Imperialismo nos séculos XIX e XX UNICURITIBA Curso de Relações Internacionais História Econômica Renato Carneiro Mudanças na Economia-Mundo A dominação britânica na Índia foi uma das poucas exceções na situação da economia-mundo no séc. XIX. De 1790 a 1858, os ingleses haviam reduzido o subcontinente à dependência da indústria inglesa. Destruíram a secular manufatura indiana de algodão, impondo a substituição pelos têxteis ingleses. Esse processo inverteu o fluxo de ouro e prata, agora do Oriente ao Ocidente, enquanto camponeses eram submetidos a extenuantes jornadas nas plantações de juta e chá. Corrida para Garantir Espaços Para garantir a evolução crescente dos capitais, os países centrais logo trataram de assegurar novas áreas periféricas com caráter de exclusividade. Esse fato fez com que se lançassem em rápidos processos de conquista, muitas vezes com ímpeto bastante belicoso, não apenas em relação aos nativos, mas também em relação às demais nações industrializadas, que redundou no processo conhecido como “paz armada”. Colonização da África Em 1870, a presença européia na África limitava-se à Argélia e pontos de apoio no Senegal e Gabão, faixas costeiras de Angola e Moçambique e algumas outras possessões espanholas e inglesas e à África do Sul. No início do século XX, todavia, com exceção da Libéria e da Etiópia, todo o continente estava dividido entre portugueses, espanhóis, belgas, italianos, alemães, franceses e ingleses, especialmente estes dois últimos. Colonização da Ásia A Ásia, igualmente, tanto no continente, como nos arquipélagos do Pacífico, foi ocupada por franceses, ingleses, alemães, norte-americanos, holandeses, japoneses e russos. Outras áreas, como os império otomano e chinês, foram submetidas a muitas pressões para efetuarem concessões econômicas, cedendo pela força largas porções de seus territórios. O Império Russo O expansionismo russo, que buscava no Pacífico portos de águas quentes, abertos o ano todo, fez com que seus interesses se chocassem com os dos japoneses, que ampliavam seu território às custas de terras chinesas. Foram essas as razões da Guerra Russo-Japonesa, em 1904-5. A derrota russa barrou, no entanto, a continuidade do expansionismo japonês, única nação de população não-européia industrializada e imperialista, o que derrubava o mito da “missão civilizatória do homem branco”. Imperialismo Norte-Americano Outro exemplo de nação não-européia, mas de “brancos” foram os EUA, primeira colônia no mundo a conquistar sua independência. Usando a justificativa de deter a opressão espanhola, no espírito da Doutrina Monroe, inicia sua fase imperialista na guerra contra a Espanha, em 1898, quando conseguiu a incorporação de Guam, Porto Rico e Filipinas, além de grande influência em Cuba. Mais adiante, em 1901, anexou o Havaí, em resposta aos insistentes pedidos de seus cidadãos mais proeminentes para se incorporarem a um governo civilizado. Investimentos Além-Mar Esta corrida por novos espaços fez com que os capitais, até então concentrados na Europa, procurassem outras paragens que lhes trouxessem maiores remunerações. As regiões periféricas passaram a ser o destino dos investimentos de capital, que se concentravam nas produções extrativas, comunicações, transportes, distribuição de matérias-primas, empréstimos a governos, urbanização e serviços públicos, como eletricidade, gás e transportes coletivos. A Inglaterra era responsável por cerca de 50% de todo o capital investido ou emprestado às áreas periféricas, seguidos de França, Alemanha, EUA, Bélgica, Suíça e Holanda. Investimentos Além-Mar Investimentos em comunicações (cabos submarinos) e transportes (ferroviário e naval) transformaram o comércio mundial em multilateral, com déficits em determinadas áreas sendo compensadas por superávits em outras. As distâncias encurtaram pela utilização do telégrafo intercontinental e pela abertura dos canais de Suez (1869) e do Panamá (1913), tornando mais efetivos os controles por parte das nações centrais de seus investimentos além-mar. Padrão-Ouro Todo este comércio ancorou-se no padrão-ouro, por insistência da Inglaterra, que o havia adotado em 1774, para manter estáveis as taxas de câmbio e as transferências de capital seguras. A Alemanha adotou o padrão-ouro em 1873; os três países escandinavos, em 1875 e os demais países europeus entre 1878 e 1892. Em 1900, todos os demais países, com exceção da Etiópia e China, adotaram o ouro como padrão monetário. Padrão-Ouro Até os EUA, maiores produtores de prata, adotaram o padrão-ouro neste ano, para garantir sua inserção no mercado internacional. Essa conjuntura foi beneficiada pela expansão da oferta mundial de ouro, após a descoberta das minas do Colorado, do Alasca e da África do Sul, que elevou a produção de 5.200 milhões de onças em 1881-1890, para 10.165 milhões de onças na década seguinte. 1 onça troy = 31,1035 gramas 1 quilo = 32,151 onças troy Falsa Impressão de Progresso A especialização do comércio trouxe a falsa impressão de progresso às regiões periféricas. Capitais entravam maciçamente nestas áreas para garantir a infraestrutura capaz de baratear e racionalizar o escoamento de seus produtos primários (portos, ferrovias, eletricidade, armazéns etc.). Isso no fundo agravava sua situação de dependência. Volumes e Valores do Comércio Entre 1900-14, os produtos primários correspondiam a 2/3 das mercadorias em circulação. Índia, Ceilão e China eram responsáveis por 80% do chá; Brasil, por 60% do café; Cuba e Indonésia, por 65% do açúcar; Egito e Índia pelo algodão; lã, na Austrália e Argentina; cobre no Chile, Peru e México; estanho na Bolívia e Malásia; petróleo em Bornéu e Indonésia. No entanto, em termos de valor, todas as exportações da A. Latina, África, Ásia e Oceania correspondiam a 21,7%, entre 1869 e 1900, subindo p/ 26,3%, em 1913. As formas do Imperialismo Claramente apoiado pelos Estados centrais que abriam espaço à política expansionista dos grandes grupos monopolistas de seus países, a Conferência de Berlim, em 1884/85, procurou definir os critérios de partilha do continente africano. A ação concreta do imperialismo pôde assumir duas formas e quatro tipos de dominação. Imperialismo informal Ausência de dominação política sobre áreas periféricas, que se conservam “independentes”, mas com suas economias voltadas ao mercado externo. Dependência econômica junto aos países centrais, com setores econômicos desnacionalizados. A América Latina foi o foco maior, com três grupos de países exportadores. Imperialismo informal Países de clima temperado Uruguai e Argentina exportação de carne refrigerada e depois congelada. Argentina exportava 27 mil toneladas em 1890, chegando a 376 mil, em 1914. Criou-se um padrão diferenciado de desenvolvimento entre as regiões ligadas mais diretamente à atividade pecuária e as demais atividades econômicas. Imperialismo informal Países de clima tropical Brasil, Colômbia, Equador, América Central e Caribe basicamente exportadores de café, cacau e frutas. A infraestrutura foi montada a partir do produto exportado. A partir de 1890, os investimentos americanos se tornam predominantes na América Central e Caribe, fortalecendo o entendimento da Doutrina Monroe, de 1823. Algumas ações neste sentido: abertura do Canal do Panamá, em 1913, cuja região foi tornada independente da Colômbia, em 1903; controle das rendas alfandegárias da Nicarágua (1911) e Dominicana (1905-7), além das atuações abertas da United Fruit em Cuba, Honduras, San Salvador e Costa Rica, transformando várias áreas em enclaves norte-americanos. Imperialismo informal Países exportadores de minérios México, Chile, Peru, Bolívia e Venezuela a demanda internacional por matérias-primas (petróleo, nitratos, cobre, estanho), largamente estimulada pelos novos processo fabris, intensificou os investimentos de capital estrangeiros na área de produção e exportação de minérios, desnacionalizando amplos setores de suas economias. Interesses estrangeiros estavam por trás da guerra do Chile contra Peru e Bolívia, bem como da construção de 24,7 mil km de estradas de ferro no México, que mais que servirem de integração àquele país, estavam a serviço das companhias americanas que as construíram. Imperialismo Formal Colônias de enraizamento Eram compostas de maioria de população de origem européia, que ignorava ou exterminava os nativos. São consideradas colônias pela falta de autonomia política, pelos investimentos externos centrados na infraestrutura voltada à economia de exportação e a especialização da produção. Era o caso da Austrália, Nova Zelândia, grandes exportadoras de lã, e Canadá, que receberam os excedentes populacionais ingleses. A população da Austrália saltou de 1,6 milhões em 1870, para 4,9 milhões em 1914. Imperialismo Formal Colônias de enquadramento Compostas de minorias brancas impondo-se sobre nativos, controlando postos-chaves na administração, justiça e forças de segurança. Eram maioria entre as colônias africanas e asiáticas em Estados pouco articulados, ou ainda organizados de forma tribal. Os grandes custos da administração compensavam pela exploração brutal dos nativos e pela espoliação de seus recursos naturais. Era o caso, também, na Índia Britânica, onde 5 mil funcionários ingleses controlavam 300 milhões de indianos. Imperialismo Formal Protetorados Era a forma mais “inteligente” de dominação colonial. Onde os colonizadores exerceram dominação indireta, mantendo os poderes locais e cooptando elites nativas. Aconteceu em locais dos Estados mais organizados, como o Egito, Marrocos e Indochina (Vietnã, Laos e Camboja). A atuação dos franceses na Indochina foi o melhor exemplo de protetorado, pois conservando as propriedades das elites locais, mantinham a população em regime de semiescravidão nos vastos seringais concedidos no interior, administrando, ainda, a exploração de sal, a produção e a distribuição de álcool e do ópio. Os franceses forçaram um aumento nos preços do sal, na Indochina, em 450%, entre 1897 e 1907. Imperialismo Formal Áreas de Influência Havia, ainda, um outro tipo de atuação dos colonizadores europeus que eram as Áreas de Influência. Eram regiões independentes, onde as potências coloniais competiam entre si para obter concessões econômicas, como estradas de ferro e portos exclusivos ou, ainda, a cessão de territórios. Os melhores exemplos são o Império Otomano (concorrência entre alemães e ingleses), Pérsia (entre Inglaterra e Rússia) e China. Imperialismo Formal O Caso da China A presença britânica na China ampliou-se pela necessidade de encontrar mercado para o excesso da produção de ópio da Índia, por forçarem as Guerras do Ópio (1839-1842 e, a segunda, em 1857), cuja derrota da China trouxe a cessão de Hong-Kong, vários portos de comércio e a autorização de navegação do rio Iang-Tsé aos ingleses. A partir de 1870, a China seria divida em áreas de influências de várias potências. A revolução de 1911 derrubou o império e instalou a república, retalhando formalmente o território em diversas porções. Não se transformaram em protetorados pela ação dos EUA, ao exigir política de portas abertas, por seu atraso na “corrida”. Formas de trabalho sob o Imperialismo Não importava como fossem as relações de trabalho ou de produção nas regiões periféricas, desde que seu vínculo econômico com as áreas centrais implicasse em relações de troca capitalistas, ou seja, se traduzisse em mercadorias. Conclusão O imperialismo solucionou dois grandes problemas do capitalismo monopolista: o excesso de capitais e de população. E as populações trabalhadoras das economias centrais se beneficiaram destas relações de dominação centroperiferia pelo advento das sociedades de massa, ou pela popularização do consumo interno dos países industrializados.