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ENGATINHANDO NO PRIMEIRO ESTÁGIO: PRIMEIRAS ATIVIDADES E
POSSÍVEIS CONFLITOS
Jane Leite Conceição Silva¹
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo relatar todas as principais atividades efetuadas
por um estagiário de biblioteconomia na Biblioteca da Saúde Mulher e da
Criança ainda no começo de sua graduação, exemplificando como cada tarefa
tem relevância na vida profissional e os empecilhos causados quando ocorre o
conflito entre a vivacidade do aluno e o profissional limitado a sua antiga
formação e como isso pode e deve ser contornado.
Palavras-chave: Relato de experiência. Atividades. Atualizações. Práticas da
profissão. Conflitos.
1 INTRODUÇÃO
O Instituto Fernandes Figueira (IFF) é reconhecido pelo Ministério da
Saúde como Centro Nacional de Referência e pelo Ministério da Educação,
como Hospital de Ensino. Nele funciona a Biblioteca da Saúde Mulher e da
Criança, a BibSMC, que integra a Rede de Bibliotecas da Fundação Oswaldo
Cruz – Fiocruz. O público principal é formado por profissionais da saúde, entre
médicos, enfermeiros e pesquisadores, também fazem parte do grupo os
residentes e os alunos de pós-graduação (especialização, mestrado e
doutorado e ainda outros funcionários do hospital). A instituição não possui
apenas exemplares da área de saúde relacionados a mulheres ou crianças,
porém é sua especialidade. Grande parte do acervo é composto por periódicos,
dissertações, teses e monografias feitas por alunos e do IFF, e são tão
consultados quanto os livros.
2 RELATO DE EXPERIÊNCIA
Usando como base o estágio oferecido na Biblioteca da Saúde da
Mulher e da Criança, o primeiro contato do estagiário é o setor de referência,
neste setor além de auxiliar os usuários em geral na sua pesquisa utilizando os
livros e também teses, dissertações e monografias internas e externas, é
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função do setor explicar a utilização de bases de dados especializada na área
médica como Capes, Pub med, a Biblioteca Virtual de Saúde - BVS, entre
outras.
Foi oferecido o curso Fonte de Acesso a Informação na Área de Saúde,
no período de Novembro e Dezembro de 2011 pelos bibliotecários Sérgio
Ricardo Ferreira Sindico, Viviane Santos de Oliveira Veiga, e Giovania Santos
de Jesus, sobre a utilização da base de dados da Biblioteca Virtual em Saúde
(BVS), com o intuito de esclarecer dúvidas e mostrar que sendo utilizada de
forma correta o acesso às informações oferecidas pela BVS são muito mais
claras e objetivas. As declarações dos palestrantes e organizadores
exemplifica muito bem que a importância ao acesso correto a base de dados,
não apenas pelos profissionais da saúde como pelos bibliotecários, é
essencial.
Na fala de Sérgio Síndico, chefe da biblioteca, é possível notar a
importância da relação profissional e usuário:
Os bibliotecários funcionam como facilitadores, eles são uma forma
de mediação, são como pontes entre os usuários e a informação, são
os que fazem o trabalho de formiguinha na organização do
conhecimento por trás das ferramentas disponíveis. A especialização
na fonte de dados é essencial para o profissional, em áreas como
direito e saúde que são mais organizadas, agora para o usuário,
devido à enormidade de fontes é importante saber filtrar para não ter
informações
em
demasia
ocasionando
um
não
possível
aproveitamento e também não ficar preso somente a fontes muito
comuns, como o Google
A
bibliotecária Viviane Santos, idealizadora do curso, vê algo em comum
para os dois grupos:
A competência informacional proporciona, tanto ao usuário em geral
quanto ao bibliotecário, o acesso adequado à informação. Quando
não há este conhecimento a BVS é subutilizada. Muitas vezes o
usuário faz a busca e diz que não há nada sobre aquele assunto na
BVS simplesmente porque não soube pesquisar. Saber operar as
bases garante você conseguir a informação caso a base a tenha.
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Giovania de Jesus, bibliotecária e responsável pelos estagiários, enfatiza a
parte prática do curso.
O bibliotecário e o usuário interagem, onde o primeiro faz seu
trabalho ao mostrar ao segundo a forma correta de fazer a pesquisa
eliminando as redundâncias, visto que as bases de dados
consultadas no curso são multidisciplinares, e faz o usuário otimizar o
seu tempo colocando em prática o que aprendeu com o bibliotecário.
Além do auxilio na pesquisa, é da responsabilidade do estagiário a
guarda dos livros, trabalhos acadêmicos em geral e periódicos; para um
principiante essa ação que em um primeiro momento parece simples e sem
importância, torna-se essencial na formação do aluno, é através dessa tarefa
que ele já obtém a noção de como funciona a lei de Dewey, além disso,
explicar aos usuários como localizar um livro no acervo também depende da
simples tarefa de guardá-lo. A busca do mesmo remete a outra questão o
catálogo, através do site da biblioteca (www.fiocruz.br/bibsmc) (FIG.1) existe a
possibilidade de acessar todo o material citado e também o acervo de DVDs. A
biblioteca em questão trabalha com o sistema Aleph, o catálogo (FIG.2) é
composto pelo acervo das seguintes bibliotecas: Biblioteca da Saúde da Mulher
e da Criança, Biblioteca de Ciências Biomédicas e Biblioteca de Saúde Pública,
apesar de contar com mais três bases de dados (Catálogo de Autoridades
Fiocruz, Produtores Científicos e Lilacs) infelizmente não podem ser utilizadas,
já que a versão em uso não é a atual, o que deixa indisponível muitos dos
recursos que um sistema como esse pode oferecer.
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FIGURA 1 – Site da biblioteca da Saúde Mulher e Criança
Fonte: site da Fiocruz, 2012
FIGURA 2 – Catálogo da rede de bibliotecas da Fiocruz
Fonte: Site da Fiocruz, 2012
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Todos os itens com exceção dos periódicos recebem uma etiqueta na
lombada para facilitar sua localização no acervo, algo comum nas bibliotecas, o
diferencial fica na explicação dada aos usuários, como nem sempre eles estão
muito certos sobre o que realmente querem, acabam por utilizar a informação
do motivo da numeração na etiqueta para achar exemplares que ampliam sua
pesquisa junto com a utilização do catálogo. Não é a mais adequada forma de
pesquisa, mas parece que tem ajudado na pesquisa de alguns usuários e
também dos alunos que acabam que quase inconscientemente gravando a
tabela de Classificação Decimal de Dewey.
Sendo assim, é de grande importância que as etiquetas estejam sempre
legíveis, de fácil visualização, na lombada ou capa dependendo do exemplar, e
o mais importante estarem corretas, a classificação errada de um livro ou a
digitação incorreta da etiqueta pode atrapalhar uma pesquisa. Essa é mais uma
atividade onde é possível perceber que existe uma relevância, apesar de sua
pouca valorização, não apenas sua confecção, aplicação como também sua
retirada de forma correta para não causar um dano ao material.
Por se tratar de uma biblioteca pública, a BibSMC recebe doações de
itens especializados e também faz compras com a verba disponibilizada pela
União, través do orçamento anual destinado a Fiocruz. Todo item bibliográfico
e multimídia recebido por doação ou compra precisa ser tombado, esse registro
é feito também pelo estagiário em alguns momentos. A busca do material
bibliográfico é feita por um bibliotecário responsável, o que não impede de
algumas vezes essa função seja efetuada pelo estudante de biblioteconomia.
Como a intenção neste estágio é fazer com que o graduando passe por
todas possíveis práticas de um bibliotecário, ou a maioria delas, existe uma
atenção também para as atividades administrativas, sendo assim, o aluno fica
também responsável pela preparação e envio de memorandos para outras
instituições, avisos para usuários internos e externos da instituição, pesquisa
de preços de alguns materiais para o melhor funcionamento da biblioteca.
A biblioteca por ser especializada em saúde possui assinaturas de
diversas revistas da área, os exemplares chegam com periodicidade diferente,
o processo de inserção na base de dados é uma das atividades que mais
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necessitam da atenção do estagiário, um pouco enfadonha e cansativa, mas
necessária; ainda é utilizado o registro manual no kardex para controle, algo
que futuramente precisa ser substituído por algo simples como outro kardex,
porém informatizado, a justificativa dada para permanecer com o controle
manual é a segurança que ele passa em relação à quantidade considerável de
obras muitos antigas, presentes no acervo, ele é visto pelos bibliotecários da
biblioteca como um backup físico.
Mensalmente é realizado um levantamento estatístico de diversos dados
referentes à BibSMC, como por exemplo, número de usuários internos e
externos, número de pesquisas atendidas, livros emprestados, informações por
telefone, empréstimo feito a outras bibliotecas, entre outras, essas informações
são recolhidas e alimentam a planilha de estatísticas, é através dos dados
dessa planilha que são feitas algumas alterações necessárias para um maior
aproveitamento dos recursos da biblioteca e uma melhor relação entre a
mesma os usuários e também os bibliotecários.
Um inventário (FIG. 3) é realizado todo ano na biblioteca, porque mesmo
sendo feito um controle e as providencias disponíveis, alguns usuários não têm
o mesmo zelo e muitas vezes perdem ou não devolvem os exemplares, para
piorar, mesmo a biblioteca possuindo um bom sistema de alarme alguns itens
“desaparecem” do acervo. Todos esses lamentáveis fatos ocasionam diversos
problemas, como por exemplo, o acervo fica incompleto e o constrangimento
causado quando um usuário utiliza a ferramenta de busca, o catálogo on line, e
verifica que consta o exemplar, contudo ao ir buscá-lo constata o seu
desaparecimento, e com isso há um transtorno.
Caso esse item esteja
emprestado para tentar recuperá-lo junto ao usuário é enviada uma
correspondência de cobrança, contato via telefone e email, essa tarefa também
faz parte das atividades do estagiário, além de ter que retirar o item do catálogo
e tentar comprá-lo novamente, infelizmente nem todo o acervo ainda está
disponível, e mesmo quando é possível comprar se torna um custo extra no
orçamento.
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FIGURA 3 – Material durante inventário
Fonte: Biblioteca da Saúde Mulher e Criança, 2012
Anualmente são confeccionados quatro informes bibliográficos, neste
folheto consta a relação dos livros recém adquiridos pela biblioteca, ele é
composto pelos seguintes elementos do exemplar: título, nome do autor,
editora, local de produção, ano, página etc., ou seja, a referencia completa e
também consta um resumo do conteúdo do item e sua capa. Este impresso é
preparado por dois bibliotecários e um estagiário, além da versão em papel
distribuída gratuitamente, ficam disponíveis as mesmas informações no site.
No começo do curso, o aluno não está familiarizado com as atividades
práticas da profissão, o contato fica limitado aos fundamentos e ainda assim na
teoria, o que facilitará a prática das atividades que futuramente irá exercer após
a formação, será o estágio. É muito importante as instituições terem a
consciência que ainda que o aluno não tenha nenhuma experiência, eles
contam com uma vantagem, estão livres de vício trabalhistas, estão com as
mentes livres para serem moldadas da forma como a instituição prefere.
Mesmo sem experiência o estagiário leva para a instituição propostas de novas
técnicas, novos cursos; por estar em contato constante com diversos
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professores, alunos, profissionais e também poder participar de encontros e
congressos referentes à área com mais freqüência que os já formados, ainda
assim, encontra resistência de alguns bibliotecários mais antigos que se
fecham para o novo.
Em todas as áreas é importante sempre procurar atualizações através
de cursos, encontros e até mesmo contato com outros profissionais. É
inadmissível um profissional em biblioteconomia que se fecha para o mundo, a
área está em constante mudança. A Federação Internacional de Informação e
Documentação (FID) criou em 1991 o Grupo de Interesse Específico sobre
Papéis, Carreiras e Desenvolvimento do Moderno Profissional da Informação
(SIG FID/MIP) que pesquisou e traçou o perfil ”moderno” do profissional da
área mundialmente. A FID constatou um redimensionamento da posição do
profissional que para ser considerado “moderno” teria que realizar um esforço
ainda mais em uma educação continuada, capacidade em atuar em equipe e
boa adaptação organizacional.
No momento em que começa o primeiro estágio o aluno está ávido por
informações e conhecimento, ele quer aplicar o pouco que sabe, quer ver na
prática o que ouviu dos alunos mais experientes. Ainda seguindo a pesquisa da
FID, se um profissional “moderno” é aquele que além de se manter em
constante aprendizado sabe principalmente trabalhar em equipe, não faz
sentido este mesmo bibliotecário não interagir com o estagiário, apenas por
sua falta de experiência, ao abrir sua mente para o que este novato tem a
dizer, mesmo que não tenha nada a acrescentar, o que parece difícil, ele
ajudará a levantar e debater questões talvez até o momento ainda não
pensadas, por possuir uma visão do contexto completamente nova.
3 CONCLUSÃO
É possível então concluir que as atividades desenvolvidas no estágio,
algumas simples outras nem tanto, tem o papel de formar a base profissional, o
tipo de atividade desenvolvida será determinante para decidir se será um
profissional adaptável ou não, a vida do estagiário é o que se pode chamar de
“faz tudo” e apesar de parecer errado, em muitos casos é o diferencial para
uma vaga de emprego, afinal uma empresa irá preferir ter um funcionário que
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sabe fazer de tudo um pouco, o que o torna independente dentro da empresa,
a contratar outro que só possui experiência em duas ou três atividades voltadas
a sua profissão. Ainda no contexto das questões estagiárias, é compreensível
que um profissional formado há muitos anos tenha uma dificuldade em interagir
com as mudanças constantes na profissão, mas também é necessário ressaltar
que essa dificuldade é pior para quem não faz as atualizações necessárias,
não basta fazer os cursos e não for colocá-los em prática. Os fundamentos da
biblioteconomia, além do trabalho dos copistas foi fornecer informação com o
intuito de ajudar, e se para isso for necessário fazer um upgrade de
conhecimento, melhor. É preciso não se fechar em um mundinho solitário e
perceber que a profissão do bibliotecário é exatamente a disseminação correta,
clara, objetiva não só para o usuário mas também para seus colegas de
profissão.
Referências
ARRUDA, Maria da Conceição Calmon; MARTELETO, Regina Maria; SOUZA,
Donaldo Bello de. Educação, trabalho e o delineamento de novos perfis
profissionais: o bibliotecário em questão. Revista da Ciência da Informação,
Brasília, v. 29, n. 3, p.14-24, set. 2000. Disponível em:
< http://revista.ibict.br/ciinf/index.php/ciinf/article/view/213/188>
Barros, Moreno. História da biblioteconomia. Disponível em:
<http:/bsf.org.br/2009/02/08/historia-da-biblioteconomia/%20>. Acesso em: 15
fev. 2012.
OLIVEIRA, Lucia Carvalho de. Fundamentos teóricos e estatuto científico da.
Crb-8, São Paulo, v. 1, n. 5, p.66-85, jan. 2012. Disponível em:
< http://revista.crb8.org.br/index.php/crb8digital/article/viewFile/71/73>
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XIV EREBD SUL Jane Leite