Filipa Osório e António Pereira Coelho 1. HISTERECTOMIA LAPAROSCÓPICA 1.1. INTRODUÇÃO A histerectomia é a cirurgia ginecológica mais frequentemente realizada na mulher em idade fértil1, sendo que, segundo as linhas de orientação da ACOG – American College of Obstetricians and Gynecologists, a escolha da via de abordagem para esta cirurgia depende da anatomia da paciente e da experiência do cirurgião2. Por outro lado, as recomendações relativas à via de abordagem numa histerectomia, segundo a Cochrane Database Systematic Review, de Janeiro de 2005, são: via vaginal como abordagem preferencial sempre que possível, seguida de via laparoscópica e, como último recurso, a via abdominal. A primeira histerectomia laparoscópica foi realizada por Reich em 19883, numa tentativa de redução da morbilidade relacionada com a mesma intervenção por laparotomia, associando-se a menor perda hemática intra-operatória, internamentos mais curtos e menor período de convalescença4, bem como, menos dor e menor risco de aderências ou de infecção da ferida operatória. Desde a histerectomia vaginal assistida por laparoscopia (LAVH), passando pela histerectomia supracervical laparoscópica (LSH) e histerectomia total laparoscópica (LTH) até aos casos de histerectomia radical laparoscópica, a técnica foi evoluindo4. A laparoscopia está a ser cada vez mais adoptada pelos ginecologistas oncológicos para o tratamento do carcinoma do colo do útero, do endométrio e do ovário. É uma via de abordagem que facilita a execução da linfadenectomia, pois possibilita uma boa visão e hemostase, permitindo uma boa excisão ganglionar5,6. Nos tempos actuais, a cirurgia robótica está a ter um papel cada vez mais preponderante na cirurgia ginecológica, particularmente no tratamento dos cancros ginecológicos7. 1.2. INDICAÇÕES E CONTRA-INDICAÇÕES1,4 A histerectomia deve ser um tratamento reservado para os casos em que as terapêuticas conservadoras falham, nas situações de patologia benigna, ou para os casos oncológicos com essa indicação. 1.2.1. PATOLOGIA BENIGNA As situações mais frequentes relacionam-se com a existência de fibroleiomiomas que condicionem menometrorragias sem resolução com tratamento médico ou pela ablação endometrial (após exclusão de possível patologia maligna endometrial ou cervical), e/ou sintomatologia clínica invalidante. Os casos de prolapso genital podem associar-se à realização de histerectomia total ou subtotal para melhor correcção anatómica dos eixos vaginais, recorrendo à utilização da colpossuspensão com material protésico. A histerectomia também pode ser a última linha de tratamento relacionada com dor pélvica crónica num contexto de endometriose e/ou adenomiose, quando o desejo de fertilidade foi posto de parte. 535 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 50 Cirurgia uterina e anexial por celioscopia A histerectomia deve ser indicada como opção terapêutica nos casos de hiperplasia endometrial com atipia. Situações de carcinoma do colo in situ sem margens livres na conização e em mulheres sem desejo de maternidade devem ser propostas para histerectomia. Os casos de adenocarcinoma do colo in situ têm indicação para histerectomia quando não associados a lesões invasivas. 1.2.3. PATOLOGIA MALIGNA A abordagem laparoscópica do carcinoma do endométrio e do carcinoma do colo é uma opção cada vez mais defendida na literatura. Na abordagem do carcinoma do ovário e da trompa, o papel da laparoscopia é mais controverso e sobretudo adoptado em situações de estadiamento da doença. Para além das contra-indicações anestésicas para a realização de laparoscopia e da necessidade de morcelação em situações oncológicas, não existem outras contra-indicações absolutas para a histerectomia laparoscópica. Embora o volume uterino tenha que ser avaliado caso a caso, nada obsta que úteros muito volumosos sejam passíveis de remoção por esta técnica, recorrendo a determinados artifícios, como a alteração da posição dos trocartes e o recurso a ópticas de 30°. Múltiplas cirurgias anteriores e um índice de massa corporal superior a 30 são contra-indicações relativas que devem ser analisadas caso a caso. Actualmente, o mais importante factor limitativo desta abordagem ainda continua a ser a inexperiência da equipa cirúrgica. 1.3. TÉCNICA CIRÚRGICA Uma boa preparação pré-operatória é um passo fundamental para uma boa cirurgia. Apesar de controversa, continua a ser norma mais usual o uso por rotina de enemas de limpeza intestinal antes de qualquer procedimento laparoscópico major, pois permite melhor mobilização intestinal e amplo campo cirúrgico, bem como possibilita a correcção no mesmo acto operatório de eventuais lesões intestinais iatrogénicas. É importante que a paciente esteja em posição ginecológica com os braços ao longo do corpo para diminuir o risco de lesões do plexo braquial e permitir um posicionamento ergonómico do cirurgião e do primeiro ajudante. As nádegas devem estar posicionadas no limite externo da mesa operatória de modo a facultar uma boa manipulação uterina. A paciente deve ser algaliada antes do início da cirurgia e, durante o procedimento, deve ser colocada em posição de Trendelenburg para manter as ansas intestinais fora do campo operatório. O material necessário encontra-se descriminado no quadro 1. Quadro 1. Material necessário para a histerectomia laparoscópica 1 trocarte óptico (10-12 mm), 3 trocartes suprapúbicos (5 mm) 1 pinça bipolar/Ultracission®/Ligassure® 1 tesoura monopolar 1 sistema de lavagem-aspiração 1 pinça atraumática 2 porta-agulhas, 1 empurra-nós 1 manipulador uterino 536 Capítulo 50 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 1.2.2. PATOLOGIA PRÉ-INVASIVA Figura 1. Histerectomia laparoscópica: coagulação do ligamento redondo. Cirurgia uterina e anexial por celioscopia — Abertura do folheto anterior do ligamento largo em direcção ao espaço vesico-uterino: esta abertura deve ser feita passo a passo em direcção ao pilar interno da bexiga (Fig. 2). Figura 2. Histerectomia laparoscópica: abertura do folheto anterior do ligamento largo. — Fenestração do ligamento largo: a abertura do folheto posterior do ligamento largo permite afastar o ureter do campo operatório. Esta abertura é alargada no sentido do ligamento infundíbulo-pélvico nos casos de histerectomia com ablação de anexos, e paralela ao útero nos casos de histerectomia conservadora (Fig. 3). Figura 3. Histerectomia laparoscópica: fenestração do ligamento largo. 537 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 A colocação dos trocartes depende do volume e mobilidade uterina e da distância entre o púbis e o umbigo da paciente. Quando necessário, em caso de úteros volumosos, o trocarte óptico, habitualmente colocado no umbigo, pode passar para posição infraxifoideia e o umbigo passa a ser a porta de entrada para o trocarte central de trabalho (todas as portas são colocadas numa posição superior). O manipulador uterino desempenha um papel fundamental permitindo a abordagem em segurança dos vários passos da histerectomia. Existem múltiplos manipuladores, sendo por nós utilizado o de Clermont-Ferrand, que possui dois sistemas valvulares, um que expõe os fundos de saco vaginais durante a abertura da cúpula vaginal e outro que impede a saída do pneumoperitoneu. A técnica cirúrgica a realizar em situações de presumível benignidade pode descrever-se em 10 passos, segundo a escola francesa1: — Coagulação e secção dos ligamentos redondos: deve ser identificado o triângulo anatómico constituído externamente pelos vasos ilíacos externos, internamente pela veia anexial e superiormente pelo ligamento redondo, no interior do qual se encontra uma zona avascular na direcção da qual se deve proceder à laqueação (Fig. 1). Figura 5. Histerectomia laparoscópica: dissecção vesico-uterina. — Laqueação do pedículo uterino: este deve ser coagulado perpendicularmente ao útero e passo a passo de modo a diminuir o risco de lesão térmica do ureter (Fig. 6). O pedículo uterino contralateral deve ser coagulado pelo primeiro ajudante. Figura 4. Histerectomia laparoscópica: coagulação dos vasos anexiais. — Dissecção vesico-uterina: a bexiga deve ser traccionada pelo seu limite justa-uterino e o peritoneu seccionado paralelamente ao istmo uterino, permitindo a entrada no espaço vesico-uterino e rebatimento vesical, expondo os pilares internos da bexiga. Estes devem ser coagulados e seccionados, manobra que permite afastar o ureter do campo operatório (Fig. 5). — Preparação do pedículo uterino e identificação do ureter: o peritoneu posterior é seccionado em direcção ao ligamento uterossagrado e o pedículo uterino individualizado. A tracção uterina exercida com o manipulador, a secção dos pilares internos da bexiga e abertura do peritoneu posterior permitem afastar o ureter do pedículo uterino. 538 Figura 6. Histerectomia laparoscópica: laqueação do pedículo uterino. — Abertura da cúpula vaginal: os fundos de saco vaginais são expostos através do sistema valvular do manipulador e a abertura da cúpula vaginal é feita utilizando corrente monopolar ou energia ultrassónica (Fig. 7). — Extracção do útero: se o útero for de dimensões normais é facilmente extraído pela colpotomia, se for muito volumoso é necessário morcelar, seja por via vaginal, seja por via laparoscópica. Após extracção uterina o pneumoperitoneu é restabelecido com a ajuda de uma luva preenchida por compressas, colocada na vagina. Capítulo 50 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 — Coagulação dos vasos anexiais: nos casos de histerectomia conservadora a coagulação deve ser realizada tendo em conta a vascularização do ovário e não muito perto do útero de modo a evitar hemorragia de retorno. Nos casos de histerectomia com ablação de anexos a laqueação do ligamento infundíbulo-pélvico é feita imediatamente abaixo do ovário para evitar lesões térmicas do ureter (Fig. 4). Nesta fase da histerectomia, estes passos são repetidos do lado oposto. 2.1. INTRODUÇÃO Figura 7. Histerectomia laparoscópica: abertura da cúpula vaginal. — Encerramento da cúpula vaginal: pode ser realizado por via vaginal ou laparoscópica. Por laparoscopia devem ser utilizadas pelo menos duas suturas totais em X que englobem os ligamentos cardinais e uterossagrados de modo a reconstruir o anel pericervical (Fig. 8). Figura 8. Histerectomia laparoscópica: encerramento da cúpula vaginal. 1.4. CONCLUSÃO Apesar da necessidade de uma longa curva de aprendizagem, esta é uma técnica segura, eficaz e reprodutível, podendo a doente beneficiar de todas as vantagens da cirurgia minimamente invasiva. Os recentes avanços em termos de equipamento permitiram aumentar a segurança da técnica e a rapidez da sua execução. A histerectomia laparoscópica deverá ser, num futuro próximo, uma das técnicas base a ensinar a todos os ginecologistas. Cirurgia uterina e anexial por celioscopia A miomectomia é a intervenção de eleição para as mulheres que desejam conservar o seu potencial reprodutivo, quer sejam ou não portadoras de sintomas. Nem todos os úteros miomatosos necessitam de terapêutica, qualquer que ela seja. O principal factor determinante da escolha do tratamento tem a ver com a localização, número e tamanho do(s) nódulo(s) (Fig. 9). Contudo, pode sem hesitações afirmar-se que, apesar das novas abordagens terapêuticas, de que a embolização constituirá o expoente mais utilizado e aceite, a cirurgia continua a ser o método de eleição das actuações conservadoras e a miomectomia o seu paradigma. A miomectomia laparoscópica é uma técnica altamente exigente, só passível de ser realizada por laparoscopistas muito experientes, que dominem em pleno a execução de suturas. Nos primórdios foi sujeita a muitas reservas e mesmo fortemente contestada, porque apresentava uma duração prolongada, com os inerentes efeitos anestésicos, porque era frequentemente acompanhada de excessivas perdas de sangue e não existiam garantias da obtenção de um processo cicatricial impeditivo de uma maior ocorrência de rupturas uterinas durante a gravidez e/ou trabalho de parto. Com o avançar da experiência estas reservas foram progressivamente ultrapassadas e comprovadas por múltiplas publicações científicas. Figura 9. Útero miomatoso. 539 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 2. MIOMECTOMIA LAPAROSCÓPICA 2.2. INDICAÇÕES E CONTRA-INDICAÇÕES A clínica mais frequente relaciona-se com as alterações menstruais (menometrorragias) e anemia, mas também, infertilidade e abortamento recorrente, crescimento do tumor, útero com dimensão superior a 12 semanas, pressão pélvica e aumento da frequência urinária. O número, tamanho e localização dos miomas condicionam a presença ou não de sintomatologia associada e orientam para uma eventual indicação cirúrgica e melhor via de abordagem. Fazendo uma análise das publicações existentes, a maioria das séries preconiza a realização de miomectomia laparoscópica para um tamanho máximo de 9 cm e até 3-4 miomas. Benhaim, et al. publicou, em 200511, uma sinopse dos principais trabalhos que se apresenta no quadro 2. No entanto, Malzoni, et al. descrevem, em 200612, uma série de 982 miomectomias laparoscópicas em que o tamanho do mioma variou entre 1-20 cm e o número até 8, com uma taxa de conversão de 1,29%. A existência concomitante de adenomiose pode condicionar a intervenção cirúrgica, por associar-se a dificuldade de enucleação e definição de planos de dissecção, bem como a maior risco hemorrágico, risco acrescido de conversão e necessidade de histerectomia. A sua suspeita, geralmente através de ecografia e confirmada por ressonância magnética (RM), obriga à correcta informação da doente sobre riscos associados. Quadro 2. Indicações para a miomectomia laparoscópica11 Autor Ano Tamanho máx. (cm) Número Dubuisson, JB 1995 8 ≤3 Daraï, E 1996 7 ≤4 Dubuisson, JB 1996 8 ≤2 Mais, V 1996 6 ≤4 Zullo, F 1998 10 ≤4 CNGOF* 1999 8 Seracchioli, R 2000 Daraï, E 2001 ≤2 ≤ 3 com > 5 cm 8 ≤3 *Collège national des gynécologues et obstétriciens français 540 Capítulo 50 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 A maioria dos trabalhos publicados destinam-se a comparar as miomectomias convencionais por laparotomia com as laparoscópicas. Um dos principais objectivos da miomectomia é a conservação da fertilidade, em muitos casos mesmo a resolução de uma infertilidade, em que a miomatose surge como factor único ou associado nessa dificuldade de conceber. Nesta perspectiva, não pode deixar de ser realçado o papel das aderências pós-operatórias e da sua prevenção. Assim como se torna obrigatório chamar a atenção para o facto de múltiplos trabalhos demonstrarem a menor incidência dessas aderências nas miomectomias por laparoscopia, confirmadas por second-look8,9. Noutras publicações foi demonstrado, por exemplo, que quer a morbilidade, quer o tempo de recuperação eram inferiores no grupo seleccionado para cirurgia laparoscópica. No mesmo trabalho10 constatou-se que as taxas de gravidez, de abortos e de partos pré-termo eram idênticas, bem como foi semelhante a percentagem de cesarianas. A avaliação pré-operatória tem de ter em conta a necessidade de correcção de anemia ferropénica eventualmente existente. A administração de agonistas da hormona libertadora das gonadotrofinas (GnRH) prévia à cirurgia condiciona uma diminuição do tamanho do mioma e irrigação uterina, mas está associada a um aumento do risco de conversão pela perda do plano de clivagem entre o mioma e a sua pseudocápsula, devendo apenas ser recomendada em casos de hemorragia e anemia associada. O material necessário encontra-se descriminado no quadro 3. Segundo Koh, et al., em 200313, a miomectomia laparoscópica obedece aos seguintes passos: — Realização prévia de ecografia vaginal e, também, de histeroscopia em caso de suspeita de miomas submucosos, para perfeita caracterização do número, dimensões e localização dos nódulos relativamente à cavidade uterina. Sempre que necessário, recorrer à RM para melhor definição. — Em casos de mioma de grandes dimensões ponderar laqueação temporária das artérias uterinas, para diminuir risco hemorrágico. — Incisão da parede com recurso a secção por corrente monopolar; em alternativa utilização do escalpelo ultrassónico. — Realização de incisões uterinas transversais para redução da hemorragia e facilitação das suturas (dependendo da localização do mioma); se mioma posterior ponderar incisão vertical. — Dissecção miometrial pela técnica designada onion skin, atingindo o plano da pseudocápsula. Quando necessário, utilizar um saca-miomas para exercer tracção na massa, diminuindo a perda hemática e conduzindo à sua enucleação, por forças de tracção e contratracção. — Hemostase precisa com recurso a coagulação bipolar ou energia ultrassónica. — Reconstrução da parede em: 2-3 planos para os nódulos intramurais profundos; 2 planos para os nódulos intramurais/subserosos; 1 plano para os nódulos subserosos. — Morcelação eléctrica dos nódulos extirpados, ou extracção dos mesmos por colpotomia posterior. — Aplicação de barreira antiaderente sobre a superfície suturada do útero. — Em caso de miomas do ligamento largo, ter em atenção as referências anatómicas, como os trajectos do ureter e grandes vasos. Quadro 3. Material necessário para a miomectomia laparoscópica 1 trocarte óptico (10-12 mm), 3 trocartes suprapúbicos (5 mm) 1 pinça bipolar/Ultracission®/Ligassure® 1 tesoura monopolar/1 gancho monopolar 2 instrumentos de tracção (saca miomas, pinça Manhés) 1 sistema de lavagem-aspiração 1 pinça atraumática 2 porta-agulhas, 1 empurra-nós 1 manipulador uterino 1 morcelador Cirurgia uterina e anexial por celioscopia 541 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 2.3. TÉCNICA CIRÚRGICA (Figs. 10-13) Ensaios randomizados com controlo ecográfico10 mostraram recorrências semelhantes da ordem dos 21%, ou com ligeiras e não significativas diferenças da ordem dos 23% (laparotomia) para 27% (laparoscopia)14. 2.5. CONVERSÃO PARA LAPAROTOMIA Figura 10. Miomectomia laparoscópica de mioma posterior. Figura 11. Sutura após miomectomia laparoscópica. Se qualquer técnica operatória executada por laparoscopia pode exigir a sua conversão em laparotomia, torna-se óbvio que pelas razões já aduzidas de dificuldade de execução, e consequente necessidade de destreza e experiência, a miomectomia se torna particularmente vulnerável à referida conversão. Vários factores independentes parecem estar associados a um aumento do risco de conversão: tamanho e número de miomas, localização anterior, uso de agonistas GnRH e coexistência de adenomiose15. Os estudos retrospectivos existentes apontam para uma taxa de conversão entre os 041%16,17, sendo que Dubuisson, et al.18 apresentam uma taxa de conversão de 11,3% numa serie de 426 miomectomias laparoscópicas, e Malzoni et al.12 uma taxa de 1,29% numa série de 982 procedimentos. 2.6. CONCLUSÃO Figura 12. Mioma do ligamento largo. Figura 13. Miomectomia laparoscópica de mioma do ligamento largo. 542 Apesar da miomectomia laparoscópica ser uma técnica restrita a cirurgiões experientes, esta apresenta vantagens bem definidas: menor dor no pós-operatório; tempo de internamento mais curto; rápida recuperação; episódios de febre pós-operatória menos frequentes; menor risco hemorrágico. Está também bem documentada a menor formação de aderências por abordagem laparoscópica – factor importante na maioria das mulheres submetidas a esta intervenção, pelo desejo de fertilidade futura. Dubuisson, et al.8 documentam este facCapítulo 50 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 2.4. RECORRÊNCIA APÓS MIOMECTOMIA LAPAROSCÓPICA 3. CIRURGIA PAVIMENTO PÉLVICO 3.1. INTRODUÇÃO A cirurgia pélvica reconstrutiva laparoscópica requer um conhecimento aprofundado da anatomia pélvica e elementos de suporte, para a correcta identificação do defeito pélvico em causa e planeamento cirúrgico. Actualmente, a via laparoscópica ainda é pouco utilizada para correcção de defeitos do pavimento pélvico, porque exige elevada experiência do cirurgião, nomeadamente na realização de sutura laparoscópica20. Tendo em conta a necessidade de destreza e experiência do cirurgião, qualquer procedimento cirúrgico de correcção de defeitos do pavimento pélvico por via abdominal pode ser realizado por via laparoscópica20. A existência de múltiplas técnicas para correcção deste problema demonstra a dificuldade do seu tratamento21. É sobejamente conhecida a controvérsia associada à melhor via de abordagem dos defeitos do pavimento pélvico, via vaginal com e sem recurso a material protésico versus via laparoscópica. A título exemplificativo, optámos por restringir à abordagem deste tema à correcção do defeito apical, nomeadamente à sacrocolpopexia para correcção do prolapso da cúpula vaginal. Cirurgia uterina e anexial por celioscopia 3.2. TÉCNICA CIRÚRGICA (Figs. 14-18) A preparação pré-operatória e a ergonomia e posicionamento da paciente para a cirurgia são idênticos ao já discutido na abordagem da histerectomia laparoscópica. Na ausência de contra-indicação, deve ser aconselhado o uso de estrogénios vaginais um mês antes da cirurgia para melhoria do trofismo e cicatrização. A doente deve ser reexaminada sob anestesia para avaliação do tipo e grau de prolapso, permitindo uma correcta estratégia cirúrgica. É fundamental posicionar a paciente em Trendelenburg, permitindo afastar as ansas intestinais da cavidade pélvica e, sempre que necessário, suspender a ansa sigmoide pelos apêndices epiplóicos à parede abdominal lateral esquerda, de modo a expor o campo operatório: cúpula vaginal, parede pélvica lateral direita e promontório. O material necessário encontra-se descriminado no quadro 4. A técnica pode ser planificada da seguinte forma22: — Dissecção do promontório: deve ser realizada até atingir o periósteo, tendo o cuidado de identificar os vasos sagrados médios, o ureter direito e a veia ilíaca comum esquerda, que cruza a linha média a este nível. — Dissecção e abertura do peritoneu lateral direito: desde o promontório até à cúpula vaginal, tendo o cuidado de identificar o ureter direito, nervo hipogástrico inferior direito e vasos ilíacos internos. — Dissecção do espaço vesicovaginal: com a ajuda de uma sonda vaginal, o peritoneu que recobre a cúpula é seccionado e dissecado em direcção ao septo vesicovaginal, rebatendo a bexiga e expondo a parede anterior da vagina. — Dissecção do espaço rectovaginal: o recto deve ser traccionado em direcção ao sacro de modo a identificar a entra- 543 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 to ao realizar laparoscopias de second look sistemáticas, com os seguintes resultados: a presença de aderências (em qualquer localização) após miomectomia laparoscópica foi de 51,1% (intervalo de confiança [IC] 95%: 42,6-59,6) e de 89,6% (IC 95%: 84,5-94,8) após laparotomia. A incidência de ruptura uterina é rara, sendo estimada entre os 0-1%19. Na sua prevenção, o factor mais importante é a qualidade da técnica cirúrgica focando um correcto encerramento uterino, mesmo nos miomas subserosos, e restringindo o uso de coagulação aos focos hemorrágicos. 1 trocarte óptico (10-12 mm), 3 trocartes suprapúbicos (5 mm) 1 pinça bipolar/Ultracission®/Ligassure® 1 tesoura monopolar/1 gancho monopolar 1 sonda vaginal 1 sistema de lavagem-aspiração 1 pinça atraumática 2 porta-agulhas, 1 empurra-nós 1 prótese de polipropileno — — — — — da no septo rectovaginal; o peritoneu sobre a cúpula deve ser seccionado e dissecado em direcção ao septo – a extensão desta dissecção relaciona-se com o tipo de defeito pélvico existente e pode estender-se até ao músculo puborrectal. Preparação e corte da prótese: utiliza-se uma prótese de polipropileno; esta deve ter a forma de um Y, apresentando um braço para fixação no espaço vesicovaginal, outro braço para fixação no espaço rectovaginal e um braço posterior mais longo para fixação no promontório. Fixação de prótese no espaço rectovaginal: a prótese é fixada com 4 pontos de fio não reabsorvível (Ethibond® 2/0), incluindo os ligamentos cardinais. Fixação de prótese no espaço vesicovaginal: a prótese é fixada com 2-4 pontos de fio não reabsorvível (Ethibond® 2/0). Fixação de prótese no promontório: a prótese é fixada com 1-2 pontos de fio não reabsorvível (Ethibond® 2/0) englobando o periósteo. Encerramento peritoneal: numa primeira fase é necessário cobrir a prótese fixada à cúpula vaginal com Vicryl® 0, e numa segunda fase procede-se ao encerramento do peritoneu lateral direito, cobrindo todo o material protésico. 544 No pós-operatório, a paciente deve evitar esforços nos 3 meses seguintes à intervenção cirúrgica, está recomendada dieta rica em fibras e uma boa hidratação de modo a evitar a obstipação, e a actividade sexual não deve ser iniciada antes da sexta semana. Figura 14. Sacrocolpopexia laparoscópica: dissecção da cúpula vaginal. Figura 15. Sacrocolpopexia laparoscópica: sutura da prótese à cúpula. Capítulo 50 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Quadro 4. Material necessário à sacrocolpopexia por via laparoscópica 4. ABORDAGEM LAPAROSCÓPICA DE QUISTOS OVÁRICOS 4.1. INTRODUÇÃO Figura 16. Sacrocolpopexia laparoscópica: fixação da rede ao promontório. Figura 17. Sacrocolpopexia laparoscópica: trajecto lateral da prótese. Figura 18. Sacrocolpopexia laparoscópica: aspecto final. 3.3. CONCLUSÃO A abordagem dos defeitos do pavimento pélvico por via laparoscópica tem a vantagem de permitir uma óptima visualização do defeito em causa, bem como o uso da pressão positiva do pneumoperitoneu para dissecção dos espaços anatómicos possibiliCirurgia uterina e anexial por celioscopia O diagnóstico diferencial de massa pélvica é extenso e complexo, e a idade da doente em questão e a sua relação com o período da vida reprodutiva são cruciais para a determinação das etiologias mais prováveis em cada caso. A maioria das formações quísticas encontradas em idade reprodutiva corresponde a quistos funcionais, muitos deles com resolução espontânea. No entanto, aqueles que persistem por mais de 3 meses, ou que são identificados na pré-menarca ou pós-menopausa, requerem investigação com intuito de excluir possível malignidade. Num estudo retrospectivo de 10 anos, realizado por Konnings, et al.23, verificou-se que o risco de tumor primitivo do ovário aumenta de 13% nas mulheres pré-menopausa para 45% após a menopausa. A investigação de uma massa anexial obedece a vários passos: — Avaliação clínica: procurando definir dimensões, consistência, limites, regularidade, bilateralidade e possível infiltração dos tecidos envolventes. — Avaliação ecográfica: permitindo caracterizar a massa relativamente a dimensões, limites, bilateralidade, natureza sólida, quística ou complexa e existência de líquido livre na pélvis. A existência de formações sólidas, multiloculadas, vegetações ou papilas, septos espessos, limites irregulares e ascite são sinais sugestivos de malignidade, pelo que a abordagem por laparotomia deve ser considerada. A avaliação da vascularização da massa encontrada também permite favorecer a suspeita de malignidade em caso de 545 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 ta a sua correcção, tirando partido de todos os benefícios já frequentemente citados da cirurgia minimamente invasiva20,22. 546 ção de massas pélvicas. Pelo contrário, a RM permite uma boa caracterização dos órgãos pélvicos, apresentando maior sensibilidade, na caracterização das estruturas intraquísticas, do que a TC, e maior sensibilidade e especificidade, na caracterização de massas pélvicas, do que a TC e a ecografia. A RM é reservada aos casos de suspeita de malignidade, ou massas pélvicas de grandes dimensões que necessitem de melhor caracterização. De acordo com o resultado da investigação realizada à massa pélvica encontrada, preconiza-se abordagem terapêutica por via laparoscópica na ausência de suspeita de malignidade26. 4.2. TÉCNICA CIRÚRGICA O posicionamento da doente equivale a qualquer procedimento ginecológico laparoscópico. O trocarte umbilical contém a óptica, e habitualmente são utilizados 3 trocartes de 5 mm suprapúbicos – um central e dois laterais. O primeiro passo da cirurgia corresponde a uma fase diagnóstica, identificando a formação quística e possíveis factores associados que possam levantar suspeita sobre a existência de malignidade. Em caso de dúvida, deve ser colhida uma amostra de líquido peritoneal para avaliação citológica. O material necessário encontra-se descriminado no quadro 5. Consoante o grau de suspeição da formação quística (avaliação clínica e ecográfica, marcadores tumorais do ovário e eventual RM), o desejo de fertilidade e a idade da paciente pode-se optar por duas abordagens cirúrgicas diferentes: quistectomia ou anexectomia27. 4.2.1. QUISTECTOMIA LAPAROSCÓPICA (Figs. 19-23) Em caso de existência de aderências, o primeiro passo corresponderá à sua completa libertação. Capítulo 50 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 detecção de vasos com fluxo de baixa resistência em massas muito vascularizadas (característica de neovascularização). A ecografia é considerado o exame complementar de diagnóstico de primeira linha na avaliação da patologia pélvica. — Avaliação analítica/marcadores tumorais: o marcador serológico mais estudado é o CA 125, que pode estar presente em situações benignas ou malignas. Das múltiplas situações benignas que cursam com CA 125 elevado destacam-se os miomas uterinos, tumores ováricos benignos, endometriose, adenomiose, gravidez, menstruação, doença inflamatória pélvica, ou outras patologias inflamatórias como o lúpus eritematoso sistémico, a pericardite e a doença inflamatória intestinal, entre outras. Nestes casos o nível de CA 125 raramente excede 100-200 IU/ml. Dada a variedade de patologias a que está associada a sua elevação, é considerado um marcador de baixa especificidade24. Um CA 125 superior a 65 IU/ml em mulheres pré- e pós-menopausa permite diferenciar entre formação maligna versus benigna com uma especificidade de 92% e sensibilidade de 75%, passando para 97 e 78%, respectivamente, se avaliado apenas o grupo de mulheres pós-menopausa25. Os níveis de lactato deshidrogenasa (LDH), B-human chorionic gonadotropin (HCG) e Afetoproteína podem encontrar-se elevados na presença de determinados tumores malignos de células germinativas, bem como, os níveis de inibina A e B se encontram alterados na presença de tumores das células da granulosa do ovário. Os níveis de antigénio carcinoembrionário (carcinogen embrionary antigen [CEA]) e de CA 19.9, podem estar elevados na presença de carcinomas epiteliais mucinosos do ovário. — Tomografia computorizada (TC) e RM: a TC permite obter imagens de elevada qualidade, mas não tem benefício sobre a ecografia, apresentando sensibilidade e especificidade inferiores na caracteriza- 1 trocarte óptico (10-12 mm), 3 trocartes suprapúbicos (5 mm) 1 pinça bipolar/Ultracission®/Ligassure® 1 tesoura monopolar/1 gancho monopolar 2 pinças de tracção tipo Manhés 1 pinça atraumática 1 sistema de lavagem-aspiração 1 saco endoscópico de extracção da peça O ligamento útero-ovárico ou o infundíbulo-pélvico é traccionado pelo primeiro ajudante, de forma a expor todo o ovário. Após coagulação superficial do bordo antimesentérico, na superfície quística, procede-se a uma incisão linear com tesoura, acoplada ou não a corrente monopolar, de modo a expor o plano entre a superfície quística e a parede do ovário. Preferencialmente, a formação quística deve ser removida intacta, mas se ocorrer ruptura do quisto, este deve ser aspirado e lavado, e a superfície interna deve ser inspeccionada para exclusão de sinais suspeitos como a existência de vegetações (esta obriga a exame extemporâneo e decisão cirúrgica de quistectomia vs anexectomia). No caso dos quistos endometriais, estes geralmente rompem durante a libertação do ovário, que frequentemente se encontra aderente às estruturas envolventes. A quistectomia é conseguida pela ajuda de duas pinças de tracção, uma fixada à cápsula do quisto e outra ao ovário, permitindo exercer forças de tracção e contra-tracção, removendo o quisto progressivamente. Perto do hilo ovárico, as estruturas estão geralmente mais aderentes e a sua separação ocorre com maior dificuldade e necessidade de coagulação. Após a remoção do quisto é necessária uma hemostase cuidadosa, com coagulação dos pontos hemorrágicos, e sem destruição excessiva do tecido ovárico. Cirurgia uterina e anexial por celioscopia Habitualmente, após a quistectomia, as extremidades do ovário aproximam-se espontaneamente, sem necessidade de sutura. A peça deve ser removida com a ajuda de um saco endoscópico para evitar contaminação. Figura 19. Quisto seroso simples do ovário. Figura 20. Quistectomia ovárica laparoscópica de quisto seroso simples. 547 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Quadro 5. Material necessário para a quistectomia/anexectomia laparoscópica Figura 22. Quistectomia laparoscópica de teratoma do ovário. 4.3. CONCLUSÕES Figura 23. Resultado final após quistectomia laparoscópica de teratoma do ovário direito. 4.2.2. ANEXECTOMIA LAPAROSCÓPICA Em caso de existência de aderências, o primeiro passo corresponderá à sua completa libertação. 548 O objectivo primário na avaliação diagnóstica de uma massa anexial é a confirmação do seu ponto de origem e a determinação da probabilidade de ser benigna ou maligna. Em caso de indicação cirúrgica e não havendo suspeita óbvia de situação oncológica, a abordagem terapêutica de primeira linha deverá ser a via laparoscópica26, pois a doente beneficia das vantagens inerentes à cirurgia minimamente invasiva, nomeadamente o menor risco na formação de aderências, tão importante em todas as mulheres em idade fértil. Neste tipo de abordagem, o factor mais importante é, sem dúvida, uma correcta selecção das doentes. Capítulo 50 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 Figura 21. Teratoma do ovário direito. O primeiro ajudante tracciona o anexo (ovário + trompa) na direcção da linha média, expondo o ligamento infundíbulo-pélvico. A libertação do anexo é conseguida pela coagulação e corte justa ovárica, passo a passo, em direcção ao ligamento útero-ovárico e istmo tubário. Este tempo operatório exige a manutenção da tracção permanente em direcção à linha média, permitindo afastar a energia de coagulação do ureter, cujo trajecto passa na base do ligamento infundíbulo-pélvico. Após a secção dos pedículos vasculares é necessária a verificação da hemostase. A remoção da formação quística através da parede abdominal implica o uso de saco endoscópico para evitar o contacto directo com a parede e sua possível contaminação, aumentando o risco de implantação secundária28. Esta extracção pode ser realizada através da substituição de um trocarte lateral de 5 mm por um de 10 mm (para permitir a passagem do saco de extracção), ou pela passagem do saco pelo trocarte umbilical (utilizando uma óptica de 5 mm de apoio, numa das entradas laterais). Em caso de rotura do quisto dentro da cavidade peritoneal, esta implica lavagem copiosa da mesma. 5.1. INTRODUÇÃO A ressecção cuneiforme dos ovários poliquísticos (SOP) foi descrita pela primeira vez por Stein e Leventhal, em 1935, quando verificaram que a mesma, executada com intuitos diagnósticos, se traduzia na correcção permanente e definitiva da anovulação subjacente29. Este efeito ocorria com a remoção em cunha de cerca de 50% do volume ovárico. Após cerca de 20 anos e com critérios de selecção muito estritos, Stein apresentou uma taxa de regularização dos ciclos menstruais de 95 e 87% de taxa de gravidez nas pacientes que a desejaram deliberadamente30,31. Durante um longo período após o seu aparecimento, o citrato de clomifeno foi considerado a terapêutica de eleição para a indução da ovulação, mau grado o reconhecimento precoce de que uma percentagem considerável de situações era resistente à indução medicamentosa da ovulação32. Ressurge então o interesse pelo recurso à destruição do parênquima ovárico como forma de corrigir os distúrbios endócrinos responsáveis pela anovulação crónica do SOP. Estávamos já em plena época da cirurgia laparoscópica inicial, em que uma das principais vantagens, como fora demonstrado por Palmer, um dos seus grandes pioneiros, era a considerável redução da formação de aderências, quando comparada com a cirurgia convencional por laparotomia33. Torna-se difícil definir com rigor a quem deve ser atribuída a sistematização desta metodologia, também popularizada por ovarian drilling. Contudo, pode considerar-se que o trabalho de referência aceite pela maioria da comunidade científica seja o de Gjonnaess34, em que eram definidas condições técnicas importantes, como o número de perfurações dos ovários, e a potência da corrente eléctrica utilizada, bem como obviamente os resultados obtidos. Cirurgia uterina e anexial por celioscopia Posteriormente foi tentada também a utilização do laser com o mesmo objectivo, mas o procedimento nunca teve a mesma aceitação, porque os resultados ficaram muito aquém dos já obtidos pela coagulação, que para além disso era consideravelmente mais económica35-37. 5.2. TÉCNICA CIRÚRGICA Abstemo-nos de uma descrição detalhada, que tornaria o capítulo excessivamente longo. Preferimos chamar a atenção para alguns aspectos que na nossa vasta experiência se nos afiguram cruciais. Um dos mais importantes tem a ver com a indispensabilidade de fixação firme dos ovários e da prevenção do deslizamento da pinça de coagulação, indispensáveis para prevenir o risco grave de lesões das estruturas vizinhas. Igualmente importante é a definição do volume de parênquima a destruir, permitindo-nos chamar a atenção para que um só orifício de entrada na cápsula ovárica pode permitir 3-4 trajectos de direcções distintas, o que reduz o risco de aderências. Com esta atitude temos frequentemente a percepção da extensão do processo destrutivo, pois o ovário coagulado aproxima-se visualmente do aspecto do ovário normal. Uma hemostase perfeita é essencial, o que aconselha a privilegiar a intensidade do corte, na perfuração, e a intensidade na coagulação intra-ovárica. Ter um cuidado extremo em não permitir a formação de focos de carbonização nos orifícios. Quanto à localização destes, optamos quase sempre pela entrada através do pólo proximal, limitando os riscos de aderências infundibulares, e assegurando a mobilidade da região ampular. Terminamos sempre a intervenção com a realização de uma ascite terapêutica com cerca de 250 cc de soro fisiológico, excepto nos poucos casos em que utilizámos gel-barreira com resultados favoráveis. 549 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 5. COAGULAÇÃO DE OVÁRIOS POR LAPAROSCOPIA 5.4. CONCLUSÃO 5.3.1. ASPECTOS POSITIVOS A coagulação dos ovários na terapêutica da anovulação crónica, associada a síndrome de ovários poliquísticos, continua a ter um lugar importante no conjunto das soluções terapêuticas, particularmente quando se pretende obter a resolução de um problema de infertilidade. Para dela tirar o máximo proveito é indispensável uma correcta selecção dos casos a tratar e a utilização de uma técnica que respeite as normas enunciadas e universalmente aceites. O aspecto positivo mais óbvio é o que resulta da resposta favorável em termos de ovulação regular após a cirurgia, taxas que oscilam entre os 55-92%, com a grande variabilidade explicável eventualmente pela selecção das pacientes38. Com efeito os melhores resultados são obtidos nos casos que também respondem à terapêutica com o citrato de clomifeno, enquanto as situações resistentes apresentam respostas menos satisfatórias. Associado à ocorrência regular de ovulações está também a resposta em termos de gravidez, oscilando aqui os resultados positivos entre os 56 e os 70%, o que pode estar dependente de outros factores, dado tratar-se, na maioria, de situações de infertilidade que podem não ser exclusivamente ovulatórias38. Torna-se obrigatório citar também a redução de síndromes de hiperestimulação ovárica e de gravidezes múltiplas, dada a desnecessidade de utilização de medicações gonadotróficas estimulantes. 5.3.2. ASPECTOS NEGATIVOS O dado mais relevante é o que advém da discrepância entre a correcção da anovulação e a dificuldade ou incapacidade de obtenção de gravidez, o que seguramente está relacionado com a formação de aderências, complicação que pode ser consideravelmente reduzida com o recurso a medidas técnicas, como as lavagens múltiplas intra-operatórias, criação de ascite terapêutica, ou utilização de diferentes tipos de barreiras38. Um problema raro, mas importante, é o da falência ovárica pós-cirurgia, que se supõe estar relacionado na maioria dos casos com um excesso de destruição do tecido gonadal. 550 6. CIRURGIA TUBO-PERITONEAL 6.1. INTRODUÇÃO A laparoscopia em ginecologia teve como uma das suas primeiras, mais frequentes e úteis indicações a avaliação pélvica diagnóstica nas situações de infertilidade. Numa primeira fase para a definição do diagnóstico causal e, subsequentemente, para a tentativa de selecção dos casos que dessem uma garantia mínima de poderem ser resolvidos através de uma cirurgia convencional por laparotomia, em que eram utilizadas as técnicas microcirúrgicas. Contudo, rapidamente se compreendeu que as expectativas em termos de resultados ficavam muito aquém do desejável, porque mais do que o rigor técnico, a qualidade das trompas era o factor determinante. Apesar desta constatação a laparoscopia não deixou de ser utilizada como elemento fundamental do diagnóstico. Atendendo a que durante um largo período as punções ováricas para obtenção dos ovócitos para técnicas de procriação medicamente assistida (PMA) foram unicamente realizadas por laparoscopia, deve considerar-se que uma parte significativa das primeiras laparoscopias operatórias foi destinada à técnica que viria a destronar a cirurgia tubária. Capítulo 50 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 5.3. AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS 6.2.1. LISE DE ADERÊNCIAS Poder-se-á suspeitar da existência de aderências tubo-peritoneais se na história clínica das pacientes existe um quadro sugestivo de doença inflamatória pélvica (DIP), de um processo de apendicite aguda complicada, ou perante a ocorrência de uma cirurgia pélvica, nomeadamente ginecológica (v. g. miomectomias ou quistectomias dos ovários). Consideramos que as aderências associadas a processos de endometriose ocorrem num enquadramento completamente diferente das anteriores, pelo que a sua abordagem também deve ser distinta. Havendo ou não suspeitas de um processo aderencial, a realização de uma laparoscopia diagnóstica deve ser planeada, admitindo a priori a necessidade de no imediato corrigir as situações que possam ser responsáveis por uma infertilidade. 6.2.2. OBSTRUÇÕES TUBÁRICAS As formas purulentas, que, além da obstrução distal, apresentam ampla destruição da mucosa e mesmo da muscular, estão actualmente excluídas de qualquer forma de recuperação funcional através da cirurgia. Da descrição que fizemos resulta que as situações associadas à relativa conservação da integridade da mucosa tubária são passíveis de uma tentativa de correcção cirúrgica com recurso à via laparoscópica. Estão incluídas neste grupo as situações de adesiólise (lise das aderências peri-tubo-ováricas), de fimbriólise (reconstrução de um pavilhão nem sempre completamente ocluído) ou de salpingostomia (criação de um neo-pavilhão possível pela relativa conservação da integridade das fímbrias). Estes três tipos de intervenções são relativamente fáceis de executar para quem chegou a adquirir experiência com a cirurgia por laparotomia. Em termos de prognóstico, a adesiólise e a fimbriólise têm resultados semelhantes, e a sua realização por laparoscopia justifica-se antes de recorrer à PMA, na ausência de qualquer outro factor importante, como um factor masculino grave. O mesmo não se pode afirmar relativamente às obstruções distais completas, com alterações estruturais da parede da trompa. Desde sempre se constataram resultados medíocres em termos de gravidez intra-uterina evolutiva, verificando-se outrossim o aumento da probabilidade de gravidez ectópica nas trompas tratadas39. Obstrução proximal Trata-se essencialmente de obstruções da porção intramural da trompa, às quais é aplicada a designação de salpingite ístmica nodosa. Esta situação é compatível com a ocorrência rara de gravidez espontânea, curiosamente nunca ectópica, jamais teve uma abordagem cirúrgica laparoscópica e, actualmente, em caso de infertilidade, aponta para o recurso a técnicas de PMA. 6.2.3. HIDROSSALPINGE E INFERTILIDADE Obstruções distais Do ponto de vista etiológico, e relacionado com as consequências deles decorrentes, devem distinguir-se dois grupos: os de causa endógena (essencialmente salpingites) e os de causa exógena (processos de peritonite). Nas causas endógenas, as infecções purulentas (quase sempre gonocócicas) contrastam com as formas subclínicas das infecções a Chlamydia. Após a introdução das técnicas de PMA e da estabilização dos resultados em termos de gravidez, estas passaram a constituir a terapêutica de eleição para as infertilidades de causa tubária40,41. Contudo, progressivamente, começou a verificar-se que, nos casos de hidrossalpinges relativamente volumosos, os resultados ficavam aquém das expectativas, comparados, quer com outras formas de infertilidade tubária, quer com Cirurgia uterina e anexial por celioscopia 551 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 6.2. SITUAÇÕES CIRÚRGICAS 6.2.4. TRATAMENTO CIRÚRGICO DA ENDOMETRIOSE Na abordagem que fizemos anteriormente, no volume I desta obra, acerca da endometriose e nomeadamente da sua terapêutica cirúrgica, ficou dito o essencial sobre este tema; limitamo-nos, pois, a chamar a aten- 552 ção acerca de alguns aspectos que consideramos essenciais. Um dos conceitos importantes é o de que a terapêutica cirúrgica laparoscópica não só não perdeu importância, como pelo contrário ter-se-á reforçado. Um dos dados que nos levam a enfatizar esta ideia e a inerente conduta por ela determinada, tem a ver com o significado das lesões mínimas e ligeiras. Está cada vez melhor documentada a noção de que pequenos focos de aspecto inocente podem esconder e ser a ponta do iceberg de lesões profundas rectovaginais, associadas a quadros clínicos em que a dor é o elemento dominante. Daí provavelmente o conceito erróneo, vigente durante largos anos, de que haveria uma manifesta desproporção entre a intensidade da dor e as manifestações visuais. Daí também a necessidade de preparar as doentes que vão ser submetidas a uma laparoscopia diagnóstica, em virtude da existência de algias pélvicas intoleráveis associadas eventualmente a infertilidade, para a necessidade de respeitar os cuidados prévios inerentes à endometriose profunda. Por tudo isto, se compreende que este tipo de lesões obriga à existência de uma equipa cirúrgica pluridisciplinar apta a aplicar as modernas técnicas, cuja utilização a laparoscopia proporciona. 7. TRATAMENTO DA GRAVIDEZ ECTÓPICA POR LAPAROSCOPIA 7.1. INTRODUÇÃO Enquanto a incidência da gravidez ectópica aumentou substancialmente nos últimos anos, a incidência das suas complicações, e em especial a taxa de mortalidade dela decorrente, reduziram-se de forma significativa53. Este facto deve-se essencialmente ao notável progresso conseguido no seu diagnóstico precoce e também aos novos meios de tratamento surgidos nas últimas décadas. A evolução na abordagem terapêutica perCapítulo 50 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 outras indicações ou causas de infertilidade42,43. O grupo de pacientes com hidrossalpinges apresentava uma redução da taxa de gravidez clínica (18 vs 37%), bem como o decréscimo da taxa de gravidez evolutiva (15 vs 34%) e ainda uma baixa significativa da taxa de implantação (7 vs 18%)44. A análise destes resultados fez despertar imediatamente a suspeita, que associados aos hidrossalpinges e, provavelmente, relacionados com o conteúdo líquido dos mesmos, existiriam factores deletérios interferindo eventualmente com o mecanismo de desenvolvimento dos embriões transferidos para a cavidade uterina45,46, ou em alternativa com a receptividade endometrial47. Na sequência do provável papel deletério atribuído aos hidrossalpinges, surgiu como natural a proposta tendente a interromper a comunicação do lúmen tubário com a cavidade uterina, e, se possível tecnicamente, através da realização de salpingectomia48,49. Os resultados apresentados nos trabalhos referidos mostram uma melhoria significativa da percentagem de gravidezes (36,6 vs 23,9%) e de fetos vivos (28,6 vs 16,3%). Esta tão substancial melhoria levou a preconizar a salpingectomia sistemática, e consequente indicação para PMA, nos casos de infertilidade em que as trompas são consideradas funcionalmente irrecuperáveis50. Esta concepção aplica-se mesmo aos casos em que só uma das trompas se apresenta afectada51. A cirurgia aparentemente não se traduziu num compromisso da vascularização ovárica, e consequente resposta à sua hiperestimulação52. 7.2. DIAGNÓSTICO Um quadro clínico sugestivo continua a ser o ponto de partida mais frequente para a realização de um diagnóstico correcto, mas não é de todo incomum consegui-lo pela simples monitorização ecográfica de casos de infertilidade tratados por indução de ovulação ou superovulação. Pode afirmar-se com segurança que o elemento decisivo nesta evolução é o recurso sistemático e precoce a exames ecográficos com sondas vaginais de alta resolução. Contudo, a sua correcta interpretação e valorização depende em larga escala da aplicação dos testes plasmáticos de HCG e, embora menos valiosos, também dos doseamentos de progesterona55. No plano ecográfico o grande salto qualitativo consistiu na passagem da suspeita de gravidez extra-uterina (GEU) pela simples ausência de um saco gestacional intra-uterino, para a caracterização pela afirmativa de imagens anexiais fortemente sugestivas, nalguns casos mesmo quase patognomónicas. Apesar da sua variabilidade, o aspecto imagiológico mais comum é o da existência de uma pequena massa heterogénea justa ovárica, mas independente deste órgão e que, contrariamente ao conceito clássico, nem sempre se apresenta com um aspecto anelar, ou pseudoquístico56. Do ponto de vista bioquímico, a maioria das gravidezes anómalas (extra-uterinas ou intra-uterinas não evolutivas) não apresentam a habitual duplicação dos valores de HCG plasmática de 48 em 48 h. Também a progesterona, com taxas inferiores a 5 ng/ ml, é fortemente sugestiva de gravidezes não evolutivas57,58. Cirurgia uterina e anexial por celioscopia 7.3. TRATAMENTO 7.3.1. TRATAMENTO EXPECTANTE Trata-se de uma atitude ainda pouco assumida, dado que exige a obediência a critérios de inclusão altamente restritivos e um acompanhamento muito próximo, permitindo o recurso a terapêuticas de emergência em casos de deterioração rápida. Considera-se que percentagens de resolução espontânea são possíveis em mais do que 80% dos casos em que os valores de HCG iniciais sejam inferiores a 1.000 UI59. 7.3.2. TRATAMENTO MÉDICO Consiste essencialmente no recurso ao metotrexato, que na maioria dos casos é administrado por via sistémica (doses, por vezes repetitivas, de 50 mg/m2 por via intramuscular) e só excepcionalmente por injecção local guiada por ecografia60. À semelhança do que acontece com a atitude expectante, impõe condições básicas muito estritas (valores inferiores a 5.000 UI de HCG e diâmetros da imagem ecográfica abaixo dos 3 cm). Respeitando estes critérios pode apresentar percentagens de cura da ordem dos 70-100%. A grande polémica quanto à utilização do metotrexato reside em torno do prognóstico relativo à preservação da integridade da trompa comparativamente com o recurso à cirurgia por via laparoscópica61. 7.3.3. TRATAMENTO CIRÚRGICO O tratamento cirúrgico da gravidez ectópica continua a ser a abordagem preferencial desta situação. Para além dos critérios de algum modo limitativos das abordagens expectante e médica, acima enunciados, devem ser ponderados, na escolha do tratamento cirúrgico, factores como o quadro clínico, o desejo de preservação da fertilidade, o estado da 553 Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação © Permanyer Portugal 2010 mitiu que se passasse da incontornável salpingectomia por laparotomia, para a laparoscopia com eventual conservação da trompa, em simultâneo com a utilização da terapêutica médica, ou mesmo simples vigilância até à sua resolução espontânea54. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. Bibliografia 23. 1. Thoma V, Salvatores M, Mereu L, Chua I, Wattiez A. Laparoscopic hysterectomy: technique, indications. Ann Urol. 2007;41:80-90. 2. American College of Obstetricians and GynecologistsQuality assurance in Obstetrics and Gynecology. 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Já o mesmo não se poderá dizer quanto à opção pelo binómio cirurgia conservadora/ cirurgia radical – leia-se realização de salpingotomia ou salpingectomia, uni ou bilateral. Em qualquer caso, tendo sempre presente que se deve fazer o máximo esforço para preservar o ovário. Alguns estudos referem após salpingotomia, taxas de permeabilidade da ordem dos 85% e de gravidez intra-uterina oscilando entre 55-60%63. Contudo, num trabalho publicado por Ory, et al., constata-se que o prognóstico após cirurgia depende mais da existência prévia de uma infertilidade do que da técnica cirúrgica utilizada64. Cirurgia uterina e anexial por celioscopia 49. Hammadieh N, Afnan M, Evans J, et al. A postal survey of hydrosalpinx management prior to IVF in the United Kingdom. Hum Reprod. 2004;19:1009-12. 50. Sagoskin AW, Lessey BA, Mottla GL, et al. Salpingectomy or proximal tubal occlusion of unilateral hydrosalpinx increases the potential for spontaneous pregnancy. Hum Reprod. 2003;18:2634-7. 51. 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