PRE-VEST
HENRIQUE
20-03-2015
PORTUGUÊS
Trovadorismo
O Trovadorismo é a manifestação artística que ocorre
durante a Idade Média. Era composta por poemas que
possuíam uma forte relação com a música. Daí a
denominação de cantigas medievais. Compreende o
período que vai, aproximadamente, do século XII ao século
XIV.
Cantiga da Ribeirinha
No mundo non me sei parelha
mentre me for como me vai,
ca já moiro por vós – e ai
mia senhor branca e vermelha,
queredes que vos retraia
quando vos eu vi em saia!
Mau dia que me levantei,
que vos enton non vi fea!
E, mia senhor, dês aquel dia’ai!
me foi a mim mui mal,
e vós, filha de Don Paai
Moniz, e ben voz semelha
d’haver eu por vós guarvaia,
pois eu, mia senhor, d’alfaia
nunca de vós houve nen hei
valia d’ua Correa.
(Moisés, Massaud. A Literatura Portuguesa através dos
textos. São Paulo, Cultrix, 1994.)
No mundo ninguém se assemelha a mim / enquanto a
minha vida continuar como vai / porque morro por ti e ai /
minha senhora de pele alva e faces rosadas, / quereis que
eu vos descreva (retrate) / quanto eu vos vi sem manto
(saia: roupa íntima) / Maldito dia! me levantei / que não
vos vi feia (ou seja, viu a mais bela)
E, minha senhora, desde aquele dia, ai / tudo me foi muito
mal / e vós, filha de don Pai / Moniz, e bem vos parece / de
ter eu por vós guarvaia (guarvaia: roupas luxuosas) / pois
eu, minha senhora, como mimo (ou prova de amor) de vós
nunca recebi / algo, mesmo que sem valor.
É a Cantiga de Amor mais antiga conhecida, na
qual o trovador confessa seu amor pela senhora,
lamentando que ela lhe seja inacessível. Muitos textos se
perderam. O Trovadorismo nasce no sudoeste francês, na
região da Provença, e leva esse nome porque as cantigas
são efetivamente cantadas.
A partir do século XII. Portugal começava a afirmase como reino independente, embora ainda mantivesse
laços econômicos, sociais e culturais com o restante da
Península Ibérica. Desses laços surgiu, próximo a Galícia
(região ao norte do rio Douro), uma língua particular, de
traços próprios, chamada galego-português. A produção
literária desta época foi feita nesta variação linguística.
A cultura trovadoresca refletia bem o panorama
histórico desse período: as Cruzadas, a luta contra os
mouros, o feudalismo e o poder espiritual do clero.
O período histórico em que surgiu o Trovadorismo
foi marcado por um sistema econômico e político chamado
Feudalismo, que consistia numa hierarquia rígida entre
senhores: um deles, o suserano, fazia a concessão de uma
terra (feudo) a outro indivíduo, o vassalo. O suserano, no
regime feudal, prometia proteção ao vassalo como
recompensa por certos serviços prestados. Essa relação
entre suserano e vassalo era chamada de vassalagem.
Três camadas rigidamente distintas marcam a
hierarquia da sociedade feudal:
Nobreza - detinha o poder sobre as terras e as pessoas que
nela
trabalhavam
(vassalagem)
Clero - extremamente rico, graças à posse de grandes
extensões territoriais. Nesta época o poder da Igreja era
bastante forte, visto que além das grandes extensões de
terra que possuía, dedicava-se também a política. Os
conventos eram verdadeiros centros difusores da cultura
medieval, pois era neles que se escolhiam os textos
filosóficos a serem divulgados, em função da moral cristã.
Povo - classe numericamente maior, porém politicamente a
menos importante
Os senhores feudais (nobres) eram proprietários
dos feudos, aldeias circundadas por terras cultiváveis;
nessas terras o povo trabalhava.
A terra era o índice da fortuna de um homem e era
disputada constantemente através de guerras.
Para se defender os nobres contratavam
guerreiros, formando espécie de exército, que eram pagos
em terra.
Dessa troca, surge a figura do vassalo, homem
que, ao receber o feudo, jurava fidelidade e serviço ao seu
senhor e essa relação denomina-se vassalagem.
A possibilidade de passagem de uma classe para
outra era praticamente impossível, pois qualquer tentativa
nesse sentido equivalia a contrariar a vontade de Deus.
A religiosidade foi um aspecto marcante da cultura
medieval portuguesa. A vida do povo lusitano estava
voltada para os valores espirituais e a salvação da alma.
Nessa época, eram frequentes as procissões, além das
próprias Cruzadas – expedições realizadas durante a Idade
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Média, que tinham como principal objetivo a libertação dos
lugares santos, situados na Palestina e venerados pelos
cristãos.
Até mesmo as artes tiveram como tema motivos
religiosos. Tanto a pintura quanto a escultura procuravam
retratar cenas da vida de santos ou episódios bíblicos.
Quanto à arquitetura, o estilo gótico é o que predominava,
através da construção de catedrais enormes e imponentes,
projetadas para o alto, à semelhança de mãos em prece
tentando tocar o céu.
A figura de Deus domina toda a cultura da época,
gerando uma visão de mundo baseada no teocentrismo, ou
seja, Deus como o centro do Universo.
A Igreja medieval exprimia o modo de pensar da
classe dominante e se baseava na ideia de que a natureza
humana é apenas uma expressão da vontade divina.
A autoridade da Igreja, dominando a cultura
medieval, levou a uma concepção de mundo segundo a
qual todas as coisas terrenas estão ligadas ao mundo
divino.
O homem é colocado num plano subalterno,
sendo a salvação da alma sua preocupação básica.
O poeta da época era chamado trovador e as
poesias eram feitas para serem cantadas, e por isso
chamadas de cantigas.
outra amante. Procuram demonstrar a mulher
dialogando com a sua mãe, com uma amiga ou com a
natureza, sempre preocupada com seu amigo
(namorado). Ou ainda, o amigo é o destinatário do
texto, como se a mulher desejasse fazer-lhe
confidências de seu amor. (Mas nunca diretamente a
ele. O texto é dialogado com a natureza, como se o
namorado estivesse por perto, a ouvir as juras de
amor.) O ambiente da história é o campo.
Aspectos estilísticos
Revela os sentimentos de um eu-poético feminino
 Ausência do amado – o eu-poético revela não
saber seu paradeiro
 Amor natural e espontâneo – alguns revelam que
já foi realizado, e a moça espera por um bis
 Confissão dos sentimentos feito indiretamente ao
amado – o eu-poético confessa seus sentimentos à
outrem.
 Mulher mais próxima da realidade – que sofre
pressão social, sua madre (mãe) exerce esse
poder.
 Patriarcalismo – comportamento vigiado
 Estrutura de poesia folclórica, uso de elementos
reiterativos, principalmente paralelismo e refrão.
 Musicalidade – Paralelismo e refrão são recursos
que dão musicalidade, reforçam a ideia principal
do texto e facilitam sua memorização.
Nessa etapa os textos antigos foram subdivididos
em dois grupos: cantigas líricas (Cantigas de Amor e de
Amigo) e cantigas satíricas (cantigas de escárnio e de
maldizer).
 As Cantigas de Amor tem linguagem erudita,
enunciados masculinos, que representam o sofrimento
pelo amor não realizado e sem recompensa. O
trovador declara seu amor a uma dama, uma mulher
Paralelismo – repetição de expressões ou significados.
inatingível. O amante deve ser submetido à dama,
numa vassalagem humilde e paciente, honrando-a com
Refrão – repetição de versos, geralmente no final de cada
fidelidade, sempre. A amada é sempre uma nobre e o
estrofe de um poema.
autor, um subalterno. O nome da mulher amada vem
 Ainda no Trovadorismo, as Cantigas de Escárnio
oculto por força das regras de mesura (boa reputação
criticam ou ridicularizam membros da sociedade como
extrema) ou para não comprometê-la. (DIZEM que,
pessoas sem talento artístico ou de vida desonesta.
geralmente, nas cantigas de amor o eu-poético é um
Prestam-se também como veículo de vingança. A
amante de uma classe social inferior à da dama).
crítica é sutil e indireta, ou seja, não revelam a quem se
A beleza da dama enlouquece o trovador e a falta
de correspondência gera o tormento de amor.
dirigem e possuem valor irônico.

A frustração coloca o autor em posição de servidão
 Por outro lado, nas Cantigas de Maldizer, com textos
e, não raro, ele anuncia o desejo da morte para
diretos e obscenos há o nome do alvo da depreciação.
amenizar a dor e o sofrimento que essa paixão lhe traz.
É um fingimento poético porque o criador também é
Os autores principais dessas obras, são:D. Dinis
(Rei
de
Portugal),
Paio Soares de Taveirós, Martim Codax,
um nobre. Isso geralmente acontece nos palácios e nas
Fernando
Esguio,
Airas
Nunes de Santiago, João Garcia de
cortes, daí ser considerada uma cantiga mais
Guilharde, D. Afonso Mendes de Besteiros e João Zorso.
“palaciana”.
As poesias trovadorescas estão reunidas em
 As Cantigas de Amigo, da mesma época, também são
cancioneiros. São três os cancioneiros importantes da
fingidas. O enunciador é uma mulher, embora todos os
Literatura Portuguesa: Cancioneiro da Ajuda (possui cerca
textos tenham sido produzidos por homens. A
de 340 cantigas); Cancioneiro da Vaticana (com
aproximadamente 1205 cantigas, inclusive a obra completa
linguagem é mais simples que das Cantigas de Amor e a
de D. Dinis – o Rei Trovador), e; o Cancioneiro da Biblioteca
temática dominante aborda a ausência do amado, que
Nacional: com 1647 cantigas.
partiu para a guerra e não retornou ou talvez arrumou
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PROSA TROVADORESCA
É representada, principalmente, pelas novelas de
cavalaria, livros de linhagens, hagiografias e crônicas. Os
livros de linhagens era uma espécie de árvore genealógica
em que constavam listas de nomes de famílias fidalgas. Já
as novelas de cavalaria, originárias da França, eram
resultado da prosificação de canções com temas épicos
(canções de gesta). Basicamente tratavam das aventuras e
feitos dos cavaleiros medievais, muito influenciadas pela
história do rei Arthur.
Embora importante, a prosa trovadoresca não
sobressai tanto quanto a poesia.
HUMANISMO
Gil Vicente: Considerado o criador do teatro popular em
Portugal. Através dos “Autos” (peças teatrais repletas de
religiosidade), Gil criticou e denunciou os erros de todas as
camadas sociais, sem exceções, embora fosse
subvencionado pelo rei. Essas peças satíricas eram
chamadas de farsas. Sua produção contém 44 obras e sua
coleção de personagens é vasta: o padre corrupto, a beata,
os aristocratas decadentes, entre outros. Seus
personagens, geralmente, não têm nome, são designados
pela profissão.
Obras: Monólogo do Vaqueiro, Auto da Índia, Quem tem
farelos?, Trilogia das Barcas (Auto da barca do inferno, Auto
da barca do purgatório e Auto da barca da glória), Auto da
Lusitânia (essa tem o Todo Mundo, Ninguém, Berzebu e
Dinato), etc..
Com o início da conquista dos mares, o
mercantilismo e a formação do Estado nacional, surge o
Humanismo.
Na literatura, o marco é a historiografia de Fernão
Lopes, considerado o pai da História de Portugal, autor de
crônicas que retratam a nobreza, o povo e a nação
portuguesa. A poesia palaciana é recitada nos saraus da
corte e não cantada – é colecionada por Garcia de Resende
no Cancioneiro Geral, publicado em 1516. A época também
é marcada pelo teatro vicentino. Em 1502, ele declama o
Monólogo do Vaqueiro, mais tarde chamado Auto da
Visitação, que anuncia o nascimento do rei D. João III.
À época do Humanismo (aproximadamente de
1418 a 1527), cultivaram-se a historiografia, a prosa
doutrinária, o teatro, a poesia e as novelas de cavalaria.
O Humanismo foi um movimento ideológico de
transição que modificou o pensamento medieval,
preparando-o para a vinda do Renascimento ou
Classicismo. Essa mudança consistia principalmente na
valorização do homem (antropocentrismo) em oposição ao
teocentrismo cultivado durante a Idade Média, o que
causou uma radical transformação no modo de pensar.
O poeta Francisco Sá retorna da Itália e introduz
em Portugal os fundamentos da nova escola: o verso “de
medida nova”, os decassílabos. Luís Vaz de Camões é o
poeta de primeira grandeza, com fantástica produção lírica,
e autor de uma das maiores epopeias de todos os tempos:
Os Lusíadas.
Os principais autores dessa época são:
 na Historiografia: Fernão Lopes e Rui de Pina.
 na Prosa Doutrinária: D. Duarte
 na Poesia: Garcia de Resende
 no teatro: Gil Vicente
TROVADORISMO
Fernão Lopes: Em 1418, foi nomeado arquivista oficial da
Torre do Tombo e passou a escrever a historiografia de
Portugal. Embora tivesse que concentrar-se nos reis,
Fernão acabou por escrever sobre o sentimento do povo,
seus costumes, etc.. Isso constituiu uma base para
historiografia moderna. Fernão é considerado o melhor
prosador medieval português. Escreveu “Crônicas de D.
Pedro”, “Crônica de D. Fernando” e “Crônica de D. João I”.
b) Que tipos de composições poéticas se cultivaram
nessa época?
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(Época Medieval) do século XII ao século XV
 homem voltado para o céu e para Deus
 teocentrismo: Deus
 espiritualismo
 espírito de renúncia
 cristianismo
 preocupação com a salvação da alma
 submissão à Igreja e ao senhor feudal
 as línguas são os dialetos
 linhas em ascenção para Deus: gótico
 o Evangelho: fonte de inspiração artística
 o latim a serviço da fé
 submissão à ordem estabelecida por Deus no
universo
 exaltação das faculdades do espírito
 sobreposição da vida eterna à terrena
 predomínio do sentimento sobre a razão
Exercícios
1 . (Fuvest-SP) “Coube ao século XIX a descoberta
surpreendente da nossa primeira época lírica. Em 1904,
com a edição crítica e comentada do Cancioneiro da Ajuda,
por Carolina Michaelis de Vasconcelos, tivemos a primeira
grande visão de conjunto do valiosíssimo espólio
descoberto.” C. Primão
a) Qual é essa “primeira época lírica”?
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02 - (Mackenzie-SP) Assinale a alternativa incorreta a
respeito do Trovadorismo em Portugal.
a) Durante o Trovadorismo, ocorreu a separação entre
poesia e a música.
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b) Muitas cantigas trovadorescas foram reunidas em livros
ou coletâneas que receberam o nome de cancioneiros.
c) Nas cantigas de amor, há o reflexo do relacionamento
entre o senhor e vassalo na sociedade feudal: distância e
extrema submissão.
d) Nas cantigas de amigo, o trovador escreve o poema do
ponto de vista feminino.
e) A influência dos trovadores provençais é nítida nas
cantigas de amor galego-portuguesas.
03 - Levando em consideração as características das
Cantigas de Amor, análise a letra de “A canção queixa”, de
Caetano Veloso e possíveis semelhanças em relação a
temática trovadoresca:
A CANÇÃO QUEIXA – de Caetano Veloso
Um amor assim delicado
Você pega e despreza
Não o devia ter despertado
Ajoelha e não reza
Dessa coisa que mete medo
Pela sua grandeza
Não sou o único culpado
Disso eu tenho certeza
Princesa, surpresa
Você me arrasou
Serpente, nem sente
Que me envenenou
Senhora, e agora?
Me diga onde eu vou
Senhora, serpente, princesa
04 – Leia e aponte os elementos estilísticos característicos
das cantigas de amigo a partir da cantiga a seguir:
Vi eu, mia madr’,andar
as barcas eno mar
e moiro-me d’amor
Fui eu, madre, veer
as barcas eno ler:
e moiro-me d’amor.
As barcas eno mar
a foi-las aguardar:
e moiro-me d’amor
As barcas eno ler
E foi-las atender
e moiro-me d’amor
E foi-las aguardar
e non o pud’achar:
e moiro-me d’amor.
(Nuno Fernandes Torneo
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