FICHA TÉCNICA ITINERARIUM STCP Nº 6 - Abril a Junho 2009 Av. Fernão Magalhães 1862 13º 4350 -158 Porto Tel: 22 5071000 fax: 22 507 1150 mail: [email protected] www.stcp.pt Direcção Presidente do Conselho de Administração da STCP, SA Coordenação Editorial Agenda Setting Coordenação Redactorial Gabinete de Comunicação e Relações Institucionais (STCP, S.A.) Fotografia STCP, SA Redacção Agenda Setting Gabinete de Comunicação e Relações Institucionais (STCP, S.A.) Design Jorge Jorge e Ana Roncha Edição e Propriedade STCP, S.A. Impressão Tecniforma Print Depósito Legal 274128/08 ISSN 1646-9291 Registo ERC Isento, ao abrigo do Decreto Regulamentar 8/99, de 9 de Junho Tiragem 20.000 exemplares Periodicidade Trimestral Newsletter STCP Nº06 Abr Mai Jun 2009 itinerarium STCP Itinerário 202 04 05 A MINHA LINHA Serralves em Festa 06 07 AS NOSSAS NOTÍCIAS D. Manuel Clemente Bispo do Porto 08 09 O QUE DIZEM A Primavera de 2009 não representou, como normalmente, aquela perspectiva optimista que acompanha o nascer das flores e o anúncio da luz e do calor do Verão que lhe sucede. António Augusto Ribeiro: uma vida de dedicação à STCP 10 11 AS NOSSAS ESTÓRIAS Matriz Origem-Destino na STCP Uma melhor compreensão da mobilidade Serralves 14 É DO NORTE Curitiba, um “case study” do mundo dos transportes 14 CURIOSIDADES DO MUNDO DOS TRANSPORTES 02 03 A CIDADE + EDITORIAL 12 13 PRESENTE E FUTURO A consolidação da crise que assolou o mundo – fazendo estremecer mesmo as estruturas aparentemente mais sólidas – e o surgimento do risco de uma pandemia de gripe mantiveram o horizonte sombrio, fazendo perdurar um sentimento pesado de Inverno. Também a STCP, consciente do seu papel perante todos os colaboradores que nela trabalham e perante a comunidade que serve, procurou participar activamente no planeamento das medidas de prevenção da epidemia da gripe A/H1N1 com a divulgação, a partir de Abril, dos procedimentos preventivos determinados pela Direcção-Geral de Saúde, quer a nível interno quer junto dos clientes através da colocação de cartazes no interior das suas viaturas. Elaborou e aprovou, em Maio, o Plano de Contingência da Gripe A/H1N1, com o planeamento das acções e medidas a adoptar se e quando a pandemia exigir intervenção, considerando os diversos níveis de disseminação e gravidade que podem ser atingidos. Apesar das vozes precipitadas que sempre consideram exagero e gasto inútil o investimento na prevenção, é inquestionável que todos os casos potenciais de infecção que possam ser evitados e quanto maior o número de cidadãos com vacinação ou tratamento assegurado, melhor será a defesa de todos contra um risco que só memórias curtas que tenham esquecido os surtos de pandemia de gripe ocorridos no passado, com perda de muitos milhares de vidas, poderão irreflectidamente ignorar. Embora na expectativa de que a acção concertada da O.M.S. com as autoridades de cada país possa minimizar e conter os riscos de pandemia em níveis controláveis, compete também a cada um de nós e, em especial, a empresas com forte contacto diário com a população, como é o caso da STCP, coordenar a sua actuação organizadamente para protecção simultânea dos seus trabalhadores e familiares e das centenas de milhar de pessoas que diariamente utilizam o seu serviço. O nosso desejo é que a prevenção adequada evite males maiores e com esse objectivo tudo faremos para que, também neste campo, a STCP seja um exemplo a seguir. Fernanda Meneses Presidente Conselho Administração STCP Construído no século XV, durante a guerra da Restauração, o Castelo do Queijo é uma pequena fortificação defensiva, situada na Praça Gonçalves Zarco. Com o nome oficial de Forte de S. Francisco Xavier, ganhou o nome pelo qual é mais conhecido por estar assente em rochedos em forma de queijo. É composto por espessas paredes e amplas plataformas de tiro, tendo um delineamento angular. Todo este conjunto arquitectónico faz deste castelo uma belíssima obra de arte. Pertencendo à Delegação Norte da Associação de Comandos é actualmente utilizado como palco para eventos culturais e de animação, constituindo um dos melhores pontos da cidade do Porto para se observar o pôr-do-sol. Castelo do Queijo Freguesia portuguesa do concelho do Porto, Nevogilde caracteriza-se por ser uma freguesia marítima, tendo sido apenas no fim do século XIX que começou a fazer parte da cidade e do concelho. Em Nevogilde fica localizada a Igreja de São Miguel de Nevogilde, erguida no século XVIII, quando a freguesia contava ainda com poucos habitantes, ligados essencialmente ao trabalho agrícola. De pequenas dimensões, a Igreja contém apenas uma nave e uma capela-mor, e expressa a exuberância do barroco joanino. Com um manancial de belas zonas residenciais, a freguesia de Nevogilde tem sofrido um considerável desenvolvimento. Castelo do Queijo Para mais informações vá a: www.itinerarium.pt Tendo sido ali instalada a partir do nome da estátua, a praia do Homem do Leme tem um pequeno areal, frequentado maioritariamente por famílias e habitantes locais. Localizada numa zona de forte pressão antrópica da cidade do Porto, a praia do Homem do Leme é, em termos geológicos, uma praia do tipo rochoso com um declive que varia entre 0º e 85º. Apesar da pequena extensão de areal, esta praia tem sido classificada com bandeira azul. Praia do Homem do Leme Lóios Castelo do Queijo Nevogilde 202 04 05 A MINHA LINHA Igreja da Trindade Localizada na Praça da Trindade, a Igreja da Celestial Ordem Terceira da Santíssima Trindade situa-se nas traseiras da Câmara Municipal do Porto. A sua construção ocorreu durante o século XIX e reflecte o gosto pelo estilo neoclássico, possuindo alguns detalhes barrocos. Apesar das várias alterações ao projecto inicial, a Igreja abriu as suas portas em 1841, ainda sem capela-mor, tendo ficado concluída em 1892. A frontaria da igreja é de tipo clássico, erguendose no cimo de uma larga escadaria, estando dividida em duas áreas. No interior é de salientar a qualidade técnica do trabalho em mármore e os retábulos de talha dourada, destacando-se o retábulo-mor, da autoria do arquitecto José Marques da Silva. Edificado de raiz na Avenida da Boavista, por vontade do rei D. Pedro V, o Hospital Militar serve as Forças Armadas, a GNR e a PSP. Nos últimos anos começou a abrir as portas à sociedade civil, tendo celebrado protocolos tanto com o Hospital de Pedro Hispano, a nível de cuidados intensivos, como com o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, no campo da Medicina de Catástrofe e na troca de conhecimentos. Sob o lema "Aqui não há inimigos senão a doença", o Hospital Militar D. Pedro V tem 110 camas, 112 médicos, dos quais 46 são militares, e não tem listas de espera. Hospital Militar Lóios Lóios O Largo dos Lóios, cujo processo de construção e consolidação se concluiu no princípio do século XIX, inclui alguns edifícios com grande valor arquitectónico. Alguns deles formam conjuntos que marcam a qualidade arquitectónica do local; outros, individualmente, contribuem para a beleza do Largo. Um bom exemplo disto mesmo é a casa brasonada de arquitectura simples que se pode ver constituída por um piso térreo, sobreloja e andar nobre, este com as janelas de sacada, sendo as restantes de peitoril. O Largo dos Lóios está inserido numa área classificada como Património Mundial da Humanidade. E como a cidade tem nos milhares de estudantes que a frequentam clientes especiais, é na Queima das Fitas que, mais uma vez, a STCP facilita o transporte nas noites em que todos os caminhos vão dar ao Queimódromo. Foram disponibilizados serviços especiais para garantir a ligação directa da Baixa ao Queimódromo e da Areosa / Hospital S. João também ao Queimódromo. Os estudantes puderam viajar de forma gratuita, graças a um acordo estabelecido entre a STCP e a FAP. No dia do cortejo, 5 de Maio, foi ainda feito um reforço adicional no vaivém que partia da Trindade, uma vez que a Avenida dos Aliados estava cortada ao trânsito. Aliados recebem quiosque da STCP para promoção turística STCP reforça ligação a Vila d’ Este A STCP, com o objectivo de melhorar o serviço prestado, deu resposta aos pedidos dos moradores de Azevedo, em Campanhã, mais concretamente da zona de Areias, e prolongou até lá a linha ZR que vem do Freixo. Uma mudança que é uma mais valia para a população local, mas que serve também de elo de ligação para turistas uma vez que a linha ZR liga a Baixa à zona oriental da cidade. O percurso desta linha garante passagem pela marginal do rio Douro e ainda proporciona paragem no Museu dos Transportes, no Museu da Imprensa, no Funicular dos Guindais e ainda no Palácio do Freixo. A STCP associou-se à edição 2009 do “Serralves em Festa” com a criação de dois vaivéns especiais que ligaram o local do evento à Casa da Música e ao parque de estacionamento do Queimódromo. Este último vaivém foi gratuito para os utilizadores que estacionaram a sua viatura no parque especialmente criado pela organização. Além destes dois vaivéns, todos os outros serviços regulares da STCP que servem Serralves foram também assegurados. Para facilitar a mobilidade a todos os passageiros, as paragens incluídas neste serviço especial “Serralves em Festa” estavam devidamente identificadas com placas alusivas ao evento. STCP tem novo Conselho de Administração A STCP está atenta às necessidades dos concelhos que serve e quando há um evento importante, os autocarros estão lá e de serviço reforçado. Os exemplos são muitos: S. João, a Noite dos Museus a 16 de Maio, o dia Mundial da Criança no primeiro dia de Junho e ainda as Olimpíadas do Ambiente da Universidade Católica. O quiosque da STCP da Avenida dos Aliados abriu ao público no passado dia 7 de Maio. Trata-se de um novo posto de atendimento, que vai funcionar como pólo de promoção e venda de produtos turísticos da STCP Serviços. O Conselho de Administração esteve presente na cerimónia de abertura ao público deste importante veículo promocional da empresa. O quiosque foi objecto de obras profundas de requalificação, tendo mantido na parte inferior um espaço de apoio ao Departamento de Operações (DOP), agora com condições melhoradas. “Serralves em Festa” com a STCP STCP apoia a cidade em todas as festas 06 07 AS NOSSAS NOTÍCIAS Prolongamento da linha ZR para melhor servir os clientes Desfile dos Carros Eléctricos anima as ruas do Porto A história passeou pelas ruas do Porto. Foram peças de arte que desfilaram pelos carris da cidade invicta. A 18ª edição do Desfile dos Carros Eléctricos, organizada pela STCP, decorreu no dia 2 de Maio. A iniciativa proporcionou, mais uma vez, o reavivar de lembranças de outros tempos. Para uns, recordações antigas e para outros, uma novidade divertida, a verdade é que os eléctricos não passaram despercebidos a ninguém. Dez veículos, os mais belos da colecção do Museu do Carro Eléctrico, percorreram a linha da Marginal. Os veículos, nove deles a tracção eléctrica, são representativos da história e das memórias dos transportes colectivos na cidade do Porto, desde o início do século XX até aos anos 30. Portuenses e turistas puderam ver passar e também passear a bordo destas relíquias, com destaque, sobretudo, para os carros eléctricos n.ºs 100, 104 e 163, numa recriação dos primeiros anos dos transportes públicos da cidade do Porto. A STCP obteve no passado mês de Maio a concessão provisória de uma nova linha de ligação ao Porto pela Ponte da Arrábida (Boavista – Vila d’ Este), agora em fase de regularização administrativa formal. Esta nova linha vem reforçar a ligação a Vila d’Este bem como melhorar o serviço desta área urbana de Gaia, sendo também um valor acrescido nas condições de mobilidade para parte dos cidadãos do Porto. A obtenção surge do pedido feito pela STCP ao Instituto de Mobilidade de Transportes Terrestres (IMTT) para a concessão de uma nova linha pela Ponte da Arrábida. Foi eleito, no dia 16 de Abril, o novo Conselho de Administração da STCP para o triénio 20092011. Fernanda Meneses preside a equipa e tem como vogais Jorge Freire, Paulo Sá, Rui Saraiva e Sandra Lameiras. A eleição decorreu durante uma assembleiageral da empresa, na qual foram também apresentadas as contas de 2008. B.I. 1. Em Fevereiro cumpriu dois anos como Bispo do Porto. Qual é a análise que faz do trabalho que tem vindo a desempenhar na diocese? Faço uma análise positiva, sobretudo pelo trabalho dos outros, isto é, tenho encontrado na Diocese do Porto muita gente disponível e comprometida para levar esta aventura evangélica por diante. Nesse sentido, tem sido uma experiência muito positiva porque, antes de mais, é uma opção pessoal mas depois essa opção é muito reforçada por aquilo que vê nas outras pessoas e, nesse sentido, aqui a convivência com os cristãos e as cristãs na Diocese do Porto é muito positiva, muito estimulante. 2. Quais são os principais desafios a que pretende dar resposta? O grande desafio é que nós sendo referência do Evangelho de Jesus Cristo sejamos mesmo cristãos no sentido de aprofundar melhor as nossas motivações, e isso tem tudo a ver com o aprofundamento social e cultural. A partir daí também devemos ser mais consequentes na nossa actuação. É fundamental também que aprendamos uns com os outros, aprofundemos as nossas motivações evangélicas e depois sejamos capazes de as reproduzir na nossa sociedade de hoje. Temos um núcleo de convicções e de práticas que nos fazem cristãos propriamente ditos e que nos são próprios, devemos vivê-los e oferecê-los a quem quiser vir connosco. 3. Se tivesse que fazer um diagnóstico sócio-económico, como caracterizaria a cidade do Porto? A cidade do Porto é o concelho mais envelhecido da Diocese e isso levanta problemas próprios, como é o caso do apoio inter-geracional. Há inúmeras pessoas abandonadas, o que nos pede a nós em termos de prática cristã muita atenção com esses nossos irmãos e irmãs mais idosos, muitos dos quais já nem saem de casa. Algumas das coisas mais bonitas que acontecem aqui nas nossas paróquias da diocese do Porto são o apoio sócio-caritativo das instituições, os apoios domiciliários, as visitas, as confrarias vicentinas, os apoios da Caritas e a obra diocesana de promoção social. Por outro lado, o Porto é uma cidade cheia de possibilidades de convivência, só que são convivências vazias, temos praças e lugares muito bonitos, mas a partir do fim da tarde estão desertos, e as pessoas têm até receio de os ocupar, sendo preciso contrariar essa situação. Desde há dois anos atrás, que a Diocese do Porto tem organizado no centro histórico do Porto uma série de tertúlias e é muito gratificante ver que se reúnem sempre mais de 100 pessoas vindas de vários sítios, que partilham experiências e conhecimento, conversam, ouvem música... Tem que ser feito muito mais para que a cidade seja isso mesmo: um conjunto de cidadãos e não um conjunto de ruas desertas. 08 09 O QUE DIZEM D. Manuel Clemente Bispo do Porto D. Manuel José Macário do Nascimento Clemente nasceu em S. Pedro e S. Tiago, Concelho de Torres Vedras, a 16 de Julho de 1948. Após concluir o curso secundário, frequentou a Faculdade de Letras de Lisboa onde se formou em História. Ingressou no Seminário Maior dos Olivais, e licenciou-se em Teologia pela Universidade Católica Portuguesa, tendo-se doutorado em Teologia Histórica em 1992. Em 1975 começou a leccionar História da Igreja na Universidade Católica Portuguesa tornando-se, mais tarde, director do Centro de Estudos de História Religiosa dessa mesma Universidade. Foi ordenado presbítero em 1979, e desde então foi cónego da Sé de Lisboa, Reitor do Seminário Maior dos Olivais e Coordenador do Conselho Presbiteral do Patriarcado. Em 2000 foi ordenado Bispo Auxiliar de Lisboa, na Igreja de Santa Maria de Belém, e foi também Coordenador da Comissão Preparatória da Assembleia Jubilar do Presbitério para esse ano. Em 2002 tornou-se Promotor da Pastoral da Cultura na Conferência Episcopal Portuguesa. Em Fevereiro 2007, assumiu as funções de Bispo da Diocese do Porto. Actualmente é Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais e, devido ao seu prestígio e à sua experiência de vida, como Bispo e professor, tornou-se colaborador habitual dos programas "Ecclesia" (RTP2). 4. Numa época em que a crise acompanha a nossa vida quotidiana , qual é o papel da igreja na sociedade actual? A igreja é uma proposta cultural que permite tirar do evangelho uma série de perspectivas e significados para a vida, no aspecto propriamente cultural. Mas depois há esse outro aspecto sócio-cultural onde a igreja se reafirma como tal. Igreja quer dizer assembleia, reunião e numa sociedade, não só na portuense mas na portuguesa em geral, a principal contribuição que a igreja católica dá é proporcionar o encontro de uma parte significativa da população de forma periódica, completamente gratuita, interclassista e inter-racial. Este é um óptimo factor de coesão para a sociedade e nem consigo imaginar o que seria da sociedade portuguesa se desaparecesse a rede das mais de quatro mil paróquias, que são uma rede básica de sociabilidade. Eu creio que essa é a grande contribuição que a igreja dá à sociedade, concretamente a igreja católica, não pela perspectiva individualista da religião uma vez que a nossa tradição católica é muito comunitária, muito vinculada à presença de um factor de unificação muito forte. As pessoas reúnem-se para o culto, encontram-se e a partir daí também surgem iniciativas, quer no campo sócio-caritativo, quer no campo cultural. E isto é que a igreja tem que fazer porque nós estamos a atravessar o centro de uma crise, um período completo de mudança da nossa sociedade e da nossa sociabilidade que já não é o que era e não se sabe muito bem o que vai ser. São necessários focos de agregação, de encontro, e aí a igreja, uma igreja como a católica que é muito convivencial, tem um papel extraordinário. 5. Muitas são as paróquias que se queixam de perda de participação por parte da comunidade e é conhecida a carência de vocações para o sacerdócio. Porque é que a Igreja tem perdido seguidores e quais as medidas a implementar para que a tendência se inverta? As razões são várias, e à partida digamos que há uma básica, que é o facto das fontes habituais de recrutamento sacerdotal terem praticamente desaparecido. As grandes fontes dessa proveniência de candidatos ao sacerdócio eram as famílias católicas numerosas, onde era normal que uma filha ou outra fosse para o convento e um filho ou outro fosse para o seminário. Isso hoje onde é que existe? Muito raramente. Depois, a própria ligação à comunidade cristã mudou profundamente. Hoje em dia, uma criança com 10 anos, se calhar, já mudou três vezes de casa, já a própria família não é como quando ela nasceu, porque já o pai está num lado e a mãe no outro. Actualmente está tudo muito mais rarificado e diversificado, portanto não é tão habitual um percurso de definição, não só cristã, mas até da personalidade, é uma vida muito itinerante. A sociedade é menos sólida, menos consistente, menos definida, e isso acontece também no que diz respeito à definição vocacional, no sentido religioso e no sentido geral. Portanto, estamos numa fase de definição e de redefinição da sociedade, que passa por haver menos quantidade de vocações vindas das famílias directamente e por crescer o número de vocações já de uma juventude orientada ou mesmo na idade adulta. A perda de seguidores, por outro lado, está ligada ao facto de hoje em dia já não coincidir a terra e a paróquia. Antigamente, pertencer a uma sociedade era, pelo menos, aparecer na igreja nas festas principais e seguir os vários itens da vida cristã. Hoje já não é assim. As pessoas trabalham num sítio, vivem noutro, têm os pais noutro, ou seja, o próprio significado da terra, da integração na sociedade hoje não é o mesmo. Portanto, as comunidades cristãs têm hoje o grande desafio de serem pólos de reintegração e de reagrupamento comunitário, a partir da convicção cristã. Não há nada que una tanto as pessoas como alguma definição, quer em termos de ideias quer em termos de práticas, porque se não fica tudo muito disperso. 6. A tecnologia e as novas plataformas da sociedade de informação são um caminho? Isso é inevitável. Inevitável porque a religião é relação, e hoje a relação é mediática, todos nós sabemos. Nem é uma questão opcional quer para a religião quer para a sociedade. Não se trata de utilizarmos os meios, mas sim de estarmos nos meios, de vivermos em rede. Todos nós sabemos o que é isso, abrimos o computador e pela internet já fizemos não sei quantas conversas de dia-a-dia. Hoje é assim que nós comunicamos, e apesar da comunicação pessoal continuar a ser insubstituível, também no que diz respeito à transmissão de convicções religiosas e de práticas o novo mundo internauta tem que ser considerado. Hoje vive-se convivendo mediaticamente. 7. É utilizador assíduo de transportes públicos? Quando é preciso uso, mas prefiro andar a pé. Mas gosto, gosto muito de conviver com as pessoas nos transportes públicos e, concretamente no Metro, com esta rede que vai geralmente aos sítios onde eu mais preciso de me deslocar, proporciona muito contacto positivo. A cidade não é para se pensar, a cidade é para se calcorrear, a cidade é para se viver no sentido mais absorvente do termo, porque há coisas que nós só sabemos andando, convivendo, ouvindo, estando, encontrando... 8. Como avalia a evolução da rede de transportes públicos na cidade, especialmente o papel da STCP? Considera-os fundamentais na vida da cidade? Vejo que fazem muitos esforços nesse sentido. Está muito diferente do Porto que eu conheci há 50 anos, com os tróleis e a rede de eléctricos bem maior. E também não podemos esquecer as profundas alterações que trouxe o Metro. Vejo com muito gosto e muito positivamente tudo o que está planeado em termos de alargamento da rede, porque há outras cidades europeias onde isso já aconteceu há muito mais tempo. 9. Como vê o papel do serviço social da STCP enquanto instrumento de solidariedade e de inclusão? Quanto mais melhor e esse é um trabalho que a STCP tem sabido fazer, sobretudo no que diz respeito à solidariedade e à inclusão, com especial atenção às pessoas com deficiência física. Portanto, tudo aquilo que seja facilitação do acesso e também tudo o que diga respeito às próprias paragens e ao conforto que elas tenham, é extramente importante para a cidade. E até na dignificação desses locais, quer nos meios de transporte quer nos locais de espera, porque dignificar a cidade e o seu equipamento público é extremamente importante já que, sobretudo, dignifica os utentes, os cidadãos. Entrou para a STCP como cobrador na véspera de S. João em 1953 e, nessa altura, conforme nos contou: “ganhávamos 22 escudos por dia e éramos pagos à quinzena”. Com 27 anos era já um pai de família, casado e com uma filha. Durante o seu percurso na STCP, foi tendo momentos caricatos, uns mais pacíficos, outros mais emocionantes, mas todos eles com um grande significado para António. Antes de passar a guarda-freio, António Ribeiro esteve 10 anos como cobrador. “Eu estive dez anos sem passar a efectivo. (…) Era injusto, mas a gente, naquela altura, mal arranjava emprego agarravase logo para poder ganhar algum. Cheguei a estar três anos sem ter um dia de férias. Quando ganhámos o direito a férias tivemos direito a três dias por ano (…)” relembrou António. 10 11 NÓS E OS OUTROS AS ESTÓRIAS DA NOSSA GENTE Olívia da Silva, 2003 Montagem de retratos do Sr. António Ribeiro aquando a realização do projecto de recolha de Histórias de Vida. Arquivo Fotográfico do Museu do Carro Eléctrico António Augusto Ribeiro: uma vida de dedicação à STCP António Augusto Ribeiro, “Segundo Camões” como o próprio se designava, nasceu a 1 de Julho de 1926 em Nespereira, freguesia do concelho de Lousada. A palavra sempre foi a sua grande arma, e os seus maiores confidentes o papel e a caneta. Os cobradores, como o António, trabalhavam por vezes cinco, oito ou 11 horas por dia e, dependendo dos turnos, cinco horas de manhã e seis horas à tarde. O guarda-freio revelou que uma vez foi apanhado por um fiscal, porque tinha picado um bilhete em zona 1 de Leça quando devia ser zona 4. “O bilhete estava mal picado. Apanhou-me e foi fazer queixa ao inspector”, e António apressouse a falar com o engenheiro, a perguntar-lhe se “valia a pena pôr um inocente na rua por ter aparecido um fiscal”. “Lá fui absolvido” disse António. Conflitos como estes foram as principais razões para António pedir para ser guarda-freio, apesar de só ter demonstrado a sua vontade depois de ter a carta. “Uma vez tive um acidente em Gomes da Costa e ainda disse: ‘Fujam, fujam que eu não seguro o carro.’ O carro começou a deslizar e eu não o conseguia segurar. A areia, às vezes, funcionava e outras vezes não. Não consegui parar o carro e ele acabou por bater num automóvel.” Mais uma história caricata do guarda-freio. Numa outra situação, António estava a parar na Gomes da Costa e uma senhora colocou-se à frente do carro, obrigando o guarda-freio a meter contra-corrente. Segundo António “não se deve meter contracorrente, mas para salvar uma vida faz-se tudo”. António contou ainda que, há sensivelmente 30 anos, salvou o cantor Júlio Iglésias em frente ao Bessa. “Eu vinha a descer em frente ao Bessa, o carro dele atravessou-se à minha frente e eu tive que meter contra-corrente.” Depois de uma troca de palavras, o guarda-freio pediu ao cantor que se deslocasse até à Boavista, para poderem fazer a participação da situação. “Cheguei à Boavista e vi uma romaria de gente e aquele senhor a dar autógrafos. Só aí é que soube que ele era uma figura pública. Ele veio ter comigo e disse assim: ‘Diga que foi só uma esmurradela.’ Agora sintome feliz quando o ouço cantar aquelas cantigas” revelou António. Depois de ter dedicado 30 anos da sua vida à empresa, António Ribeiro faleceu em 2007. De lembrança ao Museu do Carro Eléctrico, António deixou um baú, onde o próprio dizia que aí deveria conter “a minha boa condução, o meu pensamento da empresa.” Olívia da Silva, 2003 Caderno de poemas do Sr. António Ribeiro. Arquivo Fotográfico do Museu do Carro Eléctrico. Olívia da Silva, 2003 Baú do Guarda-Freio 824, pertencente ao Sr. António Ribeiro com o bilhete “Deixar na Praça. Guarda-Freio 824”. Arquivo Fotográfico do Museu do Carro Eléctrico Foto-Eléctrica, 1952 Acidente de carro eléctrico ocorrido a 26 de Novembro de 1952. Arquivo Fotográfico do Museu do Carro Eléctrico Olívia da Silva, 2003 Montagem de retratos do Sr. António Ribeiro, usando o seu boné de guarda-freio, aquando a realização do projecto de recolha de Histórias de Vida. Arquivo Fotográfico do Museu do Carro Eléctrico Fotografias Sr. Ribeiro Matriz Origem-Destino na STCP Uma melhor compreensão da mobilidade Termina em Julho a colocação de placas em Braille em todas as paragens. As placas SMSBUS vão estar em todos os SPINS e Abrigos para informar os tempos de espera em Braille. Trata-se de um projecto inovador a nível nacional e europeu. 12 13 O PRESENTE E O FUTURO Técnicas do presente reconstroem o passado Projecto STCP fornece tempos de espera em Braille Vão nascer novos profissionais especializados na reconstrução de carros eléctricos históricos. Abre em Setembro a Oficina Escola, na Unidade de Museu e do Carro Eléctrico em Massarelos, onde vai ser leccionada a componente prática do curso de carpintaria de limpos. A Oficina Escola é um projecto da STCP que nasce de um protocolo de cooperação com o Centro de Formação Profissional das Indústrias da Madeira e do Mobiliário e a EB 2/3 do Viso, e vai ser homologado pela Direcção Regional de Educação do Norte. STCP acompanha os ritmos da cidade A Oficina Escola abre em Setembro O horário de Verão começou mais cedo. Com o fim do ano escolar, os novos horários chegaram a 29 de Junho, e devem perdurar até 6 de Setembro. Na maioria das linhas, Agosto vai ainda ter um horário específico apenas para este mês, onde se vai sentir uma redução mais acentuada no número de viagens, nos dias úteis. Os horários estão disponíveis em www.stcp.pt e estão assinalados em todas as paragens com uma cor amarela de fundo. Hoje, a STCP está dotada internamente de uma ferramenta de análise de mobilidade dos seus clientes, denominada de Matriz Origem Destino (MOD), deixando de estar totalmente dependente de consultores externos para estas análises. Este processo teve origem em 2005 através de uma colaboração entre a STCP e a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, que resultou numa parceria de sucesso para ambas as partes, académica e empresarial: desenvolvimento de várias teses de mestrado sobre o tema e uma ferramenta efectiva para a gestão da empresa em termos de deslocações dos seus clientes. A MOD na STCP representa a mobilidade dos nossos clientes entre áreas que podem ser concelhos, freguesias, zonas andante ou ainda grupos de paragem especificamente definidos para um estudo mais de pormenor tendo em conta a rede de transportes, dando relevo a términos, interfaces, pontos de transbordo entre linhas, etc. A quantidade de áreas definidas será a dimensão (ou tamanho) da matriz. Para se obter os dados que compõem a MOD é usada a informação presente na base de dados de validações da bilhética sem contacto, tecnologia em uso na STCP desde finais de 2006. Em cada validação efectuada pelos passageiros é possível saber a paragem onde foi efectuada, ou seja, a sua origem. Como os passageiros não validam à saída, não é possível determinar qual o destino que o passageiro pretende. Usando além da informação do local da paragem (que se encontra georreferenciada) é também tida em conta a linha onde validou, sentido, data, hora, entre outras informações, que vão permitir elaborar um algoritmo que estime o provável destino do passageiro nessa etapa, assim como um possível transbordo para continuação da viagem. Compilando todas as validações no período que se pretenda analisar, é possível construir uma MOD que pode ser usada para várias análises de mobilidade. Adicionando outros parâmetros, como por exemplo o perfil de tarifário, podem ser obtidos resultados destas análises por grupos (estudantes, 3ª idade, …). Esta metodologia está ainda a dar os primeiros passos na produção de resultados e apoio a estudos de rede de transportes. É no entanto um processo de melhoria contínua em que estamos a apostar para melhor compreendermos as necessidades dos nossos clientes. PARQUE O Parque de Serralves, referência singular da paisagem em Portugal, estende-se harmoniosamente por dezoito hectares de magníficos jardins, uma quinta tradicional e até uma mata. Projecto do Arq.º Jacques Gréber, o Parque de Serralves é um dos poucos jardins portugueses construídos na primeira metade do século XX. Como chegar a Serralves: Linhas STCP: 201, 203, 207, 502, 504 e Circuito Turístico Metro do Porto: Utilize as linhas Azul (A), Vermelha (B), Verde (C), Amarela (D) – faça transbordo na Estação da Trindade –, e Violeta (E), com ligação à estação da Casa da Música. Mais informações em www.serralves.pt ou através do +351 226 156 500 14 É DO NORTE! De referir também as linhas convencionais, interhospitais, circular centro e ainda a Linha Turismo. Os autocarros destinados aos turistas têm janelas maiores e percorrem 22 pontos turísticos de Curitiba. Saem da Praça Tiradentes, com a frequência de 30 minutos, durante toda a semana. Os autocarros podem ser diferenciados através das cores que caracterizam as variadas linhas. Para o turista em Curitiba, são uma curiosidade suplementar as paragens tipo “tubo”. A acessibilidade das estações é também um factor muito importante nesta rede de transportes. As linhas expressas e directas têm já os veículos adaptados para o embarque e desembarque de passageiros com deficiência. O acesso aos “tubos” faz-se através de elevadores ou rampas. Nas restantes linhas, a adaptação está ainda a ser concluída. A taxa de veículos adaptados ronda os 60%. A RIT de Curitiba espera ter toda a frota adaptada a pessoas com necessidades de mobilidade especial em 2014. 15 CURIOSIDADES DO MUNDO DOS TRANSPORTES CASA A Casa de Serralves, sede da Fundação, foi construída na década 30 do séc. XX e constitui um dos melhores exemplos do movimento Art Déco da Europa. Respeitando rigorosamente o projecto de Marques da Silva, a Casa acolhe exposições e eventos. Na Rede Integrada de Transportes (RIT) desta cidade brasileira circulam perto de 2 mil veículos. Os passageiros têm ao seu dispor mais de 8 500 paragens e 355 linhas. O acesso faz-se através de uma tarifa única para toda a rede, ou seja, com um mesmo título é possível viajar por toda a cidade. São características que revelam o grande investimento nos transportes colectivos, com uma grande adesão da população. Os números confirmam: em Junho deste ano circulavam por dia mais de dois milhões de passageiros. A RIT divide-se em nove tipos de linhas. As “expressas” referem-se aos autocarros articulados que fazem a ligação dos terminais ao centro da cidade. Para estabelecer a ligação com os bairros da região existem as linhas “alimentadoras”. Para circular de bairro em bairro, sem passar pelo centro da cidade, foram criadas as linhas “inter-bairros”. Para além disso, há as linhas directas, cujos autocarros são conhecidos como “ligeirinhos”. Estes veículos fazem paragens apenas de 3 em 3 km, nunca menos. Referência ainda as linhas “troncais” que levam os passageiros dos eixos de ligação com os outros transportes para o centro da cidade, através de vias partilhadas com outro trânsito. Curitiba, um “case study” do mundo dos transportes MUSEU O Museu de Arte Contemporânea, concebido pelo arquitecto Álvaro Siza Vieira, é actualmente o museu mais visitado de Portugal onde são apresentadas exposições temporárias dos mais importantes artistas nacionais e estrangeiros, estando inserido nos principais circuitos de arte contemporânea da Europa. Serralves FUNDAÇÃO A Fundação de Serralves, como pólo cultural de âmbito europeu ao serviço da comunidade nacional, tem como Missão sensibilizar e interessar o público para a Arte Contemporânea e o Ambiente e nasceu em 1989 a partir de uma associação inovadora entre o Estado e a Sociedade Civil, no domínio da produção cultural. Localizada no coração do Porto, a Fundação de Serralves está instalada na propriedade construída por Carlos Alberto Cabral, Conde de Vizela, entre as décadas de 20 e 40 do século XX e reúne, num só espaço, um Museu de Arte Contemporânea, um Parque e uma casa Art Déco, bem como espaços de lazer, lojas e restaurantes. Situada a 10 min. dos principais hotéis e com fácil acessibilidade a partir do centro histórico, a Fundação de Serralves é um espaço a não perder na visita ao Porto! Curitiba, a capital do Estado do Paraná, no sul do Brasil, começou nos anos 60 a planear o urbanismo da cidade. As estradas sofreram uma adaptação aos transportes colectivos. As diferenças com o nosso país são facilmente detectáveis. As principais vias têm faixas centrais para os transportes colectivos, e só depois para a rede automóvel em cada um dos sentidos. Chama-se Sistema de Transporte Colectivo de Curitiba e inclui um total de 81 km de vias exclusivas para autocarros. É também de realçar o enorme número de vias fechadas para uso apenas pedonal, mais conhecidas como “calçadões”.