A atriz afirma estar satisfeita em atuar nos filmes brasileiros A atriz Denise Fra ga, em visita à Universidade Santa Cecília (UNISANTA), explicou que está satisfeita em trabalhar em filmes brasileiros. “É muito legal participar deste cinema nacional revigorado. Até porque hoje temos muitos talentos participando das películas e existe até um crescimento de escolas profissionais de cinema”. Em entrevista ao Primeira Impressão, Denise acrescentou que, apesar de o cinema nacional ter ficado na “obscuridade” por vários anos, bons atores estavam aparecendo. “Havia muitos atores encubados ou trabalhando na televisão. Agora, eles têm novamente a chance de mostrar o talen- to nos filmes”. A preferência por cinema faz com que Denise procure mais trabalhos na chamada ‘telona’. “Trabalhar na televisão é legal, mas no cinema, os filmes vão para as prateleiras, fica documentado”. Sintonia - Denise que atuou no filme Por trás do pano, dirigido por seu marido, Luiz Villaça, disse que o casal trabalha em boa sintonia. “Nós trabalhamos muito bem juntos, há muito tempo. Isso faz com que nossos filmes sejam muito queridos pelo público”. Preocupada com os destinos da arte no Brasil, ela acredita que a cultura pode ajudar o País socialmente. “Quando nós percebemos que somos vigorosos artis- ticamente, com nossa música, nossos atores, nosso cinema voltando a fazer sucesso, isso tudo tem um grande potencial, fora a indústria que se pode criar, gerando empregos. Por isso o Gover- no deveria adotar efetivamente a cultura, pois ela traz resultados sociais, econômicos e morais”. Victor de Andrade Denise veio promover o filme Por Trás do Pano na UNISANTA Cineasta ressalta crescimento do público N as comemorações do quinto aniversário do Cineclube Lanterna Mágica, da UNISANTA, o cineasta Luiz Villaça comentou que, de dois anos para cá, o cinema nacional tem registrado a presença de excelente público, superior a muitos filmes estrangeiros. “Só isso demonstra que existe público nacional, que o brasileiro gosta de se ver na tela”. Ao falar de sua obra, o cineasta afirmou que tem uma “queda pelo cotidiano das pessoas e suas relações. Por isso, na televisão como no cinema, todo o meu trabalho é voltado a isso... Gosto muito de observar as pessoas”. E acrescentou, brincando: “Tudo o que eu fiz até hoje é como se eu tivesse numa janela vendo a vida passar. E eu gosto de mostrar tudo isso”. Em relação à política cultural do governo, o cineasta ressaltou a importância de incentivos fiscais para o desenvolvimento do cinema brasileiro, lamentando, por outro lado, que o ex-presidente Fernando Collor te- Villaça: brasileiro gosta de se ver na tela nha “zerado” a produção cinematográfica nacional. Villaça comentou também que a lei de incentivo teve início no governo do expresidente Itamar Franco, fato que gerou a possibilidade de ressurgimento da sétima arte no País. Ele acrescentou que o cinema vem recebendo grande incremento a ponto de, atualmente, serem produzidos uma média de 40 filmes por ano. De fato, as produções nacionais são diversificadas e para todos os públicos: é o caso de, por exemplo, de filmes-denúncia como “Bicho de sete cabeças”; policiais como“Bellini e a esfinge”; de temática social como “Cidade de Deus” e “Carandiru”; e de comédias como “Avassaladoras”. “Por trás do pano” – Já no filme intitulado “Por trás do pano”, que dirige e que tem Denise Fraga no elenco, Villaça conta a história de Helena, uma jovem atriz em ascensão que possui muito talento, mas é insegura. Ela é casada com Marcos, um artista plástico que brinca o tempo todo com os medos e ciúmes da esposa. Em certo dia, Helena recebe um convite que será também o maior desafio de sua carreira: encenar uma peça teatral com Sérgio, um consagrado e talentoso ator que possui também gênio difícil e está em crise amorosa e profissional. Ele é casado com Laís, uma arquiteta bonita e ciumenta cuja vida conjugal se deteriora ainda mais devido à convivência do ator com Helena, em decorrência dos ensaios da nova peça em que estão traba- lhando. Esta é a síntese do filme e quem quiser saber o resultado da trama que vá prestigiar o cinema nacional, como sugerem o diretor e a atriz principal. Outro filme importante de Villaça é “Cristina quer casar”, que tem no elenco, além de Denise Fraga, os atores Marco Ricca e Fábio Assunção. O filme ganhou os prêmios de melhor atriz (Denise Fraga) e de melhor roteiro no Festival de Cinema Brasileiro de Miami. Escrevendo e resistindo Ao contrário da maioria dos veículos de comunicação existentes entre 1946 e 1958, o jornal Tribuna do Pará, da cidade de Belém, trabalhou em clara oposição ao poder da época. Esse é o tema do livro do jornalista Francisco Ribeiro do Nascimento, Páginas de Resistência. O jornal era uma publicação do - na época clandestino Partido Comunista Brasileiro (PCB) do Pará e relatava os acontecimentos daquele momento na visão dos ‘camaradas vermelhos’. Muitos de seus redatores e colaboradores foram, tempos depois, torturados e perseguidos pelo golpe militar de 1964. O autor, de 76 anos e que morou por boa parte de sua vida em Santos, fez um trabalho de pesquisa minucioso, abrangendo 91 edições da publicação, além de ter relacionado (até o ano de 1964) os jornais e revistas dos períodos de legalidade e ilegalidade do ‘velho Partidão’. No livro, há transcrições dos textos “Uma Breve História do PCB no Pará”, de Alfredo Oliveira; “Doze Anos de Luta”, publicado na edição 352 de agosto de 1958 da Tribuna do Pará; e textos/memória sobre os jornalistas João Adolfo da Costa Pinto (ativista do movimento sindical) e João Amazonas, legendário dirigente do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Um dos destaques do livro é a homenagem que o autor faz Maurício de Souza Como tudo começou... As primeiras filmagens no Brasil foram realizadas em 1898. Porém, só em 1907 houve, no Rio de Janeiro, energia elétrica produzida industrialmente, e então o comércio cinematográfico floresceu, formado quase que exclusivamente por estrangeiros que já tinham alguma experiência na área cinematográfica. Em uma década, a produção de filmes aumentou estrondosamente, com 205 filmes em 1909 e 209 em 1910. Após 1911, entretanto, as produções do cinema diminuíram. Entre 1912 e 1922, houve a primeira grande crise do cinema nacional, com problemas de produção e dificuldades de exibição nas salas, ocupadas pelos filmes norte-americanos, que vinham predominando no mercado mundial. Na fase do cinema CULTURA Denise Fraga destaca cinema nacional revigorado 14 R EPRODUÇÃO PRIMEIRA IMPRESSÃO • ABRIL DE 2004 Edição e Diagramação: Michele Motta• Fotografia: Vanessa Crescenti novo (a partir de 1960), os filmes eram voltados ao cotidiano e à mitologia do nordeste brasileiro. Já na década de 1970, houve uma expansão surpreendente do mercado nacional, o cinema novista oscila no início da década entre obras direcionadas às discussões sobre o país e o desejo de alcançar o público. Em seguida, vem um período em que crescem as novas gerações no cinema brasileiro já não tão preocupadas com os movimentos políticos e a cultura do passado. Em São Paulo, surge o “grupo de Vila Madalena que cria o chamado “cinema da Vila”. Depois de alguns anos na obscuridade, o cinema nacional deu um grande salto na década de 90. M.S. para lideranças torturadas e mortas pelo regime militar. Nessa relação estão o ex-chefe de jornalismo da TV Cultura, Vladimir Herzog, assassinado em 1975, e David Capistrano da Costa, pai do ex-prefeito de Santos, o médico sanitarista David Filho. Capistrano pai foi preso pelo Dops de São Paulo em 1974 e jamais foi encontrado. URSS – Nascimento ilustrou em seu livro 173 páginas de capas do Tribuna do Pará, onde se percebe claramente o comunismo do jornal, ressaltando as conquistas e avanços da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), como na época do lançamento ao espaço do Sputnik ou que a solução para o Brasil seria um bom relacionamento com o governo de Moscou. Para Francisco Nascimento, a publicação é uma homenagem aos companheiros perseguidos pela ditadura militar. “É a minha maneira de contribuir para que os fatos como a repressão e o autoritarismo não sejam esquecidos em nosso País. Meio século depois, temas como a reforma agrária, conflito e assassinatos no campo, defesa da Amazônia, salários dignos e mais empregos continuam atuais e ainda hoje perturbam a sociedade brasileira”. O livro do jornalista pode ser encontrado, a R$ 36,00, no site da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo: www.imprensaoficial.com.br/livraria. V.A.