APOSTILA DE REDAÇÃO PROBLEMAS DE ESCRITA Prof. Danillo Pereira C. Use a vírgula para separar o lugar, o tempo ou o modo que vier no início da frase. Quando um tipo específico de expressão — aquela que indica tempo, lugar, modo e outros — iniciar a frase, usa-se vírgula. Em outras palavras, separa-se o adjunto adverbial antecipado. Exemplos: 1. USO DA VÍRGULA Lá fora, o sol está de rachar! A. Use a vírgula para separar elementos que você poderia listar ―Lá fora‖ é uma expressão que indica ―lugar‖. Um adjunto adverbial de lugar. Veja esta frase: João Maria Ricardo Pedro e Augusto foram almoçar. Semana passada, todos vieram jantar aqui em casa. Note que os nomes das pessoas poderiam ser separados em uma lista: ―Semana passada‖ indica tempo. Adjunto adverbial de tempo. Foram almoçar: João Maria Ricardo Pedro Augusto Isso significa que devem ser separados por vírgula na frase original: De um modo geral, não gostamos de pessoas estranhas. ―De um modo geral‖ é sinônimo de ―geralmente‖, adjunto adverbial de modo, por isso vai vírgula. D. Use a vírgula independentes para separar orações João, Maria, Ricardo, Pedro e Augusto foram almoçar. Note que antes de ―e Augusto‖ não vai vírgula. Como regra geral, não se usa vírgula antes de ―e‖. Há um caso específico que eu explico daqui a pouco. Um outro exemplo: Orações independentes são aquelas que têm sentido, mesmo estando fora do texto. Nós já vimos um tipo dessas, que são as orações coordenadas assindéticas, mas também há outros casos. A sua fronte, a sua boca, o seu riso, as suas lágrimas, enchem-lhe a voz de formas e de cores… (Teixeira de Pascoaes) Vamos ver os exemplos: B. Use a vírgula para separar explicações que estão no meio da frase (apostos) Explicações que interrompem a frase são mudanças de pensamento e devem ser separadas por vírgula. Exemplos: Mário, o moço que traz o pão, não veio hoje. Dá-se uma explicação sobre quem é Mário. Se tivéssemos que classificar sintaticamente o trecho, seria um aposto. Eu e você, que somos amigos, não devemos brigar. O trecho destacado explica algo sobre ―Eu e você‖, portanto deve vir entre vírgulas. A classificação do trecho seria oração adjetiva explicativa. Acendeu um cigarro, cruzou as pernas, estalou as unhas, demorou o olhar em Mana Maria. (A. de Alcântara Machado) Nesse exemplo, cada vírgula separa uma oração independente. Elas são coordenadas assindéticas. Eu gosto muito de chocolate, mas não posso comer para não engordar. Eu gosto muito de chocolate, porém não posso comer para não engordar. Eu gosto muito de chocolate, contudo não posso comer para não engordar. Eu gosto muito de chocolate, no entanto não posso comer para não engordar. Eu gosto muito de chocolate, entretanto não posso comer para não engordar. Eu gosto muito de chocolate, todavia não posso comer para não engordar. Capiche? Antes de todas essas palavras aí, chamadas de conjunções adversativas, vai vírgula. Pra quem gosta de saber os nomes (se é que tem alguém), elas se chamam orações coordenadas sindéticas adversativas. (medo!) Agora só faltam mais duas coisinhas: Jeito certo: João gosta de comer batatas. Quando se usa vírgula antes de “e”? Alice, Maria e Luíza querem ir para a escola amanhã. Vimos aí em cima que, como regra geral, não se usa vírgula antes de ―e‖. Tem só um caso em que vai vírgula, que é quando a frase depois do ―e‖ fala de uma pessoa, coisa, ou objeto (sujeito) diferente da que vem antes dele. Assim: Exercício sobre vírgula e pontuação O sol já ia fraco, e a tarde era amena. (Graça Aranha) Note que a primeira frase fala do sol, enquanto a segunda fala da tarde. Os sujeitos são diferentes. Portanto, usamos vírgula. Outro exemplo: A mulher morreu, e cada um dos filhos procurou o seu destino (F. Namora) Mesmo caso, a primeira oração diz respeito à mulher, a segunda aos filhos. O seu Alfredo estava já no fim da vida e escreveu seu testamento. Infelizmente, ele esqueceu da pontuação, e o texto ficou assim: Deixo minha fortuna a meu sobrinho não à minha irmã jamais pagarei a conta do alfaiate nada aos pobres Reescreva o testamento 4 vezes, de forma que em cada uma delas você deve dar a herança pra alguém diferente. Você pode usar qualquer sinal de pontuação, mas não pode mudar as palavras. 2. MAS/ MAIS Mas é uma palavra usada principalmente como Existem casos em que a vírgula é opcional? conjunção adversativa, possuindo o mesmo valor que porém, contudo e todavia. Transmite uma noção de Existe um caso. Lembra do item 3, aí em cima? Se a expressão de tempo, modo, lugar etc. não for uma expressão, mas sim uma palavra só, então a vírgula é facultativa. Vai depender do sentido, do ritmo, da velocidade que você quer dar para a frase. oposição ou limitação. Exemplos: Depois vamos sair Depois, vamos sair para jantar. para jantar. Geralmente gosto de almoçar no shopping. Geralmente, gosto de almoçar no shopping. Exemplos: Eu iria ao cinema, mas não tenho dinheiro. Eu iria ao cinema, porém não tenho dinheiro. Ele deu o seu melhor, mas não foi o suficiente. Ele deu o seu melhor, contudo não foi o suficiente. Mais é uma palavra usada principalmente como Semana passada, todos vieram jantar aqui em casa. Semana passada todos vieram jantar aqui em casa. advérbio de intensidade, transmitindo uma noção de maior quantidade ou intensidade, ou como conjunção aditiva, Note que esse último é o mesmo exemplo do item 3. Vê como sem a vírgula a frase também fica correta? Mesmo não sendo apenas uma palavra, dificilmente algum professor dará errado se você omitir a vírgula. transmitindo uma noção de adição e acréscimo. Tem sentido oposto a menos. Exemplos: Não se usa a vírgula! Com as regras acima, pode ter certeza de que você vai acertar 99% dos casos em que precisará da vírgula. Um erro muito comum que vejo é gente separando sujeito e predicado com vírgula. Isso é errado, e você pode ser preso se for pego usando! Jeito errado: Obs: As palavras mas e mais podem ser usadas ainda João, gosta de comer batatas. com outros sentidos. Alice, Maria e Luíza, querem ir para a escola amanhã. Ela é a mais bonita da escola. Ela é a menos bonita da escola. Vinte mais dez são trinta. Vinte menos dez são dez. Mas: Exemplos: Ele seria perfeito, não fosse um pequeno mas: ele fuma muito! (como substantivo - senão) A atuação do ator foi brilhante, mas brilhante mesmo! (como advérbio – ênfase) Mais: Choro porque machuquei o pé. Choro visto que machuquei o pé. Ela não foi à escola porque estava chovendo. Ela não foi à escola uma vez que estava chovendo. Devemos usar porquê (junto e com acento) quando se tratar de um substantivo masculino, podendo ser Ele saiu mais o irmão e disse que ia demorar. (como preposição – substituído por: causa, motivo, razão. Aparece quase com) sempre junto de um artigo definido ou indefinido, Não faço nada, os mais que resolvam o problema! podendo também aparecer junto de um pronome ou (como pronome indefinido – os outros) numeral. 3. USO DE ONDE/ AONDE Exemplos: Onde é sinônimo de junto em que lugar. Indica permanência. Aonde é sinônimo de para que lugar ou a que lugar. Indica direção e movimento. mandada embora. Exemplos – onde: Onde você mora? (Em que lugar você mora?) Onde está a minha caneta? (Em que lugar está a minha caneta?) Você sabe onde está minha bolsa? (Você sabe em que lugar está minha bolsa?) Exemplos – aonde: Aonde você vai? (Para que lugar você vai?) Aonde ele pretende chegar? (A que lugar ele pretende chegar?) Você está levando isso aonde? (Você está levando isso para que lugar?) Todos riam muito e ninguém me dizia o porquê. Todos riam muito e ninguém me dizia a razão. Gostaria de saber os porquês dela ter sido mandada embora. Gostaria de saber os motivos dela ter sido Devemos usar por que (separado e sem acento) quando se tratar da preposição por seguida do pronome relativo ou interrogativo que. Enquanto pronome relativo, pode ser substituído por: por qual ou pelo qual. Enquanto pronome interrogativo, pode ser substituído por: por qual motivo ou por qual razão. Exemplos: Não achei o caminho por que passei. Não achei o caminho pelo qual passei. Por que você não foi dormir? Por qual razão você não foi dormir? Devemos usar por quê (separado e com acento) 4. USO DE PORQUE/ POR QUE/ PORQUÊ/ POR QUÊ quando se tratar da preposição por seguida do pronome interrogativo quê, quando este for tônico e aparecer no final da frase, seguido de ponto final ou Devemos usar porque (junto e sem acento) quando se tratar de conjunção subordinativa causal ou ponto de interrogação. Pode ser substituído por: por qual motivo ou por qual razão. explicativa, que pode ser substituída por: visto que, uma vez que e por causa de que, entre outras. Exemplos: Você não comeu? Por quê? Você não comeu? Por qual motivo? O menino foi embora e nem disse por quê. O menino foi embora e nem disse por qual razão. Temos de ter em atenção a utilização de ambos. Para tornar mais fácil o seu uso, lembre das seguintes dicas: Mim – Vem sempre seguido de preposição evem 5. USO DE EU/MIM depois do verbo. Exemplos: Este livro é para eu ler? Você trouxe esse presente da França para mim? Este livro é para mim? Eles fizeram tudo o que podiam por mim. Me – As duas frases estão corretas. Não vem seguido de preposição e geralmente vem antes do verbo (se usado depois do verbo acrescenta-se hífen: Diga-me a verdade!). Para eu: Exemplos: Eu é um pronome pessoal reto, devendo ser utilizado Não vai me dizer que não sabia da novidade? quando assume a função de sujeito. Assim, para eu O senhor não tinha me dado essa informação. deve ser utilizado sempre que se referir ao sujeito da Mas, o importante mesmo é perceber o motivo da frase e for seguido de um verbo no infinitivo que utilização. Compare as seguintes frases: indique uma ação. mesmo tempo. Exemplos: Era para eu fazer esta proposta. Pediram para eu trazer a apresentação. Vai embora agora para eu trabalhar mais rápido. Para mim: É muito complicado para mim trabalhar e estudar ao Trabalhar e estudar ao mesmo tempo é muito complicado para mim. Ambas as frases estão corretas. Embora o MIM anteceda os verbos trabalhar e estudar,trabalhar e estudar nesta frase são o sujeito da oração. Talvez ajude a entender se pensar que não é possível Mim é um pronome pessoal oblíquo tônico, sendo ser trocar o PARA MIM por EU na segunda frase: utilizado quando assume a função de objeto indireto, devendo estar sempre precedido por uma preposição. Assim, para mim deve ser utilizado sempre que se referir ao objeto indireto da frase. Exemplos: Trabalhar e estudar ao mesmo tempo é muito complicado para eu. (errado) Assim também, a mesma mensagem, transmitida de forma diferente, dita a forma de utilização dos pronomes: Este presente é para mim. Eles contaram a verdade para mim. Será que ele vai fazer isso para mim? Aline me emprestou o livro - está correto. Foi utilizado o ME antes do verbo. 6. USO DE MIM/ ME Ambos podem ser utilizados. Aline emprestou o livro para mim - também está correto. Foi utilizado o MIM depois do verbo. Mim ou me são pronomes pessoais do caso oblíquo, assim têm a função de complemento verbal e não de sujeito. Se tiver a função de sujeito, deve ser utilizado o 8. USO DE HÁ/ A (EXPRESSÃO DE TEMPO) pronome pessoal do caso reto (eu, tu) e não pessoal do caso oblíquo. Há duas semanas eles partiram para a Europa. Exemplos: Daqui a duas semanas eles partirão para a Europa. Desta vez é para eu fazer o bolo. Esta carta é para tu enviares. As eleições foram há dois dias. Estamos a dois dias das eleições. Regra: 7. USO DE MAL/ MAU Mal é advérbio, antônimo de bem. Mau é um adjetivo, antônimo de bom. Exemplo: Ele é um homem mau, só pratica o mal. Pela oposição: Ele é um homem bom, só pratica o bem. O adjetivo mau é usado principalmente para indicar algo de má qualidade ou alguém que faz maldades, Há é usado para indicar tempo passado. A é usado para indicar tempo futuro. Usamos o verbo há, forma conjugada do verbo haver na 3.ª pessoa do singular do presente do indicativo, quando nos referimos a tempo decorrido, ou seja, a tempo passado, transmitindo o mesmo sentido dos verbos tem ou faz. Exemplos: sendo sinônimo de ruim e malvado. Apresenta ainda Eu já sou mãe há 15 anos. diversos outros significados, sendo também sinônimo Há três minutos você ainda não tinha chegado. Há anos que somos vizinhas e comadres. Aquilo aconteceu há muitos anos. Já me formei há pelo menos sete anos. de nocivo, indelicado, incapaz, incorreto, endiabrado, difícil, indecente, entre outros. Exemplos: Usamos a preposição a, sem contração com o artigo Ele é um mau professor. definido feminino a, não havendo crase, quando nos Afaste esses maus pensamentos de sua mente. referimos a alguma coisa que ainda não aconteceu, ou seja, quando nos referimos a tempo futuro. O advérbio mal é usado principalmente para indicar algo feito de forma errada e incorreta, sendo sinônimo de erradamente, incorretamente, insatisfatoriamente, negativamente, indevidamente, entre outros. Mal também é substantivo, podendo significar doença, moléstia, angústia, desgosto, maldade, tudo aquilo que é prejudicial ou nocivo. Mal pode ser ainda uma conjunção temporal, sinônima de assim que. Exemplo: Eu preciso descansar porque tenho dormido mal. O mal da sociedade moderna é a violência urbana. Mal tocou o sino, os alunos saíram correndo. Exemplos: Daqui a cinco minutos sairei de casa. Estamos a um mês do evento. Vou ao supermercado daqui a pouco. O avião chegará daqui a uma hora. Daqui a dois meses, faremos a próxima avaliação bimestral. ―A palavra é o próprio homem. Somos feitos de palavras. Elas são nossa única realidade ou, pelo menos, o único testemunho de nossa realidade.” (Octávio Paz) Bons estudos!