CIDADES DE PORTE MÉDIO E CONCENTRAÇÃO DE RENDA
NO PARANÁ: A CURVA INVERTIDA DE KUZNETS
Augusta Pelinski Raiher – Universidade Estadual de Ponta Grossa. Email:
[email protected]
Cleise Maria de Almeida Tupich Hilgemberg - Universidade Estadual de Ponta Grossa.
Email: [email protected]
Resumo:
Este artigo investiga a relação entre desigualdade e o crescimento econômico dos
municípios de porte médio do Paraná. Para isso, verifica-se a existência de
convergência da distribuição da renda e a aplicabilidade da hipótese de Kuznets para
esses municípios nos anos de 1991, 2000 e 2010. Este trabalho utilizou a metodologia
aplicada por Andrade e Serra (2001), que consideraram como municípios de porte
médio aqueles que apresentaram uma população entre 50 e 500 mil habitantes no ano
de 2010. Para a análise da convergência e da hipótese de Kuznets, estimativas
econométrica em dados de painel foram elaboradas. Os principais resultados indicam
que nos municípios de porte médio do Paraná há evidência de um processo de
convergência da distribuição de renda, além do que a hipótese de Kuznets se confirma,
na qual afirma que a distribuição de renda e o crescimento relacionam-se no tempo
seguindo o formato de um “U” invertido.
Palavras-chave: Convergência, hipótese de Kuznets; distribuição de renda, Paraná.
Abstract:
This article investigates the relationship between inequality and economic growth of the
mid-sized municipalities of Paraná. For this, it checks for convergence of income
distribution and the applicability of the Kuznets hypothesis for these counties in 1991,
2000 and 2010. This study used the methodology applied by Andrade and Serra (2001),
who considered municipalities midsize those with a population between 50 and 500
thousand in 2010. To analyze the convergence and the Kuznets hypothesis, econometric
panel data estimates were prepared. The main results indicate that in the municipalities
of Paraná midsize no evidence of a convergence process of income distribution, in
addition to the Kuznets hypothesis is confirmed, which states that the distribution of
income and growth are related in time following the shape of an inverted "U".
Keywords: Convergence, Kuznets hypothesis; income distribution, Paraná.
INTRODUÇÃO
Até os anos de 1990, as atividades produtivas concentravam-se especialmente
nos grandes centros. Nesses locais, economias de aglomerações atraiam cada vez mais
às indústrias, os empregos, a mão de obra qualificada, dentre outros. Contudo, à medida
que se intensificava o processo de concentração surgia, concomitantemente, algumas
deseconomias.
A partir dos anos de 1990, com o avanço dos transportes e das comunicações,
potenciais centros urbanos emergiram, apresentando não apenas economias de
aglomerações, mas também reduzida incidência das deseconomias, induzindo a um
grande fluxo de investimento e de população.
Como características, esses municípios de porte médio apresentavam
elementos importantes para a localização das atividades produtivas de maior escala
(como infraestrutura, mercado potencial), vantagens essas que superavam à dos
municípios de pequeno porte, e ao mesmo tempo, tinham baixas deseconomias de
aglomeração, tornando-se centros urbanos sem as desvantagens de grandes
metrópoles (SERRA, 1998).
Com efeito, um processo migratório então tendeu-se a ocorrer em favor desses
municípios de médio porte a partir da década de 1990. Porém, à medida que se tem a
atração populacional não necessariamente gera-se uma melhoria do bem estar para
toda a sociedade. Nos argumentos de Kuznets, a intensificação do crescimento
econômico, com a migração, proporciona, concomitantemente, uma elevação nas
desigualdades distributivas. Num segundo momento, quando a população se adapta, o
crescimento econômico prossegue em conjunto com uma diminuição dessas
desigualdades.
Portanto, na dinâmica econômica de uma região, a relação entre a concentração
de renda e o seu crescimento econômico dar-se-ia num formato de “U” invertido. No
entanto, se considerar todos os espaços, não distinguindo-os por seu nível
desenvolvimento, não necessariamente tem-se uma unanimidade ao identificar essa
relação para o Brasil (como Ravallion, 1995; Deininger e Squire, 1996, dentre outros, os
quais não comprovaram tal relação).
Por isso, com o intuito de melhorar a verificação empírica dessa hipótese, Barro
(2000) subdivide o espaço a ser analisado de acordo com o nível de desenvolvimento
de cada economia, obtendo resultados diferentes para cada nível de riqueza. Ou seja,
considerando as diferenças entre as economias desenvolvidas e em desenvolvimento
de um mesmo espaço de análise, não necessariamente todas tendem a compor uma
única curva de Kuznets.
No trabalho de Linhares et al (2012), usando o mesmo princípio de Barro (2000),
os autores validaram a hipótese de Kuznets para os estados mais ricos do Brasil, não
havendo evidencias empíricas para as regiões mais pobres do país.
Com efeito, neste artigo, busca-se analisar a aplicabilidade da hipótese de
Kuznets para os municípios de porte médio do estado do Paraná. Por tanto, já está se
fazendo, intuitivamente, uma subdivisão do espaço de acordo com os diferentes níveis
de desenvolvimento dos municípios, concentrando o estudo em apenas um, se
aproximando do trabalho desenvolvido por Barro (2000) e por Linhares et al (2012). Ao
mesmo tempo, avaliar a relação entre crescimento econômico e desigualdade de renda
nos municípios de porte médio é importante porque, ao mudar de função (tornando-se
um polo, com intensificação da aglomeração produtiva), talvez não esteja se
conseguindo gerar bem estar para toda a sociedade.
Destarte, este artigo estuda a relação entre desigualdade e renda para um painel
de dados considerando os municípios de porte médio do Paraná. Mais especificamente,
avalia-se a convergência da distribuição da renda, fechando com a analise acerca da
aplicabilidade da hipótese de Kuznets para esses municípios, considerando os anos de
1991, 2000 e 2010.
Para isso, esse artigo está dividido em cinco seções, incluindo esta. Na segunda
é apresentada a uma breve revisão acerca do modelo de Kuznets. Os procedimentos
metodológicos compõem a terceira seção. Na sequencia é feita análise da convergência
de renda e a verificação da relação entre desigualdade e renda, findando com as
considerações finais.
2 REVISÃO DE LITERATURA
A hipótese do “U” invertido ou “curva de Kuznets” é aplicada em estudos na
tentativa de estabelecer uma relação entre desigualdade na distribuição de renda e
crescimento econômico.
Neste sentido, Farias et al. (2011, p. 29) utilizam-se deste instrumento
argumentando que tanto a investigação teórica quanto empírica da curva de Kuznets
“são compostas de estudos com resultados significativamente divergentes no que toca
a aceitação ou não da referida hipótese”, isto porque há interpretações divergentes
quando refere-se ao aumento da desigualdade nos períodos iniciais do crescimento.
Alguns autores afirmam que isto é decorrente da redução absoluta da renda média da
população mais pobre. Outros argumentam que o aumento decorre apenas da menor
taxa de crescimento da renda média dos mais pobres quando comparados aos mais
ricos nos primeiros estágios do crescimento econômico.
Assim, Kuznets (1982) fundamenta em seu estudo que a desigualdade de renda
aumenta nos estágios iniciais do crescimento até atingir um ponto de máximo,
representado por determinado nível de renda per capita, após começa a decrescer dado
o desenvolvimento da economia.
Ainda, segundo o autor (1982), o processo ocorre dado a migração da população
de um setor primário para um setor urbano que é mais rico, mais desenvolvido, mais
desigual que o primário, promovendo de início um aumento da desigualdade até que a
renda per capita atinja um certo patamar e a partir daí se estabiliza a desigualdade.
Após atingir este ponto, ocorrerá uma tendência de redução contínua a medida que a
renda per capita continue crescendo.
Autores como Jacinto e Tejada (2004); Ahluwalia (1976); Robinson (1976);
Farias et al (2011), apontam em suma três linhas de investigação da hipótese de
Kuznets: primeiramente os modelos dualistas que referem-se a relação entre a
desigualdade e crescimento em dois setores um tradicional – agrícola e outro mais
dinâmico – industrial; em segundo o modelo de crescimento implicam nas questões
distributivas das teorias de crescimento destacando a Teoria de Solow – que pressupõe
agentes homogêneos, sendo composto pela função de produção neoclássica com
retornos constantes de escala e uma equação de acumulação de capital. A terceira linha
refere-se aos modelos sociais que admitem “a existência de uma relação causal entre
as decisões políticas dos eleitores – relativas a programas que proporcionem o
atendimento imediato de suas necessidades – e o vínculo entre desigualdade inicial e
distribuição de renda” (Farias et al, 2011, p. 31).
Deste modo, as formas de aplicações destas linhas, utilizam-se de diversos
índices de concentração e desigualdade aliados a diversos métodos de estimação,
conforme descritos na próxima seção.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Não há um consenso acerca do que seriam os municípios de porte médio. No
entanto, autores, como Beltrão Sposito (2004), afirmam que a sua definição se dá por
suas características intrínsecas, e uma delas seria o seu tamanho demográfico. É
importante ressaltar que está se analisando aqui os municípios de porte médio, e não
necessariamente está se utilizando o conceito de “cidades medias”, o qual é
significativamente mais abrangente1.
Neste sentido, utilizando a metodologia aplicada por Andrade e Serra (2001),
considerou-se municípios de porte médio como aqueles que apresentam uma
população entre 50 a 500 mil habitantes no ano de 2010. Com efeito, a pesquisa como
um todo envolveu os anos de 1991, 2000 e 2010, mas optou-se por classificar os
municípios paranaenses usando a população deste ultimo ano com o intuito de captar
os efeitos enunciados por Kuznets entre a concentração de renda e o crescimento
econômico. Em específico, o autor argumenta que no inicio do crescimento econômico
tem-se uma intensificação das desigualdades de renda, por isso, ao pegar a
classificação de 2010, muitos municípios ainda não eram tidos como de porte médio em
1991 e, potencialmente, poderiam estar no inicio da fomentação do seu dinamismo
econômico, podendo comprovar (ou não) tal hipótese.
Assim, ao hierarquizar os municípios do Paraná, 30 se enquadraram como de
porte médio, 02 como de grande porte e 367 como de pequeno. No caso específico dos
de porte médio, abrangeram: Almirante Tamandaré, Apucarana, Arapongas, Araucária,
Cambé, Campo Largo, Campo Mourão, Cascavel, Castro, Cianorte, Colombo, Fazenda
Rio Grande, Foz do Iguaçu, Francisco Beltrão, Guarapuava, Irati, Maringá, Paranaguá,
Paranavaí, Pato Branco, Pinhais, Piraquara, Ponta Grossa, Rolândia, São José dos
Pinhais, Sarandi, Telêmaco Borba, Toledo, Umuarama, União da Vitória.
Na primeira parte da análise, procurou distinguir as características – em termos
de população, crescimento econômico (PIB- a preços de 2000) e contração de renda
(coeficiente de Gini e Theil) - dos municípios de porte médio, pequeno e de grande porte.
Para isso, calculou-se a media dessas variáveis, com dados obtidos junto ao Ipardes e
ao Ipeadata. Na sequencia, focou a analise somente nos municípios com população
entre 50 e 500 mil habitantes.
Como a hipótese de Kuznets é de uma elevação da concentração de renda no
inicio da fomentação do dinamismo econômico, atenuando essa desigualdade num
segundo momento, então avaliou como está se comportando a distribuição de renda
entre esses municípios no decorrer do tempo. Para isso, estimaram-se dois modelos
econométricos, testando a hipótese de convergência quanto à distribuição de renda,
usando a metodologia de dados em painel. Quando se constata qualquer tendência de
convergência (condicionada ou incondicionada) é esperado que todos os municípios
obtenham, em algum ponto do tempo, um mesmo patamar de distribuição de renda,
Beltrão Sposito (2004) destaca que as “cidades médias” seriam apenas àquelas de porte-médio
que desempenham papéis intermediários e/ou regionais no âmbito da rede urbana. Por isso,
nem todo município de porte médio pode ser caracterizado como “cidade média”.
1
mesmo que iniciem esse processo em momentos diferentes. Assim, o modelo
econométrico considerado foi (1), o qual capta a relação entre a taxa de crescimento da
distribuição de renda e a distribuição de renda inicial de cada município de porte médio
em 1991, 2000 e 2010, destacando que a hipótese de convergência é confirmada
quando se obtém uma relação negativa entre essas variáveis. Ressalta-se que a
variável usada para representar a distribuição de renda na primeira estimativa foi “um”
menos o coeficiente de Gini, e na segunda foi “um” menos o coeficiente de Theil.
Estimaram-se dois modelos, com proxies distintas acerca da distribuição de renda,
visando corroborar os resultados encontrados.
1  DRit 
ln
 1   2 ln( DRi , 0 )  u i
T  DRi ,0 
(1)
Em que: T refere-se ao intervalo de tempo (1991, 2000 e 2010), DR é a medida de
distribuição de renda; 0 refere-se ao período inicial, t ao final e i representa-se a i-ésima
unidade de corte transversal (município de porte médio do Paraná).
As estimativas acerca da convergência foram feitas por meio da técnica
econométrica de dados em painel (considerando erros padrão robustos), na forma de
efeitos aleatórios, determinado pelo teste de Hausman (tabela 3). Destaca-se que na
primeira estimativa incluiu-se dummies temporais, enquanto que na segunda, não foram
incluídas. Para essa determinação, utilizou-se o teste Wald, no qual a hipótese nula é
de que as dummies de tempo não são conjuntamente significativas (tabela 3).
Depois da análise acerca da convergência, testou-se a hipótese de “U” invertido
entre a concentração de renda e o crescimento econômico enunciado por Kuznets. Para
isso, dois novos modelos econométricos foram estimados (2), distinguindo-os pelas
proxies acerca da concentração de renda que foram usadas: na primeira usou-se o
coeficiente de gini e na segunda, o coeficiente de theil.
Dit    1Yit  1Yit2   it
(2)
Em que: D é a medida da desigualdade; Y é renda per capita; Y2 é a renda per capita
ao quadrado, t é o indicador do tempo (1991, 2000 e 2010) e i refere-se aos municípios
de porte médio.
Um adendo acerca da estimação (2): usou-se dados em painel (considerando
erros padrão robustos), via estimação por efeito aleatório (teste Hausman – tabela4),
não incluindo dummies temporais em nenhuma das regressões (teste Wald – tabela4).
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A busca pelo crescimento econômico é a meta de todas as regiões. No entanto,
não necessariamente um dinamismo econômico maior eleva o bem estar de toda a
população. A concentração de renda impede que uma gama maior de agentes se
beneficie do crescimento econômico, criando e/ou fomentando uma “periferia” dentro do
“centro”. Neste sentido, para que os resultados do crescimento econômico venham a
promover efetivamente um desenvolvimento na região, um dos pontos refere-se à
necessidade de uma melhor distribuição da renda que é criada.
Ao mesmo tempo, quando se analisa a composição dos espaços regionais,
observa-se a formação de pontos nos quais se tem uma intensificação do dinamismo
econômico. Em geral, são os municípios de porte médio que concentram tal dinamismo.
Com efeito, antes dos anos de 1990, a industrialização se dava especialmente nas
metrópoles, dada a proximidade com os centros consumidores e com a mão de obra.
Contudo, com o avanço dos transportes e das comunicações, os municípios de porte
menor – referindo-se especialmente aos de porte médio – passaram a adquirir uma
importância crescente, tornando-se os principais centros de destino de emprego, das
indústrias e da mão de obra qualificada.
Destarte, tais municípios exercem influencia sobre os de porte menor do seu
envoltório e também um papel de “complementariedade” das metrópoles, apresentando
economias externas maiores que a dos primeiros e, em muitos casos, se igualando aos
grandes, por não incorrerem ainda em elevadas deseconomias externas (PEREIRA,
1977).
Desta forma, os seus benefícios – quais sejam: concentração de mão de obra,
do mercado consumidor, economias externas de escala, custos dos terrenos não tão
elevados, demanda menor por montantes financeiros para a solução de problemas
habitacionais e suas extensões, dentre outros – tendem a dinamizar o ritmo de
crescimento econômico apresentado por esses municípios.
Contudo, à medida que se intensifica o crescimento econômico de uma região,
tem-se uma atração populacional, que não necessariamente são acompanhadas pelo
aumento do emprego e pelos serviços públicos (SANTOS, 2003). Neste sentido, a
desigualdade pode se intensificar concomitantemente com o dinamismo econômico
gerado. Por isso, é importante analisar se a intensificação do crescimento econômico
nos municípios de porte médio, especialmente os do Paraná, ocorreu em conjunto com
uma deterioração da distribuição de renda ou se já se teve uma reversão dessa
concentração (segundo momento descrito por Kuznets).
Na tabela 1 é apresentada a evolução do PIB per capita, da população e dos
indicadores de concentração de renda (Gini e Theil) para todos os municípios do
Paraná, subdivididos em pequenos (367), médios (30) e grandes (2). Observa-se que
independente da classificação, todos, na média, melhoraram o seu dinamismo,
destacando que os de pequeno porte apresentaram a menor taxa de crescimento do
PIB per capita entre 1991 e 2010 (29% para os pequenos, 33% para os médios e 40%
para os de grande porte).
Tais municípios, em termos de população, tiveram um esvaziamento (-15%),
justificável pelo próprio dinamismo econômico não tão intenso que apresentou. Ao
mesmo tempo, os municípios de porte médio tiveram as maiores taxas de atração da
população (34%), evidenciando o fenômeno descrito por outros autores quanto à
dinamização que tais espaços tiveram, especialmente após os anos de 1990.
Tabela 1: Média da população, do PIB per capita (R$ de 2000), e dos indicadores de
concentração para os municípios do Paraná – 1991, 2000 e 2010
Ano
Menor de 50 mil
Entre 50 e 200 mil
Mais de 200 mil
1991
13668
11223
11567
0,54
0,54
0,46
0,52
0,52
0,39
4853
4548
6238
97813
113675
131367
0,52
0,53
0,47
0,48
0,50
0,39
7346
7859
9752
852568
1017190
1129304
0,56
0,58
0,53
0,55
0,62
0,51
7970
9271
11138
Gini
Variável
Popula
ção
Municípios com população
2000
2010
1991
2000
Theil
2010
1991
2000
Pib per
cap.
2010
1991
2000
2010
Fonte: Ipardes e Ipeadata, com dados trabalhados pela pesquisa
No que se refere à concentração de renda, apresentou uma melhora, inferior ou
igual a dos pequenos municípios, mas com um índice bem menor que a dos municípios
de grande porte. Por um lado, a atração populacional, incentivada pela fomentação de
renda desses municípios de porte médio, propicia uma oferta de mão de obra mais
intensa, beneficiando a atividade produtiva, acarretando, consequentemente, num
menor poder de barganha para o trabalhador, não se beneficiando plenamente pelo
aumento da renda. Então, seria justificável se, em certa medida, os coeficientes de
concentração dos municípios de porte médio fossem maior que os de pequeno porte.
No entanto, as informações contidas na tabela 1 demonstram que esses municípios de
porte médio chegaram em 2010 com um índice de concentração igual ou bem próximo
que os de pequeno porte, o que é extremamente importante, porque está se tendo uma
elevação da dinâmica econômica, com taxas significativas no que se refere ao
incremento populacional, e ao mesmo tempo, está se diminuindo a desigualdade de
renda.
Destarte, analisando as estatísticas descritivas apenas dos municípios
classificados em 2010 como de porte médio, enfatiza-se novamente a melhora no que
tange aos aspectos econômicos, não se elevando o valor máximo observado, mas
aumentando o valor mínimo, demonstrando que está se tornando mais homogêneo o
dinamismo econômico entre esses municípios. Ao mesmo tempo, o crescimento
populacional se intensificou especialmente em alguns espaços, com um aumento do
valor mínimo, mas não tão significativo como foi a elevação do valor máximo,
apresentando um desvio padrão alto. Ora, isso indica que alguns desses municípios
tiveram uma atração populacional maior, o que, segundo Singer (1980), está
diretamente atrelado às oportunidades econômicas que se tem. Contudo, é importante
destacar que todos os trinta municípios analisados elevaram a sua população.
Ademais, no que se refere à concentração da renda, os índices demonstram uma
queda acentuada, diminuindo a discrepância entre os municípios de porte médio,
tornando-os mais semelhantes em termos de distribuição de renda (Tabela 2).
Tabela 2: Estatística descritiva para variáveis selecionadas – municípios de porte médio
do Paraná – 1991, 2000 e 2010
Variáveis
Máximo
Mínimo
Desvio padrão
Média
População 1991
240292
288653
357077
0,68
0,63
0,55
0,83
0,73
0,54
48142
41315
46338
43776
48522
52735
0,40
0,41
0,35
0,27
0,29
0,22
2136
2186
2621
56344
71262
82869
0,07
0,05
0,04
0,13
0,10
0,08
8482
7272
8458
97813
113675
131367
0,52
0,53
0,47
0,48
0,50
0,39
7346
7859
9752
População 2000
População 2010
Coeficiente de Gini 1991
Coeficiente de Gini 2000
Coeficiente de Gini 2010
Coeficiente de Theil 1991
Coeficiente de Theil 200
Coeficiente de Theil 2010
Pib per capita 1991
Pib per capita 2000
Pib per capita 2010
Fonte: Ipardes e Ipeadata, com dados trabalhados pela pesquisa
Nas figuras 1a e 1b são apresentadas as distribuições espaciais do coeficiente
de Gini de 1991 e de 2000, e na figura 1c tem-se a taxa de crescimento da concentração.
Com exceção apenas de dois municípios (Pinhais e Almirante Tamandaré) todos os
outros diminuíram a concentração de renda, tendo quedas de até 25% no intervalo de
1991 a 2010. Mais do que isso, é possível observar que muitos dos municípios de porte
médio que tinham um coeficiente de Gini elevado tiveram as menores taxas de
crescimento, ou, em outras palavras, tiveram as maiores taxas de decrescimento do
Gini no período, indicando um processo de convergência quanto à distribuição de renda
entre esses municípios.
Com efeito, visando analisar efetivamente a convergência da distribuição de
renda entre esses municípios de porte médio do Paraná, estimaram-se dois modelos
econométricos, cuja variável dependente correspondeu ao logaritmo da taxa de
crescimento da distribuição de renda e como variável explicativa teve-se o logaritmo da
distribuição da renda inicial (Tabela 3). Na primeira estimativa a distribuição de renda
foi representada por “um” menos o coeficiente de Gini, e na segunda, por “um” menos
o coeficiente de Theil. Como corolário, comprova-se essa tendência quanto à
convergência da distribuição de renda entre esses municípios, tendo em vista que o
coeficiente da distribuição inicial, em ambas as estimativas, veio com o sinal negativo e
significativo a um nível de significância de 5%.
Ou seja, aqueles municípios que tinham uma baixa distribuição de renda no
período inicial tenderam a ter uma elevada taxa de crescimento dessa distribuição no
período seguinte; ao passo que, aqueles que tinham uma elevada distribuição de renda
inicial tenderam a ter um ritmo de melhoramento quanto à sua distribuição de renda
menos intensa no período seguinte.
Tabela 3: Estimativa quanto à convergência da distribuição de renda entre os municípios
de porte médio do paraná – 1991,2000 e 2010
Variável dependente
Ln (1- coeficiente de Gini)
LN (1- coeficiente de Theil)
Constante
0,48
(0,009)*
Hausman:0,005
Wald: 3,91*
Constante
0,002
(0,007)
Hausman: 3,06
Wald: 2,82
Ln (1- coeficiente de Gini inicial)
-0,62
(0,13)*
Ln (1- coeficiente de Gini inicial)
-0,94
(0,06)*
Fonte: Resultado da Pesquisa
Nota: *significativo a um nível de significância de 5%. Na primeira estimativa, usou dummies de
tempo, dado que o teste Wald rejeitou a hipótese nula e na segunda, dado que não se rejeitou a
hipótese nula, então não usou-se dummies temporais. Ambas as estimativas foram rodada por
efeito aleatório, dado que no teste Hausman não se rejeitou a hipótese nula.
Figura 1: Coeficiente de Gini entre os municípios de porte medio do Paraná – 1991, 2010 e taxa de crescimento 1991/2010(%)
(a)
(b)
(c)
Fonte: Resultado da Pesquisa. (a) Gini 1991; (b) Gini 2010; (c) taxa de crescimento do coeficiente de Gini de 1991 para 2010
Desta forma, uma distribuição mais homogênea e mais igualitária da renda entre
esses municípios de porte médio do estado do Paraná está ocorrendo. Isso sinaliza que,
se a hipótese de Kuznets se verificar efetivamente, então, parte deesses municípios
tenderiam a estar naquele segundo momento enunciado por Kuznets, no qual, a
elevação do crescimento econômico estaria acompanhada por uma melhoria da
distribuição de renda (ou, em outras palavras, numa diminuição da concentração de
renda).
Destarte, buscando identificar se a hipótese de Kuznets se aplica entre os
municípios de porte médio do estado do Paraná, estimaram-se duas regressões, nas
quais se comprovou tal hipótese (Tabela 4). Como o sinal do coeficiente que acompanha
o PIB veio positivo e significativo, e depois o do PIB ao quadrado veio negativo e também
significativo a um nível de significância de 5%, então a relação entre a concentração de
renda e o crescimento econômico se dá num formato de um “U” invertido. Ou seja, no
inicio do crescimento econômico tem-se uma intensificação da desigualdade, no
entanto, num segundo momento essa desigualdade tende a diminuir com a continuação
da fomentação do crescimento econômico.
Ora, como nas estimativas da Tabela 3 se comprovou uma tendência de
convergência quanto à distribuição de renda e como se constatou que a hipótese de
Kuznets se aplica nos municípios de porte médio do Paraná (Tabela 4), então a
tendência é que parte desses espaços estejam já no segundo momento descrito por
Kuznets, com crescimento econômico e diminuição das desigualdades distributivas.
Tabela 4: Estimativa quanto à hipótese de Kuznets - municípios de porte médio do
Paraná – 1991,2000 e 2010
Variável dependente
Índice de Gini
Hausman: 4,03
Wald: 1,0
Índice de Theil
Constante
PIB Per capita
0,47
(0,01)*
0,006
(0,0003)*
PIB Per capita ao
quadrado
-0,000001
(0,0000005)*
0,41
(0,03)*
0,009
(0,004)*
-0,000002
(0,000009)*
Hausman: 3,94
Wald: 0,4
Fonte: Resultado da Pesquisa
Nota: *significativo a um nível de significância de 5%. Em nenhuma das estimativas se usou
dummies de tempo, dado que o teste Wald não rejeitou a hipótese nula. Ambas as estimativas
foram rodada por efeito aleatório, dado que no teste Hausman não rejeitou a hipótese nula.
E qual seria a explicação para tal fenômeno? Nos argumentos de Kuznets, a
transferência de mão de obra, com a migração para o urbano – no caso deste estudo,
para os municípios de porte médio, mais dinâmico economicamente que os municípios
vizinhos, de pequeno porte – tenderia a elevar a oferta de mão de obra, diminuindo o
seu poder de barganha, com um nível salarial maior para a mão de obra mais
qualificada. Então, neste primeiro momento, a produção se elevaria, com a retração da
remuneração da mão de obra não tão especializada. Num segundo momento, essa
força de trabalho migrante tende a se adaptar, exercendo funções mais bem
qualificadas, elevando a oferta de mão de obra especializada, gerando uma pressão
sobre os salários desses profissionais mais qualificados, retraindo esse valor.
Concomitantemente à queda na demanda por profissionais qualificados, elevase a demanda por trabalhadores com baixa qualificação, especialmente por conta da
expansão da economia e pela própria diminuição da oferta dessa mão de obra de baixa
qualificação, a qual, em parte, se especializou. Esses dois fenômenos então tenderia a
diminuir a desigualdade de renda, atrelado a um avanço do crescimento econômico da
região.
Portanto, como os municípios de porte médio, especialmente depois dos anos
de 1990, apresentaram um dinamismo econômico elevado, com forças centrípetas
atraindo a força de trabalho de outros municípios, é possível ter havido inicialmente essa
distinção da remuneração da mão de obra entre os mais qualificados e os menos. Nos
mesmos argumentos de Kuznets, essa diferença reduziu-se e está ainda se reduzindo
com o próprio avanço do crescimento econômico, conforme os resultados obtidos.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo buscou analisar a aplicabilidade da hipótese de Kuznets para os
municípios de porte médio do estado do Paraná e, ao mesmo tempo, avaliou-se a
convergência da distribuição da renda, considerando os anos de 1991, 2000 e 2010.
Foi possível observar que todos os municípios – independentes do seu porte melhoraram (na media) o seu dinamismo econômico. No entanto, os de porte médio,
além de ter um elevado desempenho econômico, também apresentaram um fluxo
migratório bastante intenso, com uma homogeneização da renda entre eles.
Essa tendência quanto à diminuição das discrepâncias existentes entre os
municípios de porte médio, denotando uma convergência da distribuição de renda,
acompanhado pela comprovação da hipótese de Kuznets, infere que esses pontos no
espaço paranaense estão conseguindo crescer economicamente e ao mesmo tempo,
proporcionar certa distribuição alocativa dos recursos.
Com efeito, uma distribuição mais homogênea e mais igualitária da renda entre
esses municípios de porte médio do estado do Paraná está ocorrendo. Isso é importante
dado que esses espaços se tornaram pontos de atração da atividade produtiva e
também da mão-de-obra. Assim, a intensificação do crescimento econômico em
conjunto com o melhoramento da distribuição dos recursos, implica, consequentemente,
numa melhoria do bem estar da população.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, Thompson; SERRA, Rodrigo Valente. “Análise do desempenho
produtivo dos centros urbanos brasileiros no período 1975/2000” In: ANDRADE,
Thompson; SERRA, Rodrigo Valente. Cidades médias brasileiras. Rio de
Janeiro: IPEA, 2001, p. 79-127.
BARRO, R. J. Inequality and growth in a panel of countries. Journal of
economic growth, v. 5, p. 5-32, 2000.
BELTRÃO SPOSITO, M. E. O chão em pedaços: Urbanização, economia e
cidades no Estado de São Paulo. UNESP, Presidente Prudente, 2004 (Livre
Docência).
DEININGER, K.; SQUIRE, L. A new data set measuring income inequality. World
Bank economic review, v. 10, p. 565-591, 1996.
FARIAS, T.A. et al.; A teoria do U invertido: um teste empírico da hipótese de
Kuznets para a relação entre crescimento econômico e desigualdade de renda
no Brasil (1976-2007). Revista de Economia Mackenzie,v.8, n.1, p.26-51,
2011.
JACINTO, P.A.; TEJADA, C.A. Desigualdade de renda e crescimento econômico
nos municípios da Região Nordeste do Brasil: o que os dados têm a dizer? In:
Encontro Nacional de Economia, 32, 2004, Paraíba. Anais Paraíba: Conselho
Regional de Economia e Conselho Federal de Economia, 2004.
KUZNETS, S. Crescimento Econômico Moderno. Rio de Janeiro: Abril
Cultural, 1982.
LINHARES, F.; FERREIRA, R.; IRFFI, G.; MACEDO, C. A hipótese de Kuznets
e mudanças na relação entre desigualdade e crescimento de renda no Brasil.
Pesquisa e Planejamento Econômico, v. 42, n. 3, dez. 2012.
PEREIRA, W. K. R. Cidades médias: uma opção no desenvolvimento
urbano. Brasília, DF: Universidade de Brasília, Departamento de Economia,
1977 (Dissertação de Mestrado em Economia).
RAVALLION, M. A. Growth and poverty: evidence for developing countries in the
1980s. Economics letters, n. 48, v. 3, p. 411-417, 1995.
ROBINSON, S. A note on the U hypothesis relating income inequality and
economic development. American Economic Review, v.66, n.3, 1976.
SANTOS, Milton. Economia espacial: críticas e alternativas. São Paulo: Edusp,
2003.
SERRA, R. V. Cidades médias brasileiras: um recente retrato econômico e
populacional. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto
de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, 1998 (Dissertação de Mestrado
em Planejamento Urbano e Regional).
SINGER, P. Migrações internas: considerações teóricas sobre seu estudo. In:
MOURA, H. A. de (Coord.). Migração interna: textos selecionados. Fortaleza:
Banco do Nordeste do Brasil - BNB, Escritório Técnico de Estudos Econômicos
do Nordeste, 1980. t. 1, p. 211-244. (Estudos econômicos e sociais, 4).
Download

a curva invertida de kuznets