UM BRINQUEDO DAS FORMAS MANUAL DE CONSTRUÇÃO MARCOS TEODORICO PINHEIRO DE ALMEIDA FORTALEZA – CEARÁ - BRASIL AGOSTO - 2003 2 Marcos Teodorico P. de Almeida TRACA-TRACA Um brinquedo das formas! Conheci este brinquedo, em minha infância na cidade de Senador Pompeu no interior do Estado do Ceará. Ele tinha seis madeirinhas trançadas com fitas coloridas, os adultos costumavam criar com este brinquedo popular diversas formas e contavam estórias engraçadas, interessantes e bastante criativas. Este brinquedo é conhecido nos quatro cantos do mundo. No Brasil, já viveu um período de maior popularidade...Atualmente, está muito mais presente na memória afetiva do que nas mãos das crianças ou dos idosos. Em São Paulo, por exemplo, este trançado de madeirinhas é conhecido pelo sugestivo nome da “Escada de Jacó”, numa referência à sua capacidade de desdobrar “infinitamente” uma madeirinha sobre a outra. Na região Nordeste ele é conhecido carinhosamente como “Traca-Traca”, que representa a batida repetidas vezes das madeirinhas uma nas outras, dando a idéia de uma catraca fazendo um som. Dependendo da região e da época, este brinquedo recebe nomes diferentes. Na região do Médio Araguaia, no Mato Grosso, as crianças batizaram o trançado chinês com o nome de “João Teimoso” – e assim ficou conhecido em toda região. No final desta apostila, reproduzimos um trecho do livro “O almanaque dos pais”, de S. Adams Sullivan, onde aparece uma variação deste brinquedo com o nome “Blocos Taramela”. Na região nordeste este brinquedo já é conhecido como traca-traca. O traca-traca pode ser classificado como uma mandala, brinquedo criativo, brinquedo educativo, brinquedo tradicional etc. Segundo Aurélio Buarque de Holanda, a mandala é um “diagrama composto por círculos e quadrados concêntricos, imagem do mundo e instrumento que serve á meditação”. E este brinquedo popular é tudo isso e muito mais: um mundo recriado, um pensamento nas mãos, um instrumento musical... Boa brincadeira! 3 Marcos Teodorico P. de Almeida COMO FAZER O TRACA-TRACA Vamos aprender passo a passo à arte de fazer um brinquedo maravilhoso, onde somente até agora poucas pessoas dominavam a técnica de sua criação. Depois de aprender compartilhe com outros um brinquedo tão tradicional, moderno, inteligente e criativo. Para fazer o traca-traca é muito simples, é só seguir a orientação! Tenho certeza que você irá conseguir. Vamos começar! Vamos precisar de seis madeirinhas com as seguintes medidas: Espessura: 7mm 4,5 cm 9 cm Vamos precisar, também, de quinze pedaços de fita com 15cm cada. È bom usar fitas de várias cores! 15cm 1cm 2,3cm 7mm COLAR 9cm COMPRIMENTO DA MADEIRINHA ESPESSURA DA MADEIRINHA 7mm 2,3cm COLAR ESPESSURA DA MADEIRINHA (nunca passar cola no espaço reservado à espessura da madeirinha) 4 Marcos Teodorico P. de Almeida Observe a maneira correta de colar as fitas. O desenho da madeirinha está no tamanho real Colar sempre 3mm da beirada 2,3cm pedaço de fita dedicado à colagem Colar sempre centralizado Não use muita cola! Espalhe dois pingos de cola com um palitinho, coloque a ponta da fita, pressione com os dedos e retire o excesso de cola das beiradas da fita. 5 Marcos Teodorico P. de Almeida Aí estão as madeirinhas com as fitas coladas. Apenas uma madeirinha não receberá fitas! 1 2 3 4 5 6 Deixe suas madeirinhas na mesma disposição destes desenhos – isto ajudará no passo seguinte... 6 Marcos Teodorico P. de Almeida Agora, vire as faces onde foram coladas as fitas para baixo. Mantenha as madeirinhas na mesma disposição destes desenhos – isto ajudará a visualizar os passos seguintes ... 1 As madeirinhas.... 2 ...estão... 3 ...no estado... 4 ...natural. 5 6 7 Marcos Teodorico P. de Almeida Agora vamos iniciar o trabalho de trançar as fitas – é aí que está localizado o coração do Traca-Traca. Para realizar o “trançado das fitas”, basta seguir os desenhos e observar atentamente dois pequenos/grandes detalhes: 1) como as fitas são dobradas de um lado para outro 2) e como as madeirinhas são colocadas sobre as outras. A madeirinha UM em estado natural. 1 A C B A madeirinha UM com as fitas dobradas. 1 A A B B C A madeirinha DOIS em estado natural. 2 D F E A madeirinha DOIS é colocada sobre a madeirinha UM... E as beiradas das fitas da madeirinha UM são coladas sobre a madeirinha DOIS! 1 2 D A F C E B 8 Marcos Teodorico P. de Almeida Agora é a vez da madeirinha DOIS dobrar as suas fitas. 1 2 F A D B E C Vem chegando a madeirinha TRÊS – em estado natural. 3 G I H E a madeirinha TRÊS é colocada sobre as madeirinhas DOIS e UM... E, é claro, as beiradas das fitas da madeirinha DOIS são coladas sobre a madeirinha TRÊS! 2 1 3 G D I F H E A madeirinha TRÊS, então, dobra as suas fitas. 2 I D G E H F 1 9 Marcos Teodorico P. de Almeida A madeirinha QUATRO, em estado natural, está pronta para entrar em campo. 2 1 4 J L K A madeirinha QUATRO entrou em campo e já pousou sobre as madeirinhas TRÊS, DOIS e UM. Como não poderia deixar de ser, as fitas da madeirinha TRÊS são coladas sobre a madeirinha QUATRO! 3 2 1 4 J G I L K H Satisfeita a madeirinha QUATRO cruzou os braços, ou melhor, as fitas. 3 2 1 4 G L J I H K Naturalmente, vem chegando a madeirinha CINCO. M O N 10 Marcos Teodorico P. de Almeida E corajosamente subiu nas madeirinhas QUATRO, TRÊS, DOIS e UM... não custa nada repetir: as fitas da madeirinha QUATRO são coladas sobre a madeirinha CINCO! 4 3 2 1 5 M J L O N K Que jogou as suas tranças de um lado para o outro – ou melhor, as suas fitas. 4 3 2 1 5 O J M K N L Vem chegando, muito serelepe, “sem lenço nem documento”, a madeirinha SEIS – a derradeira. 5 6 4 3 2 1 11 Marcos Teodorico P. de Almeida A madeirinha SEIS pousa sobre as madeirinhas CINCO, QUATRO, TRÊS, DOIS e UM. 5 4 3 2 1 6 M O N E finalmente as fitas da madeirinha CINCO são dobradas sobre a madeirinha SEIS – belo abraço de um final feliz! 5 4 3 2 1 6 M O N Espere um pouquinho a cola vai secar e... Pronto! Vá levantando vagarosamente as madeirinhas. Caso algumas madeirinhas estejam grudadas, descole com cuidado. Para evitar o “perigo” de uma madeirinha grudar na outra, coloque um pedaço de papel de seda -8cm por 4cm- entre as madeirinhas antes de dobrar as fitas. 12 Marcos Teodorico P. de Almeida UMA VISÃO GERAL DO TRACA-TRACA FRENTE E VERSO Partindo da maneira como as madeirinhas foram coladas e abrindo o traca-traca sobre a mesa, teremos o seguinte “panorama” do trançado das fitas 1 2 3 D 4 5 6 J F L E K Virando o “panorama” anterior de cabeça para baixo, teremos a seguinte “paisagem”... 1 2 3 B 4 H C A 5 6 N I G O M Observe com carinho a localização das fitas através das indicações das letras e analise a engenharia teimosa deste trançado criativo. Marcos Teodorico P. de Almeida 13 BRINCANDO COM O “TRACA-TRACA” O brinquedo está pronto? Então, está na hora da viagem exploratória: mexer nas madeirinhas e observar seus movimentos; virar as madeirinhas e acompanhar o movimento das fitas; levantar o brinquedo, tombar as madeirinhas ao acaso, observar as quedas e apreciar os sons produzidos pelas batidas. E por falar em quedas e apreciar os sons produzidos pelas batidas. Depois desta exploração, podemos exercitar o movimento clássico do Traca-Traca: a cascata de madeirinhas. 1) Segure o brinquedo pela madeirinha UM e deixe as outras madeirinhas caídas. Um detalhe importante: a face onde foi colada as fitas deve estar virada para a palma da mão. Observe o desenho... 2) Dobre para frente a madeirinha UM até encostar na madeirinha DOIS. Com este simples movimento, as madeirinhas vão virando pra lá e pra cá, batendo uma na outra até a derradeira madeirinha... 3) Continuando a brincadeira, podemos, agora dobrar a madeirinha UM para trás até encostar na madeirinha DOIS. E a cascatinha continua destramelando... Marcos Teodorico P. de Almeida 14 Introduzindo um pedacinho de papel numa fita do meio e realizando o movimento da “cascatinha”, o papel desaparecerá daquela face da madeirinha e aparecerá atrás – e preso por outras fitas! Com crianças de educação infantil e de séries iniciais do ensino fundamental, costumamos, também, construir um Traca-Traca Gigante. Para isto, utilizamos caixas de camisa no lugar das madeirinhas e tiras de pano no lugar das fitas. Neste caso, o Traca-Traca pode ser manipulado coletivamente e as histórias passam a ser ilustradas com verdadeiros cenários. OBSERVAÇÕES FINAIS Antes de encontrar qualquer coisa para o marceneiro ou o carpinteiro mais próximo, procure conhecer os tipos de madeira e as suas características. Analise, principalmente, o peso e a resistência. Dê sempre preferência para as madeiras um pouco mais leves. E não deixe de lixar com carinho as madeirinhas, arredondando levemente as beiradas e as quinas. Procure conhecer, também, os tipos de fita que são vendidos nas lojinhas de aviamento. Algumas fitas são feitas com um material sintético que dificulta muito o trabalho de colar. Na dúvida, experimente colar um pedacinho na madeirinha. Se colar bem, secar logo e ficar firme. Acabou a dúvida! Algumas Formas doTraca-Traca Vogais Consoantes Números Marcos Teodorico P. de Almeida 15 Blocos Taramela Você provavelmente se lembra deste de sua infância. Os blocos finos parecem estar subindo uma escada, taramelando bem alto todo o caminho. Uma ilusão é criada a medida que o blocos viram, um depois do outro, em suas dobradiças duplas de pano. Feito de maneira tradicional, a criança precisa ter pelo menos oito anos para mexer nos “blocos taramela”, mas os pauzinhos de picolé acrescentados à esta versão a tornam fácil para uma criança de cinco anos. Você precisará de: 30” de moldura para janelas de 2” 1 pauzinho de picolé 2 pacotes de fita aglutinante de costura “rayonada” de 1/2" cola branca papel encerado fita durex Corte sete blocos, cada um com 4” de comprimento das molduras de janela. Qualquer outra madeira de cerca de 1/4" de espessura pode ser usada e os blocos podem ter até 3” de largura. Lixe as pontas de todos os blocos. Usando grampos, cole o pauzinho de picolé – ou qualquer outro pauzinho parecido, chato, de 4 1/2" – através do centro de um dos blocos, como na Figura. A. Corte dezoito pedaços de fita durex, cada um com mais ou menos 6” de comprimento. Cole aproximadamente 1/2" das pontas de três pedaços de fita a cada bloco, exceto o que tem pegadores, como é mostrado na fig. A. Quando a cola estiver seca vire todos os blocos. Agora enrole os blocos em um bloco (bloco nº 1) para cima e sobre a face, como mostrado na fig. B. Coloque outro bloco (bloco nº 2) sobre este, como é mostrado na fig. C, e enrole as pontas mais curtas do bloco nº 1 para cima e por cima, colandoas no lugar sobre o nº 2. Coloque um pedaço de papel encerado de 2”x4” sobre isto para evitar que a cola cole nos outros blocos e fitas, e então dobre as fitas do nº 2 para cima e por cima, como fez com as do nº 1. Acrescente o bloco nº 3 e siga o mesmo procedimento que acompanhou com o nº 2. Acrescente bloco por bloco desta maneira, acabando com o bloco que tem pegadores de pauzinho de picolé – os pegadores ficam por cima. As fitas devem ser puxadas bem justas ao redor ao redor das pontas dos blocos, mas não apertadas, para que os blocos tenham uma pequena margem de liberdade para se virarem em suas dobradiças. Os blocos devem formar uma pilha arrumada quando todas as fitas estiverem coladas no lugar. Deixe a cola secar bem e remova todos os pedaços de papel encerado. 16 Marcos Teodorico P. de Almeida Faça os blocos funcionarem algumas vezes para poder ensinar o procedimento a seu filho. Segure o pauzinho do picolé nos dedos das duas mãos com todos os blocos caindo numa fila. Agora gire os pegadores de forma que a parte de cima do bloco ao qual estão presos se vire para baixo até que a superfície do bloco toque o próximo bloco na linha. Se isto não colocar os blocos em movimento, gire os pegadores para o outro lado do segundo bloco, e isto fará com que comecem. Continue a girar o bloco de cima para frente e para trás e os blocos vão “descer a escada” em rápida sucessão, taramelando enquanto isso. aprender a girar o bloco de cima para diante e para trás é um pouco difícil para uma criança de cinco anos, mas ela vai ficar muito orgulhosa quando conseguir. Figura A Do livro “O Almanaque dos Pais”, de St. Clair Adams Sullivan. Rio de Janeiro: Imago, 1985. Tradução: Patrícia Kranz.