E.E.B. Aluro Müller Florianópolis / SC 1ª série / 2015 AS ORIGENS DA LITERATURA BRASILEIRA Origens Europeias Foram os gregos, e depois os romanos, que lançaram as bases de toda a tradição cultural do Ocidente. Da Idade Média ao Renascimento, essa tradição gerou, na Europa, um conjunto de obras decisivo para nossa civilização. A produção artística, que se concentrava nas mãos da Igreja, sai dos mosteiros, ganha as cortes e as ruas. 476 início da Idade Média com a conquista de roma, capital do IDADE MÉDIA Império Romano do Ocidente, pelas A Idade Média é um período que forças do general germânico tem início com a conquista de Roma, Odoacro. capital do Império Romano do pelos comandantes 768 Carlos Magno torna-se rei dos Ocidente, germânicos no ano de 476 (séc. V), e francos. com a queda de 800 Carlos Magno é coroado termina Imperador do Sacro Império Romano. Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente, tomada pelos 814 Morte de Carlos magno. 1061 – 1091 conquista normanda da turcos em 1453. Uma das heranças do período de Sicília 1066 Guilherme, o Conquistador, dominação romana na Europa duque da Normandia, conquista a durante a Idade Média foi o cristianismo. Aos poucos, a Igreja Inglaterra. 1086 – 1127 Vida de Guilherme IX, Católica cresceu, enriqueceu e nobre provençal criador do amor concentrou um grande poder religioso. Essa herança conviveu com cortês. 1135 – 1190 Vida de Chrétien De mudanças na ordem social que Troyes, autor da primeiras novelas de tiveram expressão significativa na cavalaria sobre o rei Artur e os literatura o período. Cavaleiros da Távola Redonda. 1140 Fundação de Portugal Religião e cultura Uma importante manifestação do poder da Igreja medieval era seu controle quase absoluto da produção cultural. Em uma época em que apenas 2% da população europeia era alfabetizada, a escrita e a leitura estavam praticamente restritas aos mosteiros e abadias. Os religiosos reproduziam ou traduziam textos sagrados do Cristianismo e obras de grandes filósofos da Antiguidade, como Platão e Aristóteles, que NÃO representassem uma ameaça ao poder da Igreja. Como a circulação dos textos dependia de sua reprodução manuscrita, quase sempre feita sob encomenda, a divulgação da cultura tornava-se ainda mais difícil, porque o número de cópias em circulação era bem pequeno. O uso do latim como língua literária, outra herança do longo período de dominação roamana na Europa, também contribuía para dificultar o acesso aos textos. Poemas e canções eram compostos em latim por monges eruditos que vagavam de feudo em feudo e, desse modo, divulgavam suas composições. A maior parte dessa produção abordava temas religiosos. Uma nova organização social A morte do Imperador Carlos Magno, em 814, desencadeou o enfraquecimento do poder central e obrigou a sociedade medieval a se reorganizar em torno dos grandes proprietários de terra, os senhores feudais. Uma pequena corte passou a se reunir em torno do senhor feudal. Dela faziam parte membros empobrecidos da nobreza, cavaleiros, camponeses livres e servos. Estavam unidos por uma relação de dependência pessoal: a vassalagem. A relação entre nobres, cavaleiros e senhores feudais eram regidas por um código de cavalaria baseado na lealdade, na honra, na bravura, na cortesia. O nascimento da Literatura Portuguesa O poder da Igreja Em 1140, Portugal se separou do reino de Leão e Castela para se tornar um estado independente. Essa separação política não rompeu seus profundos laços econômicos, sociais e culturais com o resto da península Ibérica. O mais forte desses laços era a língua: o galego-português. No período conhecido como Alta Idade Média, o clero estimulava as pessoas a acreditar que eram imperfeitas e inferiores e a buscar a salvação na total submissão à Igreja, que representava, no mundo, a vontade de Deus. Essa postura servil perante Deus e a Igreja é denominada teocêntrica. O nascimento da literatura portuguesa coincide com o do próprio país. É nas cortes dos reis e dos magnatas portugueses, galegos e castelhanos que o lirismo galego-português germina. Os trovadores galego-portugueses desenvolvem sua lírica amorosa influenciados pela literatura provençal (uma região da França). Projeto literário do TROVADORISMO Era medieval 1189 1418 ..... TROVADORISMO século XII a XIV .... Teocentrismo Arte gótica Ambiente palaciano Produção oral (acompanhada de instrumentos musicais) Cantigas trovadorescas Novelas de cavalaria Hagiografias (=biografias de santos) Poesia trovadores: antigas de amor Cantigas de amigo Cantigas satíricas Cantigas de maldizer Cancioneiros Cantigas Líricas Cantigas satíricas * cantigas de escárnio * cantigas de maldizer As peregrinações a Santiago de Compostela eram feitas na Galiza, região da Espanha. Para lá iam também os “troubadours” de Provença, cidade do sul da França, que já tinha um forte movimento poético desde o século XI. Esse intercâmbio religioso favoreceu o desenvolvimento do Trovadorismo em Portugal. Cantigas de amor Cantigas de amigo Cancioneiros1 medievais Cancioneiro da ajuda: credita-se que tenha sido reunido na corte de D.Afonso X, no final do séc. XIII. Contém apenas cantigas de amor dos poetas mais antigos. Cancioneiro da vaticana: compilação encontrada na biblioteca do Vaticano. Inclui cantigas de amor, de amigo e de escárnio e maldizer galego-portuguesas. Cancioneiro da biblioteca nacional: o mais completo dos cancioneiros. Contém um pequeno tratado de poética trovadoresca, a “Arte de trovar”. TROVADORISMO Designa o primeiro movimento literário surgido em língua portuguesa ou galegoportuguês. Literatura oral para entreter os homens e as mulheres da nobreza. Redefinição do papel dos cavaleiros nas cortes. Criação de estruturas literárias equivalentes às da relação de vassalagem. Sociedade: subserviência total a Deus (teocentrismo), representada literariamente pela submissão do trovador à dama (na poesia) ou do cavaleiro à donzela (nas novelas de cavalaria). Novelas de Cavalaria De acordo com o tema (assunto) de que tratam, as novelas agrupam-se em: Ciclo clássico: novelas que narram a Guerra de Troia e as aventuras de Alexandre, o Grande. Ciclo arturiano ou bretão: histórias envolvendo o rei Artur e os Cavalerios da Távola Redonda. Ciclo carolíngio ou francês: histórias do rei Carlos Magno e os Doze Pares de França. O Trovadorismo em Portugal inicia provavelmente em 1189 (ou 1198), E é marco a famosa Cantiga de Amor “Canção da Ribeirinha” ou “Cantiga de guarvaia”, atribuída a Paio Soares de Taveirós. Ela teria sido oferecida a Maria Pais Ribeiro, a “Ribeirinha”, amante de D.Sancho I, rei de Protugal. Cronicões – textos escritos para registrar os fatos históricos em ordem cronológica. Os poetas trovadoristas, vivendo uma sociedade feudal, refletiam em suas cantigas de amor as relações de vassalagem que caracterizam o feudalismo. Hagiografias – relatos da vida dos santos. VASSALOS juravam obediência ao seu senhor feudal. SENHOR FEUDAL = donos das terras. Nobiliários – livros de linhagem, ou seja, registros de nascimentos, casamentos e mortes de uma determinada família de nobres. 1. Cancioneiro: coletânia de canções ou cantigas de autores de uma determinada época. CANTIGAS DE AMOR As Cantigas de Amor exprimem a paixão infeliz, o amor não correspondido que um Trovador (caracterizado nas composições por um eu lírico masculino) dedica a sua senhora. É frequente a adoção de uma postura servil por parte do eu lírico, que suplica a atenção da mulher amada (tratada como “senhor”, termo feminino no português arcaico), ao mesmo tempo em que afirma o estado de infelicidade em que vive, desde que a viu. Esse sentimento é conhecido como coita d’amor, isto é, amor-sofrimento. Cantiga da Ribeirinha No mundo non me sei parelha, mentre me for como me vai, ma já moiro por vós – e ai mia senhor branca e vermelha, queredes que vos retraia quando vos eu vi em saia! mau dia me levantei, que vos enton non vi fea! ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ E, mia senhor, dês aquel di’, ai! me foi a mi mui mal, e vós, filha de don Paai Moniz, e bem vos semelha d’haver eu por vós guarvaia, pois eu, mia senhor, d’alfaia nunca de vós houve nun hei valia d’una correa. Paio Soares de Taveirós ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________ Retraia: retrate, descreva. Saia: sem manto. Guarvaia:veste de luxo. Alfaia: presente Características das cantigas de amor Origem provençal Voz lírica masculina Tratamento dado à mulher: mia senhor Expressão da vida da corte Convenções do amor cortês: a) idealização da mulher; b) vassalagem amorosa; c) expressão da coita. CANTIGAS DE AMIGO A Cantiga de Amigo é de tradição popular (origem: península Ibérica), simples e expontânea. O eu lírico é normalmente uma moça cujo namorado (amigo) partiu para combater, e daí surge a temática da solidão, da tristeza e da saudade. A cantiga de Amigo reflete a sensibilidade, os problemas e a visão do mundo das populações desfavorecidas, que trabalham no campo e na cidade. Cantar d’amigo Amiga, muit’há gran sazon que foi daqui com el-rei meu amigo; mais já cuidei mil vezes no meu coraçon que algur morreu com pesar, pois non tornou migo falar. (versão atual) Amiga, há muito tempo que partiu daqui com el-rei o meu amado; mas já pensei mil vezes no meu coração Porque tarda tan muito lá, e nunca me tornou ver, amiga, si veja prazer, mais de mil vezes cuidei já que algur morreu com pesar, pois non tornou migo falar. Por que demora tanto lá, E nunca voltou a me ver, Amiga, que ele esteja bem, Mais de mil vezes já pensei Amiga, o coraçon seu era de tornar ced’aqui u visse os meus olhos em mi; e por em mil vezes cuid’eu que algur morreu com pesar, pois non tornou migo falar. D.Dinis Amiga, a intenção dele era voltar cedo aqui onde visse meus olhos em mim e por isso mil vezes penso eu que em algum lugar morreu de pesar, pois não voltou a falar comigo. que em algum lugar morreu de pesar, pois não voltou a falar comigo. que em algum lugar morreu de pesar, pois não voltou a falar comigo. Características das cantigas de Amigo Origem popular e autóctone (isto é, na própria Península Ibérica) Voz lírica feminina. Tratamento dado ao namorado: amigo Expressão da vida campesina e urbana. Realismo: fatos comuns da vida cotidiana. Amor realizado ou possível > sofrimento amoroso. Paralelismo e refrão. CANTIGA SATÍRICAS NOVELAS DE CAVALARIA As Cantigas Satíricas apresentam interesse sobretudo histórico. São verdadeiros documentos da vida social, principalmente da corte. Fazem ecoar as reações públicas a certos fatos políticos; revelam detalhes da vida íntima da aristocracia, dos trovadores, ... trazendo até a atualidade os mexericos e os vícios ocultos da fidalguia medieval portuguesa. As Cantigas de Escárnio procuram só sugerir a pessoa alvo, sem revelar seu nome, ao passo que as Cantigas de Maldizer geralmente identificam. Enquanto as Cantigas de Escárnio utilizam a ironia e o equívoco para realizar mais indiretamente essas zombarias, as Cantigas de Maldizer são sátiras diretas. (Cantiga de Maldizer) Ai dona fea! Foste-vos queixar porque vos nunca lov’em meu trobar, mais ora quero fazer um cantar em que vos loarei toda via; e vedes como vos quero loar: dona fea, velha e sandia! Ai dona fea! Se Deus me perdon! e pois havedes tan gran coraçon que vos eu loe en esta razon, vos quero já loar toda via, e vedes qual será a loaçon: dona fea, velha e sandia! Dona fea, nunca vos eu loei em meu trobar, pero muito trobei; mais ora já un bon cantar farei em que vos loarei toda via; e direi-vos como vos loarei: dona fea, velha e sandia! J. Garcia de Gulharde Características das cantigas satíricas Cantigas de escárnio: Indiretas uso da ironia e do equívoco Cantigas de maldizer: diretas, sem equívocos intenção difamatória palavrões e xingamentos. Narram aventuras de cavaleiros andantes ou de guerreiros investindo contra os Mouros (povo mulçumano que habitava o Norte da África; não batizados). A origem dessas novelas está na CANÇÃO DE GESTA (=guerra), que eram poemas épicos que celebravam feitos heroicos de personagens (guerreiros) históricos ou lendários; mais tarde, entremeados de enredos amorosos. É o caso do célebre “Chanson de Roland”, poema do século XI. Com o passar do tempo, as Canções de Gesta passaram a ser narradas em prosa, o que veio facilitar ainda mais a sua tradução e popularidade. Por volta de 1200 aparece a famosa novela Lançarote, que abrangia as novelas A Demanda do Santo Graal e A morte do rei Artur. ......................................................................................Ampliando os estudos: TROVADORISMO / CONTEXTO www.youtube.com/watch?v=TFdIgLqheGE TROVADORISMO /PARÓDIA www.youtube.com/watch?v=1rKaLAGBb9I TROVADORISMO / GÊNERO LÍRICO www.youtube.com/watch?v=UzYXV7tMcYQ&list=PLzoo5nTBxl5IcglW1WcRvJ_A HXDz0BvaU&index=3 MÚSICA: www.youtube.com/watch?v=14F2yWWqWU8 TROVADORISMO / GÊNERO SATÍRICO www.youtube.com/watch?v=NGBWnyAlJGM&index=4&list=PLzoo5nTBxl5IcglW 1WcRvJ_AHXDz0BvaU MÚSICA: www.youtube.com/watch?v=WPOCkwXR9M8 MÚSICA/ MALDIZER: www.youtube.com/watch?v=zUDfvOsTuyY TROVADORISMO /NOVELAS DE CAVALARIA www.youtube.com/watch?v=vU1Yo9zWATQ E.E.B. Lauro Müller Florianópolis / SC 1ª série/2015 4.(UFRGS-RS) Aluno: ______________________________ data ____________________ Exercícios: 1.(UFMA-MA) Hun tal home sei eu, ai, bem talhada, que por vós tem a as morte chegada; vedes quem é e seed’em nembrada; eu, mia dona! Hun tal home seu eu que preto sente de si morte chegada certamente: vedes quem é e venha-vos em mente: eu, mia dona! Hum tal home sei eu, aquest’oide: que por vós morre, e vo-lo em partide; vêdes quem é, non xe vos obride: eu, mia dona! Cancioneiro d’el-Rei d. Dinis Texto II Ai eu, coitada, como vivo em gram cuidado por meu amigo que tarda e nom vejo! Muito me tarda o meu amigo na Guarda! Dom Sancho I. A lírica galego-portuguesa 2. (UFMA-MA) Considerando ainda a mesma cantiga, indique a alternativa que contempla as características do texto: ) lírica; linguagem popular; ibérica. ) lírica, feminismo, de maldizer. ) lírica; amor cortês; provençal. ) satírica; realista; simples. ) satírica; obscena; amor cortês. Compare os dois textos e aponte semelhanças entre eles: a. Considerando a finalidade com que foram compostos. ..................................................................................................................... ..................................................................................................................... ..................................................................................................................... b. Considerando o tema. ...................................................................................................................... ...................................................................................................................... 5. Considerando a voz lírica de cada poema: a. Que classificação recebe o texto II na poética trovadoresca? Por quê? ............................................................................................................................. b. Como seria classificado o texto I se pertencesse ao Trovadorismo? Por quê? ................................................................................................... ................................................................................................................... 6. 3. (UEPA-PA) Sobre os versos de Caetano, pode-se afirmar: [...] Princesa Surpresa Você me arrasou Serpente Nem sente que me envenenou Senhora, e agora Me diga onde vou [...] Caetano Veloso. Queixa. Sempre procurando mas ela não vem E esse aperto no fundo do peito Desses que o sujeito não pode aguentar Ah! Esse aperto aumenta meu desejo E não vejo a hora de poder lhe falar. Targino Gondim, Manuca, Raimundinho do Acordeon CD Eu, tu eles in: Gilberto Gil No poema, o final dos últimos versos – mia dona! – caracteriza um cantar medieval, que se classifica como ................................................................ a. ( b. ( c. ( d. ( e. ( Texto I a. ( ) não existe neles a noção da força do poder feminino. b. ( ) a situação da mulher neles referida é a mesma que encontramos nas cantigas de amigo do Trova dorismo. c. ( ) lembram-nos aquela situação de vassalagem que marca as relações amorosas das cantigas de amor do Trovadorismo.