Área Temática Estratégia Internacional # ID 1502 COOPETIÇÃO NA INTERNACIONALIZAÇÃO DA INDÚSTRIA VINÍCOLA GAÚCHA COM O APOIO DAS INSTITUIÇÕES FORMAIS Jefferson Marlon Monticelli Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) Silvio Luís de Vasconcellos Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) Ivan Lapuente Garrido Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) Fábio Dal-Soto Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) Julia Azevedo Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) ÁREA 2 - Estratégia Internacional Estratégias de internacionalização COOPETIÇÃO NA INTERNACIONALIZAÇÃO DA INDÚSTRIA VINÍCOLA GAÚCHA COM O APOIO DAS INSTITUIÇÕES FORMAIS RESUMO A partir do aumento da competição internacional do mercado de vinhos no Brasil, as vinícolas brasileiras foram impelidas a questionar suas estratégias e buscar o mercado externo como alternativa para reforçar sua competitividade. Logo, o presente estudo visa analisar a estratégia de coopetição adotada pelas vinícolas gaúchas, com o apoio das instituições formais locais, para promover a sua internacionalização. Para tanto, foi realizado um estudo de caso múltiplo por meio de 21 entrevistas com vinícolas e entidades do setor. Para análise dos dados, foi utilizada a análise de discurso baseada na categorização em: caracterização da indústria, mercados nacional e internacional, processo de internacionalização, estratégias de relacionamento e ambiente institucional. Por meio desta categorização, transpareceram as diversas interpretações a respeito do Wines of Brasil, surgido de uma iniciativa do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) e da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). Apesar da relevância para a indústria e para a promoção da coopetição, o Wines of Brasil ainda não possui aderência de todos os envolvidos, sendo visto tanto como um projeto que promove a internacionalização de maneira homogênea, por meio da vantagem coopetitiva, assim como amplia as diferenças entre as vinícolas maiores e as de menor porte. Palavras-chave: Coopetição. Internacionalização. Instituições formais. Indústria vinícola. Wines of Brasil. 1 INTRODUÇÃO O acirramento da competição no contexto globalizado dos negócios tem influenciado a forma gestão das organizações. Como resposta, a busca por vantagens competitivas sustentáveis tem incentivado as organizações a explorarem novas alternativas de agrupamentos empresariais. Dentro de um ambiente caracterizado por volatilidade, pela exigência de organizações inovadoras e dinâmicas, cerceado por estruturas institucionais que possam limitar a sustentabilidade da empresa, novos arranjos interorganizacionais são preponderantes à perpetuidade no ambiente. No entanto, a competição não é mais a única estratégia de relacionamento que prevalece no ambiente de negócios. Estratégias de cooperação e coopetição complementam o paradigma competitivo, gerando novas formas de governança intraorganizacional e ampliando as alternativas de agrupamento empresarial entre as firmas (BENGTSSON; KOCK, 1999, 2000; BRANDENBURGER; NALEBUFF, 1995; PADULA; DAGNINO, 2007). No relacionamento de coopetição, os agentes têm mútua interação, por meio da agregação de valor em determinadas atividades e, simultaneamente, da competição pelos mesmos recursos em outras (BRANDENBURGER; NALEBUFF, 1995). Essas estratégias de cooperação competitiva têm sido difundidas tanto no mercado doméstico quanto no internacional, visando não somente ampliar a competitividade das firmas, mas garantir sua sobrevivência (LADO; BOYD; HANLON, 1997). Torna-se mais perceptível ainda – e fadado ao sucesso – a prevalência da coopetição em redes de negócios e arranjos produtivos locais com empresas de culturas colaborativas, habilidades complementares, objetivos convergentes e riscos mensuráveis (BROUTHERS; BROUTHERS; WILKINSON, 1995). Este artigo, sob o aspecto teórico, tem como objetivo analisar a coopetição na internacionalização da indústria vinícola do Rio Grande do Sul com o apoio das instituições formais. Tem como campo empírico de estudo a indústria vinícola brasileira – especificamente vinícolas e entidades localizadas na região da Serra Gaúcha, a maior produtora e exportadora do Brasil. Essa indústria é adequada ao estudo porque, apesar de não representar um setor tradicionalmente internacionalizado, conta com empresas de diversos portes e experiências, tendo o apoio de instituições formais para buscar mercados externos, tais como a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), formando um elo importante para fomentar estratégias coopetitivas nessa indústria. Ainda, justifica-se a escolha pela relevância do setor que, segundo o relato do representante da Apex-Brasil, tem se destacado por meio do projeto Wines of Brasil, um dos projetos de maior sucesso da entidade. Ademais, a visibilidade deste projeto tem impulsionado o desenvolvimento socioeconômico da região em que está localizado. Este artigo está dividido em seis seções. Após a introdução, no referencial teórico são descritos os conceitos que norteiam as definições, limitações e compreensão acerca da perspectiva coopetitiva, assim como o modelo de Chin, Chan e Lam (2008) que trata das interações entre competição e cooperação. Em continuidade, trata-se do método utilizado para amparar o estudo empírico, identificando evidências que atestem o relacionamento de coopetição. Nas seções seguintes, são apresentados a indústria vinícola do Rio Grande do Sul, o Projeto Wines of Brasil e os olhares obtidos a respeito do projeto de internacionalização da indústria vinícola gaúcha, amparados por instituições formais locais. Por fim, são elencadas as considerações finais acerca do tema, conjecturando a visão coopetitiva na indústria pesquisada com as restrições do estudo, e as sugestões para pesquisas futuras. 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 A perspectiva coopetitiva Coopetição baseia-se na interdependência entre empresas e a convergência de interesses e objetivos por meio de relacionamentos díspares. Seu alicerce está em alinhar interesses diferentes em prol de um objetivo comum. Baseia-se em criar oportunidades para gerar vantagens competitivas, remover obstáculos externos e neutralizar ameaças (CHIN; CHAN; LAM, 2008). Porém, os participantes cooperam em áreas distintas das que competem (LUO, 2005). Essa visão é complementada com a criação de valor pelas partes que dividem conhecimentos e recursos utilizando-se da cooperação, mas que, paralelamente, competem para atingir os melhores resultados. Essa relação envolve trocas econômicas e não econômicas; no elo cooperativo, o poder é balizado pela cadeia de valor, e no elo competitivo, pela força e posição dos atores na rede (BENGTSSON; KOCK, 1999, 2000; BENGTSSON; ERIKSSON; WINCENT, 2010). Nesse ponto, quanto maior o número de interações, maior será a possibilidade de promover a melhoria no desempenho em produtos, serviços, relacionamento com o consumidor, assim como ganhos de produtividade, eficiência e de qualidade, que não seriam possíveis de se obter se desenvolvidos isoladamente (GANGULI, 2007; LUO; SLOTEGRAAF; PAN, 2006). Posto isto, compreende-se que a coopetição tem a mesma origem na colaboração, visto que ambas surgem de interesses comuns que substituem a maximização do ganho individual. Contudo, este não será, necessariamente, dividido de forma igualitária entre as partes (PADULA; DAGNINO, 2007). Por mais que exista um alinhamento de interesses, em algum momento, existirá um ponto de atrito que originará uma disputa pela divisão dos resultados. Os ganhos da relação serão proporcionais não somente ao que foi investido pelos participantes, mas aos obtidos pelo aprendizado e pelo poder individual exercido na estratégia de relacionamento (ABDALLAH; WADWA, 2009). Ainda, o relacionamento coopetitivo pode sofrer influência de variáveis exógenas – direcionadas pelo contexto ambiental – e de variáveis endógenas – providas pela estrutura de conhecimento entre os agentes. Mudanças no ambiente podem conduzir a alterações nas estruturas de incentivo e induzir a situações de conflito. Já a estrutura de conhecimento envolve a seleção, interação organizacional (conexão de recursos e atividades para alcance de objetivos compartilhados) e interação estratégica (esforços para direcionamentos estratégicos por meio de atividades colaborativas) (PADULA; DAGNINO, 2007). A relação coopetitiva ocorre em função da maximização dos resultados obtidos pelo direcionamento de esforços em um mesmo sentido, transcritos por acordos formais ou tácitos. Cooperação implica, basicamente, harmonia; já a competição, conflito. Nas atividades distantes do mercado-alvo, as empresas cooperam; nas atividades próximas ao mercado almejado, as empresas competem (BENGTSSON; KOCK, 1999, 2000). Os relacionamentos coopetitivos, assim como os colaborativos, são baseados em confiança, reciprocidade e altruísmo (KANTER, 1994). Assim, obtém-se a redução dos custos de transação, dos períodos de desenvolvimento de produtos e de inovação e dos mecanismos contratuais para neutralizar os riscos oportunistas. Não obstante, adquirem-se opões estratégicas que permitem assumir posturas flexíveis (LADO; BOYD; HANLON, 1997). No entanto, apesar de a coopetição ser baseada em interesses convergentes, seu modelo possui críticas, principalmente no que se refere aos riscos acarretados pelo oportunismo e pelo dinamismo do ambiente (GULATI; NOHRIA; ZAHEER, 2000; HAMEL, 1991). Além disso, a relação falha quando os agentes deixam de reconhecer a assimetria de benefícios e têm a percepção de injustiça (KHANNA; GULATI; NOHRIA, 1998). Cria-se uma relação díade congruente e positivamente interdependente entre os participantes. Ademais, a coopetição não é um construto dicotômico, situado em um contínuo entre competição e cooperação. Seu conceito é multidimensional, complexo e dinâmico (PADULA; DAGNINO, 2007). Portanto, coopetição implica o compartilhamento de objetivos que induzem aos agentes cooperarem e competirem entre si para reduzir riscos, perdas e diminuir incertezas, ampliar seu leque de opções estratégicas, alavancar seus ganhos e obter desempenho superior a estratégias baseadas somente em competição ou cooperação. 2.2 Interações de competição e cooperação Chin, Chan e Lam (2008) desenvolveram um modelo para diagnosticar os relacionamentos de competição e cooperação de acordo com o nível de interação entre seus agentes (Figura 1). O modelo apresenta quatro tipologias que podem ser obtidas de acordo com a interação e a intensidade da competição e cooperação entre as firmas. Os autores sugerem que o comportamento dos agentes visa angariar recursos para desenvolver estratégias que gerem valor e retorno econômico à organização acima da média do mercado. Ainda, Luo (2005) salienta que as similaridades dos mercados contribuem para comportamentos competitivos e que a assimetria de recursos favorece o estabelecimento de cooperação entre os agentes. Justifica-se a competição pela disputa dos mesmos recursos e a colaboração dos agentes para a sua complementaridade, visando internalizar conhecimento adquirido do coopetidor relacionado. Figura 1 – Grau de intensidade de relacionamento de competição e cooperação Fonte: Adaptada de Chin, Chan e Lam (2008). No primeiro quadrante ocorre a prevalência de relacionamentos competitivos, baseados principalmente em oligopólios, caracterizados por alto nível de concorrência, desregulamentação da indústria e sofisticada demanda dos clientes. Há uma maior incidência de similaridade de produtos, recursos e mercados, evidenciando uma menor intenção de cooperação. Para tanto, as firmas utilizam: (a) estratégias de inteligência empresarial para coletar informações do mercado e antecipar movimentos dos concorrentes; (b) foco em um nicho geográfico, de produto e/ou tecnologia; e (c) táticas de atração, manipulação e dominação para defender-se de concorrentes (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2002; LUO, 2005). A segunda situação é constituída dos agentes que não interagem de maneira significativa com outros rivais, mantendo baixos níveis de competição e cooperação. Trata-se de firmas com um limitado escopo de produtos ou mercados, que sustentam uma posição competitiva a partir de barreiras regulatórias, tecnológicas, financeiras contra novos entrantes. Firmas neste quadrante utilizam: (a) especialização em produtos ou mercados para enfatizar o conhecimento adquirido; (b) economias de escala, para melhorar o fluxo de caixa e ampliar as barreiras de entrada; e (c) integração vertical, para expandir a cadeia de atuação da firma e potencializar sua atuação (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2002; LUO, 2005). O terceiro quadrante apresenta a situação de alta cooperação e baixa competição, aproveitando sinergias criadas entre os agentes. Ademais, são condições necessárias para que ocorra esse relacionamento a alta complementaridade de recursos e capacidades e o baixo compartilhamento de características semelhantes de um mesmo mercado. Firmas neste quadrante utilizam: (a) extensão de sinergias por meio da complementaridade de recursos, compatibilidade de objetivos e cultura cooperativa; (b) divisão de valores mediante tentativa de acomodação das respectivas culturas, filosofias e valores organizacionais; e (c) aperfeiçoamento de interação entre as firmas por meio da familiaridade, da socialização e do compartilhamento de conhecimento (LUO, 2005). Por fim, no último quadrante consta a relação adaptativa em que há interação entre cooperação e competição por meio da redução de custos, riscos, exploração das competências e ganho de eficiência. Ademais, raramente os rivais concorrem em todos negócios, produtos ou mercados, oportunizando chances de cooperar. Firmas que estabelecem um relacionamento adaptativo utilizam: (a) análise de limites que consideram as áreas a cooperar e a competir; (b) loose coupling que facilita a colaboração entre os relacionamentos; e (c) equilíbrio estratégico entre cooperação e competição (LUO, 2005). 3 MÉTODO Classificado como de natureza qualitativa, este estudo utilizou-se de uma pesquisa descritiva, a qual descreve situações, fatos, opiniões ou comportamentos, para mapear a distribuição de um fenômeno na população ou contexto pesquisado (FLICK, 2009). Também se utilizou de estudo de casos múltiplos ou comparativos, devido a sua adequação aos objetivos e à complexidade da temática proposta, bem como possibilitar compreender melhor o fenômeno a ser estudado. A escolha de casos comparativos nesta pesquisa deve-se ao fato de que as evidências apresentadas por meio desse tipo de projeto são mais convincentes e o próprio estudo é considerado mais robusto ao basear-se na lógica da replicação (YIN, 2010). A coleta foi realizada por meio de 21 entrevistas semiestruturadas (Quadro 1). Além disso, foram coletados dados dos sítios eletrônicos das instituições e das vinícolas para complementar as informações das entrevistas e do material bibliográfico. Com isso, foi possível realizar uma triangulação dos dados, que auxilia em análises mais completas, tendo em vista que leva em consideração mais de uma fonte de informação (FLICK, 2009). Lidando tanto com dados primários quanto com dados secundários, a triangulação de dados visou obter maior validade e confiabilidade ao coletar dados em momentos diferentes, de fontes distintas ou por meio de instrumentos diversos, no estudo de um mesmo fenômeno (COLLIS; HUSSEY, 2005; STAKE, 1998). As vinícolas foram escolhidas não aleatoriamente considerando: i) estratégia de entrada no mercado externo: exportação direta e indireta; modos contratuais; investimento direto externo; e ii) estágio de acordo com a atuação no Wines of Brasil: vinícolas que ainda não se internacionalizaram; vinícolas com alguma experiência internacional; vinícolas com histórico de atuação internacional que estão em um nível avançado em relação as demais participantes do projeto. No entanto, de modo a melhor compreender o fenômeno estudado, também buscou-se entrevistar representantes de vinícolas que ainda não aderiram ao Wines of Brasil e que, mesmo com todas as vantagens propiciadas por este, também não iniciaram seu processo de internacionalização. Quadro 1 – Informações gerais das entrevistas Entrevistado Empresa/Instituição Cargo Data Duração 1 Ibravin Diretor Técnico 18/01/2012 44min 2 Wines of Brasil Gerente de Exportação 18/01/2012 48min 3 Supervisora de Exportação 18/01/2012 35min 4 Cooperativa Vinícola Aurora Vinícola Salton Coordenador de Exportação 26/01/2012 52min 5 Vinícola Miolo Gerente de Relações Internacionais 07/02/2012 1h03min 6 Vinícola Basso Gerente de Exportação 07/02/2012 37min 7 Embrapa Uva Vinho Vinícola Miolo Pesquisador em Socioeconomia 11/01/2013 1h23min Gerente de Relações Internacionais 17/01/2013 1h10min Gerente Comercial 17/01/2013 34min 10 Vinícola Don Giovanni Vinícola Dal Pizzol Gerente Comercial 21/01/2013 1h05min 11 SDPI 21/01/2013 43min 12 Apex-Brasil 25/01/2013 55min 13 Sindivinho RS Diretora de Promoção de Negócios e Coordenador de Inteligência Comercial Gestor de Relacionamento com Empresas Brasileiras Executiva Administrativa 31/01/2013 Questionário 14 Wines of Brasil Gerente de Exportação 14/03/2013 35min 15 FIERGS 19/03/2013 56min 16 Vinícola Salton Gerente de Relações Internacionais e Comércio Exterior Coordenador de Exportação 23/04/2013 1h18min 17 Enólogo 18/06/2013 39min 18 Vinícola Venturini Especialista Especialista na indústria vinícola 18/06/2013 1h35min 19 Vinícola Larentis Enólogo 28/06/2013 28min 20 Vinícola Valduga Aprovale Analista de Comércio Exterior 28/06/2013 55min Consultor 04/07/2013 1h02min 8 9 21 e Casa Casa Fonte: Elaborado pelos autores. Para fins de análise de dados, utilizou-se a técnica de análise de conteúdo (Quadro 2) (FLICK, 2009), visando inferir conhecimentos por meio da geração de indicadores quantitativos ou não (BARDIN, 2011). Existem passos a serem obedecidos na técnica de análise de conteúdo, quais sejam: i) codificação das entrevistas para a análise posterior; ii) definição das unidades de análise; iii) categorização (RICHARDSON, 1989). Como foram utilizadas entrevistas semiestruturadas, já existiam tópicos pré-definidos a serem trabalhados com os entrevistados. Mediante isso, foi consolidada a categorização baseada na classificação de elementos por diferenciação, com critérios previamente definidos. Com isso, realizou-se o tratamento dos dados (BARDIN, 2011), com o auxílio do software NVivo, versão 10. Quadro 2 – Categorias de análise utilizadas para o roteiro de entrevistas Categorias Subcategorias Referências Caracterização História; Papel e influência da instituição (FARIAS, 2011; FENSTERSEIFER, formal; relevância da instituição formal no 2007; ZEN; DALMORO; setor. FENSTERSEIFER, 2009; ZEN et al., 2013) Mercado nacional Estratégias de agrupamento e relacionamento, (ZEN; FENSTERSEIFER; PRÉVOT, e internacional barreiras de entrada, limitações; 2011; ZEN et al., 2013; IBRAVIN, posicionamento do Brasil no mercado 2013; UVIBRA, 2014; WINES OF vinícola mundial; posicionamento dos vinhos BRASIL, 2014; OIV, 2012) estrangeiros no mercado brasileiro e internacional; imagem do vinho brasileiro. Processos de Motivos, benefícios, resultados, dificuldades, (BROUTHERS, 2002; internacionalização adaptações para internacionalização; CONTRACTOR, 1990; DUNNING; estratégias de marketing internacional; modos LUNDAN, 2010; MAIS; AMAL, de entrada; critérios de seleção dos mercados- 2009) alvo; Wines of Brasil. Estratégias de Cooperação, competição e coopetição. (BRANDENBURGER; NALEBUFF, relacionamento 1995; BENGTSSON; KOCK, 1999, 2000; BENGTSSON; ERIKSSON; WINCENT, 2010; CHIN; CHAN; LAM, 2008) Ambiente Relação com a instituição formal Wines of (GAO et al., 2010; PENG, 2002; institucional Brasil; percepção e influência das demais PENG; KHOURY, 2008) instituições formais. Fonte: Elaborado pelos autores. 4 A INDÚSTRIA VINÍCOLA DO RIO GRANDE DO SUL E O PROJETO WINES OF BRASIL A indústria vinícola brasileira tem enfrentado forte concorrência no mercado interno, principalmente dos países tradicionais em produção e comercialização internacional de vinhos. Para lidar com essa ameaça, torna-se preponderante a internacionalização das vinícolas brasileiras (FENSTERSEIFER, 2007). A representante do Wines of Brasil atesta que, atualmente, ou a vinícola brasileira se internacionaliza ou ela perderá competitividade, inclusive no mercado doméstico, pois o mercado internacional gera um aprendizado imensurável. Com a programação de eventos esportivos internacionais como os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo de Futebol, além do desenvolvimento econômico dos últimos anos, o país tem chamado atenção dos principais expoentes mundiais. O projeto Wines of Brasil favoreceu-se deste cenário e realizou diversas ações de promoção comercial no exterior (VOLTOLINI, 2013). De acordo com os entrevistados, as dificuldades enfrentadas pelo vinho brasileiro no mercado internacional não estão relacionadas à qualidade, mas sim ao chamado custo Brasil, com elevados tributos, infraestrutura precária, ausência ou existência de tratados bilaterais, excesso de intermediadores na comercialização do produto, barreiras fitossanitárias e atuação limitada ou precária de instituições governamentais. O Projeto Setorial Integrado Wines of Brasil tem sua origem em 2002, sob a caracterização de um consórcio de exportação organizado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (FIERGS). Naquele momento era formado por seis vinícolas (Casa Valduga, Aurora, Lovara, Salton, Miolo e De Lantier) que se agruparam, por intermédio da FIERGS, para iniciar o processo de internacionalização por meio de um planejamento, com estudos de mercado e desenvolvimento de experiências iniciais no mercado externo, principalmente com cursos, reuniões, feiras e eventos internacionais. A partir de 2004, com o apoio da Apex-Brasil, o consórcio de exportação tornou-se um projeto setorial integrado por meio de um acordo com o Ibravin, com o objetivo de promover o vinho brasileiro no exterior. De acordo com o representante da Apex-Brasil, essa mudança ocorreu para dar visibilidade nacional ao projeto e evitar concorrência pela mesma fonte de recursos para uma mesma indústria dispersa em diversos consórcios regionais ou locais de exportação pelo país. A Apex-Brasil realiza periodicamente pesquisas de mercado para identificar países atrativos para divulgação e comercialização do vinho brasileiro. No entanto, cabe a cada vinícola determinar os países com que tem interesse em desenvolver negócios. Todas as vinícolas entrevistadas afirmaram que, em função do apoio financeiro do projeto Wines of Brasil (aluguel e montagem da estrutura nas feiras) apenas para os mercados previamente selecionados, muitas vinícolas preferem atuar onde existe esse benefício. A estratégia adotada condiz com a visão de Bengtsson e Kock (2000) na qual a coopetição pode se estabelecer em graus e locais diferentes. Em geral, as vinícolas procuram competir nas ações mais próximas dos clientes (área comercial) e cooperam nos processos mais distantes deles (produção). Segundo a representante da vinícola Aurora, principalmente nas viagens para o exterior, não predomina o sigilo de informações; porém, no mercado interno a postura é totalmente diferente. Ainda destaca: "lá fora a gente se ajuda; aqui dentro a gente se mata". Pactuando com essa orientação, as relações de coopetição fortalecidas devem ter motivações, estratégias e benefícios que sejam facilmente identificáveis para as contrapartes, além de mecanismos de solução de conflitos e de definição de responsabilidades (ZINELDIN, 2004). Não obstante, a manutenção da relação só ocorrerá mediante ganhos superiores ao agente que não aderir a qualquer interação coopetitiva, desde que seja fornecida uma divisão justa dos resultados (JARILLO, 1988). Para as vinícolas menores, mencionadas como "vinícolas boutiques" pelo entrevistado da Apex-Brasil, o posicionamento adotado deve ser baseado na diferenciação. A entrevistada da Dal Pizzol ratifica, associando a produção de vinhos exóticos à história e tradição da família empreendedora, além de buscar obter o potencial de cada tipo de uva, preservando sua identidade original. O representante da Apex-Brasil corrobora ao mencionar que deve prevalecer a busca pela identidade do vinho nacional, com suas características específicas, diferenciando-se dos vinhos europeus, no processo chamado de branding. Independentemente do posicionamento adotado pela vinícola, o Wines of Brasil fornece apoio institucional por meio de subsídio financeiro para a exposição da empresa em eventos internacionais, estudos sobre os mercados-alvo, treinamentos relacionados ao mercado internacional externo e acesso aos convênios com prestadores de serviço para envio de amostras, desembaraço aduaneiro, passagens aéreas, entre outras atividades relacionadas ao mercado externo (WINES OF BRASIL, 2014). Em 2013, o Wines of Brasil contava com 40 vinícolas e tinha como metas maior reconhecimento do vinho brasileiro no mercado internacional, aumento do volume de exportações e do número de exportadores. As demais entidades atuam como capacitadoras, como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a Secretaria do Desenvolvimento e Promoção do Investimento Estado do Rio Grande do Sul (SDPI-RS), do setor vinícola (União Brasileira de Vitivinicultura – Uvibra) e Associação Brasileira de Enologia (ABE), além da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e universidades da região Sul do Brasil. De forma geral, a presença dos vinhos brasileiros no mercado externo tem gerado diversos tipos de ganhos para os participantes da indústria. Há uma troca de experiências, ganho de aprendizado e ampliação da rede de relacionamentos pelo contato com vinícolas, instituições e eventos com maior tradição e histórico; criam-se mais opções estratégicas, diminuindo a dependência do mercado interno; o consumidor brasileiro é apresentado ao vinho nacional que passa a ser valorizado no mercado doméstico; possibilita estabelecer novas estratégias de relacionamento, destacando-se a coopetição (MONTICELLI; CALIXTO; GARRIDO, 2012; MONTICELLI et al., 2013). Segundo o representante da vinícola Salton, o projeto permite que pequenas vinícolas alcancem mercados externos que seriam inatingíveis, principalmente por meio do Programa Primeira Exportação além de propiciar às maiores vinícolas uma expansão da venda de seus produtos. A entrevistada da vinícola Miolo diz que o maior apoio prestado ocorre na troca entre as informações comerciais – principalmente sobre feiras – e sobre questões burocráticas – legislação, exigências de rótulo, etc. Contudo, para o entrevistado da vinícola Don Giovanni, não basta apenas as vinícolas estarem integradas ao projeto, pois torna-se fundamental que estejam preparadas para internacionalizar-se. Essa postura reforça a visão da coopetição em que vinícolas maiores e vinícolas menores (ambas agentes) em áreas distintas cooperam (marketing, comércio exterior e comercialização) e competem (produção) simultaneamente, para gerar benefícios aos envolvidos (criar e disseminar uma identidade do vinho nacional) por meio do compartilhamento de recursos e conhecimento para uma posterior divisão de resultados superior ao ganho isolado (reconhecimento do vinho brasileiro no mercado externo e retomada de fatia no mercado doméstico) (MONTICELLI; CALIXTO; GARRIDO, 2012). No entanto, segundo a entrevistada da Dal Pizzol, a cooperação poderia ser maior mediante a aquisição de insumos como rolhas e garrafas em grande escala, além do pleito em conjunto pela redução e uniformidade de tributos. Para a gerente geral da Wines of Brasil a maior dificuldade do projeto é o desconhecimento dos consumidores estrangeiros do vinho brasileiro. Portanto, o reconhecimento internacional cria uma expectativa que essa imagem do consumidor se altere, de maneira até a incrementar o consumo per capita de vinho, visto que esse é outro obstáculo da indústria, segundo o representante do Ibravin. Nesse sentido, o Wines of Brasil objetiva gerar benefícios perceptíveis não somente para o mercado externo, mas também para o mercado doméstico, pois o consumidor brasileiro, de certa forma, caracteriza os vinhos importados como de melhor qualidade do que os produzidos no Brasil. Analisando os relatos, observa-se que o Wines of Brasil proporcionou alcance a todas vinícolas participantes, independentemente do porte. Daquelas que iniciaram sua atuação em 2002, algumas já desfrutam de um estágio mais avançado de internacionalização. Mesmo para os casos de início tardio, o Wines of Brasil possibilitou atingir mercados até então inexplorados pelas empresas, por meio da participação de feiras e eventos internacionais que têm custos elevados e exigem um alto grau de preparação técnica, o que não seria viável para as empresas de forma independente. Nesse quesito, a troca de informações e a integração entre os participantes são propulsores do processo, criando uma relação sinérgica para o mercado externo. De acordo com a entrevistada da vinícola Basso, o projeto Wines of Brasil auxilia as vinícolas pela organização das rodadas de negócios direcionadas aos objetivos de cada empresa e eventos de marketing, como degustação de vinhos com a imprensa. Dos participantes no Wines of Brasil, tanto as vinícolas maiores quanto as menores, assim como as instituições, possuem uma compreensão que, se não é comum, pelo menos é tangente: é primordial vender a marca do vinho do Brasil no exterior antes de vender o vinho de qualquer vinícola. A representante da vinícola Dal Pizzol reforça a ideia de coopetição dentro da indústria: "o mercado não sobrevive somente das grandes vinícolas, pois as pequenas empresas agregam novidades, qualidade, vinhos de nicho (...) Primeiro precisa vender a marca do vinho brasileiro no exterior, derrubando o preconceito, mas não se consegue fazer isso de forma isolada". Denota-se, portanto, que a coopetição oferece recursos para firmas com fortes limitações e representa um veículo para entrada em mercados que, de outra maneira, não estariam aptas a acessar. Contudo, segundo Zineldin (2004), firmas menores podem ter pouco a contribuir para um relacionamento coopetitivo devido sua incipiência organizacional quanto ao aprendizado e conhecimento. Ademais, têm maior risco de dependência dos benefícios gerados pelo relacionamento, tornando-se refém dessa estratégia (OSARENKHOE, 2010). 5 OLHARES DISTINTOS SOBRE A COOPETIÇÃO NA INDÚSTRIA VINÍCOLA GAÚCHA Aplicando o modelo de Chin, Chan e Lam (2008) na indústria vinícola, identificam-se os seguintes participantes: i) competitivo: vinícolas maiores internacionalizadas, mas que não utilizam estratégias colaborativas, como as duas únicas vinícolas exportadoras não integrantes do Wines of Brasil; ii) isolado: vinícolas menores, que não participam do Wines of Brasil, possuindo comportamento passivo com as demais, tanto em competição quanto em cooperação; iii) parceiro: vinícolas menores, integradas ao Wines of Brasil, que buscam ganhos de sinergia e aprendizado em nichos de atuação para evitar a competição com vinícolas maiores; e iv) adaptativo: vinícolas com maior nível de desenvolvimento, internacionalizadas e participantes do Wines of Brasil, que almejam uma melhora de seu desempenho por meio da coopetição. Apesar de o Wines of Brasil ter proporcionado a congregação das vinícolas e entidades em busca de um objetivo comum – promover o vinho brasileiro no exterior – não se percebe a adesão uniforme e total das vinícolas que pertencem ao projeto. Todos os relatos são unânimes em apontar a alta competitividade da indústria e a dificuldade de estabelecer esforços conjuntos, motivada principalmente pela gestão familiar e por aspectos culturais da região. De acordo com Lawrence (1999), a própria natureza das instituições e do seu ambiente influencia as estratégias institucionais que, por sua vez, redesenham suas posições competitivas de acordo com as estruturas sociais que as legitimam ou as contestam perante o grupo. Prova disso é que existem vinícolas menores que admitem não ter recursos organizacionais para assumir um comprometimento com o projeto, optando por trabalhar somente no mercado interno; enquanto outras, mesmo com restrição de recursos, enfrentam os desafios impostos pelo processo de internacionalização, contestando as normas de prática dentro do arranjo institucional. Para outras instituições formais, o esforço e o investimento em participar do processo de internacionalização são considerados inócuos. Nesse caso, o Wines of Brasil é interpretado como um projeto elitista, que prioriza somente as demandas de poucas grandes vinícolas, ignorando as necessidades das pequenas firmas que mais precisariam de suporte. Dessa forma, são ampliadas as diferenças competitivas, além de excluir a maior parte do mercado produtor e desestimular o empreendimento familiar. Uma visão intermediária considera que as vinícolas devem se apropriar dos benefícios do projeto, porém, à medida que atingem um estágio de maturidade no seu processo de internacionalização, devem se desvincular dele. Nesse caso, vinícolas que constituem um rol de competências internas por meio das opções estratégicas e da rede de relacionamentos providas pelo Wines of Brasil deverão emancipar-se, sem prejudicar vinícolas menores, que ainda se encontram no início de uma curva de aprendizado do processo de internacionalização. Para tanto, as capacidades específicas de uma firma e o seu poder de propagá-las para gerar novas competências são essenciais para manter sua sustentabilidade (TEECE; PISANO, 1994). Todavia, para Zen et al. (2013), a apropriação de recursos gerados pelo Wines of Brasil ocorre de maneira heterogênea e assimétrica entre seus participantes. Em outro extremo, o Wines of Brasil é tido como uma concepção de aprendizado, em que há oportunidade desde para vinícolas sem qualquer experiência internacional (por meio do Programa Primeira Exportação) até para vinícolas já com estágios avançados de internacionalização. Inclusive, planeja-se criar um segmento intermediário para vinícolas que já exportaram, mas que não possuem regularidade nesse tipo de operação. Atualmente, as vinícolas dependem mais de recursos e comprometimento para atingir seus objetivos, além de oportunizar espaço para novas firmas no mercado internacional. No entanto, essas mesmas vinícolas que desejam ser internacionalizadas enfrentam o dilema de optar por fortalecer-se, inicialmente, no mercado doméstico ou buscar novos clientes no mercado externo. Por fim, a inserção do projeto em uma indústria heterogênea, com elevados desníveis de recursos humanos, financeiros, logísticos propicia uma dificuldade de aderência junto aos potenciais participantes. Para reduzir esse desequilíbrio, a participação das instituições formais torna-se preponderante, principalmente em caráter supranacional. De acordo com Gao et al. (2010), as instituições nos países emergentes possuem um papel relevante na estratégia e no desempenho dos investimentos domésticos e estrangeiros das firmas que competem internacionalmente, assim como para Dunning e Lundan (2008, 2010), o sistema institucional somente será eficiente mediante a interação entre as instituições formais e informais. 6 CONCLUSÕES E LIMITAÇÕES A fim de analisar os relacionamentos de coopetição na indústria vinícola do Rio Grande do Sul, o presente estudo se utilizou de diversas informações de entidades e vinícolas de diferentes porte e estágios de internacionalização. O estudo permitiu constatar, ao longo da revisão da literatura e das entrevistas, evidências de relacionamentos de coopetição entre as firmas, mesmo em uma indústria fragmentada em inúmeras instituições formais e caracterizada por intensa competitividade, tanto no mercado doméstico quanto no cenário internacional. Assim como as vinícolas da Serra Gaúcha tiveram de modificar suas estratégias de relacionamento para competir no mercado externo, elas também promoveram adaptações nas suas estratégias de marketing internacional influenciadas pelas instituições formais. Reformular esse conceito, em uma indústria exportadora incipiente, exigiu grandes esforços das entidades institucionais envolvidas. Esse esforço conjunto – de promover o vinho brasileiro no mercado internacional – tem importante papel dentro da indústria vinícola; ou seja, há uma valorização do produto de acordo com seu país de origem. Logo, a internacionalização deixa de fornecer somente objetivos como expandir mercados, aumentar faturamento ou ampliar lucros, e passa a ser de construir rede de relacionamentos e gerar aprendizado. A partir dessa evolução das vinícolas, são geradas fontes de competitividade para almejar novas metas mais ambiciosas, de maneira a tornar as vinícolas brasileiras atuantes e representativas no mercado internacional. Imbuídas dessa legitimidade dentro da indústria, firmas utilizam as estruturas sociais para assumirem uma liderança institucional e redesenharem as posições competitivas (LAWRENCE, 1999). Assim como o Ibravin assumiu o papel de entidade proponente na indústria, congregando todas as entidades institucionais, principalmente por meio do Wines of Brasil, as maiores vinícolas obtiveram êxito por meio de estratégia idêntica. Há de ser considerado que nem todas vinícolas que estiveram presentes na primeira reunião ainda existem de maneira independente (a Lovara e a De Lantier foram incorporadas), ou seja, ter começado junto com o Wines of Brasil não foi garantia de sucesso. Além disso, o Wines of Brasil é focado na internacionalização do vinho brasileiro e, ainda, a participação do mercado internacional tem pouca representatividade para as firmas nacionais. Posto isto, compreende-se que participar do Wines of Brasil não é garantia de sucesso. Em contrapartida, não estar presente é estar mais distante do êxito, pois há uma menor apropriação de conhecimento, aprendizado e da rede de relacionamentos oferecida. Em troca, a aquisição desses benefícios exige investimento e empenho por parte das firmas. Essa ideia pactua com Teece e Pisano (1994) ao afirmarem que um recurso se torna valioso dependendo da forma como é utilizado. Quanto aos entrevistados, observa-se que as vinícolas já obtiveram benefícios com a participação no projeto, uma vez que muitas só tiveram acesso a feiras internacionais e rodadas de negócio pela articulação do Ibravin junto aos órgãos financiadores e representantes do governo federal no exterior. Apesar de a iniciativa ter sido criada por entidades institucionais, as interações coopetitivas entre os participantes têm criado a chamada vantagem coopetitiva (PADULA; DAGNINO, 2007). Isso difere da orientação focada na vantagem competitiva que visa ganhos individuais e comportamento egoísta por parte dos agentes (PORTER, 1985). As empresas cooperam para criar valor, mas competem para dividir os resultados, em um novo contexto em que os agentes têm de cooperar e competir para sobreviver. No caso do setor vinícola, essa situação aplica-se somente ao mercado externo. Sendo assim, a cooperação não exclui a existência de pressões competitivas (PADULA; DAGNINO, 2007). A colaboração competitiva reduz custos, riscos e incertezas associadas com o desenvolvimento de novos produtos durante o processo de internacionalização. Na maioria das vezes, é muito oneroso para uma firma desenvolver e penetrar em um mercado de forma isolada (LUO; SLOTEGRAAF; PAN, 2006). Para as firmas do setor, a tecnologia não é um fator restritivo, porém, a colaboração permite acessar mercados e ampliar o conhecimento no âmbito comercial. Ademais, a coopetição permite enfrentar ameaças e dificuldades institucionais, principalmente as originadas das diferenças entre os ambientes doméstico e estrangeiro (LUO, 2005). Verschoore (2004) salienta a dificuldade em lidar com uma rede heterogênea que desenvolve diferentes expectativas, objetivos e estilos de administração. Entre as vinícolas, observa-se a competitividade acirrada no setor, que não distingue a diferença entre as firmas. Apesar de os casos apresentados terem sido discutidos à luz da teoria, este estudo apresenta limitações: (a) foram entrevistados 21 representantes de vinícolas e entidades da indústria, não contemplando todos os envolvidos do ambiente institucional; (b) torna-se relevante verificar a aplicabilidade de outros modelos de estratégias de relacionamento entre os participantes da indústria vinícola. Como sugestões de pesquisas futuras, indica-se focar em outras regiões vinícolas do Brasil, assim como explorar como decisões de cunho político influenciam nas instituições formais que coordenam a indústria vinícola, proporcionando um novo olhar a internacionalização dessas firmas. COOPETITION IN INTERNATIONALIZATION OF THE WINE INDUSTRY IN THE GAUCHO HIGHLANDS WITH THE SUPPORT OF FORMAL INSTITUTIONS ABSTRACT With the rise of international competition in the Brazilian wine market, Brazilian wineries were forced to question their strategies and try to aim at the foreign market as an alternative to reinforce their competitiveness. Thus, the present study aims to analyze the coopetition strategy adopted by wineries in the Gaucho Highlands with the support of local formal institutions in order to promote their internationalization. Therefore, a multiple case study was carried out using 21 interviews with wineries and organizations from this sector. A discourse analysis was used to analyze the data and was based on the following categorization: industry characterization, national and international market, internationalization process, and institutional environment. Using this categorization, several interpretations become visible regarding the sector-based project Wines of Brasil, originated from a Brazilian Wine Institute (Ibravin) and Brazilian Trade and Investment Promotion Agency (Apex-Brazil) initiative. Regardless its relevance to the industry and to the promotion of coopetition, Wines of Brasil was not yet adhered by all involved, as it is seen both as a project promoting internationalization homogeneously, through a coopetitive advantage, and widening the differences between larger and smaller wineries. Keywords: Coopetition. Internationalization. Formal institutions. Wine industry. Wines of Brasil. REFERÊNCIAS ABDALLAH, F.; WADHWA, A. Collaborating with your rivals: identifying sources of coopetitive performance. Copenhagen: Copenhagen Business School, 2009. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2011. BENGTSSON, M.; KOCK, S. Cooperation and competition in relationships between competitors in business networks. 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