MARCOS HISTÓRICO DA CONSTRUÇÃO DA
TABELA PERÍODICA E SEU APRIMORAMENTO
Ana Cristina Frutuoso Vila Nova1, Diana Patrícia Gomes de Almeida2 e Maria Angela Vasconcelos de
Almeida3

Introdução
A Classificação Periódica dos elementos é sem
dúvida, uma das maiores e mais valiosas generalizações
científicas1. Conhece-se hoje 118 elementos químicos
diferentes, que estão organizados de forma sistemática
facilitando o estudo das suas propriedades e
características. Esta ordenação iniciou-se na década de
60, do século XIX, mas de lá para cá, novos elementos
foram incorporados e com isto a Tabela Periódica (TP),
enquanto estrutura conceitual, foi sendo gradualmente
ampliada, com o desenvolvimento de teorias,
experimentos e técnicas durante os séculos XX e XXI.
Este artigo tem como objetivo descrever a evolução
da TP, destacando as descobertas mais relevantes,
sendo a discussão dividida em sete Marcos Históricos:
1º Necessidade de ordenação das substâncias
elementares – segunda metade do século XVIII; 2°
Primeira tentativa de organizar os elementos químicos
a partir dos pesos atômicos; 3° O Congresso em
Karlsruhe, na Alemanha; 4° Classificação após a
segunda metade do século XIX; 5° Classificação de
Lothar Meyer e Dmitri Mendeleiev e 6° Número
atômico como lei independente da TP e 7º
Aprimoramento da TP.
Material e métodos
O presente trabalho é fruto de uma pesquisa
bibliográfica, bem como de uma análise documental,
tendo como base livros, artigos científicos e
monografias, vez que a pesquisa bibliográfica é
imprescindível para a realização de estudos históricos
[1].
Resultados
1° Marco Histórico: Necessidade de ordenação das
substâncias elementares
Durante o século XVIII, os cientistas já contavam
com um número razoável de substâncias conhecidas e
muitas propriedades dessas já haviam sido
determinadas. Sentiu-se então a necessidade de
organizar esses dados de uma maneira funcional [2],
sendo um reflexo do “impulso classificatório”, uma
tendência bastante forte na época para estabelecer uma
sistemática no estudo dos matérias de cada campo
específico.
As primeiras dessas tentativas foram baseadas nas
características e propriedades que as substâncias
elementares apresentavam, uma vez que não se tinha
ainda a idéia da natureza descontinua da matéria, pois a
Química permanecia exclusivamente macroscópica.
Lavoisier, no seu famoso livro Tratado Elementar de
Química, apresenta uma Tabela contemplando 33
substâncias elementares [3].
Além disso, se fazia necessário construir um
nomenclatura para a Química que, diferente da
nomenclatura alquímica, permitisse que todos os
químicos compreendessem a linguagem da disciplina.
A sistematização de Linnaeus, serviu como inspiração
para os químicos franceses que constituírem uma
comissão composta por: Louis-Bernard Guyton (17371816), Claude - Louis Berthollet (1748-1822), Antoine
Fourcroy (1755-1809) e Lavoisier (1743-1794), entre
outros [4]. Essa comissão publicou em 1787, em Paris,
a “Méthode de Nomenclature Chimique”.
2° Marco Histórico: Primeira tentativa de
organizar os elementos químicos a partir do peso
atômico
O primeiro vislumbre de que poderia haver uma
relação entre pesos atômicos e certas propriedades
macroscópicas ocorreram, em 1828, mas de vinte anos
depois da proposição da Teoria Atômica de Dalton.
O químico alemão Johann Wolfang Döbereiner em
1828 observou que ao agrupar certos elementos
químicos com propriedades semelhantes, em seqüência
de três (que chamou de tríades), ocorriam curiosas
relações numéricas entre os valores de seus pesos
atômicos, ou seja, apresentavam uma diferença
constante e uma relação simples entre seus pesos
atômicos quando organizados em grupos de três (Fig.
1). Essa classificação ficou conhecida como as Tríades
de Döbereiner [4].
3° Marco Histórico: O Congresso de Karlsruhe, na
Alemanha
Na primeira metade do século XIX, ocorria uma
intensa polêmica entre químicos atomistas e químicos
equivalentistas. O fim de toda essa discussão teve
início em setembro 1860, com a realização do primeiro
Congresso Cientifico Internacional em Química,
realizado na cidade de Karlsruhe (Alemanha), em
________________
1. Primeira Autora é Mestranda em Ensino das Ciências pela UFRPE e Graduada em Licenciatura em Química pela UFRPE. E-mail:
[email protected]
2. Segunda Autora é Mestranda em Ensino das Ciências pela UFRPE, Especialista em Ensino Interdisciplinar das Ciências pela UFRPE e Graduada
em Licenciatura em Física pela UFPE. E-mail: [email protected]
3. Terceira Autora é desenvolve atividades de pesquisa e extensão na área de Educação e subárea de Ensino-Aprendizagem de Ciências, com ênfase
em Química no departamento de química da UFRPE. Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manuel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos,
Recife, PE, CEP 52171-900.
1860, contando com a presença de cento e quarenta
químicos [5] convocados na tentativa de resolver essa
polêmica.
Uma definição clara sobre os pesos atômicos foi
apresentada por Stanislao Cannizzaro, que, baseado nas
idéias de Avogadro, demonstrou que era possível
encontrar uma solução para o problema dos pesos
atômicos x pesos equivalentes, no seu artigo “Sunto di
un Corso di Filosofia Chimica” publicado no II Nuovo
Cimento, em 1858. Esse artigo não recebeu a devida
atenção antes e durante o congresso.
Contudo, muitos químicos que participaram do
evento, foram tocados pelas idéias de Cannizzaro, entre
eles Mendeleev e Lothar Meyer [2,4,6].
4° Marco Histórico: Classificação após a segunda
metade do século XIX
Mais de 30 anos se passaram depois da lei das
Tríades de Döbereiner, para que fosse feita outra
tentativa em descobrir um padrão entre os elementos
[7]. As novas contribuições vieram de Alexandre-Emile
Béguyer de Chancourtois, William Odling e John
Newlands [2,8].
5° Marco Histórico: Classificação de Lothar Meyer
e Dmitri Mendeleiev
Dez anos depois do Congresso de Karlsruhe, dois
nomes ocuparam lugar de destaque na Historia da
Ciência, pois souberam deslindar o amaranhado de
idéias sobre os pesos atômicos e propriedades que nos
meados do século XIX dominavam as pesquisas [4].
Foram eles, Julius Lothar Meyer e Dmitri Ivanovitch
Mendeleiev, influenciados por Stanislao Cannizzaro.
Ambos tinham o interesse pela classificação dos
elementos por motivos pedagógicos, para ordenar o
conjunto de elementos num manual de Química [5].
Em 1864 Meyer mostrou que a capacidade dos
elementos em formar compostos uns com os outros
variavam periodicamente com o peso atômico. Ele
também examinou as propriedades físicas e químicas, e
particularmente o volume ocupado por cada átomo (o
“volume atômico”), que ele podia calcular a partir da
densidade e do peso atômico [7]. Propondo uma forma
de ordenação da Tabela Periódica (fig.2).
Em 1869 Mendeleiev buscava as relações químicas
entre os elementos químicos de maneira que formassem
uma unidade. Mendeleiev argumentava que o peso
atômico era a única característica fundamental de um
elemento químico, pois este era independente da
temperatura e de outras variáveis. Ele descobriu que ao
dispor os elementos em ordem crescente de peso
atômico (fig. 3) observava uma similaridade entre os
elementos [8].
Sua proposta apresentava alguns avanços científicos:
deixavam alguns espaços vazios, prevendo a existência
de elementos ainda não descobertos; permitia prever as
propriedades que estariam associadas a alguns
elementos ainda não descobertos, graças à sua posição
na Tabela Periódica [4].
6° Marco Histórico: Número atômico como lei
independente da Tabela Periódica
Em 08 de novembro de 1895, o físico alemão
Wilhelm Conrad Röntgen descobriu os raios X [9].
Essa descoberta levou Antoine H. Becquerel a fazer
observações se substâncias fosforescentes ou
fluorescentes emitiam raios X e chegou à conclusão de
que a radiação penetrante era originária do próprio
elemento e não tinha relação com o fenômeno da
fluorescência. Esta radiação, que inicialmente ficou
conhecida como raios de Becquerel, foi chamada de
radioatividade pela polonesa Marie S. Curie em 1898
[10].
A compreensão da estrutura do núcleo do átomo
ganhou terreno com a descoberta da radioatividade. O
físico inglês H. G. J. Moseley estudando a emissão dos
raios X verificou que a radiação X emitida era
característica de cada elemento. Em seus estudos,
mediante técnicas de raios X, Moseley desenvolveu o
conceito de número atômico e interpretou fisicamente a
ordem dos elementos na tabela periódica, fazendo com
que o número atômico passasse a ser a variável
independente da lei periódica, já que antes de 1913 o
que determinada a posição de um elemento na Tabela
Periódica era o seu peso atômico. [10,11].
7º Marco Histórico: Aprimoramento da Tabela
Periódica
A Tabela Periódica atual (fig. 4) possui 118
elementos químicos diferentes, tendo o Ununócio como
último elemento. A partir de 1925, os novos elementos
que entraram para a Tabela Periódica foram produzidos
pelos cientistas, através da fusão de átomos de
diferentes substâncias.
Mas a descoberta mais recente foi publicada
oficialmente e reconhecida pela Union of Pure and
Applied Chemistry (IUPAC), em 2004, que foi a do
elemento químico já previsto com número atômico 112,
tornando o elemento mais pesado de toda a tabela, até
agora.
Descoberta
atribuída
ao
für
Schwerionenforschung do Gesellschaft (GSI) (centro
para a pesquisa pesada do íon) em Darmstadt,
Alemanha [12].
Discussão
Os Marcos Histórico deste trabalho contribui
significativamente para o progresso da Química e a
evolução do conceito de elemento químico, bem como
para novos avanços em pesquisas e descoberta de mais
elementos químicos.
A Classificação Periódica dos elementos químicos
foi e é um trabalho árduo e coletivo, no qual vários
cientistas puderam e podem contribuir para sua
construção. E como a Ciência não caminha sozinha,
sabemos que ela esta inserida no contexto históricosocial, e os fluxos de energias diversas que
acompanham essa explosão de conhecimento, nos
fazem reconhecer que a ciência é um “sistema vivo”, e
que está em constante mudança, como pudemos
observar na descrição do aprimoramento da Tabela
Periódica e na inserção dos novos elementos químicos.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus. À orientação da profª Angela
Almeida e ao Mestrado no Ensino das Ciências da
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
Referências
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
OLIVEIRA, Maria Marly de. Como fazer Pesquisa
Qualitativa. 192. ed. Recife: Bagaço, 2005.
SILVA, S. Dos pesos atômicos à descoberta da lei periódica.
1994. Monografia (especialização em licenciatura em
química)- Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife.
LAVOISIER, ANTOINE-LAURENT. Tratado Elementar de
Química. Tradução Fulvio Lubisco. São Paulo : Madras, 2007.
TOLENTINO, M. et al. Alguns aspectos da classificação
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n 20,1997.
BENSAUDE-VINCENT, Bernadete; STENGERS, Isabelle.
História da Química. São Paulo: Instituto Piaget, 1992.
THUILLIIER, P.. De Arquimedes a Einstein: a face oculta da
invenção da ciência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
Frutuoso, A. C. S. O uso da História nos livros didáticos de
Química: o exemplo da Tabela Periódica. 2006. f. 49.
Tríades
Peso Atômico
Lítio
6,51
Sódio
23,00
Potássio
39,11
Cálcio
20,00
Estrôncio
43,92
Bário
68,54
Cloro
35,5
Bromo
80,0
Iodo
127,0
Enxofre
32
Selênio
79
Telúrio
128
Diferença entre
Pesos atômicos
Monografia (graduação em licenciatura em química)Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife.
8. ATKINS, P.W. O reino periódico: uma jornada à terra dos
elementos químicos. Tradução de Alexandre Tort; revisão
técnica Filadelfo Cardoso Santos. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.
9. HALLIDAY, David; RESNICK, Robert e WALKER, Jearl.
Fundamentos de Física. Tradução: José Paulo Soares de
Azevedo. Rio de Janeiro: LTC, v. 4, 6ª edição, 2001.
10. XAVIER, A. M; LIMA, A. G; VIGNA, C. R. M; VERBI, F. M;
BORTOLETO, K. G; COLLINS, C. H e BUENO, M. I. M. S.
Marcos da história da radioatividade e tendências atuais.
Química Nova. Vol.30, n.1, p.83-91, 2007.
11. MARTINS, Roberto de Andrade. A descoberta dos Raios X: o
primeiro comunicado de Röntgen . Revista Brasileira de
Ensino de Física, v. 20, 1998.
12. Site
da
IUPAC,
acessado
em
26.06.09,
http://www.iupac.org/web/nt/2009-06-26_Uub
Aproximadamente
16,46
16,11
23,92
2 x 8 = 16
3 x 8 = 24
24,62
44,50
6 x 8 = 48
47,00
47,00
49,00
6 x 8 = 48
Figura 3: Tabela de Mendeleiev - 1869
Figura 1. Tríades de Döbereine
Figura4: Tabela Periódica Atual
Figura 2: Tabela de Lothar Meyer
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Trabalho