Espaços semi-públicos de uso coletivo: sob a ótica dos usuários Cauê Martins Rios (1) Luis Guilherme Aita Pippi (2) Marina de Alcântara (3) Matheus do Amaral Moraes (4) (1) Acad. de Arquitetura e Urbanismo - UFSM, bolsista PROINFRA - Pró-reitoria de Infraestrutura, UFSM, Brasil. E-mail: [email protected] (2) PhD CAPES/Fulbright, Dep. Landscape Architecture, College of Design, NC State University, EUA, Doutor em Arquitetura e Urbanismo (Paisagem e Ambiente) pela FAUUSP, Professor Adjunto do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Maria, UFSM, Brasil. E-mail: [email protected] (3) Mestre em Patrimônio Cultural pelo PPGPPC/UFSM, Professor Substituto do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Maria, UFSM, Brasil. E-mail: [email protected] (4) ) Acad. de Arquitetura e Urbanismo - UFSM, bolsista PRAE - Pró-reitoria de Assuntos Estudantis, UFSM, Brasil. E-mail: [email protected] Resumo: Este artigo analisa a importância da qualidade das áreas de convivência e as relações interpessoais com os espaços livres de uso coletivo do Condomínio do Conjunto Residencial Camobi, habitação de interesse social promovida pelas extintas políticas do Banco Nacional de Habitação (BNH), na cidade de Santa Maria – RS, Brasil. Busca também, entender e interpretar a interação dos moradores, entre si e com estranhos no espaço semi-público, bem como informações referentes ao paisagismo existe no local. Para tal, utiliza-se o método de pesquisa Survey, através de questionários juntamente com observações feitas no local para trazer informações das características deste espaço, evidenciado como um híbrido entre pátio interno e praça claustral, através da sua configuração. Palavras-chave: interação social; espaços semi-públicos de uso comum; paisagismo. Abstract: This study explores the importance of outdoor living areas and their relation with the collective free spaces in the Conjunto Residencial Camobi sub-division. This neighbourhood is part of an Affordable Housing Program supported by the Brazilian National Housing Bank in Santa Maria, in the state of Rio Grande do Sul. The study aims to understand and interpret the interaction of residents, among one another and with strangers in the semi-public space, as well as to analyse the existent landscaping in the neighbourhood. A survey was applied to residents in addition to field observations to evaluate features of the space, which was found to be a hybrid between internal courtyard and enclosed square. Key-words: social interaction; communal semi-public open spaces; landscape. 1. INTRODUÇÃO Espaços de lazer e recreação, áreas de uso coletivo, qualidade do tratamento paisagístico e a inserção no contexto urbano existente, referentes ao cenário da Habitação de Interesse social no Brasil, foram omitidos historicamente, pelos projetos do Governo Federal, nos anos, ou no período compreendido dos anos 70 até o presente momento. Em muitos projetos, de diferentes períodos e programas políticos governamentais, nota-se a repetição em massa e a falta de preocupação com o contexto geográfico 1 | 10 físico-ambiental e social dos locais onde foram inseridos, seja arquitetonicamente, como paisagisticamente. Não só da falta de identidade individual, causada pela recorrência da mesma tipologia de moradia, a ausência de um espaço público centralizador das atividades coletivas, conectado ao contexto do entorno consuma a falta de integração de uma comunidade, que se coloca geralmente excluída geograficamente do centro do funcionamento das cidades. 2. OBJETIVO Esta pesquisa propõe a reflexão a respeito da importância dos espaços livres de convivência coletiva para a qualidade de vida de moradores em áreas urbanas, para tanto, adota como caso de estudo o Conjunto Residencial Camobi, localizado na cidade de Santa Maria - RS - Brasil. O estudo tem por objetivo identificar o potencial das áreas livres propostas no projeto arquitetônico, urbano e paisagístico originais do conjunto residencial em questão, condomínio este construído durante a atuação do Banco Nacional de Habitação (BNH), na década de 1970, como elemento que interfere no grau de apropriação dos moradores, na construção de lugares de uso coletivo e no comportamento cotidiano dos usuários. A pesquisa está centrada na observação in loco, com o propósito de estimular novas abordagens de campo ao entender que somente com a percepção da comunidade, e a aproximação do local, têm-se condições de proporcionar diretrizes para novas propostas coletivas. E verificar como a falta de espaços de lazer e convivência de qualidade (parques, praças, pocket praças, soluções intraquadras) no entorno e na cidade de Santa Maria influencia na percepção e vivencia no espaço de uso coletivo do condomínio. 3. JUSTIFICATIVA O tratamento das áreas livres é, muitas vezes, abordado de forma secundária, se não esquecida, durante a concepção projetual, e apresentando-se como uma carência visível nos condomínios e conjuntos de habitação de interesse social no Brasil. Observando esta insuficiência, o texto suscita entender o nível da relação e da apropriação em um espaço colateral que surge a partir de uma implantação de edifícios residenciais. Dessa forma, busca-se uma análise que compare um espaço híbrido de um pátio interno com o uso de uma praça pública, entretanto voltado a uma comunidade local. Em específico, a proposta de análise refere-se a um tipo de espaço criado pela implantação de volumes residenciais típicos de um programa governamental brasileiro de habitação para população menos favorecida, na década de 70. Além disso, buscamos a análise de uma comunidade com bases econômicas heterogêneas que se relaciona neste espaço claustral, através da análise dos usos deste espaço e da satisfação dos moradores. 3.1. Santa Maria e o Conjunto Residencial Camobi A cidade de Santa Maria está localizada na região central do estado do Rio Grande do Sul, caracterizando-se pela presença de atividades comerciais e de prestação de serviço, núcleo militar e educacional com influência regional. Constata-se no município a prática, evidenciada em outras cidades, da localização de conjuntos habitacionais voltados ao público de baixa renda em zonas periférica, distando dos núcleos urbanos centrais. Historicamente as grandes áreas de investimento das políticas de habitação de interesse 2 | 10 social em Santa Maria, tem se localizado na região oeste, induzindo o crescimento da malha urbana nesse sentido, a exemplos dos bairros Tancredo Neves e Santa Marta. CENTRO EIXO DE EXPANSÃO FIGURA 1 – Situação do Conjunto Habitacional e do entorno (Bairro Camobi). Fonte: Google Maps (2015). No outro extremo, à leste, situa-se o Bairro Camobi, cuja urbanização e desenvolvimento está atrelado à implantação da Base Aérea (inaugurada em 1971) da cidade e do Campus da Universidade Federal de Santa Maria (década de 1960), cuja ligação zona central - bairro assumiu características de um eixo de crescimento e expansão territorial. O bairro Camobi se caracteriza por uma urbanização recente, menos de 20 anos. Reflexo da especulação imobiliária, que levou a construção de vários edifícios, voltados principalmente a estudantes, atraídos à proximidade com a UFSM. Além disso, novos loteamentos, condomínios e iniciativas comerciais levaram a densificação do eixo de ligação com o Centro. Pelo fato dessa configuração da morfologia contemporânea do bairro Camobi, muitas partes do local ficaram desconectadas, possuindo poucos espaços de lazer e recreação de qualidade notável. O Conjunto Residencial Camobi, data de 1979 dentro da política de habitação de interesse social do BNH, muito antes da urbanização da área. Como se constata na maioria dos conjuntos habitacionais do período da época, assim como em muitos exemplares contemporâneos, a localização assumida para sua implantação era afastada do centro de Santa Maria, não possuía infraestrutura suficiente no seu entorno imediato e, portanto, dificultando aos moradores a prática e vivência da cidade de forma facilitada e natural através do uso transporte público, vias trânsito veicular e de pedestres qualificadas ou de espaços de lazer consolidados no entorno. Segundo relato dos primeiros moradores do conjunto, as conexões com o centro da cidade eram precárias e a única estrada que ligava as duas áreas da cidade, atual Faixa Velha (Avenida Prefeito Evandro Behr), não era pavimentada e quando chovia tornava-se um transtorno locomover-se. Entretanto, quando se analisa o contexto atualmente, constata-se o crescimento do entorno e da infraestrutura urbana, modificando a realidade do local drasticamente em 40 anos. Com terreno de testada voltada para a Avenida João Machado, uma das vias mais antigas do bairro, o conjunto de insere em uma área carente de espaços de lazer e recreação, cuja realidade não se alterou com o desenvolvimento da região. Conforme Maciel (2014), dois espaços livres de recreação e lazer tem seus raios de abrangência atendendo o condomínio. O primeiro é uma praça de bairro, Praça 3 | 10 Cultural Miguel Meireles e o segundo é a Universidade Federal de Santa Maria como parque setorial. A praça de bairro possui escassez de vegetação, mobiliário, equipamentos de lazer, ou seja, está praticamente abandonada. Contrapondo essa realidade, o condomínio possui uma área central coletiva, arborizada e com possibilidades dinâmicas de uso, construída por meio da forma de distribuição espacial dos prédios. 3.2. O pátio, a praça e o conjunto santa-mariense O estudo dos espaços de uso coletivo apresenta inúmeros conceitos, ao olhar de diferentes pontos de vista, que ora relacionam-se e em outro momento se colocam antagônicos. Ao analisar estes conceitos, buscando estudos que aproximem ao estudo de caso desta abordagem, é possível relacionála a algumas interseções entre o pensamento de diferentes autores. No intuito de enriquecer a análise, recorremos à paridade de diferentes conceitos, de espaços e usos, colocados de forma desigual, mas semelhantemente observados como ideais espaços de uso coletivo. Somente assim, revelamos a importância do conjunto abordado para a sua população. Neste sentido, observamos a abordagem de Reis-Alves (2004), que aponta a definição do pátio interno, relacionados com o seu simbolismo e significados, na tentativa de alcançar a sua essência. Para o autor, o pátio interno é um espaço psicológico, que transparece privacidade, segurança, intimidade e proteção, e assim como no conjunto de Camobi, reforça aspectos culturais, a partir da integração coletiva, observada na tradição do chimarrão no espaço abordado. O pátio é ainda observado como um espaço bioclimático, pois permite a maior exposição dos edifícios à circulação dos ventos. Além disso, os edifícios do conjunto abordado, aliados a vegetação proposta pelos moradores, proporciona espaços sombreados, adequados ao clima subtropical úmido que caracteriza Santa Maria. Adequação que permite maior apropriação da comunidade local. Pelo seu caráter coletivo, o espaço central do Conjunto Habitacional Camobi, permite uma conceituação próxima da praça, porém esta, em relação ao critério de classificação de Reis-Alves (2004), “É um pátio externo. A praça, do grego platéia, apesar do seu significado ter sido alvo de modificações ao longo do tempo, garante a sua tradição pela função do encontro, do exercício da coletividade e da relação com a paisagem, e acrescida do seu sentido de movimento circular e de seus fechamentos laterais, as edificações circundantes, ela simula esta experiência. Nestes aspectos, aproximando-se das características do pátio interno.” Os fechamentos laterais do conjunto fortalecem a familiaridade, e a relação edifício-pátio-lotelogradouro permite uma transição entre público e privado. Essa área de transição, junto dos fechamentos, sugerem uma definição de pátio claustral, ou área pública do residencial. Além disso, o pátio central apresenta-se como um centro irradiador, com função de encontro, relação com a paisagem, exercício de coletividade, zonas intimistas e privadas. A partir da coexistência dessa atividades em uma atmosfera urbana e cordial, buscamos identificar o nível de ambiência nos espaços do Conjunto Habitacional Camobi. Segundo Thibaud (2013, p.101) "a 4 | 10 partir da observação motora do usuário, facilitada ou não". Desta forma, foram constatados determinados convites ao espaço, por acessórios ou elementos do mobiliário. 4. MÉTODO EMPREGADO Fez-se uso do Método Survey para a formulação e aplicação dos questionários. As entrevistas Survey segundo Pippi et al. (2014) são uma excelente ferramenta de inquérito para uma gama ampla de temas, ou seja, sobre as preferências de uso, os tipos de atividade, os hábitos e sugestões para a área de estudo em questão. As perguntas foram cuidadosamente estruturadas, a partir do método selecionado e ordenadas segundo eixos temáticos, referentes ao espaço de uso coletivo, que abrangem: o porquê do uso, a frequência de uso, o tempo de uso, com quem usam, como interagem com pessoas conhecidas e desconhecidas, o tipo de interação que ocorre com ambos, o quanto acham importante sociabilizar com pessoas conhecidas e desconhecidas, o quanto estão satisfeitas com o espaço e por fim as características que mais e menos gostam em toda a área de convivência. Além disso, procurou-se utilizar de uma linguagem simples, formando questionamentos bastante diretos e pontuais organizados em uma lógica progressiva de perguntas simples a perguntas complexas, com caráter impessoal e que transmitissem e remontassem os interesses dos entrevistados. Este método concede aos entrevistadores buscar questões adicionais a partir das perguntas diretas e de múltipla escolha já propostas sobre um tópico em particular, a fim de explorar mais o tema, no momento da abordagem. Sendo assim, segundo Madden (2001) permitem a noção do contexto de um conjunto de pessoas e as opiniões pessoas a partir das perguntas abertas que completam as de múltipla escolha. Ainda no questionário, foram pedidas três características que o entrevistado mais gostava no espaço de uso coletivo e três que menos gostava apontando-as em um mapa da implantação do Conjunto Habitacional. Somada ao Método Survey, a observação do pesquisador sobre os moradores no momento em que se fazia uso do espaço, durante o período da manhã, tarde e noite, utilizando-se de apontamentos e fotografias, descrevendo interações e atividades no local. As entrevistas foram aplicadas em dois dias, nos períodos da manhã, tarde e noite e foram questionadas 39 pessoas, sendo que no primeiro dia 20 e no segundo 19, totalizando em torno de 10% da população total de condomínio (por volta de 387 moradores), maior parte do sexo feminino. Adotou-se a preferência pelos três turnos, pois segundo Madden (2001), este modo de aplicação do Método Survey permite o contato com uma variedade maior de usuários, alcançando assim um raio mais abrangente de atividades possíveis no espaço. Estas abordagens foram feitas diretamente nas áreas de convivência e quando necessário buscou-se moradores nos seus próprios apartamentos. 5. RESULTADOS OBTIDOS Os resultados das enquetes permitiram vislumbrar de que forma os moradores do condomínio são motivados a utilizar os espaços semi-públicos de uso coletivo, e também, perceber o modo como ocorrem as relações interpessoais e estas com os ambientes de lazer e estar. Além disso, a tabulação dos resultados mostrou e ratificou as observações e perspectivas, feitas pelos pesquisadores, acerca do local, em função dos dois métodos diferentes que levaram as mesmas respostas. 5 | 10 5.1. Conformação dos espaços As edificações do conjunto são divididas em 18 blocos, na primeira porção do terreno encontramos 8 blocos rebatidos no terreno, localizando-se 4 em cada lado, com 4 pavimentos. Na segunda porção do terreno ocorre o mesmo. Analisando a implantação em um contexto geral no terreno, notamos que a organização das edificações conforma um grande pátio central linear e o mesmo funciona como eixo simétrico de conformação dos espaços. Este eixo conforma também os passeios, que estão paralelos aos blocos e conectam-se diretamente a entrada de cada bloco. FIGURA 2 – Mobiliário e equipamentos presentes no decorrer dos espaços verdes. Fonte: Arquivo pessoal(2015). Para contabilizar o mobiliário e vegetação do espaço de uso coletivo, dividimos o local em zonas a partir da diferença de tratamento dado a estas, conforme (figura tal). Zona A é onde se dá o acesso e demarca a portaria, possui: duas árvores de médio e grande porte e dois bancos. Zona B, parte da área de convivência com maior largura, há: 4 árvores de médio porte; 1 lixeira e 1 bicicletário. Zona C, parte estreita no centro possui: 3 árvores de médio porte, 3 bancos e 2 lixeiras. Zona D, primeira parte dos fundos do condomínio, tem: 7 árvores de médio porte, 1 lixeira, 1 bicicletário. Zona E dispõe de: 5 árvores de médio porte, 3 bancos 1 lixeira e parquinho com balanços. Por fim, a zona F, fundos do espaço analisado, porém com o maior número de equipamentos de lazer: 3 árvores de médio porte, 7 bancos, 1 pracinha, 1 quadra de esportes, 1 salão de festas fechado, 1 churrasqueira coletiva e 1 telefone público. 6 | 10 FIGURA 3 – Primeira figura mostra o zoneamento proposto para análise do espaço e a segunda, os equipamentos existentes na área de convivência. Fonte: Google Earth modificado (2015). 5.2. A razão da utilização dos espaços de uso coletivo A partir da aplicação do método Survey, foram disponibilizados aos moradores motivos pelos quais os levavam a utilizar o espaço. Eram alternativas de múltipla escolha, podendo escolher mais de uma e que se dividiam em 7 eixos temáticos, como mostra a figura 5. A partir disto, percebe-se majoritariamente a utilização do espaço para descanso e estar, seguido da preservação e reiteração dos vínculos sociais e de amizade dos moradores do conjunto. FIGURA 4 – Moradores utilizando e interagindo nos espaços verdes. Fonte: Arquivo pessoal (2015). A relação entre estar em contato com as pessoas, sejam elas próximas ou não, aliadas a integração com a natureza são vistas com grande importância para o estimulo do uso do local. Estes fatores, 7 | 10 segundo relatos, acarretam na melhor qualidade de vida deles, que por muitas vezes veem neste espaço coletivo um local de encontro consigo mesmos e de fuga das pressões do cotidiano. Poucos moradores pontuaram a motivação de uso do espaço do condomínio somente pela falta de outros no entorno, de qualidade, fato que vai de encontro ao que os pesquisadores pré-conceituaram nas primeiras visitas ao local. Além disso, raros os relatos de motivação de uso do local para interação com animais domésticos, sendo que existem moradores entrevistados que os possuem. FIGURA 5 – O gráfico refere-se ao número de vezes em que cada eixo de atração foi citado. 5.3. Tempo e modos de interação Grande parte dos entrevistados utilizam o espaço todos os dias, geralmente ao entardecer (a partir das 17 horas), permanecendo no local em um período de 1 a 3 horas. Aproveitam o espaço acompanhados da família ou grupo de amigos, que totalizam mais de 4 pessoas, acreditam ainda, que estas relações são muito importantes para a convivência em um espaço coletivo. Segundo as observações e relatos complementares, este modo de utilização dos espaços está ligado à rotina cotidiana e a configuração dos lares. A segurança em relação às áreas de uso coletivo foi muito citada, proporcionada pela união da população do conjunto, onde todos se conhecem e convivem em um espírito de coletividade de união mutua. Somado a este caráter, os moradores são receptivos e cordiais com visitantes e pessoas desconhecidas ao seu cotidiano, relatando ainda que acham importante a interação com esse público. É percebido uma forte relação de pertencimento, por parte dos condôminos, ao local e o mesmo pertencendo a eles. 5.4. Satisfação com relação ao espaço de uso coletivo Os moradores do Condomínio do Conjunto Residencial Camobi demonstraram satisfação com os espaços coletivos configurados pelo local. Quando levados a apontar no mapa da implantação, no mínimo três características que mais gostavam no local, ocorria de não conseguirem exprimir locais físicos, mas sim o caráter filosófico representado por eles. Da mesma forma, era visível a dificuldade em apontar que menos gostavam no espaço. A alta satisfação com o espaço não os permitia elencar pontos negativos, além dos relacionados a 8 | 10 manutenção ou dos próprio caráter de inserção no condomínio no contexto urbano, ou seja, distante do centro cultural e econômico da cidade. FIGURA 6 – Grau de satisfação, que quase atinge 100% dos entrevistados no conjunto. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os espaços de uso comum confirmam o fato de oportuniza a sociabilidade entre os moradores do condomínio e deles com as pessoas de fora, evidenciado nos relatos. Entretanto, a visão ofuscada dos moradores, movidos pelo sentimento ao local, não permite o apontamento ou modifica as percepções acerca de pontos, geralmente estabelecidos como negativos. O próprio caso da iluminação, de acordo com as observações, se coloca insuficiente, com diversos pontos de sombreamento, mas descrita satisfatoriamente pelos condôminos. A área de uso coletivo, segundo o seu caráter observado se comporta como um espaço híbrido entre o pátio de uma casa e uma praça pública. O primeiro pelo fato de funcionar como a extensão das casas dos moradores e o segundo por reunir um grande número de pessoas propiciando interação e recreação no mesmo espaço. Esta grande praça pública linear, no decorrer dos anos sofreu modificações feitas pelos próprios moradores, de acordo com a necessidade analisadas de forma empírica. Portanto, o forte vínculo afetivo, de identidade e pertencimento ao espaço, encontram raízes na transformação do local por meio dos usuários, eles sendo os co-autores da metamorfose do espaço de uso coletivo. O modo como se coloca o ambiente, conjunto à sua importância e função social integradora, fortalece seu entendimento como praça, neste caso murada, configurada como um pátio interno, ou área transitória com caráter de praça claustral. Mesmo assim, inserida a paisagem, originalmente não fortalecida, mas atualmente apropriada, pensada e organizada pelos co-autores da proposta de paisagismo integrado a implantação, os moradores. O fato de ser uma área de convivência fechada, não impede a convivência e contato dos moradores com pessoas estranhas ao condomínio, reforçando, neste tipo de situação que o muro não necessariamente é um segregador. Por fim, o modo como o espaço e as pessoas se relacionam, mimetizados no sentimento de integração, corroboram a importância, prevista pelos pesquisadores quando optaram pelo o estudo da área, como diferencial pontual da conjuntura da Habitação de Interesse Social no Brasil. 9 | 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEVEDO, Sérgio. Vinte e dois anos de política de habitação popular (1964-1986): criação, trajetória e extinção do BNH. DISPONÍVEL EM: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rap/article/viewfile/9391/8458. Acesso em: 09 julho 2015. EM PROJETOS DE HABITAÇÃO SOCIAL. O Caso do Programa Minha Casa Minha Vida. Disponível em: http://www.eventos.ct.utfpr.edu.br/anais/snpd/pdf/snpd2014/814.pdf. Acesso em: 12 julho 2015. IBGE. Cidades: Santa Maria. Brasília: Ibge, 2010. 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