Periodicidade: Mensal Temática: Recursos Humanos Exame Classe: Economia/Negócios Dimensão: 3191 01112014 Âmbito: Nacional Imagem: S/PB Tiragem: 43817 Página (s): 126 a 132 Periodicidade: Mensal Temática: Exame Classe: Economia/Negócios Dimensão: 3191 01112014 Âmbito: Nacional Imagem: Tiragem: 43817 Página (s): 126 a 132 Recursos Humanos S/PB O velho mundo do trabalho está de volta O título deste artigo é a resposta inte lectualmente honesta que Carl Camden dá a quem lhe pergunta quais as tendên crescer perfazem 40 da população ativa cias que estão a ocorrer na forma como trabalhamos O velho mundo do trabalho ropeia que o gestor chama de agentes livres trabalhadores temporários repre está de volta Líder global da Kelly Ser vices desde 2006 este norte americano de 60 anos esteve em Portugal durante uma semana para acompanhar a equipa de liderança da operação portuguesa que nos últimos anos e de acordo com aquela que é a estratégia mundial desta multina cional está a implementar um modelo de negócio menos assente no trabalho tem porário A área de negócio profissional e técnica está a ganhar maior prepon derância com a crescente procura por parte das empresas de trabalhadores em outsoureing terceirização com grandes qualificações e competências técnicas es pecíficas desde profissionais de saúde a engenheiros e cientistas Se estas são algumas das funções mais procuradas em Portugal a Kelly também providencia os serviços de pilotos aéreos na Austrália ou de docentes nos Estados Unidos Somos responsáveis por dois mi lhões de aulas por cada ano letivo com os nossos professores substitutos indica Carl Camden É a estes profissionais uma imensa massa humana que não pára de norte americana e entre 30° a 35 da eu sentados por empresas como a Kelly ou freelaneers trabalhadores independentes que têm em comum o facto de trabalha rem por projetos durante determinado tempo e sem contrato de trabalho com um único empregador Regresso ao futuro A maioria das pessoas fala das mudanças no mundo do trabalho como se este fosse um momento de viragem histórica um cataclismo de grandes proporções porque consideram que é o mundo tradicional do trabalho que está a desaparecer Tenho uma visão diferente Durante quase toda a História da Humanidade as pessoas não trabalharam segundo a lógica que hoje te mos de emprego tinham um trabalho e ponto Eram artesãos comerciantes agricultores escritores Com a exceção dos grandes exércitos e da máquina burocrá tica do Estado quase todos trabalham por sua conta em pequenas empresas alguns para as chamadas guildas corporações de ofícios explica Camden Nos anos do pós guerra e da industria lização em massa acontece a redefinição do trabalho em empregos em troca da lealdade de um trabalhador uma empresa acorda pagar um salário as despesas Periodicidade: Mensal Temática: Exame Classe: Economia/Negócios Dimensão: 3191 01112014 Âmbito: Nacional Imagem: Tiragem: 43817 Página (s): 126 a 132 fiscais inerentes à sua contratação e os benefícios sociais dependendo do que cada governo estipula Foi uma experi ência boa e durou cerca de 75 anos mas Recursos Humanos S/PB seus trabalhadores mas de os Estados ain da não terem descoberto qual deverá ser o novo sistema de apoio social porque temos governos e media preguiçosos que conside agora está a falhar Estamos a regressar àquela que tem sido a norma histórica Só quem não presta atenção à História é que pode pensar que estamos perante a destruição do mundo do trabalho como sempre o conhecemos defende o líder da ram que têm de ser as empresas a tratar de tudo E quem está disponível para encontrar Kelly Services Basta olhar diz Camden para a li teratura clássica para Dickens e outros autores cujas personagens que tinham um emprego viviam miseravelmente A esperança estava nos artesãos nos agri cultores que trabalhavam as suas terras Novas políticas são o grande desafio esses eram os heróis das histórias clás sicas Mais tarde a perceção do que se ria o emprego não mudou com Charlie Chaplin a satirizar o trabalho industrial no seu famoso Tempos Modernos 1936 ou os romances de Richard Yates sobre os deprimidos subúrbios de empregados de classe média americanos O que para uma grande fatia da po pulação está a ser um desafio para uma geração mais jovem de trabalhadores os millennials esta fase de transição é encarada com outros olhos Não estão assustados já perceberam que os salários estão congelados e não vão subir que as taxas de desemprego não vão descer e que as suas oportunidades podem estar espalhadas por várias empresas Avessos à rotina gostam de passar por várias áreas de trabalho e desafios E olham até para os mais velhos como se fossem escravos e incapazes de controlar o seu destino avança Camden E dá o exemplo do seu filho de 24 anos que acabou de aceitar um emprego como engenheiro na Gene ral Motors embora com imensas dúvidas estava preocupado porque achava que iria arruinar a vida Afinal todos os seus ami gos estão a criar as suas próprias empresas ou a trabalhar de projeto em projeto Penso que tem medo de que as pessoas achem que ele não é bom o suficiente por estar por sua conta acredita Camden Nas palestras que vai dando em univer as soluções É que é bom que percebam que não há marcha atrás e que os bons velhos tempos não vão voltar assevera O seu mantra pessoal diz é o de que devem ser os governos a estabelecer os padrões mínimos de vida e os benefícios sociais a que as pessoas têm direito Essa não é uma responsabilidade das empresas e dos trabalhadores como providenciar sistemas de saúde e planos de reforma a quem não tem uma relação duradoura com um só empregador Caminhamos para um mundo em que uma parte significativa da popula ção não tem um empregador Por isso é civicamente irresponsável depender dos empregadores como as pedras basilares do sistema de segurança social defende São os políticos que têm de escolher se esse sistema deve ser assumido como uma condição de cidadania em que to dos contribuem para o seu financiamento ou se deve ser encarado como uma con dição do trabalho sendo financiado pela rentabilidade return on sales de cada trabalhador Nesta época em que se exacerbam as competências e a formação preocupa me o que acontece àquela imensa massa de gente que sem qualificações não é ca paz de se transformar em agentes livres É que continuamos a discutir o que fazer para reverter a situação que não vai ser revertida e nunca nos perguntamos como é que vamos enfrentar os novos desafios do trabalho lamenta o CEO da Kelly O gestor lastima também que se conti nue a acusar as empresas de trabalho tem porário de serem o rastilho desta mudan ça de paradigma Um dos meus grandes amigos com quem costumo conversar plica que este não é mais do que um tem muito é dirigente de um grande sindicato norte americano Ele acusa a Kelly de ser a voz do trabalho desregulado e de ele ser a voz do trabalho organizado E eu digo modelo de trabalho não está no facto de as população mas eu já represento os outros sidades e nas entrevistas com os media ex po de transição e que o falhanço do atual empresas não conseguirem pagar mais aos lhe que nesse caso ele é a voz de 60 40 conta da Periodicidade: Mensal Temática: Exame Classe: Economia/Negócios Dimensão: 3191 01112014 Âmbito: Nacional Imagem: Tiragem: 43817 Página (s): 126 a 132 Recursos Humanos S/PB A verdade diz é que o sistema de tra balho se desregulou a ele próprio Não foi a Kelly que criou esse sistema Mas se ele existia então passou a liderá lo O mundo dos serviços ia mudar existisse a Kelly ou não Se calhar de forma até pouco modes ta posso dizer que a companhia ajudou a que a transição fosse mais subtil mais estruturada Não criámos o modelo mas tenho a certeza de que vamos fazer de tudo para que ele aconteça de forma a que os nossos trabalhadores sejam tratados da melhor forma possível remata É por isso afirma que a empresa que lidera foi desde o primeiro minuto um dos mai ores defensores da proposta de reforma de saúde conhecida como Obamacare Mudar de estratégia Camden que tem um doutoramento em Comunicação e começou a sua carreira como gestor na publicidade e na banca entrou há 20 anos na Kelly Services A empresa criada em 1946 numa altura em que o setor dos serviços explodia e a en trada da mulher no mundo do trabalho era irreversível estava a precisar de uma nova estratégia de marketing Foi precisamente essa área que Camden assumiu pronto para dar uma nova imagem à marca A companhia nasceu como Kelly Girl Company quando quase todo o negócio andava à volta do secretariado sempre feito por mulheres as girls portanto Os anúncios publicitários à marca durante muitos anos andaram sempre à volta da Kelly Girl Por isso não foi de estranhar que nos vários inquéritos que Camden fez a consumidores quando lhes perguntava qual a primeira imagem associada à mar ca ela fosse Kelly Girl Passei os três anos seguintes a tentar destruir a Kelly Girl E no fim cheguei à conclusão de que essa perceção da girl não iria acabar por uma boa razão a imagem da Kelly Girl era tão forte devido à qualidade das suas secretárias que estavam um pouco por todo o lado recorda A opção não podia ser outra tentar estender as característi cas das secretárias da Kelly às novas ocu pações que em regime temporário e em plenos anos 90 começaram a ser procura das pelas organizações Foram publicados anúncios em que surgiam os novos profis sionais um engenheiro a trabalhar num ambiente altamente tecnológico Periodicidade: Mensal Temática: Exame Classe: Economia/Negócios Dimensão: 3191 01112014 Âmbito: Nacional Imagem: Tiragem: 43817 Página (s): 126 a 132 uma investigadora num laboratório farmacêutico por exemplo com um slo gan que não podia ser outro Conheça a nova Kelly Girl A campanha acabou por ser um su cesso conta Camden Dez anos depois da sua chegada à Kelly o gestor leu num blogue de um cientista a confirmação do êxito da sua estratégia Hoje conheci uma trabalhadora temporária da Kelly que é se cretária Desde quando é que eles começa ram a fazer este trabalho questionava Penso na Kelly como o departamento de recursos humanos dos agentes livres Estes departamentos só pensam nos seus trabalhadores permanentes E com estes agentes livres as empresas têm mais ta lento pessoas mais qualificadas e com muita experiência No entanto ninguém no departamento de RH sabe quem eles são explica Existem vários tipos de agentes li vres mas imperam dois o profissional do trabalho temporário que tem um agente empresas como a Kelly que trata de lhe arranjar projetos durante um determi nado tempo trata se de um modelo que as guildas iriam facilmente reconhe cer quando era encomendada a alguns dos seus membros a construção de uma igreja por exemplo durante 10 anos e os trabalhadores independentes que gostam da mecânica do negócio e por isso pre ferem gerir a sua própria agenda Assegu ramos a este enorme conjunto de pessoas que estamos a seguir a lei de cada Estado declaramos os seus impostos gerimos a sua procura Tudo o que os departamentos tradicionais de RH fazem explica Más práticas são cada vez menos Entre o negócio do trabalho temporário que vale 4 7 mil milhões de euros e a seleção e recrutamento de profissionais qualificados que atinge 5 5 mil milhões de euros a Kelly gere 10 2 mil milhões de euros em agentes livres Mais ou menos um milhão de pessoas por ano contabiliza o norte americano Num dos nossos principais clientes para o qual não fazemos trabalho temporário estamos a gerir 100 milhões de dólares em agentes livres A Kelly tem o negó cio de trabalho temporário em 28 países mas gere trabalhadores independentes em 80 outros países Acredito que até Recursos Humanos S/PB ao final de 2015 estaremos presentes em 100 países Apesar dos números exorbitantes deste setor Camden reconhece que esta indús tria padece de um problema de imagem E o problema é que é por culpa das pró prias empresas Muitas caem na tentação de usurpar o imposto retido sobre o salário do trabalho em vez de o pagar ao Estado Esta é uma das principais formas de abuso que conheço em todo o mundo Depois há o caso das empresas clientes que pedem à companhia de trabalho temporário para as ajudar a fazer batota pedindo lhe por exemplo que diga que o trabalhador X é temporário e não permanente de modo a evitarem as obrigações fiscais daí decor rentes conta Neste ponto da conversa entra em cena Afonso Carvalho diretor geral da Kelly Ser vices Portugal Em simultâneo é também o presidente da associação que representa as empresas do setor a APESPE Associação Portuguesa das Empresas do Sector Priva do de Emprego Na última consulta que fiz ao site do IEFP estavam inscritas mais de 900 empresas de trabalho temporário Mas a APESPE só tem 38 associados Apesar disso acredito que o setor se esteja a tomar mais transparente refere Camden concor da Autopolicia se cada mais Afonso Carvalho refuta também a ideia de que este negócio sobrevive lucrativa mente à conta dos salários dos seus tra balhadores Como presidente da APESPE adorava acabar com o mito urbano de a minha empresa fatura mil euros mas só paga 500 euros ao trabalhador Se eu pago 500 euros é porque o cliente me diz para pagar 500 euros Se assim não for estou a cometer uma ilegalidade Adorava pagar lhe mais seria absolutamente indiferente paramim atira Camden explica Com exceção de um ou outro país onde estamos presentes o negócio funciona de acordo com um sis tema de quoeficiente se um trabalhador receber 20 euros por hora a companhia cobra uma percentagem adicional sobre esse valor Se ele ganhar mais eu também ganho mais O sistema incentiva nos aos dois diz Esta percentagem nas várias geografias onde o grupo está presente fixa se entre 2 e 4 Ri se Não será o negócio mais lucrativo mas é o meu e é o que gosto