seja capaz de utilizar ao máximo os fatores internos e externos existentes em sua economia, na sociedade e em seu território impulsionadores de seu desenvolvimento econômico e social e neutralizar os fatores internos e externos a ele restritivos. Os fatores impulsionadores do desenvolvimento no plano da economia dizem respeito à disponibilidade de capital como fator de produção, a existência de demanda interna e externa para os produtos ou serviços, a presença de empreendedores internos e externos interessados em investir, a existência de uma estrutura industrial competitiva, a presença de um ambiente empresarial competitivo que contribua para a inovação de produtos e processos e a existência de uma situação macroeconômica favorável. A ausência total ou parcial ou a não utilização de qualquer um des- ses fatores pode restringir o desenvolvimento econômico e social de um país ou de uma região. Uma das características dos países capitalistas periféricos e semiperiféricos é a carência de muitos desses fatores, sobretudo capital como fator de produção e a existência de uma situação macroeconômica desfavorável. A carência de capitais próprios e a existência de déficits crônicos nas contas externas fazem com que países ou regiões se tornem crescentemente dependentes de capitais externos e de financiamento de organismos internacionais, como é o caso do Brasil em geral e da Bahia em particular. Os fatores impulsionadores do desenvolvimento no plano da sociedade referem-se à disponibilidade de recursos humanos e de recursos de conhecimentos como fatores de produção, a presença de empreendedores internos interessados em investir, a existência de mercado interno para os produtos ou serviços, a disponibilidade de infra-estrutura social (educação e saúde) e a existência de instituições da sociedade civil organizada atuantes, de sindicatos de trabalhadores ativos e de partidos políticos progressistas fortes. A inexistência total ou parcial ou a não utilização de qualquer um desses fatores pode fazer com que eles se constituam em restrição ao desenvolvimento econômico e social de um país ou de uma região. Uma das características dos países capitalistas periféricos e semiperiféricos é a carência de muitos desses fatores, sobretudo recursos humanos qualificados e recursos de conhecimentos, além da falta de um mercado interno com grande número de consumidores. A carência de recursos de conhecimentos próprios gera a dependência tecnológica em face da necessidade de adquirilos no exterior e a falta de um mercado interno de grande porte gera a dependência de mercados externos para colocação de determinados RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO produtos como é o caso do Brasil e, por extensão, da Bahia. Os fatores impulsionadores do desenvolvimento no plano do território dizem respeito à disponibilidade de recursos físicos naturais ou construídos pelo homem como fatores de produção, a disponibilidade de infra-estrutura econômica (energia, transportes e comunicações), a existência de pólos de crescimento e desenvolvimento territorialmente bem distribuídos e a existência de potencial de desenvolvimento endógeno ou local em todas as regiões. A ausência total ou parcial ou a não utilização de qualquer um desses fatores pode fazer com que eles se constituam em restrição ao desenvolvimento econômico e social de um país ou de uma região, como é o caso, por exemplo, do clima seco e da carência de chuvas e de recursos hídricos na região semiárida da Bahia. Para serem bem sucedidos na implementação de suas políticas desenvolvimentistas, os governos precisam fazer com que os fatores impulsionadores do desenvolvimento existentes em cada um dos três planos acima citados (economia, sociedade e território) sejam amplamente utilizados na promoção do desenvolvimento econômico e social e que os fatores restritivos sejam eliminados ou neutralizados. Isso significa dizer que a mais adequada sinergia entre os fatores existentes nos planos da economia, da sociedade e do território é decisiva para que se alcance o necessário desenvolvimento econômico e social. Todos os países bem sucedidos na senda do desenvolvimento conseguiram estabelecer uma adequada sinergia entre os planos da economia, da sociedade e do território. Para delinear as políticas desenvolvimentistas de cada país ou região, é preciso que sejam identificados os 4 Características baseadas em pesquisa realizada pelo autor para tese de doutorado. Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 83 fatores internos e externos condicionantes do desenvolvimento econômico e social e, em seguida, caracterizar aqueles que são impulsionadores e restritivos. As figuras 1 e 2 indicam os fatores com base nos quais pode-se realizar o desenvolvimento econômico e social de um país ou de uma região e apresentam as relações de causa e efeito entre os fatores condicionantes do desenvolvimento. A FIG. 1 mostra que o desenvolvimento econômico se realiza quando um país ou uma região atinge um nível compatível de acumulação de capital e que essa só se materializa quando existe um ambiente econômico favorável, há empreendedores internos e externos interessados em investir e existem políticas governamentais desenvolvimentistas. Esses foram os ingredientes determinantes do processo de desenvolvimento econômico realizado nos países líderes do capitalismo mundial em suas diversas épocas ao longo da história, como a Holanda, Reino Unido, França, Alemanha e Estados Unidos e, mais recentemente, em outros países como o Japão, Itália, Coréia do Sul, Taiwan e China, e também no Brasil de 1930 a 1980, durante os governos Vargas, Kubitschek e do regime militar. Ressalte-se que o ambiente econômico será favorável desde que existam as condições descritas a seguir: • fatores de produção (recursos humanos, recursos físicos, recursos de conhecimentos e capital) em quantidade e qualidade exigidas; • infra-estrutura econômica e social compatível; • demanda interna e externa para os produtos ou serviços; • estrutura industrial com elevado poder de competitividade; • ambiente empresarial competitivo que contribua para a inovação de produtos e processos; • pólos de crescimento e desenvolvimento distribuídos em todo o território; 84 FIGURA 1 – Fatores condicionantes do desenvolvimento econômico Elaboração própria. FIGURA 2 – Fatores condicionantes do desenvolvimento social Elaboração própria. • potencial de desenvolvimento endógeno ou local; • situação macroeconômica favorável. A FIG. 2 indica que o desenvolvimento social atinge a dimensão necessária quando o governo e as classes dominantes atendem às demandas sociais. Essas demandas só serão atendidas com efetividade quando a sociedade civil organizada for atuante, os sindicatos de tra- Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA balhadores forem ativos e os partidos políticos progressistas comprometidos com os interesses das maiorias forem fortes para arrancarem concessões do governo e das classes dominantes, condição para o estabelecimento de contrapesos entre os interesses do capital e da sociedade em seu conjunto. Essa é a condição para fazer com que o Estado que está quase sempre a serviço do capital, isto é, das RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO classes dominantes, faça concessões à maioria da população. A conquista de benefícios sociais na Europa Ocidental e nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial resultou fundamentalmente da ação dos sindicatos dos trabalhadores, da sociedade civil organizada e dos partidos políticos progressistas. A criação do Estado do Bem-Estar-Social na Europa Ocidental resultou desse processo, bem como da necessidade de barrar a emergência da revolução socialista após a Segunda Guerra Mundial. No entanto, no Brasil e no estado da Bahia, o desenvolvimento social não se realizou, mesmo nos períodos de grande prosperidade econômica, devido à fraqueza da sociedade civil organizada, dos sindicatos dos trabalhadores e dos partidos políticos progressistas. Evidente, portanto, que apenas em um país ou uma região verdadeiramente democrática será possível evitar os desequilíbrios entre o desenvolvimento econômico e o desenvolvimento social, como é o caso dos países escandinavos. Um projeto progressista de desenvolvimento econômico e social de um país ou de uma região deveria reunir todas as condições antes descritas para compatibilizar os interesses do capital com os da sociedade no seu conjunto. Essa compatibilização não se realizou no estado da Bahia nos últimos 50 anos. 5. CONCLUSÕES SOBRE O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL DO ESTADO DA BAHIA A análise da evolução econômica e social do estado da Bahia nos últimos 50 anos apresentada nos tópicos anteriores à luz da experiência desenvolvimentista mundial e brasileira exposta no tópico 4, permite concluir que o processo de desenvolvimento nele implementado não foi suficientemente eficaz devido aos aspectos descritos a seguir: 1)As políticas governamentais de desenvolvimento implementadas não foram capazes de dotar o estado da Bahia dos recursos humanos necessários. A carência de recursos humanos, sobretudo os mais qualificados, foi suprida com sua importação das regiões mais desenvolvidas do Brasil. Essa ação ocorreu na década de 70 com a implantação do Pólo Petroquímico de Camaçari e, mais recentemente, com a instalação da planta automotiva da Ford. 2) As políticas governamentais de desenvolvimento implementadas na Bahia não foram suficientes para viabilizar o aproveitamento econômico de seus recursos físicos, especialmente os minerais, e suprir as carências existentes, sobretudo na região semi-árida. 3)A debilidade da Bahia em recursos geradores de conhecimentos tem sido um fator restritivo a seu desenvolvimento econômico e social. Apesar de o estado dispor de inúmeras universidades públicas e privadas nenhuma delas se constitui em centro de excelência em pesquisa e desenvolvimento no Brasil, em qualquer área do conhecimento. O único instituto de P&D que existia na Bahia, o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (CEPED), como recurso de conhecimentos foi desativado pelo governo do estado há alguns anos. 4)A debilidade da Bahia na atualidade, no que concerne à disponibilidade de capitais para investimento, é flagrante. A disponibilidade de capital é essencial para que um país ou uma região se desenvolva. No Japão e nos denominados tigres asiáticos, foi fundamental a abundância de capital resultante do alto índice de poupança e crédito de curto prazo e as baixas taxas de juros lá praticadas. A expansão econômica re- RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO gistrada na Bahia na segunda metade do Século XX se processou graças aos investimentos e financiamentos oriundos de outras partes do Brasil, sobretudo estatais, e do exterior. 5)A Bahia apresentou nos últimos 50 anos inúmeras debilidades no que concerne à infra-estrutura econômica e social, particularmente na precariedade de algumas rodovias, sobretudo federais, e na eficiência e eficácia dos serviços de educação e saúde à população os quais se constituíram fatores restritivos a seu desenvolvimento econômico e social. As políticas governamentais de desenvolvimento postas em prática não foram capazes de promover a melhoria da infra-estrutura de energia, transportes e comunicações objetivando a redução de seus custos. 6) As políticas governamentais de desenvolvimento implementadas não foram eficazes no sentido de fortalecer e ampliar o mercado interno de bens e serviços e conquistar mercados externos. A insuficiência da demanda interna de bens e serviços foi um fator decisivo que contribuiu para que a indústria petroquímica e a metalurgia do cobre não gerassem seus efeitos multiplicadores internos na economia estadual e indústrias de bens finais não se instalassem no território baiano, a não ser recentemente com a política de incentivos fiscais e financeiros adotada pelo governo do estado. O tamanho da demanda interna de produtos e serviços da Bahia tem sido um fator restritivo, tanto quanto o processo de instabilidade e crise que abalam a economia brasileira e mundial que contribuem para o baixo crescimento da demanda nos mercados interno e externo. 7) A Bahia possui indústrias competitivas apenas na petroquímica, na metalurgia do cobre e no segmen- Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 85 to de papel e celulose, que não estão relacionadas entre si, e seus principais fornecedores estão localizados fora do estado. A ausência de indústrias competitivas correlatas e de apoio que possam coordenar ou partilhar atividades na cadeia de valores ou que envolvam produtos complementares impediu que surgissem na Bahia novas indústrias competitivas. As políticas governamentais de desenvolvimento implementadas nos últimos 50 anos não foram eficazes no sentido de viabilizar o surgimento de novas indústrias competitivas. 8)As políticas governamentais de desenvolvimento implementadas não foram eficazes no sentido de incentivar a inovação de produtos e processos. Um dos determinantes da vantagem competitiva nacional é o contexto no qual as firmas são criadas, organizadas e dirigidas, bem como a natureza da rivalidade interna entre elas. A rivalidade interna cria pressões sobre as empresas para que melhorem e inovem, estimula a criação de fatores de produção e o crescimento da infra-estrutura e torna maior e mais sofisticada a demanda interna. Na Bahia, não existe grande rivalidade interna entre as grandes empresas industriais. 9)A estratégia de desenvolvimento de um país ou de uma região deve se apoiar também nos pólos que comandam seu crescimento econômico ou desenvolvimento, isto é, nas cidades ou áreas economicamente mais dinâmicas. As políticas governamentais de desenvolvimento da Bahia não foram capazes de incrementar e articular seus pólos de crescimento e desenvolvimento, bem como seus pólos potenciais. A existência de vários pólos de desenvolvimento, ligados uns aos outros por estradas e ocupando todos uma área dinâmica, teria repercussão positiva sobre todas as atividades econômicas regionais e formariam aquilo que 86 pode ser denominado de zonas ou eixos de desenvolvimento. 10) As políticas de desenvolvimento implementadas pelo governo da Bahia nos últimos 50 anos não foram capazes de colocar em prática a plena utilização do potencial de desenvolvimento endógeno ou local do estado que poderia ter sido um poderoso instrumento de promoção de seu desenvolvimento econômico, social e ambiental e ter contribuído para mitigar os desequilíbrios regionais existentes gerados pela expansão dos pólos de crescimento e desenvolvimento. 11) As políticas de desenvolvimento implementadas pelo governo do estado nas décadas de 80 e 90 não foram capazes de colaborar na solução dos problemas macro-econômicos do Brasil, sobretudo com esforços direcionados para o incremento das exportações e a queda nas importações da Bahia. Muitos autores consideram vital a influência do governo na promoção do desenvolvimento econômico e social de um país ou uma região e no sucesso das empresas na competição internacional com a adoção, no plano interno, de medidas protecionistas e de incentivos ao desenvolvimento científico e tecnológico e, no plano internacional, de todo o apoio necessário à sua penetração nos mercados mundiais. Cabe ressaltar que o sucesso das empresas do Japão, da Coréia do Sul e de Taiwan está ligado às políticas desenvolvimentistas ativas implementadas pelos governos desses países. Nenhuma dessas medidas foi adotada pelo governo do da Bahia nos últimos 50 anos. Constatou-se, também, que as políticas governamentais de desenvolvimento implementadas nos últimos 50 anos não contemplaram as medidas necessárias que contribu- Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA íssem com efetividade para o desenvolvimento econômico e social simultâneos da Bahia, com a adoção de medidas voltadas para o processo de acumulação de capital e de avanço do progresso técnico em bases auto-sustentadas nem para participação da sociedade civil organizada nas decisões de governo. Nos últimos 50 anos, ficou provado na Bahia que o desenvolvimento econômico não se sustenta com a insuficiência do processo de acumulação do capital, da mesma forma que o desenvolvimento social não se realiza com a fraqueza da sociedade civil organizada, dos sindicatos de trabalhadores e dos partidos políticos progressistas. A queda no processo de acumulação de capital na Bahia nos últimos 20 anos comprometeu seu desenvolvimento econômico e a fraqueza dos movimentos sociais fez com que se acentuassem seus desníveis sociais. Referências ALCOFORADO, Fernando. Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia. Tese de doutorado, Universidade de Barcelona, Barcelona, 2003. ALCOFORADO, Fernando. Globalização. São Paulo: Nobel, 1997 ALCOFORADO, Fernando. Um projeto para o Brasil. São Paulo: Nobel, 2000. ALCOFORADO, Fernando et al. A CEPLAC e o futuro das regiões cacaueiras do Brasil. Brasília: CEPLAC, 1987. ALCOFORADO, Fernando, CARVALHO, Edmilson; PORTO, Edgard. Sugestão de estratégia para o desenvolvimento sustentável do Semi-Árido da Bahia. Salvador: SEPLANTEC, 1995. Projeto Áridas – Bahia. ALMEIDA, Rômulo. Traços da história econômica da Bahia no último século e meio. Revista de Economia e Finanças, Salvador, 1952. ARAÚJO, Tânia Bacelar de. Ensaios sobre o desenvolvimento brasileiro. 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Cambridge: Polity Press, 1995. WALLERSTEIN, Immanuel. The capitalist world-economy. New York: Cambridge University Press, 1997. WALLERSTEIN. Immanuel. The politics of the world-economy. New York: Cambridge University Press, 1984. WALLERSTEIN, Immanuel. Unthinking social science. Cambridge: Polity Press, 199 O CURSO DE ECONOMIA DA UNIFACS OFERECE UM DOS CURRíCULOS MAIS MODERNOS DO PAÍS! Cursando Economia na UNIFACS você estará se preparando para montar o seu negócio, dirigir empresas e exercer, ainda, outras funções tradicionais dos economistas . Confira com a coordenação do curso: Tel: (71) 273-8557 / 273-8603 [email protected] O curso agora tem duração de 4 anos e é o mais “econômico” da cidade. 88 Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO CENTRO DE ESTUDOS EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL - CEDRE 1 - NATUREZA E OBJETIVOS O modelo de desenvolvimento econômico adotado na Bahia, a exemplo do que acontece no Brasil nas últimas décadas, teve como resultante direto um processo de elevada concentração da renda e de capitais que gerou, por conseqüência, um crescimento exacerbado do nível de pobreza de grande contingente populacional, com uma parcela significativa situando-se abaixo da linha da pobreza absoluta, inserindose o estado entre as regiões mais críticas, registradas pelos estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). A reversão deste quadro que, inclusive, ameaça à estabilidade do regime democrático e inibe o próprio processo de crescimento da economia, dado o elevado custo da dívida social que acaba sendo paga pela parcela minoritária da sociedade, requer a mobilização de esforços pragmáticos, distintos das medidas assistencialistas de praxe, voltados para a geração de emprego, renda e a redução das diferenças regionais. Um breve exame do processo de planejamento do desenvolvimento estadual aponta para três momentos estratégicos que, ao longo dos últimos cinqüenta anos da nossa história, representaram marcos referenciais na luta travada pelos baianos em busca do progresso e da correção dos desequilíbrios regionais que hoje já ameaçam, concretamente, dividir a nação. O primeiro momento histórico compreendeu um esforço de busca das vocações econômicas do Estado, nos anos 1950/ 1960, que deu origem ao Plano de Desenvolvimento do Estado da Bahia (Plandeb), no bojo de políticas de desenvolvimento regional do Nordeste que resultaram na criação da Sudene e do BNB. O segundo, como um marco referencial, definiu-se a partir da efetivação dos grandes projetos da indústria dinâmica da Região Metropolitana de Salvador, centrado na química/ petroquímica e na metal-mecânica, nos anos 1970/1980, com a ampliação do Centro Industrial de Aratu, e a implantação do Complexo Petroquímico de Camaçari. O terceiro momento vem se cristalizando a partir do final da década de 1990, atingindo o seu ponto mais significativo com a implantação de um parque automotivo, que espera-se possa vir a assegurar a complementação da matriz industrial da Bahia, exercendo consideráveis efeitos aceleradores e multiplicadores na economia regional. Nessa moldura ampla, a proposição de trabalho subjacente ao Centro de Estudos do Desenvolvimento Regional (Cedre), ora apresentada, é a de que, graças aos esforços de planejamento encetados no passado, o processo de desenvolvimento sócio-econômico baiano requer uma intensa participação da sociedade, notadamente da universidade, objetivando contribuir para que esta nova etapa ocorra dentro de uma concepção desenvolvimentista adequada aos novos tempos. No particular, isto se concretizará com novas descobertas e fomento às vocações produtivas regionais, em que se leve em conta a formação de um mercado de âmbito nacional e as RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO perspectivas competitivas de atração do grande capital internacional para a Bahia, face a outras localizações alternativas no Nordeste e no Sul-Sudeste do Brasil; mediante os esforços de desenvolvimento urbano voltados para a promoção de atividades auto-sustentáveis, notadamente nas cidades de pequeno e médio portes vistas sob o conceito de redes; e através do desenvolvimento rural com ênfase na gestão de recursos hídricos e usos de fontes energéticas alternativas, além de pesquisas voltadas para a internalização e assimilação cultural de processos de inovação tecnológica. Neste contexto, o Cedre justifica-se, no bojo das ações de pesquisa da Universidade Salvador (Unifacs) , a partir de quatro vetores direcionais de estudos sobre a inserção da economia baiana no contexto nacional / internacional, necessariamente complementares, porém independentes quanto aos produtos gerados por cada um deles, conforme indicado a seguir: 1 - A consolidação do conhecimento / catalogação da documentação pertinente ao processo de planejamento do desenvolvimento estadual no século XX; 2 - Um processo de planejamento da interiorização do desenvolvimento econômico da Bahia, com a expansão acelerada das bases regionais de novas regiões de fronteira; 3 - A identificação e proposições de superação das distorções de ordem econômica e social que entravam a ampliação do desenvolvimento da Bahia e de suas distintas regiões. 4 - A redefinição das linhas desenvolvimentistas da Bahia para os anos 2000 - 2010, no marco dos processos de globalização da economia mundial e de formação de blocos econômicos regionais, em especial o Mercosul, a Alca e União Européia, mediante o estudo das oportunidades de atração de novos empreendimentos empresariais vinculados à indústria automotiva e segmentos complementares, calçados, bebidas e outros, além do reforço de segmentos igualmente dinâmicos - petróleo e química / petroquímica, papel e celulose, turismo, fruticultura etc. Em síntese, preconiza-se integrar, a pesquisa universitária e a perspectiva desenvolvimentista da Bahia neste novo século, colocando todo o potencial de realização da Unifacs - através do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Urbano (PPDRU) e seu Mestrado em Análise Regional a serviço da sociedade e da economia baiana, respaldando o planejamento do futuro nas lições e informações do passado e do presente, sem prejuízo da concepção de novas linhas e da identificação / incorporação das tendências teóricas e concretas prevalecentes na economia mundial e no contexto nacional. II – CONCEPÇÃO OPERACIONAL O CEDRE é concebido como um núcleo de pesquisas que desenvolverá ações catalisadoras, não burocráticas, atuando Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 89 com o suporte das instituições formais da Unifacs. Interdisciplinar, pretende congregar todos os pesquisadores dedicados ao estudo das questões relacionadas com o desenvolvimento regional, urbano e ambiental. Funcionalmente estará subordinado ao Departamento de Ciências Sociais Aplicadas e vinculado ao Programa de Pósgraduação em Desenvolvimento Regional e Urbano (PPDRU). O CEDRE atuará basicamente em dois planos: 1 - Conceberá os projetos, arregimentará os parceiros e os executará. 2 - Estimulará os pesquisadores a criarem campos específicos de investigação científica, incumbindo-se de difundir os produtos obtidos e desenvolver um processo de integração dos diversos núcleos em torno de linhas de ação comuns. A geração e/ou extinção dos núcleos será dinâmica e espontânea. GRUPOS DE PESQUISA DO CEDRE REGISTRADOS NO DIRETÓRIO DE PESQUISA DO CNPQ 1. Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento e Tecnologia do Agronegócio Líder: Prof.Dr. Alcides dos Santos Caldas 2. Grupo de Pesquisa em Economia Cultural Líder: Prof.Dr. Noelio Dantaslé Spinola 3. Grupo de Pesquisa em Recursos Hídricos e SemiÁrido Líder: Prof.Dr. Fernando Cardoso Pedrão 4. Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento de Tecnologias Sociais Líder: Prof.Dr. Alcides dos Santos Caldas 5. Grupo de Pesquisa em Segurança Pública, Violência e Cidade Líder: Prof.Dr.Carlos Alberto da Costa Gomes 6. Grupo de Pesquisa em Turismo e Desenvolvimento Sustentável Líder: Profa.Dra. Regina Celeste de Almeida Souza I - GRUPO DE PESQUISA EM DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS SOCIAIS Tem como o objetivo principal desenvolver metodologias de intervenção no território, visando o desenvolvimento urbano, compatível com uma sociedade sustentável. Pretende também: • Constituir-se num um centro interdisciplinar de estudos e pesquisas para o desenvolvimento social. • Atrair cientistas e investidores, estimulando o desenvolvimento de pesquisas sócio-ambientais especializado na produção de mudas nativas de espécies da Mata Atlântica para reflorestar e recuperar áreas degradadas do parque, do entorno e da cidade. • Contribuir para a recuperação e preservação da Mata Atlântica. • Contribuir para o combate da violência urbana, criando ações afirmativas de cidadania; • Estimular a criação de emprego e renda para às comunidade locais, principalmente para os jovens, na faixa etária entre, 15 e 24 anos, os quais vivem no desemprego e no sub-emprego e dependem das aposentadorias dos idosos, quando os tem. 90 Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA LINHA DE PESQUISA 1 - Desenvolvimento de Tecnologias Sociais PROJETO DE PESQUISA 1.1 - Parque Sócio-Ambiental Pierre Verger II - GRUPO DE PESQUISA EM ECONOMIA CULTURAL - GECAL Tem como objetivo estudar e intervir, a partir de uma perspectiva crítica na economia cultural da cidade do Salvador, propondo ações e realizando pesquisas aplicadas, que contribuam para o desenvolvimento regional e local. Especificamente visa: • Divulgar informações e dados sobre a economia cultural, numa perspectiva crítica; • Contribuir para a elaboração de políticas públicas que visem à geração de emprego e renda na cidade do Salvador. • Organizar eventos (seminários, mesas redondas, viagens de campo, e fóruns permanentes de discussão etc); • Elaborar projetos de intervenção; • Articular-se com outros grupos da Bahia e da região Nordeste do Brasil, não perdendo de vista as perspectivas nacional e internacional; • Estimular o intercâmbio de pesquisadores e estudantes, brasileiros e estrangeiros; • Participar de fóruns locais e regionais sobre a economia cultural, pobreza e inclusão social; • Organizar e realizar cursos. LINHA DE PESQUISA 1. Manifestação cultural do espírito lúdico soteropolitano: o Carnaval como uma usina de negócios. PROJETO DE PESQUISA 1.1 - A Produção de instrumentos musicais de percussão em Salvador: Perspectivas de transição da informalidade para a economia formal. LINHA DE PESQUISA 2. A economicidade da religião Afro: A cadeia de produção derivada do Candomblé e da Umbanda PROJETOS DE PESQUISA 2.1 Análise dos Salões de Beleza Étnicos da Cidade do Salvador. 2.2 O Artesanato nos Mercados de Salvador. 2.3 Produtos e serviços derivados da religião afro: suprimento, comercialização, emprego e renda. III - GRUPO DE PESQUISA EM DESENVOLVIMENTO E TECNOLOGIA DO AGRONEGÓCIO – GPAGRO Tem como objetivo estudar e intervir, a partir de uma perspectiva crítica no agronegócio, propondo ações e realizando pesquisas aplicadas, que contribuam para o desenvolvimento regional e local. Especificamente visa: • Divulgar informações e dados sobre o agronegócio, numa perspectiva crítica; • Contribuir para a elaboração de políticas públicas que visem o desenvolvimento do agronegócio na Bahia; RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO • Organizar eventos (seminários, mesas redondas, viagens de campo, e fóruns permanentes de discussão etc); • Elaborar projetos de intervenção; • Articular-se com outros grupos da Bahia e da região Nordeste do Brasil, não perdendo de vista as perspectivas nacional e internacional; • Estimular o intercâmbio de pesquisadores e estudantes, brasileiros e estrangeiros; • Participar de fóruns locais e regionais sobre agronegócio, segurança alimentar, abastecimento, pobreza e inclusão social; • Organizar e realizar cursos LINHA DE PESQUISA 1 - Indicações Geográficas Protegidas PROJETOS DE PESQUISA : 1.1 Novos usos do território: as indicações geográficas protegidas como unidade de planejamento regional 1.2 A tecnologia da informação como instrumento de comercialização e gestão no agronegócio: uma proposta para Bahia. IV - GRUPO DE PESQUISA EM DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, SOCIAL E TECNOLÓGICO DA REGIÃO SEMI-ÁRIDA Este Grupo de Pesquisa abrange trabalhos realizados no espaço acadêmico da Unifacs e absorve trabalhos realizados em outros ambientes acadêmicos por vários de seus integrantes. Tem por objetivo:: • Elaborar um sistema de referências sobre o semi-árido nordestino; • Recuperar estudos e pesquisas interrompidos ou abandonados; • Elaborar e realizar projetos de pesquisa aplicada em parceria com órgãos públicos e com órgãos da sociedade civil; • Realizar um simpósio anual sobre o semi-árido. • Elaborar estudos próprios sobre a sociedade e a economia do semi-árido; • Elaborar um número anual de uma coleção de Cadernos de Economia Social; • Desenvolver linhas de intercâmbio com centros de pesquisa selecionados; • Apoiar teses de doutorado e dissertações de mestrado que se enquadrem no campo de atividades do Grupo; • Realizar um curso anual de extensão sobre a economia e a sociedade do semi-árido brasileiro; O grupo surge com objetivos de trabalho a médio prazo, focalizados em quatro campos temáticos, que surgem como linhas de pesquisa e que são os seguintes: a) Desenvolvimento e aplicação de uma metodologia de avaliação de projetos de irrigação; b) Análise de sub-regiões específicas numa perspectiva de tecnologia, energia e ambiente; c) Desenvolvimento de projetos de formação renda sobre atividades não agrícolas para a agricultura familiar; d) Desenvolvimento de projetos de educação baseados numa metodologia própria intitulada de circuitos progressivos de referência. RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO LINHA DE PESQUISA 1. Recursos Hídricos e Semi-árido PROJETO DE PESQUISA 1.1 Metodologia para avaliação dos perímetros irrigados do semi-árido baiano V - GRUPO DE PESQUISA SOBRE SEGURANÇA PÚBLICA, VIOLÊNCIA E CIDADE -GSEG Tem como objetivo primordial inserir a academia como participante dos estudos e proposições de políticas adequadas ao enfrentamento do grave problema da segurança pública A partir de pesquisas embasadas sobre as macro-variáveis: • A Segurança Pública – estrutura, órgãos, técnicas e resultados; • A Violência – localização, quantificação e causalidade; • A Cidade – como contribui, a interação com fatores psicossociais agravantes ou atenuantes; Será gerado um banco de dados que possibilitará o embasamento de cenários prospectivos que permitirão propor Políticas Públicas e ações setoriais para reduzir e controlar o avanço da violência em sua face criminosa. LINHA DE PESQUISA 1. Segurança Pública, Violência e Cidade. PROJETOS DE PESQUISA 1.1 A Segurança Pública na Região Metropolitana de Salvador: Violência Urbana, análise histórica e contemporânea, cenários prospectivos e propostas. 1.2 Transformações urbana, socioeconômica e da criminalidade em Salvador (1980 – 2000) VI - GRUPO DE PESQUISA EM TURISMO E MEIO AMBIENTE (GP - TURIS) Tem os seguintes objetivos: • Realizar pesquisas básicas e/ou aplicadas nas áreas de desenvolvimento econômico, socioambiental, do turismo e da educação ambiental; • Promover a articulação institucional com Universidades, Órgão Públicos e Entidades Não Governamentais ligados ao turismo e meio ambiente; • Promover seminários, cursos de extensão, treinamentos, workshops, palestras, campanhas, concursos, etc, voltado para o turismo, a educação ambiental e para o desenvolvimento sustentável; • Formar opinião entre o público universitário quanto a problemática ambiental e do turismo; • Estimular o intercâmbio de pesquisadores e estudantes brasileiros e estrangeiros. LINHA DE PESQUISA 1 - Impactos ambientais em empreendimentos turísticos; PROJETOS DE PESQUISA: 1.1 Projeto Turístico Para o Recôncavo Baiano: O Resgate do Caminho Colonial 1.2 A geografia do turismo na Bahia: impactos e perspectivas 1.3 O que pensa o estudante universitário sobre o meio ambiente Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA 91 NORMAS DE EDITORAÇÃO Os pesquisadores que estejam interessados em publicar na Revista de Desenvolvimento Econômico – RDE – devem preparar seus originais seguindo as orientações a seguir, que serão observadas para recebimento e análise dos textos pelos pareceristas: I – Entrega do Material Os artigos deverão ter no máximo 20 9vinte) páginas com título, resumo e palavras-chave em português e outro idioma. O resumo deverá ser estruturado em um único parágrafo com, no máximo, 200 palavras. Deverão constar no final do artigo os dados referentes ao autor, tais como: titulação, sua atividade atual, instituição a que esteja vinculado, endereço comercial e residencial, telefones e correio eletrônico. os artigos devem ser entregues da seguinte maneira: • Em disquete padrão IBM-PC, no formato Word for Windows acompanhado de uma cópia impressa, na Secretaria da Revista: Prédio de Aulas 8 da UNIFACS 4º andar, Ala Ímpar Alameda das Espatódias, 915 Caminho das Árvores Salvador, Bahia • Encaminhados para os seguintes endereços eletrônicos: [email protected] [email protected] II – Apresentação Gráfica do Texto A4 12 16 14 Tipo de letras: Times New Roman Espaços: Entrelinhas: Superior: Inferior: Lateral direita: Lateral esquerda: 1,5 3,0 cm 2,0 cm 3,0 cm 3,0 cm 2. Formatação 92 Usar somente a cor padrão do texto (preto). As páginas devem ser numeradas. Os gráficos, tabelas e figuras e/ou ilustrações deverão ser fornecidos em monocromia (em preto e branco, com ou sem tons de cinza). 3. Primeira Página do Texto 3.1. Título do artigo Centralizado na página a 3 cm da borda superior. 3.2. Parágrafos Cada parágrafo deve ter um recuo de 0,5 cm na primeira linha e nenhuma linha em branco entre eles, exceto para os subtítulos que deverão ter apenas uma linha em branco depois do parágrafo que o antecede. III – Notas As notas devem ser devidamente numeradas e indicadas no final do texto, antecedendo as referências bibliográficas. IV – Tabelas e ilustrações • Devem ser encaminhadas em arquivos separados. Na cópia impressa deverá ser indicado, com destaque, o local a serem inseridas. • As Tabelas e Quadros devem seguir as normas da BNT e devem ser numeradas seqüencialmente. • As figuras devem ser numeradas e apresentar título e fonte. V – Referências Devem seguir os padrões estabelecidos pela ABNT. 1. Especificações 1.1. Papel, Espaço e Letras Tamanho do papel: ............ Tamanho das letras: – do corpo do trabalho .... – do título ........................... – de sub-títulos .................. • • • • O texto deve ser justificado. • Nunca separar as sílabas para evitar desconfiguração do texto ao ser aberto em outro computador. Ano V • Nº 8 • Julho de 2003 • Salvador, BA VI – Responsabilidades É responsabilidade do autor a correção ortográfica e sintática, como a revisão de digitação do texto, que será publicado conforme o original recebido pela editoração. O conteúdo dos textos assinados é de exclusiva responsabilidade dos autores. VII – Procedimentos de arbitragem A Revista de Desenvolvimento Econômico – RDE – adota o procedimento de avaliação, mantendo o sigilo do autor aos pareceristas, em duplo cego, podendo resultar em três situações: aprovação – publicação conforme apresentado; diligência – publicação após revisão e recusa. O resultado da avaliação é sempre comunicado ao autor, com transcrição da apreciação feito pelo parecerista. Nos casos de diligência, o texto reformulado é reencaminhado ao mesmo parecerista. RDE - REVISTA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO