SEMINÁRIO DA CRB - Identidade e Mística da VRC: Atitude Profética, Processo Mistagógico – 2015 VIVÊNCIAS MISTAGÓGICAS Profa. Rosemary Fernandes da Costa Como podemos aplicar essa experiência da mistagogia em nossos encontros com as crianças e adolescentes? Sabemos que os primeiros anos de vida são fundamentais para a estrutura da pessoa humana e, também para a experiência da fé. Vejamos alguns pontos que consideramos importantes para a Iniciação cristã fundada na experiência mistagógica: 1. A espiritualidade viva e profunda 2. O cotidiano, as situações de vida, as histórias pessoais e comunitárias 3. A dimensão afetiva, interpessoal, corporal 4. A dinâmica grupal: intimidade, confiabilidade e parceria, comunicação hermenêutica 5. O elemento lúdico, criativo 6. A dimensão estética, a linguagem simbólica, litúrgica e celebrativa 7. As narrativas sagradas, os místicos, os caminhos, as tradições 8. A presença do sagrado no mundo – unidade-comunidade 9. A dimensão macroecumênica 10.Revisão e avaliação constantes 11.Ser presença solidária MISTAGOGIA NO ENCONTRO – Preparando um encontro que tem a Pedagogia da Fé como referência -comunidade, percepção, diagnóstico – chave de leitura, orientação fundamental, fazer um pequeno roteiro do que seria fundamental experiência de encontro com Deus, consigo mesmo, na própria existência, com suas relações fundamentais? – reflexão, oração, colocar-se diante do tema, do grupo, de si mesmo, de Deus iações – lúdico, simbólico, corporal, litúrgica, ecumênica, bíblica, natureza, reportagens, música, poesia, texto, fotolinguagem, espelho, cordas, tesoura, durex etc - momentos: Momento – SENSIBILIZAÇÃO - inicial, sensibilização, contato com o tema Momento de percepção – VER - percepção, olhar, entrar em contato com um fato da realidade Momento: EXPERIMENTAR – contato pessoal/comunitário, como chega em você, como Deus te fala através dessa experiência Momento: EXPRESSAR – canto, dança, gestos, atividade plástica, palavras... Momento: INTERPRETAR – revisão pessoal/comunitária, construção de nova síntese, abertura de novas possibilidades Momento: SÍNTESE – oração, oferecimento, revisão de vida, colocar-se diante de si, de Deus, da comunidade, da história Momento: AVALIAÇÃO – palavras/sentimentos geradores ALGUMAS PROPOSTAS PREPARADAS PARA O CONGRESSO DA VIDA CONSAGRADA – APARECIDA/2015 TEMAS RELEVANTES E DESAFIANTES SELECIONADOS: 1. ÁGUA 2. MISSÃO 3. INTOLERÂNCIA E PAZ 4. CULTURAS 5. SAÚDE 6. NÃO VIOLÊNCIA VIVÊNCIA MISTAGÓGICA 1 – TEMA GERADOR – ÁGUA 1º. Momento – (5 min.) - apresentação da proposta, relevância do tema, orientações para se ater ao tempo, contribuições simples e significativas, colaborativas com relação aos demais, compreender que é uma experiência que não se esgota nesse espaço, perceber o passo a passo, por onde passa a experiência mistagógica. - no centro do grupo uma vasilha larga com água, sobre um tecido bonito 2º. Momento – (10 min.) - relaxar, postura de 90 graus, costas retas, pés ao chão, mãos descansando sobre o corpo, sentir o coração batendo, inspirar e expirar, tranquilizar-se - de olhos fechados ouvir o barulho da água, respirar ao som da água, inspirar e expirar, deixar que venham sentimentos, emoções, enquanto respira – dois copos, um com água, o orientador passa a água de um copo para o outro – ao mesmo tempo, conduz a meditação, ou divide esta tarefa com alguém. 3º. Momento – (5 min.) - leitura silenciosa do texto sobre a ÁGUA. Deixar o texto ecoar 4º. Momento – (10 min.) - expressar em 1 palavra o sentimento ou pensamento que está mais forte nesse momento – registrar em cartolina e colocar no centro do grupo. 5º. Momento – ( 15 min.) - observar as palavras e procurar construir uma pequena síntese a partir das palavras apresentadas. Pode ser em forma de texto, poema ou oração – registrar em uma folha 40kg branco 6º. Momento – ( 15 min.) - solenemente, uma pessoa ergue a vasilha com água e todos abençoam a água - Estendamos nossas mãos sobre a água, pedindo as bênçãos de Deus sobre essa força revitalizadora, capaz de nos reanimar a cada passo e nos conduzir à fonte que sacia nossos corações! Bendita seja aquela que falou e o mundo se fez Bendita seja aquela que deu a luz no princípio Bendita seja aquela que fala e realiza o que o diz Bendita seja aquela que declara e cumpre Bendita seja aquela cujo ventre envolve a terra Bendita seja aquela que vive para sempre e existe desde toda a eternidade Bendita seja aquela que redime e salva Bendita seja seu nome! - Num gesto simples e familiar, abençoemos uns aos outros, marcando com este gesto nosso desejo de paz e bem a cada um, partilhando nossos sonhos e fortalecendo-nos com a água do Amor de Deus que transborda em nossas vidas. A pessoa que ergueu a vasilha vai passando por cada pessoa do grupo, enquanto cada um toca na água e toca a pessoa que está ao seu lado direito. Procurar deixar que sua mão oriente onde deve tocar no colega, nos olhos, no rosto, na testa, nas mãos, na nuca, onde ele pode estar necessitando de uma bênção. - Neste momento, podemos cantar - Irmãos, minhas irmãs, vamos cantar esta manhã, pois renasceu mais uma vez a Criação das mãos de Deus. Irmãos, minhas irmãs, vamos cantar, aleluia, aleluia, aleluia! Irmã flor, que mal se abriu, fala do amor que não tem fim, água irmã, que nos refaz e sai do chão cantando assim: aleluia... 7º. Momento – ( 5 min.) - avaliação – palavras/sentimentos geradores MATERIAL: tecido para o centro, vasilha larga com água, dois copos, texto ÁGUA, cartolinas coloridas recortadas (5cm x 20cm), pilots, 1 folha de papel 40kg branco VIVÊNCIA MISTAGÓGICA – TEMA – ÁGUA – TEXTO-SUBSÍDIO O que é essa crise da água? Alguns dizem que se trata de escassez e uma população crescente. Outros acreditam que se trata da distribuição, desperdício e falta de cuidado com a água em uma sociedade materialista e consumista. Outros acreditam que é devido à privatização dos serviços de abastecimento de água e propriedade - com 95% ainda controlado pelas atividades do setor público. Todo cidadão tem o direito natural de água como os cuidados de saúde e educação. O acesso a estes bens básicos não é uma questão de escolha, mas de Direitos Humanos. A escassez de água potável está subindo drasticamente; o relatório da ONU de Desenvolvimento da Água no Mundo do ano de 2003, previu que "em meados deste século, no pior dos 7 bilhões de pessoas em 60 países sofrem de escassez de água e, na melhor casos, a escassez de afetar 2 bilhões em 48 países. A água é uma realidade primordial cuja importância e simbolismo toca todos os níveis da existência. Os antigos mitos e a ciência moderna convergem quando vêem a água como o berço da vida, o líquido amniótico que sustenta o embrião de evolução e crescimento. Como o material básico de qualquer organismo, a água é necessária para a existência de todos os seres vivos, os seres humanos, animais e plantas. A água tem um ciclo todo seu que está além do nosso controle. A principal dificuldade em relação à água hoje não é a absoluta escassez, mas sim a distribuição e recursos. O acesso ou perda depende em grande parte das decisões sobre a água. Daí ligação entre política da água e ética surgem cada vez mais em todo o mundo. Na tradição judaico-cristã O rico simbolismo da água encontra um maravilhoso resumo na "Oração sobre a Água Batismal" no rito do Batismo. No início da criação, o Espírito de Deus pairava sobre as águas fazendo delas a fonte de todo o bem. As águas do grande dilúvio eram um sinal das águas do batismo, prefigurando a vida que virá, o fim do pecado e um novo começo da criação. Através das águas do Mar Vermelho, o Senhor conduziu Israel para fora do Egito. Nas águas do batismo o novo Povo de Deus foi libertado da escravidão do pecado. Através do rio Jordão, o Senhor trouxe a sua terra escolhida de Canaã para viver com integridade e paz. Pelas águas do batismo, o povo de Deus peregrino entrar na terra prometida, onde reina a justiça e harmonia. Os profetas anunciaram uma purificação futuro, o que cria um novo coração e um novo espírito irá conferir. João Batista pregava um batismo para a remissão dos pecados e prefigurou dramaticamente a aurora da redenção com o seu rito de lavagem. Em cumprimento de seu batismo, Jesus morreu na cruz, água e sangue fluiu de seu lado, abrindo-nos o caminho da salvação. O batismo não é um rito de passagem para um grupo privilegiado. Trata-se, em primeiro lugar, um compromisso de viver a serviço de nossos irmãos e irmãs e de manifestar a justiça do nosso Deus e Pai, como Jesus fez. É o sacramento pelo qual os fiéis expressam seu compromisso de viver de uma comunidade cheia do Espírito Santo, que visa antecipar a plenitude de vida que Deus preparou em abundância para toda a criação. Estes são os desafios para hoje: * A dimensão profética da vida religiosa nos chama a um estilo de vida de simplicidade e respeito pela criação. * Muitas religiosas e religiosos estão envolvidos em questões de água, porque eles trabalham com as comunidades que não têm acesso à água potável. * Podemos ler os "sinais dos tempos". Somos chamados a viver em um constante processo de discernimento. * Temos recursos e estabelecer redes e caminhos para comunicar a mensagem e aconselhamento em relação a esta ameaça à vida. Temos um compromisso com a reconciliação e em restaurar a harmonia que vem através de nossa espiritualidade e carisma. Viemos com o dinamismo do bem comum e de uma ética da solidariedade com aqueles que sofrem e precisam de ajuda. Como nós respondemos vai depender de onde vivemos. Para aqueles que vivem em sociedades caracterizadas pelos valores do consumismo e do materialismo países, maneiras de viver em harmonia com a criação será diferente de quem vive em sociedades e países onde apenas o essencial e os princípios para uma vida decente e humana. (FONTE: (fonte: www.ofm-jpic.org/agua - grupo de trabalho de Ecologia de Promotores em JPIC, Roma, Italia, 2003) VIVÊNCIA MISTAGÓGICA 2 - TEMA GERADOR – MISSÃO 1º. Momento – (5 min.) - apresentação da proposta, relevância do tema, orientações para se ater ao tempo, contribuições simples e significativas, colaborativas com relação aos demais, compreender que é uma experiência que não se esgota nesse espaço, perceber o passo a passo, por onde passa a experiência mistagógica. Nesta vivência vamos experimentar uma mística que muito alimentou os cristãos de todos os tempos e ainda nos alimenta – a mística da carta, do endereçamento narrativo e convocativo. - no centro do grupo uma cesta com cartas envelopadas (Inácio, Teresa, Francisco, Paulo) sobre um tecido simples e uma vela 2º. Momento – (15 min.) - receber as cartas e leitura pessoal - o orientador pode entregar uma carta a cada pessoa e convidar a cada um recebê-la como sua, endereçada a você mesmo, ler com atenção, meditando nas palavras e na própria vida. Pode deixar ecoar trechos, marcar. 3º. Momento – (10 min.) - eco em duplas – conversar com a pessoa ao lado sobre a carta recebida, o que tocou, o que chamou sua atenção, qual a relevância para nosso tempo, para a missão da juventude e com a juventude 4º. Momento – (10 min.) - acendimento da vela – canto – Sobe a chama, sobe a chama, mais alto, mais alto, ilumina e aquece nossas vidas, nossa dança – falar sobre a mística das cartas que lemos, caminhos que nos conduzem ao Mistério e nutrem nossas vida. - eco no grupo – como pequenos mantras, ecoar trechos das cartas que foram recebidas. Ao final de alguns trechos pode-se cantar: Senhor, quanto mais caminho - ou - Quem nos separará? 5º. Momento – (10 min.) - leitura solene, proclamada, da segunda carta, do papa Francisco – deixar ecoar no coração, na mente, repetir trechos, palavras. 6º. Momento – ( 15 min.) - cada pessoa recebe a carta do Papa Francisco - conversa no grupo – o que há em comum nas orientações das cartas anteriores e a carta do Papa Francisco aos jovens? 7º. Momento – ( 10 min.) - em forma de oração, dirigindo-se ao Senhor, expressar o que as mensagens refletidas deixam para semear este momento de nosso trabalho pastoral, na vida religiosa, nos projetos pedagógicos, na vida pessoal e comunitária, em nosso país. 8º. Momento – ( 5 min.) - avaliação – palavras/sentimentos geradores MATERIAL – tecido, vela com apoio, cesta media, cartas envelopadas (Francisco, Paulo, Teresa e Inácio), cartas envelopadas (papa Francisco), folhetos com cantos QUANTO MAIS CAMINHO QUEM NOS SEPARARÁ? Senhor, quanto mais caminho, mais vejo aumentar a estrada, tropeço por entre espinhos num campo onde foi calada a voz da libertação Mas me ergo, não vou sozinho, teus passos comigo vão, na terra será plantada a paz que nos é doada em cada fração do pão Não posso ficar parado, Teu corpo me dá coragem, Teu sangue me traz a imagem de tantos irmão deixados à margem da salvação Teus passos irei seguido, a paz vou distribuindo, e o mundo, evangelizado, será, enfim, transformado, em paz e em salvação Quem nos separará? Quem vai nos separar Do amor de Cristo? Quem nos separará? Se ele é por nós, quem será, quem será contra nós? Quem vai nos separar do amor de Cristo, quem será? 1. Nem a espada ou perigo, nem os erros do meu irmão, Nenhuma das criaturas nem a condenação. 2. Nem a vida, nem a morte, a tristeza ou aflição. Nem o passado, nem o presente, o futuro, nem opressão. 3. Nem as alturas, nem os abismos, nem tampouco a perseguição. Nem a angústia, a dor ou a fome, nem a tribulação. Queridos irmãos e irmãs em Jesus Cristo, Nosso Senhor Há muito escrevi algo semelhante para a comunidade que vivia em Roma, no 1 º século. Hoje venho lhes dizer algo que lhes sirva de orientação para caminharem na direção do verdadeiro amor que nos ensinou e demonstrou o Senhor Jesus. Em primeiro lugar, eu vos peço que ofereçais vossos corpos, como uma oferta viva, santa e agradável a Deus. Este deve ser o vosso culto espiritual, estarem a serviço dos irmãos e irmãs, como o Senhor Jesus entre nós. E para isso, estejam atentos e abertos para a transformação do espírito, e pouco a pouco, conhecerão a vontade de Deus para cada situação. Em segundo lugar, aconselho que cada um de vós não faça uma ideia de si maior do que convém, mas seja moderado conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um. Não esqueçam que somos um só corpo, mas temos muitos membros, exercendo funções diferentes, conforme os diferentes dons que recebemos da graça de Deus. E agora quero lhes falar sobre o amor. Esta é a única exigência do Senhor, que a viveu plenamente entre nós, e nos deixou como herança e como lei. Que o vosso amor não seja hipócrita. Rejeitem o que é mal e acolham o que é bem. Amai vos uns aos outros com amor fraterno, e se preciso corrigi-vos mutuamente com respeito e dignidade. Sejam zelosos, cuidadosos uns com os outros, com o meio ambiente e nas suas demais relações. Sejam zelosos também consigo mesmos. Sejam fervorosos no espírito, constantes na oração e no serviço ao Senhor. Alegraivos na esperança e perseverem nos momentos de angústia e tribulação. Não se deixem dominar pela tristeza, pelo absurdo, pelo vazio e pelo sentimento de incapacidade. Estes semeiam a falta de esperança em nosso coração, própria daqueles que se esqueceram que Nosso Senhor venceu o mundo, e esta é a nossa vitória. É a força do Espírito que deve vos mover. Sede hospitaleiros, abertos à vida que se aproxima a cada momento, sem resistências, medos e sem preconceitos. Abençoai os que vos perseguem e não os amaldiçoem. Sede misericordiosos como o Pai. Alegraivos com os que se alegram e chorai com o que choram. Aprendam a sabedoria da concórdia, do perdão, da correção fraterna. Deixemse atrair pelos humildes, pela simplicidade. O mundo acredita no que parece grande aos seus olhos, mas só Deus é grande, e ele veio morar no meio de nós, esvaziando se de toda glória. Não sede vingativos, rancorosos, maledicentes. Procurai fazer o bem para com todas as pessoas. Sempre que possível, esforcem-se pessoalmente para viverem em paz com todos. Não se deixem vencer pelo mal, mas sempre vençam o mal pelo bem. No mais profundo de seus corações façam uma escolha a cada dia, a cada momento de suas vidas, e exercitem essa escolha : decidam pelo amor. Esta não uma decisão facilitada pelas forças do mundo, mas é uma semente firme em seu coração que,pela graça de Deus, lhe fortalecerá e não lhe abandonará nunca. A graça de Nosso Senhor, Jesus Cristo, estejam com todos vocês! Com toda a afeição, deste servo de Jesus Cristo, Paulo Queridos jovens, meus irmãos e minhas irmãs. Como vocês, também fui jovem. Era filho de um rico comerciante de tecidos: Pedro Bernardone. Meu pai, muito rico, me proporcionou todas as facilidades. Participava de festins com amigos e muita algazarra. Depois de algum tempo, comecei a sentir um grande vazio dentro de mim. Tudo aquilo era bom, mas não me preenchia. Para superar a crise, tentei ser cavaleiro, mas no meio do caminho desisti. Lentamente, porém, começou a crescer dentro de mim um estranho amor pelos pobres e isolados pela doença. Lembrava-me de Jesus que foi também pobre e o muito que sofreu na cruz. Certo dia, quando entrei numa igrejinha, de nome São Damião, fiquei longamente contemplando o rosto chagado do Cristo Crucificado. De repente, me pareceu ter ouvido uma voz vindo dele:”Francisco, vá e repara a minha igreja que está em ruinas”. Aquelas palavras calaram fundo no meu coração. Comecei, com minhas próprias mãos, a reconstruir uma pequenina e velha igreja em ruinas, chamada de Porciúncula. Depois, pensando melhor, me dei conta de que aquela voz se referia à Igreja feita de homens e de mulheres, de prelados, abades, padres, não excluindo o próprio Papa. Ela estava em ruína moral. Achei por bem beber da fonte genuína da reconstrução da Igreja: os evangelhos e o seguimento de Jesus pobre. Nas minhas andanças me fascinava a beleza das flores, o canto dos passarinhos, o ruído das águas dos riachos. Entendi que todos tínhamos nascidos do coração do Pai de bondade. Por isso éramos irmãos e irmãs: o irmão fogo, a irmã água, o irmão e Senhor Sol e a irmã e a Mãe Terra. Muitos antigos companheiros de festas e diversões se juntaram a mim. Uma bela e querida amiga, Clara de Assis, fugiu de casa e quis compartilhar a nossa vida simples. Começamos um movimento de pobres. Nada levávamos conosco. Apenas o ardor do coração e a alegria do espírito. Depois de alguns anos, já éramos uma multidão a ponto de eu não saber mais como abrigar e animar tanta gente. O resto da história vocês conhecem. Vejam, queridos jovens, irmãos e irmãs meus queridos. Mas aproveito agora que estamos juntos para dizer-lhes algumas coisas que considero de suma importância para os tempos atuais. A primeira é: como nunca antes, estamos num momento critico da história da Terra e da Humanidade. Nossa querida Mãe Terra está doente e com febre, pois, já há muito tempo, a estamos superexplorando. Devemos urgentemente fazer uma aliança global de cuidar da Terra e uns e dos outros, caso não quisermos conhecer grandes dizimações que afetarão toda a comunidade de vida. Uma segunda coisa preciso dizer-lhes como um irmão mais experimentado: temos que mudar a nossa mente e o nosso coração. Os olhos das ciências hoje são limitados. A Terra precisa ser cuidada, amada e respeitada como o fazemos com nossas mães. Recebemos uma missão única. Somos os guardiães da herança que Deus nos confiou. Além da mente devemos também mudar o nosso coração. É o lugar do sentimento profundo, é o nicho de onde crescem todos os valores e se expressa o mundo das excelências. Uma terceira coisa gostaria de dizer-lhes: nunca esquecer os pobres do mundo. São milhões e milhões de irmãos e irmãs que nos atualizam a paixão de Jesus. Eles devem ser reforçados em suas lutas e movimentos para se libertarem da pobreza que Deus não quer porque ela os faz morrer antes do tempo. No lugar do punho fechado para submeter, devemos ter a mão aberta para o cuidado essencial, para o entrelaçamento dos dedos numa aliança de valores e princípios que poderão sustentar um novo ensaio civilizatório. Por fim, caros jovens, irmãos e irmãs meus queridos: nada disso tudo que refletimos terá eficácia se não misturarmos Deus em todos os nossos empreendimentos. Ele não está em parte nenhuma, porque está em todas as partes, mas está principalmente no coração de vocês. Dentro de cada um de vocês queima uma brasa viva e arde uma chama sagrada: é a presença misteriosa e amorosa de Deus. Que Deus vos abençoe e vos guarde!Ele mostre sua face e se compadeça de vós! Que volva o seu rosto para vós e vos dê a paz! Que Deus vos abençoe! Paz e Bem Francisco, o Poverello e Fratello de Assis (por Leonardo Boff, em Francisco de Assis, Francisco de Roma. Pergaminho:RJ,2014) Queridas irmãs, O que sabemos sobre a oração? O que podemos falar sobre nossa comunicação com Deus? Podemos falar sobre a contemplação? Comecemos a nos perguntar sobre com quem vamos falar, e sobre quem somos nós. Estamos nos dirigindo a Deus, aquele que nos conhece a fundo. Por isso mesmo, a mais bela forma de nos dirigir a Deus é através de nossos atos. Cada dia, em cada gesto, em cada palavra, ofereça a Deus todo o seu ser e peça a Ele que seja feito da melhor forma. Quando te sentires inquieta, desorientada ou triste, não abandones esta oração do viver cotidiano. Ao contrário, se te sentires desanimada, intensifica a oração que nasce da ação. Verás, então, com que prontidão o Senhor te sustentará. Em cada dia, observa a presença de Deus em todas as coisas e sua sabedoria. Em tudo, envie-lhe o teu louvor, a tua gratidão. Quem verdadeiramente ama a Deus, ama tudo o que é bom, quer tudo o que é bom, favorece tudo o que é bom; louva todo o bem, com os bons se junta sempre, para apoiá-los e defendê-los. Em uma palavra, só ama a verdade e o que é digno de ser amado. Quando recitar o pai-nosso, será um sinal de amor lembrar quem é esse Pai e também quem é o Mestre que nos ensinou essa oração. Ò meu Senhor, como vos mostrais Pai de tal Filho, e como vosso Filho revela que veio de tal Pai. Bendito seja para sempre. Pai nosso, que estais no céu... Com quanta razão a alma estaria em si; poderia então elevar-se acima de si mesma e escutar o que lhe ensinaria o Filho bendito sobre o lugar em que – afirma ela – está o Pai. Deixemos tudo que nos atrai para o pequeno, longe do amor de Deus e de nossos irmãos e irmãs. Não é bom que nos deixemos seduzir e apreciar valores que não nos aproximam do amor fraterno, e ainda mais depois de termos experimentado a grandeza do amor de Deus em nossas vidas. Ame sempre. Quem ama, faz sempre comunidade, não fica nunca sozinho. Por isso, persevere na atitude do amor, na orientação que vem do fundo do coração mergulhado no amor de Deus. Quando falar sobre alguém, fale sempre o bem, pois Deus habita em todas as pessoas. Assim, sem somos amigos uns dos outros, também somos amigos do Senhor. Não podemos separar uma amizade da outra. É a mesma coisa. Por fim, mantenham-se no caminho, mesmo que cansadas, mesmo que inquietas, mantenham-se firmes e atentas. Perder o caminho é abandonar a oração, a confiança no amor que nos funda, nos orienta e nos sustenta. Esse amor, não olha tanto a grandeza de nossas obras, mas o amor com que são feitas. Lembrem-se, assim é o olhar de Deus sobre cada um de seus filhos e filhas: lhe basta amar e conceder graças. O amor só tem sentido amando. Teresa de Jesus, sua irmã (cf. Orações e recomendações de Santa Teresa, extraídas do livro: “Orar com Santa Teresa de Ávila – Edições Loyola – 1987.) Querido companheiro, Escrevo-te porque estou convencido de que a educação é um espaço privilegiado para a concretização daquilo que me propus em minha vida, e em função do qual me tornei um companheiro de Jesus. Talvez não saibas que, quando fundei a Companhia, não cheguei a contemplar um projeto educacional. Entretanto, pouco tempo, vi que precisávamos colaborar com a missão da Igreja no sentido de promover a pregação do Evangelho num contexto social e cultural caracterizado por graves divisões. Na verdade, minha motivação não era apologética, o impulso maior vinha, sim, da necessidade que percebia de formar a juventude a partir de determinados valores que queríamos, então, promover. Foi com essa esperança que abrimos os colégios com a ideia de formar as pessoas de uma maneira integral, abarcando a inteligência, a vontade e a sensibilidade. Queríamos atender a todas as classes sociais, motivo pelo qual as escolas eram gratuitas, com todas as dificuldades que, como podes imaginar, passávamos para isso. Entramos em novos continentes, e sei que muitas vezes, no fervor da batalha educacional, desconhecemos que as comunidades a quem catequizávamos também tinham algo a ensinar. Hoje, o panorama mudou muito. É olhando para esse panorama que te escrevo, querido companheiro. No contexto em que educas encontrarás outras forças que ameaçam agora a implementação do Reino: sistemas político-econômicos estruturados em função do mercado, que reduzem a dignidade humana e acentuam a desigualdade; forças opostas aos valores evangélicos, que desagregam e geram conflitos locais e internacionais. Olho para o mundo e ele parece um único globo, no qual se espalham ideologias que provocam desigualdades e injustiças e fomentam o individualismo. Tecnologias permitem que as pessoas se comuniquem, mas as mensagens que circulam nelas nem sempre promovem o ser humano. As cabeças e os corações dos jovens estão expostos a tudo isso, muitas vezes de maneira indefesa e inconsciente. Tens um papel crucial neste momento. E é para isso que te chamo: para uma grande transformação. Preparate: o que te peço é um movimento gigantesco de ruptura que exigirá de ti não apenas as tuas forças, mas envolverá tuas crenças e teus princípios. Sabes qual será tua lição mais eloquente? O teu exemplo. Se amares o saber, despertarás em muitos o gosto por conhecer aquilo de que falas. Se assumires o teu compromisso como cidadão e como mestre, podes estar certo de que contagiarás a muitos com teu entusiasmo e teu inconformismo. Falo disso com tanta certeza, porque também eu aprendi a conhecer e a amar um mestre assim, que falava de estranhas ideias revolucionárias, e acreditava num mundo diferente. Fui totalmente tomado por essa causa, e decidi acompanhar a sua luta irreverente e ousada. E embora fraco, senti-me nisso estranhamente forte; e apesar de não ter toda a sabedoria de que precisava, dei-me como instrumento ao Espírito, que falou por mim. Tua tarefa é árdua e bela. Vives num mundo em que a informação circula incessantemente, e conteúdos se tornam obsoletos em pouco tempo. Conecta-te nesse vasto mar de dados e mensagens e navega com ousadia, procurando outras paragens. Renova-te: reconhecendo que ainda não sabes, poderás ser livre. As certezas podem ter te tornado uma presa dos sentidos, e será preciso então que te libertes para que experimentes de novo o que é o indecifrável e possas penetrar os mistérios que nos envolvem. Trabalha em conjunto com os demais. Nossa identidade comum será decisiva neste momento em que se encontram em crise os sistemas políticos, as estruturas econômicas, os referenciais éticos e os próprios paradigmas que sustentaram as décadas anteriores. Onde estiveres, dedica-te a formar pessoas que vivam a fé articulando o contemplativo com a justiça e o compromisso social; homens e mulheres para os demais, capazes de, em tudo, amar e servir. Oferece o que te foi dado fazer para a maior glória de Deus. Procura ouvir a voz de Deus; o conhecimento das coisas muitas vezes começa no silêncio. Ah, sim, pois devo dizer-te algo: nesta Missão, é preciso ter coragem. O medo nunca acrescentou nada de importante ou de diferente à história da humanidade. Ao contrário, ele só impediu mudanças, retardou transformações, adiou o que devia ser feito. Medo é negar-se, é jamais sair de si. Medo é calar e voltar-se para dentro. E nós, querido companheiro, estamos voltados para o infinito. Mas a coragem de que te falo é graça, é dom: não te esqueças de pedi-la diariamente a Deus. Inácio de Loyola Resumo da versão elaborada por Andrea Ramal (Carta de Sto Inácio a um educador hoje. Loyola:SP, 2002 ) Mestre onde moras? Vinde e vede! (Cf. Jo 1,38-39) Estimada Aline e meu querido Alberto, que a graça do Jovem de Nazaré permaneça sempre com vocês, e nessa saudação quero abraçar a todos os jovens e adultos que estão participando do XI Encontro Nacional da Pastoral da Juventude nas benditas terras amazônicas. É com grande alegria que me dirijo a vocês por meio desta singela mensagem, obrigado por deixarme participar deste grande e bendito encontro. Gostaria de começar dizendo que fiquei muito feliz ao rezar e meditar a iluminação bíblica e o lema do encontro. Essa pergunta habita no coração humano. A respeito de tudo e em todas as circunstâncias. Atesta-o a experiência pessoal, documenta-o a história, confirma-o o relato bíblico. O rosto da pergunta surge no alvor das origens com aquele célebre: “Adão, onde estás? Que fizeste do teu Irmão?”; no templo de Silo no diálogo do jovem Samuel com o sacerdote Helí, nas proximidades do rio Jordão com dois discípulos de João a Jesus de Nazaré: “Mestre, onde moras”? Jo 1, 35-42. Também, hoje, a pergunta bate “à porta” da nossa consciência: Que queres da vida? Que sentido dás ao tempo? Como geras o instante no todo na tua história pessoal? Tens presente o teu futuro definitivo? E o teu contributo para o bem de todos? Cada um de nós saberá continuar a lista sem dificuldade. Toda a pergunta tem resposta. “Vinde e vede”, a resposta de Jesus fica como modelo e pedagogia para todos os peregrinos da verdade. Eles vão e ficam na sua companhia. Deixam-se “moldar” pelo modo de ser do Mestre. Mais tarde serão enviados em missão. E, como outrora, também agora, somos convidados a conviver com Ele, a partilhar a sua vida, a acolher o seu olhar penetrante, a deixar-nos atrair e a “agarrar” pela experiência gratificante que dá resposta aos anseios mais profundos do coração humano. Os discípulos, na companhia do Mestre, aprenderam os modos de realizar a missão: curar doentes e alimentar famintos, partilhar e viver na alegria sincera, deixar-se conduzir pelo amor universal e generoso, que Deus nos tem, acolher os mais débeis e afastados das fontes da vida. E partem pelos “quatro cantos da Terra” a anunciar a vocação sublime de todo o ser humano, a apreciar e a cuidar a dignidade do seu corpo (toda a sua pessoa), a construir relações na base da regra de ouro “tudo o que queres para ti, fá-lo aos outros”, a reconhecer que só a civilização do amor manifesta, o melhor possível, a convivência sustentada em sociedade e redimensionada na cultura, a vocação de toda a humanidade. Essa mesma vocação que nos convida a partilhar “A vida, o pão e a utopia”. De que serviria dizer que somos seguidores de Cristo se somos indiferentes às dores dos nossos irmãos? “Mostra-me tua fé sem obras que pelas minhas obras te mostrarei a minha fé” lembra-nos o apostolo Thiago. Meus queridos e minhas queridas jovens, tenho muita esperança em vocês que dão testemunho com as suas vidas desse Cristo libertador. Esse Cristo que “olhou ao jovem com misericórdia e o amou”, a Igreja também ama vocês e por isso os peço que não se deixem abater pelas coisas que possam chegar a ouvir da juventude, em todo tempo histórico se falou pejorativamente dos jovens, mas também em todo tempo foi essa mesma juventude que dava testemunho de compromisso, fidelidade e alegria. Nunca percam a esperança e a utopia, vocês são os profetas da esperança, são o presente da sociedade e da nossa amada Igreja e por sobre todo são os que podem construir uma nova Civilização do amor. Joguem a vida por grandes ideais. Apostem em grandes ideais, em coisas grandes; não fomos escolhidos pelo Senhor para coisinhas pequenas, mas para coisas grandes! Que o bom Deus abençoe sempre seus passos e seus sonhos e que a Nossa Senhora aparecida os cubra sempre com o seu manto sagrado. Com minha benção apostólica. + Francisco Vaticano, 21 de Janeiro – Dia de Santa Inês – de 2015. SEMINÁRIO DA VIVÊNCIA MISTAGÓGICA 3 - TEMA GERADOR – INTOLERÂNCIA E BUSCA PELA PAZ 1º. Momento – (5min.)apresentação da proposta, relevância do tema, orientações para se ater ao tempo, contribuições simples e significativas, colaborativas com relação aos demais, compreender que é uma experiência que não se esgota nesse espaço, perceber o passo a passo, por onde passa a experiência mistagógica. 2º. Momento – (10 min.) todos fazem uma leitura silenciosa do texto de Marcelo Barros – Deus é amor e não intolerância. Depois, convidar 3 voluntários para que, a cada etapa, saiam da sala e retornem quando chamados. Pedir a cada um deles que pense em uma pequena fala sobre a importância da superação da intolerância e da busca pela paz. - Depois que os voluntários saírem, orientar o grupo que fica na sala para três reações diferentes, uma diante de cada voluntário: (15 min.) - Diante do primeiro voluntário, rejeitar completamente sua fala através de vaias, exclamações de “fora”, “não queremos saber disso” etc. Pedir que o grupo seja criativo... - Diante do segundo voluntário, o grupo deverá ter uma reação completamente indiferente. As pessoas não demonstrarão o menor interesse ao que ele disser, conversando entre si, fazendo alguma tarefa, olhando para outro lado, levantando-se etc. - Diante do terceiro voluntário, o grupo deverá fazer perguntas sobre o que ele diz, demonstrar interesse, trazer contribuições e novas questões 3º. Momento – (10 min.) Perguntar a cada voluntário como se sentiu diante da reação de cada grupo algumas pessoas podem expressar o que observaram na vivência com relação ao cotidiano. 4º. Momento – (10 min.) Reflexão pessoal – orientar uma pequena meditação - pés no chão, ângulo de 90 graus, respirar normalmente, sentir o batimento cardíaco, pode colocar as mãos sobre o coração, se quiser... fazer contato com você mesmo, seu corpo, sua respiração, seu ser inteiro. Deixar ecoar algumas perguntas e as emoções que vierem: Sou intolerante? Sinto raiva? Tenho facilidade em lidar com pensamentos e atitudes diferentes? ... Procurar trazer à memória alguma situação que esta vivência tenha remetido. Como você reagiu? Por que reagiu dessa forma? O que aciona a contrariedade e dificulta a relação? O que aciona a compreensão e facilita a relação? 5º. Momento – (5 min.) em uma grande folha de papel 40 kg ou pardo com um círculo no centro cada pessoa registra – dentro do círculo – algo que colabora para a PAZ E A TOLERÂNCIA – e, fora do círculo – algo que dificulta a PAZ e contribui para a INTOLERÂNCIA 6º. Momento – (10 min.) orientador – por que a diferença de dentro e fora do círculo? - motivar uma pequena conversa – breve - Para fortalecer as condições e a grande potência que possuímos na construção da paz. Este é o centro e, muitas vezes, trocamos estas posições e nos deixamos envolver pelo que não é nossa centralidade, que nos retira do centro, da dinâmica de escuta e acolhida da Graça de Deus em nós. 7º. Momento – (5 min.) - poema de Thiago de Mello – vamos rezar juntos este poema, como uma oração, pensando em nossos grupos, nossas comunidades, nos momentos de encontros e de desencontros, nos momentos de centralidade e também naqueles em que nos perdemos, nos muitos grupos com dificuldade de aproximação e diálogo por esse mundo afora. 8º. Momento – ( 5 min.) - avaliação – palavras/sentimentos geradores MATERIAL: uma folha de papel 40kg ou pardo, pilots coloridos, folheto com o poema, texto do Marcelo Barros NÃO SOMOS OS MELHORES- Thiago de Mello A vida repartida dia a dia com quem vinha querendo que a vida pudesse um dia ser vida,posso dizer que alguma coisa aprendi. Aprendi, por exemplo, que não somosos melhores. Custou mas aprendi. Tempo largo levei para enxergar que era de puro desamor a chama que crescia no olhar do companheiro. Não somos nem melhores nem piores. Somos iguais. Melhor é a nossa causa. É repetir: melhor é a nossa causa. Mas no viver da vida, a vida mesma, quando é impossível disfarçar, quando não se pode ser nada mais do que o homem que a gente é mesmo, na prática cotidiana da chamada vida, que é a verdadeira prática do homem,fomos sempre e somente como os outros, e às vezes piores do que outros. É tempo de caminhar de mãos dadas em busca do mesmo rumo. Que as separações sejam sinais de novos encontros. Que novos encontros sejam esperança de continuar no caminho E saber que é preciso mudar o que precisa ser mudado para que a vida possa um dia ser mesmo vida, e para todos. VIVÊNCIA MISTAGÓGICA 3 – tema – INTOLERÂNCIA E BUSCA PELA PAZ - texto- subsídio Deus é amor e não intolerância Marcelo Barros, 21/01/2015 No mundo inteiro há um surto de intolerância e discriminação contra grupos culturais e religiosos diferentes da cultura dominante. Nesses dias, os atentados terroristas de Paris não recebem da sociedade uma resposta na direção contrária ao que eles propõem. Ao contrário, as manifestações de massa parecem falar a mesma linguagem do ódio e não distinguir grupos extremistas e a religião islâmica. No Brasil, a cada dia, se registram casos de discriminações e perseguições a alguns grupos religiosos, principalmente, comunidades das religiões afrodescendentes. Apesar da Constituição Brasileira defender a liberdade de culto para todas as religiões, ainda existem programas de rádio e televisão nos quais se prega a intolerância e se combatem os cultos afro. Esses ataques e atos de violência religiosa não são praticados por ateus dogmáticos, contrários à religião. São cometidos por grupos que se dizem cristãos e agem em nome de Deus. Apoiam-se em uma leitura ao pé da letra e fanática de certos textos bíblicos para justificar uma imagem de Deus cruel, violento e intolerante. Ainda bem que, até aqui, esses grupos neopentecostais e católicos de linha carismática não descobriram ainda que os mesmos livros da Bíblia que manda perseguir e destruir cultos de outros grupos manda também apedrejar mulheres adúlteras, pessoas que transem com animais ou simplesmente que não respeitem o sábado. O que eles farão quando descobrirem que as mesmas leis bíblicas que condenam outros cultos permitem a escravidão de estrangeiros e mandam vender pessoas como escravas para saldar dívidas não pagas? Será que, em pleno século XXI, quererão praticar essas leis culturais da Ásia antiga? Em outras épocas, quase todas as Igrejas históricas condenavam hereges à morte. Também queimavam na fogueira mulheres consideradas feiticeiras ou bruxas e pessoas que praticassem formas de sexo não aprovadas pela Igreja. Durante séculos, a Igreja Católica se proclamou como a única religião verdadeira e sistematicamente combatia as outras. Somente há 50 anos, em 1965, ao concluir o Concílio Vaticano II que, em Roma, reuniu todos os bispos do mundo, a Igreja Católica publicou a declaração Nostra Aetate que reconhece o valor das outras religiões e incentiva os fieis a valorizar o diferente e praticar o diálogo. Da parte das outras Igrejas, um pouco antes, em 1961, o Conselho Mundial de Igrejas, que reúne mais de 340 confissões evangélicas e ortodoxas, em sua assembleia geral em Nova Dehli, pediu às Igrejas-membros uma atitude de respeito e diálogo com todas as culturas e colaboração com outras tradições religiosas. Nas últimas décadas, em diálogo com a humanidade, muitos cristãos descobriram como critério da fé o que apóstolo Paulo escreveu ao grupo de Corinto: “Deus nos fez servidores de uma nova aliança, não da letra da lei, mas do espírito, porque a letra mata e o espírito é quem faz viver” (2 Cor 3, 6). E ao grupo dos adeptos de Roma, Paulo escreveu: “Assim, sirvamos a Deus, na novidade do Espírito e não na velhice da lei”(Rm 7, 6). Do mesmo modo, a imagem que Jesus transmite de Deus é a de um paizinho carinhoso que “faz nascer o sol sobre os bons, mas também sobre os maus e faz chover sobre quem é justo e quem é injusto” (Mt 5, 45). No mundo atual, por causa das migrações e da comunicação global, a diversidade religiosa é um fato que, queiramos ou não, se impõe à humanidade. Alguns consideram negativo o fato de haver muitas religiões. No entanto, ao contrário, é uma graça divina e uma bênção que enriquece a todos/as. A diversidade cultural e religiosa faz com que os diferentes caminhos espirituais possam se complementar e se enriquecer mutuamente. Faz com que cada grupo reconheça os elementos de verdade que existem em outros grupos e se abram ao que Deus revela a cada um, não somente a partir da sua própria tradição, mas também através dos outros caminhos religiosos. Para essa abertura pluralista e para o diálogo daí decorrente vale o que, no século IV, dizia Santo Agostinho: “Apontem-me alguém que ame e ele sente o que estou dizendo. Deem-me alguém que deseje, que caminhe neste deserto, alguém que tenha sede e suspira pela fonte da vida. Mostre-me esta pessoa e ela saberá o que quero dizer”. AGOSTINHO, Tratado sobre o Evangelho de João 26, 4. Cit. por Connaissance des Pères de l’Église32dez. 1988, capa. VIVÊNCIA MISTAGÓGICA 4 - TEMA GERADOR – CULTURAS 1º. Momento – (5 min.) - apresentação da proposta, relevância do tema, orientações para se ater ao tempo, contribuições simples e significativas, colaborativas com relação aos demais, compreender que é uma experiência que não se esgota nesse espaço, perceber o passo a passo, por onde passa a experiência mistagógica. 2º. Momento – (10 min.) - relaxar, postura de 90 graus, costas retas, pés ao chão, mãos descansando sobre o corpo, sentir o coração batendo, inspirar e expirar, tranquilizar-se - de olhos fechados – conduzir a meditação para sua comunidade, chegar na comunidade, sentar-se, observar as pessoas, o jeito de cada um ser, a diversidade, as expressões de muitas origens, de muitas culturas. Pensar nos muitos símbolos que poderiam ser vivenciados como diálogo com as muitas culturas. Escolher um dos símbolos que veio à sua mente, focar nele, olhar para ele, contemplar esse símbolo, deixar o símbolo falar ao seu coração, às suas emoções. 3º. Momento – (10 min.) – dividir o grupão em dois grupos – cada grupo recebe uma folha de papel pardo (ou 40 kg) – no centro escreve uma das palavras-geradoras (SAGRADO – CULTURAS). Os membros do grupo colocam livremente, em torno desta palavra, qual a palavra que evoca, que vem a mente, que lhe ocorre ao pensar esta palavra-geradora. 4º. Momento – (10 min.) – trocar as duas folhas – o grupo se detém diante da nova folha de papel e procura compreender o que o grupo anterior quis dizer com as palavras que colocou em torno, como eles compreendem a palavra geradora. Depois, apresenta para todos o que compreendeu. 5º. Momento – ( 15 min.) – abrir para o diálogo entre as duas palavras-geradoras – o que elas nos indicam. Onde está o sagrado? Qual a relação entre As CULTURAs E O SAGRADO? Por que há dificuldade em respeitar algumas manifestações culturais? Como podemos abrir caminhos para que as culturas se encontrem e se enriqueçam? Como trazer para os ritos sacramentais e litúrgicos? 6º. Momento – ( 10 min.) – leitura do texto de Paul Suess – pode ser individual, e algumas pessoas fazerem eco de trechos do texto. 7º. Momento – (5 min.) – oração – O Eterno descobrimento – Teilhard de Chardin 8º. Momento – ( 5 min.) - avaliação – palavras/sentimentos geradores MATERIAL: 2 folhas de papel pardo ou 40 kg branco, pilots, texto do Paul Suess, oração do Chardin O Eterno Descobrimento - Teilhard de Chardin Deus não se apresenta aos nossos seres finitos como uma Coisa já completamente acabada que vamos abraçar Deus é, antes de tudo, para nós o eterno Descobrimento e o eterno crescimento. Quanto mais julgamos compreendê-lo, mais ele se mostra diferente do que julgávamos. Quanto mais julgamos tê-lo agarrado, mais ele recua, atraindo-nos para as profundezas de Si próprio. Quanto mais nos aproximamos dele, por todos os esforços da natureza e da graça, mais ele aumenta com o mesmo movimento, a sua atração sobre as nossas potências, e a receptividade das nossas potências. VIVÊNCIA MISTAGÓGICA 4 – tema – CULTURAS - texto-subsídio Horizontes – Paul Suess1 O lugar do diálogo entre culturas pode ser situado entre duas negações; entre interesses que buscam a hegemonia cultural e entre a indiferença pós-moderna, que abre mão da solidariedade e deixa indivíduos e povos entregues ao que der e vier. Onde dominam interesses e indiferença não há diálogo O diálogo entre culturas é um foro de paz, onde se procura superar o isolamento social e o esquecimento histórico. O diálogo representa a possibilidade de transformar a irracionalidade das armas em racionalidade das palavras partilhadas. Consiste em transformar a irresponsabilidade individualista em voz atenta ao outro. Entre interesses e indiferença o diálogo é a voz da responsabilidade e da memória. No diálogo, o mais fraco, o ausente e o outro são lembrados e assumidos. O diálogo é uma prática de comunicação responsável. Ele procura superar as relações assimétricas e questionar os discursos que impedem a comunicação. Pelo diálogo intra e intercultural, ninguém precisa “sacrificar” as suas razões em benefício das razões de uma outra cultura. Ninguém é obrigado a renunciar à própria experiência e tradição. O diálogo acontece no campo da autoestima, da tolerância e aprendizado, e não de conversão. A autoestima cultural de um povo revigora a sua imunidade contra a invasão cultural alienante e incentiva a resistência. A “conversão” seria o abandono forçado de padrões culturais e imposição de formas de pensar e viver que podem enfraquecer e comprometer o futuro de um povo. O modelo dialogal parte do contexto. Exige relações horizontais, o reconhecimento da dignidade das diferenças e a vontade de aprender algo. Compreensão e reconhecimento pressupõem interlocutores que esperam apreender uns dos outros. 1 CULTURAS EM DIÁLOGO - Paul Suess – Agenda Latinoamericana, 2002 O diálogo é necessariamente crítico no sentido de compreender os discursos que estão por trás das atitudes e dos interesses, identificando as parcerias e também as desigualdades. O diálogo construído e compartilhado abandona o conceito da verdade em nome da ideia de troca, de enriquecimento, de comunhão na diversidade. No horizonte deste “diálogo entre as culturas” está a paz universal, que visa a construção de uma humanidade composta por uma imensidão de culturas. Os sujeitos de cada uma destas culturas conseguem ver partes do seu sonho e projeto presentes nos sonhos e nos projetos dos outros. A paz não pode ser construída a partir de políticas de eliminação com integrações apenas ideológicas. O diálogo entre culturas abre caminhos de comunicação e horizontes de aproximação sob as condições: - que nenhuma cultura se arrogue ter a última palavra, - que a comunicação faça parte de uma responsabilidade ampla e - que todas as culturas respeitem reciprocamente seus mistérios. Por fim, o diálogo não é uma disputa, mas um vai e vem de “palavras verdadeiras” que iluminam perguntas abertas de diferentes ângulos. As perguntas postas sob uma nova luz permitem transformar antagonismos irreconciliáveis em polaridades constitutivas de uma unidade construída, não através da eliminação dialética, nem pela integração via complementaridade funcional, mas na concomitância diferenciada e articulada. Esta carrega no kairós histórico a memória de toda a história, guarda na parcialidade de cada cultura os anseios de todos e na participação e cooperação entre iguais a possibilidade de uma nova práxis. VIVÊNCIA MISTAGÓGICA 5 – TEMA GERADOR - SAÚDE e SALVAÇÃO 1º. Momento – (5 min.) - apresentação da proposta, relevância do tema, orientações para se ater ao tempo, contribuições simples e significativas, colaborativas com relação aos demais, compreender que é uma experiência que não se esgota nesse espaço, perceber o passo a passo, por onde passa a experiência mistagógica. 2º. Momento – (5 min.) – meditação individual – colocar a cadeira de costas para o circulo – procurar relaxar, postura de 90 graus, costas retas, pés ao chão, mãos descansando sobre o corpo, sentir o coração batendo, inspirar e expirar, tranquilizar-se - de olhos fechados respirar no centro do corpo, tomar consciência do ar entrando e saindo, naturalmente, sem forçar. Sentir cada pedacinho do corpo, se há algum mal estar, alguma emoção retida. Imaginar o sol acima da cabeça e deixar que os raios do sol entrem pela sua cabeça e irradiem sobre todo seu corpo. Deixar mais luz onde perceber algum mal estar emocional ou físico. 3º. Momento – (5 min.) – manter os olhos fechados, ainda meditação individual – trazer à memória imagens da cidade onde vive, das comunidades, das pessoas, da sua terra, da sua gente. Deixar que as imagens passeiem diante de seus olhos, observar os rostos, as pessoas, as emoções que transmitem. 4º. Momento – (5 min.) – contemplação no grupo - virar a cadeira para dentro da roda – de olhos abertos contemplar cada pessoa do grupo – se deter na pessoa, perceber, estar atento, sensível. 5º. Momento – ( 10 min.) – dois a dois – conversar sobre os 3 momentos, o que percebeu em cada momento, o que lhe chamou a atenção. Depois dessa meditação, o que você diria que é SAÚDE? – antes de concluir a conversa cada um faz uma oração pela outra pessoa e lhe abençoa, pode tocar a testa, o rosto, as mãos, o coração... como sua sensibilidade lhe orientar. 6º. Momento – (10 min.) – proclamação da Palavra – solenemente acender a vela, ficar de pé, cantar um mantra de acolhida (Desça como a chuva a Tua Palavra! ... ou outro) e alguém Proclama a Palavra – Mt 5,1-16 – deixar ecoar o texto, repetir trechos, palavras 7º. Momento – (15 min.) – partilha da Palavra – o que a Palavra nos diz sobre a relação entre Saúde e Salvação? 8º. Momento - ( 5 min.) - avaliação – palavras/sentimentos geradores MATERIAL: Tecido bonito, Bíblia aberta , uma vela, um fósforo ou isqueiro, texto subsídio para todos VIVÊNCIA MISTAGÓGICA 5 – SAÚDE e SALVAÇÃO – texto subsídio A palavra SAÚDE vem do latim “salus”, que significa, ao mesmo tempo, saúde e salvação. No hebraico, vem da palavra “shalam”, que significa ficar inteiro. Daí vem o termo “shalôm”, isto é, paz. Portanto, segundo a origem etimológica, saúde é uma integração de todos os elementos vitais, ou seja, dos elementos econômicos, políticos, sociais, religiosos, afetiva. Não significa apenas ausência de doença física ou psíquica, mas um ser humano vivendo em harmonia consigo mesmo, com os outros, com o mundo e com Deus. Apresentado este conceito, podemos compreender a visão do povo da Bíblia onde, saúde tem a ver com a vida, tem a ver com tudo o que há de mais sagrado, com Deus, autor e senhor da vida. Esta compreensão não significa uma entrega da vida nas mãos de Deus numa atitude fatalista, mas, ao contrário, uma entrega confiante e responsável pela saúde pessoal e comunitária. A entrega a Deus, a confiança na oração, é, ao mesmo tempo, uma afirmação de todas as lutas humanas por saúde e bemestar, entendidos espiritualmente, - lutas estas em que Deus está misericordiosamente presente a homens e mulheres. Tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento, percebemos que é necessário percorrer três caminhos para a mudança e a conversão que trarão vida plena para todos, ou seja, SAÚDE para todos. O primeiro caminho é o da JUSTIÇA - vai significar a mudança das estruturas da sociedade que não estão de acordo com a vontade de Deus. Criar uma ordem que favoreça a vida para todos, uma ordem justa. O segundo caminho é o da SOLIDARIEDADE - implica na conversão, na mudança de atitudes na própria comunidade. É uma exigência que envolve o compromisso de acolher a todos os que sofrem. O terceiro caminho é o da MÍSTICA - implica na mudança de consciência da pessoa, de uma perspectiva de inferioridade e de culpa, para a consciência de justiça, de filho de Deus e da própria dignidade. Nasce uma nova certeza que orienta a vida para um novo sentido. No Evangelho de Marcos, capítulo 5, versículo 34, podemos observar com atenção a relação de Jesus com o doente. Ele diz: “Minha filha, a tua fé te curou; vai em paz e fica curada desse teu mal”. A cura não é feita mecanicamente, sem a participação do doente. A pessoa deve participar ativamente, pela fé. A cura não é colocada por Jesus numa perspectiva individualista, mas, ao contrário, interpela o homem a participar do processo de transformação do mundo na saúde pessoal e na saúde coletiva. A pessoa deve acreditar na própria cura: atitude que revela a fé pessoal. É a fé que salva, é a fé que provoca o movimento de busca de harmonia, de saúde. O importante na cura é que Jesus nos ensina a partir, não da doença, mas das energias saudáveis, que são a força para combater a doença. Fortalecido em seu ser, o homem pode começar o caminho que o levará à sua plena realização. Ele fica assim incorporado ao processo criador, começa a ser cocriador, a participar na própria humanização e na humanização de seus irmãos. Nos momentos de sofrimento, de cruz, nos identificamos com a paixão de Jesus. Esse é um mistério que nos ultrapassa, mas que, ao mesmo tempo, joga uma luz muito forte sobre o caminho da “mística”. A própria doença, que oprime, marginaliza, faz sofrer, deve ser transformada, pelo doente, em instrumento que o liberta e reintegra e que lhe traz alegria. A cruz é sinal de morte; mas pela ressurreição ela se transformou em sinal de vida. Esta mística não tem nada a ver com paciência fatalista, com culpa ou conformismo. É atitude criadora, que sabe transformar o instrumento de opressão em instrumento de libertação. Essa é a força libertadora do sofrimento, tanto para a libertação pessoal, como para a integração pessoal dentro do processo de libertação que atravessa a história. Jesus continuou, alargou e completou a ação dos profetas do AT em favor da saúde do povo. Ele veio para que todos tivessem vida, e vida em abundância (Jo 10,10). Em vista disso, denunciou as estruturas erradas que causavam as doenças do povo, acolhia os doentes, que eram os mais abandonados e marginalizados, e deles exigia a fé, a participação ativa na cura, e uma nova postura frente a Deus, frente aos outros e frente a si mesmos. (Carlos Mesters) Rosemary Fernandes da Costa VIVÊNCIA MISTAGÓGICA 6 – TEMA GERADOR - NÃO VIOLÊNCIA ATIVA 1º. Momento – (5 min.) - apresentação da proposta, relevância do tema, orientações para se ater ao tempo, contribuições simples e significativas, colaborativas com relação aos demais, compreender que é uma experiência que não se esgota nesse espaço, perceber o passo a passo, por onde passa a experiência mistagógica. 2º. Momento – (10 min.) – arrumar o grupo em duas filas de cadeiras, um em frente ao outro. Cada pessoa de uma das filas recebe uma orientação de uma emoção/atitude que deve assumir corporalmente diante do parceiro. Ficar um pouco em silêncio, pensar em uma situação ou algo que ajude a entrar no clima da emoção/atitude proposta. Quando se sentir pronto, ficar de pé para iniciar. Os dois não devem conversar O parceiro deve respeitar o tempo do outro pensar e assumir a emoção/atitude proposta, procurar entrar em sintonia, sem interferir, apenas observar. Quando o parceiro assumir a emoção/atitude corporalmente, observar, perceber a pessoa, e depois, pouco a pouco, entrar em contato com ela através do olhar, do toque e procurar, aos poucos, modificar esta atitude para uma atitude de abertura e diálogo. 3º. Momento – (10 min.) – dois a dois – partilhar a experiência, como foi, o que sentiu cada um, como foi mudar de emoção/atitude. Qual a similaridade com situações vividas. Como você costuma reagir quando encontra alguém em uma emoção/atitude fechada? Como você age quando está assim? Consegue se abrir? O que ajuda? O que dificulta? 4º. Momento – (15 min.) – grupão – partilhar a experiência dirigindo a reflexão para o tema da NÃO VIOLÊNCIA – como agir diante de situações de fechamento, agressividade, indiferença, violência? É possível romper e construir uma dinâmica de paz e não violência? 5º. Momento – ( 15 min.) – ciranda – todos de pé – construir o centro da ciranda colocando um tecido bonito, algo que marque o centro e cada pessoa deve colocar um símbolo/objeto pessoal representando suas metas, seus sonhos, seu desejo de superar toda atitude de violência, sem entrar nessa lógica. - Organizar os passos da Ciranda, uma pessoa vai ao centro, orienta a dança antes de começar. Podem ser passos simples, sempre para o lado; ou como Ciranda, com o pé direito a frente, acompanhando uma melodia. O principal é sintonia e não coreografia. - Sugestões: – Essa ciranda não é minha só, ela é de todos nós, ela é de todos nós. A melodia principal quem guia, é a primeira voz, é a primeira voz (bis). Pra se dançar ciranda, juntamos mão com mão, formando uma roda, cantando uma canção. - Deus chama a gente pra um momento novo de caminhar junto com o Seu povo. É hora de transformar o que não dá mais. Sozinho, isolado, ninguém é capaz/ Por isso vem entra na roda com a gente também, você é muito importante, vem.//Não é possível crer que tudo é fácil. Há muita força que produz a morte, gerando dor, tristeza e desolação. É necessário unir o cordão.//A força que hoje faz brotar a vida atua em nós pela sua graça. É Deus quem nos convida pra trabalhar, o amor repartir e as forças juntar. 6º. Momento – (10 min.) – grupão – sentados – Oração Coletiva 7º. Momento – ( 5 min.) - avaliação – palavras/sentimentos geradores MATERIAL: tiras com as emoções/atitudes que as pessoas devem assumir. Tecido bonito, de preferência circular, e um símbolo para o centro, texto subsídio EXPRESSAR CORPORALMENTE ATITUDE DE ISOLAMENTO EXPRESSAR CORPORALMENTE ATITUDE DE FECHAMENTO EXPRESSAR CORPORALMENTE ATITUDE DE MÁGOA EXPRESSAR CORPORALMENTE ATITUDE DE INDIFERENÇA EXPRESSAR CORPORALMENTE ATITUDE DE TRISTEZA EXPRESSAR CORPORALMENTE ATITUDE DE EGOÍSMO EXPRESSAR CORPORALMENTE ATITUDE DE ORGULHO EXPRESSAR CORPORALMENTE ATITUDE DE AGRESSIVIDADE EXPRESSAR CORPORALMENTE ATITUDE DE DESPREZO Para ver as danças circulares https://www.youtube.com/watch?v=JqjWRRl2zGY VIVÊNCIA MISTAGÓGICA 6 – NÃO-VIOLÊNCIA ATIVA NÃO VIOLÊNCIA ATIVA: UM MODO DE VIDA Richard Deats Quando Martin Luther King Jr. foi para o seminário, acreditava que a mensagem de Jesus ajudava as pessoas a se tornarem indivíduos amorosos, compassivos, honestos, corajosos, pacientes e gentis. Mas não entendia como tais qualidades pessoais poderiam ser relevantes no tocante aos grandes males sociais do seu tempo: racismo, guerra, opressão, injustiça. Ele então estudou Gandhi e o movimento de libertação da Índia. Ali encontrou, em grande escala, um movimento de libertação que resistiu ao maior império daquele tempo usando métodos consistentes com o caminho da verdade e do amor. King depois escreveu que o indiano Gandhi mostrou a ele que sua incredulidade em relação ao poder do amor era infundada. "Vim a perceber pela primeira vez que a doutrina cristã do amor, operando pelo método gandhiano da NãoViolência, era uma das armas mais poderosas disponíveis para os povos oprimidos em sua luta pela liberdade: "Gandhi demonstrou de forma poderosamente atual as implicações do Sermão da Montanha". Gandhi ensinou que Deus é Verdade e a Verdade é Deus, e que a natureza do poder está fundada na Verdade mesma. Gandhi intitulou sua autobiografia de "Minha Vida e Minhas Experiências com a Verdade", e nela escreveu que: "Para as pessoas de boa vontade o único nome de Deus é Verdade". Os tiranos e opressores temem a verdade, por isso constroem seu poder sobre mentiras, golpes, censura e violência. A arma mais poderosa que os pobres e oprimidos possuem para lutar não é o uso maior nem mais ardiloso da violência, nem mentiras em contra-ataque, nem propaganda, mas a Verdade mesma. O mal pode ser vencido com aquilo que Gandhi chamava de satyagraha. Satya é a verdade que se equipara ao amor. Graha é força. Satyagraha é a força da verdade ou a força do amor. Hoje o termo não-violência em sendo usado no lugar de satyagraha. Antes de Gandhi o movimento de libertação da Índia era subterrâneo, marcado por ódio, assassinatos e bombardeios. Gandhi transformou a luta pela liberdade num movimento aberto, que diz a verdade, não-violento. Leis opressivas e autoridades cruéis eram confrontadas com ações corajosas, marcadas pela verdade e pelo amor. Enfrentar o ódio e a violência com ódio e violência é tornar-se igual ao inimigo. O sofrimento não merecido por parte do seguidor da Verdade é fonte de redenção. Gandhi ensinava que não se deve trabalhar por uma causa nobre através de meios condenáveis, pois os meios e os fins estão interligados assim como a semente e a árvore. Para construir a sociedade sem classes ou para obter um crescimento rápido do produto interno do país, o terror e a repressão parecem ser justificáveis. Não, dizia Gandhi. "Se cuidamos dos meios, o fim cuidará de si mesmo... Sempre temos controle sobre os meios, nunca sobre os fins." Gandhi e King nos ensinaram a olhar de modo novo para a natureza do poder. Martin Luther King Jr. descobriu o poder das percepções de Gandhi na luta pelos direitos civis. Descobriu que Gandhi havia penetrado no coração mesmo da mensagem de Jesus: o sofrimento por amor e a Cruz. Isto contrasta muito com o cristianismo popular que fala de Jesus mas ignora Sua mensagem. O cristianismo é popularmente apresentado como uma doutrina em que se deve acreditar ao invés de um caminho de amor a ser vivido. A Bíblia não diz que "O verbo se tornou palavras". Diz que "O Verbo se fez carne". Ser um seguidor de Jesus significa viver uma vida de amor e levar a cruz. King via a cruz como "o poder de Deus para a salvação individual e social". "Amar o inimigo", "dar a outra face", "andar a segunda légua", "vencer o mal com o amor" eram ensinamentos de Jesus para um povo oprimido que vivia sob o jugo cruel do Império Romano. Muitos pensam erroneamente que o poder vem da violência, e que pode ser derrotado somente por violência maior. Gandhi disse que "A força não vem da capacidade física, mas de uma vontade indomável". A justiça da causa indiana deu ao seu povo uma vontade mais forte que o poderio bélico britânico. O professor Gene Sharp, em sua obra de treze volumes A Política da Ação Não-Violenta, diz que a essência do poder não está no poderio militar, mas no povo. Sharp prossegue, examinando a não-violência como método para resistir ao mal e sobrepujar a injustiça. Quais são esses métodos? Vejamos as sugestões do professor Sharp. INVESTIGAÇÃO: Ao combater a injustiça, a simples revelação da verdade – sobre mentiras governamentais, brutalidade policial, ou leis injustas, por exemplo – pode ser tremendamente poderosa. Nada afugenta a escuridão como a luz, nada enfraquece a falsidade como a verdade. EDUCAÇÃO: A educação não vem apenas da sala de aula e dos livros; pode vir de um evento, um folheto ou uma palavra falada que comunica a verdade. NEGOCIAÇÃO: Devemos tentar negociar um acordo para uma questão sempre que possível. Todas as possibilidades devem ser tentadas. Se houver qualquer parte da lei na qual possamos nos apoiar – por exemplo, a lei trabalhista – ela deveria ser a base de negociações. BOICOTE: O boicote é uma forma muito poderosa de desafiar uma situação injusta. Neste tipo de ação cada indivíduo pode fazer a sua parte, e se desejar, continuar anônimo. Gandhi liderou um boicote às roupas de origem britânica, e promoveu o renascimento dos tecidos feitos a mão, o que ajudou de forma marcante para que os indianos ganhassem autoconfiança. DEMITIR-SE: Pedir demissão para não participar de um sistema injusto é uma forma de enfraquecer aquele sistema. PROCISSÕES RELIGIOSAS: Em alguns lugares as passeatas são ilegais, mas as procissões religiosas permitidas. FONTE: http://www.comitepaz.org.br/nv_ativa_1.htm COMITÊ PAULISTA PARA A DÉCADA DA CULTURA DE PAZ. 2001-2010 A não-violência promove uma nova atitude perante a vida e tem como ferramentas principais: a não-colaboração com as práticas violentas; a denúncia de todos os atos de violência e discriminação; a desobediência civil face à violência institucionalizada; a organização e mobilização social, voluntária e solidária; o desenvolvimento das virtudes pessoais e das mais profundas aspirações dentro de cada um. Qual é a forma de atuar e os parâmetros precisos que definem esta metodologia de ação na conduta pessoal e social? 1. Um trato pessoal baseado na seguinte regra básica de conduta: “trato os outros como quero ser tratado”; 2. Uma conduta interna e externa baseada na coerência: “atuo com base naquilo que penso e sinto que é o melhor para a minha vida e a vida daqueles que me rodeiam”; 3. Recuso, denuncio e não colaboro com as diferentes formas de violência que se expressam ao meu redor. Quais são os indicadores pessoais e sociais que mostram a bondade e a eficácia desta conduta? 1. O crescimento da felicidade e a liberdade naqueles que exercitam esta conduta e no seu meio imediato. 2. A diminuição ou o retrocesso dos fatores que geram sofrimento pessoal e violência social. 3. Uma sociedade mais justa, onde haja igualdade de oportunidades e onde se respeite e valorize a diversidade. 4. A transformação de uma democracia formal numa democracia real.