I Congresso Baiano de Engenharia Sanitária e Ambiental __________________________________________________ ANÁLISE MULTIOBJETIVO COMO INSTRUMENTO DE PLANEJAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS: UMA ABORDAGEM CONCEITUAL ______________________________________________ Paulo Romero G. Serrano de Andrade CETEC / UFRB INTRODUÇÃO No Brasil, não se tem ainda o planejamento multiobjetivo formalizado, e a análise de benefício/custo continua sendo a principal ferramenta de avaliação de projetos, e, mesmo assim, regra geral em caráter "pró-forma". Não são percebidas, portanto, as limitações de sua abrangência. Uma tendência atual no mundo foca o tratamento de problemas de recursos hídricos pela consideração de múltiplos objetivos e múltiplos decisores (comitês, consórcios, etc.), considerando em um processo de tomada de decisão aspectos sociais e políticos, com ênfase na preservação da qualidade do meio ambiente, que, de certa forma, foi comprometida ao longo dos anos pelo chamado desenvolvimento econômico. OBJETIVO Abordar aspectos conceituais, terminologias e elementos fundamentais da Análise Multiobjetivo como ferramenta de auxílio à decisão em problemas de planejamento de recursos hídricos. Conotar a importância do desenvolvimento e aplicação dessa técnica de análise sistêmica na gestão dos recursos hídricos em bacias hidrográficas, visando também proporcionar o uso múltiplo das águas (como bem preconiza o Art. 1º - IV, dos Fundamentos, da Lei No. 9433/97). Evidências de degradação das bacias hidrográficas e corpos hídricos convidam ao planejamento e à implantação de projetos de engenharia para evitar / mitigar impactos ! Degradação e urbanização de bacias hidrográficas: a produção de sedimentos é um dos graves impactos ! Imagem de satélite revelando a extensão da descarga de sedimentos no Golfo do México produzida pelo rios Mississipi e Atchafalaya (Fonte: NASA). Persistem problemas de abastecimento de água às populações (cenas do interior do NEB) ! O Carro-Pipa O Jumento-Pipa O Boi-Pipa Poluição dos corpos hídricos !! É FATO QUE AS COISAS VÃO MAL PARA O LADO DAS ÁGUAS (....E DO HOMEM ) ! A água representa insumo fundamental à vida, configurando elemento insubstituível em diversas atividades humanas, além de manter o equilíbrio do meio ambiente, o que nos remete para a consciência de que é preciso planejar o bom uso deste importante recurso natural !!!! Água: um recurso multifuncional, por vezes escasso, e sua gestão remete para as dimensões da gestão ambiental (multi-setorial), considerados a oferta e uso dos recursos naturais. (*) No cruzamento de cada linha e coluna localiza-se o gerenciamento de um recurso natural para uso em dado setor. Planejamento e Engenharia Recursos Hídricos Planejamento de Recursos Hídricos: visa à avaliação prospectiva das demandas e das disponibilidades e a sua alocação entre usos múltiplos, de forma a obter os máximos benefícios, incorporadas características ambientais e sociais, além das técnico-econômicas, comumente utilizadas em estudos de planejamento ambiental de recursos hídricos (não se deve focar apenas a abordagem estritamente econômica- ex.: análise B/C, largamente utilizada e aceita até os anos 70/80). Engenharia de Recursos Hídricos: integra um processo de formação de capital no qual o recurso natural básico é a água, tendo como objetivo promover mudanças quantitativas/qualitativas para adequar disponibilidades aos padrões de demanda hídrica e favorecer o uso múltiplo das águas. Enga. de Recursos Hídricos: viabiliza os usos diversos da água O problema da alocação de água nos sistemas hídricos é caracterizado por fatores diversos: Incertezas de diversas naturezas; Interações complexas no ciclo hidrológico e no sistema construído pelo homem; Conflitos entre usos, usuários, setores de atividades; Investimentos de grande porte, demandando planejamento a longo prazo (as obras perpassam gerações futuras); Os sistemas de recursos hídricos são dinâmicos; Impactos ambientais, sociais e econômicos, Participação de grupos heterogêneos no processo decisório (autoridades federais, estaduais e municipais, empresas, industrias, comércio, companhias de eletricidade, saneamento, etc., populações urbana e rural). Em uma só palavra: COMPLEXIDADE ! Planejamento de Recursos Hídricos “A alocação de água entre usos múltiplos é um problema de grande complexidade cuja solução deve ser procurada com técnicas de análise de sistemas de recursos hídricos ” (Barth, 1987). O planejamento de recursos hídricos atualmente está passando por um período de reformulação de seus procedimentos de avaliação de alternativas e no desenvolvimento de técnicas correspondentes, saindo da tradicional análise custo/benefício para a análise multiobjetivo. Análise de Sistemas de Recursos Hídricos Vários dos métodos da análise de sistema de recursos hídricos utilizam técnicas tradicionais (Otimização: em PL, PD, PNL, Estocástica, Redes de Fluxo, Teoria dos Jogos, Algorítmos Genéticos, etc., e Simulação - embora essa não gere, diretamente, uma solução as quais não são eficientes para resolver problemas multiobjetivos por serem métodos baseados na análise do valor de uma única função e conseqüentemente retornam um único valor ótimo. ótima), BREVE HISTÓRICO DA ANÁLISE MULTIOBJETIVO 9 Inicia-se no Séc. XIX, a partir de deduções do economista italiano Vilfredo Pareto: ao analisar a sociedade concluiu que grande parte da riqueza se encontrava nas mãos de um número demasiado reduzido de pessoas; após concluir que este princípio estava válido em muitas áreas da vida quotidiana; estabeleceu daí o chamado “Método de Análise de Pareto”, afirmando que um pequeno número de causas é responsável pela maioria dos problemas. 9 O trabalho de Pareto (1893) examinou problemas de agregação de critérios dentro de um critério simples, definindo o conceito da eficiência entre duas alternativas de decisão. 9 Durante a Segunda Guerra Mundial, a “Pesquisa Operacional” ganha grande impulso e passa a ser utilizada como “ferramenta” de tomada de decisão no cenário militar, inglês e norte americano. BREVE HISTÓRICO DA ANÁLISE MULTIOBJETIVO Segundo Goicochea et al. (1982), a teoria do planejamento multiobjetivo teve suas origens no trabalho do "Harvard Water Program", nos EUA (Mass, 1962), sendo baseada em quatro passos dentro do processo de planejamento de recursos hídricos, conforme a filosofia analítico-racional: 1. Identificar os objetivos do sistema a ser planejado, definir os problemas operacionais, envolvendo a seleção de objetivos no processo político; 2. Transformar os objetivos em critérios, o que implica o desenvolvimento de critérios detalhados para refletir os objetivos do sistema a ser planejado; 3. Desenvolver o sistema a ser planejado, usando os critérios anteriormente desenvolvidos, que reflitam os objetivos; 4. Revisar os resultados do processo do sistema planejado. BREVE HISTÓRICO DA ANÁLISE MULTIOBJETIVO Na década de 70 a pesquisa em MCDM - Multiple Criteria Decision Making, caracterizou-se pelo desenvolvimento dos fundamentos teóricos da programação matemática múltiplo objetivo e desenvolvimento de algorítimos para a resolução de cada problema; destacam-se, nesse período, problemas envolvendo programação linear multiobjetivo (MOLPMultiObjective Linear Programming). Na década de 80, nos EUA, a maior preocupação entre os pesquisadores americanos foi a de enfatizar a otimização dos processos de análise multiobjetivo, raramente função de um único objetivo (mas sim de múltiplos objetivos), como suporte à tomada de decisão na avaliação de alternativas de projetos. BREVE HISTÓRICO DA ANÁLISE MULTIOBJETIVO Valoriza-se a figura do: “Decisor (a)” ou “Tomador (a) de Decisão”, que é o órgão ou indivíduo que detém o poder de definir, escolher, rejeitar e decidir. Escolher e preferir são tarefas que o decisor tem de exercer por si próprio, ninguém pode realizá-las por ele, ninguém pode tomar o seu lugar. Mesmo quando, em desespero, ele se abandona ao destino e decide não decidir” (Zeleny,1982). A Tomada de Decisão em Problema de Recursos Hídricos, requer: 9 Pela sua complexidade, a necessidade de estruturá-lo e sistematizar as respostas, o que é fundamental para a avaliação do “Decisor”, muitas vezes não representado por um único ente que, para minimizar a possibilidade de tomar decisões erradas, deve recorrer aos modelos para avaliação dos aspectos decisórios, o quais devem ser elaborados a partir de uma análise sistêmica e integrada. 9 Decisões de boa qualidade contribuem enormemente para o desenvolvimento da região, e até do país, em termos econômicos e sociais. 9 Decisões errôneas para um empreendimento podem gerar enormes prejuízos econômicos, sociais, ambientais ou políticos e são, geralmente, de correção onerosa, e às vezes, até impossível . Processo de Planejamento de Recursos Hídricos Três são os meios principais onde um Plano de Recursos Hídricos se desenvolve: 1. Meio Social e Político: que estabelece e processa as demandas da sociedade, e de seus representantes políticos; 2. Meio Técnico: onde são realizadas as análises técnicas que subsidiam o plano; 3. Meio Deliberativo: onde são tomadas as decisões, os estudos técnicos devem ser aprovados e o plano deve ser selecionado entre as alternativas. (Fonte: adaptado de Lanna, 1999). O Conceito Multiobjetivo 9 No dia a dia somos forçados a tomar decisões para atingir certos objetivos nas várias atividades desenvolvidas. 9 Por exemplo, na hora de comprar qualquer equipamento somos levados a tomar decisões que nem sempre se pautam por exclusivo fator econômico. 9 Outros objetivos como durabilidade, aspectos estéticos, garantia do produto, confiabilidade da marca, etc., são usados na tomada de decisão. 9 Portanto, várias análises são efetuadas, baseadas no bom senso (nem sempre conduzem à melhor solução) a fim de que possamos tomar decisões. O Conceito Multiobjetivo 9 Metodologias que levam em consideração vários objetivos para a escolha de uma ação (onde se pressupõe que o Decisor tem a possibilidade de escolha entre duas ou mais ações) são chamadas de “Análise Multiobjetivo”, sendo vistas como uma extensão técnicas de programação matemática (PO). das 9 Vantagens: i) Leva em consideração diferentes objetivos (ou critérios), ao mesmo tempo, dado que é quase impossível se tomar uma decisão baseado em apenas um critério; ii) Pode ser utilizado diferentes atributos para cada critério, iii) Pode fazer uso de dados qualitativos e quantitativos. O Conceito Multiobjetivo No caso multiobjetivo, considera-se as variáveis de decisão limitadas por restrições matemáticas, enquanto se poderia dizer que no caso multicritério (atributo) considerar-se-ia a enumeração dos objetivos (Colson e Bruyn, 1989). Na bibliografia técnica, em confundidas essas considerações. geral, aparecem Braga (1987) diz que um objetivo, p. ex., representaria um ideal da sociedade sobre o qual existe grande consenso num certo momento histórico, enquanto que critérios ou atributos constituem a tradução dos objetivos em características, qualidades, indicadores ou medidas de performance diante das alternativas de planejamento. Um exemplo para o caso de um reservatório: De uma forma genérica, pode-se cogitar que o objetivo da operação de um reservatório é a melhoria da qualidade de vida dos seus usuários. O Conceito Multiobjetivo Uma decomposição desse objetivo tão genérico para múltiplos objetivos (mais operacionais), poderia ser : I. Maximização do benefício líquido (abastecimento, geração de energia, irrigação, piscicultura, etc.); II. Maximização da segurança da população a jusante da barragem; III. Maximização da recreação no reservatório; IV. Maximização da confiabilidade da operação. V. Minimização de ambientais impactos Exemplo de uma Estrutura Hierárquica da Operação de um Reservatório com Múltiplos Objetivos (Fonte: adaptado de Braga, Jr., 1979). O Conceito Multiobjetivo Em um problema de análise multiobjetivo: Pode-se ter diferentes tipos de soluções dependendo das avaliações dos objetivos, que variam de pessoa para pessoa, isto é, a solução ótima para um indivíduo pode não ser a solução ótima para outro indivíduo (é muito difícil existir uma solução que seja simultânea); Geralmente, não existe uma solução que satisfaça a todos os decisores, e por isso busca-se a melhor solução de compromisso; Nem sempre o problema apresenta uma única solução ótima; as soluções dependem da qualidade dos dados que são levados em consideração. O Conceito Multiobjetivo Regra geral, o problema de otimização envolve funções de maximização e minimização, que são representadas por funções de variáveis, com restrições definidas. Matematicamente, pode-se formular esse tipo de problema como: Max ou Min F(x) (1) Sujeito a: gi (x) ≤ 0 i = 1, 2, ..., m (2) xj ≥ 0 j = 1, 2, ..., k (3) em que x é um vetor n-dimensional: isto é, xj com j=1, ..., n. O problema possui nvariáveis, m-restrições e p-objetivos. A função objetivo F(x) e as restrições gi(x) expressam relação entre as variáveis de decisão: x = {x1, x2, ..., xm} € ℜ (4) de acordo com essa notação, define-se a região viável (ou factível) no espaço das decisões “x” por: X = {x : x € ℜ, gi(x) ≤ 0, xj ≥ 0 para todo i e j } (5) A região das soluções viáveis ou factíveis, assim definida, é o conjunto de todos os vetores de variáveis de decisão que atendem a todas as restrições do problema. A solução ótima é definida como sendo aquela que, no caso da maximização, entre todas as soluções factíveis, aponta para o maior valor da função objetivo. O Conceito Multiobjetivo Diferentemente das situações em que há problemas com objetivo único (onde a solução ótima é obtida através da simples maximização ou minimização de uma FO de variáveis de decisão sujeitas a restrições), a “Análise Multiobjetivo” seleciona a solução de melhor compromisso (ou, a solução mais robusta), considerando-se a incerteza e a subjetividade inerentes ao processo decisório, em um cenário em que há múltiplos objetivos. Busca-se então a otimização do conjunto das funçõesobjetivo, através de critérios e julgamento das alternativas de solução do problema. O Conceito Multiobjetivo Na “Análise Multiobjetivo” , a classificação é feita com base em determinados critérios de avaliação e sob condições e cenários específicos que, se alterados, poderão indicar uma outra alternativa como melhor solução. Isso é feito através da identificação e estudo das relaçõesde-troca (trade-offs), ou de compromisso, entre os vários objetivos mensuráveis, ou não, e conflitantes por natureza. Na realidade, a solução apontada para a tomada de decisão, através da análise multiobjetivo, tem caráter fortemente político, resultado da ação conjunta de analistas técnicos e de decisores. O Conceito Multiobjetivo: princípio da otimalidade de Pareto Na análise multiobjetivo aplica-se, por extensão, o Princípio da Otimalidade de Pareto, segundo o qual, para o Conjunto das Soluções Não-Dominadas (ou Conjunto das Soluções Não-Inferiores), é impossível sair-se de uma posição sem que algumas alternativas melhorem seu atendimento ao conjunto dos objetivos e outras tenham, em detrimento, sua eficiência diminuída. No conceito multiobjetivo, cada uma dessas soluções não-dominadas pode ser escolhida como uma solução ótima no conceito de Pareto. O Conceito Multiobjetivo: princípio da otimalidade de Paretto Porto e Azevedo (1998), citando Cohon (1978), definem o conceito de não-dominância da seguinte forma: Uma solução não-dominada é aquela em que a melhoria de uma função-objetivo só pode ser conseguida à custa da degradação de outra. Em síntese, não existe um único ótimo em um problema com múltiplos objetivos. Existe sim um conjunto de ótimos que satisfazem de formas diferentes, os diferentes objetivos envolvidos na análise, surgindo o conceito o conceito de soluções não inferiores (soluções de compromisso). Conceito analítico do problema multiobjetivo Max Z(x) = [ Z1(x), Z2(x),........Zp(x)] sujeito a: gi(x) ≤ 0 i = 1,2,3........,m (6) xj ≥ 0 j = 1,2,3......., n (7) onde, Z(x) = função-objetivo p-dimensional ; (p = número de objetivos) gi (x) = função-restrição m-dimensional xj = vetor n-dimensional das variáveis de decisão Para o conjunto X das soluções viáveis no espaço das variáveis de decisão, tem-se: X = { x / gi(x) ≤ 0 e xj ≥ 0 para todo i,j) (8) x€X Uma solução não-dominada x é uma solução viável do conjunto X , não havendo outra solução viável x' € X em que ocorram: Zr (x') > Zr (x) para algum r = 1, 2,.....,p e (9) Zk(x') ≥ Zk(x) para todo k diferente de r O conjunto X* das soluções não-dominadas é representado por: X* = { x : x € ・X e x conforme definido} (10) Exemplo elucidativo de um problema multiobjetivo Vejamos um exemplo simples para um problema de seleção de plano ótimo com dois objetivos (adaptado de Braga Jr., 1987): i) Maximização do benefício ($) líquido nacional, e ii) Maximização do benefício ($) líquido regional. Esse plano poderia contemplar duas variáveis de decisão: X1 - Área irrigada (ha); X2 - Capacidade instalada para geração de energia elétrica (MW). 9 Nesse caso, não se pode pensar mais em uma única FO, mas sim em duas funções objetivo, como: F1(X1, X2) e F2 (X1,X2), que irão quantificar os resultados do plano em função das variáveis de decisão, X1 e X2. Exemplo elucidativo de um problema multiobjetivo Para fins de simplicidade de análise, supõe-se que as relações na função objetivo, sejam lineares, de acordo com: F1 (Xl, X2) = X1 + 2X2 F2 (Xl, X2) = 3X1 + X2 onde F1 (X1, X2) mede o benefício líquido nacional em milhões de R$) e F2(X1, X2), mede o benefício líquido regional em milhões de R$. Matematicamente, quer-se Max [F1(Xl, X2), F2(Xl, X2)] sujeito a algumas restrições sobre as variáveis de decisão. Essas restrições dizem respeito à área agricultável disponível, à máxima capacidade possível de ser instalada em função da queda local; à demanda por irrigação e energia, aos custos de produção etc. Por simplicidade analítico-matemática, supõe-se que as restrições sejam lineares: As combinações nos limites da área hachurada constituem a chamada fronteira tecnológica, pois pretende-se maximizar as funções objetivo. X1 ≤ 6 X1 + X2 ≤ 8 X2 ≤ 4 X1 ≥ 0, X2 ≥ 0 Figura 1 - região viável no espaço das variáveis de decisão X1 e X2, que satisfazem as restrições. Figura 2 - Conjunto não-inferior à região viável no espaço dos objetivos. Pela Figura 1 , determina-se: Ponto A: {X1 = 0 e X2 = 4 → F1=8 e F2 = 4}; Ponto B: {X1 = 4 e X2 = 4 → F1=12 e F2 = 16} Ponto C: {X1 = 6 e X2 = 2 → F1=10 e F2 = 20}; Ponto D: {X1 = 6 e X2 = 0 → F1=6 e F2 = 18}. Pela Figura 2 , deduz-se: ¾ Para qualquer outra solução viável do espaço dos objetivos (excluídas as não-dominadas) sempre haverá uma solução não-dominada que melhora, pelo menos, um dos objetivos. ¾ As combinações de X1 e X2 pertencentes ao conjunto não inferior (soluções não dominadas) devem ser preferidas. A questão que se coloca é qual a combinação. Aí é que aparece o conceito de troca (trade-off), ou de melhor solução de compromisso. ¾ Ex.:quando se desloca a solução do ponto B para o ponto C está-se fazendo uma troca de cerca de R$ 2 milhões em termos de benefícios líquidos nacionais (ganho com agricultura irrigada) para um ganho de R$ 4 milhões em termos de benefício líquido regional (geração de MW). ¾ A melhor solução de compromisso dependerá, portanto, da preferência do Decisor. Figura 2 - Conjunto nãoinferior à região viável no espaço dos objetivos. ¾ Em princípio, ambos os pontos C e B poderiam ser escolhidos como ótimos. Entretanto, o "verdadeiro" ótimo dependerá fundamentalmente do poder político, que é o responsável pela definição da troca entre objetivos. Conclusões A análise multiobjetivo, através de vários métodos, otimiza o processo decisório de escolha da mais adequada das soluções não-dominadas, sob os critérios de avaliação adotados e para as condições peculiares de cada problema. Cada um dos aspectos do problema, sujeitos ao processo decisório, é mensurado através de uma função-objetivo. Conclusão A maioria dos métodos multiobjetivos (MultiObjectives Decision Making - MODM), adotam técnicas de resolução, como: i) técnicas que geram o conjunto das soluções não dominadas; ii) técnicas que incorporam preferências do decisor; iii) técnicas que utilizam uma articulação progressiva das preferências. ¾ ¾ Muito foi escrito sobre essas técnicas e a cada ano novos métodos são apresentados, cada um possuindo suas vantagens e desvantagens em relação aos outros, tornando trabalhosa a escolha do método a ser utilizado, ficando subordinada à natureza do dados disponíveis e a experiência do analista. Conclusões Na avaliação das questões ambientais, sociais, culturais e de bem-estar da população, p.ex., de difícil mensuração, surge um dos aspectos críticos da análise multiobjetivo, que é a subjetividade inerente ao processo (esse importante fator depende, essencialmente, do julgamento humano, em termos de preferências manifestadas). Na abordagem de problemas complexos não estruturados, característicos na gestão das águas, ocorre sempre uma parcela considerável de julgamento humano, com a incorporação dos aspectos positivos e negativos de tal condição, ex.: crenças nas informações já consagradas, conservadorismo, hábitos, formação de “lobbies, etc. Conclusão ¾ Visto as determinações contidas na Lei Federal No. 9433, de 08 / 01 / 2007, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, e a limitada utilização das técnicas de análise multiobjetivo no Brasil, até então, é possível cogitar que há uma larga lacuna a ser ocupada pelo uso dessas técnicas, com vistas à otimização dos múltiplos objetivos, com geração de possíveis alternativas que satisfaçam os múltiplos usos e usuários das água, segundo critérios préestabelecidos, minimizando aspectos conflitantes com relação à valoração subjetiva de argumentos de negociação, tudo convergindo para auxílio a tomada de decisão em problemas de planejamento de recursos hídricos. MUITO OBRIGADO PELA ATENÇÃO ! [email protected] Métodos Multiobejtivos Podem ser classificadas, conforme a posição relativa entre analista e decisor, nos grupos que seguem (Cohon e Marks, 1975): Técnicas que geram o conjunto das soluções não dominadas ¾ São técnicas que não levam em conta as preferências do decisor, onde o conjunto das soluções não-dominadas é estabelecido pelo analista com base exclusiva nas restrições físicas do problema e para um máximo de três objetivos. Essas técnicas não consideram as preferências do decisor, baseando-se somente nas restrições físicas do problema. ¾ Exs.: Método das ponderações ou das restrições (Zadeh, 1963); Método multiobjetivo linear (Philip, 1972); Métodos dos pesos (Cohon, 1978; Hasen et. al., 1982); Método de estimação do conjunto não dominado NISE (No-Inferior Set Estimation) (Cohon, 1978); Método Simplex, um (PMO) de Philip (Hasen et al. 1982); Método Simplex um (PMO) de Zeleny (Cohon, 1978; Hasen et al., 1982), entre outras. Métodos Multiobejtivos Técnicas que incorporam preferências do decisor Nessas técnicas, as preferências são estabelecidas a priori pelos decisores, pelo analista ou por consenso de ambos. Esse processo ocorre na forma de manifestação antecipada do juízo de valor sobre as possíveis relações-de-troca ("trade-offs") entre os objetivos fixados e sobre os pesos relativos de julgamento entre eles. 9 9 As variáveis de decisão podem ser contínuas ou discretas, dependendo do tipo do problema. Algumas técnicas são aplicadas exclusivamente aos problemas contínuos e outros as discretos, mas também existem aquelas que agregam ambos. 9 Algumas dessas técnicas: Método da programação por metas (Charney e Cooper, 1961); método PROMETHEE - Preference Ranking Organization METHod for Enrichement Evaluations (Brans et al. 1984; Brans e Vincke, 1985); Método do valor substituto de troca (Haimes e Hall, 1974); Método da matriz de prioridades (Saaty, 1977); Método da análise-Q (Hiessl et al., 1985); método STEP ou método dos passos (Cohon, 1978); Programação por metas (Charnes e Cooper, 1961); o-se o Método ELECTRE (ELimination Et Choix Traduisant la REalité), que é um método de seleção e ordenação (desenvolvido na França por Bernard Roy, 1968, 1991), e bem explicado em Roy, B. (1993, 1996), já existindo nas versões II, III e IV, etc.. 6. Métodos Multiobejtivos 6.3 - Técnicas que utilizam uma articulação progressiva das preferências 9 São métodos que trabalham com uma função dinâmica de valor e param quando se atingiu uma situação em que o decisor está satisfeito com a solução encontrada. São conhecidos como “métodos não dirigidos”. Nessas técnicas ocorre a interação progressiva entre o analista e decisor ao alongo do processo decisório (apresentada uma solução não-dominada, o dedisor manisfesta-se sobre a mesma). 9 Algumas destas técnicas são: Ponderação dos critérios a priori (Cohon, 1978); Noção geométrica da melhor solução de compromisso ou método geométrico (Cohon, 1978); Método da Programação de Compromisso (Zeleny, 1973); Função utilidade explícita (Cohon, 1978; Hasen et. al, 1982), entre outras. ____________________________________________________ Obs.: Ao distinguirem-se da corrente americana, quanto ao caráter do uso e ao conceito dos métodos multicriteriais, os europeus passaram a denominar essas ferramentas (MODM - MultiObjectives Decision Making), como “Métodos Multicriteriais de Auxílio à Decisão” (MCDA - MultiCriteria Decision-Aid), criando-se assim a chamada “Escola Européia”. Esta escola busca, com a utilização dos métodos multicriteriais, a “Solução de Melhor Compromisso”, não necessariamente a solução mais racional como a pregada pela “Escola Americana” (Zuffo et. al., 2002). Terminologia Básica da Análise Multiobjetivo a) Alternativa, Cenário ou Ação Potencial: Uma alternativa, cenário ou ação potencial é a ação que tem possibilidade de ser executada, naquele momento, e que satisfaça pelo menos um dos “Decisores”. Segundo Scharling (1985), os cenários devem respeitar três condições: i) Condição de globalidade: É necessário que as ações sejam mutuamente exclusivas ii) Condição de estabilidade: As ações devem ser bem definidas e fixadas. iii) Condição de comparabilidade transitiva completa: as ações devem ser selecionadas ou ordenadas de forma inquestionável segundo os critérios e suas avaliações que foram elegíveis. b) Decisor(a) ou Tomador(a) de Decisão: órgão ou indivíduo que detem o poder de definir, escolher, rejeitar e decidir entre possíveis cenários ou ações potenciais. “Escolher e preferir são tarefas que o Decisor tem de exercer por si próprio, ninguém pode realizá-las por ele, ninguém pode tomar o seu lugar. Mesmo quando, em desespero, ele se abandona ao destino e decide não decidir” (Zeleny, 1982). c)Atributos: são elementos mensuráveis p/cada alternativa, de forma técnica e objetiva, sendo relevantes ao decisor para nortear a sua escolha de ação. Os atributos são, muitas vezes, conflitantes entre si (ex.: mão de obra empregada e lucro), podendo ser quantificados: i) numericamente, forma cardinal, ou; ii) qualitativamente, forma ordinal (esta quantificação serve para pautar a decisão quer seja baseada em termos de: i) minimização de prejuízos (impactos negativos, custos, etc.) ou ii) maximização de benefícios (lucros, bem estar, confiabilidade, sustentabilidade, durabilidade, etc.). Terminologia Básica da Análise Multiobjetivo d) Objetivos ou Critérios: Alguns autores diferenciam objetivos, ou critérios, de propósitos (Loucks et al., 1981). Os propósitos são aqueles a que se destina a ação potencial (por exemplo, a construção de um canal no sertão visa o desenvolvimento da região atendida por ele; as alternativas são as formas que ele pode ser implantado; e os objetivos, por outro lado, podem ter caráter econômico, social, ambiental, etc.). Os objetivos ou critérios são grupos (pode ser unitário) de atributos que visam facilitar a avaliação de preferência de um decisor. e) Normalização: a fim de eliminar as diferenças de ordem de grandeza ou de escala usadas para os atributos ou critérios (ex.: mão de obra empregada, impacto ambiental e lucratividade com um empreendimento), os valores da matriz de decisão podem ser normalizados, ou seja, terem seus valores convertidos para valores entre zero e uma unidade. Isto permite equiparar diferentes critérios ou atributos com diferentes ordens de grandeza para exprimir a preferência do decisor. f) Pesos: A valoração subjetiva com que o decisor expressa a importância relativa de um critério em relação aos demais é chamada de peso. Como mencionado por Vincke, 1992, os pesos são como votos atribuídos aos candidatos (critérios). Os pesos, wk, de critérios k podem ser ordenados numa forma vetorial por: 1 Critérios Pesos w1 2 ... w2 ... nc wnc Terminologia Básica da Análise Multiobjetivo g) Matriz de avaliação (Payoff): serve para apresentar a valoração qualitativa (subjetivas ou ordinal) ou quantitativa (objetivas ou cardinal) dos critérios para as alternativas, na seguinte forma matricial. Na matriz, cada uma das n alternativas de solução é avaliada sob os p critérios estabelecidos no processo decisório. Os critérios de avaliação das alternativas representam a especificação dos objetivos em características e qualidades, em medidas adequadas de desempenho das soluções de planejamento. Na análise, há uma comparação de cada alternativa com todas as demais, com estabelecimento de um hierarquia que aponta o conjunto das soluções de maior atratividade (não-dominadas ) e a escolha da solução de melhor compromisso (a solução mais robusta), em termos de melhor atendimento do conjunto dos objetivos e sob os critérios fixados para a análise. Descrição sucinta do Método ELECTRE: arranjos de uma aplicação. O método ELECTRE (Benayoun et al., 1966 e Roy, 1971) foi concebido para a abordagem multiobjetivo na solução de problemas de gestão das águas caracterizados por alternativas avaliadas por critérios preferencialmente qualitativos, com fixação prévia das preferências, por parte dos decisores. Sustenta-se nos três conceitos fundamentais: concordância, discordância (é complementar ao de concordância e representa o “desconforto” experimentado na escolha da alternativa i sobre a alternativa j), e valores-limite e utiliza um intervalo de escala no estabelecimento das relações-de-troca para a comparação das alternativas, aos pares. A partir da matriz de avaliação, as alternativas são comparadas, aos pares, com base em relações de preferência (ex.: a > b significa que a alternativa a é preferida à alternativa b; a = b significa que a é equivalente à b; b > c significa que b é preerida a c). O índice de concordância é calculado pela seguinte fórmula: C(i, j) = ∑ [w(k '・・1 / 2w(k" )] / ∑ w (p) sendo: w(k’)=pesos dos critérios sob os quais i > j ; w(k”) = pesos dos critérios sob os quais i = j ; w(p) = pesos de todos os critérios. Para maior clareza, os índices de concordância são apresentados na forma de uma matriz de concordância, onde C(i, j) representa o elemento da linha i e coluna j, ou seja, a satisfação que o decisor sente ao preferir a alternativa i frente à alternativa j, sob certo critério. Descrição sucinta do Método ELECTRE: arranjos de uma aplicação. A relação de preferência é utilizada para formar um gráfico em que cada nó representa uma alternativa e uma “seta” indica dominância de uma alternativa sobre a outra, em termos de preferência. O conjunto reduzido das alternativas não-dominadas, conhecido como, núcleo “kernel” obtido pela filtragem é extraído do gráfico, observadas as seguintes condições, segundo Benayoun et al. (1966): i) uma alternativa selecionada não pode dominar outra também selecionada; ii) cada alternativa dominada (não selecionada) deve ser dominada, pelo menos, por uma das alternativas selecionadas O Tomador de Decisão geralmente escolhe dois pares para p e q (valores limites de concordância e discordância) , que representam a estrutura de preferência “Forte” e outra “Fraca”. Esses dois pares geram dois gráficos distintos: o gráfico da preferência forte (GF) e o de preferência fraca (Gf), que serão os dados de entrada para o método ELECTRE II. Figura 3 - Representação de gráfica de estrutura de preferência gerada pelo método ELECTRE I (Fonte: Goicoechea et. Al, 1982. * O conjunto das alternativas de maior atratividade é constituido pelos nós (opções) 2, 4 e 5.