Arquitetura militar no Brasil: o Forte de São Marcelo Ezequiel Piontkoski (1) Maurício Kunz (2) Josefine Postal Signor (3) Liliany Schramm da Silva (4) Mariane S. Casa (5) (1) aluna da Escola de Arquitetura e Urbanismo da IMED, Brasil. E-mail: [email protected] (2) aluna da Escola de Arquitetura e Urbanismo da IMED, Brasil. E-mail: [email protected] (3) aluna da Escola de Arquitetura e Urbanismo da IMED, Brasil. E-mail: [email protected] (4) professora da Escola de Arquitetura e Urbanismo da IMED, Brasil., IMED, Brasil. Email: [email protected] (5) professora da Escola de Arquitetura e Urbanismo da IMED, Brasil., IMED, Brasil. Email: [email protected] Arquitetura militar no Brasil: o Forte de São Marcelo Resumo: A arquitetura militar brasileira tem alguns de seus exemplares de maior relevância na cidade de Salvador; entre as obras mais importantes está o Forte São Marcelo ou Forte do Mar. O objetivo deste, juntamente com mais dois fortes, era proteger a capital Salvador de invasões estrangeiras vindas pelo mar, destacando-se dos demais por ter sido construído sobre um recife a cerca de 300 metros da costa, e ser o único com planta circular do Brasil, provavelmente inspirado no Forte de São Lourenço do Bugio (Portugal). Esse formato facilitava o tiro com canhões em qualquer direção para defender a cidade e o porto. Com projeto original de estilo renascentista, sua estrutura foi construída em cantaria de arenito até a linha d'água e o restante em alvenaria de pedra irregular, contando com um torreão central, pátio interno e um anel perimetral de planta circular com circunferência de 241 metros. Palavras-chave: Arquitetura militar; Forte de São Marcelo; Fortificações em Salvador Abstract: The Brazilian military architecture has some copies of your most relevant in the city of Salvador, among the most important works is the Forte São Marcelo Fort of the Sea or The purpose of this, along with two strong, was to protect the capital Salvador foreign invasions coming by sea, standing out from others because it was built on a reef about 300 yards from shore, and be the one with circular plant in Brazil, probably inspired by the Forte de São Lourenço Bugoi (Portugal). This format facilitated the shot in any direction with cannons to defend the city and harbor. With unique design renaissance-style structure was built in ashlar sandstone to the waterline and the rest in irregular stone masonry, with a tower central courtyard and a ring of circular plan with perimeter circumference of 241 meters. Keywords: Military Architecture; Forte de São Marcelo; Fortifications in Salvador 1. INTRODUÇÃO A arquitetura colonial compreende a arquitetura realizada no Brasil desde a época do descobrimento até sua Independência. Porém, a atividade arquitetônica só teve um grande impulso com a criação das Capitanias Hereditárias e a fundação das primeiras vilas (Olinda e Igaraçu) em 1535. A arquitetura realizada nesse período está estreitamente ligada à assimilação dos tratados paladianos e vestígios barrocos usados pelos engenheiros militares, já que muitas de nossas cidades se desenvolveram a partir de construções militares (OREAU, 2011). Esse fato é resultado da política de ocupação portuguesa, que primava pela construção de verdadeiras cidades fortificadas, aplicando-se o que havia de melhor nas teorias de defesa e organização urbana da época com algumas adaptações ás condições naturais encontradas aqui no território. A defesa dessas povoações era feita geralmente por muralhas, paliçadas e fortes, como foi o caso da cidade de Salvador. Essas construções foram primordiais para a manutenção do Brasil na condição de colônia, permitindo a proteção dos ataques de inimigos e, assim, garantindo o domínio português em terras brasileiras. Nesse sentido, este artigo pretende destacar as características de uma obra de arquitetura militar usada na defesa da cidade de Salvador no período colonial através do Forte São Marcelo. 2. ARQUITETURA MILITAR EM SALVADOR O urbanismo do período colonial está fortemente relacionado com a arquitetura militar trazida pelos portugueses, tanto porque os profissionais que cuidavam do traçado das ruas e das fortificações eram os mesmos, como pelo fato de que muitas vilas se desenvolveram a partir de construções militares. Salvador é uma das cidades que foi privilegiada com planos militares e urbanísticos. Capital da colônia de 1549 a 1763, sua fundação é de um tempo em que o conceito de cidade trazia junto a ideia de fortificação. Essa ideia influenciou até mesmo a escolha do local para a instalação da cidade: a alta montanha mostrava ser conveniente aos modelos militares então dominantes em Portugal. A diferença de nível com relação ao mar (70 m) dificultava o acesso do inimigo para tomar a cidade a partir do porto, obrigando-o a subir íngremes ladeiras, mas não ajudava a impedir os desembarques, pois a artilharia de então não podia atirar para baixo. Para resolver esse problema foram construídos fortes na beira-mar, que abrigavam peças de artilharia para serem usadas em eventuais ataques por mar. O primeiro forte erguido foi o de Santo Antônio da Barra em 1534, também conhecido como Farol da Barra atualmente. Em 1624 e 1638 foram erguidos os Fortes Santa Maria e São Diogo. Em 1650, foram começados os trabalhos da construção do Forte de São Marcelo, também conhecido por Forte do Mar por ter sido erguido sobre um recife longe da costa. 3. FORTE DE SÃO MARCELO Sua concepção ocorreu em 1608 com risco do engenheiro-mor e dirigente das obras de fortificação do Brasil, Francisco de Frias Mesquita. Alguns autores, entretanto, atribuem o seu risco inicial ao engenheiro-mor de Portugal, Leonardo Torriani, em 1605. Foi inspirado no Forte São Lourenço do Bugio, também de forma cilíndrica, localizado no meio das águas da foz do Rio Tejo, em Portugal, na altura da Vila de Oeiras. Na verdade, ele foi erguido para resguardar a região, que era apenas um trecho da chamada Cidade Alta e uma parte da Cidade Baixa. 3.1. Etapas Da Construção A primeira fase das obras foi o enrocamento em torno do recife, localizado naquele ponto, realizado com pedras de arenito, extraídas de pedreiras situadas nas proximidades da cidade. Esse material foi transportado em barcaças. Concluído em 1652, o interior do enrocamento passou a ser preenchido com pedras calcárias, oriundas dos lastros dos navios do Reino, os quais, depois, eram carregados com açúcar e madeira de lei e seguiam destino para Portugal. Em 1656, iniciava-se a construção da muralha do torreão em pedra de granito, proveniente do Recôncavo Baiano. Em 1661, o torreão central ainda se encontrava incompleto, sendo concluído no ano seguinte, erguendo-se 15m acima do nível do mar. Entretanto, as fragilidades da defesa na Colônia eram enormes. As críticas sobre o projeto executado, proferidas pelas autoridades militares, tinham o objetivo de apresentar soluções para o aperfeiçoamento da defesa da cidade. Mais tarde, surgiram novas propostas com algumas modificações, visando aumentar o poder de fogo. FIGURA 1- Fases iniciais da construção do forte. Fonte: Revista Da Cultura Atendendo às sugestões, o Vice-Rei, D. Pedro Antônio de Noronha Albuquerque e Souza, determinou a realização dos trabalhos de ampliação do terrapleno envolvente, aumentando cerca de meio metro de altura e para 241m de circunferência, os quais foram concluídos, em 1728, com as novas canhoneiras do torreão (bateria alta) e da plataforma do terrapleno (bateria baixa). Em 1759, o forte encontrava-se representado em iconografia, com 54 peças de ferro e bronze de diversos calibres. Em 1808, com a mudança da Família Real portuguesa para o Brasil, as defesas costeiras da Colônia foram inspecionadas e reforçadas. Quando o príncipe regente passou por Salvador, o Forte contava com 40 canhões coloniais. Em 1810, um relatório de inspeção, preparado por uma comissão, que era chefiada pelo Brigadeiro Galeão, apontava a necessidade de erguer um anel perimetral no terrapleno envolvente, com altura igual à do torreão central. Na ocasião, a bateria alta encontrava-se artilhada com 16 peças de ferro e 4 de bronze de diversos calibres, ao passo que, na bateria baixa, computavam-se 29 peças de ferro montadas em seus reparos e 1de bronze, além de 2 morteiros. Em função disso, desenvolveram-se as obras de restauração no forte, entre 1810 e 1812, chegando, ao fim, à atual configuração do São Marcelo. A defesa ficou então restrita a 40 canhões. Figura 2: Fases finais da construção do forte. Fonte: Revista Da Cultura 3.2. Características da obra Localizado na Baía de Todos os Santos, possui uma área construída de 2.600 m². Seu projeto original, no estilo renascentista, visava melhor resistir às correntes e marés, permitindo a realização do tiro em qualquer direção, na defesa da cidade e do porto de Salvador. Sua estrutura, na atualidade, é composta de cantaria de arenito até a linha d'água e o restante em alvenaria de pedra irregular. Possui um torreão central, de forma circular, com dimensões de 15m de altura por 36m de diâmetro e cerca de 145m de circunferência. O pátio tem 10m de largura, separando a torre de um anel perimetral de planta aproximadamente circular, achatada na direção leste, voltada para a cidade, com aproximadamente 15m de largura e 241m de circunferência. O piso do anel perimetral tem altura de 15m acima do terrapleno, exceto na direção leste, voltada para a cidade, que é de 12m. Até 1810, o forte era formado por um torreão central guarnecido por troneiras que o circundavam. Entretanto, essa composição arquitetônica tornava-o vulnerável às embarcações inimigas (BARRETO, 1958). Entre 1810 e 1812, ocorreram obras para sua restauração que, ao serem concluídas, chegaram à atual configuração. Sob o torreão localizam-se a cisterna, o calabouço, a capela, o armazém de pólvora e os quartéis que, a partir da construção da nova praça alta de tiro sob o terrapleno perimetral, transformaram-se em celas. Sobre a nova edificação, estão instalados o corpo da guarda, a cozinha e os quartéis da guarda do comandante. Essas salas, retangulares, possuem cobertura em abóbada de berço. Figura 3 - O Forte no levantamento de 1759. Fonte: CALDAS (1951) Legenda: A: Rampa de entrada; B: Corpo de Guarda; C: Casas do Comandante; F: Cozinha; G: Rampas que sobem para a bateria alta; H: Casas de pólvora; I: Quartéis e casas para despejo; L: Terrapleno; M: Cisterna. Figura 4: Guarita e rampa de acesso. Fonte: Revista Da Cultura Nº 13, pg. 54. Figura 5 - Vista total do forte. Fonte: Revista Da Cultura Nº 13, pg. 54. Figura 6 - Canhoneiras em todo o perímetro permitiam o tiro em todas as direções. Fonte: Revista Da Cultura Nº 13, pg. 54. 4. CONCLUSÃO A análise do Forte de São Marcelo demonstra a importância da arquitetura militar no período colonial para a manutenção da soberania da coroa portuguesa sobre o território brasileiro. E, após ter resistido à ocupação holandesa de Salvador e a várias batalhas, o Forte de São Marcelo atualmente está aberto à visitação pública, contando com um rico patrimônio cultural e arquitetônico, representando os acontecimentos ocorridos desde sua origem. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. SOUSA VITERBO. Dicionário Histórico e Documental dos Arquitectos, Engenheiros e Construtores Portugueses. Ed. Fac-símile. Lisboa, Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1988. OREAU, Felipe Eduardo. Arquitetura Militar em Salvador da Bahia - séc. XVI a XVII. São Paulo, 2011. TEIXEIRA, Paulo Roberto Rodrigues. Forte de São http://www.funceb.org.br/images/revista/6_9h7l.pdf. Acesso em: Marcelo. Disponível em: 25 de junho de 2013. TELLES, Augusto Carlos. Atlas dos monumentos históricos e artísticos do Brasil. Ministério da Educação e Cultura, Departamento de Assuntos Culturais, Fundação Nacional de Material Escolar, 1975. VAINSENCHER, Semira Adler. Forte de São Marcelo (Salvador, BA). Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acesso em: 17 de setembro de 2013