Nº 1 | 1º semestre de 2015 – Páginas 42 a 47
TABELA PERIÓDICA: CONVIVENDO COM SEUS ELEMENTOS
CHRISTIER ROGÉRIO GOMES1
JUSSIÊ PEREIRA BEZERRA2
RESUMO
A tabela periódica é a base para o ensino de Química, estando dividida entre
diferentes tipos de elementos, classificados em quatro blocos (s, p, d e f) e
baseando-se nas configurações eletrônicas. A compreensão do seu significado e
dos dados contidos é fundamental no ensino de Química. A utilização de meios que
facilitem ou que, de alguma forma, colaborem nessa compreensão, auxiliaria na
abordagem da química principalmente para alunos dos anos finais do Ensino
Fundamental. Neste trabalho, foi avaliada a utilização da Tabela Periódica Interativa
(http://www.merckquimica.com.br), em atividades envolvendo o dia a dia do
estudante. A importância do cálcio na alimentação, o uso da prata em joias e
bijuterias, quantos elementos participam do nosso cotidiano sem se quer fazermos
ideia de sua existência? O trabalho foi realizado pelos alunos do 8º ano do Colégio
Marista de Natal e consistiu na impressão de uma tabela periódica em grande
proporção (2,30m x 2,30m) na qual foram inseridos materiais que continham ou
representassem cada elemento da tabela periódica. Verificou-se uma grande
interação dos alunos e o conteúdo. Estes resultados devem-se, principalmente, à
criatividade e autonomia desenvolvida pelos discentes e sua grande agilidade nas
previsões sobre propriedades e reatividades químicas, bem como na associação
entre o histórico da tabela periódica e a descoberta dos respectivos elementos
químicos.
Palavras-chave: Protagonismo. Química. Ensino fundamental. Tabela periódica.
1
Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Professor de Biologia/Práticas Experimentais do Colégio Marista de Natal; Rua Apodi, Centro, 330,
Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, CEP 59.072-970.E-mail: [email protected]
2
Graduado e mestrado em Química pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Professor do
Colégio Marista de Natal; Rua Apodi, Centro, 330, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, CEP 59.072970.E-mail: [email protected].
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1 INTRODUÇÃO
A Classificação Periódica dos elementos químicos é, sem dúvida, uma das
maiores e mais valiosas generalizações científicas uma vez que ela ajuda a
organizar o que, de outra forma, seria um arranjo confuso de propriedades dos
elementos. O fato de que a estrutura da tabela corresponde à estrutura eletrônica
dos átomos, entretanto, era desconhecido para seus descobridores. A tabela
periódica foi desenvolvida exclusivamente a partir das propriedades físicas e
químicas de seus elementos. Conhecer hoje, 118 elementos químicos diferentes que
estão organizados de forma sistemática, facilita o estudo das suas propriedades e
características. Esta ordenação iniciou-se na década de 1960, mas, de lá para cá,
novos elementos foram incorporados e desse modo a tabela periódica, enquanto
estrutura conceitual, foi gradualmente ampliada, com o desenvolvimento de teorias,
experimentos e técnicas durante os séculos XX e XXI.
Esse artigo tem como objetivo descrever a repercussão de todo o trabalho
realizado pelos estudantes abrangendo os aspectos de ensino-aprendizagem,
interação do grupo e estímulo à pesquisa. Todos foram orientados a predizer as
propriedades dos elementos e verificar como eles podem ser usados para criar os
materiais que nos rodeiam e para projetar novos materiais para as tecnologias de
amanhã.
2 PERCURSO METODOLÓGICO
O presente trabalho é fruto de uma pesquisa bibliográfica, bem como de uma
análise documental, tendo como base livros, artigos científicos, montagem da tabela
pelos alunos, uma vez que a pesquisa bibliográfica é imprescindível para a
realização de estudos históricos.
Segundo Hernandez e Ventura (1998, p. 64), de um modo geral, os centros
de interesse se apoiam num duplo ponto de partida:
[...] por um lado, destaca o princípio da aprendizagem por descoberta, que
estabelece que a atitude para a aprendizagem por parte dos alunos é mais
positiva quando parte daquilo que lhes interessa, e aprendem da
experiência do que descobrem por si mesmos. E, por outro lado, um
princípio da Escola Ativa, que se refere ao exercício da educação como
prática democrática, que outorga às assembleias de classe a decisão sobre
o que se deve aprender.
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Figura 1 – Exposição da tabela periódica durante a CIENTEC/ UFRN.
2.1 MONTANDO A TABELA PERIÓDICA
O início do projeto se deu com a apresentação do desafio de confeccionar
uma tabela periódica gigante em um banner para apresentações futuras como a
CIENTEC 2013 (Feira de Ciência e Tecnologia da UFRN) e a ExpoMarista (Feira de
exposições de trabalhos estudantis do Colégio Marista de Natal). Cada turma de 8º
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ano desafiada e motivada foi responsável pela confecção de sua própria tabela.
Todos os alunos foram orientados a dividirem a quantidade de elementos da tabela
pelo total de alunos da turma. Em seguida, cada aluno realizou sua própria pesquisa
para descobrir a ocorrência dos elementos sorteados na tabela periódica, bem como
a sua utilidade para o ser humano.
Os materiais utilizados para a produção constituem uma etapa atípica do
trabalho, uma vez que foi utilizada uma diversidade de objetos e materiais que
representassem cada elemento específico da tabela periódica, salvo a exceção dos
elementos que compõem a série dos lantanídeos e dos actinídeos por serem estes
radioativos. A diversidade de materiais fluiu desde objetos simples como um palito
de fósforo ou um fio de cobre até um circuito eletrônico de sistemas informacionais.
Todos foram fixados em um banner (dimensões específicas 2,30m x 2,30m) dentro
de um saco plástico transparente, com o auxílio de grampos que perfuraram o
banner para a alocação de cada material em seu respectivo elemento da tabela
periódica.
Desta forma, a tabela apontava a ocorrência de cada elemento da tabela
periódica a partir de materiais ou substâncias que são utilizados em nosso dia a dia.
A proposta é permitir a compreensão da tabela periódica como uma ferramenta de
uso e não apenas um conceito que é meramente verificado e estudado nos livros
didáticos.
3 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
As orientações didáticas dispostas nos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs) propõem que a autonomia é tomada ao mesmo tempo como capacidade a
ser desenvolvida pelos alunos e como princípio didático geral, orientador das
práticas pedagógicas. Projetos como esse induzem o alunado a participar
cooperativamente através da elaboração de conceitos, gestão de pessoal, definição
de metas a serem atingidas, normatização de princípios éticos que abrangem as
diversas formas de relacionamento entre aluno/aluno e aluno/professor.
Promovendo o envolvimento do estudante nesse tipo de interação de sala de aula,
consegue-se despertar muito mais que a sua atenção, e sim a sua efetiva
participação. O aluno agora é capaz de intervir, questionar, acrescentar, criticar,
discordar, gerir, resolver conflitos e até mesmo educar, uma vez que a exigência de
uma postura ética-disciplinar foi requerida por todos para que a montagem da tabela
periódica fosse feita de forma sistemática e organizada.
Foi quebrada, portanto, a barreira invisível da hegemonia do tutor como
mestre absoluto do conhecimento e construiu-se em seu lugar o pilar da autonomia
do estudante, de maneira que este não seja apenas uma “esponja” disposta a
absorver o conhecimento aprendido, ao contrário, o aluno agora é capaz de
perceber-se como corresponsável pelo conhecimento produzido, um agente ativo
cuja atuação, conhecimento prévio e o diálogo foram somados à produção final de
seu trabalho.
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Reis3 comenta sobre a importância do diálogo no processo de ensinoaprendizagem:
[...] Assim, os processos de ensino e de aprendizagem parecem caminhar
para práticas baseadas no diálogo. Esta estratégia possibilita, ao aluno,
descobrir novos conceitos, desenvolver seu raciocínio, assumir e expressar
posicionamentos. É no diálogo que aflora, também, o conflito, ativando,
assim, as discussões e a presença participativa dos alunos.
Além de tudo isso, o estímulo à pesquisa foi fundamental para o sucesso do
trabalho. Muitos sistemas de ensino no Brasil ainda deixam muito a desejar nesse
aspecto. Deixar o estudante descobrir por si mesmo, permitir que ele erre várias
vezes até chegar a um acerto faz parte do próprio método científico, isto é, para
conhecermos a veracidade de uma teoria precisamos testá-la, experimentá-la, e
essa etapa nem sempre é a mais fácil. Os professores orientaram os educandos a
chegarem a uma solução para cada novo enfrentamento e o estímulo à pesquisa
individual e coletiva foi chave fundamental nesse processo. Para tanto, o livro
didático, tanto quanto a internet, teve forte influência na prática de pesquisa.
Entretanto, a internet foi ferramenta crucial para o alcance de informações as quais o
livro didático não pode fornecer.
Os PCNs inclusive estabelecem a importância da internet para a vida
estudantil:
É indiscutível a necessidade crescente do uso de computadores pelos
alunos como instrumento de aprendizagem escolar, para que possam estar
atualizados em relação às novas tecnologias da informação e se
instrumentalizarem para as demandas sociais presentes e futuras.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As tendências atuais da educação brasileira consistem em não mais
reproduzir o sistema mecanicista e obsoleto da educação tradicional vinculada à
mera exposição de conceitos, figuras ou definições preconcebidas, mas em tornar o
aluno o objeto e o sujeito de todo o processo de ensino-aprendizagem, um cidadão
capaz de desenvolver e criticar argumentos, opiniões e ideias.
Atividades extracurriculares como a proposta desse artigo ajudam a explorar
os âmbitos cognitivo, emocional e psicomotor de cada aluno, tornando a sua
aprendizagem muito mais significativa, dando-nos a certeza que, de fato, cada
professor estará contribuindo para o desenvolvimento completo do seu aluno, em
todas as esferas de sua vida.
3
REIS, L. A. C. Trigonometria no triângulo retângulo: o aluno como protagonista na construção do
conhecimento. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia São Paulo – IFSP. Disponível em
<http://sbem.bruc.com.br/XIENEM/pdf/1245_203_ID.pdf> Acesso em: 06 nov. 2013.
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REFERÊNCIAS
ATKINS, P.; JONES, L. Princípios de Química: questionando a vida moderna e o
meio ambiente. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2007.
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Parâmetros Curriculares Nacionais.
Disponível em <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro01.pdf > Acesso em: 06
nov. 2013.
HERNÁNDEZ, F.; VENTURA, M. A organização do currículo por projetos de
trabalho: o conhecimento é um caleidoscópio. 5. ed. Porto Alegre: ArtMed, 1998.
NUÑEZ, I. B.; RAMALHO, B. L. Fundamentos do ensino-aprendizagem das
Ciências Naturais e da Matemática: o novo Ensino Médio. Porto Alegre: Sulina,
2002.
REIS, L. A. C. Trigonometria no triângulo retângulo: o aluno como protagonista
na construção do conhecimento. Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia São Paulo – IFSP. Disponível em
<http://sbem.bruc.com.br/XIENEM/pdf/1245_203_ID.pdf> Acesso em: 06 nov. 2013.
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