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O CUIDAR E O EDUCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA PERSPECTIVA
PARA GRADUADOS EM LICENCIATURAS
Adrienne Galvão Silveira
Licenciada e Bacharel em Geografia
Profa. Rede Particular Uberlândia - MG
[email protected]
Adriany de Ávila Melo Sampaio
Profa. Dra, UFU
Introdução
O profissional da Educação Infantil vem ao longo da história da educação no Brasil
passando por diferentes exigências, isto inclui o que se espera do educador e o papel do
professor frente a formação da criança. Essa perspectiva foi se transformando ao longo dos
anos, como pode-se verificar ao analisar o processo histórico da Educação Infantil.
Atualmente verifica-se uma grande preocupação com a qualidade da Educação
Infantil, o foco é o desenvolvimento da criança sob todos os aspectos - corporal, intelectual e
afetivo e o preparo para a escola elementar, para isso entende-se como fator elementar a
formação do profissional para promover essa qualidade.
A dicotomia educar e cuidar, relacionados com a formação do profissional da
Educação Infantil, foram objetos de estudo para realização desse trabalho que partiu da
análise da história da Educação Infantil e levou em consideração as diferentes formações de
professores, que são graduados em licenciaturas e trabalham com crianças de zero a seis
anos.
A metodologia adotada foi a análise bibliográfica e observações realizadas com
crianças de zero a seis anos em escola da rede particular em Uberlândia. A idade das
crianças, a carga horária e a formação dos professores que ingressam na Educação Infantil
varia muito de país para país e até mesmo internamente, porém é evidente que as crianças
que se beneficiam de um atendimento educacional de qualidade adquirem habilidades
relevantes.
A História da Educação Infantil
As funções das instituições que cuidavam de crianças foram evidenciadas após a
primeira guerra mundial com o aumento do número de órfãos e a deterioração ambiental.
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Surgiu nesta época um maior interesse na educação infantil principalmente por parte de
médicos que começaram a utilizar de materiais por eles confeccionados para desenvolver
atividades educativas como por exemplo a médica psiquiatra italiana Maria MONTESSORI
(1879 – 1952).
O nome da médica psiquiatra italiana Maria MONTESSORI (1879 – 1952) inclui-se
também na lista dos principais construtores de propostas sistematizadas para a
educação infantil no século XX. Tendo sido encarregada da seção de crianças com
deficiência mental em uma clinica psiquiátrica de Roma, produziu uma metodologia
de ensino com base nos estudos médicos de Itard e Ségun, que haviam proposto o uso
de materiais apropriados como recursos materiais. (OLIVEIRA, 2002, p.74)
No século XX a infância ganha novas concepções e preocupações com relação aos
valores sociais produzidos no embate de problemas políticos e econômicos. Houve nesta
época diversas e valiosas contribuições para a educação infantil como as de Vygotsky, Piaget,
Freinet, entre outros, os professores da educação infantil da atualidade ainda se baseiam nas
concepções destes autores.
Após a Segunda Guerra Mundial surgiram novos estudos abordando a preocupação
com a situação social da infância e a idéia da criança como portadora de direitos. Surgem
teorias que evidenciavam a necessidade da estimulação do desenvolvimento na criança desde
o nascimento.
A expansão dos serviços de educação infantil na Europa e nos Estados Unidos foi
sendo influenciada cada vez mais por teorias que apontavam o valor da estimulação
precoce do desenvolvimento da criança já a partir do nascimento .(OLIVEIRA,
2002,p.78)
Mas foi o desenvolvimento tecnológico e a busca da mulher pelo mercado de trabalho
que acarretaram maiores mudanças nas concepções sobre a criança e sua educação, a
necessidade de buscar novas alternativas para cuidar das crianças fez com que a atenção
voltada para as mesmas fosse analisada.
Neste período a criança passa a ser vista como sujeito social, ativa, participante na
construção do saber, esta visão provocou mudanças na prática pedagógica dos profissionais da
área que buscavam a partir daí uma formação especializada, como afirma Oliveira, 2002.
Atualmente na Europa, o principal eixo das discussões da área é a qualidade da
educação infantil, englobando o desenvolvimento integral da criança, bem como o preparo
para o ensino elementar.
História da Educação Infantil no Brasil no Século XX
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A história da educação infantil no Brasil acontece como nos outros lugares do mundo
de acordo com o cenário político e econômico da época, por isso existem muitas semelhanças
porém particularidades.
No Brasil até meados do século XIX o atendimento a crianças de 0 a 6 anos em
instituições como creches praticamente não existia, devido à estrutura familiar da época
moldada tradicionalmente, onde o pai de família trabalhava em busca do sustento e a mãe
cuidava dos filhos.
Na época a maioria da população se concentrava na área rural e pequena parte nas
cidades, havia muitas crianças órfãs de escravos e índias (que geralmente eram frutos de
abusos sexuais pelos homens brancos) estas crianças eram adotadas pelas famílias dos grandes
fazendeiros. Nas cidades as crianças abandonadas eram recolhidas pelas rodas expostas que
eram orfanatos da época.
No final do século XIX começa a ser discutido no Brasil as concepções elaboradas na
Europa sobre a educação infantil. A partir deste período foram criadas as primeiras
instituições voltadas para o atendimento de crianças pobres. Posteriormente surgiram os
primeiros jardins-de-infância públicos voltados para as crianças mais ricas.
Após a proclamação da república houve um investimento na educação, porém voltado
para o ensino primário. Somente com o processo de urbanização brasileira e
conseqüentemente com a industrialização surgiu a necessidade de atendimento as crianças.
Com a chegada das fábricas houve uma mudança na estrutura da família tradicional brasileira,
as mulheres saíram de casa para trabalhar nas indústrias o que acarretou na busca de
atendimento as crianças. Inicialmente as crianças eram acolhidas por caridade pelas mulheres
que não trabalhavam e se dispunham a pajear as crianças de outras famílias ou no acolhimento
de parentes. Posteriormente, a partir da organização de movimentos e sindicatos de operários
(as) foi reivindicado inicialmente aos empresários e posteriormente ao governo instituições
como creches e pré-escolas.
Devido a necessidade encontrada foram implantadas instituições voltadas para o
atendimento de crianças, porém o caráter era puramente assistencial, havia preocupação com a
organização espacial e com a saúde da criança, não havia um trabalho de cunho pedagógico,
era um trabalho assistencial.
Após 1922, surgiram as primeiras regulamentações sobre o atendimento a criança e
surgiu um movimento de renovação pedagógica conhecido como escalovinismo, discutia a
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educação pré-escolar, porém os estudos da época eram voltados para as crianças das camadas
sociais mais favorecidas.
Somente na década de 40 prosperaram iniciativas governamentais na área, porém o
atendimento à criança era voltado a saúde e filantropia.
Havia nesta época o que perdurou até meados do século XX atendimento para crianças
em creches, parques infantis, escolas maternais, jardins-de-infância e classes pré-primarias.
Historicamente, sabe-se que o ingresso da mulher ao trabalho só aumentou, aumentando
também a procura por instituições de atendimento as crianças, principalmente por período
integral, porém neste período foi aprovada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
aprovada em 1961 (Lei 4024 61) que incluiu os maternais, jardins de infância e pré-escola no
sistema de ensino.
Na década de 70 houve um processo de municipalização da educação pré-escolar
pública,como expõe Oliveira (2002,p.110):
O aumento da demanda por pré-escola incentivou, na década de 70, o processo de
municipalização da educação pré-escolar pública, com a diminuição de vagas nas
redes estaduais de ensino e sua ampliação nas redes municipais, política intensificada
com a aprovação da Emenda Calmon à Constituição Nacional (1982), vinculava um
percentual mínimo de 25% das receitas municipais a gastos com o ensino em geral.
Em 1972 já havia 460 mil matrículas na pré-escola em todo país.
Com o interesse cada vez maior das mães de classe média, não somente das mães de
classes populares por atendimento as crianças, concomitante às novas pesquisas realizadas na
área sobre o desenvolvimento da criança levou algumas instituições se preocuparem com o
caráter pedagógico no atendimento às crianças.
Em meados dos anos 70 houve debates sobre o caráter assistencialista e educativo das
instituições como os parques e creches. Porém outro fato importante é o de que estas
instituições ainda exigiam baixos
níveis de escolaridade de seus profissionais. Mas a
mudança na mentalidade da população já estava suplantada, o atendimento às crianças já não
era visto como assistência social e sim como dever do Estado e direito da família.
Lutas pela democratização da escola pública, somadas a pressões de movimentos
feministas e de movimentos sociais de lutas por creches, possibilitaram a conquista, na
Constituição de 1998, do reconhecimento da educação em creches e pré-escolas como
um direito da criança e um dever do Estado a ser cumprido nos sistemas de ensino .
(OLIVEIRA,2002, p.115)
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Embora houvesse um maior esforço em busca de práticas pedagógicas nas instituições,
os profissionais se deparavam com a falta de estrutura física e material para realizar as
atividades com as crianças.
Um traço marcante das décadas de 80 e 90 para educação voltada ás crianças foi o
surgimento de programas de televisão infantis com programação pedagógica. Na década de
90 houve grande evolução com relação a educação infantil, como por exemplo a promulgação
do Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990, que registrava os direitos da criança
incluindo o direito à educação. Surgem também novas idéias e concepções para educação
infantil com a proposta de uma nova Lei de Diretrizes e Bases (Lei 9394 96), esta estabeleceu
a educação infantil como etapa inicial da educação básica, marco na história da educação
infantil por incluir crianças de 0 a 6 anos no atendimento público obrigatório, dentre outras
conquistas:
Certamente não há como negar a grande evolução que a educação infantil passou no
período entre meados do século XIX até os tempos atuais, mas este caminho cheio de lutas,
dificuldades e conquistas ainda não chegou ao fim. A busca pela valorização da área é
constante e muitos pontos ainda devem ser discutidos por teóricos, profissionais e
comunidade.
A necessidade por atendimento às crianças só vem aumentando diante da estrutura
capitalista atual e as instituições vêm experimentando diversas metodologias e formas de
estimulação por meio de atividades lúdico-pedagógicas. A maioria dos pais procura
atendimento integral para as crianças, esta realidade merece uma reflexão especial, na verdade
na última década houve em muitos casos uma transferência da responsabilidade pela educação
dos filhos para os profissionais da educação, que se sentem muitas vezes sobrecarregados e
sem apoio para realizar seu trabalho. É essencial que as famílias acompanhem o
desenvolvimento de suas crianças e participem juntamente com as escolas no processo
educacional.
Após a LDB (Lei nº 9.394 96), muitas discussões sobre a formação do profissional
foram realizadas junto a algumas reformas no ensino voltado para docência na educação
infantil, porém este é outro aspecto que deve ser destacado, no caso de Uberlândia em especial
a Prefeitura Municipal de Uberlândia emprega na sala de aula um professor e educadores
infantis para auxiliarem o professor, aos professores é exigida formação no magistério e aos
educadores formação fundamental, a Prefeitura oferece aos funcionários benefícios de acordo
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com o Plano de Cargos e Carreira, esta realidade revela que se mantêm na educação infantil
profissionais sem formação em sala de aula.
Não convém discutir profundamente o binômio cuidar-educar neste momento. A
experiência que esta pesquisadora adquiriu em sala de aula, porém, é de que todos os
profissionais que trabalham diretamente com a criança exercem as duas funções, a de cuidar e
a de educar, ao pensar nisto fica clara a necessidade da formação e remuneração adequada
para todos que trabalham na educação infantil.
Dentre estes aspectos outros ainda merecem serem analisados e revistos em busca de
melhoria e aperfeiçoamento na educação de 0 a 6 anos como, por exemplo, o número de vagas
para atendimento às crianças nas instituições, a inclusão de alunos especiais em sala de aula,
os recursos disponíveis para o trabalho dos professores, o espaço adequado para escola.
Cuidar e educar
A dicotomia entre o cuidar e o educar está muito presente na prática dos profissionais
da Educação Infantil. Muitos desses professores não possuem formação na área específica, já
que a legislação não faz tal exigência. Há uma grande quantidade de professores que atuam
com crianças de zero a seis anos que se formaram em licenciaturas, psicologia e até mesmo os
que não possuem curso superior.
(...) os estudos sobre a formação dos profissionais têm antecedido aqueles
sobre a própria definição das particularidades dos profissionais de Educação
Infantil, tais como as características de sua função e de sua atuação prática,
mesmo, de sua identidade e configuração profissional. Neste conjunto de
trabalhos voltados para a formação, tanto do professor como o profissional
de atuação indireta não tem sido muito considerados como sujeitos em seu
próprio processo de formação (ROCHA, 2001 apud MICARELLO, 2007).
A formação e a percepção que o profissional tem de si próprio e da atuação que realiza
como profissional da educação são relevantes. Diante da história da Educação Infantil
percebe-se uma profunda ligação do atendimento às crianças com o assistencialismo, onde a
função professor muitas vezes se confunde com a função materna, mas não há como negar o
cuidado marcante dos profissionais que atuam com crianças de zero a seis anos, apesar disso
ser conflituoso para alguns profissionais.
(...) O saber cuidar tem sido relegado a uma posição de inferioridade em
relação a outros saberes, por ser identificado como um saber tipicamente
feminino. Por essa razão, muitas vezes os professores consideram que
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assumir a dimensão do cuidado como inerente às suas atividades de docência
seria negar o caráter profissional dessa atividade. (MICARELLO, 2007,p.38)
O cuidar está diretamente ligado à situação emocional do professor e à sua própria
visão com relação ao educar. Há necessidade de doação, envolvimento e aceitação por parte
de quem cuida. O desenvolvimento da criança está diretamente relacionado às interações que
ela estabelece com as pessoas que convive, daí a importância de estabelecer uma vivência
pautada no cuidado, na afetividade no acolher.
Considerações Finais
A história da Educação Infantil permeou por caminhos diversos, as diferentes
funções estabelecidas ao atendimento infantil ao longo do tempo deixou marcas no que se
refere ao papel do educador, porém a cuidado não anula as dimensões intelectuais do
trabalho do professor.
O educar, principalmente crianças de zero a seis anos, está intrinsecamente ligado ao
cuidar, é importante considerar a necessidade da afetividade com crianças dessa faixa etária.
Há muitas vezes, um receio do professor no que tange esse cuidar, pois fica claro a exigência
de um envolvimento emocional e afetivo, o que exige uma entrega maior.
O cuidado de alta qualidade é aquele capaz de gerar confiança e vínculo afetivo
entre a criança e o adulto. Nesse sentido, a discussão sobre o tema visa a que as
famílias e outras pessoas que cuidam delas, como educadoras de creches e préescolas, compreendam que, mediante o cuidado, a interação e a brincadeira,
estabelecem-se vínculos afetivos significativos e essenciais ao bem-estar
infantil. (ALVES et al, 2007)
O foco do profissional que trabalha com a Educação Infantil deve ser a formação e o
desenvolvimento integral da criança, para isso é essencial que o educar caminhe junto com o cuidar,
visto as necessidades dos alunos, que geralmente nessa faixa etária são bem mais dependentes e
necessitam de cuidados permanentes.
Referências
ALVES, Roberta C. P. VERISSÍMO, Maria De La Ó R. Os educadores de creche e o
conflito entre cuidar e educar. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento
Humano, v. 17, n. 1, abr. 2007.
BRASIL, Lei de nº 9.394 de 1996. Promulgada em 20/ 12/ 96. Brasília: Editora do Brasil
(LDB).
MICARELLO, Hilda Aparecida Linhares da Silva. Saber Acolher. Presença Infantil.v. 13, n.
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78. P. 34-44, nov./dez.2007.
OLIVEIRA, Zilma R. de. Educação Infantil: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez,
2002. 255 p.
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Introdução A História da Educação Infantil