REPORTAGEM FESTIVAL 2ª Mostra de Música Instrumental Karyne Lins [email protected] Criar um evento que gerasse trabalho e entretenimento para Goiânia no feriado do carnaval foi o principal desafio para a cidade. Após a realização da segunda edição do Goyaz Festival (2007), esse perfil se tornou um dos grandes diferenciais de um festival de música instrumental que mudou a postura de uma cidade. 76 www.backstage.com.br N em folia, nem sertanejo na capital de Goiás. A cidade se tornou palco de um festival de jazz e música instrumental que reuniu alguns dos melhores músicos do país durante todos os dias de carnaval. Isso acontece desde 2006, quando o público de Goiânia assistiu à criação de um evento capaz de oferecer opção a quem não se identifica com a folia de Momo. O Goyaz Festival–2ª mostra de música instrumental foi realizado no Teatro Goiânia, cuja capacidade é para 850 pessoas, entre os dias 17 e 20 de fevereiro de 2007, com três apresentações em cada dia. O público pôde ver atrações como João Donato, Duofel, Leo Gandelman, GisBranco, SambaJazz Trio, Ricardo Silveira, Libertango, Pife Moderno, Ricardo Leão, Gru- Fotos: Cida Carneiro / Divulgação GOYAZ REPORTAGEM po Etnias, Hamilton Pinheiro e Gabriel Grossi e Daniel Santiago. Em relação ao festival do ano passado, além dos shows, a edição de 2007 do Goyaz Festival também apresentou novidades em termos de cenografia e iluminação. Um festival diferente Sem tradição de carnaval, Goiânia recebeu apoio do Ministério do Turismo ano passado para o projeto chamado Goiânia por inteiro, preço pela metade, que tinha como objetivo motivar o goiano a permanecer na cidade durante a época de carnaval. O que em princípio parecia inviável, hoje é um dos atrativos mais importantes de Goiânia. Visando a manter as pessoas na cidade, a rede hoteleira e a de restaurantes concederam 50% de desconto para quem ficasse no período de carnaval em Goiânia (alguns bares ofereciam algum desconto). Mas era necessário também que a cidade oferecesse um atrativo cultural. Na oportunidade, os sócios e idealizadores do evento Cláudio e Carlos Melo (coordenador geral e coordenador técnico, consecutivamente) apresentaram a planilha do Goyaz Festival, que foi apro- O Goyaz Festival teve apoio do Ministério do Turismo que liberou uma verba no valor de R$ 100 mil e ainda contou com o patrocínio de redes de supermercados vada pela lei de incentivo chamada Lei Goyazes, cujo formato é idêntico ao da Lei Rouanet, sendo que a diferença é que ela é estadual e incentiva a cultura através de benefícios relativos ao ICMS que as empresas pagam ao estado de Goiás. Cláudio e Carlos viram que esta seria também uma boa ocasião para fazer a sonorização e iluminação do festival, já que a Studio K costuma sonorizar os eventos que promove. Nessas condições, foi realizada, então, a primeira edição do festival, que levou para o público nomes importantes da música instrumental brasileira: Hélio Delmiro, Toninho Horta, Wagner Tiso, Azimuth, entre outros. De acordo com Carlos Melo, que atua no segmento de áudio profissional e eventos da Studio K Sonorização e Iluminação há mais de dez anos, em relação ao panorama cultural da cidade nesse período de festas carnavalescas, falta de investimento, incentivo e informação levaram o carnaval de rua de Goiânia à extinção há dois anos. Em contrapartida, o Goyaz Festival teve apoio do Ministério do Turismo, que liberou uma verba no valor de R$ 100 mil. Segundo Germano Roriz, gestor financeiro do festival, esse apoio não foi suficiente para pagar o festival (cachê para músicos, infra-estrutura, divulgação, logística, etc, e ainda contaram com o patrocínio da rede de supermercados Hiper Moreira, Citroën Liberte, entre outros apoios. Segunda edição consolida o festival O evento foi realizado no Teatro Goiânia. Construído na década de 30, este é o mais antigo e tradicional teatro da região. Segundo Cláudio Melo, as instalações do local não são as melhores, porém, possuem a melhor acústica. Por essa questão, a equipe optou por continuar utilizando o teatro para a realização do festival. Apesar da boa aceitação de crítica e público, o objetivo, ano passado, não foi atingido em sua totalidade porque a idéia era trazer e manter um fluxo de turistas e goianos à cidade e a equipe de produção teve pouco tempo para trabalhar a divulgação. Carlos Melo afirmou A região sempre teve músicos de expressão, só que agora há casas abrindo espaço para esse tipo de proposta musical e interesse em divulgar grupos instrumentais que essa questão foi corrigida com sucesso este ano, e dois meses antes do festival foi lançada uma campanha de marketing e divulgação de todo o material na imprensa. “Depois da primeira edição, percebemos que a cena da música instrumental passou por uma modificação muito perceptível. A região sempre teve músicos de expressão, inclusive, muitos estão tocando com artistas de renome nacional, só que agora há casas abrindo espaço para esse tipo de proposta musical e, principalmente, há interesse em divulgar grupos instrumentais”, disse Carlos. Cláudio acredita que o Goyaz Festival já deu certo e se consolidou no calendário de turismo da cidade. “Temos hoje jornais nos apoiando, e as rádios Executiva, 97 FM e CBN Anhanguera estão com transmissão ao vivo. Isso mostra que a cidade acordou para o festival e prova que é possível e viável manter a proposta do festival”. Negociando as parcerias O Instituto Casa Brasil de Cultura tem como foco de trabalho o segmento de música de Goiânia e a cultura em geral, literatura, patrimônio histórico, meio www.backstage.com.br 77 REPORTAGEM ceiros em uma ambiente e desenépoca em que tovolvimento sustenda a mídia brasitável com ações leira está centrada voltadas para o tuno carnaval e no rismo. Uma desturismo de Norsas ações, lideradeste, Rio de Jadas pelo diretor neiro e São Paudo instituto, Gerlo durante sete mano Roriz, é o dias. Essa é uma Goyaz Festival. É das propostas que o instituto que faz o instituto comea gestão do projeçou a articular to, articulando as após o término propostas dentro do 2º Goyaz Fesdo Ministério do tival e pretende Turismo, da Seviabilizá-la já na cretaria de TuA Studio K, responsável pela sonorização do evento, deu prioridade ao uso de mesas analógicas próxima edição, rismo do Estado oferecendo uma série de atrações paralee entre todos os apoios e patrocinadores do tura melhor para essa gestão do projeto las ao festival. “Já estamos providencianfestival, além de fortalecer as associações e através de um bar temático que deu sudo que o 3º Goyaz Festival tenha uma entidades que vivem do turismo na região. porte ao festival”, explicou Germano. estrutura melhor para atender também “Conseguimos com a ajuda dos patroUma agência de turismo chamada Joquem está trabalhando nos dias de evencinadores um formato que permite dar vem foi a agência oficial do festival e to. Outro detalhe importante é saber o continuidade com sucesso ao festival e vendeu pacotes (com hospedagem e pasperfil de público do festival para atender preservamos a marca do festival junto a sagem aérea) para Salvador, Brasília, São às principais necessidades e, para isso, esses patrocinadores. Já tivemos mais Paulo, Rio de Janeiro, Uberlândia, nossa equipe está apurando todos os daacertos do que erros em relação ao festiUberaba e Belo Horizonte. Germano diz dos”, finalizou Germano. val do ano passado e criamos uma estruque é uma vitória captar recursos finan- Equipamentos de iluminação da Studio K no Teatro de Goiânia 36 Par 64 foco 1 ou VNSP 12 Par 64 foco 2 ou NSP 34 Par 64 f#5 ou WFL 20 fresnéis Telem de 1000 watts cada 18 elipsoidais Telem de 1000 watts cada 30 elipsoidais ADB 4 moving heads 575 DTS facho aberto 550. 12 moving head 575 DTS, facho fechado Mesa de controle Pearl Avolites Canhão seguidor HMI com operador Relação dos equipamentos do Goyaz Festival (P.A.) Mixer console Midas Legend 3000 48 canais Equalizadores Klark Teknik Gates Drawmer Compressores DBX Efeitos: Yamaha, Lexicom e t.c. electronic Processador Digital DBX Sistemas de Caixas KF-850 e SB-850 78 www.backstage.com.br Monitor Mixer Console Soundcraft Series Five 48 canais Equalizadores Klark Teknik Gates Drawmer Compressores DBX Efeitos: Yamaha, Lexicom e t.c. electronic Processador Digital DBX (para Side Fill) Monitores de chão modelos SM-400 Microfones: SM81, SM57, SM58, SM52, AKG 414, Sennheiser 421 (condensadores e dinâmicos) Técnico e coordenador Coordenação geral do festival: Cláudio Melo ( Studio K) Coordenação técnica do festival: Carlos Melo ( Studio K) P.A. Marcelo Hanna (responsável técnico) Paulo Santana (auxiliar) Monitor Walter Júnior (responsável técnico) Van Dame (auxiliar) Iluminação Jamille Tormann (lighting designer e iluminação) Júnior de Oliveira (primeiro assistente de Jamile Tormann) Robson Raposo (responsável técnico iluminação) Fernando Vilela (auxiliar iluminação) Welington Ferreira do Amaral (auxiliar iluminação) Técnicos do Teatro Goiânia Cláudio Galvão (auxiliar técnico de iluminação) Sérgio Galvão (auxiliar técnico de iluminação) Edione (Maquinaria) Clayton Gonçalves e Edimar Filho (rodies) Documentário - Piva Barreto REPORTAGEM Jamile Tormann ajudou a desenvolver o cenário e o projeto de iluminação do II Goyaz Festival Sonorização e Iluminação A sonorização do Teatro Goiânia foi feita pela Studio K (também responsável pela iluminação do festival), que deu preferência ao uso de mesas Midas analógicas. “Quisemos preservar o som mais natural das analógicas e, como stand by, a empresa forneceu uma Yamaha 02R digital. Apesar de ser um festival, tivemos intervalos programados e bem tranqüilos para que os técnicos pudessem passar todas as bandas sem dificuldade. Nenhum técnico reclamou de trabalhar com elas”, disse Cláudio Melo. Para P.A., foi montado um sistema convencional de caixas KF 850, pois o sistema Line Array D.A.S. comprado pela empresa recentemente ainda não tinha chegado para o festival. Jamile Tormann, no ramo de iluminação há 17 anos, foi responsável pela operação de luz nos quatro dias de festival. Com a assistência de Júnior Oliveira e Robson Raposo, ela fez o mapa de iluminação de palco para o Goyaz Festival além O Duofel, formado por Luiz Bueno e Fernando Melo, abriram a primeira noite do festival da montagem de equipamento da empresa de som e luz Studio K. “Em relação ao equipamento fiz o meu mapa de luz e a Studio K forneceu tudo o que eu pedi”, Não havia nada posicionado atrás da cortina, pois o tecido utilizado na mesma não permitia que a iluminação viesse por trás (backlight) disse Jamile, que atualmente acompanha o grupo Solo Brasil e estreou recentemente no espetáculo Hollywood é Aqui, no Usicultura em Ipatinga (MG). Por se tratar de um festival de jazz e música instrumental, o repertório foi conhecido no dia do show, mas Jamile já Goyaz Festival Promoção Goyaz Festival: Studio K e Instituto Casa Brasil de Cultura Patrocinador oficial: Hipermercado Moreira Apoio: Agetur (Agência Goiana de Turismo), Unimed, Cartão do assinante O Popular, Citroën, Executiva FM, Glória Bar e Restaurante, Castros Park Hotel, Jovem Turismo, Goiânia Conventions & Visitors Bureau, Ministério de Turismo, Sebrae Goiás, Câmara de Dirigentes e Logistas de Goiânia, Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de Goiânia), ABIH (Associação Brasileira de Indústrias de Hotéis de Goiás) e Boate Bolshoi. 80 www.backstage.com.br conhecia o trabalho de todos os artistas que estavam se apresentando lá, portanto, o estilo musical de cada um norteou todo o seu processo de criação e o cenário fez o arremate final. A cenografia foi desenhada e dimensionada pela empresa em conjunto com o cenógrafo e lighting designer Paulo Medeiros. O cenário consistia em três painéis ao fundo, um voal azul, uma rotunda e um ciclorama que poderia ser combinado com uma parte do cenário. A sugestão de Jamile, envolvendo essa parte de criação de cenário, foi somente quais destes painéis seriam trabalhados em cada show, sempre pensando na dinâmica do mesmo, na quantidade de músicos que estaria presente no palco, na proposta das músicas e do grupo. Em relação a existir um conceito particular de iluminação para esse tipo de estilo, a iluminadora disse que a preocupação maior é não deixar os músicos sem se verem ou lerem as partituras, pois, embora o jazz pareça improviso, eles lêem o tempo todo. Portanto, uma luz a pino, um contraluz e uma frente fixa com facho fechado são as primeiras preocupações. Depois tentar criar ambiências aproveitando e valorizando o cenário, sem o caráter de valorizar mais a luz de um artista ou outro. “A idéia é difícil, mas o principal é você tratar o artista como igual, mas com suas especificidades. Aí, sim, vem o meu eixo norteador de criação: pensar os shows ou os sets com uma paleta de cor, conforme a história de cada grupo ou música”, explicou Jamile. Não havia nada posicionado atrás da cortina, pois o tecido utilizado na mesma não permitia que a iluminação viesse por trás (backlight). O efeito de luz visto pelo público era feito pelos quatro moving heads 575 DTS facho aberto 55º, que tem a possibilidade de trabalhar com o sistema CMY na mesa Pearl Avolites. REPORTAGEM O Duo GisBranco se apresentou pela primeira vez no festival e foi um dos destaques da segunda noite O saxofonista Léo Gandelman e sua banda encerraram o domingo de carnaval em Goiânia O Libertango apresentou um repertório baseado no trabalho musical do argentino Astor Piazzolla As atrações da segunda edição Natural de Goiânia e músico respeitado no circuito de música instrumental, o baixista Bororó foi o encarregado de receber os músicos para cada noite do Goyaz Festival. Foram três atrações por noite e com estilos bem diversificados que não deixaram o teatro se esvaziar antes de uma hora da manhã. Sábado (17/2) Duofel O duo de violões formado por Luiz Bueno e Fernando Melo abriu a primeira noite de festival e mostrou um repertório de composições para o formato de um duo de violões e referências de ritmos como o maracatu, a embolada, o repente e o baião. Quem só conhecia o duo por meio de seus trabalhos, como o Duofel Disco Mix, As Cores do Brasil, produzido por Rainer Skibb, Kids of Brazil, com arranjos de Hermeto Pascoal, e Precioso, teve uma oportunidade rara de assistir uma das apresentações que já tirou aplausos de vários países da Europa. Ricardo Leão O goiano Ricardo Leão, que há 22 anos mora no Rio de Janeiro, é hoje um dos músicos mais atuantes da cena musical brasileira e acumula prêmios, colaborações com diversos artistas da MPB e traz a sua assinatura em aproximadamente 150 discos. Atua como produtor musical do programa Sob Nova Direção, da Rede Globo e já lançou 5 discos-solo. No show, Ricardo foi acompanhado por Zé Canuto (sax e flauta), Bruno Migliari (baixo acústico e elétrico) e Cacá Colón (bateria). 82 www.backstage.com.br João Donato Em sua melhor forma e acompanhado pelos músicos habituais, Luís Alves (baixo), Robertinho Silva (bateria) e Ricardo Pontes (sax e flauta), o show do compositor, pianista e arranjador João Donato foi como o esperado: cheio de surpresas, muito swing e muita liberdade para compor em cada situação no palco. O show também mostrou em primeira mão para o público de Goiânia o repertório de três trabalhos com canções de ídolos do jazz como Stan Kenton, Shorty Rogers, Cole Porter e Bud Shank, além das já conhecidas A Paz, Bananeira, Lugar Comum, Minha Saudade e a nova Suco de Maracujá. Domingo (18/2) Duo GisBranco O Duo GisBranco é formado pelas pianistas Bianca Gismonti e Claudia Castelo Branco. Unindo o interesse por ritmos brasileiros, latinos e jazz, a dupla desenvolveu um trabalho que consiste em explorar ao máximo a sonoridade do piano na fronteira entre a música popular e erudita, construindo um repertório de música instrumental único para dois pianos. Em sua primeira apresentação no Goyaz Festival, o duo apresentou o repertório que vem sendo trabalhado pelas pianistas. São temas de compositores consagrados como Astor Piazzolla, Egberto Gismonti, Hermeto Pascoal, Ernesto Nazareth, Edu Lobo os quais recebem novos arranjos criados por Bianca e Claudia e também pelos próprios compositores. As pianistas viajam com dois P60 Yamaha que é o instrumento mais próximo da sonoridade do piano acústico. “Acho o festival uma excelente iniciativam, porque temos oportunidade de conhecer o público de outra cidade fora do eixo Rio-São Paulo e ao mesmo tempo mostrar o nosso trabalho”, disse Bianca. Grupo Etnias Formado em Goiânia, o Grupo Etnias mostrou no Teatro de Goiânia que a proposta de misturar culturas e suas manifestações musicais, sem preocupações com estilos ou definições, realmente dá certo. O destaque foi Djean Cosic, pianista e tecladista nascido na Sérvia, que tem em seu currículo apresentações em diversos países europeus, como Áustria, Alemanha e Holanda e participou de vários festivais internacionais de Jazz. Os outros integrantes são Marcelo Maia (baixo), Edílson Moraes (percussão) e Fred Valle (bateria), que se basearam em seu trabalho autoral e têm como referência o modern jazz. “Hoje, 90 % por cento do meu trabalho está na cena musical de Goiânia que mudou o perfil da região nos últimos anos. Hoje, existem bares e casas especializadas em música instrumental e isso pode evitar que os músicos migrem para outras regiões”, disse Marcelo Maia. Leo Gandelman Um dos grandes nomes da nossa música foi aguardado com ansiedade. O saxofonista, produtor, compositor e arranjador, eleito durante 15 anos consecutivos pelo concurso Diretas na Música do Jornal do Brasil como o Melhor Instrumentista Brasileiro, Leo Gandelman levou uma banda de peso para o palco do Teatro de Goiânia e provou que sabe o que é fazer música de qualidade. Foi um repertório extenso, mas agradável, com composições próprias sempre criativas e canções populares, sem deixar de utilizar um elemento que faz o diferencial em seu estilo: a sonoridade eletrônica. REPORTAGEM Ricardo Silveira e banda: uma das atrações mais esperadas do festival Gabriel Grossi e Daniel Santiago já participaram de vários projetos com Hermeto Pascoal O Pife Muderno de Carlos Malta fechou a segunda edição do Goyaz Festival As atrações da segunda edição Segunda-feira – 19/2 Sambajazz Trio Formado por Kiko Continentino no piano, Luiz Alves no contrabaixo acústico e Clauton “Neguinho” Sales na bateria e trompete, um fenômeno dos mais raros já vistos na cena instrumental brasileira, o Sambajazz Trio é um grupo instrumental que toca de tudo, mas em tudo o que toca, estão presentes o swing e a sutileza do samba, a elegância harmônica da bossa e a liberdade jazzística. O grupo apresentou clássicos do samba-jazz, bossa-nova, MPB, samba antigo, choro, standards de jazz, sucessos internacionais, ritmos latinos, além de composições inéditas. “Esse festival serve de exemplo para outras cidades que ainda não têm um projeto como esse e mostra que a tradição de bons músicos na cidade está crescendo. O importante é o poder público abrir os olhos para o que representa esse tipo de música. Quando falamos do jazz brasileiro, o jazz é mais que um rótulo para um estilo de música, ele representa liberdade, inclusive de tocar o que quiser. É preciso investir na divulgação e os jornalistas se informarem e ouvirem mais o jazz para se ter mais elementos para discussão”, disse Kiko Continentino, pianista, tecladista e compositor, integrante da banda de Milton Nascimento. Libertango O grupo compartilha uma paixão em comum: Astor Piazzolla. No palco do II Goyaz Festival, Estela Caldi (pianista argentina), Alexandre Caldi (saxofonista, flautista e arranjador) e Marcelo Rodolfo (cantor) expressam, por meio de várias 84 www.backstage.com.br possibilidades musicais, a música do ídolo argentino Piazzolla. Mas não é só isso. O Libertango apresentou canções desconhecidas, mas com as quais o grupo se identifica, traçando um amplo painel da obra do compositor. Não só os goianos, mas turistas de Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo aplaudiram a iniciativa do grupo e sua proposta musical. Ricardo Silveira Muitos músicos de Goiânia foram ao teatro assistir a um evento incomum na região: uma apresentação do guitarrista Ricardo Silveira. Seu nome está em muitas gravações de quase todos os grandes nomes da MPB, além de dividir o palco com alguns deles. Boa parte do estilo e dos acordes que fizeram história em trabalhos-solo desde 87 foram apresentados ao público, que saiu no final do show sabendo por que Ricardo faz parte do time dos músicos mais conceituados do Brasil. Terça-feira (20/2) Hamilton Pinheiro O baixista foi uma atração bem peculiar. Ele se baseou num repertório de músicas autorais e regravações de artistas como Dorival Caymmi e Luiz Gonzaga explorando a sonoridade do baixo. Em relação ao festival, o resultado, na opinião de Hamilton, foi muito positivo. “É a primeira vez que me apresento no Goyaz Festival e penso que o interessante é conseguir promover e tornar a música instrumental mais acessível ao público. Bom para o músico, pois esse é o momento em que o instrumentista consegue se expor e mostrar mais o seu trabalho. Bom para o público, porque nem todo mundo precisa ser um estudioso de música para apreciar música instrumental”. Daniel Santiago e Gabriel Grossi O brasiliense Daniel Santiago teve uma boa trajetória se apresentando ao lado de importantes nomes da música brasileira: João Bosco, Hermeto Pascoal, Toninho Horta, Guinga, Ed Motta, Leila Pinheiro, Dominguinhos, Zélia Duncan, Carlos Malta, Rita Ribeiro, Elza Soares, Pagode Jazz Sardinha’s Club e ao lado de Gabriel Grossi (Gaita), excursionou pela França e Itália, acompanhando a cantora Mariana de Moraes (Neta de Vinicius de Moraes). A apresentação do duo na última noite do festival veio fortalecer os vínculos com a música instrumental brasileira, o que foi presenciado em 40 minutos muito bem aproveitados, com o melhor do repertório nacional com gaita e violão. Pife Muderno Carlos Malta & Pife Muderno já foram aplaudidos de pé na Sala Cecília Meireles no Rio, no Percpan na Bahia, no New Orleans Jazz and Heritage Festival (E.U.A), Festival de Caracas, Essaouira Gnawa Festival no Marrocos, e mais recentemente no II Goyaz Festival. Carlos Malta e sua trupe formada por Andréa Ernest Dias (flautas), Marcos Suzano (pandeiro), este, que infelizmente não esteve presente na ocasião, Oscar Bolão (pratos e tarol) e Durval Pereira (zabumba) apresentaram através da harmonia dos tambores, a zabumba e o pandeiro recriações de clássicos como Ponteio (Edu Lobo), Açum Preto e Asa Branca (Luis Gonzaga) e os originais Tupyzinho, Lá no Suzano e Carááá ....caíííí, ambas composições de Malta. Assim, o Pife Muderno fechou em grande estilo a programação do II Goyaz Festival. REPORTAGEM www.backstage.com.br 85