Goiânia – GO, 14 de novembro de 2012. A região Centro-Oeste caracteriza-se pela diversidade de sua população que reúne indígenas originários, em diversas etapas de aculturação; etnias de origem africana disseminadas na sociedade nacional ou isoladas em grupos remanescentes; etnias europeias e asiáticas provenientes da conquista e colonização do território ou de correntes migratórias posteriores. Os processos históricos desde a constituição da capitania de São Paulo até a Marcha para o Oeste e as construções de Goiânia e Brasília, com suas decorrências, assim como a sucessão de ciclos econômicos, desde a mineração até a pecuária e agricultura extensivas, resultaram em uma concentração de terras e rendas, com consequente exclusão de vastos setores sociais. A estrutura econômica da Região Centro-Oeste está fortemente assentada na atividade agropecuária, destacando-se como a principal região agrícola do país, articulada com o mercado global de produção através da exportação de commodities, muito dependente das flutuações do mercado externo sem nenhuma estratégia de articulação, sobretudo em âmbito da economia da região. Por sua vez, apresenta uma incipiente atividade industrial, respondendo por menos de 4% do Valor da Transformação Industrial (VTI) brasileiro. O modelo agrário e o baixo grau de industrialização concorrem, por sua vez, para a existência de uma precária rede de cidades caracterizada pela macrocefalia urbana representada pelo eixo Brasília-Anápolis-Goiânia (BAG), com cerca de 40% da população urbana regional, decorrente da instalação da Capital da República no Planalto Central e pelo reduzido número de cidades de médio porte. Esta base econômica pouco diversificada concorre também para uma estrutura social perversa, marcada pela forte desigualdade na distribuição social da renda. Esta má distribuição se expressa, ainda, em termos espaciais, nela coabitando regiões de renda elevada e dinâmicas, como, por exemplo, o eixo BAG, o Sul Goiano, o Centro-Norte Mato-grossense e as capitais de MT e MS com regiões economicamente deprimidas e estagnadas, como o Entorno do DF, o Nordeste Goiano, o Vale do Araguaia Mato-grossense e o Centro-Norte Sul Matogrossense. É essencial o estabelecimento de uma política urbana que contemple uma rede equilibrada de cidades para suporte do desenvolvimento da região. Esta rede deve considerar o complexo urbano do Planalto Central, de importância nacional, mas que, na região, configura um desequilíbrio acentuado. Esta rede deveria atingir as pequenas cidades de suporte à atividade rural assim como as áreas ocupadas por indígenas e quilombolas. A região Centro-Oeste, pela posição geográfica, desponta como promotora de atividades integradoras dos outros espaços territoriais sulamericanos. Fazem-se necessárias políticas territoriais, sociais, econômicas, segurança, ciência e tecnologia, na faixa de fronteira, criando condições de desenvolvimento dessas regiões com atividades produtivas diversificadas. O Centro-Oeste com biomas diferenciados (cerrado, pantanal e floresta amazônica) tem na sua biodiversidade bases das riquezas da região que devem ser protegidos e valorizados, visando sustentabilidade de seus povos, das gerações futuras e, assim como, dos ipês, pequis, tuiuiús, lobos-guará, onça pintada, gavião, urubus-rei... Destaca-se como importante berço de águas do Brasil, abastecendo grandes bacias hidrográficas como o Araguaia-Tocantins, Paraná, Paraguai, Xingu, Tapajós (Teles Pires e Juruena), Guaporé e o aquífero Guarani. A escala do agronegócio baseada na exploração dos recursos naturais do Centro-Oeste requer a imediata implementação do Zoneamento Ecológico e Econômico (ZEE) como mecanismo de proteção ambiental e uso racional dos atuais sistemas e que promova e influencie novos modos de produção sustentáveis. O bom desempenho da economia da região demanda a ampliação dos investimentos de infraestrutura e logística que incorporem novas áreas, diversificando a matriz econômica. As políticas de desenvolvimento regional devem utilizar-se de incentivos econômicos para promover a convergência de projetos estruturantes com os de desenvolvimento local. O Centro-Oeste demanda redirecionamento no modelo de desenvolvimento, que estabeleça critérios de valorização das economias regionais, de modo a estimular os setores da agricultura familiar, agronegócio, agroextrativismo, comércio, indústria e serviços por ações de ciência, tecnologia e inovação. Faz-se necessário o desenvolvimento de políticas de educação, saúde, segurança, cultura, lazer e promoção social, com o estabelecimento de polos de educação e pesquisas voltadas para inclusão social e produtiva. Deve-se também observar as peculiaridades da população local, suas culturas e tradições. Deve se reconhecer a existência de regiões menos desenvolvidas, dando aos povos que ali vivem acesso às políticas públicas desenvolvidas e adequadas as suas condições de vida e cultura. Com isso, a Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR) deverá realizar uma política de desenvolvimento observando as potencialidades dessas regiões e sua população, valorizando-os, oportunizando diferentes atividades econômicas trabalhadas de maneira socialmente viáveis e dinamizando as regiões mais estagnadas. Em relação aos instrumentos de financiamento, devem ser destinados aos diferentes programas e projetos para fomento de investimentos produtivos e ao atendimento das demandas sociais. Esses financiamentos devem contemplar distintas modalidades e adotar critérios condizentes com as estratégias de desenvolvimento regional. Recomendamos a criação do Banco de Desenvolvimento Regional do Centro-Oeste que adote políticas voltadas para as pequenas e médias empresas, agricultura familiar e micros empreendedores. Nesse sentido, entendemos que o fomento a incentivos econômicos ao desenvolvimento regional e territorial deve favorecer a coesão e a equidade socioeconômica do território. A PNDR prevê a seleção das regiões que serão beneficiadas por seus instrumentos de desenvolvimento regional com base em sua tipologia, a qual deverá ser mais bem aprimorada, uma vez que vai classificar as regiões como elegíveis ou não elegíveis. A metodologia, portanto, não é neutra ou imparcial, tendo uma enorme implicação política. É necessário ampliar esta discussão, incorporar nela as distintas esferas do governo federal, os governos estaduais e distrital, as representações dos governos municipais e os distintos segmentos da sociedade (organizações sociais, empresariais e acadêmicas). Propomos a constituição, na Conferência Nacional, de um grupo de trabalho técnico para elaborar a tipologia, amplo o suficiente para retratar a diversidade social e territorial brasileira e que agregue o caráter participativo e democrático à PNDR. Um dos principais entraves para a incorporação da Política Regional na agenda dos governos é a ausência de instrumentos de governança capazes de estabelecer uma relação de corresponsabilidade, cooperação e gestão participativa na formulação de planos e programas e na definição dos projetos prioritários para a região Centro-Oeste de forma a garantir uma institucionalidade que transcenda os interesses paroquiais e prime pelas ações convergentes na política e eficazes para a sociedade. A criação de um Conselho de Desenvolvimento Regional, com caráter deliberativo, viabilizará a sistematização e regulamentação das políticas regionais das unidades federadas e permitirá a formulação de diretrizes técnicas para a qualificação dos processos de gestão dos instrumentos. Servirá também para definir competências para o monitoramento e avaliação da implementação e dos resultados da PNDR por meio da construção de indicadores apropriados aos propósitos e expectativas da sociedade centro-oestina. Ademais, o Conselho de Desenvolvimento Regional suprirá a falta de instrumentos de governança e se constituirá em um espaço de negociação para reforçar o princípio federativo, que alicerça as relações dos entes federados e que reconheça e estimule as novas institucionalidades que perpassam as peculiaridades de sub-regiões, territórios e suas populações, que não respeitam e não se conformam dentro dos limites espaciais estabelecidos pelos processos políticos e jurídicos formais. … que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem com barômetros... Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós. (Manoel de Barros) O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher. (Cora Coralina)