Educação Infantil – Ens. Fundamental I
SOE – Marluci Meira Lima / SOP – Ivana Pontes
Combine com ele...
Dica do mês
Conhece o fenômeno que faz as crianças chamar mamãe mesmo quando papai está na área?
Muitas mulheres não escondem o orgulho em anotar no álbum de lembranças do filho que a primeira
palavrinha dita por ele foi “mamãe”! Não sei qual é a surpresa. A gente repete isso todo santo dia e o
dia todo, durante a licença-maternidade inteira. Continua depois em todos os momentos de contato
com o filho e ainda sustenta isso durante um bom período naquela fase em que a gente fala igual ao
Pelé.
“Mamãe vai te dar mamá!”
“Mamãe vai te dar um banho!”
“Mamãe te ama tanto!”, e diz isso afundando nariz e boca na bochecha do bebê.
“Mamãe vai dormir um pouquinho, e o bebê vai dormir para a mamãe descansar!”
“Mamãe fica tão feliz quando vê esse sorriso...”
“Mamãe precisa trabalhar.”
Isso para não dizer quando a gente insere o chamado em textos nada a ver, como no meio de uma
cantiga:
“Boi, boi, boi. Boi da cara preta, pega esse bebê...Num pega nada que a mamãe não deixa, não é,
bebê?”
Sem falar no reforço providencial vindo de nossos amados maridos.
“Pronto, agora mamãe vai ficar com você”, diz, antes de passar o bebê adiante.
Aí a criança cresce, outra nasce, a família aumenta e você percebe, de uma hora para a outra, que
tem crianças no seu encalço treinadas para chamar “mamãe” em toda e qualquer ocasião. O telefone
toca, você está na rua e a criança pergunta “mamãe, eu posso ligar a televisão?”, com o pai a um
metro e meio de distância.
Se forem dois, três ou até quatro filhos, em algum momento da vida te chamarão simultaneamente por
motivos distintos e inclusive quando você não puder atender de jeito nenhum, quando estiver ocupada
no banheiro, no telefone ou mastigando a primeira garfada da comida fria. A saída é combinar com
ele, o cidadão responsável pela outra metade dos genes do seu filho. Avise ao marido que ele está
autorizado a atender a criança quando ela gritar “mamãe acabei!”. Principalmente se ele estiver
passando na porta do banheiro no exato momento em que ouvir o chamado. Combine com ele que
estão liberadas atividades de buscar a toalha, amarrar o sapato, encontrar um brinquedo, pegar uma
colher, fazer suco, vitamina e banana amassada, mesmo que a criança insista em começar a frase
com o vocativo “mãe”.
Diga para o marido que a criança chama “mamãe” por hábito, influência da TV ou um problema de fala
ainda não diagnosticado pelo pediatra, porque, no fundo, ela ficará feliz em ser atendida por qualquer
um dos dois. Ela não faz por mal nem demonstra uma predileção incontornável. É só mania. Criança
tem um monte de manias.
Eu não sei o que acontece, mas, muitas vezes, a palavra “mamãe” no início da frase prejudica a
audição do homem. Se Darwin estivesse vivo, ele faria algum estudo sobre seletividade auditiva,
porque esse fenômeno faz com que o pai passe direto pela criança que acabou de pedir água, embora
ele estivesse ao lado da geladeira.
O resultado é uma reação em cadeia. A criança chama, o pai não ouve, a mãe responde lá de dentro
que não dá. A criança insiste em chamar a mãe, o pai continua não ouvindo, a mãe pede para parar, a
criança grita, a mãe grita de volta, e depois grita para o pai limpar. O pai responde irritado que não
sabe o que está acontecendo e tudo começou porque uma criança chamou “mamãe”. Sugiro que, com
o tempo, a criança se acostume a chamar “alguém”. É mais democrático e aumenta a chance de ela
ser atendida.
"Combine com ele" é uma crônica inédita do livro A pior mãe do mundo: uma biografia não
autorizada de todos nós (5W), de Isabel Clemente, à venda nas principais livrarias do país e
também nos sites das livrarias Travessa, Saraiva, Cultura e Amazon.
Mamãe!!!
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Combine com ele