TROVADORISMO A cultura trovadoresca, surgida entre os séculos XI E XII, reflete bem o período medieval caracterizado pelo teocentrismo, pelo poder religioso, pela relação de vassalagem, pela descentralização do poder, pelo misticismo, pelas cruzadas e as reconquistas cristãs. CANTIGAS Os textos poéticos desta primeira época medieval eram acompanhados por músicas e normalmente cantados em coro, por isso foram chamados de cantigas. Podemos reconhecer dois grandes grupos de cantigas: as cantigas líricas e as cantigas satíricas. As cantigas líricas se subdividem em cantigas de amor e cantigas de amigo, as cantigas satíricas, em cantigas de escárnio e cantigas de maldizer. CANTIGAS LIRICAS: 1) Cantigas de Amor Origem: No intuito de retratar a vida aristocrática nas cortes portuguesas, as cantigas receberam de amor influência de um tipo de poesia originário da Provença – região sul da França, daí o nome de poesia provençal (praticada inicialmente entre a nobreza) –, como também da poesia popular, ligada à música e à dança. Características: Eu lírico masculino, e representa o trovador que dirige elogios a uma dama. Sofrimento amoroso (coita), paixão infeliz → amor não correspondido, amor impossível. Esse sofrimento toma conta do eu lírico chegando a provocar nele uma vontade de morrer. Indiferença da mulher amada. O nome da amada não é revelado. A mulher é vista como um ser inatingível, uma figura idealizada (modelo de mulher graciosa, delicada, bela, em resumo, perfeita), a quem é dedicada um amor sublimado, igualmente idealizado. Vassalagem amorosa: Nas cantigas de amor o eu lírico se remete constantemente a mulher amada com expressões como “meu senhor” isto é, minha senhora (na época a palavra senhora não existia). Com isso a relação de vassalagem existente na era medieval é refletida na cantiga, na qual o eu lírico se considera um vassalo e a amada o seu senhor, ou seja, o homem se declara submisso a mulher amada e a eleva ao maior posto possível. Presença de refrão. →Obs.: Hoje em dia não é mais escrito cantigas de amor, pois por mais que se assemelhem o contexto histórico e cultural é outro, não existe mais vassalagem amorosa. 2) Cantigas de Amigo Origem: As cantigas de amigo têm suas origens na própria Península Ibérica, surgindo do sentimento popular, alcançando posteriormente os palácios. Características: Eu lírico feminino embora a autoria seja masculina. Os homens imaginavam o sentimento feminino. Sofrimento amoroso (coita) vivido pelo eu lírico principalmente por se ver separado do seu amigo (amante ou namorado), sentindo assim grande saudade. A mulher vive angustiada por não saber se o amigo voltará ou não, se a trocará por outra, etc. O eu lírico se apresenta mais otimista e positivo do que o eu lírico das canções de amor. Presença de um confidente (seja a mãe, uma amiga, ou mesmo um elemento da natureza que aparece personificado), montando-se uma estrutura de diálogo. É comum a utilização de paralelismo (repetição parcial- trechos que se repetem no inicio de cada estrofe) e do refrão (nome dado aos versos que se repetem no final da estrofe) CANTIGAS SATÍRICAS 1) Cantiga de escárnio Nas cantigas de escárnio, o trovador critica alguém por meio de palavras de duplo sentido, para que não sejam facilmente compreendidas. São sátiras indiretas. O efeito satírico que caracteriza essas cantigas é obtido por meio de ironias, trocadilhos e jogos semânticos. De modo geral, ridicularizam o comportamento de nobres ou denunciam as mulheres que não seguem o código do amor cortês, jamais revelando o nome da pessoa satirizada. Exemplo: Ai, dona fea, foste-vos queixar que vos nunca louv[o] em meu cantar; mais ora quero fazer um cantar em que vos loarei toda via; e vedes como vos quero loar: dona fea, velha e sandia!... 2) Cantigas de maldizer Nas cantigas de maldizer, o trovador faz suas críticas de modo direto, explícito, identificando a pessoa satirizada. Essas cantigas costumam apresentar linguagem ofensiva e palavras de baixo calão (palavras obscenas, carregadas de erotismo). Seus temas prediletos eram o adultério, amores interesseiros ou amores ilícitos (padres). Exemplo: Roi queimado morreu con amor Em seus cantares por Sancta Maria por ua dona que gran bem queria e por se meter por mais trovador porque lhela non quis [o] benfazer fez-sel en seus cantares morrer mas ressurgiu depois ao tercer dia!... NOVELAS DE CAVALARIA Origem: As novelas surgiram na Inglaterra ou na França (não se sabe ao certo), através da transformação sofrida pelas canções de gesta, poemas medievais cantados em linguagem popular que celebram os feitos dos guerreiros, que foram prosificadas. As canções de gesta passaram a ser tão extensas que se tornou difícil de memorizá-las, passando assim a serem escritas em prosa, e deixando de ser cantadas para serem lidas. Por definição, novelas de cavalaria são narrativas literárias em capítulos que contam os grandes feitos de um herói, mesclados a emocionantes histórias de amor. Vale lembrar que os cavaleiros dessas novelas eram idealizados isso é, um herói perfeito em todos os sentidos (físico, moral, espiritual, etc.). Esse herói era movido pela religião e era o responsável por defender a fé e o território contra os “infiéis”. Por isso as novelas de cavalaria retratam muito bem o contexto histórico da época (Reconquista Cristã, Teocentrismo). Esse herói perfeito foi posteriormente muito criticado através de outras obras, como Dom Quixote, por exemplo. As cantigas de cavalaria se referem constantemente ao Santo Graal. Santo Graal é um termo que designa o cálice que foi utilizado por José de Arimatéia para colher o sangue de Jesus Cristo quando este estava a agonizar na cruz. Os cavaleiros que se dedicavam em buscar e proteger esse cálice eram considerados sagrados. Os principais temas das novelas de cavaria eram: A guerra de tróia e as aventuras de Alexandre o Grande (ciclo clássico) Histórias sobre Carlos Magno e os doze pares de França -O Cavaleiro Inexistente- (ciclo carolíngio) Historias envolvendo o Rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda. (ciclo arturiano)