LIVRO PRODUZIDO A PARTIR
DE COLABORAÇÕES DOS LEITORES
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PSIU! SILÊNCIO! Seu Arlindo está dormindo. É hora de sossego e paz. Hora de
repouso e tranquilidade. É hora de o velhinho puxar seu ronco.
Se há alguma coisa nesta vida que seu Arlindo gosta de fazer é dormir. Nada
dá mais prazer a ele que um sono pesado e profundo. Já a segunda coisa de que
ele mais gosta nesta vida é tirar uma soneca. E se há algo que o deixa irritado,
verdadeiramente irritado, irado, indignado, furioso, exasperado, colérico, enfurecido, furibundo, danado da vida, fulo mesmo, é ser acordado. Sendo assim,
sugiro que você acate minha dica: adentremos este livro com cuidado, pé ante
pé, sem fazer ruído para não acordá-lo, senão o homem fica uma fera. Acredite
em mim: seu Arlindo tem essa aparência pacífica e inofensiva, mas vive de mau
humor. E ao ser acordado ele se transforma, se altera, se transfigura, se deforma, vira o bicho!
Dia desses, por exemplo, o carteiro, que precisava entregar uma correspondência urgente para seu Arlindo, tocou a campainha da casa dele durante seu
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sagrado cochilo pós-almoço, acordando-o. Se imaginasse a reação do velho,
passaria longe de sua casa. Ele vociferou e praguejou contra o pobre do car­tei­ro,
xingando, insultando, ofendendo, maltratando, espezinhando o coitado, que só
estava fazendo seu trabalho suarento. Nem sequer abriu o envelope que recebera. Jogou-o na mesinha ao lado da poltrona da sala e o deixou ali, intacto,
jun­to ao abajur. Só queria voltar para sua sesta. E foi o que fez assim que o car­
tei­ro, assustado, se escafedeu.
Mas por que será, pode perguntar o leitor curioso, que ele gosta tanto de dormir e reclama desse jeito ao ser acordado? Bem, pelo que conheço dele e pelo
que vejo daqui de onde estou, acho que sei a resposta. E vou contar a você, se
prometer me acompanhar em silêncio — nenhum de nós, pode acreditar, vai
querer que o velhinho ranzinza acorde...
VOU CONTAR O PORQUÊ de seu Arlindo ser assim tão dorminhoco e rabugento, como eu disse ali atrás, mas antes quero esclarecer uma coisa: não sou
fofoqueira, nem o que faço aqui é uma fofoca. Longe disso! A propósito, se existe alguma coisa que seu Arlindo odeia quase tanto quanto ser acordado são
fofocas e fofoqueiros, mexericos e mexeriqueiros — mas de mexerica ele gosta.
Fofocar, como se sabe, é bisbilhotar, falar da vida alheia sem que isso lhe diga
respeito, espalhar boatos à boca pequena. Simplesmente contar uma história é
coisa bem diferente. É descrever um caso, um fato, uma anedota, um acon­te­ci­
mento, sejam eles verdadeiros ou não. É encontrar nela curiosidades, aprendizados, explicações, ensinamentos, graça…, e achar que por esses motivos seja interessante para outras pessoas conhecerem tal história. É por isto que a conto:
porque acho que ela tem seu valor, seu interesse, sua graça. Porque ela merece ser contada, e pode, talvez, nos ensinar algumas coisas. Bem diferente
da fofoca, que não serve para nada, nadica de nada.
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Mas estou me perdendo em devaneios e falatórios. Peço que me desculpe.
Sou assim mesmo, meio avoada, apesar de não ter asas. Às vezes levo a narrativa para longe, para onde voa meu pensamento — mesmo que eu esteja sempre
no mesmo lugar —, e perco o fio da meada. Volto, então, à história da história de
seu Arlindo, que é o que vim fazer aqui: contar o que vejo, somente o que vejo
— e um pouco do que imagino.
(Ah, às vezes também me excedo, me exalto, extrapolo, superabundo, ultrapasso os limites, exagero no palavreado, você deve ter notado. Vou tentar me
segurar, me conter, me refrear…)
O fato é que ele é um velhinho muito, muito solitário. Desde que o conheci,
nunca soube de nenhum amigo ou parente dele, nem de nenhuma visita que
tenha recebido. Sem contar, claro, os carteiros, vendedores, lixeiros e entregado­
res desavisados, que, se dessem o azar de acordá-lo, eram retirados, enxotados,
expulsos, afugentados dali.
Por ser assim, extremamente sozinho, seu Arlindo prefere dormir a ficar
acordado. Na verdade, não é bem que ele goste de dormir, como eu disse antes.
Ele gosta mesmo é do que acontece quando dorme. Seu Arlindo gosta é de sonhar, de viver os sonhos. E de fugir, assim, da chatice, da solidão e da pasmaceira que é sua vida real.
É nos sonhos que ele prefere estar (mesmo que nem todos sejam assim tão
agradáveis). Lá, ao menos, encontra-se com amigos do passado e com suas memórias — amigos e memórias inventados ou não. Lá, ao menos, conversa, ri,
vive. Lá ele sai da sua rotina arrastada, aborrecida, chata, maçante, enfadonha,
tediosa e foge dos dias sempre iguais e solitários. Por isso sua revolta quando
alguém o desperta, retirando-o daquele mundo. Ele não faz por mal, só não
quer que o tirem dali. Quer permanecer no conforto dos sonhos.
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Agora — olhe lá — parece que ele está tendo um sonho daqueles! Veja como
dorme profundamente, com um sorriso leve no rosto. O que estará sonhando
seu Arlindo?
— LEVANTA, LINDO, ESTÁ NA HORA… — A fala suave é quase um sussurro e
ele já está de pé. A mãe agradece em silêncio o fato de Arlindo não ser como seus
irmãos Augusto e Arnolfo. Ela não precisa esbravejar e se esgoelar para acordá-lo, ainda mais quando se trata do primeiro dia de aula depois das férias. Num
instante Arlindo está pronto, com o uniforme da escola no corpo e os cadernos na
mão, ansioso por reencontrar os colegas de sempre e conhecer os novos. Seus
irmãos não moram mais lá — já crescidos, estão estudando ou trabalhando em
outras ci­da­­des. Ele, o caçula, vive com a mãe e com o pai. Mas, embora ainda seja
pequeno, já tem tamanho para ir à escola a pé e sozinho. Depois do café da manhã
e dos beijos nos pais, o pequeno Arlindo chispa para a rua a passos rápidos.
De repente, porém, a rua não é mais a rua. Ou melhor, é uma rua, mas outra,
não a que levaria à escola, não a rua conhecida do dia a dia. Essa é diferente nos
detalhes, nas curvas, nos buracos, nas cores. Uma rua totalmente nova. Mesmo
assim, Arlindo segue por ela. Nota, sem estranhar, que as pedras na calçada se
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acendem no exato momento em que ele as pisa, cada uma com um brilho e uma
cor diferentes. Já as pedras em que ele não encosta os pés não se acendem, continuam em seu cinza de pedra.
Percebe também que as árvores do trajeto estão diferentes das de sempre.
Agora elas têm buracos nos troncos que parecem bocas. Desses buracos saem
vozes roucas e simpáticas:
— Bom dia, Arlindo. Qual é o galho?
— Como vai, Arlindo? Sempre pela sombra?
— Boa aula, Arlindo! Se precisar de ajuda, raiz quadrada é comigo mesmo.
Ele caminha deixando um rastro colorido pelo chão e respondendo educadamente às árvores como se cumprimentasse os vizinhos. Seu único estranhamento é justamente não estranhar nada. E continua a caminhar normalmente, mesmo que a rua não seja a rua de sempre, a calçada não seja a calçada de sempre e
as árvores não sejam as árvores de sempre. Ao virar uma esquina que não era
para estar lá, dá de cara com dona Iara, sua professora do ano passado, sentada a
uma mesa cheia de livros, de costas para um muro que mais parece uma lousa.
— Bom dia, Arlindo — diz a professora. — Chegou cedo. Pode se sentar.
Onde antes não havia nada além da calçada, uma carteira se materializa.
Arlindo se senta de modo mecânico, abre seu caderno e se põe a copiar, sem
compreender, o que está escrito no muro-quadro-negro:
ISTO NÃO É UM
SONHO!
NÃO LEIA E
CONTINUE DORMINDO!
OLHE, PARECE QUE SEU ARLINDO ESTÁ ACORDANDO. Sim, abriu os
olhos. Melhor mantermos o bico fechado durante o processo — vai que ele
nos põe a culpa. Ainda bem que ele acordou sozinho, assim não precisamos
ouvir seus xingamentos, insultos, ofensas, reprimendas, impropérios. Lá vai
ele, levantando-se da cama e se arrastando até o banheiro no seu passo lento
e cadenciado. Parece não estar nos piores dias. Quando ele desperta depois de
um sonho agradável e sem influências externas, quase sempre acorda de bom
humor. Sorrir, sorrir mesmo, porém, só quando está dormindo. Nunca vi, em
todo o tempo que estou aqui, esse senhor sorrindo acordado. Rir, que é mais
do que sorrir, só uma vez ou outra, bem raramente, num daqueles sonos profundos. Gargalhar, então, essa coisa tão prazerosa, nem em sonho.
A vida realmente deve ter sido muito dura com ele para deixá-lo assim angustiado, atormentado, carrancudo, perturbado, mal-humorado do jeito que é.
Às vezes fico pensando se os parentes dele o abandonaram por algum motivo
ou se foi ele mesmo quem escolheu essa solidão, esse distanciamento do resto
do mundo. Ou então se é assim solitário desde sempre. Qualquer das possibilidades me parece muito triste, e me contamino com essa melancolia do
velho. Brotam lágrimas de todos os meus olhos e, dessa forma, pondo-me no
lu­gar dele, até entendo seu jeito de ser, seu rancor, sua cara fechada, sua braveza, seu isolamento. Não deve ser fácil não ter ninguém com quem falar sobre as coisas, ninguém a quem dar bom-dia, com quem comentar sobre o tempo, com quem dividir um pensamento, a quem contar uma história ou piada.
Eu, pelo menos, tenho você.
Poucas vezes, penso agora, ouvi a voz de seu Arlindo. A não ser quando pragueja, tiririca da vida, contra os trabalhadores que o acordaram ou quando balbucia alguma coisa dormindo, de resto ele não fala nunca, permanece em silêncio durante todo o tempo. Além disso, o velho não tem telefone nem computador,
o que o deixa ainda mais afastado do mundo. E ainda mais mudo.
Mesmo as tarefas mais simples e cotidianas, como cuidar da casa, ele acaba
deixando para lá. Com o tempo, ficou cada vez mais descuidado com a limpeza
— banho, ao menos, ele toma diariamente, para nossa sorte. Antes ele fazia uma
boa faxina uma vez por semana. Agora nem isso. Deixa a casa chegar a um estado
lamentável, deplorável, lastimável, horroroso de bagunça e de sujeira até arrumá-la e limpá-la de novo. Mas isso até que tem seu lado bom, ao menos para mim.
Se não fosse o desleixo dele, eu não poderia ficar espiando aqui no meu canto,
estrategicamente posicionada entre a sala e o quarto, testemunhando a história do velho. E não poderia, portanto, estar aqui dividindo a história com você.
(Sim, concordo e reconheço, conheço e reconcordo: esta parte está mui­to
triste. Mas prometo que vai melhorar. É um pedaço difícil do livro que, tal co­mo
eventualmente acontece na vida, temos que enfrentar, encarar, transpassar.
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Antes viver fosse sempre uma maravilha, mas às vezes há pedras no caminho
— algumas que nós mesmos deixamos lá. E, além disso, sem percalços esta
história soaria um pouco falsa, não?)
Agora o observo sentar na poltrona da sala e pegar um livro. Chama-se, pelo
que consigo enxergar, A interpretação dos sonhos ou algo assim. Seu Arlindo,
assim como eu, adora ler. Os livros lhe fazem companhia, e quando os lê é o
único momento — sem contar quando dorme, é óbvio — em que sua expressão
adquire alguma leveza; é o único momento desperto em que sua expressão fechada se dissipa, se suaviza, se abranda, se desfaz. Minha impressão é que os
livros são os substitutos dos sonhos para os momentos em que ele está acordado. Mas veja: depois de ler apenas duas páginas suas pálpebras parecem pesadas. Seus olhinhos murchos teimam em fechar. Vem a tão querida sonolência,
e ele não titubeia em deixar o sono chegar mais uma vez, levando-o para o lugar
em que ele mais se sente bem.
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— ISTO É COMO UM SONHO! — diz Sônia, enquanto o envolve em seus braços.
Estão dançando uma valsa numa pista de dança, quase a flutuar, sob os olha­
res de todos os convidados. A festa está linda, as pessoas estão felizes e celebram, a comida é deliciosa. Tirando o canapé de fígado com marmelada, tudo
ocorre como planejado. Toda a família e os amigos de Arlindo vieram. Mesmo
os irmãos Augusto e Arnolfo, que moram cada vez mais longe, deixaram os
compromissos para comparecer ao evento. Sua mãe não para de chorar de alegria e seu pai ostenta um sorriso satisfeito e orgulhoso no rosto.
Outros casais se formam. Aos poucos, a pista é preenchida por homens e
mulheres elegantes que rodam em dupla para lá e para cá. No palco, uma faixa
onde se lê “Arlindo e Sônia” está sobre a banda, que encerra a valsa e passa a
tocar uma antiga marcha carnavalesca. As luzes ficam mais fracas, e Arlindo,
que antes vestia fraque, percebe que agora está de camiseta e bermuda. Em
seu pescoço há um colar de flores e em seus braços, dançando com ele, uma
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mulher fantasiada, que em nada lembra Sônia, com uma peruca de serpentes e
dentes pontiagudos. Ele olha em torno procurando por seus pais, irmãos e amigos, mas só vê desconhecidos. A elegância dos ternos e vestidos dá lugar a uma
confusão de fantasias multicoloridas que pulam em êxtase.
— Acorda, rapaz! Está sonhando? Qual é o seu nome? — pergunta a Medusa.
— Sônia?! — diz Arlindo, atarantado.
— Sônia? Boa sua fantasia, hein? — diz ela, rindo de forma meio macabra.
Ele a deixa falando sozinha, sem olhar em seus olhos, e corre pelo salão procurando um rosto conhecido, empurrando a multidão, mas só vê máscaras ao
seu redor. O volume da marchinha aumenta. A banda agora não está mais no
palco. Os músicos formam um círculo à sua volta, parecem tocar para ele. De
cada instrumento, contudo, sai o som de outro. O trombone soa como guitarra,
o surdo emite trinados de trompete, do tamborim sai o som de um piano, o
contrabaixo ronca como uma cuíca, a vocalista canta um solo de bateria. A música é estranha, os ouvidos chegam a doer, a cabeça zonzeia…
Arlindo tapa as orelhas com as mãos e fecha os olhos, desejando que aquela
sensação passe. Ao abri-los, não há ninguém em torno dele e a música cessou.
Ouve apenas o assobio de passarinhos e o cantar deslizante do vento. Ele está
em um descampado, sob a luz confortável do sol. Bem longe, avista uma pessoa
que corre em sua direção. Ela aumenta de tamanho conforme se aproxima. É
uma mulher. É Sônia!
Quando chega perto dele, ela está descomunal, tem o triplo da sua altura.
Deve ter mais de cinco metros. Sônia o abraça com força, levantando-o do chão
com facilidade. Arlindo se deixa abraçar, cheio de contentamento. Percebe, então, que foi ele quem diminuiu, e não a mulher quem aumentou de tamanho.
— Sim, Arlindo. Eu aceito! — ela grita.
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ACONTECEU ALGO ESTRANHO, curioso, incomum, surpreendente e até in­
sólito enquanto eu observava seu Arlindo dormir na poltrona, o livro sobre o
colo, a cabeça voltada para cima, a bocarra aberta. Se você não viu, eu lhe conto. Ele se movimentou bastante durante o sonho que teve há pouco, o que não
é habitual. Na maioria das vezes, não se mexe muito. Agora está quieto, dorme
calma e profundamente feito uma pedra, se pedras dormissem, mas minutos
atrás era outro.
Acompanhei alguns dos gestos que fez dormindo. De início, parecia que
dan­çava com alguém. Depois, tentava como que abrir espaço entre uma multidão. A seguir, levou as mãos às orelhas. No fim, quase que levitava ao fazer os
gestos de abraçar uma pessoa, sorrindo como poucas vezes o vi sorrir. Tudo isso com uma energia, um vigor, uma vitalidade, uma vivacidade, um ânimo que,
quando desperto, ele parece não ter. Não sei se isso foi tudo o que aconteceu
durante esse sonho, porque há momentos em que eu também durmo um pouco
(assistir a alguém dormir, convenhamos, dá um sono que vou lhe contar!). Além
disso, tenho de me alimentar. Nessas horas, paro de observar seu Arlindo. Minha vida, você há de concordar, não pode ser apenas bisbilhotar o dorminhoco.
Mesmo assim, devo dizer que fiquei bastante curiosa para saber o que ele
sonhava. Se soubesse, contaria a você. Você também me contaria se soubesse?
E, juro, se tivesse o poder de entrar na cabeça do velho, já o teria feito. Não pela
orelha, lógico. Tudo que posso fazer, contudo, é descrever o que meus olhos
veem daqui deste canto. E me propus a contar apenas o que vejo, sem fantasiar
quase nada, sem acrescentar muito aos fatos, sem tecer tramas — por mais que
a vontade de tecer, destecer, enaltecer, abastecer e até de fazer acontecer sempre seja grande e me deixe inquieta.
Falando nisso, a quietude acabou. Outro sonho movimentado está tomando
forma na cachola de seu Arlindo, pelo que vejo em sua agitação onírica (aprendi
essa bonita palavra um dia desses forçando bem os olhos para ler por sobre os
ombros de seu Arlindo um livro grande que ele folheava). Mais um sorriso se
desenha em seu rosto. Então viva, meu velho, viva seu sonho. Às vezes eles são
mesmo o melhor da vida. Às vezes…
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— PAI! PAIÊ! — A MENINA CHAMA POR ARLINDO, que tira um cochilo na
cadeira de praia. — Acorda, vem ver meu castelo de areia!
Ele escuta a voz da filha misturada ao barulho das ondas, abre os olhos com
dificuldade e a vê à sua frente segurando um balde e uma pá de plástico.
— Que foi, Sofia? — sua voz sai pastosa, ainda amortecida pelo sono.
— Olha!
Atrás de Sofia há um castelo gigante que tapa o sol e toda a vista para o mar,
criando sobre a paisagem uma sombra soturna. A construção, embora de areia,
aparenta ser densa, maciça, e possui dezenas de torres e incontáveis janelas. Sua
filha, que estava à sua frente pouco tempo atrás, aparece de repente no cume da
torre mais alta. De tão distante, sua voz é quase inaudível:
— Vem ver, pai!
A imensa ponte levadiça de areia desce e Arlindo, ressabiado, entra no castelo.
A ponte se fecha atrás dele subitamente. Os olhos aos poucos vão se acostumando
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ao escuro que tomou o salão de entrada assim que a ponte que serve de porta se
fechou, e ele consegue perceber que, por dentro, a construção não é feita de areia.
A pintura gasta e descascada deixa entrever os tijolos das paredes. Num canto,
uma aranha enorme, inerte no centro da teia, parece falar com ele, mas Arlindo
não consegue entender o que ela diz. Móveis antigos e poeirentos surgem aos
poucos, pipocando pelo enorme cômodo, e quadros de figuras tenebrosas e velhuscas brotam das paredes. Ele percebe, entre aterrorizado e surpreso, que todas as figuras caquéticas representadas nos quadros são ele mesmo — porém
mais velho, muito mais velho. Não pode deixar de reparar que, em todas as pinturas, está sempre sozinho.
Antes que o arrepio provocado pela visão termine de percorrer sua coluna,
escuta a voz de Sônia a chamar. Sim, é a voz de Sônia! Ou seria a de Sofia? Não,
de nenhuma das duas. Parece a voz de seu irmão mais velho, Augusto. Mas de
repente já é outra. Agora quem grita seu nome é o outro irmão, Arnolfo. Bem
longe, no fundo do salão, avista algumas portas grandes e antigas que se abrem
e se fecham sozinhas. É delas que saem essas vozes, como se fossem bocas. De
cada porta que se abre sai a voz de um deles, intercalada a outras vozes desconhecidas. Antes se movimentando de forma vagarosa, as portas aumentam o
ritmo e passam a abrir e fechar velozmente. Todas as vozes, então, começam a
chamá-lo ao mesmo tempo, transformando seu nome em um ruído incompreensível. De repente, ele tem a impressão nítida de que de todas as portas sai
apenas e novamente a voz de Sônia. Arlindo corre em direção às portas-bocas,
mas, para sua surpresa, fica mais longe delas a cada passo. Correr é muito difícil, as pernas pesam toneladas. Num último esforço, atira-se em direção a elas
como se tentasse voar. Sente seu corpo flutuar por um momento, mas repen­
tinamente cai de cara na areia da praia.
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O castelo sumiu. Arlindo se levanta e chama por Sônia, por Sofia, pelos irmãos, mas eles também não estão lá. Tudo o que há é o mar. Milhares de garrafas com mensagens dentro se batem e debatem na água, tilintando, e se aproximam da praia, trazidas pelas ondas até seus pés. Ele abre as garrafas uma a
uma e retira os papéis de dentro delas. Não sabe bem o motivo, mas anseia lê-los. Algumas mensagens, porém, estão em branco; outras estão escritas em
línguas indecifráveis; e há ainda outras, em cujas páginas lê-se apenas uma
letra. Ao juntar algumas dessas mensagens de uma só letra, Arlindo abre os
braços e solta um grito pavoroso. Uma onda o envolve e tudo se embaralha.
VIU ISSO?! NEM SEI COMO CONTAR! Até eu, que sou quase sempre calma,
fiquei assustada. É muito raro o velho ter sonhos que o deixam agitado, como
eu mesma já disse em alguma destas páginas. Em geral ele dorme serenamente, porque seus sonhos parecem ser quase sempre tranquilos, mas desta vez
o pesadelo deve ter sido apavorante, tenebroso, medonho, atemorizante, terrificante e ainda por cima escalafobético!
Agora ele demonstra estar menos amedrontado, está lendo sentado na poltrona, mas há pouco estava estrebuchando, estremecendo, se contorcendo, se sacudindo enquanto dormia. Aparentava estar realmente com muito medo. E
muito perturbado. Achei mesmo que fosse ter um troço, um negócio, um piripaque. (Eu até faria alguma coisa se pudesse ajudá-lo, mas minhas condições não
me permitem. Falo bastante e ajo pouco, sabe como é…)
Depois de muito sofrimento durante o atribulado pesadelo, o corpo mirrado
se mexendo e remexendo na poltrona, seu Arlindo acordou, levantando-se de
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súbito com um grito, esbaforido e espavorido, tremelicando e com falta de ar.
Nem quando a campainha o acorda bruscamente ele se levanta tão alvoroçado.
Eis que, movendo-se com o pulo do velho, a poltrona bateu na mesinha ao lado
e a derrubou. O abajur que estava sobre a mesinha foi ao chão, e a carta que ele
esquecera ali — aquele envelope que o carteiro deixara para ele no começo do
livro, lembra? — planou lentamente até pousar a seus pés. E só então ele se lembrou dela. Pegou a carta, abriu-a com cuidado, mas também com ansiedade, e
começou a ler.
(Agora que ele está lendo a carta, tento espichar os olhos para ler também e
contar a você o que está escrito. Desisto, não porque estou precisando de óculos, mas para que não me chamem de enxerida, intrometida, bisbilhoteira, abelhuda. Abelhuda, não, ora! Você consegue ver daí?)
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s
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de acorda r pa ra a
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Espero que nos rece
15.
dia
no
os
em
ar
Cheg
e,
Com amor e sa udad
Sofia
NÃO FAÇO A MAIS MÍNIMA IDEIA, nem imagino, nem concebo, nem presumo, nem suponho o que está escrito na carta, mas deve ser algo comovente,
pois seu Arlindo me parece emocionado com o texto, choramingando e fungando enquanto lê.
Assim que termina a leitura, olha para o calendário pendurado na parede e
dá um berro inesperado:
— Dia 15?! Já? Só posso estar sonhando!
Dizendo isso, enxuga as lágrimas do rosto, levanta da poltrona e começa
a arrumar e limpar a casa de imediato, assobiando, cantarolando, cheio de
bom humor. Nunca vi o velho tão ágil, animado, jovial, vívido, lépido, eu
diria até cintilante. É bom e ao mesmo tempo estranho vê-lo mudar tanto de
uma hora para outra — justo ele que sempre foi tão ranheta! Até você, que
o conhece há menos tempo que eu, deve estar estranhando a mudança,
não? Imagino que o conteúdo da carta seja muito agradável, surpreendente,
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admirável, alvissareiro para tê-lo deixado assim. Quem dera eu saber o que
está escrito lá!
E, enquanto penso em qual pode ser essa boa notícia que transformou o velho, sou tomada por um repentino terror. Com a arrumação da casa, estou perdida! A negligência dele deixando a casa bagunçada é o que me permite ficar
aqui, acompanhando de camarote sua história, sua vida dorminhoca. Com a
limpeza, serei descoberta.
Enquanto ele faxina a casa toda, fico pensando no que fazer. Nada me vem à
mente, e deixo para o improviso — dizem que sou boa nisso. Quando ele se dirige com o espanador para o meu canto, consigo fugir. Com um salto agílimo,
magnífico, monumental, esplêndido, heroico e fabuloso, escapo da fúria das
penas — seu Arlindo é tão antigo que ainda usa espanador feito de penas. Saio
em disparada, patinhando pelo chão encerado da sala, mas, porém, contudo,
entretanto, no entanto, todavia não saio da casa, teimosa que sou. Quero saber
o porquê daquela arrumação e daquele bom humor do velho. E, afinal de contas, não posso sair logo no fim da história que me propus a contar. Promessa é
dúvida. Ou dívida, não lembro bem.
Escondo-me no primeiro buraco que encontro e fico quieta e atenta, a esperar.
E é daqui que observo seu Arlindo encerrar a faxina da casa, tomar banho, per­f u­
mar-se e vestir sua melhor roupa. É daqui que o vejo, inquieto e ansioso, embora
bem-humorado, sentar-se para esperar algo que não sei o que é. É daqui que ou­ço
a campainha tocar e o acompanho se levantar ligeiro da poltrona, surpreen­den­
temente com os olhos brilhando, acordado e alegre, para abrir a porta. É daqui
que compreendo tudo, vendo-o enfim receber as visitas desejadas: uma moça
muito bonita, que o velho abraça apertado e chama de Sofia; o marido dessa mo­
ça, que cumprimenta o velho com um forte aperto de mão; as filhas desse casal,
26
duas meninas espevitadíssimas, que chamam seu Arlindo de vovô e o enchem de
beijos, me deixando muito contente; e ainda dois velhos mais velhos que o próprio velho, que a princípio apenas se fitam, mas depois também se abraçam, todos com lágrimas nos olhos.
Tenho a impressão de ouvi-lo dizer, em meio aos abraços e pedidos de perdão: “Isto sim é um sonho!”. Até eu, ainda que não seja disso, dou uma choradinha, confesso. Bem de leve. Não só por causa do clima festivo e do encontro
feliz, emocionante, comovente, enternecedor (e sei lá mais que palavra!) daquelas pessoas que não se viam fazia muito tempo — ao menos o tempo em
que morei naquela casa. Escapolem-me algumas lágrimas também porque é
chegada a minha hora de ir embora e deixar seu Arlindo, agora bem desperto,
em paz. É hora de partir. Hora de procurar outro canto, tecer outra teia e tentar
capturar outra história. Afinal, você sabe, nós, aranhas, somos seres muito
exagerados e curiosos: temos oito patas, vários pares de olhos, muitos filhotes,
e ainda por cima adoramos ler, escrever, ouvir, contar e caçar histórias.
Bem, pelo menos são assim as da minha espécie: dessas que só aparecem
nos livros.
Ou nos sonhos.
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lista das pessoas que colaboraram com esta história
Campos, Edison Macaúbas da Silva, Edivani J. Godoy, Ednájila Ferraz, Ednaldo Conceição Ribeiro, Ednir So­
bral, Edy Medeiros Leite, Elaine Castanheira, Elen Lima, Eleuza Viegas Mundim, Eleuza Viégas Mundim, Elias
Abel Pires, Adair Plaster, Adriana Abençoada, Adriana Buss, Adriana Damasceno Barbosa, Adriana de Fáti­
Dantas, Elielma Gonçalves, Elielma San, Elinete Souza Vieira, Elio Pupo, Elisângela de Fátima Faria Ribeiro,
ma, Adriana de Paula, Adriana Elena Pissarra Gouveia, Adrion Cavalcanti de Albuquerque, Agnes Marisa
Elizangela Alves, Elizielle Nascimento Duarte, Ellen Neves, Eloiza Grazielle, Elza Teodoro, Ena Cristina de
Cruz Hirata, Akira Tane, Alaide Antunes do Vale, Alana Freitas, Alcione do Carmo, Alefe Santiago, Alessan­
Souza Jannuzzi, Endiara Bauer, Eraci Scheffer Luiz, Erlly Pires, Ester Pereira, Eurani Vidal, Evaldo Gomes
dro da Silva e Silva, Alex Lorejan, Alexandre dos Anjos Amorim, Aline Herculano, Aline Lima, Alisson We­
Do Nascimento, Evellyn Bernardes, Ezequiel Soares, Fabiana B. Lopes, Fabiana Paiva Ribas, Fábio Aparecido,
lisson, Allan Francie, Almir José de Lima, Amanda Pimentel, Amanda Portela da Silva, Ana Amélia Soares,
Fabio Geussiane, Fabio Zani, Fabrícia Feitosa, Fagner Augusto Camelo de Almeida, Fatima Borges Silva, Fati­
Ana Beatriz Guerra, Ana Beatriz Oliveira Salomão, Ana Carolina Santos, Ana Cecília Porto Silva, Ana Cíntia
ma Camargo, Fátima do Carmo, Fátima Florentino, Fátima Regina Silva Alves, Fatima Valcacer Castro, Felipe
Guazzelli, Ana Clelia Nunes, Ana Gomes, Ana Lúcia Konarzewsky, Ana Lucia Teodoro, Ana Maziles Souza
Alves, Fernanda Almeida Silva, Fernanda Alves Nobre, Fernanda Célia, Fernanda Di Vincenzo, Fernanda dos
Gama, Ana Nickel, Ana Paula Santos, Ana Rozendo, Ana Salomé Vieira Angelim, Ana Tereza Caldas, Anair
Santos, Fernanda Oliveira, Fernanda Souza, Fernanda Yanevisk, Fernando Dias Andrade, Fernando Ferreira,
Araujo, Ana Paula Costa, Anderson Luís, André Amorim, André Nunes, André Ribeiro Tannus, André Valdir,
Fernando Lima Monteiro, Fernando Martins Mallet, Fernando Rafael Magalhães de Sousa, Flavia Pereira,
André Zoratti, Andrea Xavier de Aguiar, Andreha Montenegro, Andreli Vitinho Ávila, Andreza Rodrigues,
Flavio Machado, Francisca Barbosa, Francisca Dionizio, Francisca Nunes, Francisco José da Silva Neto,
Angela Cristina Perandré Candido, Ângela dos Reis, Anna Carolina Granemann Fernandes, Anna Castro,
Franklin Roosevelt Palácio Jardim, Franscisco Gonçalves, Frederico Renan Hilgenberg Gomes, Gabriel C.
Anna Cláudia Vilha de Oliveira, Anna Paula, Anny Kloppel Vieira, Antônio Carlos Gomes, Antônio Carlos
Garcia, Gabriel Eugenio, Gabriela Gomes Larratea, Gabrielle Dantas, Gê C. M. Lopes, Geany Santa da Silva,
Mendes, Antônio Claudemy, Antônio Cruz, Antônio Elizeu Alves de Oliveira, Antônio Henrique, Antônio Ser­
Geisa Ramos, Geneci Amorim Eliane Cristina, Genivaldo Domingues Giupato, Genivaldo Moura, Geovani Vini­
gio Menezes dos santos, Arenilda Santos, Arilce Monteiro de Oliveira, Arnaldo Bezerra de Oliveira,
cius, Geraldo Camêlo, Germana Borges Virgolino da Silva, Gilberto Cardoso Ramos Junior, Gilmara Betânia
Assunta Maria, Aurieliton Alves Mesquita, Axi Ferreira, Ayrton Costa da Silva, Ayrton Daniel, Babi Silva, Bár­
Santos, Giovani Freitas Ferreira, Giovanna Ramos Otre, Gisele Medici, Giselle Ribeiro Cunha, Glaci Pantoja,
bara Miranda, Beatriz Sue Matsusaki, Benedito Miranda, Berenice Vieira Alves, Bernardina Bortolassi Tei­
Gladis Grutzmacher Ehle, Glauce Antunes, Graça Batista, Gracy Oliveira, Guilhermina Cucco, Gustavo
xeira, Branca Ferreira, Brenda Carneiro Santos, Bruna Almeida Silva, Bruna Blachi, Bruna Fernandes Vilela,
Peixoto de Oliveira, Gusthavo Griebeler, Haroldo S. Nascimento, Helcina Natal, Heloisa Vieira Adami, Heri­
Bruna Gasgon, Brunah Rieth, Bryan Marques, Caah Souza, Caique Souza, Camila Broetto Milli, Camila Ce­
velto Figueiredo Brandao, Hiriam Fagundes Martins, Hitallo Alves Carneiro, Hosana Romeiro, Hugo Souza,
sar, Camila Domingos, Carlos Caio, Carlos Cesar A. Carvalho, Carlos Eduardo Bordon de Souza, Carlos
Laura Silva Moraes, Igor Juno Silva de Arruda, Inêz Machado, Inglid Barreto Murici, Ingrid Silva Santos,
Eduardo Pereira Zuffo, Carlos Rojas, Carlos Sardinha, Carmen Cândida Sonoda Pimentel, Carmen Cardoso,
Iraci Rezende, Isabel Cristina Melo Cardoso, Isadora Souza, Ismael da Penha, Ismael Jose Ferreira Fernan­
Carolina de Freitas, Cátia Santos, Cecília Latorraca, Cecilia Marinho, Celeste Carmo, Celeste Maria Lima No­
des, Ismara Lima, Israel de Souza Filho, Itair Conceição Pinto, Ítalo Luís Barbosa de Lima, Ivete Maziero, Izau­
gueira, Celia Santos Celinha, Celia Seixas Viegas, Celina Albino, Celso Ferreira Andrade, Celso Savelli Gomes,
ra Aparecida Caldeira, Jaci Motta, Jacqueline Lima, Jailton Costa, Jair J. Vieira, Jamilly Mayane, Janaina de
Chagão Freitas, Charlene Oliveira Braz, Cida Figueiredo, Cida Rodrigues, Cinara Antunes Costa, Cinara Sil­
Paula, Janaina Rodrigues, Jeanninne Gwynnette Oliveira Pereira, Jefferson Guedes, Jeovania Lima, Jessica
veira, Clarice Amorim, Claudia Bessa, Claudia da Hora, Claudia Oikawa Mendonça, Claudiana Lourenço Da
Isadora Santana Marques, Jessica Karoline, Jéssica Rodrigues, Jesus Manoel, Jhesica Silva Silva, Joamar
Silva, Cleber Alves, Clelia Souza, Cleusmar Guimarães, Conceição dos Santos, Concita Araújo, Corrinha Ca­
Branco, João Caracatau, João Hampshire, João M. T. Oliveira, João Pedro Czarnobai, João Pedro Ferreira,
tunda, Cris França, Cristiane Sapucaia, Cristiane A. Rosa, Dalvino Filho, Daniela Aparecida Alves, Daniela Lis­
Jocelene Peixoto, Joice Giusti Paschoali, Jonatas Classere, Jonatas de Oliveira Ribeiro, Jorge Alonso Pa­
boa, Danielle Ornelas, Danielle Silva de Souza, Darcy Mendes do Nascimento, Dare Adorno, Dayana Karla,
gliarini, Jorge Xiada, Jorgina Lemos, José Alves, José Carlos Ávila, José Cláudio Fernandes, José Fonseca,
Débora Amorim, Débora Ohlweiler, Débora Rayane, Décio Freitas, Delany Nunes, Deli Granzotto, Denis
José Henrique Lustosa Roriz, José Luiz Oliveira Lisboa, José Roberto F. Pitta, Josefa Batista, Josenita Lopes,
Jorge Hirano, Denise Wuilleumier, Dennis W. T. Campanha, Deyse Cristina de Jesus Gomes Ferreira, Diana
Josilene Alves, Josué Barros, Jovina Braga, Juan Lopes Falcão, Julia Cristina Lehm, Juliana Alves, Juliana
Mattos, Diane Araujo Ferreira, Diego Fernandes, Diego Heitor da Silva monteiro, Diego Tomé Lameiro Ro­
Cadamuro, Juliana de Castro, Juliana dos Santos Rodrigues, Juliane Cossegian, Julio Herceg Filho, Kalyne
mano, Diennis Xavier, Diwlay Marinho, Domille Silva, Douglas Hilderlandson, Ederson Roberto, Edilson
Azevedo, Karin Eloisa Engel, Karla Lídia Lopes Martinez, Kate Edwards, Kátia Belo, Katiuska Lopes, Kiizy
28
29
Santana, Kivia Barbosa, Lael Pereira, Larissa Kely Lopes, Larissa Lima, Larissa Moreira, Larissa Ribeiro, Larissa
Poliana da Mata de Souza, Priscila Simões, Quedna Quezia, Rafael Vannucci Léda, Ramses David Yshizuka,
Tavares Fonseca, Laryssa Bianca, Laryssa Cristiny Moraes, Laryssa Cristiny Nascimento Moraes, Laurindo
Raphael Pedrassi Ferreira de Jesus, Raquel Ferreira, Raquel Freitas, Raquel Meinen, Rebecka Martins
Souza, Lêda Nascimento, Leila Assumpção de Almeida, Leíse Azevedo, Leo Lívia, Leonardo Bambino, Leonardo
Gomes, Regina Dias, Regina Leite, Regina Moreno, Reginaldo Andrade, Renan Braga, Renata Martinez, Re­
Guimarães, Lerena Reis, Letícia Floriano, Letícia Wunderlich, Liana Bacelar Marinho, Liana Placenti, Lili
nata Patrícia, Renata Rocha, Renata Bueno, Renato Junior da Silva Sousa, Ricardo Augusto Agui, Rico Gui­
Trevisan, Liliam Cristina Dellatorre, Lise Fernandes, Lisete Chaves, Liu Braga, Lizia Furiatti, Lorena Balbino,
raldeli Candido Gomes, Riselda Alves, Roberta Talyta, Roberto Aumann, Roberto Lei, Roberto Peradelles,
Lorena Guilhermina Otoni, Louise Silva, Lourdes Adelina Tolentino, Loyanne da Silva Santos, Luana Maria de
Robinson Silva Alves, Rochelly Guimarâes, Rodrigo Crispim, Rodrigo Mendes, Rodrigo Peixoto, Rodrigo
Silva, Luara Arabi, Lucas Amorim, Lucas Leal, Lucas Silva, Lucas Simões de Carvalho, Lucas Valadares, Lucca
Pompeu, Rogério José Brandão, Rogério Lima, Rojeane Lima, Rosalina Nantes, Rosane Rocha, Rosângela
Pagin, Lucélia Ferreira Pimenta, Luciana Fraga Silva, Luciana Gonçalves, Luciana Lopes, Luciano Pinhão da
Cas­t ilhos, Rosangela Figueiredo, Rose Antunes de Moraes, Roseli Duarte, Rosemeire Aparecida Dantas,
Cruz, Luciene Almeida, Luciene Melo, Lucimar Angelita Alves, Lucimara Theodoro de Lima, Lucíola Montei­
Rosimeire A. C. Campos, Rosivaldo Ribeiro Senzi, Rosmari de Souza Pereira, Rosy Alcantara, Rôsy Santos,
ro, Luís Carlos Silva, Luis Henrique Vilani, Luiz Antônio Gomes, Luiz Augusto Feitoza Ferraz, Luiz Edde, Luiz
Rozileide Santos, Rafael Sossa, Ruy Mellone, Sabrina Limeira, Samantha Duarte, Samuel Monteiro, Sandra
Teófilo, Luiza Rosa Ferrari Carmezini, Luiza Samarro, Lyz Medeiros, Magnólia Dumböck, Makyson Paé,
Garcia, Sandra Regina, Sandra Regina Sacomani, Sandra Vaz, Sandro Caxias, Sandro Faria Hossein, Sandro
Manoel Pacífico, Marcela Marques, Marcelle Gabriele Lopes Lapini, Marcelo Ferrari Muller, Marcelo
Siqueira Coutinho, Sandy Aguiar, Sara Dâmaris Andrade Antunes, Sara de Araújo, Sarah Mendes Nogueira
Novelli, Marcelo Torres, Marcia Domingos dos Santos Oliveira, Marcia Andrea Spi, Márcio Michaelis
Ribeiro, Scheylla Gomez, Sebastiao Arreguy, Sérgio Nonato, Sérgio Sidney da Silva Lima, Shayani Guarezi,
Milkovich, Marco José Neves de Araújo, Marcos Vinícius Monteiro dos santos, Margaret Cruz Araújo,
Silvana Cézar, Silvana Evangelista, Silvana Nelo, Silvana Paula, Silvana S. Davini, Silvana Sena, Silvia Alyne Soa­
Margareth Fernandes, Mari Abuzaid, Maria Amélia Lima, Maria Aparecida Tambelli Dias, Maria Augusta Frei­
res de Sousa, Silvia Andreza, Silvia Gentil, Simone Cruz, Simone Gonçalves Vitorino, Simone Ribeiro Matos,
tas, Maria Carolina, Maria Celina de Assis, Maria Clara Pacheco da Silva, Maria da Penha Bosso De Oliveira,
Simone Sampaio, Sirlei Cecilia de Oliveira, Sol Lima, Solange Palácio, Sonia Oelmuller, Sonia Ribeiro Ribeiro,
Maria das Graças dos Santos, Maria dos Remédios Rocha do Carmo, Maria Eduarda Brandão Veizaga, Ma­
Stella Feitosa, Stephanie Rios, Sueli Claudino, Sueli Maria Colombo Rossetti, Sueli Souza, Suely Sales Silva,
ria Helena Barros Chaves, Maria Iraci Fuzeto, Maria Jeciene, Maria Joana Costa, Maria José Carnaval,
Suselaine Por­f irio, Taciana Cavalcanti, Taffarel Oliveira, Tainá Andrade Westphal, Tais Santos, Tália Moraes,
Maria José Meirelles, Maria Rosa Oliveira S. Fé, Maria Salete, Mariana Morais de Queiroz, Mariana Queiroz
Talita de Almeida Alves, Talita Lorena, Tamires Santos, Tania Azevedo, Tarciano Andrade, tarcisio rocha, Ta­
Melo Lima de Oliveira, Mariana Reis Oliveira, Marilda Bueno de Araújo, Marília Schultz, Marines Petter,
rija Pitágoras de Freitas, Tatiane Marazia, Teresa Chiodetto, Terezinha Aldenora de C. e Almeida Magalhães,
Mário Andrade Dos Santos, Marisa Ribeiro, Marisa Santos, Marlene Prado, Marlene Veiga, Marli Almeida,
Terezinha Martins, Thais Santos do Vale, Thalyta Souza, Thamares Pimentel, Thania Ricardo, Thaynara
Marlice Dias, Mateus Blezer, Mauri Marcelo Tonidandel, Mauricio Gonçalves, Mayla Maria Jesus Gomes,
Fernanda Silva, Thaynara Santos, Thomas Magnum Alves Rodrigues Da Silva, Thynara Santos, Thynara
Mayre Barros Custódio Vigna, Maysa Barbosa, Maze de Cristo, Meire Costa, Meiriel Santos, Mel Mendonça,
Thifany, Tilde Frias, Tuka de Abreu, Valdeci Daniel, Valdenice Andrade, Valéria Adegas, Valéria R. Oliveira,
Melissa Lima, Mércia Fontoura, Merit Rabanés, Micheli Johansson Busnello, Micheline Nunes, Mirandi Alves
Valéria Silva, Valêska Nobre, Valquiria Altemio, Vanessa Cláudia Pereira Costa Siqueira, Vanessa Luchetti
Pereira Oliveira, Mirian Aguiar, Mirna Santiago Bispo Lima, Moacir Feitosa, Monalisa Tomazini, Monica
Torres, Vania Tenorio, Verônica Araújo, Verônica Cortizo, Victor Gustavo Oliveira Vieira, Victor Hugo
Alves, Mo­n ique G. Lutz, Monique G. Lutz, Mundica Sousa, Nadia Menezes, Nadson Luis de Oliveira Lima, Na­
Ribeiro Rodrigues, Victor Silva, Vinicius Henrique da silva, Vitor Lúcio, Vitória Colombo, Vivian Gracieli,
talia Pe­r ei­r a, Natan Santos Miranda, Nathália Mendes, Nathália Ribeiro, Natiele Rocha, Nayane Reis, Nelma
Vivian Lemes Viaro, Viviane Calliari, Viviane Odorico Alves da Silva, Wagner Noriyo Kimura, Wagner R. Car­
Ribeiro, Nema Souza Bezerra, Neudimar Ferreira Pacheco, Neuza Oliveira, Nica Costa Costa, Nicole Bar­
valho, Wagner Rodrigues de Brito, Waldemir Victoratto, Walkiria Precioso Barreto, Walter Gonçalves
bosa, Nikelli Cassemiro, Nilvia Iacovacci, Noely Silva, Noemy Alves Eisinger, Nubia Rodrigues Suave, Octa­
Horta, Wanderley Souza, Wânia Rangel, Warlen Antonio, Wenderson Epifânio Sacramento Viturino, William
viano Tatau, Odécio Machado, Odete Xavier de Araujo, Otavio Baumeier, Pablo Jara, Pâmela Silva, Patrícia
R. Silva, William Leite, Wilma Alves Maia, Wilma Carolina, Wilma de Araújo Silva, Wilma Carvalho, Yanne
de Riz, Patrícia Kely Arruda Duarte, Patrícia Meireles Sacilotti, Paula Bianca Freitas Santos, Paula Haydée,
Mariah Iskandar, Yara Van De Kamp, Ysis Santos Martins, Yuri Lima, Zilda Janete Peixoto.
Paulo Cezar Loures, Paulo Roberto, Paulo Victor, Pedro Botelho Neto, Pedro de Lima Dias, Pedro Ferreira
da Silva dos Santos, Pedro Henrique Domingos da Silva Oliveira, Pedro Hirata, Pedro Reis, Pedro Botelho,
30
também Agradecemos a todos que contribuíram para o livro de forma anônima.
31
Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.
Projeto gráfico de capa e miolo
A DRI A NA FERNA NDES
Revisão de texto
V I V I A NE T. MENDES
A NA LUIZ A COUTO
Tratamento de imagem
M GA LLEGO • STUDIO DE A RTES GR Á FIC AS
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)
(Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)
Trentini, Rogério
Seu Arlindo está dormindo / Rogério Trentini; curadoria
Maria Fernanda Cândido; ilustrações de Daniel Kondo. —
1ª- ed. — São Paulo : Companhia das Letrinhas, 2015.
isbn
978-85-7406-685-1
1. Literatura infantojuvenil. i. Cândido, Maria
Fernanda. ii. Kondo, Daniel. iii. Título.
15-05619
cdd-028.5
Índices para catálogo sistemático:
1. Literatura infantil 028.5
2. Literatura infantojuvenil 028.5
2015
Todos os direitos desta edição reservados à
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ma­­deira utilizada na fabricação do papel des­te livro provém de florestas que
foram gerenciadas de maneira am­bien­
tal­men­te correta, socialmente jus­ta e
eco­no­mi­ca­men­te viável, além de ou­
tras fon­tes de ori­gem controlada.
Esta obra foi composta em Utopia e impressa pela
Geográfica em ofsete sobre papel Alta Alvura da Suzano
Papel e Celulose para a Editora Schwarcz em agosto de 2015.
PSIU! SILÊNCIO! SEU ARLINDO ESTÁ DORMINDO.
Na verdade, ele está sempre dormindo. Por quê? Bom, porque ele gosta de sonhar. E quando está acordado, sabe o que ele
faz? Lê livros de todos os tipos. Esse é outro jeito de sonhar.
Seu Arlindo vê graça mesmo nessa coisa de imaginação.
Mas de tanto observá-lo aqui, escondida no meu canto, eu percebi que ele bem que tem vontade de ficar um pouco mais acordado. Acho que ele adoraria, por exemplo, ter amigos na vizinhança ou rever a família... E por que não faz isso?
Para ter essa resposta, você vai precisar conhecer
melhor o seu Arlindo. Aproveite para abrir este
livro e fazer uma visita para a gente. Quem
Este livro é parte da plataforma
Litros por Letras, parceria da Shell
e do Instituto Ayrton Senna pela
edu­c ação pública do Brasil.
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
ISBN 978-85-7406-685-1
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