UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – UFBA ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO DOUTORADO EM ADMINISTRAÇÃO JOÃO CARLOS DE AQUINO TEIXEIRA A dinâmica de adoção de práticas inovadoras e o desempenho dos adotantes: um estudo na indústria brasileira Salvador 2005 JOÃO CARLOS DE AQUINO TEIXEIRA A dinâmica de adoção de práticas inovadoras e o desempenho dos adotantes: um estudo na indústria brasileira Tese apresentada ao Programa de PósGraduação em Administração, Escola de Administração, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor em Administração. Orientadora: Profa. Dra. Elizabeth Loiola Salvador 2005 Sumário Sumário .........................................................................................................................3 Lista de Tabelas.............................................................................................................5 Lista de Figuras ............................................................................................................6 Lista de Figuras ............................................................................................................6 Lista de Quadros ...........................................................................................................7 Lista de Quadros ...........................................................................................................7 Agradecimentos.............................................................................................................9 Resumo ........................................................................................................................10 Abstract........................................................................................................................11 1. Introdução ...........................................................................................................12 2. Em busca de uma abordagem sobre a dinâmica da relação entre inovação, desenvolvimento econômico e organizações ..............................................................21 2.1. Inovação e desenvolvimento econômico ..............................................................26 2.2. Inovação e organizações ......................................................................................32 2.3. Padrões de Mudança e de Inovação nas Organizações......................................35 2.4. Uma proposta de classificação das perspectivas de análise entre tecnologia e organização .........................................................................................................................39 2.5. Críticas às perspectivas tradicionais de análise da relação entre tecnologia e organização .........................................................................................................................42 2.6. Em busca de uma visão mais matizada sobre a dinâmica de processos organizacionais: mudança, inovação, conhecimento e aprendizagem organizacional.46 2.7. Mudança, Inovação, Conhecimento e Aprendizagem nas Organizações........50 2.8. A construção de tipologias de organizações em relação à mudança e à inovação gerencial ..............................................................................................................55 3. Práticas Inovadoras de Gestão ...........................................................................59 3.1. O que são práticas de gestão e uma certa cronologia de aparecimento de práticas selecionadas de gestão .........................................................................................59 3.2 Domínios de Práticas Inovadoras ........................................................................63 3.1.1. Práticas Inovadoras de Gestão de Pessoas ...................................................................... 65 3.1.2. Práticas inovadoras de gestão da produção..................................................................... 77 3.1.2.1. Manutenção Produtiva Total ................................................................................. 78 3.1.2.2. Células de Manufatura .......................................................................................... 82 3.1.3. Práticas inovadoras de gestão do desempenho e da qualidade........................................ 88 3.1.3.1. Gestão da Qualidade Total .................................................................................... 89 3.1.3.2. Reengenharia de Processos ................................................................................. 102 3.1.3.3. Terceirização e Outsourcing ............................................................................... 108 3.1.3.4. Just in Time ......................................................................................................... 113 4. O estado do campo sobre práticas inovadoras de gestão .................................122 5. 6. 4.1. A difusão de práticas de gestão inovadoras no Reino Unido...........................122 4.2. Difusão de práticas inovadoras no Brasil..........................................................127 4.3. Pesquisas comparativas entre o Brasil e outros países ....................................155 Método e Procedimentos...................................................................................163 5.1. Problematização, objetivos e hipóteses .............................................................163 5.2. Modelo de Análise ...............................................................................................182 5.3. Universo e amostras ............................................................................................186 5.4. Instrumento de coleta de informações e sistemática de análise dos dados.....189 Resultados e discussão ......................................................................................192 6.1. Caracterização das amostras .............................................................................192 6.2. Adoção de práticas inovadoras – comparação entre os resultados obtidos em Peixoto (2004) e com a amostra desta tese .....................................................................199 6.2.1. Adoção de práticas inovadoras no Brasil – Nível de Utilização................................... 200 6.2.2. Resultados percebidos com a adoção das práticas – Melhorias em qualidade, reduções em custos e melhorias em responsividade................................................................................... 202 6.2.3. Propensão à continuidade de uso de práticas inovadoras.............................................. 204 6.3. Nível de utilização, características organizacionais e resultados financeiros 210 6.4. Grupos de Práticas..............................................................................................219 6.5. Tipologia de empresas da amostra ....................................................................227 6.5.1. 6.5.2. 6.6. Identificação do número de clusters na amostra ........................................................... 229 Descrição e análise dos agrupamentos identificados .................................................... 230 Modelagem de Equações Estruturais ................................................................239 6.6.1. Relações entre utilização de práticas inovadoras de gestão, desempenho operacional, desempenho financeiro e propensão à continuidade de uso........................................................ 241 6.6.2. Modelo 1 - Práticas Inovadoras de gestão de pessoas, desempenho operacional, desempenho financeiro e propensão à continuidade de uso........................................................ 244 6.6.3. Modelo 2 – Células de manufatura, desempenho operacional, desempenho financeiro e propensão à continuidade de uso................................................................................................. 246 6.6.4. Modelo 3: Reengenharia, reduções de custos, desempenho financeiro e propensão à continuidade de uso..................................................................................................................... 247 6.6.5. Modelo 4: Terceirização, desempenho operacional, desempenho financeiro e propensão à continuidade de uso.................................................................................................................. 248 7. Considerações Finais........................................................................................251 7.1. A adoção de práticas inovadoras de Administração no Brasil........................258 7.2. O grau de adoção de práticas inovadoras, características organizacionais e desempenho financeiro ....................................................................................................259 7.3. A adoção de grupos de práticas inovadoras e Administração ........................262 7.4. Padrões de adoção de práticas inovadoras .......................................................264 7.5. A adoção de práticas inovadoras e o desempenho organizacional .................266 7.6. Utilização de análise multivariada na pesquisa em administração e ciências sociais 268 7.7. 8. Limitações da pesquisa e recomendações para pesquisas adicionais .............269 Referências Bibliográficas................................................................................272 Lista de Tabelas Tabela 4.1 – Satisfação com o Uso de Ferramentas................................................157 Tabela 4.2 – Satisfação com o Uso de Ferramentas................................................159 Tabela 6.1 – Comparação entre a Amostra Peixoto (2004), Amostra Tese e a Distribuição Nacional: Local de Atuação................................................................193 Tabela 6.2 – Comparação entre a Amostra de Peixoto (2004), Amostra desta Tese e Distribuição Nacional: Região .................................................................................194 Tabela 6.3 – Comparação entre a Amostra Peixoto (2004), Amostra desta Tese e Distribuição Nacional: Gêneros Industriais............................................................197 Tabela 6.4 – Comparação entre a Amostra Peixoto (2004) e a Amostra Tese: Faixas por Número de Funcionários ...................................................................................198 Tabela 6.5 – Distribuição Nacional de Empresas por Faixas de Funcionários....198 Tabela 6.6 – Comparação entre a Amostra de Peixoto (2004) e a Amostra Tese: Origem do Capital .....................................................................................................199 Tabela 6.7 – Média da Intensidade de Uso das Práticas no Brasil.........................201 Tabela 6.8 – Teste t para amostras associadas ........................................................202 Tabela 6.9 – Grau de adoção de práticas gerenciais e Localização - Estado .........211 Tabela 6.10 – Grau de adoção de práticas gerenciais e Localização - Região.......212 Tabela 6.11 – Grau de adoção de práticas gerenciais e gênero industrial .............213 Tabela 6.12 – Grau de adoção de práticas gerenciais e número de funcionários..214 Tabela 6.13 – Grau de adoção de práticas gerenciais e origem de capital .............214 Tabela 6.14 – Crescimento da Receita .....................................................................215 Tabela 6.15 – Faixas de Lucro .................................................................................216 Tabela 6.16 – Rentabilidade sobre a Receita ...........................................................217 Tabela 6.17 – Rentabilidade sobre o Patrimônio.....................................................217 Tabela 6.18 – Comunalidades ..................................................................................221 Tabela 6.19 – Variância Total Explicada ................................................................222 Tabela 6.20 - Matriz de Componentes Rotacionados ..............................................223 Tabela 6.21 – Centros Finais dos Clusters...............................................................229 Lista de Figuras Figura 2.1 - O Ciclo da Inovação...............................................................................38 Figura 3.1 – Um framework Integrado entre Gestão da Qualidade Total, Just in Time e Manutenção Produtiva Total..........................................................................63 Figura 3.2 – Um Framework Teórico sobre a Combinação de Práticas Inovadoras ......................................................................................................................................64 Figura 3.3 - Elementos da Manutenção Produtiva Total..........................................79 Figura 3.4: O impacto do desempenho da qualidade no desempenho operacional do negócio.........................................................................................................................95 Figura 4.1 - Tipos de Desenvolvimento Tecnológico ..............................................130 Figura 5.1 - Modelo Heurístico da Crise do Capitalismo e suas Repercussões .....167 Figura 5.2 – Modelo Heurístico de Análise .............................................................186 Figura 6.1 – Nível de Utilização das Práticas na Amostra Original e Amostra Final ....................................................................................................................................205 Figura 6.2 – Alcance das Práticas em Relação a Melhorias em Qualidade, na Amostra Original e Amostra Final...........................................................................206 Gráfico 6.3 – Alcance das Práticas em Relação à Redução de Custos, na Amostra Original e na Amostra Final ....................................................................................207 Figura 6.4 – Alcance das Práticas em Relação à Melhorias em Responsividade, na Amostra Original e na Amostra Final .....................................................................208 Figura 6.5 – Propensão à Continuidade de Uso, na Amostra Original e Amostra Final ..........................................................................................................................209 Figura 6.6 – Centros Finais dos Clusters ................................................................230 Figura 6.7 – Práticas inovadoras, desempenho operacional, desempenho financeiro e propensão à continuidade de uso...........................................................................242 Figura 6.8 - Modelo 1: Práticas Inovadoras de gestão de pessoas, desempenho operacional, desempenho financeiro e propensão à continuidade de uso .............245 Figura 6.9 – Modelo 2: Células de Manufatura, desempenho operacional, desempenho financeiro e propensão à continuidade de uso ...................................247 Figura 6.10 – Modelo 3: Reengenharia, reduções de custos, desempenho financeiro e propensão à continuidade de uso...........................................................................248 Figura 6.11 – Modelo 4: Terceirização, desempenho operacional, desempenho financeiro e propensão à continuidade de uso ........................................................249 Lista de Quadros Quadro 2.1 - Questões centrais em quatro perspectivas organizacionais.................41 Quadro 2.2 - Fronteiras Organizacionais, Forma Organizacional e Ênfase Estatégica ....................................................................................................................48 Quadro 3.1 - Cronologia de Desenvolvimento de Práticas em Administração ........62 Quadro 3.3 - Conceitos Selecionados de Células de Manufatura.............................83 Quadro 3.4. Sumário dos contrastes na implementação e institucionalização ........99 Quadro 4.1 - Taxonomia de práticas inovadoras em produção e organização ......124 Quadro 4.2 – Adoção de Práticas Inovadoras de Administração e Produção no Reino Unido...............................................................................................................126 Quadro 4.3 – Clusters de Empresas em Relação aos Padrões de Adoção de Práticas Inovadoras.................................................................................................................145 Quadro 4.4 – Adoção de Práticas Inovadoras de Administração e Produção Brasil ....................................................................................................................................154 Quadro 5.1 - Definições Operacionais das Práticas de gestão Pesquisadas ..........183 Quadro 6.1 – Fatores Identificados na Amostra .....................................................226 Quadro 6.2 Cluster 1 – Inovadores Intensivos.........................................................231 Quadro 6.3 Cluster 2 – Inovadores Moderados .......................................................233 Quadro 6.4 Cluster 3 – Inovadores Intensivos Indiferentes a Custos ....................235 Quadro 6.5 Cluster 4 – Inovadores Moderados com Foco em Gestão de Pessoas.236 Quadro 6.6 Cluster 5 – Inovadores Moderados Indiferentes a Produção ..............238 Quadro 6.7 – Interpretação e Classificação dos Clusters........................................239 Quadro 7.1 – Objetivos específicos, hipóteses e método estatístico.........................258 A Taís, Luís e João, pela constante compreensão nos momentos de ausência, mas, principalmente, pela alegria e doce companhia. Sem vocês, tudo isto não faria sentido... Agradecimentos Agradeço primeiramente a Deus pela oportunidade e condições de realizar um tão importante projeto de vida e de carreira. Aos meus pais, João Alberto e Maristela, por terem sido figuras tão marcantes em minha vida, exemplos de luta e perseverança. O amor e o orgulho inquestionáveis de vocês sempre foram importantes motivações para que eu acreditasse em minha capacidade de me superar e reinventar. A Professora Elizabeth Loiola, por suas inúmeras e incansáveis contribuições para a realização desta tese, e pela forma cuidadosa com que me auxiliou a superar os desafios surgidos. Ao Professor Antonio Virgílio Bittencourt Bastos, pela sua presença e orientações, sempre tão sensatas e apropriadas. Aos amigos, colegas, professores e dirigentes do Núcleo de Pós-Graduação em Administração e da Escola de Administração da UFBA, por me terem recebido e acompanhado de forma tão carinhosa e atenciosa, pelas orientações e pelo apoio. Em especial à grande amiga Maria Valéria Gaspar de Queiroz Ferreira, que esteve sempre presente, compartilhando as angústias e ansiedades deste processo. Que nossas vidas sejam marcadas por momentos de superação e realização, e que nunca deixemos de almejar às mais nobres realizações. Um agradecimento especial, também, à amiga Ana Luíza Codes, pelo precioso auxílio na elaboração da modelagem de equações estruturais e pelas contribuições prestadas na análise quantitativa desta tese. À tia Marialva de Aquino Póvoas, não somente pela valiosa contribuição dada a esta tese, mas também, e principalmente, pelo carinho, sempre dedicou a mim e à minha família. A todos que me acompanharam durante os últimos anos, que sofreram e se angustiaram, mas também celebraram os momentos mais importantes. Muito Obrigado! Resumo Esta tese avalia a adoção, os resultados percebidos e a propensão à continuidade de uso de doze práticas inovadoras de administração no cenário industrial brasileiro, assim como a relação entre a adoção de práticas inovadoras de gestão e o desempenho operacional e financeiro das adotantes, com base em uma amostra não probabilística por conveniência de 98 empresas, que compõem o banco de dados de pesquisa survey cross section, aplicada junto a 220 empresas com mais de 150 funcionários. Os resultados encontrados sobre adoção de práticas inovadoras foram comparados com os apresentados em Peixoto (2004), não sendo encontradas diferenças relevantes. Foram também verificadas as relações entre a adoção de inovações e as características organizacionais. Apesar de haver diferenças entre características organizacionais e inovatividade, não foram encontrados resultados estatisticamente significativos quanto a estado, região e origem de capital. Entretanto, foram encontrados resultados estatisticamente significativos entre inovatividade e porte organizacional, aqui avaliado levando em conta o número de funcionários, e o desempenho financeiro. Posteriormente, foram investigadas as relações internas entre as práticas investigadas, no intuito de agrupar, com o uso da análise fatorial, aquelas que apresentaram relações entre si. Foram identificados, no grupo de doze práticas avaliadas, três construtos que explicam 51,43% da variância total da amostra – práticas inovadoras de gestão de pessoas, de gestão do processo produtivo e do desenvolvimento de produtos e de gestão do desempenho e dos custos. Esses construtos foram utilizados em análise posterior, de modo a comparar e agrupar as organizações em clusters que apresentaram características semelhantes, tendo sido identificados cinco grupos de empresas – inovadores intensivos, inovadores moderados, inovadores intensivos indiferentes a custos, inovadores moderados com foco em gestão de pessoas e inovadores moderados indiferentes à produção. Por último, foram verificadas as relações entre a adoção das práticas e o desempenho das organizações, tanto operacional quanto financeiro, e ainda com a propensão à continuidade de uso, por meio da modelagem de equações estruturais. A modelagem confirma a existência de associações entre a adoção das práticas e o desempenho operacional, mas não confirma associações com o desempenho financeiro. Abstract This thesis evaluates the adoption, perceived results and the propensity to continue to use of twelve innovative business practices in the Brazilian industrial scenery, as well as the relation between the adoption of innovative managerial practices and the adopters operational and financial performance, based in a non-probabilistic by convenience sample of 98 companies arranged in a research database from a cross section survey methodology, with 220 companies with more than 150 employees. The results found about the adoption of innovative practices were compared to those found in Peixoto (2004), with no relevant differences found. The relationships between the adoption of innovation and organizational features were investigated. In spite of finding differences between organizational features and innovativeness, no statistically significant differences were found as to state, region and capital ownership. Nevertheless, statistically significant relations were found between organizational innovativeness and size, measured through the number of employees, and financial performance. Later, it was investigated the internal relationships between the practices studied, with the intent of arranging, through factor analysis, those which show any relationship among them in groups or constructs. In the twelve practices investigated were identified three constructs that explain 51,43% of the total variance of the sample – innovative practices of management of people, production process and cost and performance. Those constructs were used in a subsequent analysis, aimed at comparing and grouping the companies in clusters that showed similar features. Five clusters were identified – intensive innovators, moderate innovators, intensive innovators unconcerned with costs, moderate innovators focused in people management and moderate innovators unconcerned with production. Finally, the relationship between the adoption of the practices and organizational performance, in both the financial and operational dimensions, and still between the propensity to use the practices were investigated, through structural equation modeling. The modeling confirms the existence of associations between the adoption of innovative business practices and operational performance, but no association was found with financial performance. 1. Introdução Desde o início do século XX, com o advento da Administração Científica, a prospecção, o desenvolvimento e a adoção de novas e melhores práticas gerenciais tornaram-se comportamentos padrões de organizações líderes e seus executivos, em seus respectivos campos de atuação, e de estudiosos e consultores do campo das organizações. Com o avanço do capitalismo em direção a uma nova etapa, as grandes conquistas sociais e produtivas da era de ouro do taylorismo/fordismo parecem ter ficado para trás, erigindo-se uma cortina de fumaça sobre elas. A chegada do novo século e a do novo milênio foram anunciadas como o começo de uma nova era no campo das organizações na qual gestores, trabalhadores, consultores e pesquisadores do campo organizacional muito pouco tinham a aprender com o que tinha ficado para trás. Na verdade, o grande imperativo que se colocava aos agentes antes mencionados era o de aprender novas práticas gerenciais, formatar novas estruturas, estabelecer novos padrões de conduta, gerar novas teorias e metodologias, etc., para dar conta de uma era sob a égide da mudança turbulenta e permanente, na qual práticas gerenciais, estruturas, condutas, teorias e metodologias herdadas foram consideradas obsoletas e até mesmo responsáveis pela crise do capitalismo, deflagrada na década de 1970. Novos modelos de gestão e novas práticas gerenciais passaram a representar um promissor filão no campo de negócios internacionais. As vendas de publicações de negócios aumentaram rapidamente, especialmente no segmento de livros e material de 13 auto-ajuda. Consultores internacionais em especial – mas não somente eles – passaram a prometer que seus novos modelos de gestão seriam os salvadores das organizações, que poderiam se diferenciar e não só voltar a obter os mesmos resultados alcançados nas décadas de 1950/1960, mas, também, superá-los. Apesar de muitos dos novos modelos de administração ser embalagens novas para velhas soluções, e passada a euforia da mudança, as evidências apontam diferentes experiências organizacionais em relação à incorporação e absorção de novas tecnologias gerenciais. Aparentemente, a mera incorporação de práticas inovadoras não garante às organizações adotantes a obtenção de resultados iguais: a utilização de alguns daqueles modelos e daquelas práticas gerenciais parece trazer vantagens reais a seus adotantes, favorecendo melhorias em termos de desempenho e de competitividade por meio de redução de custos, de responsividade e de maior qualidade dos produtos, embora tais resultados sejam diferenciados entre os adotantes, em função de fatores específicos dos próprios adotantes e de outros emanados de seus ambientes técnicos e institucionais. A visão apresentada no parágrafo anterior só recentemente vem se difundindo. Sob a hegemonia de discursos que reforçavam a associação entre a difusão generalizada de práticas de gestão da produção e do trabalho diferentes das tradicionais da era do taylorismo/fordismo, a difusão de novas tecnologias informacionais e de formas diferentes de organização dos estados e de participação social, o discurso da mudança, do novo, certamente com suas variantes críticas, mas sempre enfocando a mudança, o novo, foram ungidos à condição de único discurso científico, inclusive no campo dito (REED, 1999) ‘historicamente contestado’ da teorização organizacional. Certamente, assim como no lado de lá, no lado de cá houve um certo clamor no sentido de que se 14 perseguisse a adaptação das novas tecnologias de gestão, a exemplo de Wood Jr. e Caldas (1998). Apesar do apelo lançado por Wood Jr. e Caldas (1998), o fato é que por cá mais do que apenas reproduzimos: reproduzimos de forma ampliada as idéias que aqui aportavam. Aqui incorporamos a postulação lançada por Grey (2004, p.15) de que “modismos são resultados de processos sociais particulares de imitação competitiva”. Enfim, empurrado pelos ventos novidadeiros, no Brasil, como no mundo, com enfoques mais micro ou enfoques mais macro, o tema da mudança tornou-se o centro de inúmeros trabalhos desenvolvidos ao longo dos anos 90 ou a justificativa para a realização, seja de trabalho teórico, seja de proposta de pesquisa de campo. Carvalho e Vieira (2003, p.186) observam: [...] Fazemos uso do pensamento dominante porque é mais facilmente aceito sem precisar de tanto esforço e, principalmente, de tanto tempo para o tornar legítimo, para fundamentar. Ele já o é a partir de pólos e pessoas legitimas, pela repetição generalizada que construiu consenso. Assim a academia pelas normas que se impôs, está conduzindo a sermos fabricantes de uma ciência dócil [e, acrescentamos, dominada por um restrito grupo de pesquisadores]. O ponto de partida desta tese de doutorado é o reconhecimento que há, sim, muitas mudanças em curso. Mudanças essas, cujas forças são tão poderosas, que se manifestam em novas formas de ver, de querer, de agir, de pensar e de fazer, em comparação às formas prevalecentes na era do taylorismo/fordismo. Muitos dos embriões dessas mudanças, tanto em suas manifestações micro-organizacionais, quanto em suas manifestações macro-organizacionais, foram se formando e desenvolvendo nas franjas do paradigma taylorista/fordista. Ademais, as mudanças não ocorreram em sentido, ritmo e intensidade iguais entre setores, países, regiões e organizações. Não têm, também, se consubstanciado, como se difundiu originalmente, no sentido da conformação de um mundo mais singularizado pela igualdade do que pela desigualdade. De uma perspectiva econômica neoschumpeteriana, na qual a 15 separação entre o micro e o macro encontra-se diluída por subsunção do micro pelo macro, tudo isso tem a ver com as organizações e as instituições desses países. Após décadas de relações internacionais restritas e políticas protecionistas da indústria nacional, as empresas brasileiras mostraram-se muito fragilizadas competitivamente com a abertura comercial promovida pelo Governo Collor no início dos anos 90 do século XX. Seus gaps competitivos evidenciaram-se tanto em termos de obsolescência da tecnologia gerencial quanto em relação à tecnologia stricto sensu, o que criou uma defasagem de desempenho em comparação com suas concorrentes internacionais. A partir da crescente redução de barreiras e aumento de intercâmbios com organizações estrangeiras, movimento esse mais fortemente sentido a partir do início da década de 1990, as empresas nacionais foram forçadas a tentar reduzir essa defasagem, melhorando a qualidade de seus produtos e aprimorando sua capacidade gestora. Por outro lado, pode-se inferir que, em alguns casos, foram exatamente as políticas protecionistas que permitiram o desenvolvimento de tecnologias originais de alta qualidade. Nesses casos, por estarem protegidas contra a competição internacional, de nível supostamente mais elevado que a competição doméstica, alguns setores e algumas empresas puderam realizar investimentos e desenvolver soluções competitivas, apesar da dificuldade de importação de equipamentos e de conhecimento. Com a crescente redução e eliminação de barreiras comerciais e alfandegárias, as empresas brasileiras intensificam seu relacionamento com concorrentes e parceiros internacionais, tanto domesticamente – o que provavelmente representa a maioria dos casos – quanto internacionalmente – reflexo da atuação de uma elite de empresas brasileiras que atua em mercados externos. Ao se compararem com suas concorrentes 16 internacionais, tornaram-se evidentes os gaps de desempenho, o que terminou estimulando o aparecimento do que Wood Jr. e Paula (2001) chamaram de uma forma de cultura da administração ou do management. Essa cultura se concretiza por intermédio de alguns canais que se tornaram responsáveis pela difusão de modelos de administração criados alhures: as escolas de administração, as empresas de consultoria, os gurus de gestão e a mídia de negócios (WOOD JR. e CALDAS 1998, WOOD JR. e PAULA 2001). De fato, o novo ambiente empresarial, a partir do início da década de 1990, é marcado pela crescente consciência da necessidade de melhorias em gestão, aumento da eficiência e da competitividade de empresas nacionais, com base freqüentemente em importação de práticas. À medida em que o Brasil, como outros países emergentes, insere-se em uma nova ordem econômica, marcada pela hipercompetitividade e pela interconectividade, crescem as pressões para a adoção de práticas gerenciais mais avançadas, que capacitem as empresas locais a competir em um cenário globalizado (WOOD JR. e CALDAS, 1998, p.3) O brasileiro tem se mostrado especialmente sensível a novidades desenvolvidas offshore, devido a fatos históricos que moldaram seu caráter e comportamento, desde sua colonização, conforme sugerem Wood Jr. e Caldas (1998), em uma espécie de etnocentrismo às avessas, no qual tudo o que é produzido lá fora é supostamente melhor ou mais interessante do que o que é produzido aqui. O fato é que tem havido no Brasil um movimento de importação e difusão de modelos e práticas gerenciais desenvolvidos em outros países, especialmente no decorrer da década de 1990 e no início dos anos 2000, e não se conhece o ritmo e a intensidade desse movimento. Trabalhos desenvolvidos no Brasil sobre mudanças em ‘práticas de gestão’ caracterizam-se, em regra, por serem estudos de caso de empresas bem sucedidas, ou relatos de experiências de consultores-pesquisadores, também de abrangência limitada 17 e com base em metodologias qualitativas; são, essencialmente, abordagens sincrônicas. Logicamente já existem muitas iniciativas que espelham a preocupação com uma avaliação mais longitudinal, embora ainda limitada a setores específicos, como é exemplo o trabalho de Githay (2000) e Bastos et al (2004). Em síntese, no Brasil não tem sido comum a publicação de trabalhos que se destinam a investigar, com um foco mais amplo, a utilização de práticas inovadoras de modo geral em amostras mais amplas de organizações. Faz-se necessário, portanto, compreender a dinâmica da adoção de práticas entre empresas, fenômeno que, de acordo com os argumentos apresentados até aqui, tem sido marcante no cenário empresarial brasileiro, especialmente no decorrer da década de 1990 e no início dos anos 2000. Esta tese de doutorado tem como objetivo identificar padrões de adoção e a relação entre o uso de práticas inovadoras – reengenharia de processos, parcerias na cadeia de suprimento (supply-chain management), terceirização (outsourcing), cultura de aprendizagem, empowerment, trabalho baseado em equipes, manutenção produtiva total (total productive maintenance), engenharia simultânea, tecnologia integradas baseadas em computador (CIM – computer integrated manufacturing), células de manufatura, just in time e gestão da qualidade total – e o desempenho, operacional e financeiro, de organizações industriais, em operação no Brasil no ano de 2002. A pesquisa desenvolvida foi de natureza quantitativa. Majoritariamente, os dados analisados foram obtidos com base em uma amostra não probabilística por conveniência. Esses dados foram tratados com base em técnicas de estatística descritiva e multivariada. Suas principais contribuições são no sentido de ampliar o conhecimento sobre diferentes condutas organizacionais em relação à adoção de novas práticas, 18 possibilitar novos estudos em relação ao tema, permitir uma visão consolidada da relação entre a utilização de práticas inovadoras de produção e seus reflexos no desempenho organizacional e contribuir com as organizações e executivos, no sentido de um aumento da possibilidade de sucesso na adoção de projetos que envolvam os assuntos discutidos. Esta tese se divide em seis seções, além desta introdução. No capítulo dois, são discutidas diferentes abordagens sobre a dinâmica da relação entre inovação, desenvolvimento econômico e organizações. Para os economistas, a análise da tecnologia normalmente assume uma perspectiva macro orientada, focada na relação entre tecnologia e desenvolvimento econômico e social. Examinando um nível mais micro orientado, duas perspectivas são visíveis. A primeira, também associada a análises econômicas da difusão de inovações na sociedade, interpreta a relevância da inovação tecnológica com enfoque na organização (firma). A segunda perspectiva, focada também no organizacional, posiciona o desenvolvimento da tecnologia como fonte de vantagens competitivas sustentáveis que diferenciam as organizações entre si. No capítulo três é apresentado o conceito de prática de gestão, e são propostos três domínios organizacionais nos quais tem havido importantes inovações em práticas gerenciais – práticas inovadoras de gestão de pessoas, práticas inovadoras de gestão da produção e práticas inovadoras de gestão do desempenho, e são apresentadas e discutidas algumas práticas de cada um desses domínios. Práticas inovadoras de gestão de pessoas são voltadas para a obtenção de maior comprometimento e maior envolvimento por parte dos empregados, como meio de melhorar o desempenho organizacional. Práticas inovadoras de gestão da produção visam reorganizar o processo produtivo, também no sentido de atingir melhores índices de desempenho. Práticas inovadoras de gestão do desempenho são práticas mais amplas, que 19 normalmente envolvem uma compreensão mais ampla dos processos organizacionais, inclusive a produção e a gestão de pessoas, que visam acelerar os tempos dos ciclos e eliminar ineficiências em organizações. O quarto capítulo investiga o estado do campo sobre práticas gerenciais inovadoras no reino Unido, Brasil e no Brasil em comparação a outros países. As análise registradas neste capítulo sugerem que, no Brasil, o movimento de modernização gerencial se inicia a partir do movimento de redução de barreiras comerciais, o que favoreceu a presença de organizações de outros países, criando um ambiente mais competitivo para as organizações brasileiras, antes protegidas por decreto. Nesse sentido, o cenário brasileiro na década de 1990 foi um terreno fértil para adoção de novas práticas gerenciais, originadas offshore. O quinto capítulo apresenta a metodologia utilizada nesta tese, incluindo a problematização, definição de objetivos, hipóteses, a definição do modelo de análise, do universo e da amostra, e ainda o instrumento de pesquisa e a forma de análise dos dados. O sexto capítulo trata dos resultados obtidos e sua discussão, incluindo a caracterização da amostra, em comparação com aquela utilizada em Peixoto (2004), uma investigação sobre a adoção de práticas inovadoras no Brasil, trata dos resultados percebidos e a propensão à continuidade de uso e ainda de uma análise do grau de adoção em relação às características organizacionais. O capítulo seis trata, ainda, do agrupamento das doze práticas em três construtos, por meio da análise fatorial. Esses construtos são, posteriormente, utilizados para agrupar as empresas em cinco tipos, de acordo com o padrão de inovação verificado pela análise de conglomerados. Em seguida, é realizada uma análise das associações entre as variáveis no intuito de identificar as relações entre a adoção de inovações gerenciais, o desempenho 20 operacional e financeiro e a propensão à continuidade de uso de práticas inovadoras, com base no método de equações estruturais. Por último, no capítulo sete, são apresentados alguns comentários finais sobre a pesquisa, relativas aos padrões de adoção de práticas inovadoras no Brasil. A análise das informações aqui apresentadas sugere a existência de um movimento de modernização gerencial no Brasil, resultante da necessidade das organizações brasileiras de se atualizarem, especialmente diante dos novos desafios apresentados pela crescente interação com organizações de outros países. Esse movimento não converge em direção a algumas práticas isoladas, sugerindo, muito mais, uma busca generalizada por soluções para a crise do modelo capitalista da produção em massa. 2. Em busca de uma abordagem sobre a dinâmica da relação entre inovação, desenvolvimento econômico e organizações A sucessão de novas tecnologias e de inovações sociais tem sido elemento central na explicação do desenvolvimento do mundo capitalista. Quais são as trajetórias que os Países têm desencadeado em busca de inovações? Quais os papéis das firmas no processo de inovação? Qual a relação entre inovação, competitividade e desenvolvimento? As respostas a essas questões são complexas e muitos de seus aspectos ainda estão por serem decifrados ou estão decifrados de maneira insatisfatória. Algumas explicações. Appelbaum e Batt (1994) indicam que o modelo tradicional de administração, prevalecente até a década de 1970 – o sistema de produção em massa – caracterizavase pela utilização de tecnologia dedicada, pela organização do trabalho parcelizado, pelo compartilhamento de ganhos de desempenho entre trabalhadores e firmas, pelo crescimento do consumo com base no crescimento do salário real e pela dinâmica de investimento, baseada no princípio do acelerador, segundo o qual a expansão do estoque de capital se dava com a expansão da demanda e do fluxo de caixa interno (economia de escala). Essa estrutura de crescimento cumulativo entrou em colapso devido ao desaparecimento das condições que a favoreciam, como consumo em massa, crescimento da renda e da demanda, bem como por pressões por maior responsividade e competitividade organizacional. Como alternativa, emergem, nos Estados Unidos da América, dois modelos que propõem solucionar as fraquezas do anterior – o modelo das relações humanas e o modelo da produção flexível em massa. O primeiro envolve práticas como enriquecimento e ampliação dos cargos e a oferta de oportunidades de 22 desenvolvimento de novas habilidades como forma de manter altos níveis de satisfação e de desempenho. Incorpora também as descobertas feitas à época em relação à comunicação, motivação e outros aspectos da psicologia organizacional (APPELBAUM e BATT, 1994). Ainda de acordo com Appelbaum e Batt (1994), o Modelo de Relações Humanas apresenta diversas vantagens em relação ao tradicional Modelo de Relações Industriais, como custos de trabalho mais reduzidos e maior flexibilidade na alocação de trabalhadores. Ao desenvolver sistemas de compensação que contemplam as diferenças individuais e recompensam um bom desempenho, e ao projetar cargos que ofereçam variedade, desafios e oportunidades de aprendizado, as firmas esperam obter benefícios como maior motivação e melhor desempenho por parte dos trabalhadores, o que soa consistente com a abordagem motivacional, apresentada por Crowston e Malone (1994). O modelo de produção flexível em massa, por sua vez, engloba cortes de custos e redução de equipes de tempo integral; é mais intensivo em tecnologias da informação e de produção, baseadas em maior uso de microprocessadores. Esse modelo, entretanto, mantém as estruturas hierárquicas de administração, as relações de poder entre supervisores e trabalhadores, a separação entre concepção e execução, o uso relativamente elevado de trabalhadores de baixa qualificação e a manutenção de trabalho rotineiro. Ele inclui, em menor escala, o uso de tecnologia menos dedicada e, portanto, mais flexível, como máquinas ferramentas programáveis e sistemas de informações para administração. Inclui, também, a ampliação do treinamento multifuncional de trabalhadores qualificados, em um contexto geral de desqualificação de trabalhadores de linha de frente ou de produção, assim como 23 subcontratação e terceirização para atingir flexibilidade e responder à turbulência do mercado e às variações na demanda (APPELBAUM e BATT, op.cit.). Nenhum desses dois últimos modelos rompe com a organização tipicamente centralizada e hierarquizada, nem com sua lógica de crescimento e desenvolvimento, mantendo as organizações com praticamente as mesmas características e limites do modelo tradicional. Ainda de acordo com Appelbaum e Batt (1994), o rompimento desses limites será perseguido por modelos alternativos desenvolvidos em outros países, como Japão (Produção Enxuta), Suécia (Sistema Sócio-Técnico), Alemanha (Produção Diversificada com Qualidade) e Itália (Especialização Flexível). Novamente para Appelbaum e Batt (1994), o desenvolvimento de um sistema norte americano de alto desempenho vai se espelhar, mais recentemente, em experiências bem sucedidas de países como o Japão, Suécia, Itália e Alemanha. Apesar de esses modelos atingirem maiores níveis de sucesso que o tradicional, no sentido em que permitem maior flexibilidade de ajustes às condições instáveis que ocorrem em seus ambientes, nenhum deles emerge como um best way. Cada um deles apresenta vantagens específicas em relação ao esgotado modelo de produção em massa: Sistemas sócio-técnicos usam equipes de produção para combinar altos níveis de qualidade de projeto com melhorias regulares em qualidade em bens produzidos para nichos de mercado de bens de luxo ou de alta qualidade. A produção enxuta possibilita produtores de grandes volumes a obter melhorias simultâneas em termos de conformidade em qualidade e simplificações nos processos de produção, de modo a oferecer produtos de alta qualidade e grande variedade em mercados de consumo de massa. Especialização flexível confere a empresas pequenas ou descentralizadas a habilidade de inovar e responder rapidamente a variações na demanda e as variações nos produtos. Produção diversificada com qualidade habilita os produtores a fornecer produtos de alta performance, customizados a segmentos de mercados mais altos, que não competem com base no preço (APPELBAUM e BATT 1994, p.50) 24 A análise de Appelbaum e Batt (1994) sugere que não existe um único modelo de organização que seria mais apropriado para um suposto contexto único mundial. Ao contrário, são múltiplas as formas de organizar o trabalho e obter os resultados, dentro de contextos sociais, econômicos e culturais diversos. Entretanto, é possível identificar algumas características em comum, apresentadas pelos sistemas estudados por essas autoras, como o uso de tecnologias flexíveis, algum tipo de participação dos trabalhadores ou trabalho em equipes, níveis mais elevados de educação e treinamento, utilização flexível dos trabalhadores, um maior compromisso com a segurança do nível de emprego, a redução do gap entre trabalhadores e administradores e o papel ativo dos sindicatos e comitês representantes dos trabalhadores no alcance de ganhos de desempenho no processo de produção. Esses elementos podem ser encontrados, ainda que com algumas diferenças em abordagem, em Piore e Sabel (1984), Kumar (1997) e Gitahy (2000). Outros autores extrapolam a importância da inovação e do conhecimento da esfera da organização para a esfera da sociedade, estudando os efeitos agregados do desenvolvimento tecnológico, que ocorre dentro das organizações, sobre a dinâmica de nações e regiões geográficas. Para Teece (2000), as importâncias da firma e de sua capacitação tecnológica para o desenvolvimento econômico são por demais evidentes: O acúmulo bem sucedido de conhecimento e a orquestração de ativos e tecnologias complementares em um sistema legal, político, financeiro e social, que possibilitam o comprometimento crível e o acúmulo de riqueza encontram-se no coração do processo de desenvolvimento econômico. Para compreender o desenvolvimento econômico, é necessário, portanto, que se compreenda o processo de desenvolvimento da firma. Se as firmas são realmente o instrumento de desenvolvimento, o estudo do desenvolvimento econômico não pode ocorrer de forma separada do estudo da teoria do desenvolvimento da firma. (TEECE, 2000, p.124) 25 Segundo, ainda, o mesmo autor, as forças das organizações enquanto vetores de desenvolvimento econômico, derivam de duas dimensões, em especial: (1) a alavancagem de ativos existentes em negócios novos ou correlacionados aos atuais, e (2) a capacidade de aprender, de combinar ou de recombinar ativos para estabelecer novos negócios ou direcionar esforços a novos mercados. A capacidade de sobrevivência e a competitividade de uma organização diante de pressões oriundas do ambiente pressupõem e levam ao desenvolvimento tecnológico. Quando as organizações de determinado sistema social conseguem promover o desenvolvimento conjunto de soluções tecnológicas, desencadeiam uma nova dinâmica de desenvolvimento que perpassa todo esse sistema. Essa perspectiva também é apresentada por Malerba (1992). Segundo este autor, o aprendizado ocorrido nas organizações é a raiz do desenvolvimento industrial e econômico, por intermédio de processos contínuos de aquisição e geração de conhecimento, que proporcionam diversas trajetórias de mudança incremental. Pode-se depreender que não é apenas a criação, mas também a adoção e a difusão de novos conhecimentos que são o centro do desenvolvimento de organizações e sociedades. O ritmo e a intensidade com os quais as inovações se propagam no tecido social possibilitam mobilidade no posicionamento competitivo e empresas que conseguem se desenvolver ou se apropriar de tecnologias de difícil imitação adquirem vantagens, frequentemente sustentáveis, em relação às suas concorrentes. Assim, diferentes perspectivas da relação entre inovação, desenvolvimento econômico e organizações, oferecidas por economistas, psicólogos organizacionais e administradores são exploradas nesta seção para delimitar o macro contexto dentro do qual se situam as inovações organizacionais. 26 2.1. Inovação e desenvolvimento econômico Perez (2003) argumenta que as revoluções tecnológicas se sucedem, proporcionando mudanças sociais e desenvolvimento econômico aos países e regiões de origem. Essa autora sugere que cada revolução tecnológica inicia-se com forte divergência nas taxas de crescimento das indústrias, países e regiões, e com reduções de tendências de distribuição de renda. Durante essa fase, inovações sustentáveis convivem com grandes manias e fraudes, verificam-se graves crises, recessões e depressões, abrindose caminho para a instalação de um novo paradigma tecnoeconômico. A realização do pleno potencial de criação de riqueza de uma revolução tecnológica requer o estabelecimento de uma estrutura sócio-institucional adequada. A estrutura sócio-institucional existente, criada para manter o crescimento baseado no paradigma anterior, não é adequada para sustentar o crescimento no novo paradigma. Sendo assim, nas décadas iniciais da instalação de novas indústrias e infra-estruturas ocorre um desequilíbrio entre as esferas tecnoeconômica e sócio-institucional, bem como um desajuste interno no sistema econômico entre a tecnologia nova e a antiga. Mas com o desenvolvimento e a difusão crescente de novas instituições, observa-se um período de grande prosperidade, uma vez que tais instituições já oferecem plenas condições de exploração da nova tecnologia em escala comercial. Deste modo, o processo de restabelecimento do equilíbrio e de criação de condições para o reajuste do sistema, assim como para a realização de seu pleno potencial, é complexo, longo e socialmente doloroso. Para Perez (2003), a dinâmica da economia baseia-se na forma como surgem as revoluções tecnológicas, mais especificamente na maneira como elas geram um grande potencial criador de riqueza, que é assimilado pelos sistemas econômico e 27 social. Entretanto, uma vez desenvolvida, a nova tecnologia só atingirá seu pleno potencial lucrativo após duas ou três décadas, tempo médio necessário para o desenvolvimento da infra-estrutura institucional para sua exploração em escala comercial. Freeman e Perez (1984) já haviam postulado que as principais mudanças históricas da humanidade, a partir da primeira revolução industrial, deviam-se à sucessão de paradigmas tecnoeconômicos, formados por sistemas inter-relacionados de produtos, processos, e inovações tecnológicas e gerenciais radicalmente diferentes das práticas predominantes em engenharia e administração. Segundo estes autores, na mudança de paradigma, novas tecnologias vão crescentemente apresentando vantagens relativas em comparação com as tecnologias tradicionais, como custo mais baixo e capacidade ampliada de adequação às mais diversas aplicações, e como geração de impactos positivos sobre qualidade e custo do equipamento, do capital, do trabalho e dos produtos. Logicamente, cada paradigma tecnoeconômico corresponde a um “tipo ideal” de organização produtiva que incorpora um “fator-chave” ao máximo. Com a difusão do paradigma e a conseqüente superação de seus problemas tecnológicos, tal fator-chave tende a adquirir cada vez mais importância na determinação dos custos da estrutura produtiva como um todo, enquanto que o “fator-chave” anterior passa a ser cada vez menos encontrado. Adicionalmente, a difusão do novo paradigma tecnoeconômico associa-se a (1) uma nova forma de organização da firma e das plantas industriais (best practices), (2) a um novo perfil de habilidades que afeta a quantidade e a qualidade do trabalho e o padrão de distribuição da renda, (3) a um novo mix de produtos que fazem uso intensivo do fator chave de baixo custo e tornam-se o alvo preferido dos investimentos (4) a novas tendências em inovações básicas e 28 incrementais, utilizando o “fator-chave”, que substituem os elementos de alto custo ainda presentes no novo paradigma tecnológico (5) a um novo padrão na alocação de investimentos resultante das mudanças ocorridas na estrutura de custos relativos, (6) a uma onda de investimentos estruturais necessários para criar as externalidades requeridas pelo novo “fator-chave”, e (7) a uma tendência à concentração de firmas em setores em que o novo fator-chave é produzido ou mais bem utilizado, sendo que diferentes setores atuam como vetores de crescimento em cada movimento ascendente do ciclo. O tipo ideal de organização prevalecente na etapa atual de desenvolvimento do capitalismo tende a caracterizar-se pela associação entre administração e produção em um único sistema integrado, de resultados flexíveis, e produtos e serviços preferencialmente intensivos em informação, que mudam rapidamente. Com o crescimento liderado pelo setor de eletrônica e de informação, há necessidade de maciços investimentos em infra-estrutura de telecomunicações. O perfil de habilidades muda para exigir qualificações cada vez maiores e mais generalistas, incluindo a capacidade de gerenciar informação. A diversidade e a flexibilidade tendem a substituir a massificação como padrões consensuais de “melhores práticas”. Quando você introduz controle numérico ou tecnologia da informação em uma firma, que trabalhava anteriormente com tecnologia eletromecânica, não é possível atingir todo o aumento potencial de produtividade sem transformar toda a organização, tanto ao nível da planta quanto ao nível de escritório, incluindo retreinamento e reestruturação das formas de interação (FREEMAN e PEREZ, 1984, p.12). Enfim, um novo paradigma tecnoeconômico não produzirá seus melhores resultados a não ser que toda a estrutura sócio-institucional seja transformada para atender aos seus requisitos, também para Freeman e Perez (1984). Essa mudança envolve enormes transformações no padrão de habilidades da força de trabalho, assim como nos 29 sistemas de educação e treinamento, nas atitudes de gerentes e trabalhadores, no padrão de relações industriais e de participação dos trabalhadores, nos arranjos produtivos, no padrão de demanda dos consumidores, na estrutura conceitual de economistas, contadores e governantes, e em prioridades políticas, sociais e legislativas. Nos estágios iniciais de difusão de um novo paradigma tecnoeconômico, as oportunidades lucrativas de investimento em novas tecnologias são restritas principalmente a alguns setores líderes. Somente quando as mudanças institucionais necessárias se desenvolvem de forma mais abrangente, quando a infra-estrutura básica já está preparada e as habilidades necessárias já estão mais disponíveis, é que as oportunidades para novos investimentos tornam-se amplamente percebidas observando a economia, e um aumento geral nas taxas de lucro e produtividade de capital, viável. Isso significa que, durante este período de transição, a maioria das firmas que opera fora dos setores líderes se depara com problemas de peso: uma taxa de lucro decrescente, baixa produtividade de capital, e, freqüentemente, com capacidade excessiva e margens estagnadas. Nessas situações, essas empresas tentam recuperar suas margens de lucro utilizando-se de práticas mais tradicionais como, por exemplo, reduções de salários e aumento da intensidade do trabalho. Também para a teoria da regulação, o desenvolvimento das economias de países durante o período capitalista (AGLIETTA, 1987; BOYER, 1990; BOYER e FREYSSENET 2000) pode ser explicado pela ótica da inovação. Para essa escola, a cada etapa de desenvolvimento do capitalismo observa-se uma combinação específica de modo de produção com regime de regulação e de desenvolvimento. Mudanças em modos de produção seriam decorrentes da aplicação de inovações tecnológicas no 30 campo da produção, enquanto que os regimes de regulação e desenvolvimento se relacionariam às inovações sociais e políticas para a exploração dos benefícios obtidos com as novas tecnologias. Essa corrente de estudiosos interpreta o desenvolvimento do capitalismo de acordo com a difusão de dois padrões sociais. Cada um desses padrões apresenta uma forma de organização do trabalho, decorrente da aplicação de tecnologias (paradigmas tecnológicos) na empresa, permitindo novas formas de relações sociais. O primeiro deles, denominado por seus estudiosos de fordismo, caracterizou as economias ocidentais do final do século XIX até meados da década de 1970, com o crescimento econômico sendo reflexo da combinação da produção em massa com outros desenvolvimentos sociais, como a criação de sociedades de consumo, de uma classe média trabalhadora com poder de compra que, juntos ao investimento público, eram as principais fontes de aquecimento da economia. O segundo padrão, por eles denominado pós-fordismo, representa um novo modelo de desenvolvimento econômico e social que incorpora uma dinâmica de crescimento mais adequada às condições existentes nas economias capitalistas a partir de meados da década de 70 do século XX – demanda estagnada e fragmentada. O modelo pósfordista baseia-se na utilização de mecanismos flexíveis de produção, como máquinas-ferramenta numericamente controláveis, numa re-qualificação dos trabalhadores, para que esses consigam absorver trabalhos mais amplos e mais complexos, inclusive o controle da qualidade. Aproximando-se de visão registrada no parágrafo anterior, Tenório (2000, p. 163) considera que o pós-fordismo caracteriza-se pela “diferenciação integrada da organização da produção e do trabalho sob a trajetória de inovações tecnológicas em direção à democratização das relações sociais nos sistemas-empresa”. O pós- 31 fordismo, ainda segundo esse mesmo autor, é o resultado da evolução de condições institucionais, alimentada pelo desenvolvimento tecnológico – em especial a tecnologia eletroeletrônica, que não só possibilita, mas, também, demanda mudanças significativas nos sistemas de produção utilizados pelas principais empresas do mundo – e pela globalização, que se associaram à expansão da atuação das grandes empresas em mercados internacionais, gerando a dinâmica de crescimento que viabilizou o modelo. Ainda de acordo com Tenório (2000), o movimento de mudanças estruturais no pós-fordismo inclui a utilização de estruturas organizacionais mais horizontalizadas e menos compartimentalizadas, e a utilização de políticas inovadoras de recursos humanos. O paradigma pós-fordista é discutido ainda por outros autores - Womack, Jones e Roos (1992), Kumar (1997), Clarke (1990) e Coriat (1994). Esses autores reconhecem existir, em diferentes níveis, uma tendência irreversível de difusão do pós-fordismo, uma vez que o cenário internacional se torna mais homogêneo e mais adverso, no sentido em que muitos mercados não oferecem mais as vantagens da economia de escala. Segundo tais autores, fez-se necessária a exploração de outro tipo de economia, a economia de escopo, baseada não na produção em grande escala de um ou poucos produtos, mas na fabricação de vários produtos, utilizando-se da mesma estrutura e sistema de distribuição. Esse tipo de economia também se baseia na diluição dos custos em grandes quantidades de unidades produzidas, não de poucos produtos, mas de uma linha mais diversificada de produtos. De fato, os últimos 35 anos foram, provavelmente, muito prolíferos em desenvolvimentos de novas formas de organizar o trabalho e de administrar organizações. Contribuições oriundas de vários locais no mundo se difundiram, proporcionando um significativo avanço na própria concepção de organização e 32 desempenho, com reflexos em todo o mundo do trabalho, em especial nas relações entre empresas e entre empresas e indivíduos. O esforço para enumerar e descrever todos esses desenvolvimentos é infrutífero. Entretanto, é possível destacar alguns dos mais importantes, especialmente em relação ao impacto causado e à receptividade de organizações em todo o mundo. Antes, porém, de focalizar novas formas de organizar e de administrar, há ainda algumas perguntas cruciais que merecem respostas para complementar o macro contexto em que se insere o objeto desta tese: Que são inovações organizacionais? Quais as dinâmicas do processo de inovação organizacional? Quais os padrões de mudanças associados à geração e à difusão de inovações? Quais as perspectivas de análise dos impactos das mudanças sobre as organizações? 2.2. Inovação e organizações Dougherty (1996) caracteriza a inovação como uma tensão existente na organização para dar conta dos desafios da interação entre diversas atividades, do rompimento de barreiras e da solução de conflitos de forças aparentemente opostas, aspectos esses que podem ser encontrados no processo de inovação. Trata-se, assim, de pensar a inovação, isso é, o processo pelo qual a organização e seus novos produtos são constituídos, de forma dialética. Van de Ven (1995) apresenta as conclusões de um programa que se destinava a investigar a dinâmica da inovação nas organizações, o Minnesota Innovation Research Program (MIRP), em uma tentativa de produzir sugestões práticas para o gerenciamento da inovação e da mudança em perspectivas micro e macroorganizacional. Segundo essa pesquisa, é possível apontar regularidades no processo de inovação gerencial, conforme apresentado a seguir: 33 1) O processo de inovação consiste no somatório de numerosos eventos desenvolvidos por muitas pessoas diferentes durante um longo período de tempo. O processo de inovação não corresponde à visão ocidental mais corriqueira, que vê a inovação como fruto de atos discretos de um único empreendedor em uma data e lugar particulares. Em cada inovação estudada pelo MIRP, o processo de inovação iniciou-se com um período de gestação que durou vários anos, durante os quais uma variedade de eventos coincidentes preparou o cenário para o lançamento de um processo de mudança ou inovação organizacional. 2) Ações concentradas para alocar recursos e iniciar o desenvolvimento da inovação são disparadas por choques (não meramente persuasão) produzidos por confrontos pessoais diretos com necessidades ou problemas. Esses choques são grandes o suficiente para captar a atenção e disparar a ação de participantes organizacionais. Quando as pessoas atingem um patamar suficiente de insatisfação com as condições existentes, deflagram ações para resolver suas insatisfações. 3) Uma vez iniciado o trabalho de desenvolvimento de inovação, o processo não se desdobra em uma seqüência linear simples de estágios e sub-estágios. Ao invés disso, ele prolifera em lotes complexos de idéias inovadoras e caminhos divergentes de atividades por diferentes unidades organizacionais. Mais especificamente, após o início de uma seqüência de atividades simples e unitárias para desenvolver uma idéia inovadora, o processo diverge em múltiplos e paralelos caminhos de atividades independentes. 4) Freqüentemente são encontrados retrocessos durante o processo de inovação, seja porque os planos fracassam, ou porque ocorrem eventos ambientais não antecipados que alteram significativamente as suposições básicas da inovação. Esses retrocessos 34 sinalizam a rejeição da inovação ou novas oportunidades de aprendizado através da reinvenção. 5) A receptividade, o aprendizado e a taxa de adoção de uma inovação são facilitados quando a inovação é desenvolvida internamente em uma organização usuária, e são inibidos quando não se oferecem oportunidades para que os usuários finais reinventem ou modifiquem as inovações que foram inicialmente desenvolvidas em outros lugares. Os participantes organizacionais não envolvidos no desenvolvimento ou reinvenção de uma inovação tendem a percebê-la como um imperativo externo. Independentemente de uma inovação ter sido desenvolvida internamente ou externamente a uma organização que vai adotá-la, o processo de adoção é facilitado pela sua modificação para que se adeque às situações locais, pelo envolvimento e compromisso da alta gerência, e pelo uso de várias técnicas para manter o cumprimento de tarefas e o ritmo durante o período de desenvolvimento. 6) A administração não pode garantir o sucesso da inovação, mas pode influenciar suas chances de sucesso. As chances de sucesso aumentam com experiências e aprendizados derivados de experiências anteriores de inovação, e diminuem de acordo com a novidade, tamanho e duração temporal de um empreendimento inovador. Dessa forma, as chances de sucesso não são somente funções do número de vezes que uma organização tem se envolvido em jornadas de inovação no passado, mas também da complexidade da jornada na qual ela decidiu se envolver em seguida. As evidências coletadas por Van De Ven (op.cit.) permitem melhor compreender e gerenciar os processos de geração e de adoção de inovações, apesar de sua conclusão de que não é possível controlá-los totalmente, sendo possível, apenas, influenciar suas chances de sucesso – através da motivação e envolvimento das pessoas e das equipes, da criação de uma cultura que estimule a experimentação e o aprendizado, de 35 processos de tentativa e erro – e ao compreender-se que a inovação, freqüentemente, sofre atrasos e desvios, durante sua ocorrência, que devem ser gerenciados antes que se transformem em uma “bola de neve”. 2.3. Padrões de Mudança e de Inovação nas Organizações Pode-se observar, portanto, na seção anterior, que a inovação organizacional segue ciclos não lineares. Tal descrição do processo de inovação gerencial é corroborada por Dooley e Van de Ven (1999). Mais detalhadamente, esses autores interpretam a mudança e inovação organizacional como ciclos não lineares de atividades convergentes e divergentes que podem se repetir ao longo do tempo e em diferentes níveis organizacionais, caso sejam obtidos recursos para renovar o ciclo. Ao examinarem as atividades que ocorrem durante os esforços de mudança organizacional, os mesmos autores antes citados identificam uma série de atividades que são geralmente convergentes em direções a fins comuns ou divergentes. Enfim, um ato de inovação, por definição, implica divergência – uma mudança em algo estabelecido requer um desvio do que está estabelecido. A implementação da inovação, entretanto, requer uma síntese em prática. A fusão do novo com o antigo representa convergência. Sem convergência, as inovações nunca seriam implementadas, devido ao constante fluxo. Dessa forma, o processo de inovação consiste em ciclos de divergência e convergência. Forças internas e externas à organização agem simultaneamente, mas diferentemente, ao longo do tempo, permitindo a divergência ou forçando a convergência. A simultaneidade desses ciclos de feedback faz com que a organização se comporte como um sistema dinâmico não linear. 36 A divergência envolve um comportamento de ramificação que explora e se expande em diferentes direções, disparado pela adição de recursos como atenção e tempo, pessoas, idéias e recursos financeiros, além do nível regular de recursos existentes no sistema. O comportamento divergente aumenta o número de dimensões ou a complexidade de um sistema e tende a seguir dinamicamente um processo randômico ou caótico. Quando atividades divergentes são predominantes, o processo geralmente apresenta um comportamento dinâmico de alta dimensão, tipificado por mecanismos generativos que são aleatórios ou semi-aleatórios por natureza e por busca de inúmeras possibilidades de inovação, que disputam os recursos e a atenção da organização. Convergência é um processo integrador e restritivo, focado em testar e explorar uma dada direção. Ela reduz as dimensões e a complexidade do sistema e se move em direção a um padrão periódico de quase-equilíbrio. O comportamento convergente é disparado pela dinâmica interna e externa. Restrições externas incluem regras e mandatos institucionais e organizacionais que estreitam os limites possíveis de ação. Restrições internas incluem limitações de recursos e a descoberta de uma possibilidade que foca a atenção e as ações em uma dada direção. Quando as atividades convergentes são dominantes, o processo geralmente entra em um comportamento de baixa dimensão, tipificado por mecanismos generativos que são periódicos ou equilibrados por natureza, caracterizados pela exploração de uma solução que é técnica, econômica ou comercialmente viável. Assim, a partir da perspectiva focalizada, mudança e inovação organizacional consistem em um ciclo repetido de fases divergentes e convergentes de atividades, que são possibilitadas pelo investimento de recursos e condicionadas por regras externas e descobertas internas de um curso de ação (Figura 2.1). 37 Cada ciclo se inicia com o projeto de um arranjo organizacional e com a adição de recursos de fontes externas, seguido por um período de “lua-de-mel” de comportamentos exploratórios divergentes, que continua até que os recursos se esgotem ou até que uma solução seja encontrada, e se conclui com um período convergente de comportamento focado para explorar a solução ou para iniciar um novo ciclo (DOOLEY e VAN DE VEN, 1999). Ainda segundo Dooley e Van de Ven (1999), é possível perceber que divergência e convergência são processos subjacentes a conceitos muito difundidos, como Pesquisa e Desenvolvimento (P&D): Pesquisa envolve uma busca diligente entre soluções potenciais (divergência entre possíveis caminhos de ação); desenvolvimento envolve o ato de tornar a solução gradualmente manifesta (convergência a uma forma final); e P&D seria simplesmente uma forma reduzida de dizer convergência e divergência. Essa perspectiva de análise da relação entre inovação e organização, e a própria descrição apresentada do processo de inovação, enquanto composto por ciclos de atividades convergentes e divergentes não são nem únicas, nem representam a visão dominante no campo de administração, no entanto. Como esta tese insere-se no campo da administração, torna-se necessário situar suas principais abordagens da relação entre tecnologia/inovação e organização, assim como retomar uma perspectiva mais crítica em relação a essas abordagens dominantes. Esses são os objetivos dos itens 2.4 e 2.5 a seguir. 38 Figura 2.1 - O Ciclo da Inovação Fatores Restritivos • Regras e imposições externas • Foco e auto-organização interna Comportamento Divergente Comportamento Convergente • • • • • • • Um processo de expansão e ramificação que explora novas direções (um padrão randômico ou caótico) Criação de idéias e estratégias (inspiração, negociação) Learning by discovery (busca exploratória) Liderança pluralística (encorajamento e equilíbrio de visões diversas) Construção de relacionamentos e de redes porosas Criação da infra-estrutura para vantagem coletiva (running in packs) • • • • • Um processo de integração e estreitamento que explora uma dada direção (um padrão linear ou periódico) Implementação de idéias e estratégias (transformar idéias em realidade) Learning by testing (tentativa e erro) Liderança unitária (encorajamento de unidade e consenso de objetivos) Execução de relacionamentos em redes estabelecidas Operação em uma infra-estrutura para vantagem competitiva Fatores Ativadores • Investimento de Recursos • Reestruturação da Unidade Fonte: Adaptado de DOOLEY e VAN DE VEN (1999, p. 47) 39 2.4. Uma proposta de classificação das perspectivas de análise entre tecnologia e organização Crowston e Malone (1994), discutindo a relação entre tecnologia da informação (TI) e organização, sugerem a existência de quatro perspectivas de estudos envolvendo esses dois objetos, que podem ser também úteis na compreensão da adoção de inovações em geral. Essas perspectivas são: Perspectiva racionalista: as organizações são compostas de agentes intencionalmente racionais, que operam em direção a algumas metas ou objetivos definidos, concentrando-se basicamente em eficiência econômica e lucratividade. As organizações são, portanto, organizadas racionalmente em função desses objetivos. De acordo com a perspectiva racionalista, a TI, por exemplo, deveria ser utilizada para permitir o alcance das metas de maneira mais eficaz, reduzindo custos ou aumentando a qualidade do produto. Dessa forma, a adoção de inovações se refere a um ato consciente e racional em busca de maior eficiência econômica, resultante de decisões igualmente racionais, tomadas por parte dos gestores de tais organizações. A justificativa de projetos inovadores se basearia simplesmente no retorno financeiro ou operacional, obtido por intermédio de suas implementações, uma forma de retorno sobre o investimento realizado. Implicaria, ainda, a posse de informações em volume e qualidade suficientes para que a decisão seja correta. Caso sejam justificados racionalmente, os projetos inovadores serão prontamente aceitos por todos os participantes da organização, recebendo recursos necessários e enfrentando pouca ou nenhuma resistência à mudança. Perspectiva do processamento da informação: essa perspectiva compartilha algumas características com a primeira, mas foca-se, ao contrário, nos processos e padrões organizacionais de comunicação. De acordo com a perspectiva de 40 processamento de informação, a inovação, especialmente em novas tecnologias da informação e comunicação, como, também, em nova tecnologia gerencial, pode permitir a redução do custo de coordenação, facilitando o desenvolvimento de uma organização intensiva em relações e comunicações. De acordo com essa perspectiva, as organizações poderão obter maiores economias de escala, com o desenvolvimento de departamentos funcionais mais amplos e mais dispersos geograficamente, sem perda significativa de controle. Melhor coordenação, proporcionada por sistemas mais avançados, baseados em uso mais intensivo da tecnologia da informação também implica redução de custos e maior eficiência organizacional, mas como decorrência da maior qualidade no uso da informação gerencial e da comunicação entre os participantes internos e externos à organização. Perspectiva motivacional: reconhece que os trabalhadores podem possuir interesses diversos daqueles da administração, mas esses objetivos podem ser igualados por meio do desenho adequado dos cargos dos trabalhadores. Isto quer dizer que se um trabalho é suficientemente motivador, os trabalhadores irão, presumivelmente, ficar mais satisfeitos, e possuirão um melhor desempenho. De acordo com a perspectiva motivacional, os clientes de um novo sistema de informação são os trabalhadores, e apenas indiretamente a organização. Um projeto bem sucedido será aquele que aumente a satisfação dos trabalhadores e melhore suas atitudes em relação ao trabalho, o que, em contrapartida, oferece melhor desempenho econômico e maior competitividade à organização. Perspectiva política: presume que diferentes grupos na organização podem possuir metas conflitantes que não podem ser conciliadas. O poder determina que grupo atinge seus objetivos, e a TI pode ser utilizada como um meio para aumentar o poder. Esta perspectiva considera que a tecnologia será utilizada pelas pessoas que possuem 41 poder em uma organização para sustentar sua posição, reforçando – não modificando – a estrutura organizacional. Esta perspectiva sugere que é importante determinar o cliente de um projeto, uma vez que diferentes grupos podem possuir objetivos e valores conflitantes. Quadro 2.1 - Questões centrais em quatro perspectivas organizacionais Perspectiva Racionalista Processamento de Informação Motivacional Política Questões Centrais Emprego • Perda de emprego • Intensidade administrativa • Níveis hierárquicos Centralização/descentralização Diferenciação Formalização Razões motivacionais e políticas Razões econômicas • Redução de estoques • Economias de Escala Padrões de comunicação Ligações fracas Dicas de contextos sociais Motivações individuais Variedade de habilidades • Desespecialização • Superespecialização Significado da tarefa Autonomia Motivações interpessoais Poder • Distribuição vertical • Distribuição horizontal Fonte: Adaptada de CROWSTON e MALONE 1994, p.252 Crowston e Malone (1994) relacionam os possíveis resultados mais comuns com o uso da TI, sugerindo os fatores que levam a tais resultados, de acordo com cada perspectiva sobre organização. Cada perspectiva organizacional evidencia diferentes tipos de efeitos que devem ser estudados (Quadro 2.1). 42 2.5. Críticas às perspectivas tradicionais de análise da relação entre tecnologia e organização As abordagens tradicionais da relação tecnologia-organização costumam sugerir que a tecnologia exerce uma força transformadora, de fora para dentro da organização, sendo a organização a variável dependente. Orlikowski (1992) tenta fugir à regra de abordagens determinísticas, adotando uma perspectiva mais dialética, onde os participantes do processo de desenvolvimento e utilização da tecnologia interagem continuamente com ela, de modo que o seu desenvolvimento assume uma dinâmica mais natural, fruto de processos subseqüentes de aprendizagem e mudança, isto é, de convergência e de divergência, corroborando a descrição feita anteriormente. Orlikowski (1992) revisa diferentes formas de interpretar o papel da tecnologia nas organizações, classificando-as em três enfoques – como imperativo tecnológico, no qual a tecnologia é uma variável independente em relação ao comportamento humano que causa uma influência unidirecional irresistível na organização; como objeto de uma escolha estratégica, no qual a tecnologia é produto da ação, projeto e apropriação humana, com o objetivo de atingir metas pré-determinadas; e como gatilho para a mudança estrutural, na qual a tecnologia é uma intervenção na relação entre agentes humanos e estrutura, apresentando um potencial de mudança nesta última. Orlikowski (1992) sugere que nenhuma das abordagens citadas no parágrafo anterior permite uma visão exata da complexa relação entre organização, seres humanos e tecnologia. Assim, propõe a adoção de uma abordagem estruturacional da tecnologia, segundo a qual se percebem as relações entre organização, pessoas e tecnologia de maneira dialética e menos determinística, considerando que mudanças em quaisquer dos elementos dessa equação são fruto de influência mútua (dualidade da tecnologia) e aprendizagem contínua (flexibilidade interpretativa), mesmo que diferenças 43 temporais e espaciais entre o desenvolvimento e a aplicação da tecnologia dificultem essa compreensão. Segundo King e Anderson (1995), o estudo de processos de inovação deve considerar as diversas etapas que são desencadeadas em um caso típico. Em consonância com as propostas de Van de Ven (1995), sugerem que a inovação não ocorre em um único momento. Ao contrário, a adoção de inovações decorre de uma seqüência de eventos que se iniciam com a percepção de necessidade de mudança e se encerram com a institucionalização da inovação ou sua rejeição após a implementação. Da mesma forma, Zaltman et al. (1973, apud KING e ANDERSON 1995) sugerem que o processo de adoção de inovações possui basicamente dois estágios: iniciação – que se desdobra em conscientização, formação de atitudes e decisão e implementação – que se desdobra em implementação inicial e implementação contínua sustentada. Apesar disso, muitas pesquisas sobre inovação tratam do assunto utilizando-se de metodologias de um estágio, mensurando a inovação em um único ponto no tempo, examinando a correlação entre a adoção de inovações e variáveis de atitude e comportamentais. Esses últimos tipos de pesquisa representam abordagens atemporais, que são convenientes para os pesquisadores, mas geram pouca informação em relação ao processo de inovação em estudo. Segundo Zaltman et al (1973, apud KING e ANDERSON 1995), são necessários estudos em profundidade, buscando detalhar o progresso de inovações em organizações. Abordagens mais criativas de pesquisa poderiam responder o porquê da adoção de inovações, como elas se desenvolvem, e porque algumas são mais bem sucedidas do que outras. O início de um processo de inovação é normalmente descrito como a percepção de uma defasagem de desempenho – uma diferença entre o desempenho real e o 44 potencial. Isso ocorre quando a organização identifica que seu desempenho não é satisfatório, e busca uma inovação para eliminar a defasagem, ou porque a organização torna-se consciente de que há alguma inovação em seu ambiente, com potencial de melhorar seu desempenho, e decide adotá-la. Entretanto, King e Anderson (1995) sugerem, baseados em suas pesquisas, que não há evidências conclusivas sobre o comportamento de inovações, especialmente em relação aos seus estágios. Segundo esses autores, os artigos publicados sobre o tema tendem a indicar que a inovação não segue estágios discretos, claramente distintos. Diferentes organizações adotarão procedimentos distintos em diferentes momentos do tempo. As pessoas apresentarão diferentes percepções sobre a mudança, em diferentes níveis organizacionais. Se isso acontece, não faz sentido definir um processo de adoção de inovações, uma vez que este tenderá a ser prescritivo e normativo, no sentido de forçar as organizações a desenvolver todos os estágios em seus processos de adoção de inovações. Também não fará sentido a abordagem de pesquisa centralizada em alguns poucos executivos, e em suas interpretações de como se desdobrou o processo, e de que resultados foram auferidos. Mas entende-se que a delimitação de processos de adoção de inovações pode contribuir para comparações entre organizações e diferentes tipos de inovação, permitindo uma maior compreensão dos aspectos da mudança. King e Anderson (1995) complementam que há uma ênfase exagerada na decisão de inovação, e pouca atenção sobre o que acontece após sua implementação. Isso pode ser problemático, pois após a implementação de uma inovação, as expectativas dos adotantes serão testadas para verificar seu sucesso, obtendo ou não a satisfação das expectativas. Além disso, há um excesso de utilização de uma única metodologia básica – estudos transversais. Nesses estudos, a inovatividade é investigada pelo número de inovações 45 adotadas pelas organizações, sem o estabelecimento claro de relações de causa e efeito. Essas pesquisas apresentam tendências normativas ou prescritivas, indicando que medidas ou características tornam as organizações mais predispostas a inovar. Face aos resultados de pesquisas dessa natureza, é possível sugerir uma forma de nova ortodoxia, no sentido de que todas as organizações tenderão a adotar liderança participativa, a apresentar estruturas orgânicas e culturas voltadas para tarefas, uma espécie de modelo universal de organização inovadora, ainda de acordo com King e Anderson (1995). Outro autor que busca maior compreensão sobre os efeitos da utilização de práticas inovadoras sobre o desempenho da organização é Kling (1995). Segundo ele, muitas organizações estão adotando algum tipo de prática inovadora, o que tem trazido melhorias no desempenho organizacional. Entretanto, elas o estão fazendo de maneira fragmentada e não sistêmica, o que vem impedindo um maior aproveitamento dos resultados potenciais oferecidos por estas práticas. A adoção de sistemas de trabalho, ao invés de práticas isoladas, apresentaria um maior potencial de influência positiva sobre o desempenho das organizações. Como pôde ser visto, as relações entre inovação e organização são complexas. Apesar disso, há um predomínio na literatura revisada a se considerar essas relações em uma perspectiva normativa e prescritiva, à exceção de certos autores, como os focalizados nesta seção de tese. Dado o predomínio da literatura normativa, destaca-se o desafio de aprofundar a análise em torno de visões matizadas sobre a relação tecnologia versus organizações. Acredita-se, no entanto, que para se ter maior possibilidade de sucesso ao se abraçar tal desafio, novos aspectos concernentes à relação entre tecnologia e organização devem ser enfocados, como aprendizagem e conhecimento. 46 Assim, a próxima seção retomará a relação entre mudança e inovação (outra forma de se aproximar da relação entre tecnologia e organização, como já foi visto), que será discutida levando-se em consideração abordagens sobre o conhecimento e aprendizagem organizacional para ressaltar possíveis conexões entre mudança, inovação, conhecimento e aprendizagem que são fontes de geração de trajetórias específicas a cada organização. 2.6. Em busca de uma visão mais matizada sobre a dinâmica de processos organizacionais: mudança, inovação, conhecimento e aprendizagem organizacional É provável que uma das idéias mais frequentemente evocadas na literatura de administração e negócios seja o de que a mudança é algo tido como certo, inevitável e inquestionável. Segundo defensores dessa idéia, o ritmo e a intensidade de mudança ocorrida no ambiente externo forçam as organizações a revisarem muito freqüentemente seus produtos, suas operações e sua estrutura, para que estejam sempre adequados às condições externas. Mudança organizacional, portanto, adquire um status ampliado, como sendo uma das principais habilidades ou capacidades organizacionais, no sentido não só de garantir a sobrevivência das organizações como de assegurar-lhes meios para crescimento (WOOD JR., 1992). Essa perspectiva traz consigo a idéia de que a organização é obrigada a se reinventar constantemente, em face de mudanças ocorridas em seu ambiente externo, como única forma de sobrevivência. Uma das principais maneiras de viabilizar um comportamento pró ativo parece ser o rompimento das fronteiras organizacionais, tanto internas quanto externas. Por isso, novas formas de organização tendem a ser caracterizadas por sua flexibilidade, por possuírem fronteiras amorfas, por sua capacidade de aprender, desenvolvendo estratégias que a elas permite antecipar e 47 responder às incertezas do futuro. Estratégia e forma organizacional tendem, portanto, a estar proximamente ligadas, de modo que a última possa apoiar a primeira. As estratégias mais comuns enfatizam: (1) qualidade e satisfação do consumidor, (2) rapidez e oportunidade, (3) customização e flexibilidade, (4) redução de custos e produtividade, e (5) inovação (Davis, 1995). O quadro 2.2, adiante, apresenta diversas formas pelas quais a eliminação de fronteiras organizacionais pode auxiliar as organizações na obtenção de resultados estratégicos. A afirmação de que inovação é algo desejável ou obrigatório, frequentemente, desconsidera o fato de a inovação possuir custo e risco elevados, que podem influenciar ou comprometer o fluxo de caixa das organizações, por um lado, ou leválas a desenvolver produtos e serviços fora de sintonia com as demandas de mercados onde atuam, por outro. Em ambos os casos, as organizações terão “mudado para pior” (Grey, 2004), e estarão em condições mais adversas do que aquelas existentes antes de terem mudado. Segundo Grey (2004), a crença de que se vive em um mundo em mudanças está presente em muitas épocas, talvez em todas elas. Isso acontece, em parte, devido ao fato de que, em retrospectiva, o passado normalmente parece mais estável do que o presente, porque é mais familiar e porque é percebido de forma racionalizada e limpa. Esse autor argumenta que não há bases para se acreditar que mudanças no presente são mais intensas que no passado, exceto se se considera que o tempo presente caracteriza-se pela mudança rápida, tendendo-se a confirmar esse pensamento por ações. 48 Quadro 2.2 - Fronteiras Organizacionais, Forma Organizacional e Ênfase Estratégica Fronteira Eliminada Entre Grupos Entre Departamentos I N T E R N A S Entre Níveis de Autoridade Entre Culturas Entre Funcionários Permanentes e Temporários Entre Períodos de Tempo E X T E R N A S Característica da Forma Organizacional Processamento Paralelo Groupware Equipes Multifuncionais Papéis Interligados Equipes Multifuncionais Empregados como Clientes Integração Interna Redes Eletrônicas Papéis Interligados Envolvimento dos Empregados Redes Eletrônicas Downsizing Achatamento das hierarquias Diversidade Cultural Trabalho Virtual Trabalhadores Temporários/Terceirização Entre Competidores e Colaboradores Horários Flexíveis de Trabalho Trabalho Contínuo Fusões e Aquisições Joint Ventures Desmembramentos Entre Fornecedores Just in Time Terceirização Entre Consumidores Gestão da Qualidade Total Testes Beta Entre o Trabalho e o Lar Trabalho Virtual Telecomutação Ênfase Estratégica Qualidade/Satisfação do Consumidor Velocidade/Oportunidade Customização/Flexibilidade Inovação Qualidade/Satisfação do Consumidor Velocidade/Oportunidade Customização/Flexibilidade Inovação Qualidade/Satisfação do Consumidor Velocidade/Oportunidade Customização/Flexibilidade Redução de Custos Inovação Qualidade/Satisfação do Consumidor Inovação Customização/Flexibilidade Redução de Custos Qualidade/Satisfação do Consumidor Velocidade/Oportunidade Customização/Flexibilidade Velocidade/Oportunidade Customização/Flexibilidade Redução de Custos Inovação Qualidade/Satisfação do Consumidor Velocidade/Oportunidade Redução de Custos Qualidade/Satisfação do Consumidor Customização/Flexibilidade Inovação Velocidade/Oportunidade Customização/Flexibilidade Redução de Custos Fonte: Davis, 1995. Assim, se por um lado as organizações que não se adaptam às mudanças ocorridas no ambiente externo fracassam, de acordo com certas perspectivas, por outro lado, e de outras perspectivas, pode-se ponderar com base em histórias de grandes corporações que, até mesmo, empresas bem organizadas e administradas podem fracassar em 49 adaptar-se a novas e emergentes tecnologias em suas indústrias e mercados no longo prazo (CHRISTENSEN, 2001). Um dos principais motivos que levam essas organizações ao fracasso é a miopia criada pelo seu sucesso. Ou seja, elas são incapazes de perceber como novas tecnologias, inicialmente inviáveis, face aos mercados existentes, vão modificar o seu ramo de atividade. Especialmente por serem gerenciadas de acordo com as boas regras da administração – ouvindo os clientes e investindo agressivamente em novas e mais poderosas tecnologias, persistem investindo em mercados e tecnologias já existentes e lucrativos, deixando abertas janelas de oportunidade para outras empresas com percepção diferenciada. Christensen (2001) sugere que essas organizações fracassam porque investem excessivamente em tecnologias que já são amplamente satisfatórias, cujo mercado já está suficientemente satisfeito e nos quais não existem espaços para novas melhorias radicais. Esses investimentos acabam levando à oferta de capacidade acima daquela desejada e acessível ao consumidor. Nesses casos, a rentabilidade já alcançada com o uso da tecnologia existente torna pouco interessante a busca por tecnologias emergentes, que, apesar de prometerem rupturas, não apresentam potenciais de retorno suficientemente elevados nos médios e curtos prazos para atrair a atenção e os investimentos de grandes empresas bem sucedidas. Parece, portanto, aconselhável rever as crenças de que o novo é sempre o melhor, e o antigo é sempre o ultrapassado, e as organizações e as pessoas devem estar constantemente em busca de novas formas de trabalhar e novos comportamentos para seus trabalhadores. Mesmo com avanços proporcionados por novas tecnologias existentes e emergentes, existe, ainda, um grande espaço para exploração de 50 investimentos diferidos e ativos, tanto intelectuais quanto físicos, construídos por gerações anteriores de dirigentes. Por exemplo, alguns investimentos, em especial investimentos em tecnologias de ruptura, que podem demandar a construção de uma infra-estrutura para que sejam plenamente difundidos, requerem prazos de retorno muito extensos. Do ponto de vista empresarial, pode ser mais aconselhável, primeiramente, amortizar investimentos já realizados, assegurando-se que eles dêem suporte ao alcance das rentabilidades projetadas, até que seja o momento certo para iniciar novos investimentos. A questão mais importante em relação à inovação gerencial parece que não é “inovar já”, ou “não inovar”, mas inovar no “tempo certo” e “na hora certa”. Quais os fatores, no entanto, que podem estar por trás de decisões sobre inovações “no tempo certo” e “na hora certa”? Problematizar alguns dos fatores é um dos objetivos da próxima seção. 2.7. Mudança, Inovação, Conhecimento e Aprendizagem nas Organizações Nonaka (2000) propõe que conhecimentos formam os pilares sobre os quais são construídas as vantagens competitivas e sustentáveis, e que gerar conhecimento significa reinventar não só a empresa, mas também cada pessoa dela, em um processo contínuo de auto-renovação individual e organizacional. Em uma época em que “mercados e produtos se deslocam, tecnologias proliferam e os produtos tornam-se obsoletos quase que de um dia para o outro” (p.43), a capacidade de criar e disseminar novos conhecimentos de maneira consistente, incorporando-os a novas tecnologias e produtos, passam a ser das mais importantes para qualquer organização. Segundo Nonaka (2000), a agregação de maior valor à base de conhecimentos de firmas requer o enfrentamento do desafio de valorização de conhecimentos implícitos – seja na forma de intuição, experiência aplicada ou outras formas de conhecimento 51 subjetivo não formal – para viabilizar a possibilidade de formatação de soluções inovadoras. Esse tipo especial de conhecimento, uma vez formalizado, pode ser compartilhado com outras pessoas na organização, podendo dar bases para a criação e internalização das tão desejadas vantagens competitivas. Posição semelhante é adotada por Dougherty (1996). Essa autora também considera que a habilidade de desenvolver inovação de produtos permite que organizações melhorem a qualidade de seu output, revitalizem negócios maduros, entrem em novos mercados, reajam a invasões competitivas, experimentem novas tecnologias, alavanquem investimentos em tecnologias e desenvolvam aplicações alternativas para categorias de produtos existentes, dentre outros. Para organizações que devem se adaptar à competição, mercados e tecnologias mutáveis a inovação de produtos não é simplesmente uma moda passageira, mas, uma necessidade. Drucker (2000) se junta ao conjunto de autores que têm enfatizado a importância do conhecimento no rol de fatores que, na sociedade do conhecimento, permite às organizações obterem resultados positivos, chegando a considerá-lo um fator de produção, assim como terra, trabalho e capital. Destaca ainda a tensão existente entre organização e sociedade, uma vez que, enquanto a organização busca desestabilização, autonomia e bom desempenho, a sociedade anseia por estabilização e apresenta demandas das mais variadas à primeira. Sob a ótica de que a mudança e a aprendizagem são essenciais para a sobrevivência de organizações, Weick e Westley (1996) apresentam uma visão mais matizada que a de Drucker (2000) sobre a dinâmica organizacional e seu processo de aprendizagem. Os autores referidos alertam para o fato de que o conceito de aprendizagem organizacional é um oxímoro, uma vez que as duas expressões (organização e 52 aprendizagem) são antitéticas. Ou seja, “aprender é desorganizar e aumentar a variedade”, enquanto que “organizar é esquecer e reduzir a variedade” . Organização e aprendizado são processos essencialmente antitéticos, o que significa que a frase ‘aprendizagem organizacional’ qualifica-se como um oxímoro. Aprender é desorganizar e aumentar a variedade. Organizar é esquecer e reduzir a variedade. Na pressa de estudar aprendizagem, os teóricos organizacionais freqüentemente negligenciam essa tensão, que explica porque eles nunca têm certeza se aprendizagem é algo novo ou simplesmente mudança organizacional requentada. (WEICK e WESTLEY 1996, p.440) Assim, o estudo da aprendizagem organizacional é uma tarefa complexa. Primeiramente, porque organização é um conceito abstrato, de difícil compreensão e avaliação. Em segundo lugar, o verbo aprender não pode ser considerado um verbo de realização, como um final. Pelo contrário, ele deve ser interpretado como um verbo de processo, de continuidade. Finalmente, existe ainda o debate em relação ao fato de a aprendizagem organizacional ser um fenômeno que ocorre em diferentes níveis: indivíduo, grupo e organização. Segundo Weick e Westley (1996), a aprendizagem está relacionada à cultura de qualquer organização, no sentido em que esta representa um repositório de experiências passadas ou como sistemas auto-projetantes, nos quais se podem identificar a evolução e o resultado do aprendizado. Aprendizagem, ainda para os mesmos autores antes citados, é um fenômeno que ocorre primariamente através da interação social, sendo a cultura de uma organização, ao mesmo tempo, o seu instrumento e repositório. A aprendizagem organizacional está também ligada às rotinas de ação, uma vez que estas podem ser causa e efeito do aprendizado organizacional, de maneira circular e tautológica. Quanto mais as rotinas de ação reduzirem a ambigüidade e a incerteza, pelas opções de esquecimento, menos capacidade a organização possuirá para aprender novas rotinas. Mas, ambiguamente, 53 quanto mais ela souber lidar com os aspectos rotineiros, melhor ela poderá se adaptar a ambientes turbulentos e mudança intensa. Segundo Malerba (1992), as empresas aprendem de diferentes maneiras, e essas maneiras produzem aumentos no estoque de conhecimento e em suas capacitações tecnológicas, o que engendra uma série de novas trajetórias de avanço tecnológico, e não simplesmente de trajetórias que viabilizem reduções de custo. Os tipos de mecanismos de aprendizado utilizados por empresas são: a) Aprendizado pela ação (learning by doing) e aprendizado através do uso (learning by using), que estimularão mais visivelmente trajetórias de melhorias na lucratividade; b) Aprendizado por meio da interação (learning by interacting) com fornecedores de equipamentos, que também estimulará preponderantemente trajetórias de melhorias na lucratividade; c) Aprendizado pela interação (learning by interacting) com fornecedores de matérias primas, que estimulará essencialmente trajetórias de mudança técnica incremental relacionadas à melhoria de matérias primas e com usuários estimulará trajetórias horizontais de diferenciação dos produtos; d) Aprendizado por meio da busca (learning by searching), em especial através de atividades de P&D, que estimulará primordialmente trajetórias verticais de diferenciação de produtos em termos de qualidade e performance. Ainda segundo Malerba (1992), para cada trajetória de mudança incremental existirá uma base científica e tecnológica de suporte. Para justificar essas suposições, Malerba (1992) discute as proposições gerais em relação ao aprendizado das firmas e suas implicações. O artigo propõe que (i) aprendizagem é um processo dispendioso e dirigido, que ocorre na firma, seja em produção, P&D, projeto, engenharia, organização ou marketing; (ii) aprendizagem é associada a diferentes fontes de 54 conhecimento que podem ser internas ou externas; (iii) aprendizado é um processo cumulativo em relação ao estoque de capital da organização; e (iv) o estoque de conhecimento de uma firma gera inovações, principalmente em nível local e incremental. Pensamento similar ao desenvolvido por Nonaka, sobretudo em termos da relação entre inovação e empresas de sucesso, é o de Teece (2000): a competitividade de uma organização é decorrência de sua capacidade de desenvolver, de aplicar novas tecnologias e de adotar novas formas organizacionais. Teece (2000), adere, também à visão de Malerba (1992) sobre as características do desenvolvimento tecnológico em organizações. Para ele, o desenvolvimento tecnológico ocorrido nas organizações é um processo cheio de incertezas, dependente de trajetórias tecnológicas prédeterminadas e de paradigmas dominantes; é de natureza cumulativa, tácita e irreversível. Assim, cada organização, estudada isoladamente, adotará uma estratégia em relação à inovação de produtos, de processos e gerenciamento. Diversos fatores influenciarão em sua postura perante o novo e o incerto. Dentre esse conjunto de fatores, destacamse: sua experiência passada com novas práticas e novos métodos de gestão, além de seu porte, origem de seu capital, número de funcionários, setor de atuação, tempo de operação e suas possibilidades de acesso a novas tecnologias, utilizando-se de consultores ou pela interação com clientes e fornecedores. Apesar dessa variabilidade de trajetórias das firmas face ao aprendizado e à inovação, pode-se supor que é possível identificar alguns padrões de comportamento relacionados à inovação, que tornam as organizações semelhantes ou diferentes, em algum nível e em alguma direção. É possível, portanto, desenvolver tipologias de 55 organizações em relação à mudança e à inovação, tanto stricto sensu quanto gerencial. Uma tipologia clássica vai ser apresentada no próximo item. 2.8. A construção de tipologias de organizações em relação à mudança e à inovação gerencial Tipologias são formas de análise comparativa de organizações, que ressaltam suas semelhanças e suas diferenças, no sentido de melhor explicar padrões de comportamento de grupos de indivíduos em estudo (BERTERO, 1981). Dessa forma, comparar organizações implica agrupá-las de modo a se conhecer, com maior clareza, determinados aspectos ou variáveis que influenciam um grande número de organizações, que pode ser tanto um universo quanto uma amostra. Inevitavelmente, isso leva a um menor conhecimento de cada organização isoladamente. O estudo comparativo de muitas organizações é necessário, não apenas para verificar hipóteses levantadas por qualquer teoria, mas para fornecer uma base para explorar e refinar a teoria, indicando as condições em que relações inicialmente propostas universalmente possam ser contingentes. (BERTERO, 1981, p.32) Tipologias são associadas ao conceito de “tipos ideais” weberianos, no sentido em que explicam padrões extremos de comportamentos organizacionais, que explicam a forma de agir de um número razoável de indivíduos, cujos comportamentos se assemelham. Tipologias podem desempenhar dois papéis básicos no estudo das organizações (BERTERO, op.cit.): (i) um mapeamento de parte da realidade organizacional, tornando mais claros aspectos organizacionais que se querem estudar; ou (ii) uma forma de agregar resultados de pesquisa empírica. A tipologia mapeadora aproxima-se do idealismo, enquanto a segunda se aproxima mais do realismo. Em ambos os casos, as tipologias sempre servem a uma função agregadora, fundamental à construção científica. 56 Segundo Bertero (1981), a construção de tipos ideais busca tornar o objeto de conhecimento inteligível através da revelação (ou construção) de sua racionalidade interna. Ele interpreta, de acordo com Weber e seus principais representantes (Aaron e Freund), tipologias e tipos ideais como instrumentos para abordar alguns aspectos da realidade, um artifício metodológico, um meio heurístico de estabelecer, sem ambigüidade, o sentido do assunto que está sendo investigado. Bertero (op.cit.. p. 34) prossegue dizendo que tipos ideais “são procedimentos puramente experimentais que o cientista desenvolve deliberada e arbitrariamente, de acordo com suas necessidades de investigação, e que abandona sem maiores problemas se suas expectativas não forem satisfeitas” . As tipologias, enquanto expressões de tipos ideais, abrem caminho para que se identifiquem regularidades e convergências entre grupos de indivíduos de uma mesma população ou amostra, favorecendo a compreensão de suas semelhanças e diferenças. Tipologias agregadoras – aquelas que são elaboradas sem que o autor disponha de um determinado número de organizações concretas com que lidar no plano da pesquisa – surgem a fim de permitir a agregação de dados coletados. Nas tipologias mapeadoras, por sua vez, a tipologia em si precede os dados, enquanto que na tipologia agregadora, os dados antecedem a tipologia, emergindo após a análise de uma amostra de organizações ou outros indivíduos em estudo. Provavelmente, a tipologia mais difundida na literatura de administração e negócios é a de Miles e Snow (1978:2003), que classifica as organizações com base em suas estratégias inovacionais e de mudança em quatro grupos: defensivas, prospectivas, analíticas e reativas. Segundo esses autores, a tipologia por eles desenvolvida busca, dentre outros objetivos, ampliar a compreensão do processo pelo qual as organizações se ajustam continuamente aos seus ambientes, criando uma consciência ampliada de 57 que a capacidade de mudança organizacional depende de teorias implícitas sobre como as pessoas devem ser gerenciadas. A tipologia desses autores sugere a necessidade de ajuste entre as características das organizações e as características do ambiente que as cercam (fit organizacional), de modo que as organizações bem sucedidas parecem ser capazes de desenvolver continuamente um forte alinhamento entre suas estratégias, estruturas e processos, ao mesmo tempo em que buscam meios de compreender e expressar como esses elementos se ajustam entre si. Miles e Snow (1978:2003) utilizam como pressuposto o fato de que as organizações atuam para criar seus ambientes (perspectiva da escolha estratégica), tomando decisões que definem sua relação com o ambiente (environmental enacting, conforme WEICK 1969, 1977 apud MILES e SNOW 1978). As escolhas estratégicas da administração moldam as estruturas e os processos das organizações, referindo-se à estratégia mais como um padrão de decisões, grandes e pequenas, que direcionam as ações organizacionais para o futuro. Essas decisões adquirem significado conforme vão sendo implementadas na estrutura e nos processos organizacionais. Ao mesmo tempo, estrutura e processo restringem a estratégia, pois, uma vez que tenha desenvolvido um arranjo viável entre essas duas variáveis, a organização pode sentir dificuldade em desenvolver atividades fora do escopo de suas operações dele decorrentes. Ao reduzir a incerteza, facilitando a tomada de decisão consistente com objetivos organizacionais, através da adoção de normas, políticas e outros repertórios de ação, a organização limita suas capacidades e competências ao permitido por esse mecanismo, dessa forma restringindo suas possibilidades de ação. Pode-se inferir, portanto, aspectos da complexidade de relações entre estratégia e estrutura. Seguindo a veia convencional em administração, Miles e Snow (1978) preconizam que a estrutura tende a seguir a estratégia, e as duas devem estar 58 altamente alinhadas para que a organização seja eficaz. No entanto, ainda conforme Miles e Snow (1978:2003), simultaneamente ao padrão de relação entre estrutura e estratégia, a estrutura restringe a estratégia, ou seja, uma organização raramente consegue desviar-se substancialmente de seu curso de ação sem grandes alterações em sua estrutura e seus processos. Em síntese, a tipologia desenvolvida por Miles e Snow (1978) permite que se visualizem similaridades entre condutas de diferentes organizações face às mudanças e às inovações, pela via da relação entre estratégia e estrutura, enfatizando a natureza bidirecional dessa última relação. Dessa forma, essa tipologia mostra-se afinada com a visão mais matizada e dinâmica dos processos organizacionais. No próximo item, o foco da discussão teórica desta tese vai se estreitar sobre as práticas inovadoras de gestão que são seu objeto. Dessa forma, o próximo item iniciase com a delimitação do conceito de práticas inovadoras de gestão e a apresentação de uma certa cronologia de aparecimento dessas práticas. Em seguida, são discutidos cada grupo de práticas, objeto de análise desta tese, conforme sugerido pela revisão de bibliografia. Assim, algumas das perguntas-chave que o próximo item tentará responder são: o que são práticas de gestão? Quando surgem certas práticas de gestão? Como e por que podem ser agrupadas tais práticas? Quais as características-chave desses grupos de práticas? 3. Práticas Inovadoras de Gestão 3.1. O que são práticas de gestão e uma certa cronologia de aparecimento de práticas selecionadas de gestão De fato, a produção acadêmica sobre práticas inovadoras tem sido cada vez mais abundante. Essas produções aprecem tanto no mercado editorial quanto em congressos, em palestras e em conferências. Parece haver uma busca por uma solução definitiva para os problemas empresariais. Em contraposição à visão mais matizada da relação entre inovação e organizações, apresentada no capítulo anterior, o discurso predominante é o de que está sendo desenvolvida uma “caixa de ferramentas gerenciais”, que devem ser aplicadas criteriosamente para cada situação ou problema vivenciado pelas organizações. Por exemplo, Araújo (2001) apresenta dez novas “tecnologias de gestão organizacional”, surgidas como resultado de uma “quebra de paradigma” resultante de mudanças políticas, econômicas, sociais e tecnológicas: arquitetura organizacional, terceirização, gestão pela qualidade total, benchmarking, aprendizagem organizacional, empowerment, open book management, gestão horizontal, reengenharia e engenharia reversa. Essas tecnologias permitiriam “aperfeiçoar o desempenho empresarial, de sorte a permitir a sobrevivência de organizações competitivas de tantas turbulências e quebra constante de paradigmas” (ARAÚJO, 2001, p.17). Existem outros autores que apresentam “receitas para o sucesso” (KEARNEY JR., 1997) ou o “kit de ferramentas para o século XXI” (BHOTE, 1997), compostos por práticas emergentes como sendo a última palavra em administração. Outros estudiosos dedicam-se à busca de um novo padrão de organização, algo como uma “manufatura de classe mundial”, que agrega os desenvolvimentos mais recentes ocorridos em vários países. As novas técnicas de gestão são amplamente discutidas no meio executivo e acadêmico, sob variadas terminologias: tecnologias gerenciais, tecnologias organizacionais, práticas de gestão, modelos de produção, por exemplo. Oliveira (1990, p. 38) chama de metodologias administrativas os “conjuntos sistematizados de princípios, métodos, técnicas e normas, expressos pela escrita [...], que visam instrumentalizar as ações administrativas nas organizações produtivas”. Já para Faria (1997, p. 29-30), tecnologias de gestão são: o conjunto de técnicas, instrumentos ou estratégias utilizados pelos gestores — gerentes, administradores, etc. — para controlar o processo de produção, em geral, e de trabalho, em particular, de maneira a otimizar os recursos nele empregados, pondo em movimento a força de trabalho capaz de promover a geração de excedentes apropriáveis de forma privada ou coletiva (social). Devido a seus impactos sobre o processo produtivo, o referido autor ressalta ser inegável que realmente se tratam de tecnologias. Segundo o mesmo autor, as tecnologias gerenciais classificam-se em conjunto de técnicas de ordem instrumental, para fins de racionalização do trabalho — estudos de tempo e movimento, sistemas e métodos, layout físico e de processo — e de técnicas de ordem comportamental e ideológica, que visam disseminar valores para o desempenho de tarefas segundo a dominação burocrática — mecanismos de motivação, trabalhos em grupos participativos, planos de treinamento e desenvolvimento. Ainda para Faria (1997), as tecnologias de gestão, tais como as tecnologias físicas, são um meio de aperfeiçoar a criação de valor para o capitalista, além de disseminar os ideais de sua ética particular. Quando se percebe o esgotamento da eficiência marginal de determinadas tecnologias, “ideólogos e pesquisadores orgânicos da gestão capitalista” 61 desenvolvem inovações nessas tecnologias a fim de melhorar os resultados, em uma dinâmica que promove o surgimento de muitos modismos (FARIA, 1997)1. As tecnologias gerenciais passam por processos de difusão, experimentando, pela aprendizagem e adaptação pelos seus adotantes, processos de inovações incrementais. Um aspecto importante nesse campo é que a adoção de uma tecnologia não se dá necessariamente por um processo decisório racional clássico, conforme já foi discutido nesta tese. Simon (1963), ao discutir a tomada de decisão, acrescentou aspectos importantes que reforçam a percepção anterior sobre a natureza do processo de decisão sobre a adoção de tecnologias. Esse autor, ao analisar de forma mais ampla a questão da racionalidade, expôs o conceito de racionalidade limitada, segundo o qual o homem não tem capacidade de analisar todas as alternativas e escolher a opção ótima. A escolha se limita ao satisfatório. Assim, muitas decisões se dão por processos que se baseiam em outras formas de racionalidade, que buscam, além da eficiência, a legitimação em seu ambiente. Independentemente de sua eficácia, todavia, práticas inovadoras têm surgido ao redor do planeta, como resultado de novas formas de combinação de tecnologias produtivas com a tecnologia da informação e com inovações sociais. Praticamente nenhum domínio da empresa fica isento dessa mudança. Um esforço de catalogação e classificação de todas as práticas existentes seria uma tarefa impossível de ser realizada, dado seu ritmo de surgimento, difusão e desaparecimento. Entretanto, é possível identificar algumas práticas que obtiveram relativo sucesso e têm sido 1 Entretanto, vale salientar que as tecnologias de gestão não só serviram para fins capitalistas, mas também foram utilizadas nas sociedades de economia planificada. Assim, mesmo ciente de sua não neutralidade, a tecnologia de gestão não só potencializa a acumulação capitalista, mas, antes, busca dinamizar a produção e otimizar seus processos. Mintzberg (1995, p. 36), em seu livro Criando Organizações Eficazes, ressalta que a técnica de especialização do trabalho foi bastante utilizada tanto pela indústria americana como pela russa. 62 adotadas ao longo do tempo, ainda que a ritmos e intensidades diferentes, em organizações do mundo todo (Quadro 3.1). Quadro 3.1 - Cronologia de Desenvolvimento de Práticas em Administração Ano Desenvolvimento 1927 Controle Estatístico da Qualidade 1930 Estudo de Hawthorne 1942 Hierarquia das Necessidades 1946 Just in Time( prática a ser analisada nesta tese) 1948 Kanban 1948 Abordagem Sócio-Técnica 1949 Células “Ferradura” (prática a ser analisada nesta tese) 1950 PDCA 1954 Custos da Qualidade 1955 Diagrama de Ishikawa 1960 Teoria X e Teoria Y 1961 MRP – Material Requirement Planning 1962 Círculos de Controle da Qualidade 1966 Quality Function Deployment 1970 Grupos Semi-Autônomos 1975 MRPII – Manufacturing Resource Planing 1978 OPT – Teoria das Restrições 1980 Controle da Qualidade Total (prática a ser analisada nesta tese) 1980 Benchmarking 1985 Lean Manufacturing 1985 Supply Chain Management ( prática a ser analisada nesta tese) 1990 Agile Manufacturing 1990 Seis Sigma 1992 Efficient Consumer Response 1995 E-business / E-Procurement Fonte: Adaptado de Corrêa, 2003 Como foi discutido anteriormente, a definição de tipologias pode ajudar a tornar mais inteligíveis os processos organizacionais. Em função disso, a discussão a seguir sobre práticas gerenciais é feita por tipologias de práticas. 63 3.2 Domínios de Práticas Inovadoras Parte da literatura concernente às práticas inovadoras evidencia as sobreposições existentes em relação ao arcabouço de métodos que as compõem. Por exemplo, tanto a gestão da qualidade total, o just in time e a manutenção produtiva total incluem o compromisso da liderança, o planejamento estratégico, treinamento multi-funcional e o envolvimento dos trabalhadores. Entretanto, outra parte da literatura especializada não costuma evidenciar essas sobreposições. As figuras 3.1 e 3.2 apresentam uma proposição de agrupamento de práticas gerenciais frequentemente relacionadas à Gestão da Qualidade Total, Just in time, Manutenção Produtiva Total e Gestão de Pessoas e Estratégia, bem como a alguns dos resultados que podem ser obtidos através de sua utilização, de acordo com Cua et al (2001). Figura 3.1 – Um framework Integrado entre Gestão da Qualidade Total, Just in Time e Manutenção Produtiva Total Técnicas Básicas de Gestão da Qualidade Total Técnicas Básicas de Just in Time Técnicas Básicas de Manutenção Produtiva Total Projeto Multi-Funcional de Produtos Gestão de Processos Gestão da Qualidade de Fornecedores Envolvimento dos Consumidores Redução do Tempo de Setup Produção “Puxada” Entregas just in time pelos fornecedores Layout dos equipamentos Calendário diário de produção Manutenção autônoma e manutenção planejada Ênfase na tecnologia Desenvolvimento de Equipamento Proprietário Técnicas Comuns Orientadas para as Pessoas e para a Estratégia Compromisso da Liderança Planejamento Estratégico Treinamento Multi-Funcional Envolvimento dos Trabalhadores Informação e Feedback Fonte: Cua et al 2001 (p.679). 64 Figura 3.2 – Um Framework Teórico sobre a Combinação de Práticas Inovadoras GQT JIT MPT Práticas Orientadas para Pessoas e Estratégia Fatores Contextuais Desempenho Produtivo Custos Qualidade Entrega Flexibilidade Desempenho Fonte: CUA et al 2001 (p.679). Cua et al (2001) sugerem que a implementação de técnicas básicas não causará tanto impacto no desempenho produtivo quanto a utilização combinada de práticas básicas – específicas de cada técnica (sistema técnico) – com as práticas comuns de gestão de pessoas (sistema social). Tanto o subsistema social quanto o subsistema técnico devem ser otimizados para alcançar o melhor desempenho possível. A hipótese dos autores é de que um nível mais alto de desempenho produtivo pode ser esperado quando práticas comuns e específicas de GQT, JIT e MPT são implementadas conjuntamente. Segundo esses autores, a adoção dessas práticas, como GQT, JIT e MPT, auxiliará no estabelecimento de uma estrutura na qual os recursos humanos de uma fábrica podem adquirir informação e aprender, ser empoderados e se envolver mais intensamente com as operações. Amparando-se nos conceitos de fit2 organizacional, que envolve a consistência entre os grupos ou subsistemas de uma organização (fit interno), e de fit entre a estrutura e estratégia organizacional e o contexto externo (fit externo), tais autores acreditam que um fit adequado entre fatores relevantes levará a um desempenho melhorado. O artigo ressalta a necessidade de adoção de práticas combinadas que se suportam mutuamente. Avanços obtidos em um campo, através de uma prática, serão estímulos por avanços em outros campos, com o uso de práticas complementares. Investimentos realizados, por exemplo, em treinamento multifuncional, necessários para a 2 Em geral, fit significa a coerência entre dois ou mais fatores. 65 implementação de uma prática, serão aproveitados quando houver novos esforços para a adoção de novas práticas gerenciais. Seguindo as proposições encontradas em Loiola et al (2003b), é possível sugerir três domínios nos quais práticas inovadoras têm sido crescentemente adotadas: práticas inovadoras de gestão de pessoas, práticas inovadoras de gestão da produção e práticas inovadoras de gestão do desempenho e da qualidade. Dessa forma, serão apresentadas a seguir, sem presunção de esgotar a discussão sobre inovações em quaisquer desses domínios, algumas inovações que tipificam as mudanças que neles têm ocorrido. 3.1.1. Práticas Inovadoras de Gestão de Pessoas Assim como outras áreas da administração, o campo da gestão de pessoas tem sido marcado por inúmeras inovações no modo como se gerenciam as relações de trabalho nos últimos anos. Conforme discutido em seções anteriores desta tese, é possível identificar duas fontes para tais inovações. Uma de natureza interna, da organização, e outra de natureza externa, oriunda do ambiente. Internamente, as pressões têm ocorrido no sentido de atingir o pleno potencial produtivo da organização, obtendo o máximo desempenho possível de seus recursos, inclusive humanos. Para tanto, foram desenvolvidas novas práticas de gestão do trabalho para aumentar sua produtividade, seu comprometimento com o trabalho e com a empresa, e fomentar sua capacitação. Essas novas práticas de gestão do trabalho humano são mais sutis em seus métodos e em sua retórica, e incluem novas formas de relacionamento social no ambiente de trabalho e a promessa de recompensas crescentes em retribuição aos esforços oferecidos pela força de trabalho, exigindo mais abertamente o esforço e a dedicação das pessoas, por exemplo. 66 Osterman (1998) sugere que sistemas de trabalho de alto desempenho se difundiram rapidamente durante a década de 1990. As premissas sobre o uso desses sistemas são: 1) eles permitem maior produtividade e maior qualidade, uma vez que utilizam mais eficientemente a mão de obra, explorando sua criatividade e força de vontade3, e 2) esses sistemas também prometem benefícios que atingem tanto a força de trabalho quanto os empregadores, distribuindo parte dos ganhos para estes últimos. De fato, a retórica associada a muitas dessas novas práticas sugere que é papel de cada indivíduo gerenciar sua contribuição para a organização, transferindo-lhe a responsabilidade de melhorar seu desempenho. Adicionalmente, essas novas retóricas prometem, em troca da dedicação integral dos trabalhadores, maior auto realização e maiores recompensas financeiras e não financeiras. A segunda fonte de pressão pró-mudanças sobre as organizações é externa, e refere-se não somente a pressões por competitividade e desempenho, mas também a pressões por práticas mais humanas de gestão de pessoas e condições mais aceitáveis de trabalho. Sindicatos, governo e sociedade têm exigido que as organizações melhorem as condições de trabalho de seus empregados, visando reduzir o impacto negativo do trabalho sobre o indivíduo. As organizações têm sido cobradas a adotarem um comportamento comprometido com a dimensão social, que inclui também as formas como gerenciam e recompensam as pessoas que nelas atuam. Davis (1995) ressalta a influência de um novo ambiente das organizações, marcado por outros vetores de mudança intensiva: a tecnologia da informação, o crescimento do conhecimento e a globalização. Segundo Davis (1995), as organizações devem se esforçar para aproveitar as oportunidades e evitar as ameaças apresentadas por esse ambiente, cujo ritmo de mudança é acelerado, impedindo organizações de mudar 3 Adler (1993) relata a experiência na NUMMI, segundo a qual os trabalhadores apresentaram dez mil novas idéias, oitenta por cento das quais foram aproveitadas. 67 incrementalmente e forçando-as a perceber e responder rapidamente a janelas globais de oportunidade. A tecnologia da informação, o crescimento do conhecimento e a globalização estão levando as organizações a remover suas fronteiras internas e externas. Essas mudanças podem trazer vantagens somente quando elas são buscadas apropriadamente como parte de uma estratégia deliberada. Essas mudanças organizacionais fornecem novas oportunidades para psicólogos industriais e organizacionais. A identificação dos requisitos dos recursos humanos, a mensuração e o desenvolvimento do domínio pessoal, e a mensuração e gestão das competências organizacionais representam novas áreas para pesquisa e prática. (DAVIS, 1995, p.133-134) Osterman (1998) acrescenta ao conjunto até aqui delineado de explicações para o fenômeno de adoção de práticas inovadoras de gestão, o comportamento imitativo por parte de organizações secundárias que acompanham movimentos inovadores das líderes de seus setores, o que explicaria movimentos tardios de difusão – racionalidade econômica seria uma explicação para os adotantes iniciais, enquanto que mimetismo seria uma explicação para adotantes tardios. Segundo Ichniowski et al (1996) práticas tradicionais de gestão de pessoas incluem cargos definidos de maneira restrita, com formas de pagamento também restritas, claras linhas de demarcação, separando direitos e deveres dos trabalhadores e supervisores, poderes de decisão centralizados na administração, e comunicação e conflitos canalizados para as cadeias de comando e procedimentos de reivindicações formais. Ainda segundo Ichniowsky et al (1996), práticas inovadoras se diferenciam de práticas tradicionais de gestão de pessoas porque buscam maior grau de flexibilidade na organização do trabalho, maior cooperação entre os trabalhadores e a gerência, e maior participação do trabalhador nas decisões e no bem-estar financeiro da empresa. 68 Prosseguindo, tais autores postulam que as teorias sobre práticas inovadoras as relacionam com melhoraria de produtividade, pois estimulam os trabalhadores a se dedicar mais intensamente ao trabalho e a compartilhar mais suas idéias. Além disso, elas podem tornar a estrutura da empresa mais eficiente, a despeito de qualquer efeito que possam gerar sobre a motivação dos trabalhadores. Em ambos os casos, as companhias que adotam essas práticas propendem a desfrutar maior produtividade e qualidade, reduzindo seus custos e aumentando a demanda pelos seus produtos. Em última análise, a melhoria dos resultados das empresas adotantes dessas práticas inovadoras se reflete em melhor lucratividade, melhor retorno sobre o ativo, melhor retorno sobre o investimento, pelo menos no longo prazo, afetando positivamente o valor de suas ações. Sendo assim, tem sido construído um novo padrão de gestão de pessoas, denominado de Sistemas de Trabalho de Alto Desempenho (HPWS – High Performance Work Systems) (WAY, 2002; KLING, 1995). Segundo Way (2002), HPWS são conjuntos de práticas de administração de recursos humanos que funcionam complementarmente para selecionar, desenvolver, reter e motivar uma força de trabalho que (1) possua habilidades superiores, (2) que aplique essas habilidades em suas atividades profissionais, (3) que resultem em desempenho superior por parte da organização. Sistemas dessa natureza normalmente envolvem a transferência de certo nível de controle aos empregados e outros mecanismos, como programas de envolvimento, trabalho em equipe, treinamento e desenvolvimento, formas de compartilhamento dos resultados (gain sharing) e outros sistemas de recompensas, com o intuito de produzir maior bem estar dos trabalhadores e assim obter o melhor resultado possível (RAMSAY et al, 2000). Em outras palavras, essas práticas tipicamente envolvem uma combinação de organização do trabalho e políticas de administração de recursos 69 humanos, adotadas com a finalidade de oferecer maior participação na tomada de decisão (empoderamento), a oportunidade de aprender novas habilidades (cultura de aprendizagem) e os incentivos financeiros, para que sejam despendidos maiores esforços a serviço das metas dos empregadores, envolvendo, geralmente, alguma forma de trabalho em equipe, círculos de qualidade e remuneração por desempenho. Sistemas do tipo HPWS prometem realizar melhorias no desempenho das organizações, principalmente com resultados típicos da gestão de pessoas, como redução do turnover e do absenteísmo, mas, também, com resultados relacionados ao desempenho organizacional, como a própria elevação da produtividade do trabalho, e a melhoria de outros resultados de desempenho contábil e/ou financeiro, como o retorno sobre o investimento (DYER & REEVES,1995 apud WAY, 2002). O empoderamento, em especial, se refere a uma maior distribuição de poder nas organizações, em todos os níveis hierárquicos, na busca de maior rapidez de resposta, maior efetividade nas decisões e nas ações organizacionais (MILLS 1996; TRACY 1994; SOARES E LUCAS 1995). Quando todos na organização possuem a informação e o discernimento para tomar decisões mais apropriadas, torna-se menos necessária a intervenção de gerentes e executivos de alto escalão para resolver os problemas do dia-a-dia das organizações. O empowerment envolve a participação dos gerentes médios e dos funcionários em geral no planejamento e nas decisões estratégicas das empresas, combinada com outras práticas como trabalho flexível, gestão de livro aberto, gerência participativa e remuneração por desempenho. Essas práticas, quando associadas, compõem um poderoso modelo de administração, que pode produzir um efeito motivacional intenso, trazendo melhorias significativas para o desempenho das organizações. 70 A mudança para se adotar o empowerment nas organizações envolve o aumento da confiança entre as pessoas e a gerência, a adoção de tolerância a erros, a fixação de metas desafiadoras e de elevados padrões de excelência, associados a investimentos em treinamento e desenvolvimento de pessoas que trabalham em equipes autodirigidas e motivadas intrinsecamente (MILLS, 1996; TRACY, 1994). Enfim, há uma corrente de estudiosos que defende que trabalhadores preferem atuar em ambientes mais desafiadores, que explorem mais intensamente suas capacidades e talentos, e aceitam participar em programas de tal natureza, mesmo quando condições externas ao programa pareçam ameaçar sua estabilidade. Ou seja, apesar de os trabalhadores estarem conscientes do potencial explorador de sistemas de trabalhos de alto desempenho e não confiarem completamente em seus administradores, existe uma chance de que eles prefiram trabalhar em condições semelhantes a esses tipos de sistemas. Além disso, os empregadores também exigirão que os trabalhadores de suas organizações se engajem em sistemas dessas naturezas, devido ao grande potencial de ganhos a serem auferidos. Assim, um subconjunto da literatura especializada na área enfatiza que estes sistemas de trabalho de alta performance (HPWS) oferecem benefícios tanto para empregadores quanto para empregados. De acordo com esse ponto de vista, com a adoção de HPWS’s é possível que os empregadores obtenham maior qualidade, produtividade e retorno financeiro, enquanto que os empregados obtenham salários mais elevados e maior satisfação com o trabalho, ao mesmo tempo em que elevam suas habilidades, motivações e o nível de empoderamento. Entretanto, pesquisas recentes demonstram que funcionários de empresas que adotam práticas de elevado desempenho têm reportado resultados contrários aos inicialmente identificados como desejáveis. Os trabalhadores têm relatado redução da auto-estima, 71 extenuação e baixa satisfação com o trabalho, forçando organizações adotantes de HPWS a desenvolver sistemas de compensação, como esquemas flexíveis de trabalho e outras práticas que permitem maior adaptação. White (2003) investiga a relação entre a adoção de práticas inovadoras de administração, comumente denominadas “administração de alto desempenho”, ou “administração de alto compromisso” e o equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal e familiar. Segundo esse último autor, essas práticas recentes nesse campo implicam maiores exigências sobre o desempenho do indivíduo, o que repercute negativamente em sua qualidade de vida, trazendo conseqüências negativas sobre sua família. A principal causa dessas repercussões negativas seria o enfraquecimento do poder de barganha dos empregados, face à queda na estabilidade dos empregos, associado ao aumento de suas necessidades financeiras, resultantes de aumentos de preços e taxas de juros. Os empregadores, por sua vez, têm buscado maior retorno sobre o custo de mão de obra. Práticas de alto desempenho ou alto comprometimento exercem um impacto negativo nas vidas dos trabalhadores, uma vez que estes são forçados a oferecer maior esforço discricionário na busca dos objetivos organizacionais. A determinação de horas de trabalho pelos empregadores tende a aumentar as demandas de trabalho acima do nível de escolha ótima para os empregados. Dessa forma, as horas trabalhadas de fato serão relacionadas positivamente com transbordamento negativo do trabalho para casa. Segundo White (2003), as práticas que elevam as demandas sobre o trabalho aumentam o ‘transbordamento’ (spillover) negativo do trabalho para o lar, enquanto que práticas que aumentam a escolha ou a flexibilidade do empregado sobre as demandas do trabalho reduzem o ‘transbordamento’ negativo do emprego para o lar. 72 Três tipos de práticas de alto desempenho gerarão mais demanda de trabalho, e dessa forma, transbordamento negativo do trabalho para casa: práticas de avaliação do desempenho; trabalho em equipe; e remuneração por desempenho. Por outro lado, práticas que reduzem a pressão sobre o trabalhador são aquelas que aumentam a escolha e a flexibilidade do trabalhador sobre as demandas do trabalho, como horários flexíveis de trabalho. Certamente, há também diferenças individuais que influenciam os resultados da adoção dessas práticas, como dificuldades financeiras que levam o indivíduo a trabalhar por mais tempo, gerando conseqüências negativas sobre suas vidas pessoais. Outras circunstâncias que levam a dificuldades financeiras são a existência de crianças (filhos) na família, o fato de somente uma pessoa de o casal trabalhar, por exemplo. A pesquisa realizada por Osterman (1998) amplia as evidências registradas em parágrafos anteriores, sugerindo que a adoção de sistemas de HPWO associa-se a aumentos na probabilidade de demissões e redução dos ganhos indenizatórios, além de redução do emprego de administradores e à utilização de força de trabalho temporária. A turbulência gerada por demissões e transferências reduz a probabilidade de que equipes possam funcionar adequadamente, alcançando os resultados desejados. Sem segurança em seus empregos, os trabalhadores tendem a evitar participação, especialmente no que se refere a melhorias em produtividade, que são associadas, pelos menos popularmente, a demissões e enxugamentos. Esses argumentos tornam evidente o fato de que práticas inovadoras de gestão de pessoas nem sempre são favoráveis aos indivíduos, conforme pregado por parte da literatura do ramo. “Melhores práticas de administração de alto desempenho devem ter maior cautela ao proclamar a presunção unitarista de que todos ganham com a 73 inovação gerencial” (WHITE 2003, p. 191). Essa ponderação é repetida também por Appelbaum et al (2000: p.228) e por Tenório (2000). Para Tenório (2000), em especial, as conseqüências negativas da utilização da tecnologia da informação sobre os trabalhadores são o aviltamento do trabalho, o desemprego e decorrências sociais além da desqualificação dos trabalhadores, apesar de haver, como contrapartida, uma qualificação intelectiva, que se reflete em exigências para os trabalhadores de maior capacidade de pensar abstratamente, melhor raciocínio indutivo e uma maior concepção teórica dos processos aos quais os dados se referem. Ao discutir sobre a natureza e o conteúdo do trabalho em organizações que adotam alguma forma enriquecida de gestão de pessoas, como os sistemas High Performance Work Systems (HPWS), Howard (1995), todavia, não negligência a existência de um debate sobre a tendência à manutenção da desqualificação do conteúdo do trabalho, conforme o trabalho intelectual continue a ser transferido para equipamentos mais inteligentes, potencialmente substitutos do trabalho intelectual do ser humano. Entretanto, Howard (1995) sugere que a competição esteja forçando as organizações a realizarem um upgrading no conteúdo do trabalho, como forma de obterem combinações mais produtivas de suas capacidades humanas e mecânicas. As organizações necessitam de conhecimento e iniciativa de operadores qualificados, de modo a aproveitar ao máximo o potencial dos equipamentos, exigindo que os operadores se envolvam em atividades de programação, testes e alterações. A manufatura flexível normalmente encoraja essas modificações, uma vez que ciclos mais curtos de produção requerem mais atividades de setup e programação, o que, por sua vez, requerem maiores habilidades (HOWARD op.cit.). 74 Além do mais, ainda segundo Howard (op.cit.), o nível ampliado de interdependência dos trabalhadores nas fábricas modernas, aliado ao custo elevado dos equipamentos, exerce uma pressão aumentada na prevenção de erros e na redução da incerteza, o que exige maior responsabilidade e iniciativa dos trabalhadores na fábrica. Wood (1999) alerta para o fato de que a simples adoção de práticas inovadoras não assegura as vantagens desejadas. A questão é a de que há condições que limitam o sucesso na adoção de novas práticas organizacionais, inclusive as práticas de gestão de pessoas. Essa é a lógica predominante na teoria da contingência, que reclama a importância do ajuste entre os sistemas de recursos humanos e seu contexto, e, particularmente, a estratégia organizacional. Sendo assim, práticas de administração de alto desempenho só oferecem desempenho superior sob certas circunstâncias. Segundo Wood (1999), a questão ultrapassa a simples verificação do universalismo das práticas de alto envolvimento e teoria contingencial. Há hipóteses mais complexas ligando práticas de recursos humanos. Uma análise dessa literatura apresenta um quadro desequilibrado. Primeiramente, há diferenças conceituais nos estudos. Além disso, os resultados variam entre si, e os efeitos dos sistemas de administração de alto envolvimento ou alto comprometimento (HIM) no desempenho variam entre eles, mesmo em estudos particulares. Apesar de esses trabalhos alegarem comprovar universalismo, suas evidências empíricas não são inquestionáveis. Um dos problemas potenciais em relação à adoção de HPWS é a possibilidade de que a adoção dessas práticas possa gerar custos adicionais que superem os benefícios obtidos. A adoção desses sistemas é uma decisão que envolve a análise dos riscos associados ao investimento necessário e dos retornos esperados, especialmente quando se trata de organizações que não possuem capital para investir nesses programas, que prometem ganhos diferidos. Isso pode ser ainda mais relevante no 75 caso de micro e pequenas empresas que não conseguem atingir o volume suficiente para obterem economia de escala (GUTHRIE, 2001 apud WAY, 2002). Além do mais, os excedentes de ganhos auferidos na adoção de sistemas HPWS têm sido usualmente negociados e repassados para os trabalhadores, na forma de aumentos de salários e de bonificações e outros incentivos salariais, o que reduz ainda mais os ganhos reais das organizações (OSTERMAN,1998). Osterman (1998) sugere ainda que, em épocas de grandes reestruturações, as organizações tendem a deixar de adotar ou de sustentar práticas de recursos humanos associadas aos sistemas de trabalho de alto desempenho. Isso ocorre, em primeiro lugar, porque essas práticas requerem certo nível de estabilidade, de modo que os participantes possam aprender novas habilidades e acostumarem-se ao trabalho em equipe. Práticas associadas a elevado desempenho organizacional exigem elevado nível de comprometimento com o trabalho – os trabalhadores devem estar interessados em aprender novas habilidades, devem estar confiantes para apresentar suas idéias e sugestões, baseadas em suas experiências e conhecimentos. Na verdade, uma das principais questões levantadas pela literatura mais crítica é o quanto as práticas utilizadas pelas empresas se ajustam entre si e com outros aspectos que envolvem a organização – fit organizacional (esta preocupação também aparece em outros trabalhos, como o de Miles e Snow 2003). Wood (1999) sugere que três tipos de ajustamento organizacional devem ser levados em consideração: 1) o ajustamento interno entre as práticas de ARH; 2) o ajustamento entre o sistema de ARH e outros sistemas da organização – fit organizacional; e 3) o ajustamento entre os sistemas de ARH e a estratégia competitiva da organização – fit estratégico. Entretanto, existe ainda um quarto ajustamento, que deve ser levado em consideração, que é aquele entre o sistema de ARH da organização e o seu ambiente (fit ambiental), 76 apesar de este ajustamento ser capturado indiretamente através da estratégia organizacional. Sendo assim, seria controverso tratar práticas inovadoras como sendo um novo “one best way” de se organizar o trabalho humano. Modelos como “world class manufacturing” devem, então, ser vistos com cautela. Não faz sentido dizer que existe um modelo único que proporciona resultados de alto desempenho, uma vez que as combinações de práticas de gestão de pessoas entre si, com outras práticas organizacionais, com a estratégia e com o ambiente organizacional proporcionam resultados diversos, invalidando a proposição das melhores práticas. Certamente, uma das questões é a de como validar esse modelo, uma vez que não é possível reduzi-lo simplesmente a uma proposição de universalidade ou contingencialidade. Primeiramente, há diferenças conceituais nos diferentes termos sendo utilizados para rotular as diferentes práticas de envolvimento utilizadas em gestão de pessoas que implicam diferentes concepções do relacionamento entre as práticas de gestão de pessoas e desempenho. Além disso, existe uma discussão teórica no campo da gestão de pessoas que ultrapassa a simples competição entre a perspectiva universalista e a contingencial, com ênfase na mensuração de seu fit estratégico. Em especial, as correntes que discutem o ajuste entre as práticas inovadoras de gestão de pessoas e modelos emergentes como produção enxuta ou a gestão da qualidade total consideram que as práticas inovadoras de gestão de pessoas seriam o “lado humano” dessas estratégias gerenciais, sendo, dessa forma, mais provavelmente encontradas quando as organizações adotassem tais práticas. Em outras palavras, quando um modelo mais amplo de administração, de nível estratégico, é combinado com as práticas de gestão de pessoas apropriadas, os efeitos tendem a ser ampliados. 77 3.1.2. Práticas inovadoras de gestão da produção O campo da administração da produção tem sido um terreno fértil para inovações gerenciais. Muitos trabalhos apontam como foi necessário um aprimoramento das práticas industriais, em especial desde a década de 1970, e a localização desses desenvolvimentos. Dessa forma, têm sido repetidamente tratados os desenvolvimentos ocorridos principalmente no Japão, na Itália e na Suécia, como contrapontos ao modelo industrial norte-americano de produção em massa, conforme já foi registrado nesta tese. Diversas inovações têm se sucedido, ao longo desses anos, e modificado a forma como se gerenciam todas as atividades de produção, incluindo o planejamento da produção, a gestão das relações de trabalho e a atividade de produção em si. Destacam-se, nesse campo, as inovações ocorridas no Japão, como o just in time, o kanban, os custos da qualidade, o PDCA, o diagrama de Ishikawa, os círculos de controle da qualidade, o quality function deployment, o controle da qualidade total, o lean manufacturing, ou produção enxuta, só para enumerar algumas. Ressaltam-se, também, as inovações surgidas nos Estados Unidos da América, como aprimoramento do modelo clássico de produção em massa, como o MRP – Material Requirements Planning, o MRPII - Manufacturing Resource Planing, o benchmarking, o supply-chain management, o agile manufacturing, seis sigma e EProcurement. Dentre as principais evoluções verificadas na administração industrial, encontram-se uma ampla variedade de práticas específicas, que combinam metodologias de gestão participativa com tecnologia da informação e outras tecnologias de modo a obter sistemas de produção mais eficazes, permitindo maior flexibilidade de produção e 78 viabilizando a produção em lotes menores e com maior variabilidade, reduzindo o tempo de preparação de máquinas, de substituição de moldes e de paradas por problemas de manutenção e outros problemas comuns na indústria. Serão apresentadas, a seguir, práticas que tipificam os principais desenvolvimentos na área, mais uma vez sem a presunção de esgotar o assunto. As práticas foram selecionadas por sua relevância nesse cenário, e por fazerem parte do conjunto de práticas pesquisadas nesta tese: Manutenção Produtiva Total (MPT) e Células de Manufatura (CM). 3.1.2.1.Manutenção Produtiva Total A Manutenção Produtiva Total (MPT) é uma prática gerencial voltada para a maximização da eficácia dos equipamentos durante toda sua vida útil. Essa prática incorpora a manutenção autônoma, manutenção planejada, enfatizando o comprometimento da liderança, planejamento estratégico, treinamento multifuncional, envolvimento dos trabalhadores e o uso de equipamentos proprietários (CUA et al, 2001; MILLING et al 1999). A idéia central da MPT é a de que a sustentação da eficácia de equipamentos, livres de paradas inesperadas, depende de manutenção planejada e de melhorias ou desenvolvimentos dos equipamentos. Para conduzir essa manutenção, é necessário treinamento multi-funcional para desenvolver as habilidades dos trabalhadores, além de desenvolver seu comprometimento com o processo de manutenção e de fornecer o tempo e os recursos necessários para melhorar o desempenho dos equipamentos. . Por último, é necessário adquirir ou desenvolver internamente novas tecnologias e equipamento proprietário 79 Através de manutenção autônoma, os operadores aprendem a desenvolver tarefas críticas diárias, que a equipe de manutenção não tem condições de realizar (housekeeping), como limpeza e inspeção, lubrificação, checagens de precisão e outras tarefas leves de manutenção. Depois que essas tarefas são transferidas para o pessoal de operações, o pessoal de manutenção pode se concentrar no desenvolvimento e implementação de outras tarefas e planejamento da manutenção proativa (MCKONE et al, 1999). Figura 3.3 - Elementos da Manutenção Produtiva Total Manutenção Produtiva Total Processo de Melhoria Contínua Manutenção preventiva descentralizada Trabalho e responsabilidade em equipe Qualificação do pessoal de produção Mensuração da eficácia do equipamento Limpeza do ambiente de trabalho Fonte: Milling et al, 1998, p.3 Na essência, segundo Milling et al (1998 – Figura 3.1), a MPT se refere à transferência, aos operadores de máquinas, de tarefas rotineiras de manutenção preventiva, como limpeza, lubrificação e pequenos ajustes preventivos, de modo a permitir maior precisão no uso de equipamentos e reduzir o número de paradas por quebras. Para tanto, torna-se necessário qualificar os operadores através de treinamento de complexidade crescente, de modo que os operadores possam, cada vez mais, ser capazes de fazer não somente tarefas simples de manutenção, como a 80 substituição de peças e componentes simples, mas também diagnosticar o surgimento de problemas mais complexos, que serão consertados preventivamente pela equipe especializada em manutenção da empresa. Sendo assim, os operários assumem maior responsabilidade sobre o funcionamento e o ciclo de vida dos equipamentos que operam, atuam mais ativamente na identificação de problemas e na prevenção de paradas, reduzindo a variabilidade no produto final. O ambiente de trabalho torna-se mais limpo e organizado, e permite, por exemplo, a identificação de pequenos vazamentos de lubrificante que, de outra maneira, ficaria oculto sob o óleo derramado nos equipamentos. De acordo com McKone et al (1999), a manutenção autônoma (como também pode ser denominada a MPT) pode ser mais bem definida pelos seus principais objetivos, tanto no curto como no longo prazo. Primeiramente, à curto prazo, programas desse tipo reúnem grupos ou equipes de manutenção, de modo a estabilizar as condições e deter a deterioração dos equipamentos. Em seguida, com o desenvolvimento e compartilhamento de responsabilidades sobre tarefas diárias de manutenção, o pessoal de produção e de manutenção trabalha para melhorar as condições gerais de manutenção dos equipamentos, oferecendo ganhos ainda mais significativos no longo prazo. Em seguida, a manutenção produtiva total é projetada para que os operadores aprendam ainda mais sobre como funcionam os seus equipamentos, que problemas mais comuns podem acontecer, seus motivos e como evitá-los pela detecção antecipada e tratamento de condições anormais (treinamento cruzado). Finalmente, o programa de MPT promove maior envolvimento dos operadores, preparando-os para se tornar parceiros ativos do pessoal de manutenção e engenharia, e trabalhar na 81 melhoria do desempenho geral e da confiabilidade do equipamento (MCKONE et al, op.cit.). A MPT está fortemente vinculada à preservação de equipamentos, aumentando seu ciclo de vida e, consequentemente, retornos sobre investimentos em capital produtivo (MCKONE et al, 1999). Assim como outras práticas inovadoras de administração da produção, a utilização da MTP depende de fatores organizacionais, como a idade e o tipo de equipamento utilizado, a idade da planta, o padrão de administração utilizado na planta e outros aspectos gerenciais, o porte da organização e o nível de sindicalização existente no setor. Depende também de fatores ambientais, além da influência significativa do contexto gerencial envolvido na fábrica, como a existência de outros programas gerenciais – que no caso da MPT são comumente programas de gestão da qualidade total, just in time e envolvimento dos trabalhadores. Depreende-se, portanto, que a prática somente atingirá seu potencial de ganhos se associada a algum tipo de “manufatura de classe mundial” ou algum outro padrão de atividades que multipliquem seus efeitos. Tanto McKone et al (1999) quanto Schonberger (1988:1992) ressaltam a interdependência de práticas de administração ao considerarem, em seu modelo, que a existência de programas de gestão da qualidade total, de just in time e de envolvimento dos trabalhadores pode influenciar a adoção da manutenção produtiva total. Milling et al (1998) investigam a difusão da manutenção produtiva total em cinco países (Japão, Itália, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos da América do Norte), indicando o Japão como o país com o maior nível de difusão da prática. Com a análise de clusters, identificam os Estados Unidos da América como early followers e os demais países como late followers. Avaliam os resultados percebidos por adotantes da 82 prática pelas mensurações objetivas, como eficiência em custos, desempenho da qualidade, rapidez nas entregas, entregas no prazo, giro do estoque e flexibilidade, e pelas mensurações subjetivas, como flexibilidade do programa, volume do programa, velocidade da entrega, qualidade, e custos unitários médios. Segundo esses autores, a MPT influencia parcialmente o desempenho, com os efeitos mais consideráveis ocorrendo na velocidade de entrega. A prática gerencial em foco apresentou pequeno impacto nos custos, o que não é considerado pelos autores uma surpresa, uma vez que reduções de custos resultantes da MPT normalmente representam apenas um percentual muito baixo do custo total. Entretanto, surpreende o fato de esses autores não identificarem a ausência de influência sobre qualidade, giro do estoque e flexibilidade. 3.1.2.2.Células de Manufatura O termo Células de Manufatura (CM) foi usado pela primeira vez pelo pesquisador russo Sokolovsky, em 1930, quando propôs que famílias de produtos deveriam ser manufaturadas do mesmo modo e com processos tecnológicos específicos (HYER e BROWN, 1999). Este conceito, de certa forma, foi ampliado, ou melhor, refinado, passando a designar um arranjo específico da tecnologia, adequada à fabricação de famílias de produtos por outros pesquisadores russos que seguiram a rota aberta por Sokolovsky. Dessa forma, o conceito de CM nasceu intimamente ligado ao arranjo da tecnologia, sendo compreendido, a partir de então, principalmente, como fruto da combinação entre um cluster tecnológico e um layout. Uma certa cronologia de diferentes conceitos de CM, que apontam alguns refinamentos, mas que mantêm como eixo central de sua delimitação a questão tecnológica e de layout , encontra-se no Quadro 3.3. 83 Quadro 3.3 - Conceitos Selecionados de Células de Manufatura Autor/data Sokolovsky (1930) Definição Reúnem partes de uma configuração e de características similares que são manufaturadas de uma mesma forma por meio de um processo tecnológico padronizado Pesquisadores russos Manufatura de uma família de peças, usando uma linha ou células de (seguidores de máquinas. Conjunto de máquinas diferentes, que são agrupadas e Sokolovsky) comprometidas, por programação, com a produção de um conjunto similar de partes, cada uma das quais é produzida em lotes de pequeno a médio tamanho Burbidge (1991) Esse conjunto de máquinas fabrica o produto todo ou suas partes e estão equipadas com todas as facilidades necessárias para cumprir sua tarefa produtiva. Inicia-se a associação entre CM e GT (grupo de tecnologia). CM e GT passaram a ser vistos enquanto construtos equivalentes Garza e Smut (1991) Aplicação de grupo de tecnologia em que as partes similares são agrupadas por famílias e são processadas separadamente em subsistemas de manufaturas chamados de CM Stendel e Desruelle Conjunto de máquinas agrupadas por funções não similares e dedicadas (1992) a processar famílias de peças (ou de componentes) similares Vakharia (1986) Equivale a um grupo de máquinas ou processos funcionalmente não similares, que são colocadas próximas umas a outras e são dedicadas à manufatura de um conjunto específico de famílias de peças. Shafer et al. (1995) Um grupo de máquinas, incluindo aquelas com uma mesma função, definição essa realizada com base em informações de praticantes. Fonte: elaboração dos autores com base em Hyer e Brown, 1999. Segundo Hyer e Brown (1999), à exceção da definição de Shafer et al. (1995), todas as outras, registradas no Quadro 3.3, consideram que uma CM compreende: (i) a produção de parte ou de uma família de produtos; (ii) a localização de máquinas umas próximas às outras e; (iii) que essas máquinas são dedicadas à produção de parte ou à família de produtos. Para aqueles autores, da análise das definições constantes do Quadro 3.3, denota-se que as células de manufatura são descritas essencialmente como lay-out. Esta noção traz implicações desfavoráveis no que diz respeito aos resultados esperados. Além disso, entender CM apenas como um lay-out ou grupo tecnológico – um arranjo tecnológico específico para a fabricação específica de produtos de uma mesma família – não permite que se tracem diferenças entre a CM e uma linha de produção taylorista/fordista e nem que se possa aplicar o conceito de CM a diferentes indústrias e setores. 84 Para se contraporem às definições de CM, que reduzem essa prática gerencial a um tipo de lay-out, Hyer e Brown (1999) propõem o conceito de células reais. Segundo esses autores, células reais definem-se por: (i) equipamentos e materiais dedicados a uma família ou parte de família de produtos; (ii) que possuem requisitos de produção similares; (iii) e por um fluxo de trabalho em que tarefas e pessoas encontram-se fortemente conectadas em termos de tempo, espaço e informação. Enquanto formas híbridas de organização, as células de manufatura incorporam atributos positivos das linhas de montagem e dos processos de produção por batelada. Então, como diferenciar células de produção de outros tipos de trabalho em grupo? Para Hyer e Brown (1999), o tamanho do grupo é uma das variáveis-chave para a diferenciação. Isso porque, ultrapassado o tamanho de 10-12 membros, a efetividade da interação entre os três pilares das células reais de manufatura (tempo, espaço e informação) fica prejudicada. Os três elementos de uma célula real de manufatura – tempo, espaço e informação – interagem entre si e com outros capacitores, influenciando o desempenho da célula. Em síntese, espaço e tempo são variáveis que são administradas para, assim como na linha de montagem, eliminar o trabalho inútil, mas a proximidade espacial entre membros da CM permite que os resultados obtidos na administração das linhas de montagem sejam ultrapassados, porque essa proximidade é fundamental para que o fluxo de informação ocorra de forma eficaz. Neste sentido, experiências demonstram que o número reduzido de pessoas nas CMs catalisa as vantagens esperadas. Sendo assim, a informação assume papel preponderante na implementação das CMs, implicando além de um lay-out favorável, uma crescente democratização no ambiente de trabalho. Marx (1992) identifica as inovações ocorridas nas plantas suecas da Volvo como sendo primariamente inovações sociais, uma vez que se centram ao redor de novas 85 configurações da participação do ser humano no processo produtivo (sistemas sóciotécnicos). Aponta como características do modelo de especialização flexível (conforme Piore e Sabel, 1984), o novo paradigma, denominado especialização flexível, que está substituindo gradativamente o anterior (fordista/taylorista): • Substituição da estratégia de economia de escala pela economia de escopo; • Utilização intensiva de tecnologia de base microeletrônica; • Utilização crescente do trabalhador como um recurso inteligente; • Utilização de sub-contratação de mão de obra, especialmente em áreas distintas do negócio central das empresas; • Reunião de empresas em redes, de forma a tirar proveito de esquemas cooperativos e flexíveis de intercâmbio tecnológico, de recursos físicos e humanos. De acordo com Marx (1992), o conceito de células de produção difere do conceito tradicional de produção em massa pelo fato de que nele o fluxo e o ritmo de produção não são dependentes de uma linha ou correia móvel, mas ocorre de maneira mais natural e fragmentada, em prédios separados (modularização das linhas), na qual os produtos em fabricação são transportados entre as várias etapas por veículos automatizados controlados por computadores (AGVs – Automated Guided Vehicles). Nessa configuração, o trabalho humano adquire um novo significado, representado por um aumento na responsabilidade e autonomia dos trabalhadores, sendo responsáveis por uma série de tarefas de montagem, dentro de uma área de trabalho, com possibilidade de rotação de cargos e tarefas amplas, que incluem a montagem e teste de produtos. 86 Essa nova configuração industrial implica em necessidades ampliadas de conhecimentos e habilidades, requerendo investimento em treinamento e qualificação profissional, cuja decisão também é transferida aos empregados de fábricas que adotam as células de produção – esse é um dos aspectos-chave que caracteriza o modelo de células de produção suecas, diferenciando-as do mesmo padrão advindo do modelo japonês: maior autonomia para os trabalhadores, incluindo decisões sobre rotação de cargos e controle da qualidade. O layout da fábrica é modificado, abandonando o esquema tradicional de linha de produção para adotar um layout mais parecido com um grupo de mini-fábricas menos interdependentes, responsáveis pela fabricação de produtos inteiros ou de componentes complexos, distintamente do que ocorre no modelo fordista/taylorista, no qual cada estação de trabalho é responsável por somente uma etapa, ou uma peça simples. Furtado (2004) interpreta as implicações da adoção das células de manufatura sobre a natureza do trabalho humano ocorrido nas organizações após o estudo de alguns casos de adoção da prática, sugerindo que esse novo formato de fabricação implica uma mudança sutil na forma como é exercido o controle do indivíduo e do grupo pela organização, como contraponto à ampliação da liberdade e da autonomia dos trabalhadores prometida pela experiência sueca: Os grupos de trabalho não são a ‘libertação da classe operária’... há, sim, um controle da empresa sobre o trabalho. Porém, agora, um controle mais sutil, exercido sobre o trabalho coletivo e não individualizado, exercido sobre um trabalhador que tem a visão completa do processo produtivo e não mais o horizonte restrito das seções e departamentos; um trabalhador muito menos especialista e muito mais multifuncional, mas um trabalhador ainda dentro da relação capitalista, ainda sendo controlado, explorado pelo capital. (FURTADO, 2004, p.246) Huber e Brown (1991) ressaltam a importância de se estudar o lado humano das células de manufatura, uma vez que os impactos da adoção dessa prática sobre os 87 indivíduos e seu papel no trabalho podem ser muito intensos. Segundo os autores, muito pouco tem sido explorado dessa perspectiva, que pode ser tida como a mais importante em relação à prática, especialmente sob a perspectiva sócio-técnica, de acordo com a qual, nenhum avanço técnico apresentará resultados significativos sem ser acompanhado por avanços sociais correspondentes. Em função do atrelamento ao processo de ruptura paradigmática e de emergência de novos paradigmas de produção e de organização do trabalho em nova etapa do capitalismo, as CMs foram, quase que exclusivamente, vinculadas aos novos modelos de organização do trabalho e da produção difundidos a partir do sucesso competitivo do Japão na década de 1970. Nem outras experiências de utilização de CM, como, por exemplo, as da Noruega e da Suécia, foram muito focalizadas no Brasil. Na Noruega, por exemplo, para conter um intenso êxodo rural no sentido das cidades, foram projetadas mini-fábricas (ou células de manufatura), em áreas rurais. Cada célula era responsável pela manufatura de uma família específica de produtos, determinada pelos princípios de tecnologia de grupo. Tais células se ligavam por meio de uma rede de transportes de materiais e de componentes. Esse projeto foi relativamente bem sucedido, mas os elevados salários da mão-de-obra norueguesa levaram ao desenvolvimento de um novo conceito de fábrica, com base no trabalho em CM, mas enfatizando a utilização de máquinas de controle numérico, distribuídas em torno de um robô. Essa nova unidade produtiva passou a funcionar 24 horas por dia e os trabalhadores passaram a desempenhar tarefas como programação de computadores, planejamento da produção, escalonamento, manutenção, tratamento térmico em certos componentes, gestão do sistema de transporte, etc. (BORENSTEIN e BECKER, 1994). 88 A experiência da Suécia também é muito antiga e, a exemplo do caso anteriormente relatado da Noruega, está fortemente relacionada a seus padrões socioculturais e seus desafios de desenvolvimento. A Suécia caracteriza-se pelo elevado nível de escolaridade e cultura de sua população; seus trabalhadores possuem as médias salariais mais altas do mundo; grande influência sindical, sobretudo em questões relativas à organização do trabalho e da produção; forte dependência das exportações; e por um Estado forte, com políticas de bem-estar ainda muito ativas (Marx, 1992; 1998). A Volvo é o caso sueco de maior difusão no mundo ocidental. Segundo Marx (1992, p. 43): O caso das experiências suecas na montagem final de veículos e, em particular, a planta de Uddevalla mostra que características da ‘especialização flexível’ também estão presentes, de certa forma, de modo ainda mais flagrante do que, por exemplo, na planta paradigmática da Toyota no Japão. Ainda de acordo com Marx (1998), entre 1992-1995, ocorreu um debate acentuado envolvendo autores de origem sueca e norte-americana sobre as experiências das fábricas de Uddevalla (experiência sueca) e NUMMI (joint venture GM-Toyota). Tal debate refletia duas concepções diferentes de projeto organizacional – o primeiro enfocava o desempenho e a estratégia, enquanto o segundo enfatizava o compromisso com o desempenho e com as condições de trabalho na fábrica. 3.1.3. Práticas inovadoras de gestão do desempenho e da qualidade As principais práticas inovadoras de gestão do desempenho e da qualidade, enfocadas nesta tese, foram oriundas da evolução ocorrida no Japão, à partir do final da II Guerra, e essas foram seguidas por práticas desenvolvidas em outros países, em especial nos Estados Unidos da América, à partir da década de 1980. 89 Apresentam diversos aspectos em comum, em especial a grande preocupação com o desempenho organizacional, que pode ser mensurado de diversas maneiras, como rentabilidade e lucratividade, preços das ações, crescimento nas vendas, satisfação dos clientes, produtividade, dentre outras. De uma maneira geral, representam uma nova forma de organizar o trabalho humano, acrescentando valores que foram negligenciados anteriormente, como a preocupação com a qualidade e a satisfação de stakeholders, enfatizando a participação de trabalhadores no processo decisório, valorizando a aprendizagem e a transferência de tecnologia, reduzindo custos e aumentando a produtividade organizacional. 3.1.3.1.Gestão da Qualidade Total O movimento da Gestão da Qualidade Total surge historicamente no Japão, dentre os esforços da adaptação da estrutura industrial japonesa, cuja criação fora originalmente baseada no modelo taylorista/fordista, às condições locais do pós-guerra, de demanda reduzida e fragmentada. Os registros históricos identificam o surgimento de uma grande quantidade de práticas nessa mesma época, como just in time e kanban, apontando as experiências pioneiras de Kiichiro Toyoda e Taiichi Ohno como tendo dado origem a essas práticas (CORIAT 1994; WOMACK et al 1992; SHIMOKAWA 1993). Na tentativa de adaptar o modelo industrial norte-americando, essencialmente taylorista/fordista, às condições do Japão no período seguinte à guerra, esses e outros personagens iniciam uma busca por soluções inovadoras de gestão organizacional (CORIAT 1994; WOMACK et al 1992; SHIMOKAWA 1993). A principal questão a ser resolvida era a de como tornar viável uma fábrica de pequenas proporções, 90 especialmente diante de flutuações constantes de demanda, tanto em quantidade quanto em diversidade. A pedra central do modelo industrial norte-americano, referência original para o modelo japonês, era a economia de escala, ganhos crescentes, decorrentes de quantidades também crescentes de produção. As primeiras experiências com o modelo taylorista/fordista de produção deixaram evidentes que as vantagens de economia de escala não eram disponíveis no Japão, cuja extensão geográfica e demográfica não acomodaria tais margens crescentes de produção e consumo. A solução para esse problema seria desenvolver um padrão industrial que reduzisse os custos e garantisse o escoamento da produção – logo ficou evidente que o maior inimigo da produção em pequena escala era a manutenção de grandes volumes de estoque, bem como os desperdícios oriundos de descuidos em relação à qualidade de processos e produtos. Dessa forma, foram desenvolvidos, através de experiências de tentativa e erro, ao longo de três décadas, diversos métodos de produção adaptados e melhorados, especialmente sob a ótica de demandas irregulares, isso é, os principais métodos japoneses de produção: gestão da qualidade total – originalmente conhecida como controle da qualidade e controle estatístico de processo –, just in time, kanban e outros. Segundo Cua et al (2001), a gestão da qualidade total é um programa de produção que visa a melhoria e sustentação da qualidade de produtos e processos. Para esses autores, a literatura sobre tal prática, normalmente, identifica a ênfase na importância do projeto de produto com o uso de equipes multifuncionais e do gerenciamento sistemático de processos. Ademais, essa literatura ressalta a importância do envolvimento dos consumidores, fornecedores e trabalhadores, de modo a garantir a qualidade de produtos e processos. Finalmente, os programas de gestão da qualidade 91 total põem em relevo a importância do compromisso da administração e a definição de uma estratégia bem definida de qualidade. Ishikawa (1990) corrobora a visão anteriormente registrada. De acordo com esse autor, Gestão da Qualidade Total é um modelo de organização orientado por uma filosofia de respeito pelas pessoas – todos são considerados clientes da organização, internos ou externos. A lógica desse modelo consiste em desenvolver, projetar, produzir, comercializar e entregar serviços e produtos com ótima utilidade e custobenefício, que são comprados pelos consumidores com satisfação. Isso só é possível se todas as pessoas na organização trabalharem em conjunto com os mesmos objetivos em mente, utilizando uma variedade de técnicas como métodos estatísticos e técnicos, padrões e regulamentos, métodos computadorizados, controle automatizado, controle de facilidades, controle de medidas, pesquisa operacional, engenharia industrial e pesquisa de mercado. De igual maneira Shani e Mitki (1996) consideram Gestão da Qualidade Total uma abordagem gerencial para melhoria de processos em uma organização a fim de gerar produtos ou serviços de alta qualidade, que satisfarão o consumidor. Essa abordagem enfatiza uma série de elementos como melhoria contínua, trabalho em equipe, empoderamento de empregados, utilização de controle estatístico de processos. Sua utilização implica mudança cultural inserindo valores relacionados à satisfação de consumidores, uma consciência de qualidade por parte da perspectiva do cliente. Segundo Lederer e Rhee (1995), a gestão da qualidade total surgiu a partir de movimentos históricos envolvendo a inspeção da qualidade, o controle estatístico de processos e a garantia de qualidade. Winter (1995) ressalta, como aspectos chave da GQT: orientação para os processos, foco nos consumidores, base analítica e factual, e liderança e participação. 92 A abordagem é aplicada de maneira top-down, com a criação de um departamento de qualidade, qualquer que seja sua nomenclatura, e de equipes de trabalho, para discussão e aplicação de métodos que permitam o desenvolvimento contínuo de qualidade. Alguns percebem a GQT como uma integração de ferramentas e sistemas projetados para melhorar a produtividade, enquanto que outros a percebem como uma ampla e compreensiva filosofia gerencial. Por exemplo, Kathuria (2000) interpreta a gestão da qualidade total como uma abordagem de administração que envolve uma variedade de métodos comportamentais e técnicos para melhorar o desempenho organizacional, baseado nos princípios de foco no consumidor, melhoria contínua e trabalho em equipe. Beyer et al (1997) reconhecem que a gestão da qualidade representa um “movimento social inquestionável”, dado seu nível de difusão entre as maiores empresas do mundo, e por isso já não há mais debate sobre sua relevância e importância, como mecanismo de revitalização e reforma da indústria internacional. • Qualidade de Produto e Qualidade de Processo O conjunto de práticas existentes na Gestão da Qualidade reduz a variabilidade e aumenta a qualidade interna do processo de fabricação e a conformidade do produto. Segundo Lederer e Rhee (1995), qualidade pode ser visualizada como qualidade de produto, dependente da percepção dos clientes em relação à satisfação de suas expectativas, e como qualidade de processo, de acordo com o nível de conformidade às especificações de produção. Dessa forma, problemas de qualidade surgem quando o produto não possui o conjunto de atributos desejados pelos consumidores (qualidade de produto), ou quando há problemas de confiabilidade na produção do produto (qualidade de processo), ou ambas. 93 Lederer e Rhee (1995) sugerem ainda que há dois aspectos centrais na economia da gestão da qualidade total: o primeiro lida com o custo dos programas de melhoria da qualidade e o segundo explica como a satisfação do consumidor pode ser utilizada como uma medida de desempenho em empresas descentralizadas. Seguindo linha semelhante, Garvin (1984 apud SOUZA e VOSS, 2002) adverte que há duas rotas para que a qualidade contribua com o desempenho da organização, a qualidade interna de processos e a qualidade e desempenho do produto. A qualidade de processos, que significa menos defeitos, sobras e retrabalho, resulta em melhoria no desempenho operacional, custos mais reduzidos, processos mais confiáveis, que levam a desempenho melhorado. A qualidade de produto, que tem a ver com o desempenho comparativo no mercado, leva ao aumento nas vendas, na participação de mercado, a menor elasticidade de demanda e a preços maiores. O aumento na participação de mercado pode melhorar o desempenho de uma empresa direta ou indiretamente, com economias de experiência e outros ganhos em rentabilidade. Demanda menos elástica e preços mais altos podem levar diretamente a um desempenho melhorado. Desempenho melhor do produto pode levar a custos de garantia e menores dívidas, também melhorando o desempenho do produto (Figura 3.2). Souza e Voss (2002) sugerem, ainda, que o impacto da Gestão da Qualidade sobre o desempenho operacional – processos internos – é significativo, enquanto que sobre o desempenho do negócio – desempenho geral – não o é. De acordo com as evidências empíricas utilizadas por esses autores, foi possível relacionar o uso de práticas de gestão da qualidade a melhorias no desempenho operacional de empresas, mas a relação entre o uso de tais práticas sobre o desempenho geral de organizações não foi suficientemente documentado. 94 Souza e Voss (op.cit.) apresentam duas possíveis causas para essa fraqueza. É provável que as pesquisas realizadas no sentido de associar GQT ao desempenho organizacional não tenham utilizado metodologias adequadas para captar essa associação. Ou então não tem sido possível isolar a influência da utilização de prática de GQT de outras influências ambientais e contextuais, como o tamanho do mercado, o tipo de concorrência existente e outras. Souza e Voss (2002) indicam também a diferenciação de aspectos das práticas de qualidade em dois grupos: aspectos centrais, ou núcleo (core aspects) da gestão da qualidade, representados pelos métodos e técnicas utilizados (aspectos mecanicistas ou técnicos), e aspectos estruturais, ou infra-estruturais, representados pelos aspectos sócio-comportamentais da GQT, não mecanicistas. Dada essa divisão, quais seriam as origens dos ganhos de desempenho resultantes da adoção de um ou de ambos os aspectos da gestão da qualidade total? Supostamente, os aspectos centrais seriam mais facilmente copiados por concorrentes, o que diminuiria sua capacidade de oferecer e sustentar vantagem competitiva. 95 Figura 3.4: O impacto do desempenho da qualidade no desempenho operacional do negócio Rota da Produção Qualidade de Processos Internos (variabilidade de processo antes da inspeção final) Performance Operacional (Custos, entrega; exclui a qualidade) Prática de Administração da Qualidade Desempenho Empresarial (financeiro) Desempenho da Qualidade do Produto (após a inspeção final) - Conformidade - Qualidade do - Desempenho serviço - Características - Estética - Confiabilidade - Outras dimensões - Durabilidade relevantes Rota do Mercado Fonte: Garvin (1984 apud SOUZA e VOSS, 2002, p.96). Por outro lado, os aspectos infra-estruturais seriam mais complexos, associando-se ao repertório comportamental dos funcionários das organizações, e seriam mais difíceis de serem imitados, sendo, portanto, a fonte principal de vantagem de uma organização sobre suas concorrentes. Essa linha de raciocínio não tem sido encontrada tradicionalmente nos estudos sobre a adoção de GQT e desempenho organizacional. Para implementar a qualidade, reduzir custos e potencialmente melhorar a qualidade, as empresas devem realizar investimentos que são amplamente ‘sunk’... Com as novas tecnologias de qualidade, os preços e os custos médios reduzem e a qualidade aumenta... Quando todas as empresas rapidamente adotam tecnologias de qualidade, o retorno sobre tais investimentos é 96 normal, ou seja, tendem a apresentar um valor presente líquido igual a zero. (LEDERER e RHEE 1995, p.355) Destaca-se aqui a percepção de que, caso uma prática inovadora seja extensivamente difundida em todo um setor da economia, os benefícios organizacionais são neutralizados, uma vez que as concorrentes também se beneficiam. Por outro lado, caso uma organização relute em adotar uma prática inovadora que esteja sendo difundida extensivamente no setor em que atua, essa organização gozará de desvantagens competitivas, podendo tornar-se inviável perante seus concorrentes. O oposto também pode ser verdadeiro, ou seja, caso uma organização adote uma prática inovadora com exclusividade em seu setor, poderá desfrutar de vantagens comparativas que a colocarão em uma posição superior à de seus concorrentes. Ademais, se uma empresa compete com outras que são lentas em adotar tecnologias relacionadas à qualidade, ela pode obter lucros acima do normal. Uma empresa que adota novas tecnologias de qualidade mais rápido do que seus concorrentes investe mais em seus programas de qualidade e apresenta maior qualidade em seus produtos. Empresas que não adotam tecnologias relacionadas com a qualidade são forçadas a abandonar o mercado (LEDERER e RHEE 1995, p.355). • GQT, Ritmo de Adoção e Aprendizagem Souza e Voss (2002) ressaltam a necessidade de uma compreensão mais sólida acerca dos efeitos da GQ sobre o desempenho, utilizando-se de modelos mais refinados, que incluam todas as variáveis e relacionamentos relevantes, investigando relacionamentos em diferentes contextos, aprofundando-se na interação entre aspectos do núcleo e aspectos de infra-estrutura, bem como na relação entre o uso de práticas de GQT e outras práticas inovadoras, e, por último, investigando os mecanismos e os 97 intervalos de tempo pelos quais a GQT afeta o desempenho. Isso poderia ser conseguido através da condução de pesquisas, baseadas em teorias mais consistentes, que explorassem o caráter contingencial da adoção da GQT e que auxiliariam os administradores a ajustar o método a condições existentes. Conforme já foi visto, a metodologia de GQT é bastante ampla, e permite infinitas interpretações e caminhos de implementação. Consultores e executivos adaptam o método de acordo com sua experiência, atentando para peculiaridades em que será utilizado, resultando em padrões bastante distintos de utilização da prática. Diferentes organizações apresentarão diferentes padrões de desenvolvimento com o uso dessas ferramentas e isso levará a diferentes tipos de resultados e de aprendizagem como decorrência. Isso pode ser verdadeiro, inclusive para os diferentes sites de uma mesma corporação, como no caso de multinacionais e empresas globais ( SOUZA e VOSS, 2002). Adam (2000) considera que, em empresas multi-site, é esperado que as condições que envolvem a prática da qualidade sejam diferentes entre os sites, apesar de serem niveladas pela idiossincrasia geral da organização. Ou seja, existe um certo nivelamento entre os sites de uma mesma organização, reflexo de políticas emanadas da alta direção da empresa. As plantas compartilham valores culturais, terminologia técnica e objetivos em comum. É provável que as plantas desempenhem as mesmas funções, com o uso das mesmas práticas, fruto de decisões da alta cúpula da empresa, que se difundem aos níveis médio e operacional. Entretanto, a aplicação desses métodos depende de uma sintonia fina, de ajustes que serão realizados localmente, levando a uma variabilidade na forma como são aplicados os mesmos métodos, produzindo comportamentos (sub-cultura) e resultados diferentes. 98 Além disso, Adam (2000) observa que o ritmo de adoção da metodologia de qualidade determina, em algum nível, os resultados percebidos. Novamente de acordo com esse autor, organizações que adotam métodos mais incrementais apresentam resultados melhores, uma vez que podem explorar melhor a experiência, proporcionando aprendizado mais consistente e duradouro. • GQT como sistema Mecânico ou Orgânico De acordo com Beyer et al (1997), a implantação da GQT pode se dar tanto por modelos mecânicos quanto orgânicos. A implantação da GQT pela abordagem mecânica implica a concentração de todas as decisões referentes à metodologia da GQT na alta administração de uma organização, que centraliza as decisões e impõe padrões de comportamento e desempenho de subordinados e gerentes intermediários, sem necessariamente transferir autoridade e poder para que possam contribuir mais significativamente com o método. A utilização de uma abordagem orgânica implica a transferência de maior poder para os subordinados e gerentes intermediários, permitindo maior nível de iniciativa e auto controle sobre o desempenho. A abordagem orgânica está mais consistente com as definições clássicas de gestão da qualidade total, como por exemplo, as apresentadas por Deming (1990) e Ishikawa (1990), que consideram essencial, em processos de GQT, a participação ativa de todos os empregados, como forma de estimular a geração de idéias de melhorias e de tornar o trabalho mais enriquecido e mais interessante para os funcionários. 99 Quadro 3.4. Sumário dos contrastes na implementação e institucionalização Mecânica 1. Filosofia 1. Mensuração quantitativa é essencial 2. A implementação é uniforme, requer aderência a métodos formais 3. A aplicação é pré-determinada, segue o script 4. Os números são os alvos das ações 5. Única ideologia prescrita 2. Estilos 1. Aprendizagem explícita para implícita 2. Top-down, altamente dirigida Orgânica 1. Mensuração quantitativa é suficiente 2. A implementação pode variar; envolve adaptação local 3. A aplicação é emergente; testa seus ajustes, aplica da forma mais apropriada 4. Os números são instrutivos 5. Agnóstico 1. Aprendizagem implícita para explícita 2. Emergente, com compromisso da alta administração 3. Campeão - temido 3. Campeão - admirado 4. Campeão – força dominante, visível 4. Campeão permanece nos bastidores 5. O campeão fez todo o treinamento 5. O campeão transferiu o treinamento para outra pessoa 6. Nunca foi difundida para os níveis 6. Difundida para níveis inferiores inferiores 7. Falta de confiança; empregados percebem 7. Muita confiança na alta administração a administração como não completamente confiável 8. Equipes estruturadas formalmente 8. As equipes se desenvolvem conforme necessário 9. O campeão possui um grande ego, 9. O campeão se afasta, empodera ditatorial 10. Aplica o único método 10. Experimentam aquilo que funciona 11. Empoderamento restrito, disperso 11. Empoderamento universal 3. Resultados 1. Se o campeão se afasta, o programa 1. Algumas vezes o programa é desaparece. Durante a implementação, o negligenciado, mas os princípios são tão Campeão se afasta (sob pressão); o futuro do incrustados nos processos de trabalhos que programa torna-se incerto jamais serão abandonados 2. Alta rotatividade em quadros gerenciais 2. Baixa rotatividade; muita contratação e promoção 3. A empresa-mãe se preocupa com a bottom- 3. Stockholders internos acompanham o valor line (linha de fundo) das ações Fonte: BEYEr et al (1997), p. 25 • Relação da Gestão da Qualidade Total com Outras Práticas Gerenciais Uma importante sugestão presente no artigo de Souza e Voss (2002) é o estudo da relação da utilização de GQT com outras práticas gerenciais como o just in time, benchmarking, empowerment, trabalho em equipe e outras, e o espaço de tempo necessário para que a adoção dessa metodologia surta efeito 100 (implementação/avaliação de resultados). A GQT preconiza, como um dos mecanismos de melhoria contínua, a participação ampliada dos trabalhadores na solução de problemas e implementação de melhorias. Sendo assim, o método incorpora diversas práticas de gestão de pessoas, como gestão participativa, remuneração pelo desempenho e outras. Soares e Chamone (1994) apontam a inclusão de inúmeras inovações gerenciais dentro do grande guarda-chuva metodológico que é a Gestão da Qualidade Total. Programas desenvolvidos por empresas envolvem, frequentemente, diversas práticas gerenciais surgidas no limiar da década de 1990: just-in-time e kanban, benchmarking, gestão por processos, empowerment e equipes autogerenciadas, qualidade de vida no trabalho, remuneração baseada em resultados, metodologias de solução de problemas, e até mesmo reengenharia aparecem como complementos à Gestão da Qualidade Total, além da utilização extensiva de tecnologias da informação e da utilização de uma metodologia mais tradicional, o planejamento estratégico. Isso reforça a suposição de que a empresa que tende a utilizar práticas inovadoras raramente o faz isoladamente, mas em “pacotes” de práticas complementares, buscando aquilo que presumivelmente trará maiores resultados de acordo com os objetivos organizacionais. Em uma abordagem mais voltada para aspectos orgânicos da GQT, Kathuria e Davis (2000) dedicam-se a estudar a relação entre práticas de gestão de pessoas, mais especificamente práticas de gestão do relacionamento, como trabalho em equipe, supporting, mentoring, inspiração e reconhecimento e a adoção de metodologias de gestão da qualidade. Os resultados indicam que práticas orientadas a relacionamento parecem desempenhar um importante papel em indústrias cujo ambiente se caracteriza 101 por uma elevada ênfase em qualidade. Essas práticas aparentemente motivam os trabalhadores a produzir produtos que são precisos, duráveis e confiáveis. Kathuria e Davis (2000) classificam as práticas de gestão da força de trabalho como práticas relacionadas ao relacionamento (networking, formação de equipes, supporting, mentoring, inspiração, reconhecimento e recompensa), liderança participativa e delegativa (consultoria e delegação) e práticas orientadas para o trabalho (planejamento, esclarecimento, solução de problemas e informação). Sugerem que os administradores que percebem uma ênfase elevada na qualidade tendem a considerar as práticas networking, trabalho em equipes, supporting, mentoring, inspiração, reconhecimento, consultoria, delegação, planejamento e informação mais intensamente do que aqueles que percebem uma fraca ênfase em qualidade; e (2) administradores que percebem uma grande ênfase na qualidade não tendem a demandar certas práticas como solução de problemas, monitoramento, esclarecimento e recompensa mais intensamente do que aqueles que percebem uma menor ênfase na qualidade. Em outras palavras, quando um administrador enfatiza a produção com qualidade, tenderá a transferir tarefas e decisões para os grupos de trabalho, que ganham autonomia para analisar problemas, modificar produtos e processos de trabalho, auto atribuir tarefas e responsabilidades, planejar mudanças e metas, enfim, as equipes ganham poder para decidir o que e como fazer para melhorar a qualidade. Ao mesmo tempo, esse administrador tenderá a abster-se de decisões que podem ser tomadas pela equipe, adotando, pelo menos, uma postura consultiva (KATHURIA e DAVIS, 2000). Aparentemente, a produção de produtos que atendam às necessidades dos consumidores pode ser encorajada com a utilização de práticas que estimulem a cooperação e o trabalho de equipe, utilizando práticas que gerem entusiasmo nos 102 trabalhadores, pela adoção de uma postura amigável e de consideração e pela oferta de conselhos e sugestões sobre as carreiras dos funcionários. Esses resultados também podem ser obtidos com a adoção de posturas gerenciais participativas e delegativas, transferindo parte do trabalho de planejamento e poder decisório para os trabalhadores. Uma das discussões em relação à qualidade, é a questão da maturidade do campo. Muitos autores sugerem que após mais de três décadas de experiência – pelo menos para as empresas ocidentais – é possível sugerir que o modismo tenha se esgotado, e que a gestão da qualidade passa a ser considerada uma técnica já consagrada, cuja validade como modelo de gestão já tenha sido aprovada por administradores e gestores. Mas é possível sugerir que não esteja havendo declínio em relação ao uso da prática, mas sua adoção nas operações rotineiras das empresas está eliminando o caráter inovativo da mesma, reduzindo seu brilho perante a opinião pública. Autores que defendem a gestão da qualidade total argumentam que o trade-off entre qualidade e custo é um mito. Os defensores da GQT argumentam que os líderes na redução de custos também são líderes em qualidade, e vice-versa. Alguns outros apontam que após ganhar prêmios de qualidade, algumas organizações não foram capazes de recuperar os pesados investimentos realizados para a obtenção do prêmio. (FULLERTON 2003). 3.1.3.2.Reengenharia de Processos Outra prática que proporcionou grande impacto nas organizações foi a reengenharia de processos, conforme proposta principalmente por Hammer e Champy (1994). Essa prática parte do pressuposto de que as organizações estariam sofrendo de ineficiências 103 crônicas graças a utilização de práticas tradicionais obsoletas, que elevam os custos e reduzem o desempenho da organização e dos produtos. A reengenharia se refere, segundo esses autores, a um “repensar fundamental e a reestruturação radical dos processos empresariais que visam alcançar drásticas melhorias em indicadores críticos e contemporâneos de desempenho, tais como custos, qualidade, atendimento e velocidade” (HAMMER e CHAMPY, 1994, p.22). Segundo Hammer e Champy (1994), reengenharia consiste em combinar várias etapas de um processo de múltiplas versões, que ocorrerá em uma ordem mais natural, transferindo autoridade para os trabalhadores, realizando o trabalho onde ele faz mais sentido, reduzindo os pontos de contato com os clientes, bem como as verificações e controles. Dessa forma, a organização pode obter, ao mesmo tempo, os benefícios da centralização, mantendo um nível de controle onde é mais necessário, e os da descentralização, transferindo autoridade e poder decisório onde também são necessários. A reengenharia se diferencia de reorganizações convencionais por envolver uma grande ambição, contestação das regras e o uso criativo da tecnologia da informação, de modo a modificar radicalmente os processos organizacionais. Segundo Shani e Mitki (1996), o pressuposto básico da reengenharia é o de que a melhoria incremental de processos existentes não representa uma resposta adequada às necessidades de empresas da atualidade. Para que haja um rompimento com a baixa produtividade das indústrias, seria necessária uma mudança de paradigma, uma revolução cognitiva e conceitual. A reengenharia requer o desenvolvimento de estruturas e processos em respostas às necessidades e desejos de consumidores, transformando organizações baseadas em funções para organizações baseadas em processos, eliminando barreiras 104 interdepartamentais, achatando a hierarquia organizacional e reduzindo os limites existentes. O uso da Tecnologia da Informação permite que unidades operacionais atuem de maneira autônoma, enquanto que a organização como um todo consiga manter um nível suficiente de controle (descentralização e centralização). Essa abordagem de mudança radical busca resultados rápidos e intensos, de modo que organizações com problemas de desempenho possam melhorar seus custos, qualidade e velocidade. Sancovschi (1999) identifica algumas das hipóteses sobre as quais se baseia a reengenharia de processos. Em relação aos recursos humanos, a reengenharia considera que as pessoas são educadas e capazes de assumir responsabilidades, prezam por sua autonomia e esperam poder influenciar na forma como os negócios são conduzidos. Em relação à organização, a prática gerencial de reengenharia considera que o escopo da análise do trabalho deve mudar de departamentos funcionais para equipes de processo, enquanto os serviços devem mudar de tarefas simples para trabalhos multidimensionais. O nível de formalização de atividades deve ser reduzido; a preparação dos funcionários para os serviços deve mudar do treinamento para a educação; as medidas de desempenho e a remuneração devem valorizar os resultados em detrimento das atividades. Os critérios de promoção devem mudar do desempenho para a habilidade; a cultura deve enfatizar que todos os serviços são destinados a atender a um único destinatário, o cliente, interno ou externo; os gerentes devem mudar de supervisores para instrutores; o número de níveis hierárquicos deve ser reduzido; e os executivos devem ser líderes e não controladores de resultado. A tecnologia da informação é a capacitadora dos processos de mudança, pois viabiliza projetos de trabalho mais ágeis, menos onerosos e mais eficazes, que respeitam as hipóteses anteriores. 105 Sancovschi (1999) ressalta que uma das fraquezas da reengenharia é o fato de que, na busca obsessiva pela agilidade e competitividade, projetos de reengenharia podem levar a uma perigosa perda de controle contábil e financeiro, que pode custar mais caro do que os ganhos obtidos. Como resultado, a decisão de adoção de reengenharia seria resultante de uma escolha entre oportunidade/risco e segurança/controle. A reengenharia de processos – processo otimista, progressista e liberal (SANCOVSCHI 1999) – pode ser interpretada ainda como uma busca pela redução nos tempos de ciclos operacionais, de modo a aumentar a quantidade de “giros” de tais processos em determinados períodos. De certa forma, os objetivos são os mesmos do just in time. Entretanto, os caminhos selecionados para o alcance desses objetivos são claramente distintos. Enquanto o JIT busca a redução do tempo de ciclo com o foco no processo produtivo, apoiando-se extensivamente na colaboração dos funcionários para obter ganhos incrementais e contínuos de produtividade, a reengenharia baseia-se em quaisquer processos organizacionais relevantes e implanta a mudança de maneira radical, “one-shot”, sem que haja a participação extensiva dos funcionários, mas somente com a participação de poucos membros de equipes multifuncionais. Zhang e Cao (2002) comparam os benefícios da reengenharia com os da melhoria contínua, ressaltando as vantagens da primeira. Enquanto a primeira se refere a uma mudança abrupta, com efeitos imediatos e profundos, envolvendo poucos participantes, requerendo elevado investimento inicial e reduzido investimento de manutenção, orientada para a tecnologia e as pessoas, com foco nos processos e nos lucros, a segunda se refere a uma mudança gradual, constante, com efeitos mais sutis, envolvendo de poucas pessoas a todos na organização, com baixo investimento inicial, orientada para as pessoas e com foco nos processos. 106 Aqueles autores ressaltam que a reengenharia pode diferir em escopo (mudança incremental versus radical4), profundidade (mudanças procedurais versus organizacionais) assim como em extensão (intrafuncional, interfuncional e interorganizacional), mas nenhuma dimensão organizacional (estratégia, estrutura, processos, tecnologia ou cultura) pode ser modificada de maneira isolada. Cada um desses elementos deve estar associado aos outros, potencializando uma cadeia de valor e o foco no processo dos negócios. Sugerem, ainda, que a reengenharia deve ser combinada com a terceirização de parte de todas as operações que não são centrais para sua atividade, de modo a manter seu foco absolutamente restrito ao seu core business. A adoção e difusão dessa prática causaram um impacto em organizações do mundo todo, sendo responsável por ondas de enxugamento em grandes organizações, uma vez que a tecnologia substituía o ser humano na realização de tarefas, e os novos processos desenvolvidos pelas organizações dependiam menos de mão-de-obra do que os anteriores. Ao comparar reengenharia com GQT, Wood Jr. e Urdan (1994) propõem uma integração entre ambas, de acordo com a sugestão de Davenport (1993). Segundo essa proposta, a organização adotante de ambos os modelos poderia se beneficiar duplamente, capitalizando benefícios tanto da mudança incremental quanto da mudança radical. A reengenharia contribuiria com uma maior orientação para resultados, por apresentar maior apoio da alta gerência e por permitir mudanças radicais. A gestão da qualidade total contribuiria para o desenvolvimento de 4 As referências à reengenharia normalmente a tratam como uma metodologia de intervenção radical, grandes incrementos no desempenho do processo re-estruturado. Pode-se depreender que Zhang e Cao (2002) interpretem diferentes níveis de intensidade e impactos em processos de reengenharia, ou seja, reengenharias podem ser “mais” ou “menos” radicais, comparativamente 107 conhecimentos em análise e medição de processos, permitindo a aquisição de maior estabilidade após as mudanças radicas da reengenharia. Já de acordo com Shani e Mitki (1996), gestão da qualidade total e reengenharia apresentam algumas similaridades intrigantes: todas requerem uma decisão estratégica que envolve grande comprometimento de recursos financeiros e humanos, focam todo o sistema organizacional, melhoria e consumidores, envolvem um significativo aprendizado organizacional e exigem uma transformação ou modificação da cultura organizacional. Apesar dessas similaridades, ainda de acordo com Shani e Mitki (1996), gestão da qualidade e reengenharia apresentam algumas diferenças: a reengenharia busca mudanças radicais de processos centrais, enquanto a gestão da qualidade total busca melhoria contínua da qualidade de produtos, processos e serviços. Processos de reengenharia seguem um esquema de fases indutivas, enquanto a gestão da qualidade total segue um esquema dedutivo. Ademais, cada uma das orientações incorpora o subsistema tecnológico de maneira diferente. A reengenharia é baseada na implementação de nova tecnologia, em especial na tecnologia da informação (alguns autores sugerem que a TI é o centro das mudanças de reengenharia). A gestão da qualidade total se concentra em melhorias de processos em geral. Também em relação aos resultados desejados, as práticas se diferenciam. Enquanto os processos de gestão da qualidade total normalmente visam melhoria contínua, de longo prazo, a reengenharia visa obter resultados radicais rapidamente. Por último, a qualidade total não requer grandes mudanças na estrutura organizacional, o oposto da reengenharia. 108 Após alguns anos de sua principal onda de difusão, atualmente a reengenharia é considerada por muitos como um modismo que já passou, cujos efeitos foram devastadores em alguns setores e algumas organizações, em especial sobre as pessoas e seus empregos. Entretanto, considera-se que a reengenharia é uma prática de intervenção organizacional, que ainda pode ter uma aplicabilidade real e atual, mas deve ser utilizada com cautela, de modo a reduzir seus efeitos negativos sobre as organizações adotantes (LOPES e TORRES, 1995). 3.1.3.3.Terceirização e Outsourcing É possível associar a origem do movimento de terceirização ao surgimento dos movimentos de gestão da qualidade total e do just in time. O movimento de terceirização, também denominado desintegração, desconcentração vertical, desverticalização ou subcontratação, acentua a percepção de que têm surgido novos padrões de relações entre organizações parceiras. Sua idéia central é a transferência de atividades produtivas para contratadas, fornecedores de peças, componentes e serviços, mas podendo incluir o desenvolvimento cooperativo de novos projetos e produtos, aperfeiçoamento dos já existentes, utilização em comum de laboratórios, pessoal, equipamentos para testes, podendo até mesmo ocorrer financiamento por parte da contratante para as contratadas (AMATO NETO, 1995). Basicamente, a terceirização se refere a uma decisão de produzir internamente (make) ou adquirir externamente (buy) as matérias primas, insumos e componentes necessários. Segundo Rezende (1997), a terceirização é uma contraposição à integração (vertical e horizontal), conforme proposto pelo fordismo. Pela estratégia de integração, uma organização incorpora atividades que, de outra forma, seriam responsabilidade de 109 outras parceiras de negócio, desde algumas matérias primas, distribuição, venda e entrega, controlando grande parte da cadeia de suprimentos. Essa estratégia pode associar-se a diversas vantagens como a garantia de suprimento e escoamento de sua produção, custos mais reduzidos, apropriação do lucro de intermediários, proximidade com o cliente, aceleração de mudanças tecnológicas e sinergias. Colins et al (1997) apresentam o conceito de consórcios modulares como uma evolução do just in time, acrescido de uma visão mais clara e utilização mais ampla da gerência da cadeia de suprimentos e da terceirização, como uma evolução das relações interorganizacionais em busca de maior eficiência e maior competitividade. Nos consórcios modulares, os fornecedores assumem a responsabilidade de montar o módulo diretamente na linha de montagem do fabricante. Os trabalhadores de fabricantes e fornecedores trabalham lado a lado no mesmo site produtivo. Essa nova forma de relacionamento inclui contratos de fornecimento de longo prazo entre os fabricantes e um pequeno número de fornecedores de primeira linha, os quais assumem a gerência do relacionamento com outros fornecedores de segunda e terceira linha da cadeia de suprimento, enquanto que o fabricante assume a responsabilidade pela coordenação da planta e pelos testes finais de produtos. De certa forma, consórcios modulares podem ser interpretados como um tipo de terceirização ampliada, na qual os papéis dos fornecedores aumentam mais ainda, incluindo a gerência do relacionamento com fornecedores de segunda e terceira linha, design de componentes e peças e co-investimento. Isso afasta a noção de que terceirização deve ser uma forma de eliminar da empresa as preocupações e os custos com atividades que não agregam valor aos produtos, uma vez que as atividades terceirizadas por de consórcios modulares são exatamente aquelas associadas ao core business da empresa: projetar e montar produtos (COLINS et al 1997). Seja como for, 110 os consórcios modulares representam uma importante transformação na relação fabricante-fornecedor, cuja eficácia ainda está em processo de comprovação. De acordo com Wood Jr. e Zuffo (1998), a sobrevivência, em um contexto de permanente desequilíbrio, torna-se função da capacidade de interagir associativamente com fornecedores, clientes e concorrentes. Surgem, assim, as redes organizacionais, formadas com o objetivo de reduzir incertezas e riscos, organizando atividades econômicas por meio de coordenação e coordenação entre as empresas. A adoção de estratégias de parceria com fornecedores atua, no front interno, em uma série de esforços por processos mais eficientes e pela adoção de sistemas mais modernos de gestão, e no front externo, multiplicam-se fusões, aquisições, terceirizações e alianças estratégicas. Sendo assim, a busca pela competitividade relaciona-se cada vez mais com a busca do “ótimo sistêmico”, dentro e fora das fronteiras da empresa. Já Bronzo (2004) ressalta que, em relações de parceria, típicas da terceirização ocorrida em consórcios modulares, o conteúdo das transações tende a ser mais complexo, e os meios utilizados para a troca de informações e para a comunicação bilateral entre os agentes são mais articulados, ao mesmo tempo em que os contratos tendem a ser mais flexíveis ou a apresentar um nível menor de especificações, o que ocorre, sobretudo, quando o objeto da transação envolve conteúdos complexos. As relações perenes entre compradores e fornecedores possuem um potencial de reduzir os controles e as taxas de risco existentes nas transações, reduzindo a possibilidade de comportamentos oportunistas entre os parceiros. Nesses casos, [...]transações recorrentes com um número mais restrito de fornecedores preferenciais teriam o potencial de reduzir os custos e o risco de comportamentos oportunistas entre os agentes, uma vez que, quanto mais significativos são os volumes das trocas e as expectativas de vigência dos contratos, teoricamente são maiores a rentabilidade e a relevância do negócio para as duas partes. As economias de escala nas relações de suprimento fazem com que as empresas consigam trabalhar com um conjunto mais previsível de informações sobre produtos e mercados com seus fornecedores, o 111 que pode gerar um efeito sensível na redução dos custos ex ante e ex post dos contratos. (BRONZO, 2004, p.67) Bronzo (2004) ainda sugere que o maior compartilhamento de informações estratégicas e a melhoria da confiabilidade e da robustez do fluxo informacional com fornecedores e clientes podem tornar menores as assimetrias de informação entre os agentes, definindo uma vantagem competitiva fundamental em várias frentes, como nos processos de inovação e na coordenação logística. Com o passar do tempo, e com a amortização dos primeiros investimentos e o bom histórico do relacionamento, o clima de confiança entre as partes pode efetivamente crescer, favorecendo a trajetória de redução dos custos de transação enquanto, simultaneamente, há a impulsão de economias de escala e aprendizagem entre as empresas. Amiti e Wei (2004) enfatizam a escassez de atenção acadêmica em relação à terceirização internacional de serviços, ao contrário da terceirização de materiais e produtos. Essas autoras trazem para o debate as conseqüências da terceirização, especialmente a terceirização internacional, sobre o nível de empregos no setor de serviços. Segundo as últimas autoras, existe uma preocupação crescente com os impactos negativos da terceirização no setor de serviços, em relação à redução de seu nível de emprego. Entretanto, a análise de dados internacionais realizada por essas autoras sugere que a terceirização em países desenvolvidos não está associada à redução do nível de emprego. Pelo contrário, os países desenvolvidos geralmente são os maiores exportadores de serviços. Rezende (1997) ressalta que a terceirização por parte de uma empresa pode implicar o aumento da integração por parte de seus parceiros de negócio. Quando uma montadora de veículos resolve terceirizar parte de suas atividades para seus fornecedores, como a montagem de subcomponentes, estes são forçados a instalar 112 parte de suas operações no site do cliente, aumentado a complexidade de suas operações e consequentemente seu nível de integração vertical. Alerta para a confusão conceitual existente entre terceirização e desintegração vertical. Terceirização só pode ser considerada sinônimo de desintegração quando for associada a atividades produtivas, ligadas à cadeia de suprimento. Quando for realizada no âmbito de atividades de apoio, terceirização ganha uma conotação de enxugamento (downsizing ou rightsizing) ou desburocratização. Dentre as dificuldades para a adoção da terceirização, Rezende (1997) destaca a dificuldade de estabelecer parcerias, a dependência do fornecedor decorrente da terceirização, a dificuldade de gerenciar os contratados, a possibilidade de engendrar novo concorrente como decorrência da transferência de tecnologia resultante da terceirização. Provavelmente, uma das áreas que melhor tem convivido com a terceirização é a da tecnologia da informação. Muitas organizações, após o desenvolvimento de seus sistemas de informação, deparam-se com departamentos de tecnologia ociosos. Tendo os sistemas de informação sido desenvolvidos e implantados, o trabalho de manutenção não ocupa a totalidade da equipe de desenvolvimento, e percebe-se, desse ponto em diante, que há excesso de pessoal. A solução encontrada para esse problema, de maneira geral, tem sido a terceirização dessas atividades, conforme apresentado em Leite (1997a; 1997b). A terceirização da informática difere da terceirização de atividades de apoio, como limpeza, segurança e distribuição, uma vez que seus principais objetivos não estão somente relacionados à redução de custos e que ela tende a assumir um caráter mais estratégico, dada à importância da tecnologia da informação como elemento competitivo (LEITE, 1997b). Neste caso, os riscos são maiores e os custos assumem 113 um papel secundário. A relação entre contratante e fornecedor absorve uma delicada tensão entre prestadores e usuários de serviço, na qual parece haver uma insatisfação constante com os papéis desempenhados por ambos. A abrangência das atividades de informática e o ritmo de introdução de inovações impõem uma grande pressão, estimulando um conflito de interesses e competição entre parceiros de negócios. 3.1.3.4. Just in Time A lógica básica do just in time é a de que é necessário que uma fábrica reaja adequadamente a flutuações na demanda dos produtos por ela oferecidos. Nesse caso, as máquinas continuam operando próximas de sua capacidade máxima, sem que seja necessário estocar grandes quantidades de matérias primas, componentes, peças em fabricação e produtos acabados. A taxa de operação fica associada aos pedidos, de forma que, caso os pedidos sejam suspendidos, as máquinas e a produção possam ser desligadas, sem que haja um acréscimo significativo nos custos de produção e estoque. O conceito de Just in Time (JIT) se confunde com os conceitos de gestão da qualidade total, modelo japonês de fabricação e modelo toyotista de fabricação, além do conceito de kanban (SHIMOKAWA, 1993, PROFETA, 2003). Conforme já foi acentuado anteriormente, todas essas nomenclaturas referem-se a um único modelo, que combina vários elementos em comum. Para Profeta (2003, p 17), just in time se refere a uma “filosofia de gestão da produção baseada na redução de perdas pela aplicação de técnicas voltadas à melhoria da qualidade/produtividade visando alcançar a excelência na manufatura”. Segundo Cua et al (2001), just in time é um programa de produção com o objetivo primário de reduzir continuamente, até a eliminação completa, todas as formas de 114 desperdício na produção. Esses autores sugerem duas grandes formas de desperdício que podem ser reduzidas pela utilização do JIT – estoque de mercadorias em fabricação e atrasos desnecessários no tempo de fluxo. Essas formas de desperdício podem ser solucionadas com a redução do tempo de setup e com o sistema de produção baseado na demanda. Essas práticas, por sua vez, requerem que os trabalhadores possuam habilidades ampliadas e sejam treinados para desenvolver as múltiplas tarefas requeridas pelos esforços de melhorias. Para garantir o apoio ao just in time, é necessário que a administração esteja comprometida com o programa e com o desenvolvimento dos trabalhadores. Em síntese, Just in Time é um sistema de produção que permite a fabricação de lotes flexíveis de produtos, em termos de quantidade e diversidade, de modo a adequar a produção em função de modificações na composição da demanda para um produto ou linha de produtos. A lógica central do JIT é garantir que todas as seções de uma fábrica e todas as etapas de produção fabriquem os produtos necessários no momento e nas quantidades certas, de modo a somente atender à demanda real, buscando eliminar qualquer estoque em grande escala. O primeiro elemento do método just in time, ainda segundo Profeta (2003), é a busca da eliminação de paradas do processamento industrial, tanto dentro de processos isolados, quanto entre processos interdependentes. Para tanto, torna-se necessário transferir aos trabalhadores as decisões operacionais imprescindíveis para gerar melhorias operacionais, transferindo-lhes toda a informação, em especial a informação sobre o andamento da produção. Isso foi realizado através da criação do sistema kanban, segundo o qual o andamento da produção é coordenado com a fixação de cartões em toda a fábrica, que indicam o que e quanto está sendo produzido 115 e os materiais e componentes necessários para a produção. Ao mesmo tempo, foi desenvolvida uma nova mentalidade em relação ao andamento da fabricação. Foram criados padrões renovados de fabricação, eliminando a noção de que é necessário ou aceitável estocar produtos em grandes quantidades durante o processo produtivo. O processo produtivo também foi modificado, sendo adotado um novo layout de fábrica, que permite maior mobilidade e flexibilidade dos trabalhadores, estimulando e explorando sua mulifuncionalidade. Os trabalhadores passam a ser responsáveis por mais de uma tarefa, operando mais de uma máquina simultaneamente. Segundo Arnold e Bernard (1989), para que a implementação de just in time seja completa, é necessária a coordenação de fluxos de materiais de acordo com os requisitos reais do sistema de produção. A cadeia logística deve ser ajustada para atender as demandas dos vários estágios de produção, de acordo com os intervalos requeridos. Isso pode estimular o abandono de estratégias tradicionais de procurement em favor de uma concentração em fornecedores exclusivos, especialmente para aqueles produtos classificados como A ou B (aproximadamente 15% dos materiais utilizados, que representam até 80% dos custos com materiais). Dentre os elementos mais comumente citados pela bibliografia como requisitos para a implantação bem sucedida da prática gerencial em foco, estão a redução do tempo de setup, o layout do equipamento, a redução dos lotes de fabricação, a carga uniforme da fábrica, o sistema de fabricação “puxada”, o fornecimento de produtos JIT, a autonomação, a qualidade, o zero defeito, a simplicidade de design, a manutenção preventiva, o envolvimento (MCLACHLIN, 1997). dos empregados e sua multifuncionalidade 116 Assim como em relação ao conceito de Gestão da Qualidade Total, percebe-se, em relação ao conceito de just in time, uma certa confusão, em especial sobre o fato de ser efetivamente uma prática ou, de maneira mais ampla, uma filosofia gerencial, apoiada por práticas diversas. Ao ser investigado o conceito na literatura de negócios, encontram-se elementos como melhoria contínua (kaisen), redução do desperdício, aumento da qualidade, utilização de CCQs, manutenção preventiva, células de produção, controle estatístico de processo e outros, típicos da gestão da qualidade total, que também inclui, por sua vez, a gestão just in time de estoques (PROFETA 2003). Segundo Arnold e Bernard (1989), o principal fator que estimula a adoção da prática gerencial just in time é o contínuo aumento na quantidade de produtos disponíveis aos consumidores industriais e individuais, devido a mudanças na estrutura da demanda, com os consumidores se tornando cada vez mais diferenciados e individualizados, exigindo maior conveniência dos vendedores, devido ao aumento da competição internacional, acompanhada por maior embate com base no preço, especialmente em mercados saturados, e às reduções no tempo de vida útil dos produtos. • Resultados Obtidos Através do JIT (JIT e ROA) Os resultados ou benefícios decorrentes do uso de técnicas JIT, conforme a literatura revisada nesta tese, são a redução de estoques e áreas de estocagem, o aumento da qualidade, a redução do lead time, a redução de perdas e retrabalho, a redução de custos, do lote de fabricação, da movimentação de materiais, a redução do tempo de parada de máquinas e o conseqüente aumento na produtividade. A utilização de JIT deve proporcionar melhorias em competitividade e desempenho de uma organização, 117 com um fluxo mais equilibrado de produção em lotes reduzidos e com a integração da estabilidade do calendário, e devem levar, direta ou indiretamente, a ganhos financeiros. Na teoria, o JIT melhora a rentabilidade devido ao seu impacto nos dois componentes independentes do retorno sobre o ativo (ROA), o giro do ativo, que mede o retorno das vendas sobre o investimento, e o retorno sobre as vendas, que mede o lucro em relação às vendas. O just in time supostamente melhora o retorno sobre os ativos de várias maneiras. Primeira: o giro sobre o ativo deve melhorar, uma vez que o JIT libera ativos e capitais. A redução do ativo aumento o ROA. Segunda: estoques reduzidos também reduzem o ativo, melhorando o giro sobre os ativos no curto prazo. Terceira: a redução de estoques reguladores motiva a eliminação de atividades que não acrescentam valor e que exercem um efeito negativo sobre a margem de lucro, como o retrabalho e faltas de estoque. Entretanto, esses efeitos não são automáticos e podem até ser negativos no curto prazo, devido à necessidade de investimentos de implementação, como em treinamentos, aquisição de equipamentos e outros. É provável que, no momento da implementação da prática, surjam dificuldades que representem custos adicionais que serão recuperados após sua plena implementação. Muito além da noção reduzida de redução de estoque e de tamanho ótimo de lote, JIT é a gênese da competição baseada em tempo, que oferece flexibilidade e rapidez, essenciais para a competição em nível global. Para que potencialize os resultados, o JIT deve ser aplicado como uma filosofia organizacional alinhada aos fatores críticos de sucesso de uma organização (FULLERTON, 2003). Arnold e Bernard (1989) ressaltam a importância do JIT como uma estratégia de flexibilização da produção, dada a capacidade oferecida pelo método de modificar 118 rapidamente a linha de produção (setup rápido), permitindo a produção de lotes pequenos em ciclos reduzidos. • JIT e distribuição de poder entre compradores e fornecedores Apesar da literatura comumente ressaltar os benefícios obtidos pelos adotantes do JIT, com a redução de desperdício (produção, materiais, trabalho, tempo, energia, recursos financeiros utilizados e imobilizados em excesso), Arnold e Bernard (1989) destacam que pouca atenção tem sido destinada à investigação dos benefícios obtidos pelos consumidores finais. A adoção de técnicas JIT por um produtor tenderá a beneficiar seus fornecedores da mesma maneira que o comprador? Isso não está claro, de acordo com Arnold e Bernard (1989). Mas esses autores sugerem que sim, desde que as disposições de compra estejam padronizadas de tal forma que os custos fixos de pedidos sejam desprezíveis Mas é possível que haja conflito de interesses. Segundo os autores antes citados, o fornecedor se beneficiará caso surjam relações contratuais de longo prazo com o comprador, aumentando as quantidades a ele fornecidas, o que, por sua vez, proporcionará efeitos de escala, permitindo maior coordenação por parte do fornecedor. O uso de JIT também influenciará a estrutura logística a ser utilizada na relação comprador/fornecedor. O processo é caracterizado por maior freqüência e menor volume que as rotinas tradicionais de logística, que podem ser acompanhadas ou não de terceirização de atividades, desde o transporte, armazenamento e coleta de pedidos. Dong et al (2001) propõem uma análise dos resultados da adoção do JIT por parte de compradores e vendedores, ressaltando que, muitas vezes, a adoção do método por 119 compradores implica transferência do estoque para os vendedores, conseqüentemente resultando em ganhos somente pelo primeiro grupo de empresas. Como forma de solucionar essa tensão, Dong et al (2001) sugerem a diferenciação entre fabricação JIT e compras JIT. Consideram que fabricação just in time inclui técnicas de fabricação japonesas derivadas do sistema kanban, como lotes reduzidos de fabricação, lead times reduzidos e programas de melhoria da qualidade, requeridos para a implementação de processos de manufatura flexível. Compras just in time, por outro lado, se referem ao recebimento de pequenos lotes que facilitam o controle de estoque e a redução do nível de matéria prima e materiais brutos. O conceito de compras just in time inclui (DONG et al, 2001) a redução no tamanho dos pedidos, a redução no lead time dos pedidos, medidas de controle de qualidade, incluindo certificação de fornecedores, programas de manutenção preventiva e inspeção de qualidade na recepção e o desenvolvimento de procedimentos de avaliação e seleção de fornecedores. Para a implantação de fabricação just in time, é necessário melhorar a coordenação da cadeia de suprimentos, de modo a melhorar o desempenho do sistema de fabricação como um todo. É essencial, ainda, uma relação bem estabelecida entre fornecedor e comprador para que uma estratégia just in time seja efetiva. Entretanto, a adoção desse tipo de estratégica tende a favorecer aos compradores, que poderão reduzir o tamanho de seu lote de fabricação e, conseqüentemente, o tamanho dos lotes de compra de matéria primas e componentes. Quanto aos fornecedores, não é claro o resultado obtido em relação à participação de esquemas do tipo JIT com seus clientes. Normalmente, os custos dos compradores são reduzidos devido à transferência dos estoques para os vendedores, causando, nestes, aumentos de custos e redução de 120 economias de escala, devido à redução do tamanho do lote de entrega e ao aumento no número de entregas necessárias. • Implantação de uma estratégia just in time Segundo Arnold e Bernard (1989), para desenvolver o potencial para produção flexível, necessária em processos JIT, são necessários investimentos substanciais em hardware e software, como tecnologia de processamento de informação, sistemas flexíveis de produção, controle de qualidade automatizado, técnicas de controle e regulação e facilidades de transporte e armazenamento. Esses investimentos elevam o nível de intensidade de uso do capital, o que aumenta o risco da adoção dessas práticas, devido aos riscos associados a custos fixos na teoria administrativa. Como a implementação de JIT requer uma seleção cuidadosa de fornecedores para que seja possível atingir aos objetivos de zero defeito, de confiabilidade absoluta nas entregas e de níveis de custos adequados, os grandes compradores exercerão forte pressão na estrutura de seus principais fornecedores, envolvendo a prescrição de utilização de determinado sistema de informação, incluindo funções de IED, e a transferência de atividades que anteriormente eram desenvolvidas pelos compradores, como controle de inventário e controle de qualidade. Essa transferência cria um contrato de longo prazo, entre comprador e vendedor, tácito ou explícito, que inclui exclusividade de fornecimento, prioridades de entrega, financiamento de atividades do fornecedor, transferência de tecnologia – inclusive da tecnologia JIT, e de maquinária. A participação nesses relacionamentos transacionais será crescentemente influenciada por coordenação interativa, ao invés de competição induzida pelo mercado. Isso significa que serão criadas barreiras à entrada e à saída de participantes nos mercados. 121 McLachlin (1997) e Fullerton (2003) levantam o argumento de que as empresas ocidentais tendem a adotar práticas inovadoras, especialmente aquelas surgidas no Japão (JIT), apenas parcialmente, não obtendo todos os resultados comuns aos adotantes de tais práticas. Esse autor sugere que as empresas estão adotando subconjuntos de práticas, e não adotam os elementos centrais do JIT, obtendo resultados temporários, superficiais e não significativos. Relacionadas ao sucesso ou ao fracasso das iniciativas de implantação do JIT, McLachlin (1997) encontra, baseado em revisão de bibliografia, as seguintes iniciativas: a segurança de emprego, a promoção da responsabilidade dos empregados, a oferta de treinamentos, a promoção do trabalho em equipe, a utilização de medidas de desempenho em grupo e a demonstração de compromisso por parte da administração. Estas seis iniciativas, por sua vez, levariam ao envolvimento dos empregados, o que também contribuiria para o sucesso na adoção do JIT. 4. O estado do campo sobre práticas inovadoras de gestão Em que pese a grande demanda e a abundância de publicações que se destinam a discutir cada prática individualmente, ainda são poucos os trabalhos que se voltam para a pesquisa do movimento de adoção de conjuntos de práticas inovadoras de um modo geral, que emergiram ao longo do período de crise do taylorismo-fordismo. Destacam-se, nesse sentido, os trabalhos de Rigby et al (2003), Waterson (1997), Bolden et al (1997) e Bastos et al (2004). Esses trabalhos vão ser analisados neste capítulo, juntamente com trabalhos de outros autores que focalizam a adoção de práticas gerenciais de forma isolada ou desenvolvem estudos de caso sobre empresas particulares. 4.1. A difusão de práticas de gestão inovadoras no Reino Unido Bolden et al (1997) enfatizam a necessidade de realização de pesquisas mais abrangentes, que enfoquem as práticas inovadoras de administração como um todo, e apresentam resultados de pesquisa em uma tentativa mais compreensiva de análise do processo de incorporação de novas práticas gerenciais por organizações no Reino Unido. Nesse sentido, Bolden et al (1997) desenvolvem uma taxonomia de práticas inovadoras, classificando-as de acordo com suas dimensões básicas, bem como por suas semelhanças e diferenças (Quadro 4.1). Esses autores identificaram, inicialmente, 254 práticas de produção e organização que podem ser consideradas inovadoras sob algum aspecto. Essas práticas foram agrupadas em 87 clusters de práticas semelhantes, que foram posteriormente 123 reclassificadas em uma matriz, construída com as dimensões “ênfase estratégica” – que se refere ao foco principal das estratégias diretivas do uso das práticas (foco nos negócios e foco na organização) – e “domínio da aplicação” – que se refere aos diferentes estágios do ciclo produtivo (design e produção, inventário e estoque, organização do trabalho e organização mais ampla da produção). Segundo Bolden et al (op.cit.), as organizações utilizam práticas inovadoras buscando basicamente onze metas competitivas: redução nos custos, flexibilidade em design, flexibilidade em volume, conformidade em qualidade, performance do produto, velocidade na entrega, confiança na entrega, serviços pós-vendas, publicidade, distribuição ampla e ampla linha de produtos. Entretanto, os autores decidiram utilizar, na taxonomia, apenas cinco objetivos principais, distribuindo-os entre as dimensões “foco em negócios” e “foco em organização”. A dimensão “foco em negócios” se subdivide de acordo com os objetivos “melhorias em qualidade”, “redução de custo” e “responsividade aos clientes”, enquanto que a dimensão “foco em organização” se subdivide nos objetivos “tecnologia melhorada” e “desenvolvimento de funcionários” (Quadro 4.1). De acordo com Bolden et al (op.cit.), o desenvolvimento de uma taxonomia como a proposta por eles traz como benefícios o fornecimento de uma visão mais ampla do campo da produção, auxiliando na identificação de aspectos comuns e diferenças sistemáticas entre as práticas e técnicas de produção, identificando técnicas e práticas sobre as quais alguns pesquisadores podem não estar informados, auxiliando o trabalho de formação de engenheiros, gerentes e cientistas sociais e, por fim, orientando novas pesquisas e desenvolvimentos em produção. 124 Quadro 4.1 - Taxonomia de práticas inovadoras em produção e organização Domínio Primário de Aplicação 1. Design e Produção Foco em Negócios A. Melhorias B. Redução C. Responsiem Qualidade de Custo vidade aos Clientes Prototipação Progresso de Padrões de rápida trabalho qualidade Engenharia reduzido Controle Produção Just concorrente estatístico de Envolvimento in time processo do consumidor Mapeamento Manutenção no design de processo produtiva total Redução do Desdobramento Design lead-time inteligente da função da Manufatura qualidade (QFD) Re-utilização À prova de erros Racionalização ágil de produto Parcerias na 2. Inventário e cadeia de suprimento estoque Feedback do consumidor Checagem de conformidades Previsão dos requisitos do consumidor Manutenção de níveis de estoque 3. Organização do Trabalho Organização flexível do trabalho Suporte pósvendas Manufatura celular 4. Organização mais ampla da produção Inventário reduzido Singlesourcing Controle de inventário just in time Previsões Gestão da logística Downsizing Equipes de Delayering melhoria da Terceirização qualidade Responsabilidade Trabalho do operador pela informal qualidade Feedback de qualidade para os operadores Treinamento de qualidade Design ergonômico Produção Gestão da enxuta qualidade total Gestão dos Prêmios de custos qualidade Medidas de Gurus da desempenho qualidade Produção classe financeiro Gestão mundial baseada no Benchmarking tempo de qualidade Benchmarking de custos Fonte: BOLDEN et al, 1997, p. 1120-1121 Foco em Organização D. Tecnologia E. DesenvolviMelhorada mento de Funcionários Planejamento e Rotação de funções controle de Multi-habilidades processo Psicométricos auxiliado por Avaliações computador Treinamento e Sistemas de desenvolvimento produção Esquemas de auxiliados por sugestão computador Pesquisas de Automação atitude Design e Secondments engenharia Gestão da auxiliados por segurança computador Armazenamento Equipe com responsabilidades e recuperação de compras e automatizada distribuição Intercâmbio eletrônico de dados Sistemas de manufatura flexível Tecnologia de grupo Trabalho cooperativo apoiado por computador MRP – planejamento de recursos de produção Estratégia Prioridades tecnológica para dadas aos a companhia clientes Ferramentas Pesquisa de baseadas em marketing Pesquisas com computador Benchmarking os clientes Benchmarking de tecnologia de responsividade aos clientes Reengenharia de processos Harmonização Trabalho baseado em equipes Gestão dos limites Companhia explícita Estratégia de RH Empowerment Pagamento baseado no desempenho Mudança cultural Clima de aprendizado Investidores em pessoas Benchmarking de eficácia de funcionários 125 Waterson et al (1997) são autores de outro trabalho, que se propõe a verificar o nível de adoção de práticas inovadoras de produção e de administração no Reino Unido. Utilizando pesquisa do tipo survey, os autores buscaram reunir evidências sobre a extensão de uso das práticas inovadoras, bem como os motivos de sua introdução e a eficácia percebida em relação aos objetivos perseguidos pelos adotantes. A pesquisa desenvolvida por Waterson et al (op.cit.) enfocou a utilização de doze práticas inovadoras de administração no campo da produção – reengenharia de processos, parcerias na cadeia de suprimento (supply-chain management), terceirização (outsourcing), cultura de aprendizagem, empowerment, trabalho baseado em equipes, manutenção produtiva total (total productive maintenance), engenharia simultânea, tecnologias integradas baseadas em computador (CIM – computer integrated manufacturing), células de manufatura, just in time e gestão da qualidade. Os resultados dessa pesquisa estão sintetizados no Quadro 4.2. De acordo com a percepção de executivos britânicos da área industrial, as práticas mais difundidas no Reino Unido foram as parcerias na cadeia de suprimentos, a gestão da qualidade total, o just in time, o trabalho em equipes e a tecnologia integrada baseada em computador (CIM). As parcerias na cadeia de suprimentos e o just in time foram indicadas como as mais voltadas para melhorias em responsividade, enquanto que a gestão da qualidade total, assim como o trabalho em equipe, foram associadas exclusivamente a melhorias de qualidade. Todas as práticas pesquisadas apresentaram elevada propensão à continuidade de uso. Já as práticas menos difundidas no Reino Unido foram manutenção produtiva total, células de produção, engenharia simultânea e terceirização. Dessas, a única que apresentou relação significativa com algum dos objetivos investigados foi a célula de produção, que foi indicada como prática que contribui para melhorias em qualidade. 126 Apesar de ter sido verificado baixo nível relativo de difusão dessas práticas, observouse certa propensão de continuidade de uso em relação às células de produção, à engenharia simultânea e à terceirização. Os executivos da indústria britânica ressaltaram, ainda, o baixo potencial da terceirização no sentido de reduzir custos. Por último, as práticas que apresentaram nível mediano de difusão foram a reengenharia de processos, o empowerment e a cultura de aprendizagem. Dentre essas, a única que contribuiu significativamente para alguns dos resultados investigados foi a reengenharia de processos, cuja adoção, de acordo com os respondentes, associou-se a reduções de custos. Ainda dentre esse último grupo de práticas, a única que apresentou propensão à continuidade de uso foi a cultura de aprendizagem. Quadro 4.2 – Adoção de Práticas Inovadoras de Administração e Produção no Reino Unido Discriminação das dimensões Resultados avaliadas Difusão Mais difundida: Parcerias na Cadeia de Suprimentos; Gestão da Qualidade Total; Just in Time; Trabalho em Equipes; Tecnologia Integrada Baseada em Computador; Menos difundida: Manutenção Produtiva Total; Terceirização; Engenharia Simultânea; Células de Produção; Ganhos de qualidade Maior êxito: Gestão da Qualidade Total; Trabalho em Equipes; Células de Produção; Menor êxito: Terceirização; Just in Time; Redução de custos Maior êxito: Reengenharia de Processos Menor êxito: Cultura de Aprendizagem; Gestão da Qualidade Total; Responsividade Maior êxito: ; Just in Time; Engenharia Simultânea; Parcerias na Cadeia de Suprimentos; Menor êxito: Terceirização; Manutenção Produtiva Total; Cultura de Aprendizagem; Perspectivas Maior crescimento: Cultura de Aprendizagem; Tecnologia Integrada Baseada em Computador; Empowerment; Parcerias na Cadeia de Suprimentos; Trabalho em Equipes; Gestão da Qualidade Total; Menor crescimento: Terceirização; Células de Produção; Engenharia Simultânea; Fonte: elaborado com base em Waterson et al (1997, p.3) 127 A análise dos dados do Quadro 4.2 ressalta, também, que as técnicas mais difundidas são, simultaneamente, as de maiores perspectivas de crescimento em termos de utilização, enquanto várias das práticas de menor difusão tenderão a continuar assim. Ademais, duas das práticas melhores sucedidas em termos de ganhos de qualidade pertencem também ao conjunto de práticas mais difundidas e de melhores indicações de crescimento em seus usos. Chama a atenção, ainda, o fato de que, embora atualmente avaliada como uma das menos importantes nos quesitos redução de custos e melhoria nas condições de responsividade das empresas entrevistadas, a prática “cultura de aprendizagem” é uma das que apresenta melhor tendência ao crescimento de sua adoção, enquanto a prática “células de manufatura”, conquanto associada a ganhos expressivos em termos de qualidade, não integra o conjunto de práticas com melhor perspectiva de crescimento futuro. Pelo contrário, tal prática foi indicada pelo conjunto de empresas entrevistadas como uma daquelas de menor tendência ao crescimento quanto à sua utilização. 4.2. Difusão de práticas inovadoras no Brasil Conforme Paulinyi (1993), o desenvolvimento tecnológico brasileiro teve seu início associado ao movimento de industrialização, após a Segunda Grande Guerra (IIGG). Após seu início, garante o autor, seu desenvolvimento foi acelerado, exceto por crises ocorridas nos períodos 1964-1966 e 1981-1983. O governo desempenha um papel crucial nesse sentido, apresentando, em 1968, o Plano Nacional de Desenvolvimento, e, em 1973, o Primeiro Plano Básico para Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Esses planos incluíam fundos subsidiados e incentivos fiscais para expansão e modernização do parque industrial, ao mesmo tempo em que criaram barreiras para a 128 importação de tecnologia e serviços correlatos, protegendo o mercado para produtos nacionais que continham inovações domésticas. Essa iniciativa trouxe algumas vantagens para o país, especialmente o desenvolvimento interno de uma força de trabalho mais qualificada e especializada, particularmente em algumas áreas estratégicas, como tecnologia da informação e energia nuclear, incluindo engenheiros e designers de produtos. Ademais, estimulou o desenvolvimento tecnológico nacional, ao incentivar empresas brasileiras a desenvolver as tecnologias das quais dependiam para seu bom funcionamento. Alguns setores são emblemáticos do desenvolvimento tecnológico in-house, como, por exemplo, o setor de hardware nacional (PAULINYI, 1993; CAMPELO de MELO et al, 1993). Entretanto, são notórios os problemas que essa política de substituição de importações causou ao desenvolvimento tecnológico de outros setores, os quais não representavam seu foco. As empresas brasileiras que atuavam nesses setores puderam se acomodar e simplesmente explorar o mercado interno, já que desfrutavam de vantagens por atuarem em monopólios ou oligopólios internos, ou em mercados onde a competição não se baseava em tecnologia. De acordo com Paulinyi (op.cit.), não somente essas organizações deixaram de se desenvolver tecnologicamente em relação aos seus produtos e serviços, seja por adquirirem equipamentos de baixa qualidade e produtividade, seja por não desenvolverem seus produtos o suficiente, mas restrições de importações de equipamentos também isolaram as empresas brasileiras dos principais desenvolvimentos gerenciais que ocorriam no mercado internacional, retardando as melhorias que seriam amplamente realizadas posteriormente. Essa acomodação trouxe 129 uma crescente insatisfação e desconfiança por parte de diversos segmentos da sociedade influenciados por essa política. A Nova Política Industrial começou em julho de 1990, introduzindo modificações na política de substituição de importações: tarifas menores, a eliminação de barreiras não tarifárias, a redução da participação do governo na economia e a ênfase em melhorias de qualidade e produtividade. Como resultado dessa nova política, as empresas começaram a educar e treinar seu pessoal, desenvolver procedimentos mais severos de controle de qualidade, desenvolver a capacidade interna de design e engenharia de produtos e instalar unidades permanentes de projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (PAULINYI 1993). Com o foco no cenário industrial brasileiro, Paulinyi (1993) identifica quatro padrões de inovação, a partir da análise de doze variáveis associadas ao desenvolvimento tecnológico das organizações: Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), royalties e assistência técnica domésticos, royalties e assistência técnica estrangeiros, vendas, importações (excluindo bens de capital), exportações, educação e treinamento, lucros, incentivos fiscais para a Região Amazônica, incentivos fiscais para a Região Nordeste, incentivos fiscais em Educação e incentivos fiscais em Aeronáutica. Essas doze variáveis foram agrupadas, de acordo com a análise fatorial, em três fatores. O primeiro fator representa um atributo da liderança da empresa, composto pelas seguintes variáveis: lucros, importações, educação e treinamento, e P&D. O segundo fator representa o esforço tecnológico da empresa, representado pelas seguintes variáveis: P&D, exportação e incentivos fiscais. Os dois primeiros fatores explicam entre 65 e 78% da variância total. O terceiro fator representa a dependência tecnológica de fontes externas, composto pelas variáveis relacionadas ao pagamento de royalties doméstica e internacionalmente. 130 Em seguida, considerando os fatores 1 e 2 como sendo os discriminantes em relação a atividades de P&D, o autor classifica as empresas estudadas entre aquelas que desempenham P&D e aquelas que não desempenham, em contraste com a classificação adicional das empresas de acordo com o ambiente em que atuam, o de empresas mais ou menos ativas. Essa classificação permitiu o desenvolvimento de uma tipologia de quatro dimensões – líder, dependente, hard working, e novata, conforme a figura 4.1. Figura 4.1 - Tipos de Desenvolvimento Tecnológico Fonte: Paulinyi 1993, p.89 Empresas líderes, segundo a tipologia de Paulinyi (1993), são tipicamente as maiores empresas (em termos de vendas), que operam em indústrias tecnicamente dinâmicas, como mineração, eletro-eletrônicos e comunicação, transportes (automotivo e aeroespacial), utilidades públicas (geração de energia hidroelétrica), serviços profissionais (consultoria), (principalmente aço). construção e engenharia, drogas e metalurgia 131 As empresas desse tipo estão continuamente à frente do desenvolvimento tecnológico de seus setores, encontrando concorrência tecnológica em seus mercados externos. Essas empresas possuem interesse em ganhar ou manter a liderança tecnológica no mercado doméstico. Importam insumos, equipamentos e materiais atualizados, e desenvolvem soluções proprietárias pela P&D. As inovações incorporadas em seus equipamentos e materiais importados parecem ser importante fator para a manutenção dessas empresas em sua fronteira tecnológica. Para essas empresas, o pagamento explícito de royalties e assistência técnica são de importância marginal. Empresas hard-working, conforme o mesmo autor, são tipicamente de porte médio em vendas, que operam em indústrias menos dinâmicas, como metalurgia, transportes, agricultura, papel e serviços profissionais. A pressão por mudança tecnológica é originária na agressiva atividade de exportação que essas empresas realizam. Sua modernização se dá pela P&D, basicamente, apesar de investir menos do que as líderes. Apesar disso, em alguns casos, os esforços relativos de desenvolvimento e domínio de tecnologias proprietárias são equivalentes em algumas indústrias. Empresas dependentes, ainda segundo a tipologia de Paulinyi (1993), são de porte médio, que operam em indústrias tecnologicamente dinâmicas como mineração, eletrônica e comunicações, química, maquinário e engenharia e construção. A demanda por mudança tecnológica se origina do ambiente industrial em que operam. Seu desenvolvimento se dá com a aquisição de tecnologia não incorporada e serviços correlatos de fontes externas, preferencialmente as matrizes internacionais, no caso de subsidiárias. Empresas novatas, por último, ainda segundo o mesmo autor (Paulinyi 1993), são pequenas empresas que operam em segmentos dinâmicos da indústria, como metalurgia, agricultura, papel e serviços profissionais, bem como em setores 132 tradicionais como manufatura de minerais não-metálicos, cópias e impressões, plásticos, borracha, móveis e couro. Essas empresas adquirem tecnologia e serviços correlatos ocasionalmente e em pequena escala. Algumas dessas companhias podem se tornar companhias médias do tipo hard-working no futuro. Entretanto, a aquisição de know-how e inovações, para a maioria dessas organizações não é suficiente para quebrar o ciclo vicioso da estagnação, em parte devido à falta de potencial para absorver os novos inputs tecnológicos, e em parte devido aos elevados custos dessa aquisição. Essas empresas pagam, em média, cinco vezes mais por contrato do que suas contrapartidas em outros grupos. Uma das contribuições secundárias do trabalho de Paulinyi (1993) é a verificação, de maneira ampla, dos setores da economia onde os investimentos em P&D são mais elevados do que a média: equipamento automotivo, eletro-eletrônico e equipamentos de comunicação, química e petroquímica, maquinário, mineração de ferro, metalurgia do aço, utilidades públicas como geração de energia hidroelétrica, engenharia e construção (rodovias, barragens e outros grandes projetos ao redor do mundo), segmentos modernos da agricultura (soja), papel (celulose) e transportes, especificamente transporte aéreo e rodoviário. Isso pode proporcionar um parâmetro de avaliação com os setores estudados nesta tese, esperando-se encontrar maior evolução gerencial em organizações que atuam nesses setores. A restrição às importações de tecnologia da informação se encerra em outubro de 1992, trazendo às organizações brasileiras do setor de informática uma nova pressão por competitividade e por sobrevivência, dada a nova concorrência internacional, mesmo levando em consideração os ainda elevados preços dos equipamentos importados (CAMPELO de MELO et al, 1993). 133 Tendo como referência esse contexto, o principal objetivo do trabalho desenvolvido por Campelo de Melo et al (1993) foi identificar as condições que poderiam favorecer a sobrevivência das empresas brasileiras de eletro-eletrônica face às novas demandas impostas pela abertura de mercado, aumentando sua competitividade e melhorando o desempenho das indústrias e do setor como um todo. Tendo em vista essas perspectivas, Campelo de Melo et al (1993) sugeriram que o setor devesse adotar práticas inovadoras, como programas abrangentes de qualidade, requeridos para atingir os novos padrões apresentados pela concorrência internacional. Os autores avançaram em suas proposições enfatizando que se tornou necessário, como saída para a crise então iminente, o desenvolvimento de soluções específicas completas para organizações ou setores – a exemplo dos desenvolvimentos ocorridos em relação à tecnologia de suporte aos serviços bancários, que buscaram soluções de ponta, mesmo com a impossibilidade de importar tecnologia mais avançada – e o desenvolvimento de ações coordenadas entre pequenas e médias empresas de tecnologia, por meio de alianças estratégicas e esforços colaborativos para aumentar a eficiência do setor, ou seja, para assegurar sua eficiência conjunta. O termo eficiência conjunta se refere à eficiência melhorada obtida por parte de firmas dentro de um setor específico através de ações colaborativas com investimentos conjuntos em aspectos relevantes para o desempenho organizacional e tecnológico. O ponto chave é a obtenção de resultados que não poderiam ser obtidos individualmente por nenhuma das partes envolvidas... O que é proposto aqui, em termos de eficiência conjunta, é uma possível solução para a crescente necessidade de configurações interorganizacionais que favoreçam um desempenho melhorado por um grupo de organizações, com objetivos complementares, em um ambiente turbulento. (CAMPELO DE MELO et al, 1993 pp. 374375) Outro artigo que destaca as mudanças que ocorreram no Brasil no final da década de 1980 e no início da década de 1990 é o de Soares e Chamone (1994). Estes autores se referem ao caso da Xerox do Brasil, que foi a vencedora do Prêmio Nacional de 134 Qualidade do ano de 1993. O que torna esse exemplo “tão especial”, segundo os seus autores, é o fato de ser uma subsidiária de uma multinacional que, apesar de estar em um ambiente protegido por barreiras tecnológicas e comerciais, desenvolve métodos de controle da qualidade total, com foco na satisfação dos clientes, que passam a ser considerados referências internacionais. Aliando tecnologias soft e hard, a filial brasileira da Xerox Corporation consegue melhorar diversos indicadores de desempenho e satisfação do cliente, como: redução no número de defeitos, redução do número de chamadas de assistência técnica por problemas de qualidade, redução do número de serviços incompletos, de parada de máquinas e do tempo de resposta aos pedidos dos clientes. A análise demonstra aumento em índices de lucratividade e produtividade, como a receita por funcionário, a redução do número de fornecedores, o aumento do número de fornecedores certificados – aqueles que dispensam a inspeção dos produtos na recepção – e a redução do trabalho em progresso, de forma que são inquestionáveis os benefícios da utilização de controle da qualidade nas organizações, segundo os autores do artigo em foco. Entretanto, a contribuição do trabalho de Soares e Chamone (1994) não é a mera ilustração de mais um caso de sucesso de mudança gerencial. Instigante, por exemplo, é a forma como demonstra a utilização de inúmeras inovações gerenciais dentro do grande guarda-chuva tecnológico que é a Gestão da Qualidade Total. O programa desenvolvido pela empresa envolve diversas práticas gerenciais difundidas a partir do início da década de 1990: just-in-time e kanban, benchmarking, gestão por processos, empowerment e equipes autogerenciadas, qualidade de vida no trabalho, remuneração baseada em resultados, metodologias de solução de problemas, e até mesmo reengenharia. Essas tecnologias gerenciais aparecem como complementos à Gestão da 135 Qualidade Total, além da utilização extensiva de tecnologias da informação e da utilização de uma tecnologia de gestão mais tradicional, o planejamento estratégico. Isso reforça a suposição de que certas empresas tendem a utilizar “pacotes” de práticas inovadoras, buscando aquilo que presumivelmente trará maiores resultados de acordo com os objetivos organizacionais (ICHNIOWSKY et al 1996). Wood Jr. e Urdan (1994) identificam Ishikawa (1985 apud WOOD JR. e URDAN 1994) como o criador dos CCQ’s. Ressaltam o ceticismo crescente em relação ao uso dessa prática, tanto por parte de administradores quanto por parte de estudiosos. Aparentemente, depois do frenesi inicial com o surgimento e difusão da prática, as pessoas estão se questionando em relação à sua verdadeira validade enquanto solução organizacional. As críticas mais comuns são relacionadas a problemas de implementação da prática nas organizações, não em relação à sua concepção. Segundo esses autores, a GQT tardou a se desenvolver no Brasil, ocorrendo no final da década de 1980 devido à insuficiência de fundos para investimento em tecnologia e treinamento, em razão da instabilidade política e econômica, aos altos custos de importação e mercado protegido, cultura inadequada, conservadorismo e visões ultrapassadas do próprio empresariado e falta de empenho da mão-de-obra, e falta de conhecimento técnico e administrativo. Diferentemente de Campelo de Melo et al (1993) e Prochno (2004), que avaliam casos isolados de subsidiárias que adotaram tecnologias gerenciais oriundas de suas matrizes off-shore, Soares e Lucas (1995) avaliaram a utilização do empowerment em 100 empresas selecionadas entre as “Melhores e Maiores” de 1992 e 1993, as vencedoras e finalistas do Prêmio Nacional de Qualidade e do Prêmio Petrobrás de Qualidade, e membros da Fundação do Prêmio Nacional de Qualidade do Brasil ou do Primeiro Grupo Executivo da Qualidade (RJ) nos meses de março a agosto de 1994. A 136 comparação com empresas norte-americanas foi feita com base em pesquisa realizada pela American Society for Quality Control, através do Instituto Gallup, em 1993. Dentre as conclusões dessa pesquisa, encontram-se: • O nível de empowerment ainda é baixo no Brasil, mas é um pouco maior nas multinacionais; • as empresas norte-americanas apresentam maior incidência de equipes autogerenciadas, que possuem maior autonomia; • nenhuma empresa brasileira declarou delegar a responsabilidade para tomada de decisões relativas à remuneração e recompensas ou à avaliação do desempenho. A grande maioria das empresas brasileiras somente permite, sem a aprovação de seu superior, que os funcionários interrompam o trabalho em progresso e refaçam o produto ou serviço. Mesmo assim, ainda há uma parte significativa das empresas (algo entre 25 a 45% das empresas) que não permite nem mesmo essas simples decisões, mesmo entre as multinacionais brasileiras; • quase todas as empresas investigadas concordam que os seus funcionários foram empoderados a partir da implementação dos programas de administração da qualidade; • grande parte das empresas norte-americanas começou a empoderar seus empregados a partir dos programas de qualidade de vida no trabalho, enquanto que no Brasil isso só começa a acontecer com a introdução de programas de administração da qualidade total; • apesar do grande avanço das estratégias de gestão da qualidade total no Brasil, ainda há uma grande carência de orientação para o consumidor, o que contribuiria para essas estratégias; 137 • a maioria das iniciativas de qualidade no Brasil ainda é uma agregação de esforços dispersos, sem integração com outras práticas de qualidade, e sem alinhamento com os objetivos estratégicos das empresas; • pode ser verificada uma coincidência de iniciativas de empoderamento com o foco no consumidor e de reengenharias de processo orientadas estrategicamente; • a cultura organizacional representa um grande desafio para que reflita os novos padrões de comportamento, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos da América; • é possível classificar as empresas em três grupos: multinacionais, nacionais com níveis elevados ou médios de compromisso à iniciativa de empowerment, e nacionais com baixos níveis de compromisso. As empresas nacionais do segundo tipo apresentariam condições desfavoráveis para a implantação de processos de empowerment. Já as empresas nacionais da primeira categoria apresentariam condições razoavelmente favoráveis, assim como as empresas multinacionais. Ferro (1995) pesquisa o parque automotivo brasileiro e discute a preocupação com a, então, nova concorrência internacional a que foram expostas as montadoras nacionais de veículos, concorrência essa centrada em novos padrões de desempenho, tanto em termos de qualidade quanto em preços. Novos padrões de fabricação foram evidenciados, incluindo-se as relações com os fornecedores – não somente em relação à quantidade de fornecedores, mas, também, em termos da exigência por parte das montadoras em relação à sua qualificação e à modernização dos produtos e do parque produtivo com o aumento do percentual de 138 robotização das fábricas, e investimentos em recursos humanos e em práticas de qualidade e produtividade. Quanto às práticas de recursos humanos e relações trabalhistas, Ferro (1995) constata melhorias ocorridas em ambas. Segundo ele, um dos pontos fortes da mão-de-obra brasileira é sua disposição em aprender e participar, desde que isso seja devidamente recompensado, apesar de seu baixo nível de educação formal. Segundo ele, o número de horas de treinamento foi multiplicado por quatro entre 1990 e 1995. Os sindicatos passaram de uma relação de antagonismo e reação para uma situação de participação e influência na discussão dos assuntos estratégicos, como programas de qualidade, políticas de terceirização, educação, remuneração, planejamento de carreira, níveis de emprego, jornada de trabalho, etc. Em relação às práticas de gestão de pessoas, em particular, a indústria automotiva do país introduziu, no período estudado por Ferro (1995), várias inovações, como: trabalho em equipe, treinamento, participação, envolvimento e compromisso da força de trabalho, melhorias em comunicação e descentralização, ênfase em atividades de solução de problemas, eliminação ou redução significativa dos inspetores de qualidade e achatamento dos níveis organizacionais. Como resultado dessas mudanças, o autor indica ter havido um aumento de produtividade da ordem de 40%, entre 1990 e 1994. O principal fator que estimulou essas mudanças foi a mudança das instituições, ou seja, das regras do jogo, que influenciavam o setor, na visão de Ferro (1995). A mudança institucional foi causada, principalmente, pelo governo, que passou a adotar novas políticas para modernizar a indústria brasileira, primeiramente com a abertura do mercado doméstico para as importações, a adoção de tarifas decrescentes, com a criação de uma Câmara Setorial para discutir os assuntos relevantes do setor, e a 139 criação do regime de carro popular, estimulou o consumo em classes menos abastadas da população. Percepção semelhante também está presente em Gitahy (2000). Quanto à terceirização, Amato Neto (1995) considera que tal prática no Brasil tem se concentrado no global sourcing, especialmente por parte de produtores de bens duráveis, como as montadoras de veículos, e tem sido caracterizada por constantes reduções nos quadros de trabalho, por meio de processos pouco organizados e não negociados. Segundo Leite (1997b), os principais motivos que têm levado as organizações brasileiras a adotar a terceirização são: a focalização em atividades-fim, a previsibilidade dos custos e investimentos, a objetividade na análise custo-benefício, a agilidade na implantação de soluções, a redução de custos e a previsibilidade de prazos. Sob a ótica dos contratantes, a terceirização de serviços de tecnologia, no Brasil, tem apresentado aspectos de maturidade, tendendo a se intensificar no futuro. Sob a ótica do prestador de serviços de informática, o processo de terceirização representa a perda da estabilidade trabalhista, associada aos desafios e oportunidades da carreira como empresários independentes, que inclui o gerenciamento de contratos de prestação de serviços, a satisfação de clientes e a constante atualização tecnológica. Ferro e Grande (1997) retomam as pesquisas sobre o movimento da qualidade e afirmam que esse surgiu no Brasil no final da década de 1970, seguindo o sucesso do chamado ‘modelo japonês de gestão’ (FERRO e GRANDE, 1997), e com o mecanismo dos Círculos de Controle de Qualidade, criado para analisar e propor soluções para problemas de qualidade e de produção. Os CCQ’s são grupos formados por cinco a dez pessoas, que podem ser ou não de um único departamento ou nível hierárquico, que se reúnem em média uma vez por semana. Os seus membros recebem 140 treinamento em métodos de solução de problemas, ferramentas estatísticas e dinâmica de grupo, sendo ou não remunerados por sua participação e sugestões. Inicialmente, os CCQ’s foram implantados nas organizações no Brasil desvinculados de outras práticas de GQT, como instrumentos isolados de melhoria contínua e incremental. Sua disseminação foi estimulada pelo grande sucesso obtido pela prática junto às indústrias japonesas, pela facilidade e baixos custos de implantação, requerendo pouca alteração na estrutura das organizações e atendendo às demandas sociais emergentes e crescentes à época no país. Sobre trabalho em grupo no Brasil, a pesquisa de maior fôlego é a que foi relatada por Marx (1998). Neste trabalho, o autor apresenta os resultados de estudo de caso múltiplos em seis empresas no Brasil, sendo cinco multinacionais e uma nacional. Com base em revisão de bibliografia sobre a experiência da Volvo sueca, da Toyota japonesa e da joint-venture GM-Toyota, nos Estados Unidos, ele conclui que existem dois tipos de grupos: o grupo semi-autônomo, mais representativo da experiência da unidade da Volvo de Uddevalla, e os grupos enriquecidos, mais representativos da experiência da Toyota e da NUMMI. No caso dos grupos enriquecidos, a autonomia centra-se em torno das questões de gestão da produção, enquanto no caso dos grupos semi-autônomos há um maior espectro e profundidade da autonomia exercida pelos seus membros. Em relação às empresas pesquisadas no Brasil, suas principais conclusões são: a existência daqueles dois tipos de trabalho em grupo; a adoção do trabalho em grupo foi motivada pela necessidade de incremento da flexibilidade, que se colocava como o principal fator competitivo; as principais referências levadas em conta eram as oriundas de casos de sucesso, o que parece explicar a maior difusão do tipo grupo enriquecido em detrimento de grupo semi-autônomo; as empresas multinacionais 141 destacavam-se em termos de adoção de grupos semi-autonômos em relação àquelas de capital nacional. A pesquisa de Gitahy (2000), de natureza mais abrangente em comparação às anteriormente comentadas, evidencia que, após um período de protecionismo do mercado interno e das indústrias nacionais, tem havido uma significativa evolução no cenário industrial brasileiro durante as últimas três décadas, que tem se associado a aumentos de competitividade dos produtos brasileiros em relação aos países mais desenvolvidos. Gitahy (2000) interpreta esse processo de modernização como uma mudança social altamente complexa, que reverte normas estabelecidas de comportamento e estabelece novos sistemas de autoridade e controle, criando novas fontes de instabilidade e ansiedade (também presente em Tenório 2000 e em White et al 2003). A difusão do novo paradigma tecno-econômico associada ao processo de globalização da economia e ao abandono da política de substituição das importações, transformou a organização do trabalho tanto intra quanto inter-organizacionalmente, mudando o volume, estrutura e localização do emprego, assim como o conteúdo e a hierarquia das habilidades requeridas ao trabalhador. Essa transformação ocorreu em um contexto marcado pela crise, instabilidade econômica, recessão e desemprego, assim como pela redemocratização e influência crescente do movimento trabalhista. Após um movimento de estagnação dos anos 1980, cujo padrão de competição se caracteriza pela contração do mercado doméstico e pelo aumento de exportações para os Estados Unidos da América e para a Europa, associados a um padrão tecnológico caracterizado por reestruturações defensivas orientadas pelo novo paradigma de eficiência, os anos 1990 deparam-se com um cenário composto por acordos definidos no complexo automotivo entre o governo, sindicatos e companhias, pelo crescimento 142 do mercado doméstico e redirecionamento das exportações para o Mercosul, por novos investimentos e novas plantas em todo o país, por um padrão tecnológico voltado para a intensificação de processos de reestruturação orientado pelo novo paradigma de eficiência, e por mudanças no padrão gerencial, caracterizados por uma agenda de negociações mais complexa e descentralizada, em um contexto de redução do emprego. O novo paradigma causou, nos últimos anos do século XX, um grande aumento na produtividade e um agudo declínio nos níveis de emprego, devido ao processo de reestruturação ocorrido em um período de crise e recessão econômica no mercado doméstico, associados à intensa competição internacional, estimulados pelo processo gradual de substituição de importações (Gitahy op cit). Essas mudanças envolvem vários aspectos na cadeia produtiva, desde o tipo de equipamentos e o sistema de manutenção utilizado, incluindo aspectos da organização do trabalho e da produção, políticas de qualidade, relações inter-organizacionais com clientes e fornecedores, novas configurações de estrutura organizacional, novos padrões de habilidades e políticas gerenciais e novas formas de relações industriais. Cavalcante e Teixeira (2003) contestam parcialmente as afirmações de Campelo de Melo et al (1993), no que dizem respeito ao desenvolvimento tecnológico no setor bancário. Enquanto Campelo de Melo et al (1993) destacam as virtudes do setor de automação de serviços bancários no desenvolvimento de tecnologia proprietária, tornando-se referência internacional, Cavalcante e Teixeira (2003) não identificam os supostos ganhos auferidos pelo setor em função dos investimentos em tecnologia. Como decorrência, pode-se supor que, apesar de ser um destaque em termos tecnológico, o setor bancário não apresenta meios de justificar os enormes investimentos realizados, uma vez que eles não se traduzem em maior produtividade. 143 Ressalta-se que a grande diferença temporal existente entre os trabalhos de Cavalcante e Teixeira (2003) e Campelo de Melo et al (1993) bem como as distintas condições contextuais que envolvem os dois trabalhos proporcionam condições suficientes para conclusões tão distintas. Ao examinar a disseminação do conceito just in time no Brasil, Profeta (2003) não confirma a existência de alguns aspectos importantes mencionados pela revisão bibliográfica, como contratos de longo prazo com fornecedores únicos nem interferências advindas dos sindicatos. Além do mais, o referido autor (Profeta op cit) identifica o problema da síndrome do final do mês: apesar de atuarem tacitamente sob o regime JIT, algumas empresas adotam comportamentos dissimulados, ou seja, declaram que adotaram os princípios da prática selecionada, mas na realidade retêm comportamentos residuais de práticas tradicionais. No caso do JIT, as empresas continuam sem planejar seus estoques e o fluxo de mercadorias, mantendo estoques reguladores (buffer inventories), mesmo que não o declarem abertamente. Apesar disso, Profeta (2003) validou alguns outros pressupostos teóricos, como a importância de uma coordenação central do processo de JIT, da transparência de alta administração, a necessidade de apoio a mudanças comportamentais, o aumento na confiabilidade de fornecedores, seguido pelo aumento das exigências de clientes e modificações na estrutura da indústria e as contingências no processo de implementação. Ao contrário do que sugere a literatura sobre o tema, não foi verificada influência negativa por parte dos sindicatos nem existência de contratos de longo prazo com fornecedores únicos. O caso brasileiro evidencia, segundo Profeta, que não houve demissões de funcionários como decorrência da adoção do Just in Time, uma das preocupações dos 144 empregados quando da adoção de novas práticas, especialmente aquelas que visam reduzir custos e melhorar a produtividade. (PROFETA, 2003) Outros trabalhos que estudam a adoção de práticas inovadoras no Brasil são os de Loiola et al (2003a e 2003b) e o de Peixoto (2004). Utilizando a mesma fonte de dados de Bastos (2004), os trabalhos antes mencionados detalham resultados de pesquisa sobre a adoção de práticas inovadoras no Brasil. Os trabalhos de Loiola et al buscam desenvolver uma visão mais complexa da adoção de práticas inovadoras, com a aplicação de técnicas de análise multivariada, enquanto que o de Peixoto apresenta os resultados de maneira descritiva, comparando a realidade percebida no Brasil com aquela percebida no Reino Unido. Loiola et al (2003a) utilizam a análise de conglomerados (clusters) para agrupar as empresas pesquisadas5 em cinco grupos, qualificando o comportamento de adoção das práticas das empresas pesquisadas: inovadores pioneiros e intensivos, inovadores retardatários, inovadores pioneiros e moderados, inovadores seguidores e inovadores seletivos (Quadro 4.3). De acordo com tal trabalho, organizações inovadoras pioneiras e intensivas pertencem aos setores de metalurgia básica, produtos alimentícios e bebidas e máquinas e equipamentos. Esse agrupamento apresenta organizações com grande amplitude em número de funcionários, variando entre 150 e 3500 funcionários, com maior concentração na faixa de 150 a 499 funcionários (57,7 % das participantes). 5 A pesquisa envolve uma amostra inicial de 220 empresas industriais apresentando a partir de 150 funcionários, que foram, posteriormente, reduzidas a 78 casos considerados válidos 145 Quadro 4.3 – Clusters de Empresas em Relação aos Padrões de Adoção de Práticas Inovadoras Cluster 1 – Inovadores Pioneiros e Intensivos Número de Empresas: 26 Setores: Metalurgia Básica Produtos Alimentícios e Bebidas Máquinas e Equipamentos Funcionários: Em torno de 500 (até 3500) Região: Sul Origem do Capital: Nacional Adoção: Até 1995 (60%) Continuidade de Uso: 73,1 % (mais ou muito mais) Cluster 2 – Inovadores Retardatários Número de Empresas: 4 Setores: Indefinido Funcionários: Menos de 500 (até 1700) Região: Sudeste Origem do Capital: Nacional Adoção: Últimos 6 anos Continuidade de Uso: 86,1 % (mais ou muito mais) Cluster 3 – Inovadores Pioneiros e Moderados Número de Empresas: 15 Setores: Produtos Alimentícios e Bebidas Produtos Químicos Funcionários: Entre 300 e 350 (até 740) Região: Sul, Sudeste, Nordeste Origem do Capital: Nacional Adoção: Até 1995 (60%) Continuidade de Uso: 57,8 % (mais ou muito mais) Cluster 4 – Inovadores Seguidores Número de Empresas: 13 Setores: Metalurgia Básica Celulose, Papel e Produtos de Papel Produtos de Metal Funcionários: Menos que 250 (até 750) Região: Indefinido Origem do Capital: Maior participação de capital estrangeiro (cinco de treze organizações) Adoção: Período de adoção mais diversificado Continuidade de Uso: 53,2 % (mais ou muito mais) Cluster 5 – Inovadores Seletivos Número de Empresas: Setores: Funcionários: Região: Origem do Capital: Adoção: Continuidade de Uso: Objetivos Pretendidos: Fonte: Loiola et al 2003a. 20 Produtos Alimentícios e Bebidas Produtos de Minerais Não-Metálicos Metalurgia Básica Menos que 1000 (até 4000) Sul, Sudeste, Nordeste Nacional Seletivamente 65,1 % (mais ou muito mais) Tendência a priorizar os custos 146 Aproximadamente dois terços das empresas contidas no primeiro agrupamento, estão situadas na Região Sul do país, possuindo capital de origem nacional (16 empresas em ambos os casos). Esse agrupamento é formado, ainda, por empresas com pouco tempo de experiência com as novas práticas, com as organizações que o compõem, tendo iniciado a adoção predominantemente nos primeiros anos da década de 1990. Entre 40 e 50% das organizações participantes adotaram as práticas inovadoras nos últimos seis anos. Em média, 73% delas afirmam que vão continuar utilizando as práticas inovadoras com intensidade maior ou muito maior (Quadro 4.3). O segundo agrupamento, denominado inovadores retardatários, está distribuído eqüitativamente entre todos os setores industriais e predominantemente na Região Sudeste do País. Todas possuem capital de origem nacional e buscam obter resultados diversos com o uso das práticas inovadoras que utilizam. Em relação ao número de funcionários, esse agrupamento engloba empresas com menos de 500 funcionários. Em relação ao ritmo de adoção de práticas inovadoras, as empresas desse agrupamento apresentam, ainda, uma experiência mais recente do que o agrupamento anterior. Ademais, esse segundo agrupamento singulariza-se por ser composto por empresas que adotaram as práticas “terceirização” e “cultura de aprendizagem” até 1995. Em relação às demais práticas, a adoção ocorreu mais recentemente, nos últimos seis anos. Com o primeiro agrupamento, este segundo apresenta um percentual médio de 86,1% de organizações que afirmam que utilizarão as práticas inovadoras em intensidade maior ou muito maior (Quadro 4.3). O agrupamento de empresas inovadoras do tipo pioneiros e moderados compõe-se de empresas pertencentes às indústrias de alimentos e bebidas (5 unidades) e química (2 unidades), possuindo entre 300 e 350. As organizações que compõem esse agrupamento estão distribuídas eqüitativamente entre as regiões Sul, Sudeste e 147 Nordeste, apresentado, em sua maioria, capital de origem nacional. Também buscam objetivos diversos utilizando práticas inovadoras. Adotaram as novas práticas mais recentemente do que o grupo anterior -- entre 60 e 100% das participantes por indústria iniciaram a adoção das práticas inovadoras nos últimos seis anos. Esse agrupamento apresenta um percentual menor, em relação aos demais, de organizações que afirmam que utilizarão as práticas com intensidade maior ou muito maior (Quadro 4.3). As organizações inovadoras do tipo seguidoras estão distribuídas nos setores da metalurgia básica, celulose, papel e produtos de papel e produtos de metal. Em relação ao número de funcionários, esse agrupamento apresenta, em sua maioria, entre 180 e 249 funcionários. Suas empresas estão distribuídas de maneira equilibrada em vários estados e regiões do país, possuindo, em relação aos demais aglomerados, uma maior freqüência de organizações com capital oriundo de outros países – 4 possuem capital estrangeiro, enquanto uma possui capital misto. Em relação aos objetivos buscados, essas organizações também buscam diversos tipos, de acordo com cada prática, especificamente. As organizações demonstram, como os demais componentes dos outros grupos, certo atraso na adoção de práticas inovadoras, apesar de haver maior variabilidade nesse sentido, com índices entre 50 e 100% de adoção de práticas inovadoras por setor nos últimos seis anos. O quarto agrupamento é aquele que, aparentemente, possui menor satisfação com o uso das práticas inovadoras, uma vez que somente 53,2% das empresas pesquisadas afirmam que continuarão utilizando as práticas com intensidade maior ou muito maior (Quadro 4.3). O quinto e último agrupamento, inovadores seletivos, apresenta componentes distribuídos de maneira quase eqüitativa entre todos os setores industriais. Apesar disso, pode-se admitir certo destaque para os setores de produtos alimentícios e 148 bebidas, produtos de minerais não-metálicos e metalurgia básica. Em relação ao número de funcionários, a grande maioria dessas organizações possui até 499 funcionários (75% das organizações). Essas organizações estão distribuídas também quase que eqüitativamente, entre as regiões Sul, Sudeste e Nordeste, havendo, ainda, uma predominância de organizações com capital nacional. Em relação aos objetivos pretendidos, esse agrupamento apresenta uma leve tendência a priorizar a redução de custos. Este é o agrupamento que menos utiliza as práticas inovadoras pesquisadas, apresentando os menores índices de organizações que iniciaram o uso das práticas no início da década de 1990, variando esse índice entre 5,6 e 47,0% por setor. Em comparação com o agrupamento anterior, este apresenta um índice um pouco maior de organizações que afirmam que continuarão utilizando as práticas inovadoras – 65,1% do conjunto (Quadro 4.3). Em síntese, a análise de clusters sugere que as organizações industriais brasileiras têm adotado práticas inovadoras de produção e de organização do trabalho, mas isso tem ocorrido a ritmos diferentes. Enquanto algumas organizações são mais rápidas e intensas na adoção, incorporando todas as práticas pesquisadas de forma abrangente ou localizada, e moderada ou intensamente, outras são mais conservadoras e adotam algumas poucas práticas, pouco ou moderadamente. Há ainda um grupo de organizações que adota essas mesmas práticas seletivamente, aparentemente escolhendo aquelas que mais lhes parecem oferecer um potencial de flexibilização e ganhos de qualidade, de custos ou de responsividade. O segundo artigo de Loiola et al (2003b)6 foi desenvolvido com perspectiva similar ao anteriormente comentado: busca unificar as práticas entre si, por meio da aplicação da análise fatorial exploratória, reduzindo as doze variáveis estudadas, que representam o 6 Envolve uma amostra de 220 empresas industriais contendo mais do que 150 funcionários 149 nível de utilização (grau de adoção) de doze práticas inovadoras, em três fatores que explicam aproximadamente 47,0% da variância total da amostra estudada. Dessa forma, o primeiro fator incorpora as práticas parceria na cadeia de suprimento, cultura de aprendizagem, empowerment e trabalho em equipes. A associação dessas práticas em um único fator é teoricamente consistente, uma vez que elas apresentam semelhanças, à exceção da parceria na cadeia de suprimentos – que se volta para o desenvolvimento de esforços colaborativos entre fabricantes e fornecedores –, em relação aos objetivos, aos métodos utilizados e à preocupação com o desempenho da mão de obra. Uma vez que as práticas associadas a esse fator destinam-se normalmente a gestão de pessoas, do trabalho em equipe e das relações com fornecedores, esse fator foi denominado de Práticas Inovadoras de Gestão do Trabalho e do Desenvolvimento de Pessoas. Já os resultados associados ao segundo fator, sugerem que a manutenção produtiva total, engenharia simultânea, células de produção e just in time compõem outro construto. Essa sugestão também é consistente pelo fato de que, do ponto de vista teórico, tais práticas focalizam, primordialmente, a organização do processo produtivo. Desta feita, esse fator foi denominado de Práticas Inovadoras de Gestão da Produção. O terceiro fator está associado ao uso de reengenharia, terceirização, tecnologia integrada baseada em computadores e gestão da qualidade total. Inicialmente, surpreende que essas práticas se agrupem no mesmo fator, devido às suas diferenças, tanto em objetivos quanto em métodos. Gestão da qualidade total e reengenharia, por exemplo, podem ser vistas como práticas totalmente opostas, especialmente levandose em consideração os métodos de cada uma, bem como a intensidade da mudança proporcionada. Além dessas e de outras diferenças, as três práticas agrupadas nesse 150 fator objetivam, no entanto, modificar o processo gerencial, reduzir custos e aumentar o desempenho e a qualidade da organização e de seus produtos. Portanto, esse fator foi denominado de Práticas Inovadoras de Gestão do Desempenho e da Qualidade. Comparando os fatores apresentados por Loiola et al (2003b) à taxonomia de Bolden et al (1997), é possível perceber que fatores e taxonomias mostram-se relativamente consistentes entre si. As práticas inovadoras de gestão do trabalho e do desenvolvimento de pessoas estão associadas à dimensão “ênfase estratégica/foco em organização” e ao domínio de aplicação “gestão de pessoas”, com exceção da prática “parcerias na cadeia de suprimentos”, que está classificada, quanto à ênfase estratégica como “foco no negócio” e quanto ao domínio de aplicação, como “inventário e estoques”. O segundo e o terceiro fatores parecem estar mais associados à dimensão “ênfase estratégica/foco no negócio”. Das quatro práticas abarcadas no segundo fator, todas pertencem à dimensão estratégica “foco no negócio” e três ao domínio de aplicação “design e produção”, enquanto uma pertence ao domínio de aplicação “organização do trabalho”. Comportamento similar observa-se quanto às práticas englobadas no fator três: quanto à ênfase estratégica, três em um total de quatro práticas pertencem à dimensão “foco no negócio”, sendo duas classificadas em termos de domínio de aplicação como “organização mais ampla da produção” e uma como “organização do trabalho”. Nenhum dos dois trabalhos por último comentados, entretanto, utiliza dados de desempenho, de modo a analisar a relação entre a utilização de práticas inovadoras, o desempenho e a competitividade das organizações. Da mesma forma, nenhum dos dois trabalhos objetiva estudar com maiores detalhes o tipo de organização que possui maior propensão a adotar práticas inovadoras, em relação, por exemplo, aos desempenhos financeiro e operacional. 151 Prochno (2004) se propõe a verificar o processo de transferência de conhecimento de uma matriz internacional de um fabricante de automóveis para sua mais recente subsidiária brasileira, detalhando os maiores desafios pelos quais a organização teve que passar durante o seu primeiro ano de operações. Segundo esse autor, a empresa não teve dificuldades em transferir o conhecimento componente, ou seja, a compreensão de como operar cada módulo de operações isoladamente. Isso foi realizado através de leitura de documentos, treinamentos e orientações de expatriados que ocorreram antes do início das atividades produtivas. Inicialmente, entretanto, os módulos não funcionaram com todo seu potencial, devido à ausência do conhecimento arquitetural, ou seja, a capacidade de compreender não somente os módulos, mas sua integração e coerência como um todo. Esse conhecimento, segundo o texto, teve que ser construído localmente, especialmente por meio de processos de construção de significado (sensemaking), uma vez que os funcionários, recémcontratados, não possuíam os conhecimentos nem a experiência necessários para compreender toda a interdependência dos componentes. Enquanto a transferência de componentes pode ser mais facilmente realizada, a transferência do conhecimento arquitetural requer maior cautela, uma vez que o bom funcionamento e a perfeita integração dos componentes deve levar em consideração as peculiaridades locais, inclusive a cultura e o ambiente institucional. O mesmo autor sugere que pode ser mais eficaz a transferência de um “pacote completo” de práticas de uma única fonte, ao invés da importação de melhores práticas de fontes diversas. Ao serem adotadas todas as práticas de um único benchmark, essas práticas trarão consigo o conhecimento arquitetural, ou seja, a forma como integrar os componentes para que o sistema atinja todo o seu potencial de desempenho. 152 Segundo Prochno (2004), tem havido aumento de interesse em estudos sobre transferência de práticas organizacionais, devido à crescente importância de redes organizacionais, à expansão geográfica de empresas e à disseminação de uso do benchmarking, como forma de melhorar o desempenho organizacional. Com a transferência de práticas, é possível que as organizações criem sinergias e maximizem o desempenho, padronizando as operações em suas unidades, em países distintos. Mais recentemente, Silva (2004), com base em três estudos de caso, afirma que, apesar de grande parte da literatura sobre mudanças organizacionais, desde 1980, considerar que as CM são alternativas à lógica do posto de trabalho, seus achados de pesquisa, corroboram os de Marx (1998), sinalizando para a existência de duas configurações extremas possíveis: uma configuração que se aproxima da ruptura com o modelo clássico de organização do trabalho (taylorista-fordista) e outra que convive hibridamente com esse modelo. Na prática, a ambigüidade, a situação de ‘meio caminho’ entre dois padrões-típicos de relação entre capital e trabalho no âmbito gerencial, além de ser bastante funcional em termos de controle, parece ser a regra antes do que a exceção no meio industrial. Esse ponto remete ao hibridismo dos modelos – lean-production e fordismo – e às intermináveis discussões sobre a ruptura do primeiro em relação segundo (SILVA, 2004, p.234). Ainda a partir dos casos observados, Silva (2004) registra que as modalidades de trabalho em grupo encontradas não substituem o posto de trabalho, ao contrário, pressupõem-no. Segundo ele, verificaram-se também: uma divisão de trabalho menos segmentada; margens de decisão variando em torno de certos padrões definidos de “cima” e a realização de acordos dentro do grupo e do grupo com instâncias hierárquicas superiores, quer sejam sobre problemas novos surgidos ou sobre as metas estabelecidas. Novamente de acordo com o mesmo autor, os trabalhadores das células de produção na fábrica de cuecas externaram a opinião de que o que há de mais 153 negativo na CM é o ritmo de trabalho muito intenso (59% dos respondentes), enquanto que apenas 31% do mesmo contingente declarou que “encontraria com facilidade um novo emprego na mesma função pois os trabalhadores da empresa são muito bem treinados” (p.240) e 77% admitiu que “quando um membro da CM não consegue manter o ritmo de trabalho, não diminui seu ritmo e continua a produção para não comprometer a meta de produção da célula” (p.247). No Brasil, conforme foi sendo importada, a prática de CM foi sofrendo adaptações, pois conceitos e soluções organizacionais, especialmente quando são transplantados de outros países, tendem a assumir características muito distintas das originais, especialmente considerando-se as condições que circundam sua implantação e adaptação no país de destino. Sendo assim, o nível de autonomia verificado por Furtado (2004) em algumas fábricas brasileiras só foi assegurado depois da participação do sindicato em negociações que estabeleceram limites para que as células de manufatura não fossem apenas mais uma forma de se produzir. Esse autor ressalta a necessidade de um sindicato atuante para assegurar que as células de manufatura proporcionem ganhos de autonomia e liberdade para os trabalhadores das empresas adotantes. [...] acreditamos que os grupos de trabalho sem a existência de sindicatos fortes e comissões de fábrica atuantes, não constituem por si só um instrumento de democratização da fábrica. A nosso ver, os grupos de trabalho, sem o respaldo de representações trabalhistas, têm os seus objetivos limitados à produção, à inserção do trabalhador em um mecanismo de organização da produção, que dão à empresa maior flexibilidade no uso da força de trabalho e o necessário comprometimento dos trabalhadores com ganhos de qualidade e produtividade. (FURTADO, 2004., p.258) Também de caráter mais abrangente, destaca-se, no Brasil, a pesquisa realizada por Bastos et al (2004). Adotando metodologia semelhante àquela de Waterson et al (1997), Bastos et al (2004) verificam a utilização das mesmas doze práticas no Brasil, no período de 2001 a 2002. Foram entrevistados executivos-chefe da área industrial 154 de 220 organizações industriais brasileiras, que possuíam acima de 150 funcionários. Os achados dessa pesquisa estão sintetizados no Quadro 4.4. Quadro 4.4 – Adoção de Práticas Inovadoras de Administração e Produção Brasil Discriminação das dimensões avaliadas Difusão Resultados Mais difundida: Trabalho em Equipes; Gestão da Qualidade Total; Parceria na Cadeia de Suprimentos; Cultura de Aprendizagem; Tecnologia Integrada Baseada em Computador; Menos difundida: Terceirização; Engenharia Simultânea; Manutenção Produtiva Total; Células de Produção; Reengenharia; Ganhos de qualidade Maior êxito: Gestão da Qualidade Total; Trabalho em Equipes; Tecnologia Integrada Baseada em Computadores; Células de Produção Menor êxito: Terceirização; Just in Time; Manutenção Preventiva Total; Redução de custos Maior êxito: Just in Time; Tecnologia Integrada Baseada em Computadores; Células de Produção; Trabalho em Equipes Menor êxito: Terceirização; Manutenção Produtiva Total; Cultura de Aprendizado; Engenharia Simultânea; Responsividade Maior êxito: Tecnologia Integrada Baseada em Computadores; Trabalho em Equipe; Células de Produção; Gestão da Qualidade Total; Menor êxito: Terceirização; Manutenção Produtiva Total; Just in Time; Engenharia Simultânea; Perspectivas Maior crescimento: Gestão da Qualidade Total; Trabalho em Equipe; Cultura de Aprendizado; Empowerment; Menor crescimento: Terceirização; Células de Produção; Engenharia Simultânea Fonte: elaborado com base em Bastos et al (2004) As práticas mais difundidas no Brasil foram, conforme a pesquisa de Bastos et al (2004), a gestão da qualidade total, as parcerias na cadeia de suprimentos, a cultura de aprendizagem, o trabalho em equipe e a tecnologia integrada baseada em computadores. Segundo os executivos questionados, tanto o trabalho em equipe quanto a tecnologia integrada baseada em computadores oferecem melhorias associadas à qualidade, aos custos e à responsividade, enquanto que a gestão da qualidade total, segundo a opinião dos mesmos executivos, está somente associada a resultados de melhorias de qualidade e aumento da responsividade. Cultura de aprendizagem e parcerias na cadeia de suprimentos não foram associadas 155 significativamente a qualquer dos objetivos verificados. Quatro destas práticas, com exceção da tecnologia integrada baseada em computadores, apresentaram grande propensão à continuidade de uso. O just in time e o empowerment apresentaram, segundo a pesquisa, difusão moderada entre as organizações industriais brasileiras. Os respondentes associaram o just in time somente a reduções de custos, enquanto que o empowerment não foi associado significativamente a nenhum dos resultados considerados pela pesquisa, apesar de apresentar elevada propensão à continuidade de uso. As práticas menos difundidas entre as indústrias brasileiras foram reengenharia de processos, terceirização, células de manufatura, engenharia simultânea e manutenção produtiva total. As análises dos trabalhos registradas neste item parecem reforçar a necessidade de estudos que classifiquem as práticas adotadas e pesquisadas de maneira mais ampla para ser possível identificar a propensão das organizações a adotar determinados tipos de práticas inovadoras em especial. Por exemplo, pode-se sugerir que algumas organizações tendem a adotar práticas que proporcionem redução de custos, em especial, ao invés de, por exemplo, adotarem práticas inovadoras que proporcionem maior rapidez de resposta ou outro objetivo. 4.3. Pesquisas comparativas entre o Brasil e outros países Apesar de haver uma significativa diferença temporal entre as pesquisas de Waterson et al (1997) e Bastos et al (2004), é possível verificar diferenças e semelhanças nos comportamentos de executivos brasileiros e do Reino Unido. Assim como na pesquisa realizada no Reino Unido (WATERSON et al 1997), foi possível identificar, no Brasil, as práticas mais difundidas, as que apresentaram maior propensão à 156 continuidade de uso e as que contribuíram para os três objetivos estudados – melhorias em qualidade, redução de custos e aumento da responsividade. Com base na comparação das duas pesquisas, pode-se sugerir que as organizações industriais brasileiras apresentam comportamento tão prospectivo quanto as empresas britânicas pesquisadas, apesar de isso ocorrer de maneira menos seletiva e com menor grau de satisfação com os resultados obtidos. É importante ressaltar as limitações resultantes do modo de obtenção de dados utilizado em ambas as pesquisa em foco. A pesquisa realizada no Brasil, conforme relatado pelos autores (Bastos et al 2004), apresentou algumas dificuldades de acesso aos dirigentes, foi realizada por telefone, e foi de longa duração (entre 45 minutos e 1 hora). Esses fatores podem ter enviesado os resultados, mesmo que o instrumento tenha sido construído especificamente para esse fim. Além disso, as informações foram obtidas pelas respostas apresentadas pelos executivos-chefe da área industrial, ou seja, basearam-se na percepção dos dirigentes, fragilizando a confiabilidade das respostas, apesar do tratamento quantitativo aplicado. Esses aspectos também foram relatados como preocupantes por Gondim et al (2003). Já outra pesquisa sobre a utilização de diversas ferramentas de gestão em 708 empresas de cinco continentes verifica um crescimento no uso de tais ferramentas. No ano de 2000, as empresas pesquisadas utilizaram dez ferramentas de gestão, em média, enquanto que, em 2002, foram utilizadas dezesseis delas, em média. No Brasil, o aumento em relação ao uso de ferramentas foi de 25% - em média, uma empresa pesquisada utilizou 13,1 ferramentas de gestão. 157 Tabela 4.1 – Satisfação com o Uso de Ferramentas Ferramenta Planejamento Estratégico Benchmarking Pesquisas Junto ao Cliente Remuneração por Desempenho Missão e Visão Outsourcing Segmentação da Base de Clientes Gerenciamento da Qualidade Total Códigos de Ética Corporativa Estratégias de Crescimento Integração Logística Gerenciamento da Relação com o Cliente (CRM) Programa de Gerenciamento de Mudanças Painel de Controle (Balanced Scorecard) Knowledge Management Competências Essenciais Planejamento para Contingências Análise de Valor Econômico Agregado Alianças Estratégicas Downsizing Gerenciamento Baseado na Atividade Reengenharia Corporate Venturing Equipes de Integração Pós-Fusão Stock Buybacks Fonte: Rigby et al (2003) Nível de Utilização (BR) % 84 84 80 76 73 71 69 61 59 59 57 55 Nível de Utilização (Mundo) % 89 84 78 76 84 78 79 57 78 76 62 78 53 51 49 49 49 47 45 45 35 20 18 16 1 64 52 62 75 70 52 69 59 50 54 32 37 18 Algumas ferramentas, como planejamento estratégico e benchmarking, obtiveram um índice de utilização superior a 80% das empresas pesquisadas (a média mundial de utilização de práticas inovadoras foi de 65%, enquanto que no Brasil foi de 52%). As práticas mais utilizadas internacionalmente foram: planejamento estratégico, benchmarking, missão e visão, segmentação da base de clientes e outsourcing, enquanto que as práticas mais utilizadas no Brasil foram planejamento estratégico, benchmarking, pesquisas junto ao cliente, remuneração por desempenho e missão e visão. As menos utilizadas mundialmente foram stock buybacks, corporate venturing, equipes de integração pós-fusão, gerenciamento baseado na atividade e análise de 158 valor econômico agregado, enquanto que, no Brasil, foram stock buybacks, equipes de integração pós-fusão, corporate venturing, reengenharia, gerenciamento baseado na atividade e downsizing. Apesar de comparar os resultados obtidos nesta pesquisa com os de pesquisas anteriores, o relatório não ressalta o movimento de crescimento de algumas das práticas/ferramentas investigadas. A questão é a seguinte: planejamento estratégico e benchmarking são, atualmente, práticas bastante reconhecidas no meio empresarial, já contando com algumas décadas de história e difusão, enquanto corporate venturing e balanced scorecard são práticas mais recentes, criadas há uma década ou menos, que ainda não tiveram o seu grande movimento de difusão entre as empresas brasileiras. Outras, ainda, como outsourcing, reengenharia e downsizing, amplamente utilizadas na década de 1990, apresentaram valores intermediários de utilização, talvez devido às experiências negativas ocorridas durante sua utilização. Em outras palavras, é natural pensar que há um ciclo de utilização de práticas inovadoras, algo como um ciclo de vida de uso de práticas gerenciais. Algumas dessas práticas possuem ciclos mais longos do que outras – como planejamento estratégico, cujo surgimento remonta da década de 1970, ou antes, se considerarmos as contribuições originais de Peter Drucker em relação à APO, na década de 1950. Além disso, muitas práticas se encontram no movimento descendente do ciclo, já tendo sido experimentadas e descartadas por fracassarem ou por esgotarem o seu potencial de contribuição durante o movimento de maturidade. Dessa forma, é natural que as práticas apresentem diferentes níveis de utilização e de satisfação. 159 Tabela 4.2 – Satisfação com o Uso de Ferramentas Ferramenta Alianças Estratégicas Planejamento Estratégico Códigos de Ética Corporativa Remuneração por Desempenho Estratégias de Crescimento Knowledge Management Benchmarking Downsizing Segmentação da Base de Clientes Pesquisas Junto ao Cliente Gerenciamento da Relação com o Cliente (CRM) Competências Essenciais Programa de Gerenciamento de Mudanças Gerenciamento da Qualidade Total Gerenciamento Baseado na Atividade Missão e Visão Integração Logística Análise de Valor Econômico Agregado Painel de Controle (Balanced Scorecard) Planejamento para Contingências Corporate Venturing Outsourcing Equipes de Integração Pós-Fusão Stock Buybacks Reengenharia Fonte: Rigby et al (2003) Satisfação Média (BR) 4,37 4,24 4,15 4,12 4,11 4,10 4,05 4,05 4,13 4,01 4,01 4,00 4,00 4,00 4,00 3,97 3,92 3,90 3,90 3,86 3,86 3,75 3,71 3,50 3,25 Satisfação Média (Mundo) 3,80 4,04 4,05 3,90 3,82 3,63 3,96 3,49 4,01 3,99 3,81 4,01 3,80 3,80 3,76 3,74 3,88 3,85 3,80 3,81 3,45 3,84 3,83 3,74 3,75 De maneira geral, a utilização das ferramentas de gestão proporcionou uma grande satisfação às empresas adotantes, tanto no Brasil quanto em outros países – a média brasileira foi de 3,96 em uma escala de 1 a 5 (extrema insatisfação e extrema satisfação, respectivamente), enquanto que a média mundial foi de 3,85. As ferramentas que mais satisfizeram seus usuários, de acordo com a pesquisa, foram as alianças estratégicas, o planejamento estratégico, os códigos de ética corporativa, a remuneração por desempenho e as estratégias de crescimento. Por outro lado, as ferramentas que menos satisfizeram seus usuários foram a reengenharia, stocks buybacks, equipes de integração pós-fusão, outsourcing e corporate venturing. 160 Em relação à inovação, as empresas brasileiras demonstraram estar mais empolgadas do que suas contrapartidas internacionais. Setenta e um por cento das empresas pesquisadas no Brasil admitiram estar preocupadas com os meios para alcançar os alvos de crescimento, afirmando que confiam na capacidade de se adaptar (84% das respondentes), na inovação (78%) e no desenvolvimento de parcerias com outras empresas (67%) como mecanismos para assegurar o alcance desse crescimento (no exterior, esses números mudam para 65%, 71%, 68% e 63%, respectivamente). Comparativamente entre os continentes, os asiáticos são os que apresentaram maior propensão à utilização de ferramentas de gestão. Em média, uma empresa asiática utiliza 17,5 ferramentas de gestão, enquanto que as européias utilizam 16,2, as norteamericanas utilizam 15,8 e as sul-americanas utilizam 14,3 ferramentas diferentes ao mesmo tempo. As brasileiras aparecem abaixo dos resultados relatados por empresas desses continentes, utilizando 13,1 ferramentas de gestão. Outras evidências encontradas na pesquisa de Rigby et al (2003, p.10): • Empresas na América do Norte e Europa estão menos propensas a se concentrar no crescimento da receita do que na redução de custos, enquanto o crescimento da receita se manteve como alta prioridade na Ásia e no Brasil (70%). • Executivos europeus indicaram a maior probabilidade de que viessem a demitir empregados em 2003 (no Brasil, 41% dos entrevistados indicaram essa probabilidade). • Knowledge Management foi mais utilizada na Ásia e Europa, e menos utilizada nas Américas do Sul e Norte. • Empresas européias apresentaram menor probabilidade de usar Código de Ética Corporativa. 161 • A América do Norte foi a única região a ter Planejamento por Contingências entre as 10 mais usadas da lista de ferramentas. A pesquisa verifica, ainda, uma concentração em alguns setores da economia (serviços financeiros, empresas químicas, metalúrgicas e empresas de alimento e bebidas) ou em empresas menores, que apresentaram uma propensão mais elevada à adoção de ferramentas de gestão, além de estarem mais focadas em crescimento do que as grandes. Ademais, técnicas largamente testadas como Planejamento Estratégico e Competências Essenciais (que consistentemente chegaram próximas ao topo desde 1993), mais uma vez causaram entusiasmo ao ajudar empresas a manterem o curso. Este ano, elas estavam acompanhadas nos rankings de satisfação pelas ferramentas concentradas na definição de mercados e melhorias nos relacionamentos com os clientes ou atividades-chave enquanto as empresas tentavam aumentar ao máximo a receita dos clientes já existentes (RIGBY et al 2003 p.4). A pesquisa representa uma importante verificação sobre a adoção de modelos inovadores, mesmo que alguns deles já não sejam tão inovadores assim. Pode-se considerar que no contexto brasileiro ainda é inovação adotar práticas como planejamento estratégico e benchmarking. Entretanto, o relatório não descreve a amostra utilizada pela pesquisa, o que pode enfraquecer o poder de conclusão do trabalho, uma vez que ele pode ter se concentrado nos clientes atuais da consultoria, e especialmente, em grandes corporações multinacionais. Além do mais, a forma como são apresentados os resultados desta pesquisa limita-se à apresentação da média aritmética simples das respostas obtidas, não havendo registros sobre os motivos que levaram as organizações a adotarem as práticas em questão, nem os resultados são analisados comparativamente, em relação às práticas, seja em relação às adotantes, o que contribuiria mais significativamente para a compreensão do fenômeno. 5. Método e Procedimentos Com base na revisão de bibliografia teórico-empírica constantes dos itens 2 , 3 e 4 desta tese, este item tem o objetivo de apresentar, discutir e delimitar questões de método e de procedimentos de pesquisa correlacionadas. Essas questões desdobramse em: problemática, objetivos e hipóteses; modelo de análise; universo e amostra; instrumento de coleta de informações e sistemática de análise de dados. 5.1. Problematização, objetivos e hipóteses Como visto na revisão de bibliografia desta tese, o estudo de características organizacionais na atualidade não pode prescindir de análises dos contextos nos quais as organizações estão inseridas para ressaltar as principais variáveis externas que influenciam de alguma maneira o seu comportamento e seu desempenho. Dessa forma, em pesquisas sobre adoção de práticas inovadoras e suas relações com o desempenho dos adotantes, torna-se necessário discutir inicialmente os fatores que têm sido estímulos /ou restrições ao comportamento das organizações e que, por isso, afetam a decisão de adoção de práticas inovadoras. Essa tarefa se inicia com a seleção daqueles fatores que, provavelmente, sejam os mais importantes, dentro de um conjunto expressivo de fatores (vide Figura 5.1). Alguns autores, como Piore & Sabel (1984), Aglietta (1987), Boyer (1990), Burawoy (1990), Clarke (1991), Lazonick (1992), Womack et al (1992), Shimokawa (1993), Kumar (1997), Alban (1999), e Boyer e Freyssenet (2000) identificam a ocorrência de uma crise do capitalismo, decorrente dos choques do petróleo ocorridos na década de 1970. Segundo esses autores, essa crise manifesta-se em desaceleração do nível de crescimento das principais economias do mundo e das principais organizações norte- 164 americanas e européias. Com a desaceleração do crescimento, reduz-se, também, o potencial de exploração da economia de escala, elemento central da estratégia de modelos clássicos ou tradicionais de administração, baseados na produção em grande escala de produtos relativamente padronizados com o uso de tecnologias dedicadas (vide Figura 5.1). Dessa forma, observa-se uma associação entre crise do capitalismo e crise do modelo clássico de administração. Face à crise, as organizações deflagram várias estratégias para sua superação, que incluem a busca por soluções e modelos de gestão alternativos, gerando um ciclo divergente de busca por um novo modelo organizacional (DOOLEY e VAN DE VEN, 1999), mais adaptado às condições de demanda inferior à oferta, existente em muitos mercados, conforme discutido em capítulo anterior (vide Figura 5.1). A crise se intensifica, quando as organizações passam a enfocar a expansão de suas atividades para novos mercados externos, gerando um contra-fluxo de internacionalização, no sentido do oriente para o ocidente, com o crescimento das economias do Japão e de outros países asiáticos, que iniciam sua expansão para o oeste (Figura 5.1). Observa-se, simultaneamente, um movimento generalizado no mundo, embora diferenciado em ritmo e intensidade, de quebra de barreiras comerciais e alfandegárias. No Brasil, em particular, tal movimento emerge com maior visibilidade e força no início da década de 90 (vide Figura 5.1). Sendo assim, o segundo fator motivador de adoção de novas práticas gerenciais é a globalização, que coloca frente a frente organizações de diversos portes e nacionalidades, competindo por mercados domésticos e internacionais. Com a queda de barreiras comerciais e alfandegárias, organizações podem realizar movimentos de entrada em novos mercados mais facilmente, por meio de aquisições, licenciamento 165 ou mesmo de instalação de novas fábricas em países estrangeiros. Esses movimentos passaram a ser reforçados por políticas de incentivos fiscais, de atração de investimentos e novos sistemas de regulamentação de setores econômicos adotados por governos, como forma de fomentar o aquecimento de suas economias (Figura 5.1). A globalização também estimulou, e simultaneamente foi estimulada, pelo movimento de difusão de novas tecnologias da informação e de produção, que não somente incentivam, mas, frequentemente, exigem mudança no padrão de operações das empresas adotantes para realizar suas promessas de aumento de produtividade, de flexibilidade e de melhoria de desempenho. Essas tecnologias possibilitam novas formas de interação entre as pessoas, novas formas de coordenação de atividades internas e externas, viabilizando novas formas de organização do trabalho e da produção. Dessa forma, as buscas das organizações por novas práticas de administração de pessoas, de administração das operações e da produção, e de administração da qualidade e do desempenho organizacional ganharam dimensões ampliadas nesse novo contexto (Figura 5.1). Em especial, as organizações foram desafiadas a melhorar seu desempenho em dimensões que, no paradigma taylorista-fordista, eram consideradas secundárias ou sequer eram consideradas: custos, agilidade e responsividade, e qualidade. A dimensão custos estava presente nos modelos tradicionais de administração, mas seu papel era o de funcionar como patamar para definição de preços, abaixo do qual era impraticável a venda dos produtos, exceto em situações atípicas. Ou seja, as análises tradicionais de custos limitavam-se a identificar os custos de produtos, de modo que fosse possível projetar o preço de venda para garantir o lucro ou resultado desejado, fosse esse último crescimento de vendas, o aumento de market share ou outro 166 relacionado. Atualmente, a dimensão custo se refere a um alvo móvel, que vem sendo forçado para baixo constantemente, forçando as organizações a redefinirem suas operações, reduzindo constantemente o comprometimento de recursos com despesas fixas ou estoques (vide Figura 5.1). A dimensão qualidade também está presente nos modelos clássicos de administração. Na verdade, um dos grandes pontos fortes do taylorismo-fordismo foi melhoria na qualidade dos produtos (WOMACK et al, 1992). No fordismo, a melhoria da qualidade foi resultado da redução da variabilidade de componentes e da integração vertical realizada; no taylorismo, a análise de tarefas e o estudo de tempos e movimentos geraram um aumento na qualidade, no sentido em que as pessoas, passando a desempenhar tarefas simples e rotineiras, conseguiram realizar um trabalho mais padronizado, portanto livre de grande variabilidade. Entretanto, com o desenvolvimento das novas tecnologias de gestão da produção e de novas tecnologias sociais de gestão do trabalho humano, normalmente associadas ao modelo japonês de administração, a dimensão qualidade foi forçada para cima, assumindo também um caráter sistêmico, mais dinâmico e central na competitividade das organizações (Figura 5.1). 167 Figura 5.1 - Modelo Heurístico da Crise do Capitalismo e suas Repercussões Esgotamento do Modelo Clássico Globalização Crise do Capitalismo Desenvolvimento Científico e Tecnológico Organização Novas Demandas: • Menores Custos • Maior Qualidade • Maior Agilidade Práticas Inovadoras de Administração do Desempenho e da Qualidade Práticas Inovadoras de Administração de Pessoas Melhor Desempenho Práticas Inovadoras de Administração do Processo Produtivo Resultados Percebidos (Aprendizagem) Padrões de Adoção de Práticas Inovadoras de Administração Inovadores Ofensivos Inovadores Seletivos Inovadores Retardatários Conservadores Fonte: Elaboração própria com base em revisão de bibliografia desta tese Outros Padrões 168 A dimensão responsividade, por último, não aparece nos modelos tradicionais, focados na burocracia e previsibilidade das operações. Conforme o ambiente das organizações se torna mais complexo e turbulento, a capacidade de modificar suas operações e ajustar seus produtos para atender a requisitos especiais de seus mercados ganha espaço nas estratégias de organizações, de modo a garantir sua sobrevivência. Da mesma maneira, conforme as organizações se expandem geograficamente, tornase cada vez mais importante a capacidade de ajustar operações internacionais a contextos locais, e a reagir rapidamente a mudanças ocorridas nesses contextos como forma de garantir não somente a sobrevivência organizacional, mas, também, seu crescimento (Figura 5.1). Têm sido criados novos modelos e práticas de administração em organizações do mundo todo, mais apropriados às condições do novo contexto organizacional. Alguns autores se esforçaram para classificar práticas inovadoras em taxonomias diversas (por ex. WATERSON et al, 1997; PEIXOTO, 2004; PAULINYI, 1993). Entretanto, a diversidade e a complexidade de práticas existentes tornam complexa essa tarefa. Apesar desses obstáculos, adotou-se como ponto de partida, nesta tese, a classificação das 12 (doze) práticas gerenciais pesquisadas apresentada em Loiola et al (2003b). Essas 12 (doze) práticas foram classificadas em três grupos: práticas inovadoras de administração de pessoas, práticas inovadoras de administração das operações e do processo produtivo, e práticas inovadoras de administração da qualidade e do desempenho. Práticas inovadoras de administração de pessoas são voltadas para a obtenção de maior envolvimento e comprometimento dos funcionários para com a empresa e seus resultados. Depois da queda do modelo de relações industriais, focado na intermediação das relações entre empregados e empregadores, com a participação dos 169 sindicatos, práticas de administração de recursos humanos têm buscado acionar novos mecanismos para envolver e comprometer os funcionários com os objetivos organizacionais. Dessa forma, a remuneração por resultados, a avaliação do desempenho e a qualidade de vida no trabalho tornam-se aspectos-chave de modelos gerenciais mais avançados, assim como a preocupação com o aprendizado individual e organizacional, e o trabalho em equipe. Muitas dessas práticas associam-se ao modelo japonês de administração e ao modelo norte-americano de relações humanas (APPELBAUM e BATT, 1994). Práticas inovadoras de gestão de operações e produção também se desenvolveram em grande escala, recentemente, especialmente como decorrência de aplicações de outras tecnologias na produção industrial, como a robótica e a tecnologia da informação (CAD, CAM e CIM, por exemplo) (WOMACK et al, 1992; KUMAR, 1997). Essas práticas visam aprimorar o processo operacional das organizações, reduzindo tempos de ciclos, melhorando sua capacidade produtiva e reduzindo custos, além de aprimorar a agilidade do lançamento de novos produtos. A incorporação dessas tecnologias no processo produtivo desdobra-se, muitas vezes, em novas formas de organizar o trabalho humano na fábrica, como a utilização de equipes e trabalhadores multi-funcionais, a organização do trabalho em células de produção, ao invés da organização típica linear existente no modelo tradicional. Têm surgido, ainda, práticas voltadas ao aprimoramento do desempenho organizacional como um todo, melhorando operações e processos, também reduzindo tempos de ciclos industriais e não industriais. Normalmente mais abrangentes, tais práticas tendem a modificar profundamente a organização, incluindo reestruturações e reformulações de processos e tarefas, a formação de parcerias com fornecedores, a externalização de atividades (terceirização), mudanças culturais e adoção intensiva de 170 tecnologia da informação em funções administrativas e em comunicação. Práticas como reengenharia, terceirização, gestão da qualidade total e just in time são exemplos dentro do grupo de práticas. Ao adotarem práticas inovadoras de gestão, ao longo do tempo, as organizações desenvolvem um repertório de experiências bem ou mal sucedidas, o que, provavelmente, determina, em algum nível, sua propensão em relação à adoção de novas práticas inovadoras. Resultados bem sucedidos, provavelmente, geram um feedback positivo, que torna a empresa receptiva a novas práticas, levando a maior atenção em relação a novidades emergentes. Essas empresas tenderão a canalizar maior volume de recursos na busca e experimentação de metodologias surgidas em outros mercados e em outras organizações. Espera-se que as organizações que possuem maior número de experiências bem sucedidas façam, com maior freqüência, comparações e estudos com outras organizações (benchmarks), a fim de obterem novo conhecimento e aplicá-lo em suas operações. Não se pode negligenciar, contudo, conforme também ressaltado pela revisão de literatura desta tese, que o sucesso em utilização de tecnologia pode funcionar, em alguns casos, como incentivo à manutenção de foco das empresas nessas tecnologias. A literatura tem se reportado a esse fenômeno como “armadilha do conhecimento” ou “barreiras à aprendizagem” (CHRISTENSEN , 2001). Por outro lado, pode ser que organizações que possuam um repertório menos bem sucedido apresentem um comportamento mais conservador e resistam à adoção de novas práticas. Essas organizações tenderão a focalizar-se na imitação de técnicas e métodos já consagrados ou, então, a não buscar inovação de maneira ativa e intencional. Conforme discutido, a adoção de práticas inovadoras tem sido uma tendência crescente no mundo desde o final da década de 1970. No Brasil, em especial, a partir 171 da década de 1990, tornou-se mais intensa, conforme as barreiras comerciais e alfandegárias foram sendo reduzidas ou eliminadas. Entretanto, a mera utilização de práticas inovadoras não garante a obtenção de resultados positivos de desempenho operacional ou financeiro. Essa relação é complexa, sofrendo, freqüentemente, influências de múltiplos fatores de dentro e de fora das empresas. Certamente, a adoção de novas práticas exige um deslocamento de recursos de outras áreas da organização, como P&D e marketing, e deve ser analisada como qualquer outro investimento. Sob a ótica estratégica, esse investimento representa um esforço de melhoria na posição competitiva da adotante, seja como forma de se diferenciar da concorrência, adquirindo vantagens competitivas, ou como forma de recuperar terreno frente à evolução de seus concorrentes, também fortalecendo sua posição competitiva. Operações mais ágeis, custos mais baixos e maior qualidade – objetivos esses buscados por meio da adoção de práticas inovadoras de um modo geral – representam vantagens, que podem garantir a sobrevivência e o sucesso de uma organização em determinados ambientes. Sob a ótica financeira, o investimento em novas práticas deve proporcionar ganhos de produtividade que reflitam um retorno financeiro, cujo saldo deve ser, ao menos no longo prazo, superior ao valor investido, acrescentado de juros de mercado. Esses postulados parecem valer para as empresas pioneiras, tendo em vista que a literatura revisada nesta tese também aponta uma tendência à imitação por parte de adotantes retardatários. Mas em um ou outro caso, sempre o processo de adoção é afetado pelo aprendizado, que, como já se viu, também é localizado e específico a cada empresa. Pesquisas no Brasil sobre adoção de novas práticas de gestão ainda são escassas, configurando-se, quase que exclusivamente, como estudos de caso de sucesso. Também são escassas pesquisas mais abrangentes sobre a adoção dessas práticas, de 172 forma isolada e, principalmente, por grupos ou clusters de práticas, objetivando evidenciar seus padrões. Persistem, portanto, muitas questões em aberto sobre o fenômeno de adoção e a relação entre adoção de novas práticas de gestão e desempenho operacional e financeiro, justificando-se a realização de pesquisas e estudos que venham a permitir uma compreensão mais clara sobre tal fenômeno e tais relações. Assim, após uma década e meia de experiência com o uso de novas práticas gerenciais no Brasil, é necessário averiguar o quanto as organizações têm utilizado essas práticas, em que grau essas práticas as têm auxiliado, e quais as tendências em relação a seu uso futuro. Sendo assim, o objetivo geral desta tese é: identificar padrões de adoção e a relação entre o uso de práticas inovadoras e o desempenho, operacional e financeiro de organizações industriais. Pode-se supor que a utilização de práticas inovadoras esteja associada, em alguma medida, aos resultados gerenciais de desempenho operacional e de desempenho financeiro. A adoção de novas práticas leva à suposição de que é vantajoso para a organização fazê-lo, como forma de obter ganhos de produtividade ou de eliminar gaps de desempenho em relação a seus concorrentes. A adoção de práticas gerenciais em empresas de vários países vem sendo investigada por muitos estudiosos, com diversas metodologias. Por exemplo, muito tem sido discutido sobre o chamado modelo japonês de administração (p.ex. WOMACK et al, 1992, CORIAT, 1990, KUMAR, 1997), fonte de práticas como gestão da qualidade total e just in time, considerado por esses autores como uma das explicações do apogeu do Japão como potência econômica mundial no pós Segunda Grande Guerra Mundial. Há também muitos trabalhos que discutem a implantação de práticas originárias do Japão em países ocidentais, especialmente nos Estados Unidos da 173 América, em empresas que são consideradas o berço do modelo clássico de administração (por ex. ADLER, 1993:2000). É possível encontrar, ainda, publicações destinadas a investigar o surgimento de outros modelos, em outros países, como nos Estados Unidos da América, na Suécia (WOOD JR. e URDAN, 1994; BERGGREN, 1993), e na Alemanha (APPELBAUM e BATT, 1994) ou em outros países (KEEP e PAYNE, 2002), e sua disseminação (ICHNIOWSKI et al, 1996). No Brasil, a maioria dos estudos desenvolvidos é estudo de caso, que foca cada prática de forma isolada, embora já se tenham registros de resultados de pesquisas com objetos mais abrangentes e cobrindo séries temporais mais longas, conforme já registrado no corpo desta tese (BASTOS et al, 2004; RIGBY et al, 2003; GITAHY, 2000). Ainda assim, são escassas no Brasil pesquisas que permitam a apreciação do quadro geral e que apresentem visões mais abrangentes, ao mesmo tempo longitudinais e transversais, permitindo identificar peculiaridades sobre o nível de adoção de novas práticas gerenciais e os resultados percebidos por empresas brasileiras adotantes. É necessário compreender melhor como as organizações brasileiras têm se portado frente às mudanças que vêm sendo engendradas no seio da sociedade capitalista e, especialmente, no tocante à adoção de novas práticas gerenciais. Para tanto, questões mais específicas ainda aguardam respostas, sobre que práticas têm sido utilizadas por empresas brasileiras, quais os resultados desejados por parte das organizações que adotaram tais práticas inovadoras e que resultados têm sido percebidos, assim como quais as perspectivas de continuidade de uso das mesmas. Assim, o objetivo geral desta tese desdobra-se nos seguintes objetivos específicos e hipóteses. • Comparar os resultados originais da pesquisa, encontrados em Peixoto (2004) e os resultados obtidos com base na amostra desta tese. 174 Peixoto (2004) relatou resultados sobre a adoção das práticas de gestão enfocadas nesta tese com base em pesquisa survey cross section, cuja amostra constituiu-se de 220 empresas que possuem acima de 150 funcionários em seu quadro de pessoal. Assim como Bastos et al (2004), investiga a difusão de doze práticas inovadoras no Brasil, em relação ao nível de utilização das práticas, tempo de uso, resultados operacionais – melhorias em qualidade, reduções de custos e melhorias em responsividade – desejados e percebidos, e propensão à continuidade de uso com as práticas estudadas. Esta tese utiliza uma sub-amostra do banco de dados utilizado por Peixoto (2004) e Bastos et al (2004), contendo somente 98 casos, sobre os quais foram localizadas informações de desempenho financeiro, em pelo menos três anos, no período 19972003, no periódico Desempenho das Empresas, da Fundação Instituto Miguel Calmon de Estudos Sociais e Econômicos – ImiC, em suas edições do período de 1997-2003. Fez-se necessário, portanto, comparar os resultados gerais, relativos ao nível de adoção, aos resultados percebidos e à propensão à continuidade de uso das práticas pesquisadas, encontrados por Peixoto (2004) e para a amostra desta tese. A hipótese 1 relacionada a esse objetivo encontra-se registrada a seguir: H1: Os resultados obtidos por Peixoto (2004) quanto ao nível de utilização, ao alcance das práticas em relação a melhorias em qualidade, reduções de custos e melhorias na responsividade e à propensão à continuidade de uso das práticas, são relativamente mantidos para a amostra desta tese. • Investigar o grau de adoção das práticas gerenciais em relação às características organizacionais e ao desempenho financeiro. A revisão de bibliografia teórica e empírica realizada nesta tese estimula a percepção de que diferentes organizações apresentam diferentes experiências com práticas 175 inovadoras, devido a características como porte, localização e origem de capital. Organizações de maior porte, provavelmente, apresentarão maior propensão à adoção de práticas inovadoras, como decorrência da necessidade de coordenação das atividades de um número maior de funcionários ou inter-sites e de maior robustez financeira para dar suporte à adoção de inovações. De maneira semelhante, organizações localizadas em estados e regiões, com diferentes históricos e diferentes trajetórias industriais tenderão a apresentar diferentes comportamentos em relação à inovação e à adoção de novas práticas de administração. Organizações de capital nacional no Brasil tenderão a possuir menor acesso a novas práticas de administração do que organizações que possuam controle acionário em países pioneiros na geração e adoção de novas práticas gerenciais, uma vez que estas realizam maior intercâmbio de informações, não somente com suas matrizes internacionais, mas, também, com fornecedores e clientes internacionais, ocorrendo maior nível de benchmarking e favorecendo a modernização gerencial. Por último, espera-se que as organizações usuárias de elevado nível de práticas inovadoras apresentem diferentes resultados em relação ao desempenho financeiro. A partir desses argumentos, se constrói a segunda hipótese desta tese: H2: O grau de adoção das práticas gerenciais pesquisadas é diferenciado por características organizacionais como localização, gênero industrial, porte, origem de capital e desempenho financeiro. • Agrupar as práticas estudadas de acordo com os padrões de adoção das empresas brasileiras. Primeiramente, é necessário verificar se as empresas costumam adotar práticas de maneira isolada ou em pacotes inovativos, agrupando práticas correlatas em grandes movimentos de reorganização. Conforme já discutido nesta tese, algumas práticas são 176 abrangentes e incluem subcomponentes de inovações complementares. Por exemplo, a gestão da qualidade total pode envolver a adoção, como subcomponentes, de uma série de outras práticas voltadas para a gestão de pessoas, como empowerment, CCQ’s e alguma forma de remuneração por desempenho. Entretanto, uma empresa pode decidir adotar algumas dessas práticas como decorrência de uma decisão isolada, sem adotar a gestão da qualidade total ou just in time ou, de maneira inversa, pode adotar um projeto de gestão da qualidade que não contemple o empoderamento, nem CCQ’s, nem formas diferenciadas de remuneração de pessoas. Essa decisão pode incorrer em resultados satisfatórios ou não, conforme sugere a bibliografia. Caso as organizações estejam adotando práticas por mero modismo gerencial, é provável que haja algum tipo de “efeito manada”, no qual todas as organizações adotam e abandonam as “práticas do momento”, estimuladas por uma publicação ou por um seminário persuasivo. Ou pode-se esperar que as empresas, por questões de natureza setorial ou de origem do capital, privilegiem a adoção de práticas vinculadas à gestão da produção ou à gestão de recursos humanos. Ou ainda, pode-se supor que empresas no Brasil, filiais de multinacionais, tendam a adotar novas práticas gerenciais de forma diferenciada das empresas nacionais por estímulo de suas matrizes. Ou, por último, que quanto maior o porte da empresa maior propensão ela tenderá à adoção de novas práticas, tendo em vista a existência de um maior aporte de capital para tais fins, por exemplo. Todos os argumentos delineados até aqui foram extraídos da revisão de bibliografia desta tese. Desses argumentos, depreende-se a terceira hipótese desta tese: H3: As organizações tendem a adotar práticas inovadoras, isoladas ou em pacotes que se complementam, concentradas em áreas que lhes são mais significativas. 177 • Classificar organizações de acordo com o padrão de adoção de práticas inovadoras de administração e de produção. Outro tipo de questão que ainda permanece sem resposta satisfatória é sobre o perfil de empresas inovadoras no Brasil. Mas, com base na revisão de literatura empreendida para esta tese, é possível sugerir que haja algum tipo de “padrão” de adoção de práticas inovadoras, que as organizações adotem comportamentos semelhantes em relação à experimentação de novos métodos e novas práticas, e que seja possível identificar esses padrões. Tal suposição não implica negligenciar o fato, amplamente discutido nesta tese, de que as organizações apresentam condutas diferenciadas face ao processo inovativo e de adoção de inovações, em função de suas características internas, em função de fatores de seus ambientes (institucional e técnico), mas também em função da natureza peculiar do próprio processo de inovação gerencial, que não é linear, mas, sim, marcado por trajetórias/atividades convergentes e divergentes. Assim, decisões estratégicas podem levar as organizações a focar-se em uma ou outra área da organização, como práticas de gestão de pessoas, ou práticas de gestão da produção. Outras organizações podem estar mais focadas na redução dos custos, ou na redução do lead time, e buscam práticas que prometem a obtenção desses resultados, por exemplo. É possível esperar que setores da economia proporcionem diferentes estímulos às organizações atuantes, devido a fatores como o nível e o tipo de concorrência prevalecente no setor, o nível de obsolescência da tecnologia utilizada, a disponibilidade de tecnologia nacional ou o acesso a tecnologias desenvolvidas em outros países, que forçam as empresas a buscar novas soluções. O mesmo pode ocorrer em relação a regiões onde atuam as empresas. 178 Pode-se sugerir, por exemplo, conforme proposto por Winter (1995), que o tempo de existência e o porte de uma organização determinem de alguma forma seu comportamento em relação a novas práticas de administração. É provável, conforme sugerido por Christensen (2001), que grandes organizações, marcadas por longas histórias de sucesso, sejam desestimuladas a adotar algum tipo de prática inovadora, devido à percepção de que o sucesso do passado justifique o sucesso do futuro. Apesar de possuírem recursos para investir em novas tecnologias, organizações que operam com produtos do tipo “geradores de caixa” serão desestimuladas a adotar práticas inovadoras, pois continuam capitalizando sobre produtos e investimentos realizados no passado, maximizando o retorno sobre o investimento, até que pressões internas ou externas as forcem a modificar sua atitude em relação aos métodos que utilizam. Em determinado momento, essas organizações são forçadas a reiniciar seu aprendizado, reinventando seus produtos e práticas. Por outro lado, organizações jovens podem apresentar comportamentos mais inovadores, com maior nível de improvisação e com maior energia para experimentar novos métodos promissores. Nesses casos, a falta de referências sobre o the one best way elimina resistências à mudança, facilitando a decisão e a implementação de novas práticas de administração. Organizações maiores, com participação em diversos países, possivelmente tenderão a ter mais recursos e acesso a novas tecnologias gerenciais do que pequenas organizações que atuam em um único país. Em organizações multi-site, por exemplo, pode acontecer intercâmbio de experiências de sucesso entre as unidades, com benchmarking interno, cooperação técnica e desenvolvimento de projetos-piloto, elevando o padrão de desempenho das unidades isoladamente, bem como da organização como um todo. 179 Sendo assim, é possível investigar que padrões de adoção de inovação podem ser encontrados no Brasil, permitindo uma identificação de que variáveis explicam os diferentes padrões de adoção de práticas inovadoras e comparar como as organizações se assemelham e se diferenciam nesse sentido, levando à quarta hipótese desta tese: H4: As organizações apresentam certas regularidades de comportamento em adoção de inovação, relacionadas às suas características estruturais, como porte, setor de atuação, origem de capital e processo produtivo, às suas estratégias genéricas, além de às suas experiências com a utilização de práticas inovadoras. • Associar os padrões de adoção de práticas inovadoras ao desempenho operacional e ao desempenho financeiro. Além de investigar sobre os padrões de adoção de práticas inovadoras no país, é necessário identificar se essas práticas estão de fato contribuindo para mudanças em resultados alcançados pelas adotantes. Se as organizações estão adotando novas práticas de administração, que resultados, operacionais e financeiros, têm sido obtidos? Práticas inovadoras só terão vida longa, em termos de uso, se entregarem a promessa realizada. Melhores operações, com custos reduzidos, maior rapidez e qualidade, são as promessas mais comumente verificadas na bibliografia especializada. Bons resultados obtidos com experiências passadas podem ser, ou não, estímulos fortes para novas experiências inovadoras. Práticas como terceirização e reengenharia prometem ganhos imediatos em custos e rapidez de processamento, e seus resultados podem ser verificados e medidos pouco tempo após sua implementação. Outras práticas, entretanto, só poderão ter seus resultados avaliados após algum tempo de sua implantação, os quais poderão não estar, necessariamente, ligados diretamente ou exclusivamente à sua implementação. 180 A adoção de inovações gerenciais – ou de práticas inovadoras – normalmente é interpretada como uma decisão apoiada pela percepção de que é possível alcançar vantagens significativas resultantes na adoção de tais inovações, que reforçarão a propensão organizacional de continuar a adotar novas práticas, e de sustentar a utilização de práticas adotadas anteriormente. Para além da problematização desenvolvida nesta tese, sobre a natureza não apenas racional do processo de decisão, mas, também, sobre a adoção de inovação pelas empresas, a decisão sobre a continuidade de uso das inovações gerenciais adotadas parece requer a capacidade de mensurar o desempenho organizacional, em seus aspectos tangíveis e objetivos, mais facilmente mensuráveis, e em relação a aspectos subjetivos e intangíveis, que exigirão um esforço maior para que se capturem nuances da percepção humana e da satisfação relativa da aplicação dessas práticas no cotidiano organizacional. Espera-se que práticas inovadoras contribuam de duas maneiras para as organizações, abstraindo-se a proposta de Lederer e Rhee (1995) e de Garvin (1984 apud SOUZA e VOSS, 2002, p.96). Por um lado, práticas inovadoras podem contribuir para melhorias em processos organizacionais, por exemplo, reduzindo a variabilidade de processos e de produtos, melhorando a produtividade, aumentando a satisfação dos funcionários, facilitando o processo de coordenação das atividades da empresa e aumentando a satisfação dos clientes. Por outro lado, e talvez como resultante do caminho mencionado antes, espera-se que práticas inovadoras proporcionem ganhos financeiros que não somente refletirão os ganhos de produtividade auferidos, mas, ainda, serão reflexo de maior capacidade competitiva e de melhor qualidade de produtos e serviços, resultantes, também, da adoção de práticas inovadoras 181 Empowerment, por exemplo, é uma prática que é voltada para a agilidade e responsividade organizacional, no sentido em que permite que as pessoas reajam rapidamente a situações inesperadas, na busca por um maior nível de ajuste de operações a peculiaridades locais e momentâneas, mas que não oferece resultados imediatamente perceptíveis. No longo prazo, e caso a implementação seja bem sucedida, o empoderamento de pessoas pode, todavia, garantir vínculos mais intensos com os clientes, que garante a estabilidade de vendas e redução de custos como, por exemplo, despesas com propaganda. A gestão da qualidade total, igualmente, nem sempre oferece resultados imediatos, apesar de a literatura especializada apresentar casos nos quais isso ocorreu (DEMING 1980, WHITELEY, 1991, GERHARDT e TOWSEND, 1993, por exemplo). O investimento em programas de qualidade, normalmente, representa um investimento de longo prazo, que apresenta resultados rápidos em termos de redução de custos, mas não influencia imediatamente os resultados financeiros mais amplos de uma organização adotante, como a lucratividade e o volume de vendas. Ademais, alguns indicadores de resultado podem estar associados a objetivos-meio, como maior rapidez de resposta, estoques mais reduzidos, menor volume de retrabalho e menores taxas de absenteísmo ou de rotatividade de pessoal. Os questionamentos desenvolvidos em relação aos comportamentos das empresas vinculados ao quinto objetivo específico desta tese são evidentes em Peixoto (2004). Encontrar respostas para eles vai permitir conhecer em maior detalhe o nível de adoção de práticas organizacionais inovadoras no país, bem como o perfil das organizações adotantes, os motivos que as levaram a adotar tais práticas, os benefícios obtidos com essa adoção, bem como as ações levadas à cabo pelas empresas quando da adoção. O objetivo desta tese, aqui delineado, é estudar as organizações e práticas 182 em conjunto, como forma de apresentar uma visão agregada de seu comportamento. A hipótese 5, relacionada a este objetivo, é a que se segue. H5: A adoção de práticas inovadoras associa-se a ganhos de desempenho operacional e financeiro, que justificam as decisões de adoção, reforçando a propensão à continuidade de uso. 5.2. Modelo de Análise As dimensões que compõem o modelo de análise adotado nesta tese são: adoção de práticas inovadoras no Brasil, práticas inovadoras de gestão do desempenho e da qualidade, práticas inovadoras de gestão de pessoas, práticas inovadoras de gestão do processo produtivo, padrões de adoção de práticas inovadoras, resultados percebidos e propensão à continuidade de uso. A primeira dimensão, Práticas Inovadoras de Administração do Desempenho e da Qualidade, foi mensurada pela abrangência da adoção e do tempo de utilização de quatro práticas pesquisadas – reengenharia de processos, gestão da qualidade total, terceirização e just in time. Já a segunda dimensão, Práticas Inovadoras de Administração de Pessoas, foi mensurada pela abrangência da adoção e do tempo de utilização de três práticas pesquisadas – trabalho em equipe, empowerment e cultura de aprendizagem, enquanto que a terceira dimensão, Práticas Inovadoras de Administração do Processo Produtivo e das Relações de Produção, foi mensurada por meio de cinco práticas pesquisadas – parcerias na cadeia de suprimento (supply-chain management), engenharia simultânea, manutenção produtiva total, tecnologia integrada baseada em computadores e células de manufatura. Essas dimensões serão avaliadas adiante, com a análise fatorial. 183 Como mencionado, foram investigadas 12 práticas de gestão. A relação dessas práticas, assim como suas definições encontram-se no Quadro 5.1. Quadro 5.1 - Definições Operacionais das Práticas de gestão Pesquisadas Discriminação Definição 1. BPR – Reengenharia Redesenho ou racionalização radical do processo de produção para eliminar práticas e procedimentos desnecessário (mais do que processos mais graduais e contínuos de melhoria). 2. Parceria na cadeia de Desenvolvimento de alianças e relações de longo prazo com fornecedores e suprimento (Supply-chain) clientes (mais do que negociação de curto prazo). 3. Outsourcing Contratar a outra empresas certos processos e subprocessos (mais do que fazer todo internamente). 4. Cultura de Aprendizagem Promoção de um leque de oportunidades de desenvolvimento para todos os empregados (mais do que treinar ocasionalmente os funcionários); 5. Empowerment Transferência de considerável responsabilidade pelo gerenciamento operacional aos indivíduos ou times (mais do que manter todo o processo decisório em nível gerencial) 6. Trabalho baseado em Distribuição dos operadores em times cada qual com suas responsabilidades e equipes dar a eles liberdade para a distribuição do trabalho entre seus membros. 7. TPM –Total Productive Envolvimento de todos os operadores em pequenas tarefas de manutenção e Maintenance reparo (mais do que ter todas as tarefas de manutenção realizadas por engenheiros) 8.Engenharia simultânea Projeto e manufatura de produtos em tempos simultâneos ( mais do que ter projeto e manufatura como funções separadas). 9. Tecnologias integradas Ligação entre os equipamentos computadorizados para elevar a integração do baseadas em computador sistema (tais como CAD/CAM e FMS) 10. Células de manufatura Sistema de organização no chão da fabrica no qual um grupo de operários recebe os recursos para fabricar um produto por inteiro (mais do que a produção por deslocamento dos produtos entre as áreas funcionais). 11. JIT – Just in time Produção acionada por demanda direta de clientes internos e externos (diferente de produzir antecipadamente para manter em estoques). 12. TQM – Gestão da Busca de mudanças contínuas para elevar a qualidade e fazer todo o pessoal qualidade total responsável pela qualidade (inclui Kaizen e práticas de melhoria contínua) Fonte: elaboração com base em Waterson e outros, 1997, p. 2 A quarta dimensão, padrões de adoção de práticas inovadoras, representa os resultados obtidos com a adoção de práticas inovadoras, neste caso, limitados ao desempenho organizacional, subdividido em desempenho operacional e desempenho financeiro. Desempenho operacional representa o quanto a nova prática contribuiu para o desempenho do processo produtivo como um todo, incluindo melhorias em qualidade, reduções de custos, e aumento da responsividade. Esta tese adota o conceito de qualidade em suas múltiplas dimensões, resultantes de um esforço de melhoria contínua, refletidos na redução das margens de erro e no aumento da satisfação dos clientes. A variável custo, de forma similar à qualidade, foi considerada um conceito auto explicativo, e a variável responsividade representa a velocidade de 184 resposta percebida pelos gestores de produção da organização, no atendimento a necessidades específicas dos clientes, definida ainda como velocidade de resposta aos clientes, quando os entrevistados apresentaram dúvidas sobre o conceito. O desempenho financeiro, por sua vez, foi avaliado com três indicadores que são usualmente utilizados em análises industriais: lucratividade, rentabilidade sobre o patrimônio e rentabilidade sobre a receita. O indicador de lucratividade utilizado é o lucro líquido do exercício, já descontado o Imposto de Renda, constante no balanço apresentado pela empresa. Além do lucro líquido, outros índices utilizados incluem a rentabilidade sobre a receita e sobre o patrimônio líquido, que se referem à divisão do lucro, antes do resultado financeiro, pela receita operacional líquida e pelo patrimônio líquido, respectivamente. Por último, a dimensão propensão à continuidade de uso, que representa o quanto a organização acredita que continuará utilizando as práticas investigadas. Registra-se, ainda, que o modelo heurístico de análise incorpora a percepção de que a difusão liga-se a aprendizado e, consequentemente, a melhorias incrementais nas práticas adotadas, o que, por sua vez, favorece o processo de difusão, ainda que esse processo se dê a ritmo, intensidade e direção variáveis entre indústrias, empresas, regiões e países. A percepção de efeitos relacionados à adoção de práticas levará a um mecanismo de aprendizado, tanto para mais (feedback positivo) quanto para menos (feedback negativo), estimulando tanto a ampliação de uso da prática em questão quanto a adoção de novas práticas inovadoras, que oferecem potencial semelhante de proporcionar melhorias significativas, conforme sugere a literatura revisada para esta tese. Por fim, não se pode encerrar a apresentação do modelo heurístico desta tese, que se associa a duas dimensões de desempenho organizacional – operacional e financeiro, – 185 sem fazer referências a dificuldades de delimitação e de operacionalização desse conceito. Isso ocorre por vários motivos. Primeiramente porque o conceito de desempenho engloba aspectos intangíveis, que não são facilmente mensuráveis. Além disso, porque qualquer definição de desempenho terminará em escolhas que certamente deixarão aspectos importantes fora da análise, reduzindo sua validade teórica e capacidade de generalização. Por último, para que seja possível avaliar concretamente os resultados obtidos com a difusão de práticas inovadoras, é necessário ter uma visão do grande quadro, considerando aspectos agregados, de natureza meso e macro, que tipificam setores industriais ou economias nacionais. 186 Figura 5.2 – Modelo Heurístico de Análise Adoção de Praticas Inovadoras no Brasil (H1) H3 H2 H3 Características Organizacionais (Porte, localização , origem de capital...) H3 Práticas Inovadoras de Adm. do Desemp. e da Qualidade Práticas Inovadoras de Administração de Pessoas Práticas Inovadoras de Adm. do Processo Produtivo Reengenharia Terceirização Just in Time Gestão da Qualidade Total Parcerias na Cadeia de Suprimento Trabalho em Equipe Cultura de Aprendizagem Empowerment Células de Manufatura Manutenção Produtiva Total Engenharia Simultânea Tecnologia Inegrada (CIM) H4 Padrões de Adoção de Práticas Inovadoras H5 Melhor Desempenho Financeiro Aumento da Receita Aumento da Lucratividade Aumento do Retorno sobre o Patrimônio e sobre a Receita H5 Resultados Percebidos (learn by using) H5 Melhor Desempenho Operacional Maior Qualidade Menores Custos Maior Responsividade H5 Propensão à Continuidade de Uso Fonte: Elaboração própria 5.3. Universo e amostras Parte dos dados utilizados nesta tese compõe banco de dados de projeto de pesquisa, articulado com uma pesquisa internacional, em desenvolvimento pelo ESRC – Centre 187 for Organization and Innovation do IWP -- Instituto de Psicologia do Trabalho da Universidade de Sheffield, Inglaterra. A difusão de sua metodologia tem sido incentivada. Para tanto, têm sido realizadas muitas parcerias entre o ESRC e outros centros de pesquisa de universidades estrangeiras. O Brasil encontra-se integrado a essa rede de pesquisa (WATERSON et al, 1997), com o apoio do CNPq. Trata-se de pesquisa survey descritiva, cross section, sobre práticas de gestão da produção e do trabalho em diversos países envolvidos, buscando identificar o nível de difusão de 12 práticas selecionadas – Reengenharia, Terceirização, Células de Manufatura, Tecnologia Integrada por Computador (CIM), Qualidade Total, Parceria na Cadeia de Suprimento, Cultura de Aprendizagem, Trabalho em Equipe, Engenharia Simultânea, Just in Time, Empowerment, Manutenção Preventiva Total. A pesquisa no Brasil buscou ter uma abrangência nacional, atingindo todos os estados da Federação. Assim, a unidade de análise, base para definição da amostra, consistiu em empresas industriais de médio e grande porte, com 150 ou mais empregados, atuando no Brasil, independente do controle do seu capital ser ou não nacional. Na ausência de uma base disponível de dados nacionais, para definir a população, trabalhou-se com várias bases de dados, como, por exemplo, os cadastros das Federações Estaduais das Indústrias, a relação das “Maiores e Melhores” da Revista Exame, e ainda o cadastro do Instituto Miguel Calmon – IMiC. Todas essas bases se revelaram incompletas no tocante a informações críticas para a delimitação do universo da pesquisa, sobretudo no que se refere ao quantitativo atualizado de empregados. Em conseqüência, durante o próprio processo de coleta de dados, se tornou necessário atualizar esse tipo de informação, levando a exclusão de algumas empresas inicialmente selecionadas, que não se incluíam no tamanho desejado quanto ao número de empregados. 188 Com base nos cadastros disponíveis, foi possível delimitar uma população de 4.637 empresas estratificadas por gênero industrial (segundo categorias do IBGE – CNAE – Cadastro Nacional de Atividades Econômicas) e número de empregados. O tamanho da amostra, considerando um erro de aproximadamente 5%, foi definido como 300 empresas, que foram selecionadas de forma aleatória estratificada. No entanto, 80 empresas do total antes mencionado ou não foram localizadas ou foram localizadas e não aceitaram participar da pesquisa por diversas razões, sendo as mais freqüentes o tempo envolvido para responder ao questionário e à modalidade de entrevista por telefone. Assim, a amostra inicial da pesquisa ficou reduzida a 220 empresas do setor industrial, com mais de 150 empregados, distribuídas em 14 estados. Apesar de se buscar preservar uma representatividade da amostra com relação aos diversos segmentos industriais e ao peso de cada estado na composição do PIB nacional, houve discrepâncias entre o planejado e o realizado, pois, em uma pesquisa com essas características, a amostra somente é definida a posteriori, uma vez que não se pode controlar a disponibilidade das empresas para a realização de entrevistas. As entrevistas das empresas no Brasil foram realizadas com os responsáveis pela área industrial – principalmente os seus Diretores Industriais, por telefone, replicando a mesma metodologia utilizada pelo IWP. Apesar de haver problemas potenciais, em relação à utilização de somente um executivo responder às questões sobre toda a organização derivadas da possibilidade de que sua visão não represente a opinião de todos, ou a realidade sobre a experiência organizacional com práticas inovadoras (KING e ANDERSON 1995; ROGERS 1995), a pesquisa buscou minimizar esses problemas. Os entrevistados não tinham acesso ao menu de respostas de cada pergunta, cabendo ao entrevistador direcionar a seqüência das questões de acordo com alternativas previamente definidas. Para assegurar relativa coerência, todos os 189 entrevistadores foram treinados sobre a dinâmica da entrevista e questões conceituais envolvidas. Mas, para efeito de realização desta tese, ao conjunto informações levantadas pelo instrumento, tipicamente objetivas, foram acrescentadas outras relativas ao desempenho financeiro das empresas respondentes – lucro anual, rentabilidade sobre o patrimônio e rentabilidade sobre a receita. Essas últimas informações foram coletadas apenas em 98 empresas relativas a, pelo menos, três anos, com base no periódico “Desempenho das Empresas”, em suas edições do período de 1997-2003, da Fundação Instituto Miguel Calmon de Estudos Sociais e Econômicos. Dada a grande variabilidade, os dados assim coletados foram ajustados em escalas, variando, por exemplo, de “grande prejuízo” ou “grande redução”, com escore igual a 1, até “grande lucro” ou “grande crescimento”, com escore igual a 7. Sendo assim, a amostra final desta tese, com 98 empresas, é do tipo não probabilístico por conveniência, tendo sido comparada à original e à distribuição nacional de empresas, conforme apresentado na seção 6.1, como forma de identificar se as propriedades da amostra original estão presentes na final. 5.4. Instrumento de coleta de informações e sistemática de análise dos dados O instrumento, integrado principalmente por itens fechados, envolve uma matriz com as doze práticas selecionadas, sobre as quais foram feitas várias perguntas específicas que buscam identificar o uso, a efetividade e as razões para introdução das práticas nas organizações. O instrumento foi testado, permitindo ajustes na formulação das questões e nas categorias utilizadas para registro das informações coletadas. Os dados coletados são de natureza quantitativa e descritiva, utilizando-se primeiramente 190 rotinas simples do SPSS (Statistical Package for Social Sciences) para cálculos de freqüências e medidas de associações entre variáveis. A análise dos dados, de natureza quantitativa multivariada, dividiu-se em quatro etapas, de acordo com as hipóteses apresentadas. Inicialmente, foi realizada uma análise das médias e da distribuição de freqüência das variáveis estado, região, setor, origem do capital e número de funcionários da sub-amostra de 98 empresas, comparando os resultados com aqueles referentes à amostra original (220 empresas), para checar se as propriedades da última estão presentes na primeira. Esta análise incluiu, ainda, a comparação dos mesmos dados com dados sobre o desempenho industrial, conforme apresentado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE, de modo a verificar as características das amostras em relação ao ambiente industrial brasileiro. A análise de freqüências incluiu, ainda, a análise da difusão das doze práticas estudadas, o nível de satisfação em relação à adoção das práticas, com os objetivos de redução de custos, de aumento na responsividade e de aumento na qualidade, e ainda a propensão à continuidade de uso, também comparativamente à amostra original (220 empresas) e à amostra final (98 empresas). Ainda foram comparadas as médias de adoção de práticas com as variáveis descritivas (estado, região, setor, número de funcionários e origem do capital). Em seguida, foi realizada a análise fatorial com variáveis referentes ao nível de adoção das práticas investigadas, no sentido de identificar quantos construtos emergiram de sua combinação. O pressuposto dessa análise era testar novamente os resultados apresentados em Loiola et al (2003b), de que as doze práticas se referiam somente a três construtos: a adoção de práticas de gestão do desempenho e da qualidade, a adoção de práticas de gestão de pessoas e a adoção de práticas de gestão da produção e operações. 191 Foram criados indicadores para comparar as organizações respondentes, identificando padrões de comportamento com a análise de clusters, ou análise de conglomerados. Por último, foi realizada a combinação das variáveis envolvidas no trabalho, com a modelagem de equações estruturais, que permitiu identificar relações de associação entre elas, identificando relações de dependência que não eram visíveis inicialmente. 6. Resultados e discussão 6.1. Caracterização das amostras A amostra desta tese é não probabilística por conveniência, tendo sido extraída de amostra de 220 empresas industriais em operação no Brasil, em 2002, que serviu de base ao trabalho desenvolvido por Peixoto (2004), conforme já foi registrado no item 5. 4 desta tese. Uma das preocupações relativas à eliminação de casos em qualquer amostra é quanto a manutenção de suas propriedades originais. Para investigar esse problema, foram comparadas as empresas da amostra desta tese, contendo 98 empresas, com as da amostra do trabalho desenvolvido por Peixoto (2004), que contém 220 empresas, de forma a investigar suas propriedades. A amostra desta tese foi, ainda, comparada com a distribuição nacional de empresas industriais entre regiões, estados e setores industriais (Tabelas 6.1 a 6.6), também com foco nas propriedades de ambas. O maior número de casos da amostra desta tese advém do estado de São Paulo – 31 casos ou 31,6% do total, seguido por Bahia, que apresenta 14 casos (14,3%), Rio de Janeiro, de onde se originam 11 casos (11,2%), Rio Grande do Sul, que apresenta 10 casos (10,2%), Paraná (8 casos ou 8,2%), Minas Gerais e Ceará (cada um apresentando 6 casos ou 6,1%), Santa Catarina (com 5 casos ou 5,1%), Amazonas (somente 3 casos ou 3,1%) e Distrito Federal (com 2 casos ou 2% da amostra). Há, ainda, uma empresa de Pernambuco e uma do Maranhão (1,0% cada), conforme a Tabela 6.1. Em relação à distribuição relativa do total de empresas industriais entre as diferentes unidades da federação brasileira e a amostra desta tese, identificaram-se diversas variações: aumentos de representação relativa dos estados do Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Maranhão e Rio de Janeiro, e reduções das participações relativas dos estados de Espírito Santo, Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Santa Catarina, este último em menor escala na amostra desta tese. O Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo tiveram sua representatividade razoavelmente mantida na amostra desta tese, ainda em comparação com a distribuição relativa nacional. Tabela 6.1 – Comparação entre a Amostra Peixoto (2004), Amostra Tese e a Distribuição Nacional: Local de Atuação Amostra Peixoto (2004) Amostra Tese Distribuição Nacional1 Freq. Perc. 680 0,5% 3714 2,5% 3024 2,1% 886 0,6% 3065 2,1% 626 0,4% 17952 12,3% 12120 8,3% 3432 2,3% 3654 6,6% 1130 0,8% 14909 10,2% 11410 7,8% 50397 34,5% Estado Freq. % Válido Freq. % Válido Amazonas 4 1,84% 3 3,06% Bahia 30 13,82% 14 14,29% Ceará 10 4,61% 6 6,12% Distrito Federal - Brasília 5 2,30% 2 2,04% Espírito Santo 1 0,46% 0 0% Maranhão 1 0,46% 1 1,02% Minas Gerais 7 3,23% 6 6,12% Paraná 31 14,29% 8 8,16% Pernambuco 1 0,46% 1 1,02% Rio de Janeiro 30 13,82% 11 11,22% Rio Grande do Norte 2 0,92% 0 0% Rio Grande do Sul 22 10,14% 10 10,20% Santa Catarina 24 11,06% 5 5,10% São Paulo 49 22,58% 31 31,63% Soma 217 100% 98 100% Missing Cases 3 0 Total 220 98 Fonte: Dados da Pesquisa 1 Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Departamento de Indústria, Pesquisa Industrial Anual Empresa 2000-2001. Em relação aos estados que compõem a amostra do trabalho de Peixoto (2004), somente dois estados foram eliminados da amostra desta tese, Espírito Santo e Rio Grande do Norte, que apareciam com uma e duas indústrias, respectivamente. Sendo assim, somente doze estados estão representados na amostra utilizada para investigar a relação entre adoção de práticas inovadoras e desempenho operacional e financeiro. Apesar de ter havido variações na representação relativa dos estados na composição da amostra desta tese, especialmente em comparação àquela de Peixoto (2004), 194 considera-se que a amostra desta tese mantém satisfatoriamente as características originais. Dentre as 98 organizações industriais pesquisadas nesta tese, 48 estão situadas na Região Sudeste (49,0%), 23 na Região Sul (23,5%), 22 na Região Nordeste (22,4% ), 3 na Região Norte (3,1 %) e somente 2 na Região Centro Oeste (2,0%). Percebe-se que as regiões Sudeste e Norte tiveram sua participação relativa aumentada na amostra desta tese, enquanto que a região Sul teve sua representatividade significativamente reduzida, em comparação com a amostra de Peixoto (2004). (Tabela 6.2). Tabela 6.2 – Comparação entre a Amostra de Peixoto (2004), Amostra desta Tese e Distribuição Nacional: Região Amostra Peixoto (2004) Amostra Tese Distribuição Nacional1 Freq. % Válido Freq. % Válido Freq. % Válido Sudeste 84 38,7% 48 49,0% 81068 55,4% Sul 80 36,9% 23 23,5% 38439 26,3% Nordeste 44 20,3% 22 22,4% 14980 10,2% Norte 4 1,8% 3 3,1% 3762 2,6% Centro-oeste 5 2,3% 2 2,0% 7976 5,5% Total 217 98 Missing Cases 3 Total 220 98 Fonte: Dados da Pesquisa 1 Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Departamento de Indústria, Pesquisa Industrial Anual Empresa 2000-2001. Comparando-se a amostra desta tese com a distribuição nacional de empresas por região, percebe-se, também, pequenas variações nas participações relativas de empresas das regiões Sudeste, Sul e Norte (Tabela 6.2). As variações em relação às regiões Nordeste e Centro-oeste foram muito significativas Quanto a essas propriedades, cabe registrar, também, que já na amostra de Peixoto (2004) esses diferenciais estavam presentes. O ramo mais representado na amostra desta tese é o de metalurgia básica, com 16 empresas (16,3%), seguido pelo de produtos químicos, que apresenta 14 empresas (14,3%), produtos alimentícios e bebidas, com 13 casos (13,3%), produtos de 195 minerais não-metálicos, com 10 empresas (10,2%). Em seguida, aparece o ramo de celulose, papel e produtos de papel, com 6 casos (6,1%), os de produtos têxteis, artigos de borracha e plástico e produtos de metal, que apresentam 5 casos cada (5,1% cada), os de máquinas e equipamentos e material eletrônico e de comunicação, que apresentam 4 casos cada um (4,1% cada) e os de edição, impressão e reprodução de gravações, máquinas, aparelhos e materiais elétricos e móveis e indústrias diversas, participando, cada um, com 3 casos (3,1%). Por último, aparecem os ramos de preparação de couros e fabricação de artefatos de couros, artigos de viagem e calçados e equipamentos de instrumentação, precisão e automação industrial, com dois casos cada (2,0% cada), e de confecção de artigos de vestuário e acessórios, fabricação de produtos de madeira e fabricação e montagem de veículos automotores, que aparecem, cada um, com somente 1 único caso (1,0% cada – veja Tabela 6.3). Em relação aos ramos industriais, somente o ramo de Produtos de Fumo foi eliminado da amostra desta tese em comparação à amostra adotada por Peixoto (2004), sendo que este aparecia com apenas uma indústria na amostra referida por último. Em relação aos demais ramos presentes na amostra de Peixoto (2004), na amostra desta tese ganham maior participação relativa os de Edição, Impressão e Reprodução de Gravações, Fabricação de Produtos Químicos, Metalurgia Básica e Fabricação de Produtos de Metal – Exclusive Máquinas e Equipamentos, enquanto que os que tiveram sua participação relativa ligeiramente reduzida foram os de Confecção de Artigos do Vestuário e Acessórios, Fabricação de Produtos de Madeira, Fabricação de Máquinas e Equipamentos, Fabricação e Montagem de Veículos Automotores e Fabricação de Móveis e Indústrias Diversas. Os demais ramos tiveram sua participação relativamente mantida (Tabela 6.3). 196 Comparando-se a amostra desta tese ao cenário nacional como um todo, percebe-se que os setores de Fabricação de Produtos Alimentícios e Bebidas, Confecção de Artigos do Vestuário e Acessórios, Preparação de Couros e Fabricação de Artefatos de Couros, Artigos de Viagem e Calçados, Fabricação de Produtos de Madeira, Edição, Impressão e Reprodução de Gravações, Fabricação de Produtos de Metal – Exclusive Máquinas e Equipamentos e Fabricação de Móveis e Indústrias Diversas tiveram participação relativa menor em relação à do cenário nacional. Já os ramos de Fabricação de Produtos Têxteis, Fabricação de Produtos Químicos, Fabricação de Produtos de Minerais Não-Metálicos, Metalurgia Básica, Fabricação de Máquinas, Aparelhos e Materiais Elétricos, Fabricação de Material Eletrônico e Equipamentos de Comunicação e Equip. de Instrumentação, Precisão e Automação Industrial tiveram participação relativa maior, em especial o setor de Metalurgia Básica,cuja participação relativa foi da ordem de oito vezes a maior. Os setores de Fabricação de Artigos de Borracha e Plástico, Fabricação de Produtos de Minerais Não-Metálicos, Fabricação de Máquinas e Equipamentos, Equipamentos de Instrumentação, Precisão e Automação Industrial e Fabricação e Montagem de Veículos Automotores, Reboques e Carrocerias apresentaram participação proporcionalmente equivalentes (Tabela 6.3). 197 Tabela 6.3 – Comparação entre a Amostra Peixoto (2004), Amostra desta Tese e Distribuição Nacional: Gêneros Industriais Amostra Peixoto (2004) Gêneros Industriais7 15 Fabricação de Produtos Alimentícios e Bebidas 16 Fabricação de Produtos do Fumo 17 Fabricação de Produtos Têxteis Freq. Amostra Tese Freq. 27 % Válido 12,27% 1 0,45% 0 0% 218 0,2% 13 5,91% 5 5,10% 5031 3,5% 13 % Válido 13,27% Distribuição * Nacional Freq. % Válido 24226 17,0% 18 Confecção de Artigos do Vestuário e Acessórios 5 2,27% 1 1,02% 18741 13,1% 19 4 1,82% 2 2,04% 6111 4,3% 20 Preparação de Couros e Fabricação de Artefatos de Couros, Artigos de Viagem e Calçados Fabricação de Produtos de Madeira 21 Fabricação de Celulose, Papel e Produtos de Papel 22 Edição, Impressão e Reprodução de Gravações 5 2,27% 3 23 Fabricação de Produtos Químicos (23/24) 23 10,45% 14 25 Fabricação de Artigos de Borracha e Plástico 14 6,36% 5 26 Fabricação de Produtos de Minerais Não-Metálicos 18 8,18% 27 Metalurgia Básica 28 12,73% 28 Fabricação de Produtos de Metal – Exclusive Máquinas e Equipamentos Fabricação de Máquinas e Equipamentos 7 16 29 6 2,73% 1 1,02% 8331 5,8% 12 5,45% 6 6,12% 2738 1,9% 3,06% 7871 5,5% 14,29% 6514 4,6% 5,10% 6880 4,8% 10 10,20% 12515 8,8% 16 16,33% 2594 1,8% 3,18% 5 5,10% 12462 8,7% 7,27% 4 4,08% 7465 5,2% 31 Fabricação de Máquinas, Aparelhos e Materiais Elétricos 7 3,18% 3 3,06% 2670 0,9% 32 Fabricação de Material Eletrônico e Equipamentos de de Comunicação Equip. de Instrumentação, Precisão e Automação Industrial 9 4,09% 4 4,08% 1006 0,7% 5 2,27% 2 2,04% 1340 0,9% Fabricação e Montagem de Veículos Automotores, Reboques e Carrocerias Fabricação de Móveis e Indústrias Diversas 8 3,64% 1 1,02% 2860 2,0% 12 5,45% 3 3,06% 11604 8,1% 220 100% 98 100% 33 34 36 Total Fonte: Dados da Pesquisa * Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Departamento de Indústria, Pesquisa Industrial Anual - Empresa 2000-2001. A composição da amostra final desta tese apresenta 35 empresas que possuíam entre 250 e 499 funcionários (35,71%), 29 empresas, entre 150 e 249 funcionários (29,59%), 24 casos de empresas, entre 500 e 999 funcionários, e somente 10 casos de empresas, a partir de 1000 funcionários (Tabela 6.4). Em relação ao número de funcionários, a amostra desta tese manteve aproximadamente a mesma proporção em relação à amostra de Peixoto (2004), com ligeira representação a maior de empresas com maior número de funcionários. Empresas com 150 a 249 funcionários tiveram sua participação relativa reduzida, enquanto que empresas com 500 a 999 funcionários tiveram sua participação relativa 7 De acordo com a Classificação Nacional de Atividades Econômicas - CNAE 198 aumentada e as duas últimas categorias de número de funcionários se mantiveram relativamente estáveis (Tabela 6.4). Tabela 6.4 – Comparação entre a Amostra Peixoto (2004) e a Amostra Tese: Faixas por Número de Funcionários Amostra Original Amostra Final Freq. % Válido Freq. % Válido Faixa N° de Func. de 150 a 249 86 de 250 a 499 73 de 500 a 999 41 mais de 1000 20 Total 220 Fonte: Dados da Pesquisa 39,09% 33,18% 18,64% 9,09% 100 29 35 24 10 98 29,59% 35,71% 24,49% 10,20% 100 Percebe-se, em relação à distribuição nacional de empresas por número de funcionários (tabela 6.5), que há uma concentração de empresas que empregam até 99 funcionários (93,7%). Assim, com base nesse dado, a amostra desta tese não pode ser considerada representativa do universo estudado, reduzindo-se o seu poder de generalização, apesar de esta pesquisa não possuir essa pretensão. Tabela 6.5 – Distribuição Nacional de Empresas por Faixas de Funcionários Faixa de Número de Freq. % Válido Funcionários De 5 a 29 114 988 78,6% De 30 a 49 12 838 8,8% De 50 a 99 9 262 6,3% De 100 a 249 5 846 4,0% De 250 a 499 2 044 1,4% Com 500 e mais 1 248 0,9% Total 146 226 Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Departamento de Indústria, Pesquisa Industrial Anual Empresa 2001. Quanto à origem de capital, a amostra utilizada nesta tese apresentou a seguinte composição: 68 casos, ou 76,4% do total de empresas com capital 100% nacional, seguidas por 17 empresas, ou 19,10% do total, de capital estrangeiro e poucos casos de empresas com capital misto (4 casos ou 4,49%), conforme pode ser verificado na Tabela 6.6. 199 Em relação à origem de capital das empresas da amostra desta tese, percebe-se ligeira redução na concentração de empresas com capital de origem nacional e misto em relação à amostra adotada por Peixoto (2004). Tabela 6.6 – Comparação entre a Amostra de Peixoto (2004) e a Amostra Tese: Origem do Capital Amostra Peixoto (2004) Amostra Tese Origem do Capital Freq. % Válido Freq. % Válido Nacional 163 80,30% 68 76,40% Estrangeira 33 16,20% 17 19,10% Mista 7 3,44% 4 4,49% Total 203 100 89 100 Missing 17 9 Total 220 98 Fonte: Dados da Pesquisa Apesar de a amostra desta tese ter sido não probabilística por conveniência, percebese que a maioria das propriedades encontradas na amostra de Peixoto (2004), de 220 casos, mantém-se relativamente presente. A amostra desta tese representa, ainda, razoavelmente bem, o universo das maiores organizações industriais brasileiras, que empregam a partir de 150 funcionários, especialmente em relação à distribuição estadual, regional, setorial e por origem de capital. 6.2. Adoção de práticas inovadoras – comparação entre os resultados obtidos em Peixoto (2004) e com a amostra desta tese Após a verificação das características da amostra desta tese face à de Peixoto (2004), é possível prosseguir com a análise, tendo como foco o primeiro objetivo específico, que é “comparar os resultados originais da pesquisa encontrados em Peixoto (2004) e os resultados obtidos com base na amostra desta tese”, assim como testar a hipótese a ele relacionada de que “os resultados obtidos por Peixoto (2004) quanto ao nível de utilização, ao alcance das práticas em relação a melhorias em qualidade, às reduções de custos e melhorias na responsividade e à propensão à continuidade de uso das práticas, são relativamente mantidos para a amostra desta tese”. 200 6.2.1. Adoção de práticas inovadoras no Brasil – Nível de Utilização O gráfico apresentado na Figura 6.1, adiante, apresenta a adoção das doze práticas investigadas nas duas amostras, comparando as diferenças encontradas entre ambas. As práticas mais adotadas, segundo a amostra desta tese, são trabalho em equipe e gestão da qualidade total (ambas apresentaram média = 3,67), parceria na cadeia de suprimentos (média = 3,38), cultura de aprendizagem (média = 3,37) e tecnologia integrada baseada em computadores (média = 3,26), que apresentam maior percentual de empresas que as utilizam “muito” ou “totalmente”. As práticas menos utilizadas são manutenção produtiva total e células de manufatura (ambas apresentaram média = 2,54), terceirização (média = 2,38) e engenharia simultânea (média = 2,34) que apresentam os maiores percentuais de empresas que as utilizam “nada” ou “pouco”. Empowerment (média =3,05), just in time (média = 2,87), reengenharia de processos (média = 2,77) são práticas de utilização mediana. Essas médias de intensidade de uso são comparáveis com aquelas encontradas em Peixoto (2004), conforme a tabela 6.7. Para assegurar a consistência entre as duas amostras foi realizado o teste t para amostras independentes, conforme verificado na tabela 6.8. De acordo com esse teste, conforme sugerido em Cooper (2003) e em Malhotra (2001), não existem diferenças significativas (p = 0,05) entre as respostas encontradas na amostra utilizada por Peixoto (2004) e na amostra utilizada por esta tese. 201 Tabela 6.7 – Média da Intensidade de Uso das Práticas no Brasil Utilização da Reengenharia Utilização da Parceria na Cadeia de Suprimentos Utilização da Terceirização Utilização da Cultura de Aprendizagem Utilização do Empowerment Utilização do Trabalho em Equipes Utilização da Manutenção Produtiva Total Utilização da Engenharia Simultânea Utilização da Tecn. Int. Baseada em Computadores Utilização das Células de Produção Utilização do Just in Time Utilização da Gestão da Qualidade Total Fonte: Dados da pesquisa. * Amostra desta tese ** Amostra utilizada por Peixoto (2004) Amostra * ** * ** * ** * ** * ** * ** * ** * ** * ** * ** * ** * ** N 98 220 98 220 98 220 98 220 98 220 98 220 98 220 98 220 98 220 98 220 98 220 98 220 Média 2,765 2,827 3,378 3,373 2,378 2,323 3,367 3,286 3,051 3,118 3,673 3,655 2,541 2,627 2,337 2,455 3,255 3,182 2,541 2,627 2,867 2,927 3,673 3,682 D. Padrão 1,225 1,234 1,070 1,080 1,041 1,021 1,097 1,176 1,088 1,070 1,199 1,150 1,186 1,204 1,377 1,379 1,279 1,287 1,444 1,455 1,382 1,322 1,053 1,081 202 Tabela 6.8 – Teste t para amostras associadas Teste de Levene de Igualdade de Variâncias Nível de Utilização da Prática Reengenharia F * Sig. * Terceirização * * Inferior Superior -0,356 0,232 -0,416 187,503 0,678 -0,062 0,149 -0,356 0,232 0,037 316,000 0,971 0,005 0,131 -0,252 0,262 0,037 187,897 0,971 0,005 0,130 -0,252 0,262 0,440 316,000 0,660 0,055 0,125 -0,191 0,300 0,436 183,046 0,663 0,055 0,126 -0,193 0,303 0,579 316,000 0,563 0,081 0,140 -0,194 0,356 0,055 0,815 0,096 0,757 1,205 0,273 0,594 198,664 0,553 0,081 0,136 -0,188 0,350 0,056 0,813 -0,514 316,000 0,608 -0,067 0,131 -0,324 0,190 -0,511 183,621 0,610 -0,067 0,131 -0,327 0,192 0,134 316,000 0,894 0,019 0,142 -0,260 0,297 ** Trabalho em Equipes * 0,072 0,789 ** Manutenção Produtiva Total * 0,132 179,415 0,895 0,019 0,144 -0,265 0,303 0,007 0,931 -0,594 316,000 0,553 -0,086 0,146 -0,373 0,200 ** Engenharia Simultânea * -0,598 188,931 0,551 -0,086 0,145 -0,372 0,199 0,008 0,931 -0,704 316,000 0,482 -0,118 0,167 -0,447 0,212 -0,704 186,573 0,482 -0,118 0,167 -0,448 0,212 0,470 316,000 0,639 0,073 0,156 -0,234 0,380 ** Tecnologia Integrada Baseada em Computadores * Células de Produção * ** ** Just in Time * ** Gestão da Qualidade Total * ** Intervalo de Confiança de 95% da Diferença 0,150 ** Empowerment Dif. Erro Padrão -0,062 ** * df Dif. Média 0,679 ** Cultura de Aprendizagem t Sig. (2tailed) 0,098 0,754 -0,414 316,000 ** Parceria na Cadeia de Suprimentos Teste t para igualdade das médias 0,035 0,851 0,471 187,379 0,638 0,073 0,156 -0,234 0,380 0,006 0,936 -0,490 316,000 0,624 -0,086 0,176 -0,433 0,260 -0,492 187,517 0,623 -0,086 0,176 -0,433 0,260 0,721 0,397 -0,368 316,000 0,713 -0,060 0,163 -0,380 0,260 -0,362 179,033 0,718 -0,060 0,166 -0,387 0,267 0,021 0,885 -0,064 316,000 0,949 -0,008 0,130 -0,265 0,248 -0,065 190,764 0,948 -0,008 0,129 -0,263 0,246 Fonte: Dados da Pesquisa * Amostra desta tese ** Amostra de Peixoto (2004) 6.2.2. Resultados percebidos com a adoção das práticas – Melhorias em qualidade, reduções em custos e melhorias em responsividade Ao serem analisadas as figuras 6.2 a 6.4, adiante, é possível identificar que resultados têm sido obtidos com a adoção de práticas inovadoras, tanto segundo a amostra original quanto na amostra desta tese. Nesse sentido, percebe-se que houve pequenas diferenças em relação à contribuição de algumas práticas para os três objetivos nas duas amostras estudadas. Por exemplo, as empresas da amostra desta tese apresentaram resultados significativamente diferentes sobre a contribuição da gestão 203 da qualidade total para melhorias em qualidade. O mesmo ocorre, ainda que em menor escala, com a cultura de aprendizagem. Isso pode ser percebido, ainda, em relação à contribuição da engenharia simultânea para melhorias em responsividade. De qualquer maneira, as práticas que aparentemente mais contribuem para melhorias em qualidade são, em ordem decrescente, nas duas amostras, a cultura da aprendizagem, o trabalho em equipe, a tecnologia integrada baseada em computadores, as células de manufatura e a gestão da qualidade total, que apresentam maior percentual de empresas que acreditam que essas práticas contribuíram “muito“ ou “totalmente” para melhorias em qualidade. Por outro lado, as práticas que foram identificadas como sendo as que menos contribuem para melhorias em qualidade foram terceirização, manutenção produtiva total, e parcerias na cadeia de suprimentos, que apresentaram um maior percentual de respondentes que acreditam que essas práticas contribuem “nada” ou “pouco” para melhorias de qualidade. As demais práticas investigadas apresentaram resultados intermediários. Com relação à redução de custos, foram percebidas menores diferenças nas percepções das empresas respondentes. De maneira geral, a dimensão “custos” apresentou posições com uma maior concentração de respostas variando entre “moderadamente” e “muito”. Destaca-se, neste sentido, manutenção produtiva total e terceirização, que apresentaram um percentual ligeiramente superior de empresas que consideram que essas práticas contribuem “nada” ou ”pouco” para a redução de custos. Percepção semelhante ocorre em relação à dimensão “melhorias em responsividade”. A maior quantidade das respostas se aglutina em torno das opções “moderadamente” e “muito”, com destaque para engenharia simultânea, manutenção produtiva total e terceirização, que apresentaram maiores percentuais de organizações que percebem que essas práticas contribuem “nada” ou ”pouco” para melhorias em 204 responsividade. Esses resultados são semelhantes tanto na amostra desta tese quanto na amostra utilizada por Peixoto (2004). Percebe-se, nessas informações, que a adoção de práticas inovadoras contribui um pouco mais intensamente para melhorias em qualidade, mas, também, para reduções de custos e melhorias em responsividade. 6.2.3. Propensão à continuidade de uso de práticas inovadoras Em relação à propensão à continuidade de uso das práticas estudadas, também se percebe que não há grandes variações entre os resultados apresentados em Peixoto (2004) e os resultados obtidos com base na amostra desta tese, sem exceções. De maneira geral, percebe-se que há uma forte propensão à continuidade de utilização de práticas inovadoras. Destacam-se, nesse sentido, a gestão da qualidade total, o trabalho em equipe, a tecnologia integrada baseada em computadores, a cultura da aprendizagem e as parcerias na cadeia de suprimentos, que apresentaram, respectivamente, maiores percentuais de respondentes que afirmaram que continuarão a utilizar essas práticas “mais” ou “muito mais” do que o fazem atualmente. Somente a terceirização e a reengenharia de processos e, em menor escala, as células de manufatura e a engenharia simultânea, apresentaram comparativamente um maior percentual de empresas escolhendo as categorias “muito menos” ou “menos”, embora a maioria das empresas tenha se posicionado nas categorias “mais” e “muito mais”. GQT – Gestão da qualidade total JIT – Just in time CM – Células de manufatura CIM – Tecnologias integradas baseadas em computadores ES- Engenharia simultânea MPT – Manutenção produtiva total TEQ – Trabalho em equipe EMP – Empowerment CAP – Cultura de aprendizagem TER – Terceirização SCM – Parcerias na cadeia de suprimento BPR – Engenharia de processos 98 220 98 220 98 220 98 220 98 220 98 220 TEQ 98 220 EMP MPT ES CIM CM JIT GQT Figura 6.1 – Nível de Utilização das Práticas na Amostra Original e Amostra Final 220 98 CAP 220 TER 98 220 98 SCM 220 BPR 98 220 98 0% 10% 20% 30% nada 40% pouco 50% moder. muito 60% totalm. 70% 80% 90% 100% Fonte: Dados da Pesquisa 205 98 GQT – Gestão da qualidade total JIT – Just in time CM – Células de manufatura CIM – Tecnologias integradas baseadas em computadores ES- Engenharia simultânea MPT – Manutenção produtiva total TEQ – Trabalho em equipe EMP – Empowerment CAP – Cultura de aprendizagem TER – Terceirização SCM – Parcerias na cadeia de suprimento BPR – Engenharia de processos 220 98 220 98 220 98 220 98 220 98 220 TEQ 220 EMP 98 220 CAP MPT ES CIM CM JIT GQT Figura 6.2 – Alcance das Práticas em Relação a Melhorias em Qualidade, na Amostra Original e Amostra Final 220 98 98 TER 220 SCM 220 BPR 98 220 98 98 0% 20% 40% nada 60% pouco moder. muito 80% 100% totalm. Fonte: Dados da Pesquisa 206 98 220 GQT – Gestão da qualidade total JIT – Just in time CM – Células de manufatura CIM – Tecnologias integradas baseadas em computadores ES- Engenharia simultânea MPT – Manutenção produtiva total TEQ – Trabalho em equipe EMP – Empowerment CAP – Cultura de aprendizagem TER – Terceirização SCM – Parcerias na cadeia de suprimento BPR – Engenharia de processos 98 220 98 220 98 220 98 220 98 220 TEQ 98 220 EMP MPT ES CIM CM JIT GQT Gráfico 6.3 – Alcance das Práticas em Relação à Redução de Custos, na Amostra Original e na Amostra Final 220 98 CAP 220 TER 98 220 98 SCM 220 BPR 98 220 98 0% 20% 40% nada 60% pouco moder. muito 80% 100% totalm. Fonte: Dados da Pesquisa 207 98 GQT – Gestão da qualidade total JIT – Just in time CM – Células de manufatura CIM – Tecnologias integradas baseadas em computadores ES- Engenharia simultânea MPT – Manutenção produtiva total TEQ – Trabalho em equipe EMP – Empowerment CAP – Cultura de aprendizagem TER – Terceirização SCM – Parcerias na cadeia de suprimento BPR – Engenharia de processos 220 98 220 98 220 98 220 98 220 MPT TEQ 220 EMP 98 220 220 CAP ES CIM CM JIT GQT Figura 6.4 – Alcance das Práticas em Relação à Melhorias em Responsividade, na Amostra Original e na Amostra Final 220 98 98 98 TER 220 SCM 220 BPR 98 220 98 98 0% 20% 40% nada 60% pouco moder. muito 80% 100% totalm. Fonte: Dados da Pesquisa 208 98 220 GQT – Gestão da qualidade total JIT – Just in time CM – Células de manufatura CIM – Tecnologias integradas baseadas em computadores ES- Engenharia simultânea MPT – Manutenção produtiva total TEQ – Trabalho em equipe EMP – Empowerment CAP – Cultura de aprendizagem TER – Terceirização SCM – Parcerias na cadeia de suprimento BPR – Engenharia de processos 98 220 98 220 98 220 98 220 MPT 98 220 TEQ ES CIM CM JIT GQT Figura 6.5 – Propensão à Continuidade de Uso, na Amostra Original e Amostra Final 220 98 EMP 220 CAP 220 TER 220 SCM 220 BPR 98 220 98 98 98 98 0% 10% 20% 30% 40% Muito Menos 50% Menos O Mesmo 60% Mais 70% 80% 90% 100% Muito Mais Fonte:Dados Pesquisados 209 210 Com a análise dessas informações, valida-se a primeira hipótese desta tese, que é a de que os resultados obtidos por Peixoto (2004), quanto a nível de utilização, alcance das práticas em relação a melhorias em qualidade, reduções de custos e melhorias na responsividade e propensão à continuidade de uso das práticas, são relativamente mantidos para a amostra desta tese. Apesar de haver pequenas diferenças entre as duas amostras, elas mantém um elevado nível de similaridade em seus resultados globais. Com base nesses resultados, pode-se manter a afirmação de Peixoto (2004) de que existe um movimento de modernização gerencial das grandes empresas industriais brasileiras. Esse movimento representa um grande esforço de catching up das empresas nacionais em relação a suas concorrentes estrangeiras. Não é possível perceber, todavia, um padrão para esse movimento. O que os dados apresentados indicam é a existência de um movimento difuso de experimentação de novas práticas, em um padrão divergente de busca por soluções para a crise do modelo capitalista de produção em massa. 6.3.Nível de utilização, características organizacionais e resultados financeiros Esta seção apresenta e discute os resultados relacionados ao segundo objetivo específico desta tese, que é “investigar o grau de adoção de práticas gerenciais em relação às características organizacionais e ao desempenho financeiro”, para testar a hipótese a ele relacionada de que “o grau de adoção das práticas gerenciais pesquisadas é diferenciado por características organizacionais como localização, gênero industrial, porte, origem de capital e desempenho financeiro”. Para tanto, foi calculada a média do grau de adoção de práticas gerenciais, que corresponde à variável “nível de adoção” das doze práticas em análise. Essa variável foi comparada 211 por estado, região, gênero industrial, por porte de empresa (segundo o número de funcionários), por origem de capital, por taxa de crescimento da receita, por faixas de lucro e por rentabilidade em relação à receita e ao patrimônio. A média geral do grau de adoção de práticas gerenciais encontrada na amostra desta tese foi de 2,99 (desvio padrão = 0,6185). Inicialmente, foram verificadas as diferenças no grau de adoção de práticas gerenciais, representado pelo score médio de adoção das doze práticas, em cada subdivisão da amostra. Ao serem comparadas as médias do grau de adoção de práticas gerenciais e os estados (unidades) da Federação, percebe-se que há diferenças entre eles, apesar de essas diferenças não poderem ser justificadas teoricamente. As maiores médias de grau de adoção de práticas gerenciais foram verificadas nos estados do Amazonas (3,53), Santa Catarina (3,30), Ceará (3,19), São Paulo (3,15), Distrito Federal (3,13), Paraná (3,06) e Bahia (3,04). Em ordem decrescente, os estados com menores graus de adoção de práticas gerenciais foram Minas Gerais (2,74), Rio Grande do Sul (2,59) e Rio de Janeiro (2,55). Os estados de Pernambuco e Maranhão foram excluídos desta análise por terem apresentado somente um caso cada (tabela 6.9). Tabela 6.9 – Grau de adoção de práticas gerenciais e Localização - Estado Frequência Percentual Amazonas Santa Catarina Ceará São Paulo Distrito Federal - Brasília Paraná Bahia Minas Gerais Rio Grande do Sul Rio de Janeiro Total Fonte: Dados da pesquisa 3 5 6 31 2 8 14 6 10 11 98 3,1% 5,1% 6,1% 31,6% 2,0% 8,2% 14,3% 6,1% 10,2% 11,2% Graus de Adoção Médios 3,53 3,30 3,19 3,15 3,13 3,06 3,04 2,74 2,59 2,55 Desvio Padrão 0,502 0,380 0,437 0,502 0,295 0,719 0,427 0,802 0,873 0,627 212 Considerando-se o desenvolvimento e o histórico industrial de cada estado, esperavase maior destaque para São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Ao contrário, São Paulo encontra-se somente na quarta posição dentre os estados por grau de adoção de práticas gerenciais. Mais surpreendente ainda, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, respectivamente, são os três estados com menores graus de adoção de práticas gerenciais da amostra desta tese. Certamente tais resultados refletem as propriedades da amostra não probabilística por conveniência desta tese, os quais já foram comentados anteriormente. Em relação às demais regiões da federação, percebe-se que a região Norte apresentou a maior média em termos de grau de adoção de práticas gerenciais da amostra desta tese (3,53), representada apenas por três empresas do Amazonas, seguida pela região Centro-Oeste (3,13), representada por somente duas empresas do Distrito Federal, região Nordeste (3,06), Sul (2,99) e Sudeste (2,93). Conforme visto na análise anterior, relativa aos estados da Federação, chama a atenção o fato de as empresas localizadas nas regiões Sul e Sudeste, que possuem trajetórias industriais mais longevas, serem as de menores graus de adoção de práticas gerenciais na amostra desta tese, ao contrário do que era esperado, conforme já mencionado (tabela 6.10). Tabela 6.10 – Grau de adoção de práticas gerenciais e Localização - Região Norte Centro-oeste Nordeste Sul Sudeste Total Fonte: Dados da pesquisa Frequência Percentual 3 2 21 29 43 98 4,1% 2,0% 20,4% 29,6% 43,9% Graus de adoção médios 3,53 3,13 3,06 2,99 2,93 Desvio Padrão 0,795 0,295 0,427 0,747 0,609 Quanto aos gêneros industriais (tabela 6.11), identifica-se que o de Material Eletrônico e de Comunicação é o que apresenta o maior grau de adoção de práticas inovadoras (3,5), seguido pelos ramos de Máquinas e Equipamentos (3,29), Artefatos 213 de Couros, de Viagem e Calçados (3,25), Produtos de Minerais Não-Metálicos (3,24), e Produtos Alimentícios e Bebidas (3,14). Os setores de Produtos Químicos (2,98), Artigos de Borracha e Plásticos (2,98), Máquinas, Aparelhos e Materiais Elétricos (2,94) e Produtos de Metal (2,86) apresentaram graus medianos de adoção de práticas inovadoras. Em ordem decrescente, os ramos que apresentaram os menores graus de adoção de práticas inovadoras foram o de Celulose, Papel e Produtos de Papel (2,83), Edição, Impressão e Reprodução de Gravações (2,83), Metalurgia Básica (2,73), Produtos Têxteis (2,69) e Móveis e Indústrias Diversas (2,33). Tabela 6.11 – Grau de adoção de práticas gerenciais e gênero industrial Gênero Industrial Material Eletrônico e de Comunicação Máquinas e Equipamentos Artefatos de Couros, de Viagem e Calçados Produtos de Minerais Não-Metálicos Produtos Alimentícios e Bebidas Produtos Químicos Artigos de Borracha e Plásticos Máquinas, Aparelhos e Materiais Elétricos Produtos de Metal Celulose, Papel e Produtos de Papel Edição, Impressão e Reprodução de Gravações Metalurgia Básica Produtos Têxteis Móveis e Indústrias Diversas Total (Casos Válidos) N 4 4 2 8 12 14 3 6 5 5 3 14 3 2 85 Freq. 4,7% 4,7% 2,4% 9,4% 14,1% 16,5% 3,5% 7,1% 5,9% 5,9% 3,5% 16,5% 3,5% 2,4% Média 3,500 3,292 3,250 3,242 3,141 2,982 2,979 2,944 2,867 2,833 2,833 2,728 2,688 2,333 D. Padrão 0,414 0,963 0,118 0,359 0,646 0,544 0,708 0,516 0,929 0,603 0,712 0,624 0,542 0,726 Fonte: Dados da pesquisa Em relação ao número de funcionários, verifica-se que as empresas maior grau de adoção de práticas gerenciais são aquelas com maior número de trabalhadores. Empresas com 1000 ou mais funcionários apresentaram o grau médio de adoção de práticas gerenciais mais elevado (3,30), em comparação com as demais. Em seguida, vêm as empresas que empregam entre 500 e 999 funcionários (2,98), as empresas que empregam entre 150 e 249 funcionários (2,98) e as empresas que empregam entre 250 e 499 funcionários (2,91), conforme apresentado na Tabela 6.12. 214 Tabela 6.12 – Grau de adoção de práticas gerenciais e número de funcionários Trabalhadores por Faixa Mais de 1000 De 500 a 999 De 250 a 499 De 150 a 249 Total Fonte: Dados da pesquisa Frequência Percentual 10 24 35 29 98 10,2% 24,5% 35,7% 29,6% Graus de adoção médios 3,30 2,98 2,91 2,98 Desvio Padrão 0,691 0,660 0,609 0,566 Ao serem comparadas as médias de grau de adoção de práticas gerenciais entre empresas de diferentes origens de capital (tabela 6.13), não se percebem diferenças. As organizações de capital estrangeiro, de capital nacional e capital misto não apresentaram diferenças entre as médias de grau de adoção de práticas gerenciais (2,98; 3,01 e 3,02 respectivamente). Essas médias são próximas da média geral de grau de adoção de práticas gerenciais da amostra desta tese (2,99). Tabela 6.13 – Grau de adoção de práticas gerenciais e origem de capital Origem capital Misto Nacional Estrangeira Total Missing Total Fonte: Dados da pesquisa Frequência Percentual 4 68 17 89 9 98 4,5% 76,4% 19,1% Graus de adoção médios 3,02 3,01 2,98 Desvio Padrão 0,756 0,598 0,706 A análise do desempenho financeiro das empresas incluídas na amostra desta tese abarca quatro dimensões: o crescimento da receita, o lucro médio, a rentabilidade sobre a receita e a rentabilidade sobre o patrimônio. Os indicadores utilizados para essas dimensões foram categorizados automaticamente pelo software (SPSS), gerando sete categorias em cada uma das variáveis, que foram, posteriormente, nomeadas de acordo com o tipo de variável. Por exemplo, a variável crescimento da receita foi categorizada entre “grande redução da receita” e “grande crescimento da receita”, sendo atribuídos scores que representavam a intensidade, negativa ou positiva, do 215 crescimento da receita, entre 1 e 7 respectivamente. Foram calculados os graus de adoção de práticas gerenciais médios em relação ao desempenho financeiro das empresas, conforme verificado nas tabelas 6.14 a 6.17. Em relação ao crescimento da receita, percebem-se concentrações em torno das categorias “estagnação” (21,4% da amostra), “pequeno crescimento” (12,2%) e “crescimento moderado” (22,4%) e “grande crescimento” (16,3%), demonstrando ligeira inclinação ao crescimento das empresas da amostra desta tese como um todo. Percentuais menores apresentaram as categorias “reduções pequenas” (13,3%), “moderadas” (10,2%) e “grandes” (4,1%) da receita. Neste caso, percebe-se que o grupo de empresas que apresentou maiores índices de crescimento da receita também apresentou maiores graus de adoção de práticas gerenciais médios, – variando entre 2,96 e 3,16. Tabela 6.14 – Crescimento da Receita Evolução da Receita Grande redução da receita Redução moderada da receita Pequena Redução Estagnação Pequeno crescimento Crescimento moderado Grande Crescimento Total Fonte: Dados da Pesquisa Frequência Percentual Percentual Acumulado 4 10 13 21 12 22 16 98 4,1% 10,2% 13,3% 21,4% 12,2% 22,4% 16,3% 4,1% 14,3% 27,6% 49,0% 61,2% 83,7% 100,0% Graus de adoção médios 2,94 2,88 2,75 3,03 3,16 2,96 3,09 Percebe-se, na amostra estudada, uma ligeira inclinação positiva em relação às faixas de lucro apresentadas pelas empresas. Dentre as empresas investigadas, 13,3% apresentaram “grande lucro”, 21,4% apresentaram “lucros moderados”, 15,3% apresentaram “pequenos lucros” e 19,4% não apresentaram “nem lucro nem prejuízo”. Dentre as demais empresas, 10,2% apresentaram “pequeno prejuízo”, “prejuízo moderado” e “grande prejuízo”. A distribuição das empresas por faixa de lucro aparece na tabela 6.15. Neste caso, apesar de serem mais sutis as diferenças 216 entre os grupos de empresas que apresentaram lucro e prejuízo, também se percebem graus de adoção de práticas gerenciais ligeiramente superiores nas empresas lucrativas, em especial nas empresas que obtiveram lucro moderado, que apresentaram o maior grau de adoção de práticas gerenciais (3,20). Tabela 6.15 – Faixas de Lucro Faixas Lucro Prejuízo Grande Prejuízo moderado Prejuízo Pequeno Nem lucro nem prejuízo Lucro Pequeno Lucro Moderado Lucro Grande Total Fonte: Dados da pesquisa Frequência Percentual Percentual Acumulado 10 10 10 19 15 21 13 98 10,2% 10,2% 10,2% 19,4% 15,3% 21,4% 13,3% 10,2% 20,4% 30,6% 50,0% 65,3% 86,7% 100,0% Graus de adoção médios 2,94 2,90 2,88 3,06 2,94 3,20 2,98 Em relação à rentabilidade sobre a receita, encontra-se na amostra desta tese um grande percentual de empresas que apresentam rentabilidade positiva. Do total de empresas da amostra, 13,3% classificaram-se na categoria de rentabilidade positiva grande sobre a receita, 31,6% obtiveram rentabilidade positiva moderada sobre a receita, 15,3% obtiveram rentabilidade positiva pequena sobre a receita, 21,4% obtiveram rentabilidade neutra (próxima de zero). Poucas empresas apresentaram rentabilidade negativa – 2,0% obtiveram rentabilidade negativa pequena, 8,2% obtiveram rentabilidade negativa moderada e somente 8,2% obtiveram rentabilidade negativa grande. Comparativamente à rentabilidade sobre a receita apresentada pelas empresas da amostra desta tese, percebe-se que há uma ligeira superioridade nos graus de adoção de práticas gerenciais das empresas mais rentáveis, ainda mais sutis do que em relação à lucratividade. Empresas com rentabilidade negativa demonstraram graus de adoção de práticas gerenciais, variando entre 2,88 e 3,03. Aquelas que obtiveram rentabilidade sobre a receita positiva apresentaram graus de adoção de práticas gerenciais, entre 2,84 e 3,24 (tabela 6.16). 217 Tabela 6.16 – Rentabilidade sobre a Receita Frequência Percentual Percentual Acumulado Rentabilidade Negativa Grande Rentabilidade negativa moderada Rentabilidade Negativa Pequena Rentabilidade Neutra Rentabilidade Positiva Pequena Rentabilidade Positiva Moderada Rentabilidade Positiva Grande Total Fonte: Dados da pesquisa 8 8 2 21 15 31 13 98 8,2% 8,2% 2,0% 21,4% 15,3% 31,6% 13,3% 8,2% 16,3% 18,4% 39,8% 55,1% 86,7% 100,0% Graus de adoção médios 2,88 3,03 2,88 2,87 3,24 3,02 2,84 Finalmente, em relação à rentabilidade sobre o patrimônio, percebe-se um número maior de empresas que apresentaram rentabilidade positiva, em especial nas categorias de pequena (24,5%) e grande (36,7%) rentabilidade, totalizando 61,2% das empresas da amostra. Verifica-se, ainda, que onze empresas apresentaram rentabilidade negativa grande (11,2%), seis apresentaram rentabilidade negativa moderada (6,1%), dez apresentaram rentabilidade negativa pequena, dez apresentaram rentabilidade neutra (10,2% cada). Em relação aos graus de adoção de práticas gerenciais, também se percebe que as empresas rentáveis apresentaram graus médios maiores do que as não rentáveis, com destaque para as empresas que apresentaram rentabilidade pequena ou moderada (scores = 3,05 e 4,5 respectivamente), neste último caso, com apenas uma ocorrência. Tabela 6.17 – Rentabilidade sobre o Patrimônio Rentabilidade Negativa Grande Rentabilidade Negativa Moderada Rentabilidade Negativa Pequena Rentabilidade Neutra Rentabilidade Positiva Pequena Rentabilidade Positiva Moderada Rentabilidade Positiva Grande Total Fonte: Dados da pesquisa Freq. Percentual Percentual Acumulado 11 11,2% 11,2% 6 6,1% 17,3% 10 10,2% 27,6% 10 10,2% 37,8% 24 24,5% 62,2% 1 1,0% 63,3% 36 36,7% 100,0% 98 Graus de adoção médios 3,02 2,86 2,67 3,18 3,05 4,5 2,94 218 As informações apresentadas anteriormente referem-se ao segundo objetivo específico desta tese, que é “investigar graus de adoção de práticas gerenciais em relação às características organizacionais e ao desempenho financeiro”, cuja hipótese correlacionada é “o grau de adoção das práticas gerenciais pesquisadas é diferenciado por características organizacionais como localização, gênero industrial, porte, origem de capital e desempenho financeiro”. As informações apresentadas evidenciam particularidades do movimento de adoção de inovações gerenciais, mais especificamente, a adoção de práticas inovadoras de gestão no Brasil, durante o final dos anos 1990 e início dos anos 2000. Não foram percebidas relações fortes entre grau de adoção de práticas gerenciais e algumas características organizacionais, como estado, região, gênero industrial e origem de capital. Ou melhor, apesar de terem sido verificadas algumas diferenças quanto ao nível de utilização de práticas inovadoras em diferentes grupos de organizações, de acordo com as características mencionadas, essas diferenças não são justificadas. Entretanto, foram identificadas diferenças de grau de adoção de práticas gerenciais investigadas entre porte organizacional, aqui avaliado pelo do número de funcionários, e desempenho financeiro. Observou-se que maiores empresas tendem a apresentar maiores graus de adoção das práticas gerenciais pesquisadas comparadas às empresas menores. De maneira semelhante, verificou-se que empresas mais lucrativas, mais rentáveis ou que apresentam maior crescimento da receita tendem a ter maiores graus de adoção das práticas gerenciais pesquisadas. Esses achados parecem validar parcialmente a hipótese antes mencionada, embora com base em estatística descritiva. Resultados mais conclusivos implicariam a realização de testes de significância estatísticas, o que não faz parte do escopo da técnica utilizada nesta etapa da tese. 219 Em síntese, as informações desta seção apresentaram um caráter meramente descritivo, de modo a permitir uma visão panorâmica do grande cenário de adoção de práticas gerais e sua relação com características e desempenho organizacionais, utilizando-se, para tanto, de uma seleção de práticas que buscaram representar as grandes áreas de inovação gerencial. O grande número de práticas utilizado adiciona um elevado nível de complexidade na interpretação desses resultados, reduzindo o poder de compreensão desse movimento. Por isso, mais adiante vão ser utilizadas técnicas estatísticas que permitem associar variáveis e interpretar os conceitos subjacentes ao objeto de estudo, para melhor lapidar o tratamento dos resultados. As técnicas escolhidas foram as de análise fatorial, da análise de conglomerados e da modelagem de equações estruturais, conforme será apresentado a seguir. 6.4. Grupos de Práticas O terceiro objetivo específico desta tese é “agrupar as práticas estudadas de acordo com os padrões de adoção das empresas brasileiras”, para testar a hipótese de que “as organizações tendem a adotar práticas inovadoras, isoladas ou em pacotes de práticas que se complementam, concentradas em áreas que lhes são mais significativas". Em presença de informações excessivamente abrangentes, com grande número de variáveis, que dificultam a interpretação dos dados em seu formato puro, torna-se necessário recorrer a técnicas de tratamento que permitam dar ordem a esse “caos aparente”. Se as variáveis são correlacionadas entre si, pode-se reduzir o seu número com a utilização da análise fatorial (factor analysis), conforme sugerido por Malhotra (1999), Mattar (2000), Aaker et al (2001) e ainda Hair (2005). A análise fatorial tem sido utilizada recentemente em publicações científicas em diversas áreas da administração para identificar as dimensões subjacentes, que 220 explicam as correlações entre um conjunto de variáveis, sintetizando as informações de um grande número de variáveis correlacionadas em um conjunto menor de variáveis não correlacionadas, os fatores. Um fator é uma variável ou construto não diretamente observável, mas que emerge após a análise fatorial com base nas variáveis de entrada. Esses fatores podem ser utilizados, posteriormente, para analisar os dados com o uso de outros tipos de análise multivariada. Para definir a pertinência desse tipo de análise a casos específicos, dois tipos de testes devem ser feitos (MALHOTRA, 1999; MATTAR, 2000; AAKER et al, 2001; HAIR, 2005). O primeiro é o teste de adequação da amostra de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO). O segundo é o teste alpha de Cronbach, que pode ser aplicado não somente às variáveis observáveis, de modo a avaliar a propriedade de aplicação do método, mas, também, aos fatores identificados, para avaliar sua consistência. Com valores esperados próximos de 1, ambos são testes de consistência interna, baseados na média de correlação inter-itens. Neste caso, os índices de consistência obtidos foram 0,698 para o KMO e 0,7425 para o alpha de Cronbach, o que valida a aplicação do método nesta tese. Comprovada a consistência do método, o próximo passo consiste na análise das comunalidades, que indicam a quantidade de variância pela qual cada variável é responsável. Assim como os dois indicadores anteriores, as comunalidades devem apresentar valores elevados, próximos de 1, em todas as variáveis que irão compor a análise. Caso contrário, deve-se considerar a hipótese de eliminação daquelas variáveis que apresentem valores reduzidos. Nesta tese, todos os valores de extração (comunalidades), exceto da prática terceirização, foram considerados elevados, devendo ser mantidas essas variáveis (tabela 6.16). Quanto à variável terceirização, ela também foi mantida, mesmo apresentando valor reduzido, para verificar as 221 relações que essa variável demonstra. As variáveis que representam o nível de utilização das práticas manutenção produtiva total, engenharia simultânea e gestão da qualidade total também apresentaram valores razoavelmente reduzidos, em menor intensidade. Tabela 6.18 – Comunalidades Inicial Extração Utilização atual da prática reengenharia 1,000 ,651 Utilização atual da prática parceria 1,000 ,614 Utilização atual da prática terceirização 1,000 ,497 Utilização atual da prática cultura de aprendizagem 1,000 ,742 Utilização atual da prática empowerment 1,000 ,657 Utilização atual da prática trabalho em equipes 1,000 ,659 Utilização atual da prática manutenção p. total 1,000 ,562 Utilização atual da prática engenharia simultânea 1,000 ,576 Utilização atual da prática tecnologia integrada 1,000 ,619 Utilização atual da prática células de produção 1,000 ,662 Utilização atual da prática just in time 1,000 ,635 Utilização atual da prática g. qualidade total 1,000 ,548 Método de Extração: Análise de Componentes Principais. Em seguida, calcula-se o número de fatores, a partir do método escolhido. Neste trabalho, foi utilizado o método do componente principal, utilizando-se o eingenvalue ou autovalor – um índice que representa a variância associada a um determinado fator. A literatura sugere que somente sejam utilizados os fatores com autovalores totais superiores a 1, uma vez que são esses fatores que explicarão a maior parte da variância existente. Esta análise sugere a retenção de quatro componentes, que explicam 61,83% da variância total da amostra (tabela 6.17). O primeiro componente, ou fator, explica sozinho 28,84% da variância de todas as variáveis envolvidas. O segundo fator explica, isoladamente 12,78% da variância da amostra, enquanto que o terceiro explica 10,40%, e o quarto, aproximadamente 9,81% da variância total da amostra. A partir do quinto fator, que apresenta eingevalue inferior a 1, não faz mais sentido agrupar os dados, uma vez que os ganhos de poder de explicação tornam-se decrescentes. 222 A etapa seguinte da análise fatorial é o calculo das correlações entre as variáveis observáveis e cada fator encontrado, identificando as associações entre eles. Essas correlações são denominadas cargas fatoriais. O resultado é uma matriz de componentes que apresenta esses índices e a composição dos fatores. Entretanto, essa matriz normalmente apresenta sobreposições que dificultam a interpretação dos resultados, muitas vezes distribuindo as variáveis em vários fatores. Tabela 6.19 – Variância Total Explicada Extração Inicial Somas das Cargas ao Quadrado Eigenvalues Componente Total % da % Total % da % Variância Cumulativo Variância Cumulativo 1 3,461 28,846 28,846 3,461 28,846 28,846 2 1,534 12,782 41,628 1,534 12,782 41,628 3 1,248 10,403 52,031 1,248 10,403 52,031 4 1,177 9,808 61,839 1,177 9,808 61,839 5 ,946 7,882 69,721 6 ,834 6,946 76,667 7 ,650 5,419 82,086 8 ,618 5,148 87,234 9 ,493 4,108 91,342 10 ,391 3,254 94,596 11 ,363 3,022 97,618 12 ,286 2,382 100,000 Método de Extração: Análise de Componentes Principais. Para solucionar esse problema, o método utiliza uma estratégia de rotação dos fatores, em especial a rotação varimax, que minimiza o número de variáveis com valores elevados em cada fator (AAKER et al, op.cit.), clarificando a relação entre cada variável e os fatores identificados. O resultado da rotação é uma matriz de componentes rotacionados, conforme apresentado na Tabela 6.18, na qual se identificam as correlações entre cada variável observável e os fatores ou componentes identificados. A seqüência da análise é a interpretação desses resultados e identificação de cada fator encontrado, caso seja possível. Os fatores identificados com base na amostra desta tese são parcialmente consistentes com aqueles identificados em Loiola et al (2003b). Entretanto, os objetivos do 223 referido trabalho (LOIOLA et al, op cit) referem-se exclusivamente a identificação e interpretação dos fatores subjacentes às variáveis estudadas. Nesta tese, a análise fatorial ultrapassa o escopo desses objetivos, uma vez que busca utilizar os fatores identificados como base para análises complementares. Isso exige maiores cuidados na análise dos fatores e na manutenção de variáveis que compõem cada fator. Tabela 6.20 - Matriz de Componentes Rotacionados Utilização atual da prática reengenharia Utilização atual da prática parceria Utilização atual da prática terceirização Utilização atual da cultura aprendizagem Utilização atual da prática empowerment Utilização atual do trabalho em equipes Utilização atual da manutenção p. total Utilização atual da engenharia simultânea Utilização atual da tecnologia integrada Utilização atual das células de produção Utilização atual da prática just in time Utilização atual da gestão da qualidade 1 ,209 ,689 0,066 ,762 ,788 ,769 ,370 0,036 ,126 ,178 ,406 ,333 Componente 2 3 0,022 -0,089 -0,021 0,091 ,438 ,143 ,182 -,352 0,084 -0,029 ,217 ,133 ,352 ,539 0,043 ,744 -,216 ,746 ,132 ,782 ,135 ,452 ,187 -,624 4 ,774 ,360 ,530 -0,068 ,165 -0,055 -0,097 ,137 -0,015 0,046 -,498 ,111 Método de Extração: Análise de Componentes Principais. Método de Rotação: Varimax com Normalização Kaiser. A Rotação Convergiu em 7 iterações. O primeiro fator identificado é composto pelas práticas parceria na cadeia de suprimentos (parceria), cultura de aprendizagem, empowerment e trabalho em equipes. O elevado índice alpha das variáveis envolvidas neste fator (0,7580) sugere sua aceitação. Com exceção da primeira prática, as demais são tipicamente focadas na gestão de pessoas e do trabalho, mais especificamente no desenvolvimento de pessoas nas organizações. É possível sugerir que houve algum tipo de viés com relação à prática parceria, possivelmente na compreensão da questão “o quanto as parcerias na cadeia de suprimentos são utilizadas atualmente na produção dessa fábrica?”. Aparentemente, a tradução da prática supply chain management para parcerias na cadeia de suprimentos levou os respondentes a se influenciaram com a expressão “parceria” e a 224 enfocarem mais as relações interpessoais com os fornecedores do que a questão de suprimento de insumos. Certamente, tal interpretação é pertinente, porque tal prática vem se colocando associada ao desafio de enxergar parceiros, e não apenas fornecedores envolvidos com a cadeia de suprimento. Dessa forma, vem se vinculando ao estabelecimento de contratos de longo prazo, certificação de fornecedores, atividades cooperativas e de suporte entre os envolvidos nas transações de suprimentos, maiores níveis de cooperação e confiança e menor importância de interações inspiradas em lógicas de ação exclusivamente competitivas. Apesar das explicações anteriores, a prática parceria na cadeia de suprimentos será eliminada do primeiro fator, para assegurar que o primeiro fator se componha de práticas exclusivamente de gestão de pessoas dentro de cada organização pesquisada. O segundo fator é composto pelas práticas manutenção produtiva total, engenharia simultânea, tecnologia integrada baseada em computadores e just in time. O índice alpha em relação às variáveis envolvidas neste fator, apesar de inferior ao mesmo índice relativo às variáveis do fator anterior, também sugere sua aceitação (0,5759). As três primeiras práticas são tipicamente voltadas para a gestão do processo produtivo, em especial com o desenvolvimento de produtos e do próprio processo produtivo. Engenharia simultânea e tecnologia integrada utilizam extensivamente a tecnologia da informação para projetar, desenvolver e fabricar produtos que normalmente apresentam elevado conteúdo tecnológico, de acordo com revisão de bibliografia desta fase. Manutenção produtiva total também é uma prática típica do ambiente de produção e se refere à preservação por maior período de tempo e melhor aproveitamento dos equipamentos, pelo treinamento extensivo da equipe de operadores para a realização de tarefas de manutenção preventiva e de pequenos reparos, ainda conforme definido na revisão bibliográfica desta tese. Entretanto, o 225 nível de utilização de tecnologia da informação dessa prática não é tão elevado quanto a engenharia simultânea e a tecnologia integrada. Já o just in time visa maior sincronização do processo produtivo, assegurando que os fluxos de entrada de matérias primas e componentes sejam mais adequados aos fluxos de saídas, reduzindo níveis de estoque e, consequentemente, os custos associados a esse fluxo, como já discutido nesta tese. Das quatro práticas posicionadas no fator 2, a que menos se ajusta teoricamente é o just in time, que será eliminada. Ademais o just in time apresentou uma carga fatorial elevada, porém negativa, em relação ao quarto fator, o que amplia sua inconsistência. O terceiro fator representa a combinação das práticas células de produção e gestão da qualidade total, sendo que esta última apresenta carga negativa, sugerindo uma relação inversamente proporcional entre a utilização de células de produção e gestão da qualidade total. Não há meios de justificar essa relação teoricamente. Historicamente, as células de manufatura são associadas ao modelo japonês de administração, que inclui também a gestão da qualidade total, o que torna inaceitável essa relação inversa, muito pelo contrário. Crê-se que esse fator não faz sentido e que as duas práticas devam ser desconsideradas enquanto fatores. O quarto e último fator encontrado incorpora as práticas reengenharia, terceirização e just in time, sendo que esta última apresenta carga fatorial negativa, o que sugere uma relação inversamente proporcional. Destaca-se o fato de que just in time também apresenta elevada carga fatorial positiva no fator dois devendo ser, portanto, eliminada, também, do quarto fator. As duas práticas remanescentes no quarto fator são representativas de práticas mais focadas na gestão do desempenho da organização como um todo. A reengenharia se concentra na reformulação dos processos empresariais visando à obtenção de ganhos de desempenho que incluem melhorias em 226 tempo, qualidade e custos. Entretanto, evidências sugerem que a reengenharia tenha sido adotada no Brasil com um forte viés associado a demissões em grande escala, voltadas a reduções de custos, mais uma vez de acordo com a revisão de literatura desta tese. A terceirização também passa por problema semelhante. Teoricamente, a terceirização visa eliminar esforços internos que não contribuem diretamente para o negócio central de uma organização, transferindo esses esforços para outras organizações parceiras e permitindo que a organização contratante se foque em seu negócio central (core business). Entretanto, no Brasil, com base na revisão de pesquisas sobre esta prática, nesta tese, tende-se a concluir que houve uma tendência de terceirizações focadas na eliminação de custos com pessoal, em serviços como limpeza, segurança e serviços de tecnologia. Sendo assim, acredita-se que este fator se associa a práticas voltadas para o desempenho das organizações, em especial na dimensão custos. Quadro 6.1 – Fatores Identificados na Amostra Fatores Práticas 1. Práticas Inovadoras de Gestão de Pessoas e do Cultura de Aprendizagem Desenvolvimento de Pessoas Trabalho em Equipe Empowerment 2. Práticas Inovadoras de Gestão do Processo de Manutenção Produtiva Total Produção Engenharia Simultânea Tecnologia Integrada 3. Práticas Inovadoras de Gestão do Desempenho e Reengenharia dos Custos Terceirização Fonte: Dados da pesquisa. Dessa forma, das doze práticas incluídas na pesquisa, somente oito foram mantidas, devido a inconsistências nos parâmetros calculados, e essas puderam ser reduzidas a três fatores que acomodaram satisfatoriamente uma grande parte da variância existente nos dados originais (51,43%), facilitando sua utilização em análises adicionais, sem perda significativa de poder explicativo. Com a identificação desses três grupos de práticas, o terceiro objetivo específico desta tese foi alcançado, sendo que a hipótese relacionada a esse objetivo foi parcialmente 227 validada, tendo em vista que, do conjunto pesquisado de práticas, emergiram três grupos de práticas, mas que esses três grupos não incorporaram quatro práticas daquelas originalmente investigadas: qualidade total, parcerias na cadeia de suprimento, células de produção e just in time. Apesar disso, é possível afirmar que as organizações tendem a adotar práticas inovadoras, concentradas em áreas que lhes são mais significativas, de forma isolada ou em pacotes que se complementam. Como substituições das variáveis originais, serão utilizadas, a seguir, suas combinações, com a somatória dos níveis de utilização e tempo de uso das práticas que compõem cada fator, conforme apresentado no quadro 6.1. 6.5. Tipologia de empresas da amostra Nesta seção, resultados associados ao quarto objetivo específico desta tese, de “classificar organizações de acordo com o padrão de adoção de práticas inovadoras de administração e de produção”, assim, como com sua hipótese associada “as organizações apresentam certas regularidades de comportamento em inovação, relacionadas às suas características estruturais, como porte, setor de atuação, origem de capital e processo produtivo, às suas estratégias genéricas, além de às suas experiências com a utilização de práticas inovadoras” vão ser apresentados e discutidos. Para tanto, os dados foram tratados com a análise de conglomerados (análise de clusters ou de agrupamentos), conforme apresentado em Malhotra (1999) Aaker et al (2001), e Hair (2005), por exemplo. Essa análise busca integrar indivíduos ou objetos a grupos, com base em semelhanças e diferenças existentes em uma determinada população a partir de um conjunto previamente selecionado de variáveis. Os agrupamentos resultantes dessa análise devem exibir elevada homogeneidade interna 228 e elevada heterogeneidade externa para que seja possível, ao mesmo tempo, separar aqueles elementos que são diferentes e agrupar aqueles que apresentem semelhanças. Embora venha sendo mais utilizada em pesquisas de marketing, em especial para o desenvolvimento de segmentos de consumidores, a análise de conglomerados pode ser uma técnica eficaz para analisar indivíduos e grupos de indivíduos, em qualquer área de pesquisa. Uma vez criados os conglomerados, é possível, então, descrevê-los, seja pelas próprias variáveis que os agrupam, ou por outras variáveis que possam complementar a análise, sugerindo algo como a formação de taxonomias (tipologias agregadoras). Um dos problemas a serem resolvidos quando da utilização da análise de clusters é a decisão de identificar em quantos grupos os indivíduos devem ser estudados. A maneira mais comum de se realizar essa tarefa é o método hierárquico, aglomerativo, segundo o qual os elementos de uma amostra são comparados, um a um, até que sejam identificados os dois casos que apresentam as maiores similaridades entre si. Esses dois casos são, então, combinados entre si, formando um agrupamento (cluster). O método prossegue, então, identificando novos agrupamentos e incluindo novos casos até que toda a amostra componha um único agrupamento. Essa combinação pode ser visualizada por um gráfico, denominado dendrograma, que apresenta essas relações, identificando visualmente o número de grupos ou clusters existentes na amostra estudada (HAIR, 2005). As principais críticas em relação à análise de conglomerados são as de que, (i) apesar de ser apresentada como uma técnica quantitativa multivariada, com razoável complexidade metodológica, ela é, na realidade, uma técnica meramente descritiva, sem base teórica e não-inferencial (HAIR, 2005); e (2) essa técnica não apresenta 229 bases estatísticas sobre as quais seria possível esboçar inferências de uma amostra para uma população, e é usada principalmente como uma técnica exploratória. 6.5.1. Identificação do número de clusters na amostra Nesta tese, os clusters foram identificados utilizando-se variáveis geradas com a combinação do nível de utilização e tempo de uso das práticas que compõem cada fator identificado na seção anterior. Ou seja, foram criadas três novas variáveis que representam os três fatores identificados, pelo cálculo das médias das médias das duas variáveis e de todas as práticas que foram identificadas em cada fator, resultando em scores representativos de o quanto cada empresa utiliza cada um dos três fatores – Gestão de Pessoas, Gestão da Produção e Gestão dos Custos. Em seguida, com o método de agrupamento hierárquico, foi identificado como cinco o número de grupos existentes na amostra, que apresentariam o poder de associar com maior homogeneidade interna e heterogeneidade externa os 98 casos da amostra desta tese. O resultado dos agrupamentos está representado na tabela 6.19 e na figura 6.6, pelos centros finais dos clusters. A interpretação dos resultados sugere o desenvolvimento de uma taxonomia ou tipologia das organizações com base nos resultados encontrados (HAIR, 2005), conforme realizado, por exemplo, em Bastos e Borges-Andrade (2002), em Bastos (1994), em Bertero (1981) e Miles e Snow (2003). Tabela 6.21 – Centros Finais dos Clusters Gestão de Pessoas Gestão da Produção Gestão do Desempenho / Custos Fonte: Dados da pesquisa Cluster 1 Cluster 2 Cluster 3 Cluster 4 Cluster 5 3,65 2,06 3,28 2,21 3,02 2,92 2,25 3,01 1,75 1,74 3,25 2,56 2,05 1,64 2,59 230 Figura 6.6 – Centros Finais dos Clusters 4,00 3,50 3,00 2,50 2,00 1,50 1,00 0,50 0,00 1 2 Gestão de Pessoas 3 Gestão da Produção 4 5 Gestao dos Custos Fonte: Dados da Pesquisa 6.5.2. Descrição e análise dos agrupamentos identificados O primeiro agrupamento identificado, contendo 16 empresas, apresenta os valores mais elevados relativamente aos fatores 1 e 3, que representam práticas inovadoras de gestão de pessoas (F1) e práticas inovadoras de administração dos custos (F3). Possui, ainda, valor relativamente moderado em relação ao fator 2, que representa práticas inovadoras de gestão da produção (F2). Tais resultados sugerem que este grupo de empresas tem maior nível de inovação nas três dimensões. Este agrupamento é o que detém a maior média de adoção de inovações, em relação aos demais (3,24). É, também, o que se caracteriza por maior tempo de utilização de práticas inovadoras, tendo começado por volta da primeira metade da década de 1990. Suas empresas estão localizadas principalmente na região Sudeste, em São Paulo, mas também as empresas localizadas na Bahia são expressivas. Os principais ramos industriais que compõem este agrupamento são os de Produtos Químicos, de Artigos de Plástico e Borracha, de Produtos de Minerais Não-Metálicos e de Metalurgia Básica. 231 Quadro 6.2 Cluster 1 – Inovadores Intensivos Média de Adoção de Inovações Tempo de Adoção Estado Região Setores CNAE No. Funcionários Origem do Capital País de Origem Processo de Produção Nível de Concorrência Variações Imprevisíveis no Nível de Demanda do Cliente Variações Imprevisíveis no Tipo de Produto Exigido Pelo Cliente Variações Imprevisíveis nas Matérias Primas Estratégia Genérica Crescimento da Receita Lucratividade Média Rentabilidade sobre a Receita Rentabilidade sobre o Patrimônio 3,24 Entre 1990 e 1995 (Entre dez e quinze anos) São Paulo Bahia Sudeste Nordeste Produtos Químicos Artigos de Plástico e Borracha Produtos de Minerais Não-Metálicos Metalurgia Básica Entre 150 e 249 funcionários Entre 250 e 499 Funcionários Nacional Brasileira Por Encomenda Processo Contínuo Alto Moderadamente 2,93 50% 25% 56,3% 25% 31,3% 12,5% 12,5% 12,5% 31,3% 25,0% 57,1% 64,3% 33,3% 33,3% 53,3% 33,3% Muito Pouco 33,3% 40,0% Moderadamente Moderadamente 40,0% 46,7% Muito Diferenciação Custos Estagnação Pequeno Crescimento Crescimento Moderado Lucro Moderado Grande Lucro Rentabilidade Moderada Pequena Rentabilidade Pequena Rentabilidade 26,7% 53,3% 26,7% 31,3% 18,8% 25,0% 25,0% 18,8% 37,5% 12,5% 25,0% Rentabilidade Moderada Grande Rentabilidade 6,3% 37,5% Fonte: Dados da pesquisa As empresas pertencentes ao primeiro agrupamento identificado possuem principalmente entre 150 e 499 funcionários. Esse agrupamento é o que apresenta o menor percentual de empresas com capital nacional, comparativamente à amostra e aos demais agrupamentos. As organizações desse agrupamento utilizam, como processo produtivo, principalmente, a produção por encomenda e o processo contínuo. Segundo as respostas obtidas, esse agrupamento se caracteriza, ainda, por apresentar 232 elevado nível de competição, enfrentar um nível também elevado de variações imprevisíveis com relação à demanda do cliente e em variações na matéria prima; todavia, as variações imprevisíveis no tipo de produto exigido pelos clientes são moderadas ou baixas. As estratégias genéricas utilizadas pelas empresas desse agrupamento são, principalmente, de diferenciação. Em termos de resultados financeiros, as organizações do primeiro agrupamento não apresentaram diferenças significativas em comparação com as empresas dos demais segmentos, mas apresentaram tendência à estagnação ou baixo crescimento da receita. Ainda, em termos de rentabilidade, essas organizações apresentaram valores moderados, tanto sobre a receita quanto sobre o patrimônio (quadro 6.2). O segundo agrupamento, por sua vez, apresenta valores reduzidos ou moderados em todos os fatores que compõem a análise, o que sugere uma postura mais conservadora por parte das empresas que o compõem – 20 empresas. Esse agrupamento apresenta a segunda menor média de adoção de inovações (2,32) e vem adotando práticas inovadoras a partir de 1995, principalmente. Além de São Paulo e outros Estados da Região Sudeste, as organizações deste agrupamento também se concentram na Região Sul do país, em especial no Rio Grande do Sul. As indústrias do segundo cluster atuam principalmente nos ramos de Metalurgia Básica, de Produtos Químicos e Máquinas, de Aparelhos e Materiais Elétricos, e possuem até 1000 funcionários em seu quadro de pessoal. São empresas de capital principalmente nacional, que utilizam diversos tipos de processo produtivo – por encomenda, em processo contínuo e por lotes. As empresas desse agrupamento afirmam enfrentar elevado nível de concorrência, com elevado nível de variações imprevisíveis na demanda dos clientes e de variações imprevisíveis no tipo de produto exigido pelos clientes, mas com poucas variações imprevisíveis nas matérias primas. 233 Essas empresas costumam adotar estratégias genéricas híbridas (meio-termo) ou de custos. Quadro 6.3 Cluster 2 – Inovadores Moderados Média de Adoção de Inovações Tempo de Adoção Estado Região Setores CNAE No. Funcionários Origem do Capital País de Origem Processo de Produção Nível de Concorrência Variações Imprevisíveis no Nível de Demanda do Cliente Variações Imprevisíveis no Tipo de Produto Exigido Pelo Cliente Variações Imprevisíveis nas Matérias Primas Estratégia Genérica Crescimento da Receita Lucratividade Média Rentabilidade sobre a Receita Rentabilidade sobre o Patrimônio 2,32 Entre 1995 e 2000 (Entre 5 e 10 anos) São Paulo Rio Grande do Sul Sudeste Sul Metalurgia Básica Produtos Químicos Máquinas, Aparelhos e Materiais Elétricos Até 1000 Funcionários (Distribuídos) Nacional 2,08 25% 25% 40,0% 45,0% 25,0% 20,0% 15,0% 95,0% 82,4% Brasileira Por Encomenda Processo Contínuo Por Lotes Alto Muito 82,4% 26,3% 26,3% 26,3% 57,9% 44,4% Totalmente Moderadamente 33,3% 31,6% Muito Sempre Pouco 26,3% 21,1% 47,4% Moderadamente Custos Meio-Termo Distribuído (Tendência a Pequeno Crescimento) Distribuído (Tendência a prejuízo) Pequena Rentabilidade Rentabilidade Moderada Grande Rentabilidade Pequena Rentabilidade 21,1% 36,8% 52,6% 15,0% 25,0% 15,0% 25,0% Grande Rentabilidade 50,0% Fonte: Dados da pesquisa Em termos de resultados financeiros, essas organizações apresentam crescimento da receita e lucratividade classificados nas diferentes categorias e elevados índices de rentabilidade, especialmente em rentabilidade sobre o patrimônio (quadro 6.3). Já o terceiro agrupamento, um conjunto de vinte casos, apresenta valores elevados em relação aos fatores 1 e 2 e o segundo valor mais baixo em relação ao fator 3, gestão dos custos. Se, por um lado, essas empresas são inovadoras em práticas de gestão de 234 pessoas e em práticas de gestão da produção, apresentam certa despreocupação com as práticas inovadoras de gestão dos custos. Em geral, as empresas do terceiro cluster caracterizam-se por um nível moderado de adoção de inovações (2,93) próximo da média geral de adoção de todas as empresas investigadas (2,99). Essas empresas também iniciaram a adoção de inovações por volta de 1995. Esse agrupamento apresenta expressiva participação de empresas situadas no Estado do Ceará, além das empresas situadas na Região Sudeste, que possui a maior participação na amostra. Tipicamente, são empresas dos ramos de Produtos Alimentícios e Bebidas e de Produtos de Minerais Não-Metálicos. Em relação ao número de funcionários, as empresas desse agrupamento apresentam uma distribuição eqüitativa, não se concentrando em qualquer das faixas. A propriedade do capital dessas empresas é predominantemente nacional, em percentual proporcional àquele presente na amostra desta tese. O processo de produção utilizado pelas empresas do terceiro agrupamento é tipicamente por encomenda ou por processo contínuo. Os respondentes dessas empresas afirmaram que o nível de concorrência enfrentado por eles é muito alto, que enfrentam níveis moderados de variações imprevisíveis no nível de demanda dos clientes, variações imprevisíveis no tipo de produto exigido pelo cliente e nas matérias primas em nível baixo ou moderado. Curiosamente, essas empresas afirmam utilizar estratégias genéricas de custos. As empresas do terceiro agrupamento apresentam tanto o crescimento da receita quanto lucratividade de moderados a grandes, e comparativamente às empresas da amostra, menores níveis de rentabilidade sobre receita e rentabilidade sobre o patrimônio (quadro 6.4). 235 Quadro 6.4 Cluster 3 – Inovadores Intensivos Indiferentes a Custos Média de Adoção de Inovações Tempo de Adoção Estado 2,93 Por volta de 1995 (2,5) São Paulo Ceará Sudeste Nordeste Produtos Alimentícios e Bebidas Produtos de Minerais Não-Metálicos 35,0% 15,0% 45,0% 25,0% 30,0% 15,0% No. Funcionários Origem do Capital Distribuídos Equilibradamente Nacional 78,9% País de Origem Processo de Produção Brasileira Por Encomenda Processo Contínuo Alto Muito Alto Moderadamente 78,9% 26,3% 31,6% 36,8% 31,6% 42,1% Muito Pouco 15,8% 36,8% Moderadamente Pouco 36,8% 47,4% Moderadamente Muito Custos Meio-Termo Crescimento Moderado Grande Crescimento Pequeno Lucro Lucro Moderado Grande Lucro Pequena Rentabilidade Rentabilidade Moderada Pequena Rentabilidade 21,1% 21,1% 42,1% 42,1% 25,0% 25,0% 20,0% 30,0% 10,0% 25,0% 35,0% 30,0% Grande Rentabilidade 35,0% Região Setores CNAE Nível de Concorrência Variações Imprevisíveis no Nível de Demanda do Cliente Variações Imprevisíveis no Tipo de Produto Exigido Pelo Cliente Variações Imprevisíveis nas Matérias Primas Estratégia Genérica Crescimento da Receita Lucratividade Média Rentabilidade sobre a Receita Rentabilidade sobre o Patrimônio Fonte: Dados da pesquisa O quarto agrupamento, que contém 22 empresas, apresenta valores reduzidos em relação aos fatores 2 e 3, enquanto apresenta valor moderado em relação ao fator 1 – práticas inovadoras de gestão de pessoas, sugerindo certo foco nesse campo. É o segmento que apresenta o menor índice de adoção de inovações de todos os identificados nesta tese (2,0). As empresas deste agrupamento também são as que iniciaram suas atividades inovativas mais tardiamente, por volta de 1996 a 1997. São 236 empresas concentradas na Região Sudeste, com destaque para empresas situadas no Rio de Janeiro, distribuídas em diversos ramos industriais, especialmente Celulose, Papel e Produtos de Papel, Máquinas, Aparelhos e Materiais Elétricos, e Móveis e Indústrias Diversas. Quadro 6.5 Cluster 4 – Inovadores Moderados com Foco em Gestão de Pessoas Média de Adoção de Inovações Tempo de Adoção Estado Região Setores CNAE No. Funcionários Origem do Capital País de Origem Processo de Produção Nível de Concorrência Variações Imprevisíveis no Nível de Demanda do Cliente Variações Imprevisíveis no Tipo de Produto Exigido Pelo Cliente Variações Imprevisíveis nas Matérias Primas Estratégia Genérica Crescimento da Receita Lucratividade Média Rentabilidade sobre a Receita Rentabilidade sobre o Patrimônio 2,00 A partir de 2000 – Por volta de 1996 São Paulo Rio de Janeiro Sudeste Sul Produtos Químicos Produtos Metalurgia Básica Celulose, Papel e Produtos de Papel Produtos Alimentícios e Bebidas Máquinas, Aparelhos e Materiais Elétricos Móveis e Indústrias Diversas Até 499 Funcionários Nacional Estrangeira Brasileira Por Encomenda Por Lotes Alto Muito Alto Equilibrado 18,2% 31,8% 59,1% 22,7% 13,6% 13,6% 13,6% 9,1% 9,1% 9,1% 77,3% 75% 20,0% 75,0% 42,9% 23,8% 42,9% 33,3% Pouco 38,1% Moderadamente Pouco 33,3% 33,3% Moderadamente Muito Custos Meio-Termo Crescimento Moderado Grande Crescimento Nem Lucro Nem Prejuízo Pequeno Lucro Lucro Moderado Pequena Rentabilidade Rentabilidade Moderada Pequena Rentabilidade 28,9% 33,3% 38,1% 38,1% 27,3% 18,2% 27,3% 18,2% 18,2% 18,2% 31,8% 27,3% Grande Rentabilidade 22,7% Fonte: Dados da pesquisa Essas empresas possuem até 499 funcionários, capital nacional e processos de produção por encomenda. Seus dirigentes declararam que enfrentam um nível muito 237 alto de concorrência e baixo ou moderado nível de variações imprevisíveis, tanto em relação à demanda dos clientes, quanto ao tipo de produto exigido pelos clientes e nas matérias primas. Informaram, ainda, que adotam estratégias genéricas de meio termo ou de custos. Ademais, suas empresas apresentam nível de moderado a grande de crescimento da receita, baixos índices de lucratividade e índices moderados de rentabilidade sobre o patrimônio e receita (quadro 6.5). O quinto e último agrupamento, composto por vinte empresas, apresenta valores elevados em relação aos fatores 1 e 3, embora em menor nível que o primeiro, e apresenta, ainda, reduzido valor em relação ao fator 2 – gestão da produção, também sugerindo a pouca importância dada pelas empresas às práticas gerenciais nessa área. Esse agrupamento também apresenta baixo índice geral de adoção de inovações em comparação com a amostra geral (2,45). Suas empresas iniciaram seu processo de modernização gerencial por volta de meados da década de 1990, mais precisamente em 1993. Assim, como o primeiro cluster estudado, apresenta uma significativa participação de empresas baianas, além das empresas situadas em São Paulo. As empresas desse grupo atuam em diversos ramos da indústria, com destaque para o de Produtos de Minerais Não-Metálicos e Metalurgia Básica. São empresas que possuem até 499 funcionários, e possuem capital de origem nacional, em nível ligeiramente maior que a média. Utilizam processos de produção tipicamente por processo contínuo, enfrentam níveis de moderados a altos de concorrência e enfrentam níveis de baixos a moderados de variações imprevisíveis com relação à demanda dos clientes. Essas empresas também enfrentam níveis de moderados a baixos de variações imprevisíveis no tipo de produto exigido pelos clientes e de variações imprevisíveis nas matérias primas (quadro 6.6). 238 Quadro 6.6 Cluster 5 – Inovadores Moderados Indiferentes a Produção Média de Adoção de Inovações Tempo de Adoção Estado Região Setores CNAE No. Funcionários Origem do Capital País de Origem Processo de Produção Nível de Concorrência Variações Imprevisíveis no Nível de Demanda do Cliente Variações Imprevisíveis no Tipo de Produto Exigido Pelo Cliente Variações Imprevisíveis nas Matérias Primas Estratégia Genérica Crescimento da Receita Lucratividade Média Rentabilidade sobre a Receita Rentabilidade sobre o Patrimônio 2,45 Entre 1995 e 2000 – Por volta de 1998 São Paulo Bahia Sudeste Nordeste Produtos de Minerais Não-Metálicos Metalurgia Básica Produtos Alimentícios e Bebidas Até 499 Funcionários Nacional Estrangeira Brasileira Processo Contínuo Por Encomenda Moderado Alto Pouco 35,0% 25,0% 45,0% 35,0% 20,0% 20,0% 15,0% 75,0% 84,2% 15,8% 84,2% 50,0% 25,0% 35,0% 45,0% 20,0% Moderadamente Sempre Moderadamente 45,0% 20,0% 50,0% Pouco Pouco 20,0% 25,0% Moderadamente Muito Custos Diferenciação Pequeno Crescimento (Distribuídos) Crescimento Moderado Grande Crescimento Distribuídos Rentabilidade Moderada Grande Rentabilidade Rentabilidade Neutra 45,0% 25,0% 50,0% 20,0% 15,0% 10,0% 25,0% Pequena Rentabilidade Grande Rentabilidade 15,0% 40,0% 30,0% 25,0% 15,0% Fonte: Dados da pesquisa Paradoxalmente, as empresas desse segmento apresentam maiores percentuais de adotantes de estratégias genéricas de custos, e, em menor escala, de diferenciação. São empresas que apresentam elevados níveis de crescimento da receita, de rentabilidade sobre o patrimônio e sobre a receita, e lucratividade distribuída entre todas as categorias. A interpretação dos resultados acerca dos cinco agrupamentos 239 sugere a classificação dos agrupamentos conforme apresentado no quadro 6.7, adiante. Quadro 6.7 – Interpretação e Classificação dos Clusters Cluster 1 - Inovadores Intensivos Cluster 2 - Inovadores Moderados Cluster 3 - Inovadores Intensivos Indiferentes a Custos Cluster 4 - Inovadores Moderados com Foco em Gestão de Pessoas Cluster 5 - Inovadores Moderados Indiferentes a Produção Fonte: Dados da pesquisa A análise realizada nesta seção demonstra a possibilidade de identificar grupos com características semelhantes em amostras e populações de qualquer natureza. Com a aplicação da análise de clusters, é possível subdividir amostras e populações em subgrupos que permitam identificar nuances de comportamento, de acordo com variáveis selecionadas. As organizações estudadas puderam ser agrupadas de maneira que fosse possível identificar padrões de adoção de inovações, conforme proposto na quarta hipótese desta tese. Foi possível, ainda, identificar outras diferenças e semelhanças de comportamento, associadas aos perfis identificados. Entretanto, persiste o desafio de selecionar as variáveis que sejam mais significativas para a realização dessa análise, tanto para o agrupamento dos casos quanto para a identificação das diferenças que façam sentido. Somente a cuidadosa preparação da pesquisa e minuciosa seleção de variáveis poderão garantir análises de agrupamentos que façam sentido, e que contribuam para percepções originais e a construção de taxonomias ou tipologias que aumentem o conhecimento acerca do objeto de estudo. 6.6. Modelagem de Equações Estruturais Esta seção relaciona-se ao objetivo específico de “associar os padrões de adoção de práticas inovadoras ao desempenho operacional e ao desempenho financeiro”, cuja hipótese correlata é: “A adoção de práticas inovadoras associa-se a ganhos de 240 desempenho operacional e financeiro, que justificam racionalmente as decisões de adoção, reforçando a propensão à continuidade de uso”. Modelagem de equações estruturais (MEE) é método multivariado de análise quantitativa, que, segundo Codes (2005), se caracteriza pela capacidade de especificar, estimar e testar relações hipotéticas entre um grupo de variáveis observáveis, demonstrando e/ou confirmando a existência de variáveis latentes e relações de associação, e ainda de estimar o erro de mensuração do processo de estimação (HAIR 2005). De maneira geral, a MEE utiliza um conjunto de equações separadas de regressão múltipla, mas interdependentes, simultaneamente, com a especificação do modelo estrutural utilizado (HAIR, 2005). Um dos modos de proceder da MEE é a construção de diagramas de caminhos, que servem tanto para entrada de dados quanto para a saída dos resultados. Como entrada de dados, o diagrama de caminhos ilustra as relações hipotéticas de dependência esperadas, de acordo com a teoria abraçada e com as hipóteses dos pesquisadores sobre o objeto de estudo. Como saída, o diagrama de caminhos apresenta os resultados das relações testadas (HAIR, 2005). A técnica permite a construção de modelos alternativos e teste de suas validades, de modo que seja possível identificar o que melhor explica a relação entre as variáveis, assim como o que se ajusta completa ou parcialmente às teorias abraçadas ou, ainda, sugerindo novas hipóteses sobre relações envolvidas no objeto de estudo. Assim como na análise fatorial, alguns testes de confiabilidade são utilizados para informar a decisão de aceitação de modelos: o BBNFI (Bentler-Bonnet Normed Fit Index), o BBNNFI (Bentler-Bonnet Non-Normed Fit Index), o CFI (Comparative Fit Index) e o RMSEA (Root Mean Square Error of Approximation). Tais testes indicam a proporção na melhoria de ajuste geral do modelo proposto pelo pesquisador, exceto 241 o último deles, que representa o desajuste do modelo (CODES, 2005). Para que seja aceito o modelo, os valores dos três primeiros testes devem ser próximos de 1, enquanto que o do último deve apresentar valor reduzido, inferior a 0,07 (sete por cento). Uma discussão mais aprofundada sobre esses índices pode ser encontrada em Codes (2005). Outra importante medida utilizada na interpretação do modelo é o coeficiente de determinação (R2), que representa a percentagem da variabilidade presente em uma variável dependente que foi explicada pela independente (CODES, 2005). 6.6.1. Relações entre utilização de práticas inovadoras de gestão, desempenho operacional, desempenho financeiro e propensão à continuidade de uso Inicialmente, será apresentado o modelo que norteia as análises desta seção, com a apresentação de todas as variáveis envolvidas e das associações esperadas, conforme descrito na hipótese 5 deste trabalho. A lógica do modelo proposto é a de que a adoção de práticas inovadoras de gestão, subdivididas em três conjuntos – práticas inovadoras de gestão de pessoas, práticas inovadoras de gestão da produção e práticas inovadoras de gestão do desempenho e dos custos – tende a influenciar o desempenho organizacional, tanto operacional quanto financeiro, o que, em contrapartida, influencia também a propensão à continuidade de uso. Ademais, a utilização de práticas inovadoras de gestão, isoladamente, tende a influenciar também a propensão à continuidade de uso. A figura 6.7 apresenta as relações entre as variáveis que compõem esta análise. Entretanto, uma das características da modelagem de equações estruturais se refere ao número de variáveis necessárias para construção de um modelo, sendo recomendada uma proporção de cerca de dez casos estudados para cada variável observável. Como 242 a amostra, neste trabalho, consistiu de 98 casos, com um considerável número de missing cases em algumas variáveis, o limite máximo de variáveis envolvidas no modelo se limitou a dez, sendo necessário construir um modelo para cada construto, ao invés de um único modelo que envolvesse todas as variáveis, relativas a todos os construtos. Figura 6.7 – Práticas inovadoras, desempenho operacional, desempenho financeiro e propensão à continuidade de uso Práticas Inovadoras de Gestão de Pessoas Cultura de Aprendizagem Empowerment Trabalho em Equipe Práticas Inovadoras de Gestão Desempenho e dos Custos Manut.Produt. Total Tec.Integrada Baseada Engenharia Simultânea em Computadores Práticas Inovadoras de Gestão Melhorias em Qualidade Reduções de Custos Práticas Inovadoras de Gestão da Produção Desempenho Operacional Lucratividade Desempenho Financeiro Melhorias em Respons. Reengenharia Terceirização Rentabilidade s/ Patrimônio Rentabilidade s/ Ativo Propensão à Continuidade e Uso Prop. À Continuidade Uso Fonte: Dados da pesquisa Os diagramas de caminho avaliados foram resultantes de análises fatoriais preliminares, que identificaram três construtos (variáveis latentes) com base no banco de dados utilizado, conforme visto em seção anterior. Os dois primeiros fatores – práticas inovadoras de gestão de pessoas e práticas inovadoras de gestão do processo de produção – apresentaram consistência interna aceitável (alpha de Cronbach, 243 respectivamente, iguais a 0,758 e 0,576), e foram utilizados na íntegra na modelagem. O terceiro fator identificado – práticas inovadoras de gestão do desempenho e dos custos, entretanto, apresentou um alpha muito reduzido (0,2715), o que desencorajou sua utilização como construto independente. Dessa forma, foram construídos modelos que utilizaram as variáveis relativas ao nível de utilização da terceirização e da reengenharia isoladamente, sem a formação de variável latente. Entretanto, após a construção dos modelos propostos, o segundo modelo, relativo à utilização de práticas inovadoras de gestão do processo de produção e o desempenho operacional e financeiro e a propensão à continuidade de uso não convergiu. Ou seja, não foi processado pelo software (EQS), devido a problemas de consistência interna, sendo abandonado. Em substituição ao segundo modelo, foi incluída na análise a interpretação da influência das células de manufatura, isoladamente, sobre os desempenhos financeiro e operacional e sobre a propensão à continuidade de uso. Mesmo tendo sido desconsiderado pelos resultados da análise fatorial, o construto representado pelas células de manufatura ainda explicava, sozinho, aproximadamente 10% da variância total verificada na amostra. Além dos construtos relativos às práticas inovadoras, foram testados outros três construtos, referentes aos resultados esperados com a adoção das práticas. O primeiro representa o desempenho operacional, incluindo três dimensões – melhorias em qualidade, reduções de custos e melhorias em responsividade. Foi avaliado, ainda, o desempenho financeiro, também incluindo três dimensões – lucratividade, rentabilidade sobre o patrimônio e rentabilidade sobre o ativo –, além de um terceiro construto, referente à propensão à continuidade de uso com as práticas que compõem o primeiro construto. 244 6.6.2. Modelo 1 - Práticas Inovadoras de gestão de pessoas, desempenho operacional, desempenho financeiro e propensão à continuidade de uso O primeiro diagrama de caminhos testado incorpora as relações entre a utilização de práticas inovadoras de gestão de pessoas, desempenho operacional, desempenho financeiro e propensão à continuidade de uso, conforme apresentado na figura 6.8. Este modelo foi o único que pôde ser construído completamente, uma vez que os demais modelos ou não convergiram na modelagem ou seus construtos não apresentaram consistência suficiente na análise fatorial para serem utilizados na modelagem de equações estruturais. Percebe-se, no modelo, que a utilização dessas práticas inovadoras influencia, indiretamente, na satisfação obtida com as melhorias em desempenho financeiro e operacional, a propensão à continuidade de uso com as mesmas práticas. O modelo mostra uma relação significativa8 entre a adoção de práticas inovadoras de gestão de pessoas e desempenho operacional, apresentando um coeficiente de determinação (R2) de 0,681 para esse último construto. Entretanto, o modelo não identifica relações significativas entre a adoção de tais práticas, desempenho financeiro e propensão à continuidade de uso. Somente são identificadas relações entre o desempenho operacional e desempenho financeiro com a propensão à continuidade de uso com essas práticas (R2 = 0,168). 8 Nível de significância de 5% 245 Figura 6.8 - Modelo 1: Práticas Inovadoras de gestão de pessoas, desempenho operacional, desempenho financeiro e propensão à continuidade de uso Cultura de Aprendizagem Trabalho em Equipe Empowerment 0,669 0,430 0,535 Práticas Inovadoras de Gestão de Pessoas 0,825 Melhorias em Qualidade Lucratividade 0,695 Reduções de Custos 0,854 0,858 Desempenho Operacional R2 = 0,681 Desempenho Financeiro 0,973 Rentabilidade s/ Patrimônio 0,664 0,557 Melhorias em Respons. Rentabilidade s/ Ativo 0,255 0,532 Prop.Cont.Cult. Aprend. Propensão à Continuidade e Uso R2 = 0,168 0,515 Prop.Cont. Empowerment -0,321 BBNFI = 0,794 BBNNFI = 0,910 CFI = 0,930 RMSEA = 0,070 0,738 Prop.Cont. Trab. Equipe Fonte: Dados da pesquisa Em relação ao primeiro modelo construído nesta análise, todos os índices de ajuste apresentaram resultados satisfatórios, sugerindo que o modelo pode ser considerado uma boa representação das relações propostas. Entretanto, a relação identificada entre desempenho financeiro e propensão à continuidade de uso é negativa, ou seja, sugere uma relação inversamente proporcional, contrária ao esperado pelas hipóteses desta tese. Como não foi verificada relação entre a utilização de práticas inovadoras de gestão de pessoas e desempenho financeiro, pode-se sugerir a existência de variáveis intervenientes que não foram incluídas pelo modelo, mas que influenciam significativamente o desempenho financeiro. Ou seja, é possível afirmar, com base nos resultados obtidos, que a adoção de práticas inovadoras de gestão de pessoas influencia positivamente o 246 desempenho operacional, o qual, por sua vez, influencia a propensão à continuidade de uso. Sendo assim, adicionalmente, a adoção de práticas inovadoras de gestão de pessoas influencia indiretamente a propensão à continuidade de uso. As relações significantes incorporadas ao modelo mostram-se em consonância com a discussão teórica e o relato de outros resultados de pesquisa registrados nesta tese, que sugerem que empresas tenderão a adotar práticas inovadoras de gestão de pessoas como cultura de aprendizagem, empowerment e trabalho em equipe, como forma de buscar novos padrões de desempenho operacional, que poderiam, no curto ou no longo prazo, concorrer para melhorar seu desempenho financeiro. 6.6.3. Modelo 2 – Células de manufatura, desempenho operacional, desempenho financeiro e propensão à continuidade de uso As relações entre a adoção de células de manufatura, desempenho operacional, desempenho financeiro e propensão à continuidade de uso são apresentadas no segundo modelo (Figura 6.9). Testados os coeficientes de ajuste do modelo, os resultados sugerem que, também neste caso, o modelo oferece uma representação satisfatória da realidade estudada. No segundo modelo, são identificadas fortes relações entre a utilização de células de manufatura e desempenho operacional e, também, entre o desempenho operacional e a propensão à continuidade de uso. Não foram identificadas relações entre a adoção de células de manufatura e desempenho financeiro, assim como no primeiro modelo. Os coeficientes de determinação sugerem razoável poder de explicação da variância de variáveis dependentes como resultado da variação das independentes. Os resultados obtidos neste modelo sugerem que a adoção de células de manufatura influencie direta e positivamente o desempenho operacional, mas não influencia diretamente o desempenho financeiro. Apesar de somente validar parcialmente a 247 quinta hipótese desta tese, este achado está em consonância com a teoria existente sobre a prática células de manufatura, que não associa diretamente a adoção dessa prática a ganhos financeiros, especialmente no curto prazo. Figura 6.9 – Modelo 2: Células de Manufatura, desempenho operacional, desempenho financeiro e propensão à continuidade de uso Células de Manufatura 0,854 Melhorias em Qualidade Lucratividade 0,940 Reduções de Custos 0,926 Desempenho Operacional R2 = 0,730 Desempenho Financeiro Rentabilidade s/ Patrimônio 0,946 Melhorias em Respons. Rentabilidade s/ Ativo 0,443 Prop. Cont. Cél.Manufatura R2 = 0,197 BBNFI= .965 BBNNFI= .995 CFI= .987 RMSEA= .034 Fonte: Dados da pesquisa. 6.6.4. Modelo 3: Reengenharia, reduções de custos, desempenho financeiro e propensão à continuidade de uso O terceiro modelo avalia as relações entre a adoção da reengenharia, enquanto representante de práticas inovadoras de gestão do desempenho e dos custos, desempenho operacional, propensão à continuidade de uso e desempenho financeiro, (figura 6.10). Como nos casos anteriores, o sistema de relações gerado pelo terceiro modelo estudado apresenta índices de ajuste aceitáveis. Este modelo identifica um padrão de relações semelhante ao identificado nos demais modelos: há uma relação 248 entre adoção da reengenharia, desempenho operacional (R2 = 0,505) e propensão à continuidade de uso (R2 = 0,233). Figura 6.10 – Modelo 3: Reengenharia, reduções de custos, desempenho financeiro e propensão à continuidade de uso Reengenharia 0,711 Melhorias em Qualidade Lucratividade 0,886 Reduções de Custos 0,915 Desempenho Operacional R2 = 0,505 Desempenho Financeiro Rentabilidade s/ Patrimônio 0,785 Melhorias em Respons. Rentabilidade s/ Ativo 0,483 Prop. Cont. Reengenharia R2 = 0,233 BBNFI= .968 BBNNFI= .972 CFI= .986 RMSEA= .087 Fonte: Dados da pesquisa. Desse modo, é possível sugerir que a adoção da reengenharia esteja associada à melhorias em desempenho operacional, e à propensão à continuidade de uso, mas não ao desempenho financeiro. Teoricamente, espera-se, de fato, que a reengenharia esteja mais associada ao desempenho operacional, com reflexos posteriores no desempenho financeiro. 6.6.5. Modelo 4: Terceirização, desempenho operacional, desempenho financeiro e propensão à continuidade de uso O quarto e último modelo construído nesta análise se refere à relação entre a adoção da terceirização, também representante da adoção de práticas inovadoras de gestão do desempenho pelos custos, desempenho operacional, desempenho financeiro e 249 propensão à continuidade de uso, conforme apresentado na figura 6.11. O quarto modelo também apresenta índices satisfatórios de ajuste. O padrão de relações identificadas neste modelo é equivalente ao anterior: são identificadas relações entre a adoção de terceirização e desempenho operacional, e entre desempenho operacional e propensão à continuidade de uso com a prática, ambas em nível de significância de cinco por cento. Por outro lado, não foi identificada uma relação direta entre a adoção da prática, o desempenho financeiro e a propensão à continuidade de uso, nem indireta, entre o desempenho financeiro e a propensão à continuidade de uso. Ao que parece, a adoção da terceirização no Brasil está exclusivamente associada ao desempenho operacional, ainda que exista um consenso de que o grande foco das terceirizações no Brasil venha sendo a redução de custos, conforme registrado em partes anteriores desta tese. Figura 6.11 – Modelo 4: Terceirização, desempenho operacional, desempenho financeiro e propensão à continuidade de uso Terceirização 0,391 Melhorias em Qualidade Lucratividade 0,680 Redução de Custos 0,606 0,884 Desempenho Financeiro Desemp. Operacional R2 = 0,681 0,956 Rentabilidade s/ Patrimônio 0,674 0,590 Melhorias em Responsiv. Rentabilidade s/ Ativo 0,247 Prop. Cont. Terceirização R2 = 0,110 BBNFI = 0,853 BBNNFI = 0,916 CFI = 0,940 RMSEA = 0,085 Fonte: Dados da pesquisa. De maneira geral, percebe-se nos modelos avaliados que a adoção de práticas inovadoras no campo da administração da produção, em suas diversas ramificações 250 (gestão de pessoas, gestão do desenvolvimento de produtos, gestão do processo produtivo, gestão do desempenho produtivo), está mais diretamente relacionada a melhorias no desempenho operacional em três dimensões: qualidade, custos e responsividade. Os resultados percebidos no desempenho operacional, por sua vez, parecem influenciar a propensão à continuidade de uso. Não se percebe uma influência direta da adoção dessas práticas sobre o desempenho financeiro, nem influências do desempenho financeiro sobre a propensão à continuidade de uso. Sendo assim, valida-se, parcialmente, a hipótese 5 desta tese, que sugere que “a adoção de práticas inovadoras associa-se a ganhos de desempenho operacional e financeiro, que justificam racionalmente as decisões de adoção, reforçando a propensão à continuidade de uso”. Os resultados encontrados validam essa hipótese somente no sentido do desempenho operacional, não no desempenho financeiro. Não somente não foram encontrados indícios de que a adoção de tais práticas influencie positivamente o desempenho financeiro, mas, também, não foram encontrados indícios de que ganhos financeiros influenciem a propensão à continuidade de uso com tais práticas. 7. Considerações Finais A sucessão de novas tecnologias e de inovações sociais tem sido elemento central nas explicações do desenvolvimento do mundo capitalista. Segundo algumas dessas perspectivas, diversas trajetórias tecnológicas têm ocasionado diferentes impactos sobre as economias de Países, e a organização tem sido elemento central nessa dinâmica, enquanto locus primário do desenvolvimento científico e tecnológico. Inovação, não somente como fonte de novos produtos e tecnologias produtivas, mas, também, como fonte de novas formas de organizar o trabalho humano, passa a ser associada à competitividade e ao desenvolvimento em sociedades crescentemente marcadas pela descontinuidade e pela ruptura. Em uma perspectiva mais micro orientada, a inovação também pode ser utilizada como explicação para mudanças no cenário competitivo entre organizações. Nessa perspectiva, a inovação e a aprendizagem são mecanismos organizacionais que levam ao aprimoramento de suas operações e de seus produtos, enriquecem suas competências essenciais e permitem melhor produtividade e maior competitividade, ainda que em um contexto de mudanças bruscas e descontinuidade. Mas a análise da inovação deve ser realizada com cautela, como forma de evitar interpretações ingênuas e posições limitadas sobre seu desenvolvimento. Uma das posições mais cautelosas sobre o desenvolvimento de inovações é a de que o processo de inovação se desenvolve em ciclos não lineares ou descontínuos, em processos desorganizados que freqüentemente encontram retrocessos e fracassos, em contraponto à interpretação de que o processo de inovação sempre ocorre em uma seqüência clara de estágios perfeitamente identificáveis e gerenciáveis, movimentos descontínuos e aleatórios que iniciam trajetórias divergentes de desenvolvimentos 252 que, em algum ponto da história de uma organização ou de uma sociedade, passam a fazer sentido, convergindo para soluções inovadoras que representam soluções viáveis de tecnologias e arranjos sociais (VAN de VEN, 1995; DOOLEY e VAN de VEN, 1999). É possível assumir diversas perspectivas de análise sobre a adoção de inovações – perspectiva racionalista, do processamento de informações, motivacional e política (CROWSTON e MALONE, 1994). Essas perspectivas proporcionam uma forma mais flexível de interpretar as causas da adoção de inovações e os resultados tipicamente obtidos com cada uma delas, proporcionando uma compreensão menos estreita de como analisar a relação entre tecnologia e organização. Outra forma mais sóbria de analisar a relação entre inovação e organização é a perspectiva estruturacional (ORLIKOWSKI, 1992), segundo a qual essa relação assume uma postura mais dialética e interativa, superando as perspectivas do imperativo tecnológico, da escolha estratégica e do gatilho para a mudança estrutural. Segundo a perspectiva estruturacional, mudanças, em qualquer dos elementos dessa relação, são frutos de influência mútua e aprendizagem contínua, apesar de haver limites para a compreensão dessa influência. Por fim, para relativizar mais completamente a relação entre tecnologia e organização, é necessário questionar o pressuposto de que a inovação e a mudança são sempre necessárias, ao menos desejáveis, como forma de assegurar a posição competitiva de organizações. Enquanto mudança e inovação podem ser interpretadas como mecanismos de renovação e ampliação da capacidade competitiva de organizações e sociedades, essa interpretação, levada ao extremo, pode gerar comportamentos neuróticos e compulsivos em relação à necessidade de se renovar processos e produtos, provocando o abandono precoce de soluções viáveis. 253 A necessidade de aprimorar o processo produtivo nas organizações, com novas formas de organização do trabalho em torno do processo produtivo, tem levado ao desenvolvimento de um grande volume de publicações, tanto acadêmicas quanto gerenciais. Parece existir uma busca por soluções alternativas ao modelo tradicional de administração, uma forma de manufatura de classe mundial ou de produção enxuta, que permita que as organizações aumentem a capacidade produtiva e a qualidade de seus produtos e serviços e reduzam custos e erros na fabricação, demandas crescentes no ambiente competitivo da atualidade. Dessa forma, têm surgido práticas inovadoras de administração ao redor do planeta, combinando novas tecnologias produtivas, tecnologia da informação e novas formas de arranjos sociais. Três domínios de práticas inovadoras se destacam: práticas inovadoras de gestão de pessoas, práticas inovadoras de gestão da produção e práticas inovadoras de gestão do desempenho. Essas três áreas foram exploradas nesta tese. Práticas inovadoras de gestão de pessoas têm sido desenvolvidas como forma de superar as limitações advindas do modelo clássico de administração, cujos impactos negativos sobre os indivíduos já são notórios – fragmentação e desqualificação do trabalho, apatia e desinteresse. Os novos métodos de gestão de pessoas são mais sutis em sua prática e retórica, no sentido de extrair o melhor esforço das pessoas e suas melhores contribuições para o trabalho e a produtividade, prometendo, em contrapartida, recompensas também ampliadas. Por outro lado, existe, também, uma pressão social, por parte de sindicatos, governos e da sociedade em geral, para que as organizações ofereçam práticas mais aceitáveis de trabalho, reduzindo o impacto negativo que recai sobre os indivíduos. 254 Essas novas práticas incluem maior grau de flexibilidade na organização do trabalho, maior cooperação entre trabalhadores e gerência, maior participação do trabalhador nas decisões e no bem-estar financeiro das empresas, incluindo o compartilhamento de parte dos ganhos de produtividade auferidos pelas organizações (ICHNIOWSKI, 1992; WAY, 2002). Seus objetivos incluem a seleção, desenvolvimento, retenção e motivação de uma força de trabalho que possua habilidades superiores, que aplique essas habilidades em suas atividades profissionais e que isso resulte em desempenho superior por parte da organização (WAY, 2002). Entretanto, são apontados possíveis efeitos indesejáveis como resultantes de novas formas de pressões utilizadas por essas práticas, como o aviltamento do trabalho e o transbordamento negativo no sentido do trabalho para o lar, ou seja, o trabalho ultrapassa os limites da empresa e interfere negativamente na vida pessoal dos trabalhadores. Apesar de oferecerem ambientes de trabalho intelectualmente mais interessantes, as novas práticas exigem que o trabalhador se dedique mais intensamente ao trabalho, exercendo efeitos ainda mais negativos sobre os seres humanos, como ameaças de demissões e utilização de trabalho temporário. Outro problema em potencial em relação à adoção de novas práticas de gestão de pessoas é a possibilidade de que possam gerar custos adicionais que ultrapassem os benefícios obtidos. Esse problema é maior quando se trata de organizações que não possuem excedentes de capital para suportar o tempo necessário de retorno do investimento. Além do mais, parte dos ganhos auferidos tem sido repassada aos trabalhadores por meio das compensações extras oferecidas como estímulo ao desempenho superior, reduzindo ainda mais os ganhos das organizações (OSTERMAN, 1998; GUTHRIE, 2001 apud WAY, 2002). 255 Outro domínio no qual houve mudanças significativas em práticas de administração foi o campo da gestão da produção. Desenvolvimentos nesse campo têm sido essenciais para o crescimento da produtividade, e esse campo tem sido a origem do desenvolvimento econômico de alguns países, a exemplo do Japão, da Itália e da Suécia, que superaram os limites da produção em massa. Práticas inovadoras de gestão da produção envolvem o planejamento da produção, a gestão das relações de trabalho e desenvolvimentos específicos da atividade produtiva em si. Esse campo da administração tem se dedicado à redução de ciclos e tempos de processamento, à redução de custos, à redução do desperdício, ao aumento da qualidade, e ainda ao aumento da própria capacidade produtiva. Para tanto, tem sido desenvolvida uma série de tecnologias produtivas, como máquinas-ferramenta numericamente controladas, veículos guiados por computadores (AGV’s), manufatura e projeto auxiliados por computadores (CAD/CAM) e outras tecnologias stricto sensu aplicadas na área da produção (TENÓRIO, 2000). Têm sido desenvolvidas, também, outras tecnologias mais soft, que envolvem novas formas de organização do ambiente de produção, como células de manufatura, manutenção produtiva total, trabalho em equipe e outras formas de organizar o trabalho humano na fábrica (BOLDEN et al, 1997). Por último, pode-se identificar uma busca mais ampla por desempenho das organizações, que atua com uma perspectiva mais ampla da organização, em todo o processo de produção, visando melhorias no desempenho da organização como um todo – práticas inovadoras de gestão do desempenho. Nessa área têm surgido inovações que passam pela reorganização de processos das empresas, pela adoção de programas de gestão da qualidade, envolvem a interligação de atividades com parceiros dedicados de negócio, em relacionamentos mais significativos em toda a 256 cadeia de suprimentos, e ainda envolvem a possibilidade de transferência de atividades para terceiros. Em que pese o grande volume de produção acadêmica e gerencial a respeito de novas práticas de administração no Brasil, normalmente direcionadas a discussões sobre práticas isoladas, muitas vezes assumindo o formato de estudos de casos, ainda são escassos, com exceção dos trabalhos apresentados nesta tese (FERRO, 1995; GITAHY, 2000; RIGBY et al, 2003; BASTOS et al 2004; PEIXOTO 2004), que apresentam visões mais abrangentes sobre a disseminação dessas práticas. A bibliografia referente à disseminação de novas práticas gerenciais no Brasil sugere que práticas inovadoras de administração têm sido difundidas neste país, crescentemente, desde o início da redução de barreiras à entrada de investidores internacionais no mercado doméstico, no início da década de 1990. É possível propor que, com a chegada em maior escala de concorrentes internacionais, as diferenças em práticas gerenciais tornaram-se cada vez mais evidentes, assim como as diferenças em desempenho, refletidas especialmente na qualidade e nos preços relativos dos produtos e serviços. Essas diferenças, provavelmente, foram o principal motivador de evoluções no campo das práticas de administração, principalmente por um movimento de imitação de modelos e práticas bem sucedidas em outros lugares. As organizações que adotam práticas inovadoras de administração têm visado objetivos diversos, como redução do número de defeitos, redução do número de chamadas de assistência técnica por problemas de qualidade, redução do número de serviços incompletos, de parada de máquinas e do tempo de resposta aos pedidos dos clientes (SOARES e CHAMONE, 1994). Reduções nos custos, flexibilidade em design, flexibilidade em volume, conformidade em qualidade, desempenho do produto, velocidade e confiança na entrega, serviços pós-vendas, publicidade, 257 distribuição ampla e ampla linha de produtos são outros objetivos normalmente buscados por organizações que adotam práticas inovadoras de administração (BOLDEN et al, 1997). Essas modificações fazem parte de uma transformação social mais ampla e complexa, que modifica normas estabelecidas e estabelece novas formas de relações, incluindo novos tipos de relações de autoridade e controle, mas também criando novas fontes de instabilidade e ansiedade (GITAHY, 2000; TENÓRIO, 2000; WHITE et al, 2003). A difusão de um suposto novo paradigma tecno-econômico transformou a organização do trabalho, modificou o volume, a estrutura e a localização do emprego, assim como o conteúdo e a hierarquia das habilidades requeridas ao trabalhador, em um contexto marcado pela crise, instabilidade econômica, recessão e desemprego, assim como pela redemocratização e pela crescente influência de movimentos trabalhistas. O objetivo geral desta tese foi identificar padrões de adoção e a relação entre o uso de práticas inovadoras e o desempenho, operacional e financeiro, de organizações industriais brasileiras. A metodologia utilizada para realizar esse objetivo incluiu a combinação de métodos quantitativos, com o intuito de enriquecer a compreensão dessas relações, ampliando a visão apresentada por Peixoto (2004) sobre a mesma base empírica. No quadro 7.1, adiante, estão relacionados os objetivos específicos, suas hipóteses e os métodos estatísticos utilizados. 258 Quadro 7.1 – Objetivos específicos, hipóteses e método estatístico Objetivos Específicos Hipóteses Método Estatístico Estatística descritiva Comparar os resultados originais da pesquisa, encontrados em Peixoto (2004) e os resultados obtidos com base na amostra desta tese. H1: Os resultados obtidos por Peixoto (2004) quanto ao nível de utilização, ao alcance das práticas em relação a melhorias em qualidade, reduções de custos e melhorias na responsividade e à propensão à continuidade de uso das práticas, são relativamente mantidos para a amostra desta tese. Investigar o grau de adoção das práticas gerenciais em relação às características organizacionais e ao desempenho financeiro. H2: O grau de adoção das práticas gerenciais pesquisadas é diferenciado por características organizacionais como localização, gênero industrial, porte, origem de capital e desempenho financeiro. Estatística descritiva Agrupar as práticas estudadas de acordo com os padrões de adoção das empresas brasileiras. H3: As organizações tendem a adotar práticas inovadoras, isoladas ou em pacotes que se complementam, concentradas em áreas que lhes são mais significativas. Análise fatorial Classificar organizações de acordo com o padrão de adoção de práticas inovadoras de administração e de produção. H4: As organizações apresentam certas regularidades de comportamento em adoção de inovação, relacionadas às suas características estruturais, como porte, setor de atuação, origem de capital e processo produtivo, às suas estratégias genéricas, além de às suas experiências com a utilização de práticas inovadoras. Análise de clusters Associar os padrões de adoção de práticas inovadoras ao desempenho operacional e ao desempenho financeiro H5: A adoção de práticas inovadoras associa-se a ganhos de desempenho operacional e financeiro, que justificam as decisões de adoção, reforçando a propensão à continuidade de uso. Modelagem de equações estruturais 7.1. A adoção de práticas inovadoras de Administração no Brasil O primeiro objetivo específico desta tese foi o de comparar os resultados originais da pesquisa, encontrados em Peixoto (2004) e os resultados obtidos com base na amostra desta tese, associado à hipótese de que os resultados obtidos por Peixoto (2004) quanto a nível de utilização, alcance das práticas em relação a melhorias em qualidade, reduções de custos e melhorias na responsividade e propensão à 259 continuidade de uso das práticas, são relativamente mantidos para a amostra desta tese. Este objetivo e hipóteses foram verificados pela estatística descritiva. As informações apresentadas nesta tese evidenciam particularidades do movimento de adoção de inovações gerenciais, mais especificamente, a adoção de práticas inovadoras de gestão no Brasil, durante o final dos anos 1990 e início dos anos 2000. Através da análise das informações utilizadas nesta tese, valida-se sua primeira hipótese – apesar de haver pequenas diferenças entre as duas amostras, elas mantém um elevado nível de similaridade em seus resultados globais. Com base nesses resultados, pode-se manter a afirmação de Peixoto (2004) de que existe um movimento de modernização gerencial nas grandes empresas industriais brasileiras. Esse movimento representa um grande esforço de catching up das empresas nacionais em relação às suas concorrentes estrangeiras. Não é possível perceber, todavia, um padrão para esse movimento. O que os dados apresentados indicam é a existência de um movimento difuso de experimentação de novas práticas, em um padrão divergente de busca por soluções para a crise do modelo capitalista de produção em massa. 7.2. O grau de adoção de práticas inovadoras, características organizacionais e desempenho financeiro O segundo objetivo específico foi o de investigar o grau de inovatividade organizacional em relação às características organizacionais e ao desempenho financeiro, associado à hipótese de que o grau de adoção das práticas gerenciais pesquisadas é diferenciado por características organizacionais como localização, gênero industrial, porte, origem de capital e desempenho financeiro. Este objetivo e hipótese também foram avaliados pela estatística descritiva. 260 Não foram percebidas fortes relações entre grau de adoção de práticas gerenciais e algumas características organizacionais, como estado, região, gênero industrial e origem de capital. Entretanto, foram identificadas diferenças de grau de adoção de práticas gerenciais investigadas entre desempenho financeiro e porte organizacional, aqui avaliado pelo do número de funcionários. Observou-se que maiores empresas tendem a apresentar maiores graus de adoção das práticas gerenciais pesquisadas. De maneira semelhante, verificou-se que empresas mais lucrativas, mais rentáveis ou que apresentam maior crescimento da receita também tendem a ter maiores graus de adoção das práticas gerenciais pesquisadas. Esses achados parecem validar parcialmente a segunda hipótese desta tese, embora com base em estatística descritiva. Resultados mais conclusivos foram buscados nas seções que se seguem. Não emerge, da análise efetuada nesta tese, nenhuma melhor forma de se realizar as operações das organizações, pelo contrário. O que se percebe é um movimento difuso de experimentação de novas práticas, o que sugere um padrão divergente de busca por soluções para a crise do modelo capitalista de produção em massa; por outro lado, essas práticas são aquelas também mais difundidas em outros países, sobretudo nos Estados Unidos da América e no Reino Unido. Ao que parece, esse movimento de modernização continuará acontecendo no cenário nacional nos anos que se seguirão, mesmo que ele não convirja em direção a práticas específicas, aprovadas ou rejeitadas pelas empresas nacionais. Alguns pontos de convergência, entretanto, despontam nesse movimento. Esse movimento de inovação gerencial não se restringe a setores ou regiões ou a outras características organizacionais, apesar de se manifestar com maior ou menor intensidade em alguns deles. Alguns setores da economia apresentam maiores índices de inovação gerencial, enquanto que empresas maiores também parecem apresentar 261 tendências inovadoras mais fortes do que as empresas menores (relativamente ao número de funcionários), apesar de a amostra incorporar somente médias e grandes empresas. De acordo com essa análise, percebe-se uma tendência de difusão de práticas amplas, focadas no desempenho “mais macro” da organização, voltadas tanto para a eficiência interna (como gestão da qualidade total) quanto para sua eficiência externa, ou sistêmica (como parceiras na cadeia de suprimento). Dentre as práticas mais difundidas na amostra, encontram-se, também, duas práticas focadas na gestão de pessoas e do trabalho, sugerindo uma tendência nessa direção. Destaca-se o baixo nível de difusão de práticas como terceirização e reengenharia, que tiveram o seu apogeu durante os meados da década de 1990. Pode-se inferir que, após as ondas de difusão dessas práticas, típicas de modismos gerenciais, as organizações adotantes reavaliaram os resultados reais obtidos com a utilização dessas práticas e as abandonaram, não tendo satisfeito suas intenções de adoção. Por outro lado, práticas como reengenharia são abordagens do tipo one-shot, e não faz sentido “continuar adotando” a reengenharia após sua implantação. Ou seja, após a realização de reengenharias – mesmo que não faça sentido utilizar o termo no plural, é possível sugerir que alguma adotante empolgada repita a experiência algumas poucas vezes – uma organização atinge um nível satisfatório de eficiência e desempenho, deixando de adotar novamente a metodologia. Após algum tempo, seus executivos, mesmo aqueles que foram seriamente afetados pelo processo, deixam de associar as operações da empresa ao processo modificado, afetando as respostas ao questionário. Pode-se sugerir, ainda, que o método simplesmente caiu em descrédito, após anos de experiências malsucedidas. 262 Ainda com relação a práticas pouco difundidas, ocorre que práticas como engenharia simultânea e células de produção são técnicas muito específicas, restritas a determinados setores industriais e a determinadas tecnologias de produção, o que torna pouco viável sua difusão em grande escala. Sua aplicação faz sentido somente em determinadas condições, que não são encontradas em grande escala nos setores da economia. Por outro lado, ainda parece existir uma predominância de organizações que utilizam processos de produção baseados no modelo industrial norte-americano, de produção em massa, incompatíveis com as práticas em questão. 7.3. A adoção de grupos de práticas inovadoras e Administração O terceiro objetivo desta tese foi agrupar as práticas estudadas de acordo com os padrões de adoção das empresas brasileiras, associado à hipótese de que as organizações tendem a adotar práticas inovadoras, isoladas ou em pacotes que se complementam, concentradas em áreas que lhes são mais significativas. Este objetivo e hipótese foram verificados pela análise fatorial. As doze práticas incluídas na pesquisa foram reduzidas a três fatores que acomodaram satisfatoriamente uma grande parte da variância existente nos dados originais (51,43%), facilitando sua utilização em análises adicionais, sem perda significativa de poder explicativo. Entretanto, somente oito práticas foram mantidas, devido às inconsistências encontradas. Com a identificação desses três grupos de práticas, o terceiro objetivo específico desta tese foi alcançado, sendo a hipótese relacionada a esse objetivo parcialmente validada, tendo em vista que quatro práticas daquelas originalmente investigadas, não foram mantidas na análise: qualidade total, parcerias na cadeia de suprimento, células de produção e just in time. Apesar disso, é possível afirmar que as organizações tendem a 263 adotar práticas inovadoras, concentradas em áreas que lhes são mais significativas, de forma isolada ou em pacotes que se complementam. Apesar de o movimento de inovação ter sido distribuído de maneira relativamente equilibrada em toda a amostra, é possível identificar alguns padrões de adoção de práticas inovadoras, pela verificação de como essas práticas têm sido combinadas entre si, na formação de pacotes inovadores. Isso sugere que a adoção de práticas não tem sido resultante de decisões isoladas ou momentâneas, típicas de modismos, mas de seqüências de decisões que se reforçam mutuamente ao longo do tempo, criando campos de inovação nos quais as organizações percebem oportunidades de melhorias. As organizações combinam, em seus esforços inovativos, práticas que se complementam e contribuem de maneira consistente para seus esforços estratégicos. Dessa forma, ao analisar a inovação gerencial, faz menos sentido se referir a práticas isoladas, como abordagens one-shot, e faz mais sentido utilizar conceitos mais amplos, grupos ou pacotes de práticas inovadoras, como práticas inovadoras de gestão de pessoas, práticas inovadoras de gestão da produção, práticas inovadoras de gestão do desempenho e dos custos ou outras dimensões da organização, pois estes são mais adequados ao desenvolvimento de inovações gerenciais. Abordagens dessa natureza reduziriam a fragmentação dos estudos no campo da administração, permitindo visões mais completas e realistas sobre os processos e estratégias de inovação, identificando e facilitando a compreensão de tendências em gestão e em inovação gerencial. 264 7.4. Padrões de adoção de práticas inovadoras O quarto objetivo desta tese foi classificar organizações de acordo com o padrão de adoção de práticas inovadoras de administração e de produção, associado à hipótese de que as organizações apresentam certas regularidades de comportamento em adoção de inovação, relacionadas às suas características estruturais, como porte, setor de atuação, origem de capital e processo produtivo, às suas estratégias genéricas, além de suas experiências com a utilização de práticas inovadoras, que foram verificados através da análise de clusters. A análise realizada nesta tese demonstra a possibilidade de identificar grupos com características semelhantes em amostras e populações de qualquer natureza. Com o uso da análise de clusters, foi possível subdividir a amostra em subgrupos que permitiram identificar nuances de comportamento, de acordo com as variáveis utilizadas. Foi possível, ainda, identificar outras diferenças e semelhanças de comportamento, associadas aos perfis identificados. Entretanto, persiste o desafio de selecionar as variáveis que sejam mais significativas para a realização dessa análise, tanto para o agrupamento dos casos quanto para a identificação das diferenças, que façam sentido. Somente a cuidadosa preparação da pesquisa e minuciosa seleção de variáveis poderão garantir análises de agrupamentos que façam sentido e que contribuam para percepções originais e a construção de taxonomias ou tipologias que aumentem o conhecimento acerca do objeto de estudo. Apesar de o movimento de difusão de práticas inovadoras ter ocorrido de forma distribuída em toda a indústria nacional, sem que haja a prevalência ou preferência por alguma prática ou algum tipo de prática em especial, é possível identificar padrões organizacionais de inovação. As empresas se assemelham em relação ao seu comportamento inovativo, e essas semelhanças podem ser identificadas e avaliadas. 265 Se as organizações possuem à sua disposição os mesmos repertórios de práticas inovadoras, elas tenderão a decidir sobre elas de maneira que se assemelham, e essas semelhanças podem ser associadas a alguma característica organizacional, como setor de atuação, número de funcionários, área de localização e atuação, lucratividade, rentabilidade e outras características não investigadas aqui. A partir da identificação dessas características, é possível desenvolver tipologias de organizações em relação à inovação gerencial, ressaltando características comuns a grupos, associando padrões de inovação ao perfil organizacional. Empresas tenderão a ser mais inovadoras e prospectivas ou mais conservadoras ou ainda reativas no que se refere à inovação gerencial. Poderão, ainda, ser seletivas, no sentido de escolherem mais cautelosamente o tipo de inovação que contribui para seu desempenho. As semelhanças também passam pela cronologia de adoção de práticas inovadoras. Organizações mais compulsivas tenderão a adotar e, muitas vezes, abandonar mais rapidamente novas práticas gerenciais, enquanto que organizações mais ponderadas tenderão a analisar mais cuidadosamente cada projeto inovador, avaliando mais cautelosamente os benefícios de implementá-lo. A grande questão que emerge da possibilidade de se estudar as empresas em agrupamentos é a seleção de variáveis que sirvam para explicar os diferentes comportamentos das organizações em relação à adoção de inovações gerenciais. É preferível utilizar variáveis comportamentais mais abstratas, que justifiquem a propensão de inovação de uma organização, ao invés de variáveis quantitativas ou objetivas, que nem sempre são a fonte da inovatividade de organizações. 266 7.5. A adoção de práticas inovadoras e o desempenho organizacional O quinto e último objetivo específico desta tese foi associar os padrões de adoção de práticas inovadoras ao desempenho operacional e ao desempenho financeiro, associado à hipótese de que a adoção de práticas inovadoras associa-se a ganhos de desempenho operacional e financeiro, que justificam as decisões de adoção, reforçando a propensão à continuidade de uso. Esse objetivo e hipótese foram verificados pela modelagem de equações estruturais. De maneira geral, percebe-se, nos modelos avaliados, que a adoção de práticas inovadoras no campo da administração da produção, em suas diversas ramificações (gestão de pessoas, gestão da produção e gestão do desempenho), está mais diretamente relacionada a melhorias no desempenho operacional, em três dimensões: qualidade, custos e responsividade. Os resultados percebidos no desempenho operacional, por sua vez, parecem influenciar a propensão à continuidade de uso. Não se percebe uma influência direta da adoção dessas práticas sobre o desempenho financeiro, nem influências do desempenho financeiro sobre a propensão à continuidade de uso. Sendo assim, se valida, parcialmente, a quinta hipótese desta tese, que sugere que a adoção de práticas inovadoras associa-se a ganhos de desempenho operacional e financeiro, que justificam, racionalmente, as decisões de adoção, reforçando a propensão à continuidade de uso. Os resultados encontrados também validam parcialmente a perspectiva racional apresentada por Crowston e Malone (1994), uma vez que foi possível identificar benefícios que justificam a adoção de práticas inovadoras. A falta de relação entre adoção de práticas inovadoras e desempenho financeiro sugere a ausência, nas variáveis adotadas na análise, de outras variáveis 267 intervenientes, que podem influenciar mais significativamente o desempenho financeiro. Dessa forma, o desempenho financeiro seria resultante de uma série de variáveis operacionais, dentre as quais poderia se encontrar a adoção de práticas inovadoras. A alocação de recursos para projetos inovadores depende da existência de relações de sucesso entre as experiências passadas e os resultados verificados. O fato de não ter sido identificada relação entre a adoção de práticas inovadoras e o desempenho financeiro sugere algumas hipóteses sobre essas relações. A primeira diz respeito à rota pela qual as organizações obtém resultados com a adoção de práticas inovadoras. Os resultados percebidos nesta tese validam a proposição de Garvin (1984 apud SOUZA e VOSS, 2002), de que há duas rotas pelas quais a adoção de práticas inovadoras influenciam o desempenho das organizações – a rota da produção e a rota do mercado. Aparentemente, a mensuração dos resultados obtidos com a rota da produção são mais prontamente percebidos pelos dirigentes industriais do que com a rota do mercado. O mesmo pode ser proposto em relação aos resultados financeiros. A sugestão é a de que a adoção de práticas inovadoras não proporcione resultados diretos imediatos sobre o desempenho financeiro. Ao contrário, esses efeitos são indiretos e diferidos. De imediato, é possível perceber somente os efeitos sobre o desempenho operacional, que, posteriormente, reflete no desempenho financeiro, apesar dessa relação não ter sido identificada. A segunda hipótese sobre a relação entre a adoção de práticas inovadoras e desempenho financeiro é a de que a mensuração desses resultados não é prontamente percebida pelos usuários, em especial pelos Diretores Industriais, respondentes desta pesquisa. Por atuarem estritamente no campo da administração da produção, esses profissionais estão mais voltados e mais preocupados sobre os efeitos operacionais da 268 adoção de novas práticas de administração, e não conseguem associar os efeitos da adoção dessas práticas sobre o desempenho financeiro. De qualquer forma, a análise aqui realizada sugere relações positivas entre a utilização desses tipos de práticas, desempenho organizacional e propensão à continuidade de uso, ainda que desempenho financeiro não seja claramente um reflexo de sua adoção. 7.6. Utilização de análise multivariada na pesquisa em administração e ciências sociais Esta tese ilustra a possibilidade de utilização de métodos de análise multivariada em administração e em ciências sociais, como forma de apresentar novas visões sobre dados quantitativos, agrupando e aglutinando variáveis e indivíduos, identificando construtos subjacentes aos dados, avaliando relações e sugerindo influências entre elas. A análise multivariada é uma decorrência do aumento da disponibilidade de capacidade de processamento de dados em pesquisas, e mostrou-se válida enquanto mecanismo moderno e sofisticado de tratamento de dados. Entretanto, sua utilização depende de cuidadosa reflexão teórica sobre os resultados obtidos, direcionando decisões de análise e orientando interpretações sobre esses resultados obtidos. As teorias sobre objetos de estudo direcionarão a combinação de variáveis, e outros elementos, de maneira mais lógica e aceitável, de modo a representar o estado real das coisas. De outra maneira, corre-se o risco de identificar relações que não existam de fato e analisar os dados e os resultados de maneira equivocada, atingindo resultados incorretos. 269 7.7. Limitações da pesquisa e recomendações para pesquisas adicionais Muitas pesquisas têm sido realizadas sobre a adoção de práticas inovadoras e suas decorrências. Uma parte dessas pesquisas adota um estilo descritivo, especialmente na forma de estudos de casos de sucesso, que realçam as vantagens dessa decisão estratégica, sem maiores questionamentos ou confirmação por evidências empíricas. Além do viés ideológico – esses trabalhos parecem ser voltados para a exaltação das qualidades de práticas inovadoras –, a principal fraqueza desses trabalhos reside na impossibilidade de generalização dos resultados. Entretanto, o desafio de articular uma metodologia de pesquisa que permita capturar as particularidades de uma miríade de experiências distintas, ocorridas em praticamente todos os países desenvolvidos e em desenvolvimento, não é uma tarefa simples de ser resolvida. Primeiramente, o ritmo e volume de surgimento de práticas inovadoras impõem dimensões gigantescas à tarefa de acompanhar o surgimento e a difusão de tais práticas e suas repercussões na vida organizacional. Enquanto a academia está discutindo práticas surgidas na última década, executivos e consultores estão tratando de desenvolver e implementar novas práticas em tempo real, que ainda não são sequer conhecidas na academia – e é provável que esses criadores sejam muito mais bem sucedidos na divulgação e promoção de suas práticas do que a academia em suas críticas. Além disso, as peculiaridades de cada prática e dos contextos nos quais são criadas e aplicadas acrescentam muitas variáveis no objeto de estudo, tornando-se quase impossível o isolamento das variáveis e suas relações, de modo que se possa prever com clareza seu comportamento. Utilizando uma abordagem contingencialista, compreende-se que cada prática é desenvolvida originalmente em contextos organizacionais, setoriais e territoriais muitos distintos, com arranjos culturais, 270 mercadológicos e institucionais específicos, em relação a outros contextos para onde tais práticas se difundem. Essas variáveis não controláveis influenciam o processo de implementação de práticas, acrescentando uma variabilidade de eventos que torna cada caso único. Poucas pesquisas têm adotado a forma de levantamentos e surveys, que visam descrever o nível de adoção de práticas em determinado setor ou na economia como um todo. Esse tipo de pesquisa proporciona um panorama geral de como as organizações têm respondido aos desafios enfrentados, e em que nível as práticas inovadoras têm sido consideradas soluções para esses desafios. Entretanto, até mesmo abordagens abrangentes de pesquisa possuem limitações importantes, que devem ser levadas em consideração, conforme sugerido nesta tese (ZALTMAN et al, 1973 apud KING e ANDERSON, 1995; KLING, 1995; ORLIKOWSKI, 1992). Assim, é necessário articular uma metodologia que permita uma investigação detalhada sobre como as empresas industriais brasileiras estão adotando práticas inovadoras e como essas práticas têm contribuído para que essas organizações se desenvolvam, conforme a sugestão de King e Anderson (1995), por exemplo. Essa metodologia deve ser, tanto quanto possível, de horizonte temporal amplo, compreendendo um período não inferior a cinco anos, e transversal, abordando um amplo espectro de setores da economia brasileira e um grupo significativo de práticas, cujo surgimento e difusão sejam relativamente recentes e cuja contribuição tenha sido significativa para o desempenho organizacional, conforme sugerido pela bibliografia especializada. O tratamento quantitativo a ser aplicado nos dados obtidos, que representam dimensões mais subjetivas da adoção e dos resultados percebidos e suas repercussões, permitirá a identificação de relações entre variáveis, mensurando o nível de difusão de 271 práticas inovadoras e a contribuição de cada uma para o melhoramento do desempenho organizacional. Pela análise quantitativa, será possível comparar como as práticas têm sido combinadas entre si, agrupadas em diferentes tipos, comparar as empresas entre si, identificando possíveis padrões de adoção de práticas inovadoras e os traços ou padrões que as assemelham. Em geral, há problemas que podem levar o pesquisador a não identificar relação, quando há uma, ou levá-lo a concluir que há relação, quando não há alguma. Variáveis esquecidas, amostras não aleatórias e erros de mensuração são todas fontes potenciais de vieses, que afetam tanto a validade interna quanto externa dos estudos nesse ramo. O resultado final desse problema é que nenhuma metodologia isolada pode ser convincente. A chave para a obtenção de resultados críveis é a utilização de uma colagem de estudos que usem diferentes designs, com suas forças e limitações. 272 8. Referências Bibliográficas Aaker David; Kumar, V. e Day, George S. Pesquisa de marketing. São Paulo:Atlas, 2001. Adam, Everett E. e Foster, Thomas. 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