SEMINÁRIO DA CRB - Identidade e Mística da VRC:
Atitude Profética, Processo Mistagógico – 2015
VIVÊNCIAS MISTAGÓGICAS
Profa. Rosemary Fernandes da Costa
Como podemos aplicar essa experiência da mistagogia em nossos encontros com as crianças e adolescentes?
Sabemos que os primeiros anos de vida são fundamentais para a estrutura da pessoa humana e, também para a
experiência da fé.
Vejamos alguns pontos que consideramos importantes para a Iniciação cristã fundada na experiência mistagógica:
1. A espiritualidade viva e profunda
2. O cotidiano, as situações de vida, as histórias pessoais e comunitárias
3. A dimensão afetiva, interpessoal, corporal
4. A dinâmica grupal: intimidade, confiabilidade e parceria, comunicação hermenêutica
5. O elemento lúdico, criativo
6. A dimensão estética, a linguagem simbólica, litúrgica e celebrativa
7. As narrativas sagradas, os místicos, os caminhos, as tradições
8. A presença do sagrado no mundo – unidade-comunidade
9. A dimensão macroecumênica
10.Revisão e avaliação constantes
11.Ser presença solidária
MISTAGOGIA NO ENCONTRO – Preparando um encontro que tem a Pedagogia da Fé como referência
-comunidade, percepção, diagnóstico
– chave de leitura, orientação fundamental, fazer um pequeno roteiro do que seria
fundamental
experiência de encontro com Deus, consigo mesmo, na própria
existência, com suas relações fundamentais? – reflexão, oração, colocar-se diante do tema, do grupo, de si mesmo,
de Deus
iações – lúdico, simbólico, corporal, litúrgica, ecumênica, bíblica, natureza, reportagens, música,
poesia, texto, fotolinguagem, espelho, cordas, tesoura, durex etc
- momentos:
 Momento – SENSIBILIZAÇÃO - inicial, sensibilização, contato com o tema
 Momento de percepção – VER - percepção, olhar, entrar em contato com um fato da realidade
 Momento: EXPERIMENTAR – contato pessoal/comunitário, como chega em você, como Deus te fala
através dessa experiência
 Momento: EXPRESSAR – canto, dança, gestos, atividade plástica, palavras...
 Momento: INTERPRETAR – revisão pessoal/comunitária, construção de nova síntese, abertura de
novas possibilidades
 Momento: SÍNTESE – oração, oferecimento, revisão de vida, colocar-se diante de si, de Deus, da
comunidade, da história
 Momento: AVALIAÇÃO – palavras/sentimentos geradores
ALGUMAS PROPOSTAS PREPARADAS PARA O CONGRESSO DA VIDA CONSAGRADA – APARECIDA/2015
TEMAS RELEVANTES E DESAFIANTES SELECIONADOS:
1. ÁGUA
2. MISSÃO
3. INTOLERÂNCIA E PAZ
4. CULTURAS
5. SAÚDE
6. NÃO VIOLÊNCIA
VIVÊNCIA MISTAGÓGICA 1 – TEMA GERADOR – ÁGUA
1º. Momento – (5 min.) - apresentação da proposta, relevância do tema, orientações para se ater ao tempo,
contribuições simples e significativas, colaborativas com relação aos demais, compreender que é uma experiência
que não se esgota nesse espaço, perceber o passo a passo, por onde passa a experiência mistagógica.
- no centro do grupo uma vasilha larga com água, sobre um tecido bonito
2º. Momento – (10 min.) - relaxar, postura de 90 graus, costas retas, pés ao chão, mãos descansando sobre o corpo,
sentir o coração batendo, inspirar e expirar, tranquilizar-se - de olhos fechados ouvir o barulho da água, respirar ao
som da água, inspirar e expirar, deixar que venham sentimentos, emoções, enquanto respira
– dois copos, um com água, o orientador passa a água de um copo para o outro – ao mesmo tempo, conduz a
meditação, ou divide esta tarefa com alguém.
3º. Momento – (5 min.) - leitura silenciosa do texto sobre a ÁGUA. Deixar o texto ecoar
4º. Momento – (10 min.) - expressar em 1 palavra o sentimento ou pensamento que está mais forte nesse momento
– registrar em cartolina e colocar no centro do grupo.
5º. Momento – ( 15 min.) - observar as palavras e procurar construir uma pequena síntese a partir das palavras
apresentadas. Pode ser em forma de texto, poema ou oração – registrar em uma folha 40kg branco
6º. Momento – ( 15 min.) - solenemente, uma pessoa ergue a vasilha com água e todos abençoam a água
- Estendamos nossas mãos sobre a água, pedindo as bênçãos de Deus sobre essa força revitalizadora, capaz de nos
reanimar a cada passo e nos conduzir à fonte que sacia nossos corações!
Bendita seja aquela que falou e o mundo se fez
Bendita seja aquela que deu a luz no princípio
Bendita seja aquela que fala e realiza o que o diz
Bendita seja aquela que declara e cumpre
Bendita seja aquela cujo ventre envolve a terra
Bendita seja aquela que vive para sempre e existe desde toda a eternidade
Bendita seja aquela que redime e salva
Bendita seja seu nome!
- Num gesto simples e familiar, abençoemos uns aos outros, marcando com este gesto nosso desejo de paz e bem a
cada um, partilhando nossos sonhos e fortalecendo-nos com a água do Amor de Deus que transborda em nossas
vidas.
A pessoa que ergueu a vasilha vai passando por cada pessoa do grupo, enquanto cada um toca na água e toca a
pessoa que está ao seu lado direito. Procurar deixar que sua mão oriente onde deve tocar no colega, nos olhos, no
rosto, na testa, nas mãos, na nuca, onde ele pode estar necessitando de uma bênção.
- Neste momento, podemos cantar - Irmãos, minhas irmãs, vamos cantar esta manhã, pois renasceu mais uma
vez a Criação das mãos de Deus. Irmãos, minhas irmãs, vamos cantar, aleluia, aleluia, aleluia! Irmã flor, que mal
se abriu, fala do amor que não tem fim, água irmã, que nos refaz e sai do chão cantando assim: aleluia...
7º. Momento – ( 5 min.) - avaliação – palavras/sentimentos geradores
MATERIAL: tecido para o centro, vasilha larga com água, dois copos, texto ÁGUA, cartolinas coloridas
recortadas (5cm x 20cm), pilots, 1 folha de papel 40kg branco
VIVÊNCIA MISTAGÓGICA – TEMA – ÁGUA – TEXTO-SUBSÍDIO
O que é essa crise da água?
Alguns dizem que se trata de escassez e uma população crescente. Outros acreditam que se trata da distribuição,
desperdício e falta de cuidado com a água em uma sociedade materialista e consumista. Outros acreditam que é
devido à privatização dos serviços de abastecimento de água e propriedade - com 95% ainda controlado pelas
atividades do setor público.
Todo cidadão tem o direito natural de água como os cuidados de saúde e educação. O acesso a estes bens básicos
não é uma questão de escolha, mas de Direitos Humanos.
A escassez de água potável está subindo drasticamente; o relatório da ONU de Desenvolvimento da Água no Mundo
do ano de 2003, previu que "em meados deste século, no pior dos 7 bilhões de pessoas em 60 países sofrem de
escassez de água e, na melhor casos, a escassez de afetar 2 bilhões em 48 países.
A água é uma realidade primordial cuja importância e simbolismo toca todos os níveis da existência. Os antigos
mitos e a ciência moderna convergem quando vêem a água como o berço da vida, o líquido amniótico que sustenta
o embrião de evolução e crescimento. Como o material básico de qualquer organismo, a água é necessária para a
existência de todos os seres vivos, os seres humanos, animais e plantas.
A água tem um ciclo todo seu que está além do nosso controle. A principal dificuldade em relação à água hoje não é
a absoluta escassez, mas sim a distribuição e recursos. O acesso ou perda depende em grande parte das decisões
sobre a água. Daí ligação entre política da água e ética surgem cada vez mais em todo o mundo.
Na tradição judaico-cristã
O rico simbolismo da água encontra um maravilhoso resumo na "Oração sobre a Água Batismal" no rito do Batismo.
No início da criação, o Espírito de Deus pairava sobre as águas fazendo delas a fonte de todo o bem. As águas do
grande dilúvio eram um sinal das águas do batismo, prefigurando a vida que virá, o fim do pecado e um novo
começo da criação. Através das águas do Mar Vermelho, o Senhor conduziu Israel para fora do Egito. Nas águas do
batismo o novo Povo de Deus foi libertado da escravidão do pecado. Através do rio Jordão, o Senhor trouxe a sua
terra escolhida de Canaã para viver com integridade e paz. Pelas águas do batismo, o povo de Deus peregrino entrar
na terra prometida, onde reina a justiça e harmonia. Os profetas anunciaram uma purificação futuro, o que cria um
novo coração e um novo espírito irá conferir. João Batista pregava um batismo para a remissão dos pecados e
prefigurou dramaticamente a aurora da redenção com o seu rito de lavagem. Em cumprimento de seu batismo,
Jesus morreu na cruz, água e sangue fluiu de seu lado, abrindo-nos o caminho da salvação.
O batismo não é um rito de passagem para um grupo privilegiado. Trata-se, em primeiro lugar, um compromisso de
viver a serviço de nossos irmãos e irmãs e de manifestar a justiça do nosso Deus e Pai, como Jesus fez. É o
sacramento pelo qual os fiéis expressam seu compromisso de viver de uma comunidade cheia do Espírito Santo, que
visa antecipar a plenitude de vida que Deus preparou em abundância para toda a criação.
Estes são os desafios para hoje:
* A dimensão profética da vida religiosa nos chama a um estilo de vida de simplicidade e respeito pela criação.
* Muitas religiosas e religiosos estão envolvidos em questões de água, porque eles trabalham com as comunidades
que não têm acesso à água potável.
* Podemos ler os "sinais dos tempos". Somos chamados a viver em um constante processo de discernimento.
* Temos recursos e estabelecer redes e caminhos para comunicar a mensagem e aconselhamento em relação a esta
ameaça à vida. Temos um compromisso com a reconciliação e em restaurar a harmonia que vem através de nossa
espiritualidade e carisma. Viemos com o dinamismo do bem comum e de uma ética da solidariedade com aqueles
que sofrem e precisam de ajuda.
Como nós respondemos vai depender de onde vivemos. Para aqueles que vivem em sociedades caracterizadas pelos
valores do consumismo e do materialismo países, maneiras de viver em harmonia com a criação será diferente de
quem vive em sociedades e países onde apenas o essencial e os princípios para uma vida decente e humana.
(FONTE: (fonte: www.ofm-jpic.org/agua - grupo de trabalho de Ecologia de Promotores em JPIC, Roma, Italia, 2003)
VIVÊNCIA MISTAGÓGICA 2 - TEMA GERADOR – MISSÃO
1º. Momento – (5 min.) - apresentação da proposta, relevância do tema, orientações para se ater ao tempo,
contribuições simples e significativas, colaborativas com relação aos demais, compreender que é uma experiência
que não se esgota nesse espaço, perceber o passo a passo, por onde passa a experiência mistagógica. Nesta vivência
vamos experimentar uma mística que muito alimentou os cristãos de todos os tempos e ainda nos alimenta – a
mística da carta, do endereçamento narrativo e convocativo.
- no centro do grupo uma cesta com cartas envelopadas (Inácio, Teresa, Francisco, Paulo) sobre um tecido simples e
uma vela
2º. Momento – (15 min.) - receber as cartas e leitura pessoal - o orientador pode entregar uma carta a cada pessoa e
convidar a cada um recebê-la como sua, endereçada a você mesmo, ler com atenção, meditando nas palavras e na
própria vida. Pode deixar ecoar trechos, marcar.
3º. Momento – (10 min.) - eco em duplas – conversar com a pessoa ao lado sobre a carta recebida, o que tocou, o
que chamou sua atenção, qual a relevância para nosso tempo, para a missão da juventude e com a juventude
4º. Momento – (10 min.) - acendimento da vela – canto – Sobe a chama, sobe a chama, mais alto, mais alto, ilumina
e aquece nossas vidas, nossa dança – falar sobre a mística das cartas que lemos, caminhos que nos conduzem ao
Mistério e nutrem nossas vida.
- eco no grupo – como pequenos mantras, ecoar trechos das cartas que foram recebidas. Ao final de alguns trechos
pode-se cantar: Senhor, quanto mais caminho - ou - Quem nos separará?
5º. Momento – (10 min.) - leitura solene, proclamada, da segunda carta, do papa Francisco – deixar ecoar no
coração, na mente, repetir trechos, palavras.
6º. Momento – ( 15 min.) - cada pessoa recebe a carta do Papa Francisco - conversa no grupo – o que há em comum
nas orientações das cartas anteriores e a carta do Papa Francisco aos jovens?
7º. Momento – ( 10 min.) - em forma de oração, dirigindo-se ao Senhor, expressar o que as mensagens refletidas
deixam para semear este momento de nosso trabalho pastoral, na vida religiosa, nos projetos pedagógicos, na
vida pessoal e comunitária, em nosso país.
8º. Momento – ( 5 min.) - avaliação – palavras/sentimentos geradores
MATERIAL – tecido, vela com apoio, cesta media, cartas envelopadas (Francisco, Paulo, Teresa e Inácio), cartas
envelopadas (papa Francisco), folhetos com cantos
QUANTO MAIS CAMINHO
QUEM NOS SEPARARÁ?
Senhor, quanto mais caminho, mais vejo aumentar a
estrada, tropeço por entre espinhos num campo onde foi
calada a voz da libertação
Mas me ergo, não vou sozinho, teus passos comigo vão, na
terra será plantada a paz que nos é doada em cada fração
do pão
Não posso ficar parado, Teu corpo me dá coragem, Teu
sangue me traz a imagem de tantos irmão deixados à
margem da salvação
Teus passos irei seguido, a paz vou distribuindo, e o mundo,
evangelizado, será, enfim, transformado, em paz e em
salvação
Quem nos separará? Quem vai nos separar
Do amor de Cristo? Quem nos separará?
Se ele é por nós, quem será, quem será contra nós?
Quem vai nos separar do amor de Cristo, quem será?
1. Nem a espada ou perigo, nem os erros do meu irmão,
Nenhuma das criaturas nem a condenação.
2. Nem a vida, nem a morte, a tristeza ou aflição.
Nem o passado, nem o presente, o futuro, nem opressão.
3. Nem as alturas, nem os abismos, nem tampouco a
perseguição. Nem a angústia, a dor ou a fome, nem a
tribulação.
Queridos irmãos e irmãs em Jesus Cristo, Nosso Senhor
Há muito escrevi algo semelhante para a comunidade que vivia em Roma, no 1 º século. Hoje venho
lhes dizer algo que lhes sirva de orientação para caminharem na direção do verdadeiro amor que nos
ensinou e demonstrou o Senhor Jesus.
Em primeiro lugar, eu vos peço que ofereçais vossos corpos, como uma oferta viva, santa e
agradável a Deus. Este deve ser o vosso culto espiritual, estarem a serviço dos irmãos e irmãs, como o
Senhor Jesus entre nós. E para isso, estejam atentos e abertos para a transformação do espírito, e pouco a
pouco, conhecerão a vontade de Deus para cada situação.
Em segundo lugar, aconselho que cada um de vós não faça uma ideia de si maior do que convém,
mas seja moderado conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um. Não esqueçam que somos um só
corpo, mas temos muitos membros, exercendo funções diferentes, conforme os diferentes dons que
recebemos da graça de Deus.
E agora quero lhes falar sobre o amor. Esta é a única exigência do Senhor, que a viveu
plenamente entre nós, e nos deixou como herança e como lei.
Que o vosso amor não seja hipócrita. Rejeitem o que é mal e acolham o que é bem. Amai vos
uns aos outros com amor fraterno, e se preciso corrigi-vos mutuamente com respeito e dignidade.
Sejam zelosos, cuidadosos uns com os outros, com o meio ambiente e nas suas demais
relações. Sejam zelosos também consigo mesmos.
Sejam fervorosos no espírito, constantes na oração e no serviço ao Senhor.
Alegraivos na esperança e perseverem nos momentos de angústia e tribulação. Não se deixem
dominar pela tristeza, pelo absurdo, pelo vazio e pelo sentimento de incapacidade. Estes semeiam a
falta de esperança em nosso coração, própria daqueles que se esqueceram que Nosso Senhor venceu o
mundo, e esta é a nossa vitória. É a força do Espírito que deve vos mover.
Sede hospitaleiros, abertos à vida que se aproxima a cada momento, sem resistências, medos e
sem preconceitos.
Abençoai os que vos perseguem e não os amaldiçoem. Sede misericordiosos como o Pai.
Alegraivos com os que se alegram e chorai com o que choram.
Aprendam a sabedoria da concórdia, do perdão, da correção fraterna.
Deixemse atrair pelos humildes, pela simplicidade. O mundo acredita no que parece grande
aos seus olhos, mas só Deus é grande, e ele veio morar no meio de nós, esvaziando se de toda glória.
Não sede vingativos, rancorosos, maledicentes. Procurai fazer o bem para com todas as
pessoas. Sempre que possível, esforcem-se pessoalmente para viverem em paz com todos.
Não se deixem vencer pelo mal, mas sempre vençam o mal pelo bem.
No mais profundo de seus corações façam uma escolha a cada dia, a cada momento de suas
vidas, e exercitem essa escolha : decidam pelo amor. Esta não uma decisão facilitada pelas forças do
mundo, mas é uma semente firme em seu coração que,pela graça de Deus, lhe fortalecerá e não lhe
abandonará nunca.
A graça de Nosso Senhor, Jesus Cristo, estejam com todos vocês!
Com toda a afeição, deste servo de Jesus Cristo,
Paulo
Queridos jovens, meus irmãos e minhas irmãs.
Como vocês, também fui jovem. Era filho de um rico comerciante de tecidos: Pedro Bernardone. Meu pai,
muito rico, me proporcionou todas as facilidades. Participava de festins com amigos e muita algazarra. Depois de
algum tempo, comecei a sentir um grande vazio dentro de mim. Tudo aquilo era bom, mas não me preenchia. Para
superar a crise, tentei ser cavaleiro, mas no meio do caminho desisti. Lentamente, porém, começou a crescer dentro
de mim um estranho amor pelos pobres e isolados pela doença. Lembrava-me de Jesus que foi também pobre e o
muito que sofreu na cruz.
Certo dia, quando entrei numa igrejinha, de nome São Damião, fiquei longamente contemplando o rosto
chagado do Cristo Crucificado. De repente, me pareceu ter ouvido uma voz vindo dele:”Francisco, vá e repara a
minha igreja que está em ruinas”. Aquelas palavras calaram fundo no meu coração. Comecei, com minhas próprias
mãos, a reconstruir uma pequenina e velha igreja em ruinas, chamada de Porciúncula. Depois, pensando melhor, me
dei conta de que aquela voz se referia à Igreja feita de homens e de mulheres, de prelados, abades, padres, não
excluindo o próprio Papa. Ela estava em ruína moral.
Achei por bem beber da fonte genuína da reconstrução da Igreja: os evangelhos e o seguimento de Jesus
pobre. Nas minhas andanças me fascinava a beleza das flores, o canto dos passarinhos, o ruído das águas dos
riachos. Entendi que todos tínhamos nascidos do coração do Pai de bondade. Por isso éramos irmãos e irmãs: o
irmão fogo, a irmã água, o irmão e Senhor Sol e a irmã e a Mãe Terra.
Muitos antigos companheiros de festas e diversões se juntaram a mim. Uma bela e querida amiga, Clara
de Assis, fugiu de casa e quis compartilhar a nossa vida simples. Começamos um movimento de pobres. Nada
levávamos conosco. Apenas o ardor do coração e a alegria do espírito. Depois de alguns anos, já éramos uma
multidão a ponto de eu não saber mais como abrigar e animar tanta gente. O resto da história vocês conhecem.
Vejam, queridos jovens, irmãos e irmãs meus queridos. Mas aproveito agora que estamos juntos para
dizer-lhes algumas coisas que considero de suma importância para os tempos atuais.
A primeira é: como nunca antes, estamos num momento critico da história da Terra e da Humanidade.
Nossa querida Mãe Terra está doente e com febre, pois, já há muito tempo, a estamos superexplorando. Devemos
urgentemente fazer uma aliança global de cuidar da Terra e uns e dos outros, caso não quisermos conhecer
grandes dizimações que afetarão toda a comunidade de vida.
Uma segunda coisa preciso dizer-lhes como um irmão mais experimentado: temos que mudar a nossa mente
e o nosso coração. Os olhos das ciências hoje são limitados. A Terra precisa ser cuidada, amada e respeitada como
o fazemos com nossas mães. Recebemos uma missão única. Somos os guardiães da herança que Deus nos confiou.
Além da mente devemos também mudar o nosso coração. É o lugar do sentimento profundo, é o nicho de
onde crescem todos os valores e se expressa o mundo das excelências.
Uma terceira coisa gostaria de dizer-lhes: nunca esquecer os pobres do mundo. São milhões e milhões de
irmãos e irmãs que nos atualizam a paixão de Jesus. Eles devem ser reforçados em suas lutas e movimentos para
se libertarem da pobreza que Deus não quer porque ela os faz morrer antes do tempo. No lugar do punho fechado
para submeter, devemos ter a mão aberta para o cuidado essencial, para o entrelaçamento dos dedos numa
aliança de valores e princípios que poderão sustentar um novo ensaio civilizatório.
Por fim, caros jovens, irmãos e irmãs meus queridos: nada disso tudo que refletimos terá eficácia se não
misturarmos Deus em todos os nossos empreendimentos. Ele não está em parte nenhuma, porque está em todas as
partes, mas está principalmente no coração de vocês. Dentro de cada um de vocês queima uma brasa viva
e arde uma chama sagrada: é a presença misteriosa e amorosa de Deus.
Que Deus vos abençoe e vos guarde!Ele mostre sua face e se compadeça de vós!
Que volva o seu rosto para vós e vos dê a paz! Que Deus vos abençoe!
Paz e Bem
Francisco, o Poverello e Fratello de Assis
(por Leonardo Boff, em Francisco de Assis, Francisco de Roma.
Pergaminho:RJ,2014)
Queridas irmãs,
O que sabemos sobre a oração? O que podemos falar sobre nossa comunicação com Deus? Podemos falar
sobre a contemplação?
Comecemos a nos perguntar sobre com quem vamos falar, e sobre quem somos nós. Estamos nos dirigindo a
Deus, aquele que nos conhece a fundo. Por isso mesmo, a mais bela forma de nos dirigir a Deus é através de nossos
atos. Cada dia, em cada gesto, em cada palavra, ofereça a Deus todo o seu ser e peça a Ele que seja feito da melhor
forma.
Quando te sentires inquieta, desorientada ou triste, não abandones esta oração do viver cotidiano. Ao
contrário, se te sentires desanimada, intensifica a oração que nasce da ação. Verás, então, com que prontidão o
Senhor te sustentará.
Em cada dia, observa a presença de Deus em todas as coisas e sua sabedoria. Em tudo, envie-lhe o teu
louvor, a tua gratidão. Quem verdadeiramente ama a Deus, ama tudo o que é bom, quer tudo o que é bom,
favorece tudo o que é bom; louva todo o bem, com os bons se junta sempre, para apoiá-los e defendê-los. Em uma
palavra, só ama a verdade e o que é digno de ser amado.
Quando recitar o pai-nosso, será um sinal de amor lembrar quem é esse Pai e também quem é o Mestre que
nos ensinou essa oração. Ò meu Senhor, como vos mostrais Pai de tal Filho, e como vosso Filho revela que veio de
tal Pai. Bendito seja para sempre. Pai nosso, que estais no céu... Com quanta razão a alma estaria em si; poderia
então elevar-se acima de si mesma e escutar o que lhe ensinaria o Filho bendito sobre o lugar em que – afirma ela
– está o Pai.
Deixemos tudo que nos atrai para o pequeno, longe do amor de Deus e de nossos irmãos e irmãs. Não é
bom que nos deixemos seduzir e apreciar valores que não nos aproximam do amor fraterno, e ainda mais depois de
termos experimentado a grandeza do amor de Deus em nossas vidas.
Ame sempre. Quem ama, faz sempre comunidade, não fica nunca sozinho. Por isso, persevere na atitude do
amor, na orientação que vem do fundo do coração mergulhado no amor de Deus. Quando falar sobre alguém, fale
sempre o bem, pois Deus habita em todas as pessoas. Assim, sem somos amigos uns dos outros, também somos
amigos do Senhor. Não podemos separar uma amizade da outra. É a mesma coisa.
Por fim, mantenham-se no caminho, mesmo que cansadas, mesmo que inquietas, mantenham-se firmes e
atentas. Perder o caminho é abandonar a oração, a confiança no amor que nos funda, nos orienta e nos sustenta.
Esse amor, não olha tanto a grandeza de nossas obras, mas o amor com que são feitas.
Lembrem-se, assim é o olhar de Deus sobre cada um de seus filhos e filhas: lhe basta amar e conceder
graças. O amor só tem sentido amando.
Teresa de Jesus, sua irmã
(cf. Orações e recomendações de Santa Teresa, extraídas do livro:
“Orar com Santa Teresa de Ávila – Edições Loyola – 1987.)
Querido companheiro,
Escrevo-te porque estou convencido de que a educação é um espaço privilegiado para a concretização
daquilo que me propus em minha vida, e em função do qual me tornei um companheiro de Jesus.
Talvez não saibas que, quando fundei a Companhia, não cheguei a contemplar um projeto educacional.
Entretanto, pouco tempo, vi que precisávamos colaborar com a missão da Igreja no sentido de promover a pregação
do Evangelho num contexto social e cultural caracterizado por graves divisões. Na verdade, minha motivação não
era apologética, o impulso maior vinha, sim, da necessidade que percebia de formar a juventude a partir de
determinados valores que queríamos, então, promover.
Foi com essa esperança que abrimos os colégios com a ideia de formar as pessoas de uma maneira integral,
abarcando a inteligência, a vontade e a sensibilidade. Queríamos atender a todas as classes sociais, motivo pelo qual
as escolas eram gratuitas, com todas as dificuldades que, como podes imaginar, passávamos para isso. Entramos em
novos continentes, e sei que muitas vezes, no fervor da batalha educacional, desconhecemos que as comunidades a
quem catequizávamos também tinham algo a ensinar. Hoje, o panorama mudou muito.
É olhando para esse panorama que te escrevo, querido companheiro. No contexto em que educas encontrarás
outras forças que ameaçam agora a implementação do Reino: sistemas político-econômicos estruturados em função
do mercado, que reduzem a dignidade humana e acentuam a desigualdade; forças opostas aos valores evangélicos,
que desagregam e geram conflitos locais e internacionais. Olho para o mundo e ele parece um único globo, no qual
se espalham ideologias que provocam desigualdades e injustiças e fomentam o individualismo. Tecnologias permitem
que as pessoas se comuniquem, mas as mensagens que circulam nelas nem sempre promovem o ser humano. As
cabeças e os corações dos jovens estão expostos a tudo isso, muitas vezes de maneira indefesa e inconsciente.
Tens um papel crucial neste momento. E é para isso que te chamo: para uma grande transformação. Preparate: o que te peço é um movimento gigantesco de ruptura que exigirá de ti não apenas as tuas forças, mas envolverá
tuas crenças e teus princípios.
Sabes qual será tua lição mais eloquente? O teu exemplo. Se amares o saber, despertarás em muitos o gosto
por conhecer aquilo de que falas. Se assumires o teu compromisso como cidadão e como mestre, podes estar certo
de que contagiarás a muitos com teu entusiasmo e teu inconformismo. Falo disso com tanta certeza, porque também
eu aprendi a conhecer e a amar um mestre assim, que falava de estranhas ideias revolucionárias, e acreditava num
mundo diferente. Fui totalmente tomado por essa causa, e decidi acompanhar a sua luta irreverente e ousada. E
embora fraco, senti-me nisso estranhamente forte; e apesar de não ter toda a sabedoria de que precisava, dei-me
como instrumento ao Espírito, que falou por mim.
Tua tarefa é árdua e bela. Vives num mundo em que a informação circula incessantemente, e conteúdos se
tornam obsoletos em pouco tempo. Conecta-te nesse vasto mar de dados e mensagens e navega com ousadia,
procurando outras paragens. Renova-te: reconhecendo que ainda não sabes, poderás ser livre. As certezas podem ter
te tornado uma presa dos sentidos, e será preciso então que te libertes para que experimentes de novo o que é o
indecifrável e possas penetrar os mistérios que nos envolvem.
Trabalha em conjunto com os demais. Nossa identidade comum será decisiva neste momento em que se
encontram em crise os sistemas políticos, as estruturas econômicas, os referenciais éticos e os próprios paradigmas
que sustentaram as décadas anteriores. Onde estiveres, dedica-te a formar pessoas que vivam a fé articulando o
contemplativo com a justiça e o compromisso social; homens e mulheres para os demais, capazes de, em tudo, amar
e servir. Oferece o que te foi dado fazer para a maior glória de Deus.
Procura ouvir a voz de Deus; o conhecimento das coisas muitas vezes começa no silêncio. Ah, sim, pois
devo dizer-te algo: nesta Missão, é preciso ter coragem. O medo nunca acrescentou nada de importante ou de
diferente à história da humanidade. Ao contrário, ele só impediu mudanças, retardou transformações,
adiou o que devia ser feito. Medo é negar-se, é jamais sair de si. Medo é calar e voltar-se
para dentro. E nós, querido companheiro, estamos voltados para o infinito.
Mas a coragem de que te falo é graça, é dom: não te esqueças de pedi-la
diariamente a Deus.
Inácio de Loyola
Resumo da versão elaborada por Andrea Ramal (Carta de Sto Inácio a um educador hoje. Loyola:SP, 2002 )
Mestre onde moras? Vinde e vede! (Cf. Jo 1,38-39)
Estimada Aline e meu querido Alberto, que a graça do Jovem de Nazaré permaneça sempre com vocês, e
nessa saudação quero abraçar a todos os jovens e adultos que estão participando do XI Encontro Nacional
da Pastoral da Juventude nas benditas terras amazônicas.
É com grande alegria que me dirijo a vocês por meio desta singela mensagem, obrigado por deixarme participar deste grande e bendito encontro. Gostaria de começar dizendo que fiquei muito feliz ao rezar e meditar
a iluminação bíblica e o lema do encontro.
Essa pergunta habita no coração humano. A respeito de tudo e em todas as circunstâncias. Atesta-o a
experiência pessoal, documenta-o a história, confirma-o o relato bíblico. O rosto da pergunta surge no alvor das
origens com aquele célebre: “Adão, onde estás? Que fizeste do teu Irmão?”; no templo de Silo no diálogo do jovem
Samuel com o sacerdote Helí, nas proximidades do rio Jordão com dois discípulos de João a Jesus de Nazaré:
“Mestre, onde moras”? Jo 1, 35-42.
Também, hoje, a pergunta bate “à porta” da nossa consciência: Que queres da vida? Que sentido dás
ao tempo? Como geras o instante no todo na tua história pessoal? Tens presente o teu futuro definitivo?
E o teu contributo para o bem de todos? Cada um de nós saberá continuar a lista sem dificuldade.
Toda a pergunta tem resposta. “Vinde e vede”, a resposta de Jesus fica como modelo e pedagogia
para todos os peregrinos da verdade. Eles vão e ficam na sua companhia. Deixam-se “moldar” pelo modo de ser
do Mestre. Mais tarde serão enviados em missão. E, como outrora, também agora, somos convidados a
conviver com Ele, a partilhar a sua vida, a acolher o seu olhar penetrante, a deixar-nos atrair e a “agarrar”
pela experiência gratificante que dá resposta aos anseios mais profundos do coração humano.
Os discípulos, na companhia do Mestre, aprenderam os modos de realizar a missão: curar doentes
e alimentar famintos, partilhar e viver na alegria sincera, deixar-se conduzir pelo amor universal e generoso,
que Deus nos tem, acolher os mais débeis e afastados das fontes da vida. E partem pelos “quatro cantos da
Terra” a anunciar a vocação sublime de todo o ser humano, a apreciar e a cuidar a dignidade do seu corpo (toda
a sua pessoa), a construir relações na base da regra de ouro “tudo o que queres para ti, fá-lo aos outros”,
a reconhecer que só a civilização do amor manifesta, o melhor possível, a convivência sustentada em sociedade e
redimensionada na cultura, a vocação de toda a humanidade.
Essa mesma vocação que nos convida a partilhar “A vida, o pão e a utopia”. De que serviria dizer
que somos seguidores de Cristo se somos indiferentes às dores dos nossos irmãos? “Mostra-me tua fé sem
obras que pelas minhas obras te mostrarei a minha fé” lembra-nos o apostolo Thiago.
Meus queridos e minhas queridas jovens, tenho muita esperança em vocês que dão testemunho com
as suas vidas desse Cristo libertador. Esse Cristo que “olhou ao jovem com misericórdia e o amou”, a
Igreja também ama vocês e por isso os peço que não se deixem abater pelas coisas que possam chegar a ouvir
da juventude, em todo tempo histórico se falou pejorativamente dos jovens, mas também em todo tempo foi essa
mesma juventude que dava testemunho de compromisso, fidelidade e alegria.
Nunca percam a esperança e a utopia, vocês são os profetas da esperança, são o presente da
sociedade e da nossa amada Igreja e por sobre todo são os que podem construir uma nova Civilização do
amor.
Joguem a vida por grandes ideais. Apostem em grandes ideais, em coisas grandes; não fomos
escolhidos pelo Senhor para coisinhas pequenas, mas para coisas grandes!
Que o bom Deus abençoe sempre seus passos e seus sonhos e que a Nossa
Senhora aparecida os cubra sempre com o seu manto sagrado.
Com minha benção apostólica.
+ Francisco
Vaticano, 21 de Janeiro – Dia de Santa Inês – de 2015.
SEMINÁRIO DA VIVÊNCIA MISTAGÓGICA 3 - TEMA
GERADOR – INTOLERÂNCIA E BUSCA PELA PAZ
1º. Momento – (5min.)apresentação da proposta,
relevância do tema, orientações para se ater ao
tempo, contribuições simples e significativas,
colaborativas com relação aos demais, compreender
que é uma experiência que não se esgota nesse
espaço, perceber o passo a passo, por onde passa a
experiência mistagógica.
2º. Momento – (10 min.) todos fazem uma leitura
silenciosa do texto de Marcelo Barros – Deus é amor
e não intolerância. Depois, convidar 3 voluntários para
que, a cada etapa, saiam da sala e retornem quando
chamados. Pedir a cada um deles que pense em uma
pequena fala sobre a importância da superação da
intolerância e da busca pela paz.
- Depois que os voluntários saírem, orientar o grupo
que fica na sala para três reações diferentes, uma
diante de cada voluntário: (15 min.)
- Diante
do
primeiro
voluntário,
rejeitar
completamente sua fala através de vaias,
exclamações de “fora”, “não queremos saber
disso” etc. Pedir que o grupo seja criativo...
- Diante do segundo voluntário, o grupo deverá ter
uma reação completamente indiferente. As
pessoas não demonstrarão o menor interesse ao
que ele disser, conversando entre si, fazendo
alguma tarefa, olhando para outro lado,
levantando-se etc.
- Diante do terceiro voluntário, o grupo deverá fazer
perguntas sobre o que ele diz, demonstrar
interesse, trazer contribuições e novas questões
3º. Momento – (10 min.) Perguntar a cada voluntário
como se sentiu diante da reação de cada grupo algumas pessoas podem expressar o que observaram
na vivência com relação ao cotidiano.
4º. Momento – (10 min.) Reflexão pessoal – orientar
uma pequena meditação - pés no chão, ângulo de 90
graus, respirar normalmente, sentir o batimento
cardíaco, pode colocar as mãos sobre o coração, se
quiser... fazer contato com você mesmo, seu corpo,
sua respiração, seu ser inteiro. Deixar ecoar algumas
perguntas e as emoções que vierem: Sou intolerante?
Sinto raiva? Tenho facilidade em lidar com
pensamentos e atitudes diferentes? ... Procurar trazer
à memória alguma situação que esta vivência tenha
remetido. Como você reagiu? Por que reagiu dessa
forma? O que aciona a contrariedade e dificulta a
relação? O que aciona a compreensão e facilita a
relação?
5º. Momento – (5 min.) em uma grande folha de
papel 40 kg ou pardo com um círculo no centro cada
pessoa registra – dentro do círculo – algo que
colabora para a PAZ E A TOLERÂNCIA – e, fora do
círculo – algo que dificulta a PAZ e contribui para a
INTOLERÂNCIA
6º. Momento – (10 min.) orientador – por que a
diferença de dentro e fora do círculo? - motivar uma
pequena conversa – breve - Para fortalecer as
condições e a grande potência que possuímos na
construção da paz. Este é o centro e, muitas vezes,
trocamos estas posições e nos deixamos envolver pelo
que não é nossa centralidade, que nos retira do
centro, da dinâmica de escuta e acolhida da Graça de
Deus em nós.
7º. Momento – (5 min.) - poema de Thiago de Mello –
vamos rezar juntos este poema, como uma oração,
pensando em nossos grupos, nossas comunidades,
nos momentos de encontros e de desencontros, nos
momentos de centralidade e também naqueles em
que nos perdemos, nos muitos grupos com dificuldade
de aproximação e diálogo por esse mundo afora.
8º. Momento – ( 5 min.) - avaliação –
palavras/sentimentos geradores
MATERIAL: uma folha de papel 40kg ou pardo,
pilots coloridos, folheto com o poema, texto do
Marcelo Barros
NÃO SOMOS OS MELHORES- Thiago de Mello
A vida repartida dia a dia com quem vinha querendo
que a vida pudesse um dia ser vida,posso dizer que
alguma coisa aprendi.
Aprendi, por exemplo, que não somosos melhores.
Custou mas aprendi.
Tempo largo levei para enxergar que era de puro
desamor a chama que crescia no olhar do
companheiro.
Não somos nem melhores nem piores. Somos iguais.
Melhor é a nossa causa. É repetir: melhor é a nossa
causa.
Mas no viver da vida, a vida mesma, quando é
impossível disfarçar, quando não se pode ser nada
mais do que o homem que a gente é mesmo,
na prática cotidiana da chamada vida, que é a
verdadeira prática do homem,fomos sempre e somente
como os outros, e às vezes piores do que outros.
É tempo de caminhar de mãos dadas em busca do
mesmo rumo.
Que as separações sejam sinais de novos encontros.
Que novos encontros sejam esperança de continuar no
caminho
E saber que é preciso mudar o que precisa ser mudado
para que a vida possa um dia ser mesmo vida, e para
todos.
VIVÊNCIA MISTAGÓGICA 3 – tema – INTOLERÂNCIA E BUSCA PELA PAZ - texto- subsídio
Deus é amor e não intolerância
Marcelo Barros, 21/01/2015
No mundo inteiro há um surto de intolerância
e discriminação contra grupos culturais e religiosos
diferentes da cultura dominante. Nesses dias, os
atentados terroristas de Paris não recebem da
sociedade uma resposta na direção contrária ao que
eles propõem. Ao contrário, as manifestações de
massa parecem falar a mesma linguagem do ódio e
não distinguir grupos extremistas e a religião
islâmica. No Brasil, a cada dia, se registram casos de
discriminações e perseguições a alguns grupos
religiosos, principalmente, comunidades das religiões
afrodescendentes. Apesar da Constituição Brasileira
defender a liberdade de culto para todas as religiões,
ainda existem programas de rádio e televisão nos
quais se prega a intolerância e se combatem os cultos
afro. Esses ataques e atos de violência religiosa não
são praticados por ateus dogmáticos, contrários à
religião. São cometidos por grupos que se dizem
cristãos e agem em nome de Deus. Apoiam-se em uma
leitura ao pé da letra e fanática de certos textos
bíblicos para justificar uma imagem de Deus cruel,
violento e intolerante. Ainda bem que, até aqui, esses
grupos neopentecostais e católicos de linha
carismática não descobriram ainda que os mesmos
livros da Bíblia que manda perseguir e destruir cultos
de outros grupos manda também apedrejar mulheres
adúlteras, pessoas que transem com animais ou
simplesmente que não respeitem o sábado. O que eles
farão quando descobrirem que as mesmas leis bíblicas
que condenam outros cultos permitem a escravidão de
estrangeiros e mandam vender pessoas como escravas
para saldar dívidas não pagas? Será que, em pleno
século XXI, quererão praticar essas leis culturais da
Ásia antiga?
Em outras épocas, quase todas as Igrejas
históricas condenavam hereges à morte. Também
queimavam na fogueira mulheres consideradas
feiticeiras ou bruxas e pessoas que praticassem formas
de sexo não aprovadas pela Igreja. Durante séculos, a
Igreja Católica se proclamou como a única religião
verdadeira e sistematicamente combatia as outras.
Somente há 50 anos, em 1965, ao concluir o Concílio
Vaticano II que, em Roma, reuniu todos os bispos do
mundo, a Igreja Católica publicou a declaração
Nostra Aetate que reconhece o valor das outras
religiões e incentiva os fieis a valorizar o diferente e
praticar o diálogo. Da parte das outras Igrejas, um
pouco antes, em 1961, o Conselho Mundial de Igrejas,
que reúne mais de 340 confissões evangélicas e
ortodoxas, em sua assembleia geral em Nova Dehli,
pediu às Igrejas-membros uma atitude de respeito e
diálogo com todas as culturas e colaboração com
outras tradições religiosas.
Nas últimas décadas, em diálogo com a
humanidade, muitos cristãos descobriram como
critério da fé o que apóstolo Paulo escreveu ao grupo
de Corinto: “Deus nos fez servidores de uma nova
aliança, não da letra da lei, mas do espírito, porque a
letra mata e o espírito é quem faz viver” (2 Cor 3, 6).
E ao grupo dos adeptos de Roma, Paulo escreveu:
“Assim, sirvamos a Deus, na novidade do Espírito e
não na velhice da lei”(Rm 7, 6). Do mesmo modo, a
imagem que Jesus transmite de Deus é a de um
paizinho carinhoso que “faz nascer o sol sobre os
bons, mas também sobre os maus e faz chover sobre
quem é justo e quem é injusto” (Mt 5, 45).
No mundo atual, por causa das migrações e
da comunicação global, a diversidade religiosa é um
fato que, queiramos ou não, se impõe à humanidade.
Alguns consideram negativo o fato de haver muitas
religiões. No entanto, ao contrário, é uma graça
divina e uma bênção que enriquece a todos/as. A
diversidade cultural e religiosa faz com que os
diferentes
caminhos
espirituais
possam
se
complementar e se enriquecer mutuamente. Faz com
que cada grupo reconheça os elementos de verdade
que existem em outros grupos e se abram ao que Deus
revela a cada um, não somente a partir da sua própria
tradição, mas também através dos outros caminhos
religiosos. Para essa abertura pluralista e para o
diálogo daí decorrente vale o que, no século IV, dizia
Santo Agostinho: “Apontem-me alguém que ame e ele
sente o que estou dizendo. Deem-me alguém que
deseje, que caminhe neste deserto, alguém que tenha
sede e suspira pela fonte da vida. Mostre-me esta
pessoa e ela saberá o que quero dizer”.
AGOSTINHO, Tratado sobre o Evangelho de João
26, 4. Cit. por Connaissance des Pères de l’Église32dez. 1988, capa.
VIVÊNCIA MISTAGÓGICA 4 - TEMA GERADOR – CULTURAS
1º. Momento – (5 min.) - apresentação da proposta, relevância do tema, orientações para se ater ao tempo,
contribuições simples e significativas, colaborativas com relação aos demais, compreender que é uma experiência
que não se esgota nesse espaço, perceber o passo a passo, por onde passa a experiência mistagógica.
2º. Momento – (10 min.) - relaxar, postura de 90 graus, costas retas, pés ao chão, mãos descansando sobre o corpo,
sentir o coração batendo, inspirar e expirar, tranquilizar-se - de olhos fechados – conduzir a meditação para sua
comunidade, chegar na comunidade, sentar-se, observar as pessoas, o jeito de cada um ser, a diversidade, as
expressões de muitas origens, de muitas culturas. Pensar nos muitos símbolos que poderiam ser vivenciados como
diálogo com as muitas culturas. Escolher um dos símbolos que veio à sua mente, focar nele, olhar para ele,
contemplar esse símbolo, deixar o símbolo falar ao seu coração, às suas emoções.
3º. Momento – (10 min.) – dividir o grupão em dois grupos – cada grupo recebe uma folha de papel pardo (ou 40 kg)
– no centro escreve uma das palavras-geradoras (SAGRADO – CULTURAS). Os membros do grupo colocam
livremente, em torno desta palavra, qual a palavra que evoca, que vem a mente, que lhe ocorre ao pensar esta
palavra-geradora.
4º. Momento – (10 min.) – trocar as duas folhas – o grupo se detém diante da nova folha de papel e procura
compreender o que o grupo anterior quis dizer com as palavras que colocou em torno, como eles compreendem a
palavra geradora. Depois, apresenta para todos o que compreendeu.
5º. Momento – ( 15 min.) – abrir para o diálogo entre as duas palavras-geradoras – o que elas nos indicam. Onde
está o sagrado? Qual a relação entre As CULTURAs E O SAGRADO? Por que há dificuldade em respeitar algumas
manifestações culturais? Como podemos abrir caminhos para que as culturas se encontrem e se enriqueçam? Como
trazer para os ritos sacramentais e litúrgicos?
6º. Momento – ( 10 min.) – leitura do texto de Paul Suess – pode ser individual, e algumas pessoas fazerem eco de
trechos do texto.
7º. Momento – (5 min.) – oração – O Eterno descobrimento – Teilhard de Chardin
8º. Momento – ( 5 min.) - avaliação – palavras/sentimentos geradores
MATERIAL: 2 folhas de papel pardo ou 40 kg branco, pilots, texto do Paul Suess, oração do Chardin
O Eterno Descobrimento - Teilhard de Chardin
Deus não se apresenta aos nossos seres finitos
como uma Coisa já completamente acabada
que vamos abraçar
Deus é, antes de tudo, para nós
o eterno Descobrimento
e o eterno crescimento.
Quanto mais julgamos compreendê-lo,
mais ele se mostra diferente do que julgávamos.
Quanto mais julgamos tê-lo agarrado,
mais ele recua,
atraindo-nos para as profundezas de Si próprio.
Quanto mais nos aproximamos dele,
por todos os esforços
da natureza e da graça,
mais ele aumenta
com o mesmo movimento,
a sua atração sobre as nossas potências,
e a receptividade das nossas potências.
VIVÊNCIA MISTAGÓGICA 4 – tema – CULTURAS - texto-subsídio
Horizontes – Paul Suess1
O lugar do diálogo entre culturas pode ser
situado entre duas negações; entre interesses que
buscam a hegemonia cultural e entre a indiferença
pós-moderna, que abre mão da solidariedade e deixa
indivíduos e povos entregues ao que der e vier. Onde
dominam interesses e indiferença não há diálogo
O diálogo entre culturas é um foro de paz,
onde se procura superar o isolamento social e o
esquecimento histórico. O diálogo representa a
possibilidade de transformar a irracionalidade das
armas em racionalidade das palavras partilhadas.
Consiste em transformar a irresponsabilidade
individualista em voz atenta ao outro. Entre interesses
e indiferença o diálogo é a voz da responsabilidade e
da memória. No diálogo, o mais fraco, o ausente e o
outro são lembrados e assumidos.
O diálogo é uma prática de comunicação
responsável. Ele procura superar as relações
assimétricas e questionar os discursos que impedem a
comunicação.
Pelo diálogo intra e intercultural, ninguém
precisa “sacrificar” as suas razões em benefício das
razões de uma outra cultura. Ninguém é obrigado a
renunciar à própria experiência e tradição. O diálogo
acontece no campo da autoestima, da tolerância e
aprendizado, e não de conversão.
A autoestima cultural de um povo revigora a
sua imunidade contra a invasão cultural alienante e
incentiva a resistência. A “conversão” seria o
abandono forçado de padrões culturais e imposição de
formas de pensar e viver que podem enfraquecer e
comprometer o futuro de um povo.
O modelo dialogal parte do contexto. Exige
relações horizontais, o reconhecimento da dignidade
das diferenças e a vontade de aprender algo.
Compreensão
e
reconhecimento
pressupõem
interlocutores que esperam apreender uns dos outros.
1
CULTURAS EM DIÁLOGO - Paul Suess – Agenda
Latinoamericana, 2002
O diálogo é necessariamente crítico no sentido
de compreender os discursos que estão por trás das
atitudes e dos interesses, identificando as parcerias e
também as desigualdades.
O diálogo construído e compartilhado
abandona o conceito da verdade em nome da ideia de
troca, de enriquecimento, de comunhão na
diversidade.
No horizonte deste “diálogo entre as culturas”
está a paz universal, que visa a construção de uma
humanidade composta por uma imensidão de culturas.
Os sujeitos de cada uma destas culturas conseguem
ver partes do seu sonho e projeto presentes nos sonhos
e nos projetos dos outros.
A paz não pode ser construída a partir de
políticas de eliminação com integrações apenas
ideológicas.
O diálogo entre culturas abre caminhos de
comunicação e horizontes de aproximação sob as
condições:
- que nenhuma cultura se arrogue ter a última palavra,
- que a comunicação faça parte de uma
responsabilidade ampla e
- que todas as culturas respeitem reciprocamente seus
mistérios.
Por fim, o diálogo não é uma disputa, mas um
vai e vem de “palavras verdadeiras” que iluminam
perguntas abertas de diferentes ângulos. As perguntas
postas sob uma nova luz permitem transformar
antagonismos irreconciliáveis em polaridades
constitutivas de uma unidade construída, não através
da eliminação dialética, nem pela integração via
complementaridade funcional, mas na concomitância
diferenciada e articulada. Esta carrega no kairós
histórico a memória de toda a história, guarda na
parcialidade de cada cultura os anseios de todos e na
participação e cooperação entre iguais a possibilidade
de uma nova práxis.
VIVÊNCIA MISTAGÓGICA 5 – TEMA GERADOR - SAÚDE e SALVAÇÃO
1º. Momento – (5 min.) - apresentação da proposta, relevância do tema, orientações para se ater ao tempo,
contribuições simples e significativas, colaborativas com relação aos demais, compreender que é uma experiência
que não se esgota nesse espaço, perceber o passo a passo, por onde passa a experiência mistagógica.
2º. Momento – (5 min.) – meditação individual – colocar a cadeira de costas para o circulo – procurar relaxar,
postura de 90 graus, costas retas, pés ao chão, mãos descansando sobre o corpo, sentir o coração batendo, inspirar
e expirar, tranquilizar-se - de olhos fechados respirar no centro do corpo, tomar consciência do ar entrando e saindo,
naturalmente, sem forçar. Sentir cada pedacinho do corpo, se há algum mal estar, alguma emoção retida. Imaginar o
sol acima da cabeça e deixar que os raios do sol entrem pela sua cabeça e irradiem sobre todo seu corpo. Deixar
mais luz onde perceber algum mal estar emocional ou físico.
3º. Momento – (5 min.) – manter os olhos fechados, ainda meditação individual – trazer à memória imagens da
cidade onde vive, das comunidades, das pessoas, da sua terra, da sua gente. Deixar que as imagens passeiem diante
de seus olhos, observar os rostos, as pessoas, as emoções que transmitem.
4º. Momento – (5 min.) – contemplação no grupo - virar a cadeira para dentro da roda – de olhos abertos
contemplar cada pessoa do grupo – se deter na pessoa, perceber, estar atento, sensível.
5º. Momento – ( 10 min.) – dois a dois – conversar sobre os 3 momentos, o que percebeu em cada momento, o que
lhe chamou a atenção. Depois dessa meditação, o que você diria que é SAÚDE? – antes de concluir a conversa cada
um faz uma oração pela outra pessoa e lhe abençoa, pode tocar a testa, o rosto, as mãos, o coração... como sua
sensibilidade lhe orientar.
6º. Momento – (10 min.) – proclamação da Palavra – solenemente acender a vela, ficar de pé, cantar um mantra de
acolhida (Desça como a chuva a Tua Palavra! ... ou outro) e alguém Proclama a Palavra – Mt 5,1-16 – deixar ecoar o
texto, repetir trechos, palavras
7º. Momento – (15 min.) – partilha da Palavra – o que a Palavra nos diz sobre a relação entre Saúde e Salvação?
8º. Momento - ( 5 min.) - avaliação – palavras/sentimentos geradores
MATERIAL: Tecido bonito, Bíblia aberta , uma vela, um fósforo ou isqueiro, texto subsídio para todos
VIVÊNCIA MISTAGÓGICA 5 – SAÚDE e
SALVAÇÃO – texto subsídio
A palavra SAÚDE vem do latim “salus”, que
significa, ao mesmo tempo, saúde e salvação. No
hebraico, vem da palavra “shalam”, que significa
ficar inteiro. Daí vem o termo “shalôm”, isto é, paz.
Portanto, segundo a origem etimológica,
saúde é uma integração de todos os elementos vitais,
ou seja, dos elementos econômicos, políticos, sociais,
religiosos, afetiva. Não significa apenas ausência de
doença física ou psíquica, mas um ser humano vivendo
em harmonia consigo mesmo, com os outros, com o
mundo e com Deus.
Apresentado
este
conceito,
podemos
compreender a visão do povo da Bíblia onde, saúde
tem a ver com a vida, tem a ver com tudo o que há de
mais sagrado, com Deus, autor e senhor da vida.
Esta compreensão não significa uma entrega
da vida nas mãos de Deus numa atitude fatalista, mas,
ao contrário, uma entrega confiante e responsável
pela saúde pessoal e comunitária. A entrega a Deus, a
confiança na oração, é, ao mesmo tempo, uma
afirmação de todas as lutas humanas por saúde e bemestar, entendidos espiritualmente, - lutas estas em que
Deus está misericordiosamente presente a homens e
mulheres.
Tanto no Antigo Testamento como no Novo
Testamento, percebemos que é necessário percorrer
três caminhos para a mudança e a conversão que
trarão vida plena para todos, ou seja, SAÚDE para
todos.
O primeiro caminho é o da JUSTIÇA - vai
significar a mudança das estruturas da sociedade que
não estão de acordo com a vontade de Deus. Criar
uma ordem que favoreça a vida para todos, uma
ordem justa.
O segundo caminho é o da SOLIDARIEDADE
- implica na conversão, na mudança de atitudes na
própria comunidade. É uma exigência que envolve o
compromisso de acolher a todos os que sofrem.
O terceiro caminho é o da MÍSTICA - implica
na mudança de consciência da pessoa, de uma
perspectiva de inferioridade e de culpa, para a
consciência de justiça, de filho de Deus e da própria
dignidade. Nasce uma nova certeza que orienta a vida
para um novo sentido.
No Evangelho de Marcos, capítulo 5, versículo
34, podemos observar com atenção a relação de Jesus
com o doente. Ele diz: “Minha filha, a tua fé te curou;
vai em paz e fica curada desse teu mal”.
A cura não é feita mecanicamente, sem a
participação do doente. A pessoa deve participar
ativamente, pela fé. A cura não é colocada por Jesus
numa perspectiva individualista, mas, ao contrário,
interpela o homem a participar do processo de
transformação do mundo na saúde pessoal e na saúde
coletiva.
A pessoa deve acreditar na própria cura:
atitude que revela a fé pessoal. É a fé que salva, é a fé
que provoca o movimento de busca de harmonia, de
saúde.
O importante na cura é que Jesus nos ensina a
partir, não da doença, mas das energias saudáveis,
que são a força para combater a doença. Fortalecido
em seu ser, o homem pode começar o caminho que o
levará à sua plena realização. Ele fica assim
incorporado ao processo criador, começa a ser cocriador, a participar na própria humanização e na
humanização de seus irmãos.
Nos momentos de sofrimento, de cruz, nos
identificamos com a paixão de Jesus. Esse é um
mistério que nos ultrapassa, mas que, ao mesmo
tempo, joga uma luz muito forte sobre o caminho da
“mística”. A própria doença, que oprime, marginaliza,
faz sofrer, deve ser transformada, pelo doente, em
instrumento que o liberta e reintegra e que lhe traz
alegria. A cruz é sinal de morte; mas pela ressurreição
ela se transformou em sinal de vida. Esta mística não
tem nada a ver com paciência fatalista, com culpa ou
conformismo. É atitude criadora, que sabe
transformar o instrumento de opressão em instrumento
de libertação.
Essa é a força libertadora do
sofrimento, tanto para a libertação pessoal, como para
a integração pessoal dentro do processo de libertação
que atravessa a história.
Jesus continuou, alargou e completou a ação
dos profetas do AT em favor da saúde do povo. Ele
veio para que todos tivessem vida, e vida em
abundância (Jo 10,10). Em vista disso, denunciou as
estruturas erradas que causavam as doenças do povo,
acolhia os doentes, que eram os mais abandonados e
marginalizados, e deles exigia a fé, a participação
ativa na cura, e uma nova postura frente a Deus,
frente aos outros e frente a si mesmos. (Carlos
Mesters)
Rosemary Fernandes da Costa
VIVÊNCIA MISTAGÓGICA 6 – TEMA GERADOR - NÃO
VIOLÊNCIA ATIVA
1º. Momento – (5 min.) - apresentação da proposta,
relevância do tema, orientações para se ater ao
tempo, contribuições simples e significativas,
colaborativas com relação aos demais, compreender
que é uma experiência que não se esgota nesse
espaço, perceber o passo a passo, por onde passa a
experiência mistagógica.
2º. Momento – (10 min.) – arrumar o grupo em duas
filas de cadeiras, um em frente ao outro. Cada pessoa
de uma das filas recebe uma orientação de uma
emoção/atitude que deve assumir corporalmente
diante do parceiro. Ficar um pouco em silêncio,
pensar em uma situação ou algo que ajude a entrar no
clima da emoção/atitude proposta. Quando se sentir
pronto, ficar de pé para iniciar. Os dois não devem
conversar
O parceiro deve respeitar o tempo do outro pensar e
assumir a emoção/atitude proposta, procurar entrar
em sintonia, sem interferir, apenas observar. Quando
o parceiro assumir a emoção/atitude corporalmente,
observar, perceber a pessoa, e depois, pouco a pouco,
entrar em contato com ela através do olhar, do toque
e procurar, aos poucos, modificar esta atitude para
uma atitude de abertura e diálogo.
3º. Momento – (10 min.) – dois a dois – partilhar a
experiência, como foi, o que sentiu cada um, como foi
mudar de emoção/atitude. Qual a similaridade com
situações vividas. Como você costuma reagir quando
encontra alguém em uma emoção/atitude fechada?
Como você age quando está assim? Consegue se
abrir? O que ajuda? O que dificulta?
4º. Momento – (15 min.) – grupão – partilhar a
experiência dirigindo a reflexão para o tema da NÃO
VIOLÊNCIA – como agir diante de situações de
fechamento, agressividade, indiferença, violência? É
possível romper e construir uma dinâmica de paz e
não violência?
5º. Momento – ( 15 min.) – ciranda – todos de pé –
construir o centro da ciranda colocando um tecido
bonito, algo que marque o centro e cada pessoa deve
colocar um símbolo/objeto pessoal representando
suas metas, seus sonhos, seu desejo de superar toda
atitude de violência, sem entrar nessa lógica.
- Organizar os passos da Ciranda, uma pessoa vai ao
centro, orienta a dança antes de começar. Podem ser
passos simples, sempre para o lado; ou como Ciranda,
com o pé direito a frente, acompanhando uma
melodia. O principal é sintonia e não coreografia.
- Sugestões:
– Essa ciranda não é minha só, ela é de todos nós, ela é de
todos nós. A melodia principal quem guia, é a primeira voz,
é a primeira voz (bis). Pra se dançar ciranda, juntamos mão
com mão, formando uma roda, cantando uma canção.
- Deus chama a gente pra um momento novo de caminhar
junto com o Seu povo. É hora de transformar o que não dá
mais. Sozinho, isolado, ninguém é capaz/ Por isso vem entra
na roda com a gente também, você é muito importante,
vem.//Não é possível crer que tudo é fácil. Há muita força
que produz a morte, gerando dor, tristeza e desolação. É
necessário unir o cordão.//A força que hoje faz brotar a vida
atua em nós pela sua graça. É Deus quem nos convida pra
trabalhar, o amor repartir e as forças juntar.
6º. Momento – (10 min.) – grupão – sentados –
Oração Coletiva
7º. Momento – ( 5 min.) - avaliação –
palavras/sentimentos geradores
MATERIAL: tiras com as emoções/atitudes que as
pessoas devem assumir. Tecido bonito, de preferência
circular, e um símbolo para o centro, texto subsídio
EXPRESSAR CORPORALMENTE ATITUDE DE ISOLAMENTO
EXPRESSAR CORPORALMENTE ATITUDE DE FECHAMENTO
EXPRESSAR CORPORALMENTE ATITUDE DE MÁGOA
EXPRESSAR CORPORALMENTE ATITUDE DE INDIFERENÇA
EXPRESSAR CORPORALMENTE ATITUDE DE TRISTEZA
EXPRESSAR CORPORALMENTE ATITUDE DE EGOÍSMO
EXPRESSAR CORPORALMENTE ATITUDE DE ORGULHO
EXPRESSAR CORPORALMENTE ATITUDE DE AGRESSIVIDADE
EXPRESSAR CORPORALMENTE ATITUDE DE DESPREZO
Para ver as danças circulares https://www.youtube.com/watch?v=JqjWRRl2zGY
VIVÊNCIA MISTAGÓGICA 6 – NÃO-VIOLÊNCIA ATIVA
NÃO VIOLÊNCIA ATIVA: UM MODO DE VIDA
Richard Deats
Quando Martin Luther King Jr. foi para o
seminário, acreditava que a mensagem de Jesus
ajudava as pessoas a se tornarem indivíduos
amorosos, compassivos, honestos, corajosos,
pacientes e gentis. Mas não entendia como tais
qualidades pessoais poderiam ser relevantes no
tocante aos grandes males sociais do seu tempo:
racismo, guerra, opressão, injustiça. Ele então
estudou Gandhi e o movimento de libertação da
Índia. Ali encontrou, em grande escala, um
movimento de libertação que resistiu ao maior
império daquele tempo usando métodos
consistentes com o caminho da verdade e do
amor. King depois escreveu que o indiano Gandhi
mostrou a ele que sua incredulidade em relação
ao poder do amor era infundada. "Vim a perceber
pela primeira vez que a doutrina cristã do amor,
operando pelo método gandhiano da NãoViolência, era uma das armas mais poderosas
disponíveis para os povos oprimidos em sua luta
pela liberdade: "Gandhi demonstrou de forma
poderosamente atual as implicações do Sermão
da Montanha".
Gandhi ensinou que Deus é Verdade e a
Verdade é Deus, e que a natureza do poder está
fundada na Verdade mesma. Gandhi intitulou sua
autobiografia de "Minha Vida e Minhas
Experiências com a Verdade", e nela escreveu
que: "Para as pessoas de boa vontade o único
nome de Deus é Verdade". Os tiranos e
opressores temem a verdade, por isso constroem
seu poder sobre mentiras, golpes, censura e
violência. A arma mais poderosa que os pobres e
oprimidos possuem para lutar não é o uso maior
nem mais ardiloso da violência, nem mentiras em
contra-ataque, nem propaganda, mas a Verdade
mesma. O mal pode ser vencido com aquilo que
Gandhi chamava de satyagraha. Satya é a
verdade que se equipara ao amor. Graha é força.
Satyagraha é a força da verdade ou a força do
amor. Hoje o termo não-violência em sendo usado
no lugar de satyagraha.
Antes de Gandhi o movimento de
libertação da Índia era subterrâneo, marcado por
ódio, assassinatos e bombardeios. Gandhi
transformou a luta pela liberdade num movimento
aberto, que diz a verdade, não-violento. Leis
opressivas
e
autoridades
cruéis
eram
confrontadas com ações corajosas, marcadas pela
verdade e pelo amor. Enfrentar o ódio e a
violência com ódio e violência é tornar-se igual
ao inimigo. O sofrimento não merecido por parte
do seguidor da Verdade é fonte de redenção.
Gandhi ensinava que não se deve
trabalhar por uma causa nobre através de meios
condenáveis, pois os meios e os fins estão
interligados assim como a semente e a árvore.
Para construir a sociedade sem classes ou para
obter um crescimento rápido do produto interno
do país, o terror e a repressão parecem ser
justificáveis. Não, dizia Gandhi. "Se cuidamos dos
meios, o fim cuidará de si mesmo... Sempre temos
controle sobre os meios, nunca sobre os fins."
Gandhi e King nos ensinaram a olhar de modo
novo para a natureza do poder.
Martin Luther King Jr. descobriu o poder
das percepções de Gandhi na luta pelos direitos
civis. Descobriu que Gandhi havia penetrado no
coração mesmo da mensagem de Jesus: o
sofrimento por amor e a Cruz. Isto contrasta
muito com o cristianismo popular que fala de
Jesus mas ignora Sua mensagem. O cristianismo é
popularmente apresentado como uma doutrina em
que se deve acreditar ao invés de um caminho de
amor a ser vivido. A Bíblia não diz que "O verbo
se tornou palavras". Diz que "O Verbo se fez
carne". Ser um seguidor de Jesus significa viver
uma vida de amor e levar a cruz. King via a cruz
como "o poder de Deus para a salvação
individual e social". "Amar o inimigo", "dar a
outra face", "andar a segunda légua", "vencer o
mal com o amor" eram ensinamentos de Jesus
para um povo oprimido que vivia sob o jugo cruel
do Império Romano.
Muitos pensam erroneamente que o poder
vem da violência, e que pode ser derrotado
somente por violência maior. Gandhi disse que "A
força não vem da capacidade física, mas de uma
vontade indomável". A justiça da causa indiana
deu ao seu povo uma vontade mais forte que o
poderio bélico britânico.
O professor Gene Sharp, em sua obra de
treze volumes A Política da Ação Não-Violenta,
diz que a essência do poder não está no poderio
militar, mas no povo. Sharp prossegue,
examinando a não-violência como método para
resistir ao mal e sobrepujar a injustiça. Quais são
esses métodos? Vejamos as sugestões do
professor Sharp.
INVESTIGAÇÃO: Ao combater a injustiça, a
simples revelação da verdade – sobre mentiras
governamentais, brutalidade policial, ou leis
injustas, por exemplo – pode ser tremendamente
poderosa. Nada afugenta a escuridão como a luz,
nada enfraquece a falsidade como a verdade.
EDUCAÇÃO: A educação não vem apenas da
sala de aula e dos livros; pode vir de um evento,
um folheto ou uma palavra falada que comunica a
verdade.
NEGOCIAÇÃO: Devemos tentar negociar um
acordo para uma questão sempre que
possível. Todas as possibilidades devem ser
tentadas. Se houver qualquer parte da lei na qual
possamos nos apoiar – por exemplo, a lei
trabalhista – ela deveria ser a base de
negociações.
BOICOTE: O boicote é uma forma muito
poderosa de desafiar uma situação injusta. Neste
tipo de ação cada indivíduo pode fazer a sua
parte, e se desejar, continuar anônimo. Gandhi
liderou um boicote às roupas de origem britânica,
e promoveu o renascimento dos tecidos feitos a
mão, o que ajudou de forma marcante para que os
indianos ganhassem autoconfiança.
DEMITIR-SE: Pedir demissão para não
participar de um sistema injusto é uma forma de
enfraquecer aquele sistema.
PROCISSÕES RELIGIOSAS: Em alguns
lugares as passeatas são ilegais, mas as
procissões religiosas permitidas.
FONTE: http://www.comitepaz.org.br/nv_ativa_1.htm COMITÊ PAULISTA PARA A DÉCADA DA CULTURA DE
PAZ. 2001-2010
A não-violência promove uma nova atitude
perante a vida e tem como ferramentas
principais:
 a não-colaboração com as práticas violentas;
 a denúncia de todos os atos de violência e
discriminação;
 a desobediência civil face à violência
institucionalizada;
 a organização e mobilização social, voluntária e
solidária;
 o desenvolvimento das virtudes pessoais e das
mais profundas aspirações dentro de cada um.
Qual é a forma de atuar e os parâmetros precisos
que definem esta metodologia de ação na
conduta pessoal e social?
1. Um trato pessoal baseado na seguinte regra
básica de conduta: “trato os outros como quero
ser tratado”;
2. Uma conduta interna e externa baseada na
coerência: “atuo com base naquilo que penso e
sinto que é o melhor para a minha vida e a vida
daqueles que me rodeiam”;
3. Recuso, denuncio e não colaboro com as
diferentes formas de violência que se expressam
ao meu redor.
Quais são os indicadores pessoais e sociais que
mostram a bondade e a eficácia desta conduta?
1. O crescimento da felicidade e a liberdade
naqueles que exercitam esta conduta e no seu
meio imediato.
2. A diminuição ou o retrocesso dos fatores que
geram sofrimento pessoal e violência social.
3. Uma sociedade mais justa, onde haja
igualdade de oportunidades e onde se respeite e
valorize a diversidade.
4. A transformação de uma democracia formal
numa democracia real.
Download

Momento – SENSIBILIZAÇÃO - inicial, sensibilização, contato com o