G.9.1 – Sociologia HISTÓRIA DA CIÊNCIA SOCIAL PRÉ-DISCIPLINAR Elaine Cristina Carraro1 : 1. Dra. em Sociologia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP. Professora da Faculdade Adventista de Hortolândia; *[email protected] Palavras Chave: história da sociologia, instituto histórico, Monarquia de Julho. Introdução Embora a era clássica da sociologia tenha sido demarcada entre os anos de 1880 a 1920, quando fez sua entrada no campo disciplinar, com professores, cadeiras universitárias e revistas especializadas; cognitivamente e nas práticas, ela teve origem mais cedo. Foi sobretudo fora da Universidade que se tomaram as iniciativas mais ousadas. Não obstante, pensar sobre as condições que possibilitaram o surgimento da sociologia requer abordar aspectos negligenciados ou completamente ignorados e até rejeitados na história das ciências sociais. Compreender um período que compõe a pré-história da sociologia é se dar conta das diversas tentativas e orientações, dos comprometimentos, alcances e limites que vão além das obras dos “grandes autores”. Este trabalho analisa as primeiras tentativas de cientificização da ciência social que se expressaram especificamente no contexto francês e no período referente à Monarquia de Julho (1830-1848). Procuramos compreender a contribuição dessas pesquisas para a constituição das ciências sociais analisando como esse movimento de pensamento se exprime numa instituição científica da época. Trata-se do Instituto Histórico de Paris (IHP), criado em 1834 com o objetivo de promover a pesquisa histórica Resultados e Discussão Nesse período, academias e instituições, como o IHP, desempenharam papel decisivo na produção intelectual, aplicando uma espécie de “política de pesquisa”, orientando a atividade de pesquisadores pela escolha de temas propostos para concursos e debates. Ao retratar o pensamento de uma época, o Instituto Histórico de Paris traz à baila a importância do raciocínio “sociológico” nas décadas de 1830 e 1840 e evidencia a influência da ciência social em diferentes áreas do conhecimento. O Instituto Histórico de Paris foi uma sociedade bastante peculiar, cujos estatutos e atividades dão mostras de um projeto que procurava não apenas contribuir para a pesquisa histórica, elevando-a à classificação de ciência, como também definir a ciência social. No IHP, o grupo de membros que se ocupava da História das Ciências Sociais e Filosóficas formulou uma tentativa de constituição da ciência social e assim como as outras classes, embora de modo mais marcante, estimulou pesquisas de caráter essencialmente “sociológico”. Essa “aproximação sociológica” ocorreu por meio da escola bucheziana, liderada por Philippe Buchez, de origem saint-simoniana, que apesar de ter rompido com a escola, continuou fiel ao projeto de Saint-Simon, de constituir uma ciência social. Sob a Monarquia de Julho, havia um contexto político e científico que estimulava pesquisas de caráter sociológico. Do ponto de vista político, os ministros que conduziram a política do governo orientaram-se pela convicção de que a ciência poderia e deveria dirigir as ações do Estado. O apoio científico para essas pesquisas, em certa medida, também foi alcançado por meio de incentivo governamental. Nesse aspecto, referimo-nos principalmente à criação da Academia de Ciências Morais e Políticas, graças a intervenção de François Guizot. Sob sua direção, o Ministério da Instrução Pública criou uma rede de erudição, incentivou e subsidiou a pesquisa histórica e a criação de novas instituições destinadas à construção da história nacional. Conclusões A tentativa de definição da ciência social empreendida pelo IHP representou muito mais uma filosofia da história inspirada na ideia de progresso do que a elaboração de uma ciência. Mas, nesse sentido, o seu fracasso não eclipsa o que há de instigante em seu projeto. Ele expressa a lucidez de suas ambições sociológicas quando se questiona acerca da possibilidade de analisar os “fatos sociais”, de definir o objeto de estudo e de estabelecer um método de pesquisa para essa ciência social. Analisando a composição social e ideológica e as atividades estimuladas pelo Instituto Histórico de Paris, entre 1834 e 1850, pode-se perceber a construção de um discurso sociológico e, ao mesmo tempo, o clima intelectual que estimulava a elaboração de projetos de constituição da ciência social fora do âmbito das instituições mais reconhecidas e entre autores “menores”. Agradecimentos Agradeço à FAPESP e à CAPES pelo auxílio concedido à pesquisa de doutorado e ao prof. Dr. Renato Ortiz, pela orientação da tese que inspirou este trabalho. ____________________ 67ª Reunião Anual da SBPC