AUTOR
Nelson Rodrigues - importante dramaturgo,
jornalista e escritor brasileiro.
DADOS BIOGRÁFICOS
Nome completo: Nelson Falcão Rodrigues
Nascimento: 23 de agosto de 1912, Recife, PE
Morte: 21 de dezembro de 1980, Rio de Janeiro
BIBLIOGRAFIA
ROMANCE
- Meu destino é pecar,"O Jornal" - 1944 / "Edições O
Cruzeiro" - 1944 (como "Suzana Flag")
- Escravas do amor, "O Jornal" - 1944 / "Edições O
Cruzeiro" - 1946 (como "Suzana Flag")
- Minha vida, "O Jornal" - 1946 / "Edições O
Cruzeiro" - 1946 (como "Suzana Flag")
- Núpcias de fogo, "O Jornal" - 1948. Inédito em
livro. (como "Suzana Flag")
- A mulher que amou demais, "Diário da Noite" 1949. Inédito em livro. (Como Myrna)
- O homem proibido, "Última Hora" - 1951. "Editora
Nova Fronteira", Rio, 1981 (como Suzana Flag).
- A mentira, "Flan" - 1953. Inédito em livro. (Como
Suzana Flag).
- Asfalto selvagem, "Ultima Hora" - 1959-60. J.Ozon
Editor, Rio, 1960. Dois volumes. (Como Nelson
Rodrigues)
- O casamento, Editora Guanabara, Rio, 1966 (como
Nelson Rodrigues).
- Asfalto selvagem - Engraçadinha: seus amores e
pecados, "Companhia das Letras", São Paulo.
- Núpcias de fogo, "Companhia das Letras", São
Paulo. (como Suzana Flag).
CONTO
- Cem contos escolhidos - A vida como ela é..., J.
Ozon Editor, Rio, 1961. Dois volumes.
- Elas gostam de apanhar, "Bloch Editores", Rio,
1974.
- A vida como ela é — O homem fiel e outros
contos, "Companhia das Letras", São Paulo, 1992.
Seleção: Ruy Castro.
- A dama do lotação e outros contos e crônicas,
"Companhia das Letras", São Paulo.
- A coroa de orquídeas, "Companhia das Letras",
São Paulo.
CRÔNICA
- Memórias de Nelson Rodrigues, "Correio da
Manhã" / "Edições Correio da Manhã", Rio, 1967.
- O óbvio ululante, "O Globo" / "Editora Eldorado",
Rio, 1968.
- A cabra vadia, "O Globo" / "Editora Eldorado", Rio,
1970.
- O reacionário, "Correio da Manhã" e "O Globo" /
"Editora Record", Rio, 1977.
- O óbvio ululante — Primeiras confissões,
"Companhia das Letras", São Paulo, 1993. Seleção:
Ruy Castro.
- O remador de Ben-Hur - Confissões culturais,
"Companhia das Letras", São Paulo.
- A cabra vadia - Novas confissões, "Companhia das
Letras", São Paulo.
- O reacionário - Memórias e Confissões,
"Companhia das Letras", São Paulo.
- A pátria sem chuteiras - Novas crônicas de futebol,
"Companhia das Letras", São Paulo.
- A menina sem estrela - Memórias, "Companhia das
Letras", São Paulo.
- À sombra das chuteiras imortais - Crônicas de
Futebol, "Companhia das Letras", São Paulo.
- A mulher do próximo, "Companhia das Letras",
São Paulo.
PEÇAS TEATRAIS
- A mulher sem pecado, 1941 - Direção Rodolfo
Mayer
- Vestido de noiva, 1943 - Direção: Ziembinski
- Álbum de família, 1946 - Direção: Kleber Santos
- Anjo negro, 1947 - Direção: Ziembinski
- Senhora dos afogados, 1947 - Direção: Bibi
Ferreira
- Dorotéia, 1949 - Direção: Ziembinski
- Valsa nº 6, 1951 - Direção: Henriette Morineau
- A falecida, 1953 - Direção: José Maria Monteiro
- Perdoa-me por me traíres, 1957 - Direção: Léo
Júsi.
- Viúva, porém honesta, 1957 - Direção: Willy Keller
- Os sete gatinhos, 1958 - Direção: Willy Keller
- Boca de Ouro, 1959 - Direção: José Renato.
- Beijo no asfalto, 1960 - Direção: Fernando Tôrres.
- Otto Lara Resende ou Bonitinha, mas ordinária,
1962 - Direção Martim Gonçalves.
- Toda nudez será castigada, 1965 - Direção:
Ziembinski
- Anti-Nelson Rodrigues, 1973 - Direção: Paulo
César Pereio
- A serpente, 1978 - Direção: Marcos Flaksman
NOVELAS DE TV
- A morta no espelho, TV Rio, 1963
- Sonho de amor, TV Rio, 1964
- O desconhecido, TV Rio, 1964
FILMES
-
Somos dois, 1950
Meu destino é pecar, 1952
Mulheres e milhões, 1961
Boca de Ouro, 1962
Meu nome é Pelé, 1963
Bonitinha, mas ordinária, 1963
Asfalto selvagem, 1964
A falecida, 1965
O beijo, 1966
Engraçadinha depois dos trinta, 1966
Toda nudez será castigada, 1973
O casamento, 1975
A dama do lotação, 1978
Os sete gatinhos, 1980
O beijo no asfalto, 1980
Bonitinha, mas ordinária, 1980
Álbum de família, 1981
Engraçadinha, 1981
Perdoa-me por me traíres, 1983
- Boca de Ouro, 1990.
OBRA ANALISADA
GÊNERO
RESENHA
Vestido de Noiva
Dramático
TEATRO CONTEMPORÂNEO
Uma tragédia. Som de buzinas, carros, movimento.
Alaíde é atropelada na rua por um automóvel que
foge sem prestar socorro. Levada ao hospital em
estado de choque, é submetida a uma operação de
urgência. A imprensa divulga notícias sobre o
acidente e o estado da vítima. Alaíde não agüenta e
morre.
Contado assim, Vestido de Noiva parece ter um
enredo simples e banal. Porém esta é apenas uma
das dimensões da peça. Junto com esta história,
que corresponde ao plano da realidade, coexistem
os planos da alucinação e da memória. E são
esses últimos que povoam o palco. A realidade
serve, na verdade, apenas para nos dar as bases
cronológicas da história.
O plano da memória mostra os antecedentes do
desastre automobilístico que matou Alaíde. Pedro,
namorado de Lúcia, acaba se casando com Alaíde,
irmã dela. É depois de uma violenta discussão com a
irmã, motivada por problemas conjugais, que Alaíde
sai para a rua desgovernada e acaba sendo
atropelada. O conflito central da peça, apesar de
escondido pela complexidade do texto, é justamente
este triângulo amoroso entre Alaíde, sua irmã Lúcia
e Pedro.
O plano da alucinação é o mais complexo de todos.
É nele que Alaíde projeta suas fantasias,
principalmente ao contar a história de Madame
Clessi, mundana assassinada pelo amante de
dezessete anos. Neste plano, Alaíde se identifica
com a vida movimentada e desregrada da
"madame" - mulher que, na realidade, a
protagonista conheceu através de um diário deixado
pela cocotte antes de morrer.
ESTILO DE ÉPOCA
Pós-Modernismo
O Modernismo nos trouxe Nelson Rodrigues, que
revolucionou de tal forma os palcos brasileiros que
se pode denominá-lo como um verdadeiro divisor
de águas dentro de nossa tradição teatral. Com
suas técnicas inusitadas de corte de cenas e ritmos,
o dramaturgo brinca com o tempo e o espaço,
invertendo as ordens e as mais variadas ações dos
personagens. Seu interesse maior está em mostrar
a classe média suburbana carioca, que esteve tão
presente em toda a sua vida de jornalista e de
homem comum que convivia de perto com a
realidade crua ali presente.
Suas peças são uma verdadeira denúncia em
relação à hipocrisia e a falsidade que estavam por
trás das belezas dessa classe média. Seu ponto de
princípio é sempre o sexo reprimido e deformado
por uma gama de costumes morais, sociais e
religiosos, que fazem com que seus personagens,
tipos criados a partir da realidade das grandes
cidades, se tornem alienados ou conturbados a
ponto de tornar seus desejos ou fobias em
verdadeiras obsessões que levam a suicídios,
adultérios ou incestos, e, é claro, muitas vezes à
neurose à loucura. É o caos da cidade grande agindo
juntamente com os conflitos psicológicos dentro do
homem moderno, vítima de suas próprias, ações,
leis e preconceitos morais. A crueza e a obscenidade
estão sempre presentes para dar ao leitor ou à
platéia a verdadeira e honesta dimensão da mente
humana.
Suas peças podem ser divididas em três grupos
temáticos:
(i) Peças psicológicas, em que se destacam os
problemas do homem enquanto homem e enquanto
membro de uma sociedade hipócrita que o criou e
que é deformada por ele. Ex. Vestido de Noiva
(ii) Peças míticas, cujo enredo sempre gira em
torno dos instintos humanos, da busca pelas raízes
dessas ações e sentimentos;
(iii) Tragédias cariocas, em que o mundo moderno
aparece para ser desmascarado, com toda a seu
egoísmo, mesquinhez e futilidade.
Descontente com a apatia da platéia na estréia de A
mulher sem pecado, Nelson Rodrigues escreveu sua
segunda peça de maneira propositalmente confusa
e complexa. Criou assim Vestido de Noiva, chamada
inicialmente de Véu de Noiva, uma tragédia sobre a
memória de Alaíde, moça recém-casada que sofre
um acidente e é submetida a uma operação de
urgência. Para retratar de Alaíde até aquele
momento, Nelson Rodrigues usou um recurso até
então inexplorado pela dramaturgia brasileira: o
flashback.
Em vez do tratamento linear da história, o autor
optou por mostrar simultaneamente os três planos
da mente decomposta de Alaíde: a realidade, a
memória e a alucinação. Não raro as cenas se
repetem com desfechos diferentes, como quando
Alaíde mata o noivo no plano da ficção, desejo
reprimido por ela na realidade.
Esta sua segunda peça possui três atos, com
passagem de tempo indefinida entre eles, até
porque o conceito de tempo está totalmente diluído
durante a hora e meia que dura o espetáculo.
Não há linearidade cronológica, o que situa a
peça num momento contemporâneo de
questionamento dos princípios realistas. Porém, a
lógica de Vestido de Noiva, semelhante à de Valsa
nº 6, é o uso absoluto do flashback, recurso que até
aquele momento só era utilizado no cinema (já
detalhado acima). Nesta primeira grande peça do
dramaturgo, essas viagens ao passado misturam-se
às alucinações, o que proporciona ao texto uma
complexidade muito maior.
As inovações estruturais de Vestido de Noiva são
infinitas. Foi graças a ela que o Brasil perdeu seu
complexo de inferioridade dramatúrgica e que o
teatro conseguiu ingressar no domínio da literatura.
A linguagem é dramática, levemente rimada e
repleta das frases que mais tarde consagrariam o
autor. "Engraçado, eu acho bonito duas irmãs
amando o mesmo homem! ", diz, poeticamente,
madame Clessi.
INTERTEXTUALIDADE
Nas telonas... Vestido de Noiva - uma adaptação
da peça de teatro homônima escrita pelo famoso
dramaturgo Nelson Rodrigues, em 1943. Na direção
do longa está o primogênito do autor Joffre
Rodrigues e coube a ele um cuidadoso trabalho de
dois anos para adaptar o roteiro para o cinema.
VISÃO CRÍTICA
•
Vestido de Noiva não representou apenas uma
revolução no texto.
•
Foi também uma revolução no cenário e no
modo de fusão de vários tempos num mesmo
espaço.
•
Também o linguajar das personagens sofreu
grandes modificações.
•
Valoriza-se a fala despojada das classes médias
urbanas.
•
A fusão entre o popular e o intelectual no
Modernismo acabou falseando um pouco a
expressão do popular, dada a valorização absoluta
da paródia.
•
Nelson não deixava de ser um intelectual, mas
sua sensibilidade não esquecia o povo
(principalmente a espontaneidade das paixões).
•
Seus textos eram claros, meridianos.
•
Consagrou-se no que poderíamos chamar de
estilo aforístico ou epigramático: frases curtas,
carregadas de significação irônica.
•
Isso no plano da expressão intelectual e crítica.
•
No plano da expressão das personagens, Nelson
desenvolve uma sábia petulância, concisa e
imediatista, que põe o leitor ou o espectador
diretamente no coração dos grandes dramas do
adultério e da transgressão do desejo, onde sempre
se avoluma uma impressão do ordinário e do
desbocado.
A obra é considerada uma obra aberta, já que
permite várias interpretações e possui diversas
portas de entrada e saída. Interpretações livres e,
se a peça ainda é complexa hoje, na época era
considerada extremamente complicada. Mesmo com
essas dificuldades, Nelson Rodrigues consegue se
comunicar com o público, principalmente através da
poesia de suas palavras.
A peça é essencialmente freudiana, já que os planos
da alucinação e da memória se passam no
subconsciente de Alaíde. Sua relação com madame
Clessi mostra, por exemplo, uma Alaíde que se
entediou com o casamento porque desejava uma
vida cheia de homens e aventuras, de fantasias e
grandezas. Exatamente como a de Madame Clessi,
mundana que ela conheceu através de um diário
deixado pela "madame" no porão da casa onde
morava e que depois foi de Alaíde.
Percebe-se em Vestido de Noiva a inclinação do
autor para uma estética expressionista, em
que o exagero, a deformação ou a obsessão dos
personagens, ao invés de proporcionarem o tom
cômico, funcionam como elementos
intensificadores da dramaticidade de cenas e
situações.Além de reforçar a capacidade de
criação visual, imagética, os elementos grotescos
da peça contribuem para estabelecer uma visão
pessimista e sombria da realidade.
Há em Vestido de noiva – como em outras peças
de Nelson Rodrigues – a presença do
folhetinesco, traduzida na disputa das duas irmãs
por Pedro. O dramaturgo sempre foi um
entusiasmado leitor de folhetins e soube usar os
temas simplistas e melodramáticos do gênero
para buscar um sentido psicológico profundo
para seus personagens, alcançando, muitas
vezes, uma concepção trágica da existência.
Alguns desejos reprimidos de Alaíde vêm à tona no
plano da alucinação. É nesta dimensão que ela mata
o marido Pedro, por exemplo. Os planos mostram,
portanto, atitudes diferentes e muitas vezes
contraditórias. Uma ação ocorrida num plano em
breve produzirá uma outra versão num plano
diferente, impedindo que o espectador faça uma
leitura definitiva a respeito das personagens, dos
fatos e até mesmo da seqüência tempo-espacial do
texto.
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