Sentidos Mitos e desafios para os alunos que temos Prof.ª Cília Seixo, «Numa época de crise, pessimismo, desesperança relativamente ao futuro e à vida em geral, lancei um desafio aos alunos do 11º ano de várias turmas: escrever um texto sobre o sentido da vida. Os que aqui se podem ler foram os selecionados de acordo com uma série de critérios previamente estabelecidos; devo dizer, no entanto, que muitos outros aqui podiam estar porque praticamente todos os alunos fizeram e muitos eram interessantes e “sentidos”. Depois de ver um filme cujo tema central eram os problemas de um adolescente na escola, na família, a pressão sobre a necessidade de ter sucesso no futuro, o stress e o aparecimento de ideias suicidas, discutiram-se as ideias centrais e percebeu-se que os problemas sentidos por aquele adolescente correspondiam, 1 Ora, se o sentido da vida é pessoal, então para umas a sua vida terá sentido e para outras não; isto significa que a vida terá sentido apenas se nós, individualmente, lho dermos. Filosoficamente, acredita-se que o homem vê o mundo de três formas distintas: como um meio de subsistência, o que revela o seu caráter biológico; como um Ao longo dos tempos esta questão tem sido bastante discutida, na medida em que é um tópico subjetivo e controverso. É por vezes levada para uma vertente religiosa, onde obtém uma imensidão de respostas consoante a perspetiva teísta, ateísta ou agnóstica. A meu ver, o sentido da vida está associado a sentimentos de feli7 cidade e bem-estar; sem estes a abril de 2012 Efetivamente, a vida é sentida como um desafio pelos jovens; mas é um mito pensar que não há saída para os jovens que neste momento sentem nas suas vidas o impacto da crise financeira, económica, ambiental, familiar, etc. Há crise, há consciência das dificuldades que se vivem, há a perce- ção de que as coisas no futuro serão diferentes, mas há conhecimento, informação, objetivos e sonhos. Há vontade de desbravar novos caminhos, viver de um modo diferente daquele que temos vivido, mas nem por isso se perde a ideia de procurar a felicidade. Sócrates, o filósofo, no século IV a.C. dizia, como têm vindo a dizer todas as gerações que se lhe seguem, embora por motivos diversos, que a juventude está perdida; na verdade, o valor da juventude é esse mesmo: o de se “perder” face aos valores e práticas instituídos e ser capaz de criar novos modos de pensar e de estar, mais adaptativos e capazes de fazer face aos desafios que as gerações mais velhas se sentem incapazes de solucionar. São estes os alunos que temos e dos quais me sinto orgulhosa. A vida tem sentido? A vida tem sentido? A meu ver esta pergunta não faz muito sentido; se interrogarmos pessoas de diversas culturas, etnias e pertencentes a diversas classes sociais, veremos que as respostas vão variar bastante na medida em que o sentido da vida é uma coisa muito pessoal, difícil de generalizar. Assim, devíamos substituir a questão “a vida tem sentido?” por “a tua vida tem sentido?”. 2 no fundo, aos problemas de todos os adolescentes. A competição é imensa, a necessidade de ser bem sucedido é uma constante e o medo de não conseguir cresce proporcionalmente à necessidade de sucesso: quanto mais se pensa e se sente que é preciso ter sucesso, mais medo se tem de não ser capaz. A angústia instala-se e a sensação que resta é a de perda de controlo da própria vida. É neste ponto que se coloca a questão do sentido da existência. meio de convivência com os outros, o que revela o seu caráter social; ou como um espaço onde pode construir um projeto de vida. Esta terceira visão do mundo não só nos distancia do resto dos animais, mas também nos torna únicos; faz-nos sentir realizados, felizes, o que consequentemente dá sentido à vida. Também existem aqueles que acreditam que a vida é sofrimento, uma teoria com que não posso deixar de, parcialmente, concordar. Ora, se dividirmos a nossa vida pelos diversos momentos importantes que nela ficaram marcados, veremos que cada momento corresponde a um desafio, a uma barreira e, cada um desses momentos, por consequência, representa uma possibilidade mas também sofrimento. Se ultrapassarmos vida perde sentido. A felicidade está no centro das nossas vidas e tudo depende da nossa disposição para a sua procura. Se apenas acreditarmos que nascemos para morrer não iremos viver a vida de uma forma positiva, com bem-estar e aí ela perde sentido. Mas, se por outro lado acreditarmos que realmente fomos postos na Terra por alguma razão e se trabalharmos em prol de um bem maior, a vida será mais gra- essas barreiras podemos atingir a felicidade, pois sentimo-nos orgulhosos e realizados sempre que superamos um desafio; sem desafios não podemos atingir a felicidade e por isso a felicidade não existe sem, pelo menos, a possibilidade de sofrimento. Para dar sentido à vida não basta apenas construir um projeto que nos leve à felicidade, mas também ter a capacidade de lidar com o sofrimento, seja ele causado pela pressão que nos é impingida sempre que existe a hipótese de falhar, ou no falhanço em si mesmo. Por exemplo, uma reação positiva a uma tentativa falhada é pensar que, pelo menos, aprendemos com os nossos erros e que com isso podemos ganhar experiência, o que nos torna mais sábios e aptos para os próximos desafios. Igor Trindade, 11º B tificante, uma vez que estaremos a fazer algo com sentido. Mas somos mortais, a nossa permanência na Terra não será para sempre e a iminência da morte leva de novo a questionar o sentido da vida. Pessoalmente, acredito que há algo muito forte após a morte; mas mesmo que não acreditasse, continuo a afirmar que a vida tem sentido se a aproveitarmos e vivermos bem, com objetivos concretizáveis «As três idades da Mulher», pintura de Gustav Klimt, 1905, com que abre o opúsculo do Manual da unidade letiva 6 de EMRC,“Alicerces”, intitulada “Um sentido para a Vida” 3 Ponto prévio: eu defendo que a vida tem sentido. Mas o que quererei dizer com sentido da vida? Para mim, o facto de a vida ter sentido indica que quem vive, vive com finalidades bem delineadas, ou seja, viver é um privilégio baseado em direitos e deveres direcionados para a concretização de determinados objetivos. Quando discutimos uma certa questão, é porque essa tal matéria tem sentido para nós pois, caso contrário, não haveria justificação para essa discussão. Deste modo, a partir do momento em que discutimos a existência ou não de sentido da vida, poderemos concluir que esta tem sentido. Isto porque, se este fosse inexistente, não haveria razões para avaliar a verdade ou validade das coisas; seria uma avaliação dispensável, uma vez que, se a vida não tivesse sentido, tudo o que a ela pertence também não teria. designamos como “problemas” seriam matérias que não nos afetariam, na medida em que não representavam a frustração das nossas ambições e objetivos. Também a felicidade está diretamente ligada com o que estou a debater. Como é que poderemos saber se estamos felizes ou não se a vida não tiver um sentido? A felicidade é atingida quando concretizamos algo que desejamos e, por outro lado, deparamo-nos com a infelicidade quando falhamos determinado objetivo. Uma vida tem sentido se for guiada por objetivos e finalidades bem definidas; se a vida não tivesse sentido, não existiria felicidade ou infelicidade. Olhemos para uma situação mais dramática: quando se comete suicídio, não significa que viver não tenha sentido, significa antes que viver traz infelicidade e essa infelicidade resulta dos tais objetivos que, embora falhados, dão razão ao sentido da vida. Os sentimentos são um forte alicerce da minha opinião. Quando temos problemas e nos lamentamos, significa que ambicionamos algo que não está a ser concretizado. Assim, se temos a ambição de atingir alguma coisa, é porque temos objetivos definidos e a vida tem um sentido. Se a vida não tivesse sentido, como se explicaria o surgimento de problemas? Se não houvesse sentido para a vida, aquilo que Com isto, podemos concluir que se deve valorizar a possibilidade de viver e que a atribuição de um sentido à vida depende de cada um. Isto porque a vida só não tem sentido para quem não estabelece objetivos e finalidades previamente, pois, neste caso, vive-se por viver (sem razão fundamentada), sem a chave que abra a porta da felicidade. que lhe tragam valor. Portanto, apesar de acreditar que há algo depois da morte, acho também que, mesmo que nada exista após esta, devemos ainda assim acreditar que a nossa existência tem um sentido em função dos objetivos que vamos criando. Assim, se acreditamos em Deus sentimos que a vida continua em espírito após a morte e encon- tramos-lhe sentido; mas, se não acreditarmos e vivermos a vida de uma forma feliz, com objetivos alcançáveis, com valor, estamos a viver a vida com gosto e ela também adquire sentido, mesmo sabendo, neste caso, que estamos a caminhar para o fim das nossas vidas. Mauro A. G. Marques, 11º B Beatriz Lucas, 11º B