Licenciatura em Física Estrutura da matéria (ESMZ5) Professor Osvaldo Canato Júnior ONDAS QUE SÃO PROJÉTEIS E PROJÉTEIS QUE SÃO ONDAS1 Como vimos, os penetrantes raios X já haviam sido descobertos bem antes de se ter ideia de que eram ondas eletromagnéticas, isto é, da mesma natureza que a luz visível ou da ultravioleta. Percebeu-se a natureza ondulatória dos raios X quando, em uma experiência em que esses raios foram projetados contra cristais de quartzo, eles se desviaram, como a luz em geral faz nos processos chamados de difração e interferência. Sendo os raios-X um tipo de luz, seria natural esperar que também no caso dessa radiação a granulação quântica fosse verificada experimentalmente. De fato, descobriu-se que era possível arrancar elétrons de alguns materiais por meio da incidência neles de feixes de raios X, como ocorria no efeito fotoelétrico. Mas, além desse efeito, observava-se que, após a colisão do fóton de raio X com o elétron, outro fóton de menor energia surgia, em uma direção lateral, como se fosse uma bola desviada em uma tacada de bilhar, conservando a quantidade de movimento do sistema. Esse fenômeno foi explicado em 1923 pelo físico norte-americano Arthur Compton (1892 - 1962) e, por isso, chamado efeito Compton. O efeito Compton comprovava definitivamente que fótons de luz tinham a natureza de verdadeiras partículas, cuja energia e quantidade de movimento podiam ser medidas. A partir dessa comprovação, passou-se a aceitar que a luz tem caráter dual, ora se comportando como onda, como nos efeitos de difração e interferência, ora como partícula, como no efeito fotoelétrico. Se a luz visível, a ultravioleta e os raios X se comportam como projéteis, será que há partículas que poderiam se comportar como ondas? Foi com convicção nas simetrias da natureza que, em 1924, o físico francês Louis De Broglie (1892 – 1987) concebeu a hipótese de que partículas, como elétrons, não seriam tão diferentes de ondas, como a luz. Se a luz podia colidir com elétrons, como se fosse partícula, então elétrons deveriam difratar-se ao passar por fendas, orifícios, cristais e outros obstáculos, como fazem as ondas. Essa ideia seria confirmada três anos depois, com a observação da difração de elétrons ao atravessarem cristais de níquel. DIFRAÇÃO E INTERFERÊNCIA O espalhamento do som ou da luz é chamado difração e acontece com todos os tipos de ondas: onda sonora, onda de luz visível ou outra onda eletromagnética, quando passam por uma fenda estreita e de largura próxima do valor do comprimento de onda, λ. Outro fenômeno ondulatório é a interferência, que ocorre quando duas ondas se encontram, ora se somando, ora se subtraindo: Na interferência construtiva entre duas ondas, os pulsos de cada uma encontram-se em concordância de cristas ou vales (crista com crista ou vale com vale), resultando em uma oscilação de amplitude igual à soma das amplitudes de cada pulso. Na interferência destrutiva entre duas ondas, os pulsos de cada uma encontram-se com cristas e vales invertidos, resultando em uma oscilação de amplitude igual à subtração das amplitudes de cada pulso. Assim, sempre que duas ondas se encontrarem em fase (propagando-se juntas, “lado a lado”) ou defasadas (uma onda se propagando com certo atraso, “atrás da outra”) por um número inteiro de comprimentos de onda (1, 2, 3,...) suas interferências são construtivas,, com cristas e vales sempre concordantes. Por outro lado, sempre que duas ondas se encontrarem defasadas por um número não inteiro de comprimentos de onda (0,5, 1,5, 2,5,...), suas interferências são destrutivas, com cristas e vales sempre em oposição. Generalizando, a expressão n pode ser utilizada para identificar a defasagem entre duas ondas que se superpõe, sendo a 2 interferência construtiva caracterizada por um número n par e a destrutiva por n impar. Considere, agora, um barquinho na superfície da água de uma piscina atingido por duas ondas emitidas por duas fontes de onda F1 e F2, na mesma frequência e em concordância de fases. Se apenas uma das ondas atingisse o barquinho, ele oscilaria para cima e para baixo na mesma frequência e amplitude dessa onda. No entanto, sofrendo a ação simultânea das duas ondas, ele oscilará de acordo com a amplitude dada pela interferência dessas ondas. Essa interferência é construtiva se o barquinho for atingido simultaneamente por duas cristas ou dois vales, o que ocorre sempre que as distâncias das fontes ao barquinho, x1 e x2, diferirem de um número inteiro n de comprimentos de onda, ou seja, sempre n , com n par. Se n for impar, a interferência será destrutiva. 2 n Essa relação matemática: x1 x2 , vale para quaisquer outras ondas, como as sonoras ou eletromagnéticas. Se F 1 e F2 2 que x1 x2 representarem duas fontes sonoras, o espaço que as envolve será caracterizado por uma alternância de pontos de alta intensidade sonora (interferência construtiva) e absoluto silêncio (interferência destrutiva). Se F 1 e F2 forem ondas de luz visível, o resultado é uma sequência de regiões claras e escuras, fenômeno nem sempre fácil de perceber já que a luz visível tem comprimento de onda muito pequeno, da ordem de 10–6 m, incompatível com a possibilidade de o vermos como vemos a maioria dos objetos com que lidamos em nosso cotidiano. 1 Texto formulado a partir do exposto nas páginas 16-18 de CANATO JR., O.; MENEZES, L.C. Radiações, materiais, átomos e núcleos. São Paulo: Pueri Domus Escolas Associadas, 2003 1