SISTEMAS
ADESIVOS ATUAIS: CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS E
APLICABILIDADE EM ODONTOPEDIATRIA
CURRENT
ADHESIVE SYSTEMS: PHYSICAL CHEMISTRY CHARACTERISTICS AND
APPLICATIONS IN PEDIATRIC DENTISTRY
Maria Carolina Vasconcelos Fecury1
Fernanda Vieira Belém1
Flávia Mendes Tourinho1
Cláudia Valéria de Sousa Resende Penido2
Roberval de Almeida Cruz2
Resumo: O surgimento dos sistemas adesivos revolucionou a prática odontológica, oferecendo novas
alternativas de tratamento restaurador, com preservação de estrutura dentária sadia. No entanto, a evolução
destes adesivos, com a introdução de variadas opções ofertadas pela indústria especializada, gera constantes
dúvidas relacionadas à seleção adequada desses materiais para os diversos procedimentos clínicos. Assim, foi
realizada a revisão de literatura a respeito dos mecanismos de união aos substratos dentários dos sistemas
adesivos das últimas gerações, a fim de proporcionar ao odontopediatra o conhecimento necessário para realizar
análise criteriosa no momento da escolha do sistema adesivo que apresente eficácia clínica e satisfatória relação
custo-benefício.
Unitermos: Adesivos Dentinários; Dentina; Esmalte dental.
INTRODUÇÃO
O aparecimento e desenvolvimento dos
sistemas adesivos modificaram inteiramente a prática
odontológica, alterando os conceitos de preparo
cavitário e possibilitando a realização de restaurações
estéticas com maior conservação da estrutura dentária
remanescente sadia (Reis et al., 2001).
A adesão eficiente entre material restaurador e
tecidos dentários, além de favorecer retenção necessária
à restauração, resolveria em grande parte o problema
de lesões de cárie secundárias provenientes de
microinfiltração, como também o de sensibilidade pós-
operatória, manchamento de margens, irritação pulpar,
entre outros (Pereira et al., 1999).
Em esmalte dental, a adesão tem sido bem
sucedida desde a introdução da técnica do
condicionamento ácido. Por outro lado, na dentina
ela é menos previsível, tendo em vista sua ultraestrutura tubular úmida e composição orgânica de seu
substrato (Swift et al., 1995).
Vários são os sistemas adesivos
constantemente lançados no mercado, cada um com
seu modo de ação particular, sendo hoje,
indispensáveis na prática clínica diária, gerando
1
Mestre em Odontopediatria pela PUC Minas
2
Doutores em Odontopediatria pela UNESP e UERJ. Professores Adjuntos da FO/PUC Minas
Arquivo Brasileiro de Odontologia
144
oportunidades de novas alternativas de tratamento e
caracterizando a chamada Odontologia Adesiva
(Scavuzzi et al., 2001).
Este trabalho tem por objetivo revisar a
literatura sobre os mecanismos de união dos sistemas
adesivos das últimas gerações com os substratos
dentários. Dentre estes sistemas, podem ser citados:
os adesivos de 4ª geração (multi-frascos), 5ª geração
(frasco único) e 6ª geração (autocondicionantes).
Além disto, aborda a indicação de cada um deles,
visando auxiliar o profissional na seleção adequada
do sistema adesivo que seja capaz de suprir suas
dentina. Este fato tornou possível a execução de
restaurações mais estéticas, com melhor selamento
marginal, resistência e maior longevidade que aquelas
realizadas com os sistemas adesivos das gerações
anteriores. Recentemente foram introduzidos no
mercado os adesivos autocondicionantes, capazes de
atuar ao mesmo tempo como condicionadores de
esmalte / dentina e como primers, não havendo a etapa
de lavagem. Desta forma, a smear layer e a
hidroxiapatita dissolvidas pelo adesivo ficam
incorporadas a ele (van Meerbeek et al., 1994; Reis
et al., 2001; Garone Filho, 2002).
necessidades clínicas.
O principal mecanismo de retenção dos atuais
sistemas hidrofílicos é fundamentado em sua
REVISÃO
capacidade de penetrar na rede de fibras colágenas
DA
LITERATURA
OS SISTEMAS ADESIVOS
resultante da desmineralização da dentina, formando
uma camada híbrida de colágeno, hidroxiapatita e
Os sistemas adesivos atuais compõem-se de
resina, originada pela difusão de resina na dentina
um conjunto de materiais que, aplicados de forma
previamente condicionada por ácido (Nakabayashi
et al., 1991).
seqüencial, promovem a adesão à dentina e ao esmalte
dental simultaneamente, a saber: 1) agente
condicionador - substância de natureza ácida; 2)
primer - substância hidrofílica que torna a superfície
mais receptiva à adesão, aumentando a capacidade
APRESENTAÇÃO DOS SISTEMAS ADESIVOS
Adesivos de condicionamento ácido total
de umedecimento da superfície dentinária; 3) adesivo
São os sistemas adesivos de 4ª e 5ª gerações,
- substância hidrofóbica também chamada resina fluida
também conhecidos como convencionais. Preconizam
ou bond, que liga o complexo esmalte/dentina
o condicionamento ácido total de esmalte e dentina,
condicionados e primer à resina composta (Teruya
separadamente dos outros passos operatórios.
& Corrêa, 2001). Podem apresentar os três
No esmalte dental, o condicionamento ácido
componentes separados ou associados entre si, o que
promove a desmineralização seletiva dos prismas,
determinará sua aplicação em 1, 2 ou 3 passos.
resultando em microporos que aumentam a energia
abrange, além do esmalte dental, a dentina, que é
livre de superfície e permitem o máximo molhamento
desse tecido, promovendo microretenção mecânica
morfologicamente mais heterogênea e fisiologicamente
do material adesivo (Carvalho,1998).
mais dinâmica que o esmalte. Estas diferenças levaram
dentais até os sistemas atualmente disponíveis, que
Na dentina, o condicionamento ácido tem por
objetivo a remoção total da smear layer ou camada
de esfregaço produzida durante o preparo cavitário,
utilizam o condicionamento ácido total do esmalte e
pois esta promove um elo de ligação fraco entre o
A maior parte dos procedimentos restauradores
ao desenvolvimento das várias gerações de adesivos
Arquivo Brasileiro de Odontologia
145
substrato dentinário e o material restaurador (Namen,
ótimos resultados clínicos (Garone Netto, 2003).
1998).
São relatados na literatura diferentes tempos
de condicionamento da dentina de dentes decíduos,
que variam de 5 a 15 segundos. Foi recomendada
a redução do tempo de condicionamento em relação
aos dentes permanentes pois o agente condicionador
tem ação mais intensa na dentina de dentes decíduos,
causando maior descalcificação. Assim, a smear
layer na superfície dentinária de dentes temporários
Sistemas adesivos de 5ª geração (frasco único)
Visando diminuir um passo clínico e minimizar
possíveis erros de técnica, os fabricantes
desenvolveram os adesivos de 5ª geração ao unirem
o primer e o bond em um único frasco. São
empregados em 2 passos, ou seja, condicionamento
ácido e aplicação do primer / bond.
é mais facilmente removida que nos dentes
Inúmeros sistemas adesivos de frasco único
permanentes, quando condicionada por um mesmo
têm sido lançados no mercado, atraindo a atenção
ácido na mesma concentração e tempo. Este fato
dos profissionais, pois a facilidade de uso e rapidez
poderia explicar os menores valores de adesão que
de aplicação são fatores importantes na seleção do
são encontrados em trabalhos de dentes decíduos
material (Perdigão & Ritter, 2003). A simplificação
(Nör et al.,1996; Nör et al.,1997).
da técnica é desejada como um recurso extra na
odontologia, especialmente na odontopediatria,
considerando-se que, nesta especialidade, o
Sistemas adesivos de 4ª geração (multi-frascos)
Apresentam os três componentes separados,
ácido, primer e adesivo, sendo empregados em 3
passos.
tratamento deve ser o mais curto e o menos traumático
possível (Scavuzzi et al., 2001).
Esses sistemas são constituídos de monômeros
hidrofílicos e hidrofóbicos dissolvidos em um solvente
Esses adesivos foram considerados pelos
orgânico do tipo acetona ou etanol, onde o monômero
fabricantes como a evolução dos seus próprios
HEMA (hidrofílico) é um dos principais componentes,
materiais, já que apresentavam resistência de união
na maioria dos casos (Perdigão & Ritter, 2003). Os
mais elevada e confiável (Cabral et al., 1996). Isto
solventes orgânicos, altamente voláteis, dissolvem os
pode ser explicado pela introdução do
monômeros hidrofílicos do primer e os conduzem até
condicionamento ácido total que remove a smear
um íntimo contato com as fibras colágenas expostas
layer, o que não ocorria nos sistemas adesivos das
(Tay et al.,1996), resultando em um entrelaçamento
gerações anteriores. Estudos sugerem que os estresses
micromecânico, que forma uma estrutura mista de
desenvolvidos pelos materiais restauradores durante
matriz colágena envolvida pela resina e alguns cristais
a polimerização excedem a força adesiva da smear
remanescentes de hidroxiapatita, formando a camada
layer à dentina, além do fato desta camada ser úmida,
híbrida (Nakabayashi et al., 1982).
o que diminui de forma expressiva a capacidade de
Alguns fabricantes de adesivos de frasco único
espalhamento do adesivo sobre ela (Namen, 1998).
recomendam a aplicação de duas camadas
Os adesivos de 4ª geração alcançam valores
consecutivas, como por exemplo, o Bond it® (Jeneric
de adesão à dentina entre 15 a 30 MPa em diferentes
/ Pentron, Wallingford, USA), Dentastic Uno®
(Pulpdent, Watertown, USA) e One Step® (Bisco,
tipos de ensaios mecânicos e são empregados com
Arquivo Brasileiro de Odontologia
146
Schaumburg, USA), enquanto outros, aconselham uma
única aplicação após a lavagem do ácido, tais como, o
Excite® (Vivadent, Amherst, USA), OptiBond Solo
Plus® (Kerr, Orange, USA) e o Prime & Bond NT®
(Dentsply, York, USA) (Perdigão & Ritter, 2003).
Vieira & Fukuchi (2002) mostraram que estes
adesivos apresentam força de união pouco inferior à
obtida com os adesivos de 4ª geração, visto que a
penetração do agente de união na dentina não é tão
eficaz. Porém, Giannini et al. (2003), comparando a
resistência de união entre adesivos dentinários de 4ª
e 5ª gerações, verificaram que os mesmos
apresentaram similares médias de resistência ao
cisalhamento.
Com relação à infiltração marginal, Moura et al.
(2000), ao comparar sistemas adesivos de 4ª e 5ª
gerações, encontraram resultados semelhantes entre eles.
Adesivos com fluoretos
Os efeitos do forramento com fluoretos sempre
foram considerados como benéficos, pois caso a
restauração permitisse infiltração, o flúor evitaria a
recidiva de cárie. Em virtude deste fato, alguns
fabricantes têm adicionado fluoreto aos adesivos,
buscando atender os profissionais que se sentem mais
seguros ao utilizarem produtos com este componente,
visto que, atualmente, o uso de adesivos dispensa a
aplicação de forramento, sendo eles próprios
responsáveis por um perfeito selamento que é a
camada híbrida (Garone Filho, 2002). Em estudo
realizado in vitro, Ferracane et al. (1998)
demonstraram que os adesivos podem liberar flúor
nos sítios de microinfiltração de uma restauração.
Adesivos com carga
A adição de carga no adesivo aumenta sua
viscosidade e diminui seu escoamento, além de
produzir uma camada híbrida mais espessa, capaz de
absorver a tensão de contração da resina. Tendo em
vista algumas contra-indicações desta espessura,
alguns fabricantes começaram a produzir adesivos com
nanocarga, ou seja, partículas de tamanho diminuto
(Garone Filho, 2002). Castro et al. (1998),
comparando a resistência à microtração à dentina de
dois sistemas adesivos particulados e um sem carga,
demonstraram não haver diferenças significantes entre
eles. Por outro lado, no estudo de Youssef et al.
(2001) foi demonstrada diferença estatisticamente
significante entre os adesivos com e sem carga, com
maior resistência de união para os primeiros.
Solventes do primer ou do primer / bond
Adesivos que não contêm água como solvente
são mais sensíveis ao substrato mais seco que adesivos
à base desta (Jacobsen & Solderholm, 1998),
devendo ser empregados em superfícies levemente
mais úmidas (Reis et al., 2001). Isto pode ser
atribuído ao fato de que os solventes acetona e álcool
não promovem a re-expansão do colágeno colapsado
pela secagem da superfície (Carvalho et al., 1996) e
ainda aumentam a rigidez do colágeno seco,
impossibilitando ainda mais a infiltração dos
monômeros resinosos (Maciel et al., 1996).
Inversamente, quando presente nos adesivos, a água
pode favorecer a re-expansão das fibras colágenas
colapsadas (Reis et al., 2001).
O tipo de solvente também influencia no
modo de aplicação do adesivo. Adesivos à base
de água devem ser aplicados ativamente,
esfregando-os sobre a superfície dentinária, o que
favorecerá a evaporação mais rápida do solvente.
Por outro lado, adesivos à base de acetona não
devem ser aplicados de forma ativa, pois tal
manobra levaria a uma rápida evaporação deste
solvente, não havendo tempo hábil para favorecer
Arquivo Brasileiro de Odontologia
147
a penetração dos monômeros hidrofílicos na
dentina desmineralizada (Jacobsen & Solderholm,
1998).
sistemas adesivos, pois, ao menos teoricamente, não
haveria uma diferença entre a profundidade de
desmineralização e a penetração dos monômeros
resinosos do primer (Carvalho et al., 1999).
Sistemas adesivos autocondicionantes
Foram recentemente introduzidos no mercado
e são conhecidos, também, por adesivos de 6ª
geração. Diferem de seus antecessores pela ausência
da etapa isolada de aplicação do ácido, visto que o
passo do condicionamento ácido foi agregado à
aplicação dos monômeros adesivos.
Apresentam-se de duas formas: sistemas
autocondicionantes de 2 passos, também denominados
de primers autocondicionantes, onde houve a
associação entre primer e ácido, que é aplicado
primeiramente, seguido da aplicação do adesivo; e
os sistemas autocondicionantes de 1 passo,
conhecidos como adesivos autocondicionantes, nos
quais foram unidos o primer ácido e a resina adesiva,
e uma única solução é aplicada diretamente sobre os
substratos dentários. Alguns sistemas desta última
categoria (como o Prompt L-Pop®, 3M, St. Paul,
USA) apresentam o primer / ácido / adesivo em
compartimentos separados na embalagem a fim de
evitar a alteração dos elementos fotosensíveis pela
substância ácida (Carvalho et al., 2004).
Os adesivos autocondicionantes são
fundamentados em substâncias não lavadas, capazes
de atuar ao mesmo tempo como condicionadores de
esmalte dental e dentina e como primers, impedindo
que ocorra uma camada desmineralizada e não
infiltrada por adesivo, compreendendo que a
desmineralização da dentina e penetração do adesivo
ocorrem simultaneamente. Não existindo a etapa de
lavagem, a smear layer e a hidroxiapatita dissolvida
pelo adesivo autocondicionante, ficam a ele
incorporadas (Garone Filho, 2002). O melhor
selamento da dentina poderia ocorrer com estes
Arquivo Brasileiro de Odontologia
148
Devido ao fato de serem ácidos e não serem
lavados após sua aplicação, poderia-se pensar que
causam uma desmineralização ilimitada dos tecidos
dentários. No entanto, isso não ocorre, pois os tecidos
mineralizados do dente possuem capacidade de
tamponamento das substâncias ácidas do material,
neutralizando, após alguns segundos, sua ação
desmineralizante (Carvalho et al., 2004).
Os adesivos autocondicionantes possuem
valores de união à dentina semelhantes aos adesivos
de condicionamento ácido prévio (Perdigão et al.,
1997; Rosa Jr et al., 2001; Garone Filho, 2002).
Entretanto, o mesmo não ocorre no esmalte dental, onde
os autocondicionantes apresentam valores de união
inferiores e não promovem retenções típicas como as
alcançadas com o uso prévio do ácido fosfórico
(Perdigão et al., 1997; Garone Filho, 2002). Além
disso, alguns autores consideram que estes sistemas
são os que apresentam menor resistência adesiva (Vieira
& Fukuchi, 2002; Rocha et al., 2003).
No que se refere à microinfiltração, alguns
estudos encontraram resultados semelhantes entre
adesivos de 4ª e 6ª gerações (Donassollo et al., 2001)
ou entre sistemas de 5ª e 6ª gerações (Scavuzzi et
al., 2001), enquanto Dutra et al. (2003)
demonstraram maiores valores de infiltração marginal
para os adesivos autocondicionantes.
Seleção dos adesivos dentinários
A seleção e utilização dos adesivos dentinários
envolve análise criteriosa de aspectos relevantes, tais
como sensibilidade técnica, custo apresentado e
eficácia clínica.
A sensibilidade da técnica do sistema é muito
importante e caracteriza-se pela maior ou menor
previsibilidade de resultados obtidos por diferentes
selantes (Feigal & Quelhas, 2003) quanto na colagem
de brackets ortodônticos (Lopes et al., 2003), ambos
com a finalidade de simplificação da técnica.
profissionais, considerando variáveis inerentes ao
processo de adesão. Deve-se também avaliar o custo,
observando-se o volume contido nas embalagens e a
DISCUSSÃO
demanda por diferentes procedimentos na prática
O mercado apresenta atualmente diferentes
produtos, com variadas indicações. Suas
clínica, como por exemplo, procedimentos indiretos.
Além disso, deve ser levada em consideração a
quantidade do produto, não relativa ao volume, mas
sim ao rendimento (Garone Filho, 2002). O adesivo
pode ser considerado eficiente, quando proporciona a
camada híbrida uniforme e contínua, isolando totalmente
a polpa do meio externo e evitando a sensibilidade pósoperatória, que pode também ser decorrente da
utilização clínica inadequada (Carvalho et al., 2004).
Indicações em odontopediatria
Adesivos de 4ª e 5ª gerações:
• Fotopolimerizáveis: São indicados
basicamente para restaurações diretas.
• Duais: São ativados duplamente, tanto
quimicamente, quanto por uso do fotopolimerizador.
São mais versáteis, considerados do tipo multi-uso,
pois podem ser usados em quase todas as situações.
Em Odontopediatria podem ser utilizados para
cimentação de coroas de resina ou colagem de
fragmentos. Também são indicados para cimentação
adesiva de pinos intra-radiculares, devido a
dificuldade da entrada de luz no canal radicular
(Garone Filho, 2002).
Adesivos autocondicionantes - 6ª geração:
• Fotoativados: São indicados quando a
adesão é apenas em dentina, como por exemplo, ao
preencher uma cavidade de dentes preparados para
coroa (Garone Filho, 2002). No entanto, têm sido
utilizados em esmalte dental, tanto na aplicação de
características podem ser visualizadas no Quadro I,
que foi elaborado a partir das informações fornecidas
pelos fabricantes.
Moura et al. (2000), investigando os sistemas
adesivos de 4ª e 5ª gerações observaram que estes se
comportaram de modo semelhante em relação à
infiltração marginal nas cavidades classe V em dentes
permanentes e relacionaram esses achados ao fato de
ambas gerações possuírem mecanismo de ação
semelhante, como remoção total da smear layer e
posterior formação da camada híbrida. Outros estudos
que compararam a microinfiltração entre adesivos de
4ª e/ou 5ª e 6ª gerações demonstraram, também,
comportamento semelhante entre eles (Donassollo et
al., 2001; Scavuzzi et al., 2001). Por outro lado, Dutra
et al. (2003) verificaram valores de infiltração marginal
superiores para os adesivos autocondicionantes.
Apesar da tendência para o emprego dos
sistemas adesivos simplificados, os resultados de
diversos estudos científicos indicaram melhor
desempenho e maior credibilidade a longo prazo para
os adesivos de 4ª geração, que apresentaram melhor
resistência adesiva, eficácia clínica superior e menor
infiltração marginal em comparação com os adesivos
de frasco único e os autocondicionantes (Vieira &
Fukuchi, 2002; Carvalho et al., 2004). Essa diferença
pode ser explicada pelo fato dos sistemas de 4ª
geração tratarem os tecidos dentários
diferenciadamente. No que se refere aos adesivos de
6ª geração Vieira & Fukuchi (2002) concluíram que
não demonstraram eficácia clínica satisfatória,
Arquivo Brasileiro de Odontologia
149
Quadro I - Apresentação de sistemas adesivos de 4a, 5a e 6a gerações
GERAÇÃO PASSOS
NOME
COMERCIAL /
FABRICANTE
Scotchbond Multi-Uso
Plus (3M/ESPE)
4ª
3
Amalgambond
(Parkell)
OptiBond FL
(Kerr)
All Bond 2
(Bisco)
ProBond
(Caulk/Dentsply)
Excite
(Ivoclar/ Vivadent)
Single Bond
(3M/ESPE)
Prime & Bond 2.1
(Caulk/Dentsply)
Prime & Bond NT
(Caulk/Dentsply)
5ª
CARACTERÍSTICAS
POLIME RIZAÇÃO
FLÚOR CARGA SOLVENTE
Foto ou dual
Não
Não
Etanol e água
Foto
Não
Não
Água
Foto
Sim
Não
Etanol
Foto
Não
Não
Etanol e
acetona
Foto
Não
Não
Etanol e
acetona
Foto
Não
Sim
Etanol
Foto
Não
Não
Foto
Sim
Não
Foto
Sim
Sim
Foto
Sim
Não
Acetona
OptiBond Solo Plus
(Kerr)
Foto
Não
Sim
Etanol
Gluma One Bond
(Heraeus Kulzer)
Foto
Não
Não
Acetona
Foto
Não
Não
Água
Foto
Sim
Não
Acetona e
água
Foto
Sim
Não
Água
Foto
Não
Sim
Água
Foto
Não
Não
Água
2
Stae
(SDI)
1
6ª
Adper Prompt L-Pop
(3M/ESPE)
Clearfill SE BOND
(Kuraray)
2
AdheSE
(Ivoclar/Vivadent)
provavelmente devido à ausência de ácido em sua
composição (na verdade contém um monômero
acídico). Este monômero penetra em maior proporção
na smear layer e pouco na malha de colágeno e nos
túbulos dentinários, não oferecendo força de adesão
adequada aos tecidos dentários.
Arquivo Brasileiro de Odontologia
150
Restaurações diretas e/ou
indiretas
em resina, amálgama, metal e
porcelana
Restaurações diretas e reparo em
resina e amálgama
Restaurações diretas e/ou
indiretas em resina, amálgama e
porcelana
Restaurações diretas e reparo em
resina e amálgama, restaurações
indiretas em metal
Restaurações diretas e/ou
indiretas em resina, amálgama,
porcelana,
metal
e reparos
Restaurações diretas e/ou
indiretas em resina, compômero e
cerâmica
Etanol e água Restaurações diretas em resina e
compômero, cimentação de
restaurações indiretas, reparos e
Acetona
tratamento da sensibilidade
cervical
Acetona
One Step
(Bisco)
One Coat Bond
(Coltène)
INDICAÇÕES (de acordo com
o fabricante)
Restaurações diretas e/ou
indiretas em resina, amálgama,
porcelana e metal, reparos e
tratamento da sensibilidade
cervical
Restaurações diretas em resina e
amálgama, reparo de porcelana
Restaurações diretas e/ou
indiretas em resina, amálgama,
compômero e
porcelana,
tratamento da sensibilidade
Restaurações diretas e/ou
indiretas em resina, ionômero,
compômero, cerâmica e metal
Restaurações diretas e/ou
indiretas
em resina, compômero e
porcelana
Restaurações diretas e/ou
indiretas em resina e compômero
Restaurações diretas em resina e
compômero, reparos e tratamento
da sensibilidade cervical
Restaurações diretas em resina,
cerômero e compômero
Ferracane et al. (1998) realizaram estudo in
vitro utilizando adesivo com fluoreto a fim de
observarem se havia liberação do halogênio do adesivo
e penetração na dentina, o que, possivelmente,
promoveria algum nível de proteção contra a
desmineralização e cáries recorrentes. Os autores
concluíram que fluoreto pode ser liberado nos sítios de
microinfiltração de uma cavidade restaurada, o que
sugeriu que a água é necessária para dissolução e
transporte do íon. Além disso, que o halogênio é
absorvido pela camada híbrida. No entanto, os
benefícios clínicos derivados desta absorção e liberação
de flúor ainda não foram totalmente entendidos.
Todavia, Garone Filho (2002) afirmou que não
se deve esperar muitas vantagens decorrentes dos
adesivos com flúor, uma vez que a espessura da
película do adesivo é muito fina e a quantidade de
flúor é pequena, dificultando sua liberação.
Com relação à introdução de nanocargas em
alguns adesivos, segundo Garone Filho (2002) sua
fina espessura de película não permite que funcionem
como amortecedor para contração de polimerização
da resina. Estudos que compararam a resistência
adesiva de sistemas adesivos com e sem carga
encontraram resultados contraditórios. Castro et al.
(1998) mostraram não haver diferenças estatísticas
significantes entre eles, concluindo que a presença de
partículas de carga não foi fator determinante no
desempenho em relação à resistência à microtração.
Por outro lado, Youssef et al. (2001) encontraram
diferença estatisticamente significante entre eles, com
melhores resultados para os adesivos com carga.
Quanto à simplificação dos passos, na
verdade não se verificou economia de tempo gasto
durante o procedimento entre os adesivos de 5ª e 6ª
gerações, pois nos primeiros há necessidade do
condicionamento ácido prévio à aplicação da mistura
primer / adesivo, enquanto nos últimos alguns
fabricantes recomendam aplicar duas vezes a mistura
do agente condicionante / primer / adesivo (p. ex.,
Etch & Prime 3.0® – Degussa, Hanau, Germany).
Entretanto, em pacientes infantis, o uso do
autocondicionante seria interessante nos casos em que
não fosse possível realizar isolamento absoluto, visto
que evitaria o desagradável sabor do ácido durante a
lavagem (Scavuzzi et al., 2001).
A técnica dos adesivos convencionais (4ª e
5ª gerações) envolve a aplicação em 3 e 2 passos,
além de depender da interpretação do aspecto de
umidade da superfície, evaporação do solvente e
modo de aplicação, apresentando maior sensibilidade
técnica em relação aos possíveis erros que possam
ser cometidos pelo profissional em comparação aos
adesivos de 6ª geração. Por este motivo, sua utilização
exige que o cirurgião-dentista tenha conhecimento
profissional e saiba empregar corretamente o material
selecionado (Carvalho et al., 2004).
Os adesivos de 4ª e 5ª gerações estão
disponíveis no mercado em maior escala e com custo
reduzido em relação aos adesivos autocondicionantes,
além de demonstrarem melhor desempenho e maior
credibilidade a longo prazo. (Carvalho et al., 2004).
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Atualmente existe grande variedade de
sistemas adesivos disponíveis comercialmente, o que
dificulta a seleção do material mais adequado a ser
utilizado na clínica odontopediátrica. É possível
constatar que os adesivos dentinários constituem
materiais tão diferentes que torna-se impossível
destacar aquele que apresente maior eficácia em todas
as situações. Cabe ao profissional escolher o material
que possa melhor suprir suas necessidades clínicas e
a responsabilidade de obter o conhecimento de sua
técnica. Ademais, atualizar-se constantemente para
minimizar erros e propiciar maior longevidade aos
procedimentos realizados.
ABSTRACT
The upcoming of the adhesive systems
revolutionized the dental practice, offering new options
Arquivo Brasileiro de Odontologia
151
of treatment and preserving healthy tooth structure.
Castro FLA, Andrade MF, Ahid FJM, Vaz LG.
However, the evolution of these adhesives, with the
Resistência à microtração de dois adesivos
introduction of many options offered in specialized
particulados e um sem carga à dentina. Rev Fac
industry, creates constant doubts connected with the
Odontol Univ Fed Bahia 1998; (17): 37-41.
adequate selection of these materials in various clinical
Donassollo TA, Viganó C, Moura, FRR, Demarco
procedures. A review of literature was done about
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the adhesive’s mechanisms on dental substrate and
adhesivos em dentes decíduos. J Bras Odontopediatr
the current adhesive systems in order to provide to
Odontol Bebê 2001; 4(22): 507-11.
pediatric dentists the knowledge necessary to realize
careful analysis in the moment of choice of the adhesive
system that show clinic effectiveness and satisfying
cost-benefit relation.
Dutra R, Yamada Jr AM, Tanji EY, Myaki SI.
Influência do sistema adesivo na microinfiltração em
restaurações de compômeros em dentes decíduos. J
Bras Clin Odontol Int 2003; 7(37): 45-8.
Fecarrane JL, Mitchem JC, Adey JD. Fluoride
UNITERMS
penetration into the hybrid layer from a dentin
Dentin-Bonding Agents; Dentin; Enamel.
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Recebido em: 10/09/2006
Aceito em: 24/01/2007
Cláudia V. S. R. Penido
Av. Dom José Gaspar, 500 – Prédio 46
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sistemas adesivos atuais : características físico