ISSN 1809-9475 Centro Universitário de Volta Redonda - Ano VIII - Edição Especial - Maio/2013 Centro Universitário de Volta Redonda - Ano VIII - Edição Especial - Maio/2013 Campus Olezio Galotti Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços Volta Redonda - RJ Tel.: (24) 3340-8400 Fax: (24) 3340-8404 Campus Aterrado Av. Lucas Evangelista, nº 862, Aterrado Volta Redonda - RJ Tel.: (24) 3338-2764 (24) 3338-2925 Campus Colina Anexo ao Hospital São João Batista Rua Nossa Senhora das Graças, nº 273, Colina Volta Redonda - RJ Tel.: (24) 3340-8400 Campus Vila Rua 31, nº 43 Vila Santa Cecília Volta Redonda - RJ Tel.: (24) 3348-5991 Campus João Pessoa Fagundes Rua 28, nº 619 Tangerinal Volta Redonda/RJ CEP: 27.264-330 Telefone: (24) 3348.1441 (24) 3348.1314 Campus Leonardo Mollica Rua Jaraguá nº 1084 Retiro Volta Redonda/RJ CEP: 27277-130 Telefone: (24) 3344.1850 (24)3344.1851 CIÊNCIAS DA SAÚDE E BIOLÓGICAS ISSN 1809-9475 Centro Universitário de Volta Redonda - Ano VIII - Edição Especial - Maio/2013 Centro Universitário de Volta Redonda - Ano VIII - Edição Especial - Maio/2013 Campus Olezio Galotti Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços Volta Redonda - RJ Tel.: (24) 3340-8400 Fax: (24) 3340-8404 Campus Aterrado Av. Lucas Evangelista, nº 862, Aterrado Volta Redonda - RJ Tel.: (24) 3338-2764 (24) 3338-2925 Campus Colina Anexo ao Hospital São João Batista Rua Nossa Senhora das Graças, nº 273, Colina Volta Redonda - RJ Tel.: (24) 3340-8400 Campus Vila Rua 31, nº 43 Vila Santa Cecília Volta Redonda - RJ Tel.: (24) 3348-5991 Campus João Pessoa Fagundes Rua 28, nº 619 Tangerinal Volta Redonda/RJ CEP: 27.264-330 Telefone: (24) 3348.1441 (24) 3348.1314 Campus Leonardo Mollica Rua Jaraguá nº 1084 Retiro Volta Redonda/RJ CEP: 27277-130 Telefone: (24) 3344.1850 (24)3344.1851 CADERNOS UniFOA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA ISSN 1809-9475 CADERNOS UniFOA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA ANO VIII - Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 FOA EXPEDIENTE FOA Presidente Dauro Peixoto Aragão UniFOA Reitor Alexandre Fernandes Habibe Vice-Presidente Jairo Conde Jogaib Pró-reitora Acadêmica Cláudia Yamada Utagawa Diretor Administrativo - Financeiro Iram Natividade Pinto Pró-reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Daniella Regina Mulinari Diretor de Relações Institucionais José Tarcísio Cavaliere Superintendente Executivo Eduardo Guimarães Prado Cadernos UniFOA Editora Executiva Flávia Lages de Castro Superintendência Geral José Ivo de Souza Editora Científica Daniella Regina Mulinari Comitê Editorial Prof. André Resende de Senna Prof.ª Denise Celeste Godoy de Andrade Rodrigues Prof. Vitor Barletta Machado Conselho Editorial ad hoc Conselho Editorial Prof. Agamêmnom Rocha de Souza Prof. André Barbosa Vargas Prof. Carlos Alberto Sanches Pereira Prof. Carlos Roberto Xavier Prof. Élcio Nogueira Prof.ª Ivanete da Rosa da Silva de Oliveira Prof. Júlio César de Almeida Nobre Prof. Júlio César Soares Aragão Prof.ª Margareth Lopes Galvão Saron Prof.ª Maria Auxiliadora Motta Barreto Prof. Mauro César Tavares de Souza Prof. Sérgio Elias Vieira Cury Prof.ª Sinara Borborema Gabriel Claudinei dos Santos Doutor em Engenharia de Materiais - Escola de Engenharia de Lorena - Universidade de São Paulo - EEL/USP Douglas Mansur da Silva Doutor em Antropologia Social - Universidade Federal de Viçosa Fábio Aguiar Alves Doutor em Biologia Celular e Molecular - Fundação Oswaldo Cruz Luiz Augusto Fernandes Rodrigues Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense - UFF Maria José Panichi Vieira Doutora em Engenharia Metalúrgica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Revisão de textos Língua Portuguesa Claudia Maria Gil Silva Maricinéia Pereira Meireles da Silva Língua Inglesa Maria Amália Sarmento Rocha de Carvalho Capa e Editoração Laert dos Santos / Caio Rossatto / Henrique Rossatto Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA Campus Três Poços Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325 Três Poços, Volta Redonda /RJ CEP 27240-560 Tel.: (24) 3340-8400 - FAX: 3340-8404 www.unifoa.edu.br Versão On-line da Revista Cadernos UniFOA www.unifoa.edu.br/cadernos Submissões www.unifoa.edu.br/cadernos/ojs Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) C122 Cadernos UniFOA UniFOA : Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas / Centro Universitário de Volta Redonda. – ano VIII, (maio 2013). – Volta Redonda: FOA, 2013. ISSN 1809-9475 1. Ciências da saúde – Periódicos. 2. Ciências biológicas – Periódicos. I. Fundação Oswaldo Aranha. II. Título. CDD – 050 FICHA CATALOGRÁFICA Bibliotecária Gabriela Leite Ferreira - CRB 7/RJ - 5521 SUMÁRIO EDITORIAL.......................................................................................................................................................................09 CIÊNCIAS DA SAÚDE E BIOLÓGICAS Ação da giberelina no crescimento de pimenta (Capsicum frutescens). Rafaela Cinigalha Torres e Kelly Carla Almeida de Souza Borges.................................................................................................. 11 Avaliação da População Microbiana Presente no Interior do Corpo das Torneiras de uma UTI em um Hospital no Município de Volta Redonda. Tayane Cristine da Silva Corrêa, Hellen Avelar Duarte, Ester Albuquerque Lourenço, Gabriel José Ribeiro, Leoni Ferreira da Silva, Jessica Rizkalla Correa Medeiros, Nathália Cristinne Pereira de Souza e Carlos Alberto Sanches Pereira...................................................... 17 Corpo e sexualidade: os processos de normalização na dança. Aline Menezes de Oliveira, Carla de Oliveira dos Santos e Marcelo Paraíso Alves........................................................................... 23 Dermatoses prevalentes em idosos atendidos em um ambulatório de dermatologia de uma unidade básica de saúde (Policlínica UniFOA) de Volta Redonda, RJ, entre 2002 e 2010. Luciana Aparecida Cruz de Siqueira Pegas, Sabrina Kelly Alves Honório, Valesca da Silva Gonzalez, Carolina Lorejam Crespo, Bianca Ribeiro Barreto, Henrique José do Nascimento, Antonio Macedo D’Acri, Maria Inês Fernandes Pimentel, Sandro Javier Bedoya Pacheco. ............................................................................................................................................................................................ 39 O Médico a partir do imaginário coletivo de último anistas de Medicina. Maria Auxiliadora Motta Barreto, Glauber Correia de Oliveira, Rosana Gonçalves Oliveira e Samara Guerra Carneiro........................ 47 O uso não prescrito de metilfenidato entre acadêmicos de Medicina. Samara Guerra Carneiro, Airton Salviano Teixeira Prado, Hermiton Canedo Moura, João Francesco Strapasson, Natália Ferreira Rabelo, Tiago Turci Ribeiro e Eliane Camargo de Jesus........................................................................................................................... 53 Para comer, para beber ou para remédio? Categorias de uso múltiplo em Etnobotânica. Odara Horta Boscolo............................................................................................................................................................... 61 Pseudocisto Antral: Prevalência na cidade de Volta Redonda, Rio de Janeiro, Brasil. Sérgio Elias Vieira Cury, Maria Dorotéa Pires Neves Cury, Brunno dos Santos de Freitas Silva, Omar Tinoco Franklin Molina, Jimmy de Oliveira Araújo, Luiz Roberto Manhães Jr, Luciana Butini Oliveira............................................................................................. 69 Riqueza e composição de formigas de serapilheira na Reserva Florestal da Vista Chinesa, Rio de Janeiro, Brasil André Barbosa Vargas, Antônio José Mayhé-Nunes e Jarbas Marçal Queiroz................................................................................ 85 Stent Multicamadas - uma nova alternativa no tratamento de Aneurismas. Revisão de Literatura. Augusto Frederico Martins Lopes Oliveira, Gabriel Costa Miziara, Lívia Gomes de Oliveira Garani, Marcela Sousa Cruz de Oliveira e Rodrigo Leal de Jesus Alves ..................................................................................................................................................... 95 LIST OF CONTRIBUTIONS EDITORIAL.......................................................................................................................................................................09 HEALTH AND BIOLOGICAL SCIENCES Effects of the action of gibberellin in the initial growth of pepper plants (Capsicum frutescens) Rafaela Cinigalha Torres e Kelly Carla Almeida de Souza Borges.................................................................................................. 11 Evaluation of Microbial Population present inside the body taps in an ICU of a hospital in the city of Volta Redonda Tayane Cristine da Silva Corrêa, Hellen Avelar Duarte, Ester Albuquerque Lourenço, Gabriel José Ribeiro, Leoni Ferreira da Silva, Jessica Rizkalla Correa Medeiros, Nathália Cristinne Pereira de Souza e Carlos Alberto Sanches Pereira...................................................... 17 Body and sexuality: the normalization processes in dance Aline Menezes de Oliveira, Carla de Oliveira dos Santos e Marcelo Paraíso Alves........................................................................... 23 Prevalent dermatological diseases in elderly treated in an outpatient dermatologic clinic in a primary care unit (Polyclinic UniFOA) in Volta Redonda, RJ, between 2002 and 2010. Luciana Aparecida Cruz de Siqueira Pegas, Sabrina Kelly Alves Honório, Valesca da Silva Gonzalez, Carolina Lorejam Crespo, Bianca Ribeiro Barreto, Henrique José do Nascimento, Antonio Macedo D’Acri, Maria Inês Fernandes Pimentel, Sandro Javier Bedoya Pacheco. ............................................................................................................................................................................................ 39 The Medical Doctor from the collective imaginary of last year of Medicine students Maria Auxiliadora Motta Barreto, Glauber Correia de Oliveira, Rosana Gonçalves Oliveira e Samara Guerra Carneiro........................ 47 The nonmedical use of methylphenidate among medical students Samara Guerra Carneiro, Airton Salviano Teixeira Prado, Hermiton Canedo Moura, João Francesco Strapasson, Natália Ferreira Rabelo, Tiago Turci Ribeiro e Eliane Camargo de Jesus........................................................................................................................... 53 To eat, to drink or to remedy? Multipurpose use categories in Ethnobotany. Odara Horta Boscolo............................................................................................................................................................... 61 Antral pseudocyst: prevalence in the city of Volta Redonda, Rio de Janeiro, Brazil. Sérgio Elias Vieira Cury, Maria Dorotéa Pires Neves Cury, Brunno dos Santos de Freitas Silva, Omar Tinoco Franklin Molina, Jimmy de Oliveira Araújo, Luiz Roberto Manhães Jr, Luciana Butini Oliveira............................................................................................. 69 Inventory of ground-dwelling ants in the Chinese View Forest Reserve, Rio de Janeiro, Brazil André Barbosa Vargas, Antônio José Mayhé-Nunes e Jarbas Marçal Queiroz................................................................................ 85 Stent Multilayer - a new alternative in the treatment of Aneurysms. Literature Review/ Augusto Frederico Martins Lopes Oliveira, Gabriel Costa Miziara, Lívia Gomes de Oliveira Garani, Marcela Sousa Cruz de Oliveira e Rodrigo Leal de Jesus Alves ..................................................................................................................................................... 95 9 Editorial O periódico Cadernos UniFOA é um veículo de divulgação de pesquisas em Ciência e Tecnologia do Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA), que tem como objetivo primordial, divulgar para a comunidade científica resultados de pesquisas realizadas dentro e fora da Instituição que, de alguma forma, contribuam para o desenvolvimento das diversas áreas do conhecimento científico. O Cadernos UniFOA tem trabalhado para que, cada vez mais, a qualidade dos artigos publicados esteja em primeiro lugar, incentivando autores internos e externos à Instituição a divulgarem os resultados de suas pesquisas por meio deste periódico. É com enorme satisfação que apresento a Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas, de maio de 2013, do Cadernos UniFOA. Nesta edição, são apresentados dez artigos originais de grande relevância científica, todos contendo dados inéditos, ou na forma de artigos de revisão. Em nome de todo o Corpo Editorial do Cadernos UniFOA, agradeço a todos que, de alguma forma, colaboraram para a elaboração, revisão e edição dos artigos que compõe esta edição especial. Prof. Dr. André Resende de Senna Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Editor da Área de Ciências da Saúde e Biológicas 11 Ação da giberelina no crescimento de pimenta (Capsicum frutescens) Effects of the action of gibberellin in the initial growth of pepper plants (Capsicum frutescens) ISSN 1809-9475 Artigo Original Rafaela Cinigalha Torres1 Kelly Carla Almeida de Souza Borges2 Original Paper Ácido giberélico Pimenta Abstract The present work was aimed at evaluating the effects of the action of gibberellin in the initial growth of pepper plants (Capsicum frutescens) below foliar spray at different concentrations of plant regulator. The experiment was conducted at the Laboratory of Biotechnology UniFOA. The seeds of Capsicum frutescens were sown in fertilized soil substrate in black polyethylene bags (10cm x 20cm) with a capacity of 1000ml. Four treatments were performed (Table 1) with the plant regulator gibberellin concentrations 25mg / L (T1), 50 mg / L (T2) and 100 mg / L (T3), and the control in the absence of the regulator (T4), being three replications with ten seeds in each. The sprayings made with bioregulators gibberellin provided significant growth in shoots of Capsicum frutescens, where best results were associated with GA3 dosage of 50 mg / l (T2), allowing to reach the 30 days after germination, the average values of 15 cm height and about 7 leaves per plant. However, no influence of gibberellin in root growth. 1 Discente do Curso de Ciências Biológicas - UniFOA 2 Professora Mestra do Curso de Ciências Biológicas - UniFOA Recebido em 03/2012 Aprovado em 04/2013 Keywords Growth Gibberellic acid Pepper Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Crescimento Resumo O presente trabalho teve como objetivo avaliar os efeitos da ação da giberelina no crescimento inicial de plantas de pimenta (Capsicum frutescens) sob pulverização foliar, em diferentes concentrações desse fitorregulador. O experimento foi realizado no Laboratório de Biotecnologia do UniFOA. As sementes de Capsicum frutescens foram semeadas no substrato terra adubada em sacos de polietileno preto (10cm x 20cm) com capacidade de 1000ml. Foram realizados quatro tratamentos (Tabela 1) com o fitorregulador giberelina nas concentrações 25mg/L (T1), 50 mg/L (T2) e 100 mg/L (T3), além do controle na ausência do regulador (T4), sendo três repetições com dez sementes em cada. As pulverizações realizadas com o biorregulador giberelina proporcionaram crescimento significativo na parte aérea de Capsicum frutescens, onde os melhores resultados estiveram associados à dosagem de GA3 50 mg/l (T2), permitindo atingir, aos 30 dias após a germinação, os valores médios de 15 cm de altura e cerca de 7 folhas por planta. No entanto, não houve influência da giberelina no crescimento de raiz. Cadernos UniFOA Palavras-chave Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 12 1. Introdução A pimenta (Capsicum frutescens) tem origem no continente americano e pertence à família Solanaceae. Apresenta caule ramificado, ereto e folhas lanceoladas, verdes e brilhantes, com nervuras bem marcadas, as flores são brancas ou arroxeadas, o fruto é do tipo baga, de forma cônica, alongada e cor verde ou vermelha, com 8 a 12 cm de comprimento e 1 a 2 cm de diâmetro (CARVALHO; BIANCHETTI, 2004). O mercado para as pimentas pode ser dividido em dois grandes grupos: o consumo in natura e as formas processadas, através de molhos, conservas, flocos desidratados e pó como ingrediente de alimentos processados (LOPES, et al., 2007). A pimenta (Capsicum spp) é uma especiaria bastante apreciada pela sua pungência, flavor e como conservante alimentar, assim como por suas propriedades fisiológicas e farmacêuticas, devido à presença de determinados componentes como a capsaicina e a dihidrocapsaicina (CISNEROS-PINEDA, et al, 2007). Alguns estudos têm apontado que as pimentas também são boas fontes de antioxidantes alimentares, como vitamina C, vitamina E, carotenóides e compostos fenólicos (REIFSCHNEIDER, 2000). O fruto é usado popularmente no combate a diversas doenças, como nas inflamações na garganta, diarréia, dilatador capilar, expectorante, para diminuir o broncoespasmo e na obstrução da passagem de ar pulmonar induzido pela histamina (PIRES et al., 2004). No entanto, devido ao interesse por essas atividades medicinais, alimentícias e nos benefícios promovidos por ela, existe a necessidade de um aumento e melhora na produção de pimenta visando melhorar qualitativa e quantitativamente a produtividade das culturas, e isso pode ser feito com a aplicação de fitorreguladores (VIEIRA; CASTRO, 2004). Dentre os diversos grupos de fitorreguladores está a giberelina (ácido giberélico) que age de forma expressiva na germinação de sementes, tanto na quebra de dormência quanto no controle da hidrólise de reserva (TAIZ; ZEIGER, 2004). As giberelinas têm apresentado resultados favoráveis no aumento do número e o comprimento das células em várias espécies vegetais e tem sido utilizada para modificar o crescimento e desenvolvimento de plantas, além de funcionar como regulador da divisão e alongamento das células (RODRIGUES; LEITE, 2004). A aplicação exógena da giberelina provoca o crescimento foliar e alongamento do caule (MODESTO et al.,1996). Também apresenta efeitos sobre a parede celular, promove o alongamento dos entrenós em várias espécies, pois o alvo da ação das giberelinas é o meristema intercalar, o qual está localizado próximo à base do entrenó (TAIZ; ZEIGER, 2008). Sendo assim, o presente trabalho teve como objetivo avaliar o efeito da giberelina no crescimento das plantas de pimenta (Capsicum frutescens) no cultivo in vivo. 2. Material e Métodos O experimento foi realizado no Centro Universitário de Volta Redonda, no Laboratório de Biotecnologia, entre os meses de maio a outubro de 2012. As sementes de Capsicum frutescens foram semeadas no substrato terra adubada em sacos de polietileno preto (10cm x 20cm) com capacidade de 1000ml. Foram realizados quatro tratamentos (Tabela 1) com o fitorregulador giberelina nas concentrações 25mg/L (T1), 50 mg/L (T2) e 100 mg/L (T3), além do controle na ausência do regulador (T4), sendo três repetições com dez sementes em cada. 2.1. Aplicação do regulador de crescimento Ao completarem 20 dias, as plantas foram submetidas à aplicação de giberelina uma vez ao dia, a cada dois dias, entre 6 e 7h da manhã com auxílio de borrifador manual com capacidade de 100ml, totalizando quatro pulverizações foliares durante 10 dias. No trigésimo dia após a germinação foi realizada a análise de crescimento para avaliar o efeito do fitorregulador sobre as plantas. 3. Resultados e Discussão As sementes de pimenta (Capsicum frutescens) germinaram no substrato terra vegetal apresentando 90 % de germinação aos 11 dias. Os parâmetros avaliados apontaram que houve influência do fitorregulador giberelina no crescimento de Capsicum frutescens aos 30 dias de cultivo, momento em que a análise de crescimento foi realizada com diferença significativa entre os tratamentos na análise da altura e número de folhas. O ácido giberélico, em todas as concentrações testadas, promoveu um aumento na altura de plantas. Porém, os melhores resultados foram obtidos a partir da aplicação das maiores concentrações de giberelina, sendo cerca de 15 cm de comprimento na presença do T2 (50mg/L) e 14 cm no T3 (100 mg/L), ambos diferindo dos demais tratamentos em que a concentração do fitorregulador foi menor (T1 = 25mg/L: 13cm) ou ausente (T4 = 0 mg/L – controle: 9 cm). Para o número de folhas, os resultados evidenciaram efeito significativo em função das doses de giberelina aplicadas via pulverização foliar. Verificou-se que o maior valor obtido, aos 30 dias de cultivo, foi de 7,78 folhas por planta para a concentração de 50 mg/L de giberelina que corresponde ao tratamento T2. Contudo, a maior concentração de giberelina (T3=100mg/L com 6,52 folhas), apesar de ter produzido maior número de folhas que T1 (25mg/L com 6,21 folhas) e T4 (0 mg/L com 6,15 folhas), não diferiu estatisticamente desses tratamentos, exibindo diferença significativa apenas de T2 com 95% de probabilidade. 13 Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 A análise de crescimento foi semanal e aos 30 dias após a germinação foram avaliados os seguintes parâmetros: tempo de germinação, altura, número de folhas, presença de raiz e comprimento de raiz. Os resultados obtidos foram submetidos ao programa “Statgraphics” para a realização da análise de variância (teste F) e as médias dos tratamentos comparadas pelo teste Tukey, utilizando-se o nível de 5% de significância. Como pode ser observado na figura 1, a pulverização foliar com giberelina promoveu aumento expressivo na parte aérea de plantas de pimenta (Capsicum frutescens) aos 30 dias de cultivo. No entanto, não foi significativa para o crescimento de raiz (tabela 2). Estes resultados confirmam o papel ativo da giberelina na divisão celular e no alongamento da planta (HIGASHI et al., 2002), que promove a extensibilidade da parede da célula (RAVEN et al., 2001). Agem também no desenvolvimento reprodutivo afetando a transição do estado juvenil para o maduro, bem como a indução da floração, determinação do sexo e o estabelecimento do fruto (TAIZ; ZEIGER, 2004). Esse regulador age durante todo ciclo das plantas, desde a germinação até o crescimento da semente e pericarpo, além disso, são mediadoras dos estímulos ambientais e, portanto, a biossíntese desse hormônio é de fundamental importância para desenvolvimento das plantas e sua adaptação ao ambiente (RODRIGUES; LEITE, 2004). O efeito positivo do ácido giberélico sobre crescimento de plantas tem sido relatado por vários autores, especialmente quando aplicado durante o desenvolvimento inicial das plantas (COELHO et al, 1983; MODESTO et al, 1996; LEITE et al, 2003; LEONEL; PEDROSO, 2005). Em maracujazeiro-doce, as aplicações com giberelina através de pulverizações foliares nas concentrações 0, 100, 200, 300 e 400 mg/L resultou na aceleração do crescimento das plantas, e a aplicação de 300 mg/L apresentou maiores valores para altura média do caule e no número de folhas deferindo estatisticamente dos demais (LEONEL; PEDROSO, 2005). A aplicação em soja, via foliar, de 100mg/L de giberelina permitiu a obtenção de aumento significativo na altura das plantas, altura do primeiro nó e diâmetro do caule (LEITE et al, 2003). Para o comprimento de raiz, os resultados demonstraram não haver diferença significativa entre os tratamentos, pois os valores obtidos no tratamento controle (T4 = 0mg/L com 2,42cm de raiz), marcado pela ausência de giberelina, foram semelhantes aos encontrados nas plantas que foram submetidas às aplicações com este fitorregulador. Cadernos UniFOA 2.2. Análise de crescimento 14 Estes resultados para raiz corroboram com o fato da giberelina influenciar de forma pouco acentuada no crescimento da raiz (TAIZ; ZEIGER, 2009). Além disso, o efeito da giberelina no crescimento da raiz é indireto em função da sua ação no crescimento da parte aérea (LEITE, 2003). 4. Conclusão As pulverizações realizadas com o biorregulador giberelina proporcionaram crescimento significativo na parte aérea de Capsicum frutescens, onde os melhores resultados estiveram associados à dosagem de 50 mg/l (T2), permitindo atingir, aos 30 dias após a germinação, os valores médios de 15 cm de altura e cerca de 7 folhas por planta. No entanto, não houve influência da giberelina no crescimento de raiz. 5. Referências Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 1. CARVALHO, S.I.C.; BIANCHETTI; L.B. 2004 Sistema de Produção de Pimentas (Capsicum spp.): Botânica. Embrapa Hortaliças, Sistemas de Produção. Disponível em http://www.cnph. embrapa.br/sistprod/pimenta/botanica.html <Acesso em 15 de outubro de 2012> 2. CISNEROS-PINEDA, O.; TORRES-TAPIA, L. W.; GUTIÉRREZ-PACHECO, L. C; CONTRERAS-MARTÍN F.; GONZÁLESESTRADA, T.; PERADA-SÁNCHEZ, S. R. Capsaicinoids quantification in chili peppers cultivated in the state of, Yucatan, Mexico. Food Chemistry. n.104, p. 1755-1760, 2007. 3. COELHO, Y.S.; OLIVEIRA, A.A.R.; CALDAS, R.C. Efeitos do ácido giberélico (GA3) no cres cimento de porta-enxertos para citros. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 18, n. 11, p. 1229-1232, 1983. 4. HIGASHI, E.N.; SILVEIRA, R.L.V.A.; GOUVÊA, C. F.; BASSO, L.H. Ação fisiológica de hormônios vegetais na condição hídrica, metabolismo e nutrição mineral. In: CASTRO, P.R.C.; SENA, J.O.A.; KLUGE, R.A. Introdução à fisiologia do desenvolvimento vegetal. Maringá: Eduem. cap. 9, 2002, p. 139 -158. 5. LEITE, V.M.; ROSOLEM, C.A.; RODRIGUES, J.D. Gibberellin and cytokinin effects on soybean growth. Scientia Agrícola, Piracicaba, v. 60, n. 3, p. 537-541, 2003. 6. LEONEL, S.; PEDROSO, C.J. Produção de mudas de maracujazeiro-doce com uso de biorregulador. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.27, n.1, p. 107-109, 2005. 7. LOPES, C. A.; RIBEIRO, C. S. C.; CRUZ, D. M. R.; FRANÇA, F. H.; REIFSCHNEIDER, F. J. B.; HENZ, G. P.; SILVA, H. R.; PESSOA, H. S.; BIANETTI, L. B.; JUNQUEIRA N. V.; MAKISHIMA N.; FONTES R. R.; CARVALHO S. I. C.; MAROUELLI W. A.; PEREIRA W. Sistema de produção de pimentas (Capsicum spp): Botânica, importância econômica, colheita, consumo e comercialização. 2007. Embrapa Hortaliças, Sistema de Produção, 4 ISSN 1678. Versão eletrônica. Disponível em:<http: www. cnph.embrapa. br/sistprod/ pimenta /botanica.htm>. Acesso em 25 de outubro de 2012. 8. MODESTO, J.C., RODRIGUES, J. D., PINHO, S. Z. Efeito do ácido giberélico sobre o comprimento e diâmetro do caule de plântulas de limão ‘Cravo’ (Citrus limonia Osbeck). Scientia agrícola, Piracicaba, vol.53, n.2-3, 7- 12, 1996. 9. PIRES, P. A., MALVAR, D. C., BLANCO, L. C., VIGNOLI, T., CUNHA, A. F., VIEIRA,E.; DANTAS, T. N. C., MACIEL, M. A. M., CÔTES, W. S., VANDERLINDE, F. A. Estudo das atividades analgésicas do extrato metanólico da Capsicum frutescens –solanaceae (Pimenta Malagueta). Revista Universidade Rural. Série Ciências da Vida, v. 4, n. 2, jul.-dez., p. 129-134, 2004. 10. RAVEN, P.H.; EVERT, R.F.; EICHHORN S.E. Regulando o crescimento e o desenvolvimento: os 12. RODRIGUES, T de J. D. , LEITE, I. C. Fisiologia vegetal – hormônios das plantas. Jaboticabal: Funep. 2004. 15 14. Taiz, L., Zeiger, E. Fisiologia Vegetal. Artmed, Porto Alegre, Brasil. 820p., 2008. 15. TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 4.ed. Artmed, Porto Alegre, Brasil. 819p., 2009. 16. VIEIRA, E.L.; CASTRO, P.R.C. Ação de bioestimulante na cultura da soja (Glycine max L. Merrill). Cosmópolis: Stoller do Brasil. 2004, 47p. Endereço para Correspondência: Rafaela Cinigalha Torres [email protected] Av. Paulo Erley Abrantes, 1325 Três Poços - Volta Redonda/RJ CEP: 27240-560 Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 11. REIFSCHNEIDER, F. J. B. (Org.) Capsicum: pimentas e pimentões no Brasil. Brasília: Embrapa Comunicação para Transferência de Tecnologia/ Embrapa Hortaliças. 113p, 2000. 13. TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 3.ed. Porto Alegre: Artmed, 719p, 2004. Cadernos UniFOA hormônios vegetais. In: RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. (Ed.). Biologia vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara Kogan. 2001, p. 649-674. 16 6. ANEXO Figura 1 - Plantas de Capsicum frutescens, aos 30 dias após a germinação, submetidas à aplicação dos tratamentos com giberelina. Comprimento da barra: 2cm Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Tabela 1 - Concentração do regulador vegetal aplicado no cultivo in vivo de pimenta (Capsicum frutescens) Tratamentos Concentração (mg/L) T1 25 T2 50 T3 100 T4 Sem regulador de crescimento Tabela 2: Ação da giberelina no crescimento de pimenta (Capsicum frutescens) aos 30 dias após a germinação Tratamentos Concentração Giberelina Altura (cm) Folha Raiz (cm) T1 25mg/L 13 b 6,21 b 2,26 a T2 50 mg/L 15,47 a 7,78 a 2,73 a T3 100 mg/L 14,89 a 6,52 b 2,42a T4 0mg/L 9c 6,15 b 2,42a Médias seguidas da mesma letra na mesma coluna não diferem estatisticamente entre si com 95% de confiança Avaliação da População Microbiana Presente no Interior do Corpo das Torneiras de uma UTI em um Hospital no Município de Volta Redonda. Evaluation of Microbial Population present inside the body taps in an ICU of a hospital in the city of Volta Redonda Tayane Cristine da Silva Corrêa1 Hellen Avelar Duarte2 Ester Albuquerque Lourenço3 Gabriel José Ribeiro3 Leoni Ferreira da Silva3 Jessica Rizkalla Correa Medeiros3 Nathália Cristinne Pereira de Souza3 Carlos Alberto Sanches Pereira4 17 ISSN 1809-9475 Artigo Original Original Paper Recebido em 09/2012 Bacilos gramnegativos não fermentadores Infecção relacionada à assistência em saúde Abstract The spread of infections related to health care (IRHC) often comes from crosscontamination. The most common way of transfer pathogens occurs between the hands of health professionals and patients. It is observed that the environmental contribution can be higher in intensive care units (ICU) and despite effort is being made to kill or prevent the growth of micro-organisms in the hospital, the hospital environment is an important reservoir for a variety of pathogens that present a great risk to hospitalized patients. This study aimed to evaluate the bacterial population present inside the body taps in an intensive care unit (ICU) of a hospital in the city of Volta Redonda, RJ. The samples were collected in 12 ICU taps and after isolation, the colonies were identified and subjected to antimicrobial susceptibility testing by the Vitek 2 system (BioMérieux ®). Eight taps had bacterial growth, and in three of them, there was a predominance of Enterococcus durans. 1 Graduada em Ciências Biológicas - Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA 2 Discente do Curso de Ciências Biológicas - Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA 3 Discente do Curso de Medicina - Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA 4 Docente do Curso de Ciências Biológicas - Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA Aprovado em 04/2013 Key-works Body of taps Non-fermenting gram negative bacilli Infection related to health care Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Corpo de torneiras Resumo A disseminação de infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS) frequentemente advém da contaminação cruzada. A via mais comum de transferência de patógenos ocorre entre as mãos de profissionais de saúde e pacientes. Observa-se que a participação ambiental pode ser maior nas unidades de terapia intensiva (UTI) e, embora todos os esforços sejam feitos para matar ou impedir o crescimento de micro-organismos no hospital, o ambiente hospitalar é um importante reservatório para uma variedade de patógenos que apresentam um risco intenso para os pacientes hospitalizados. O presente trabalho teve como objetivo avaliar a população bacteriana presente no interior do corpo das torneiras de uma unidade de terapia intensiva (UTI) de um hospital no município de Volta Redonda, RJ. As amostras foram coletadas em 12 torneiras de UTI e, após isoladas, as colônias foram identificadas e submetidas ao teste de susceptibilidade aos antimicrobianos pelo sistema Vitek 2 (BioMérieux ®). Oito torneiras apresentaram crescimento bacteriano, sendo que em três delas, houve predomínio da espécie Enterococcus durans. Cadernos UniFOA Palavra-chave Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 18 1. Introdução A disseminação de infecções relacionadas à assistência em saúde (IRAS) frequentemente advém da contaminação cruzada. A via mais comum de transferência de patógenos ocorre entre as mãos de profissionais de saúde e pacientes (OLIVEIRA, 2009). No entanto, o ambiente hospitalar pode contribuir para disseminação de patógenos. Geralmente o ambiente ocupado por pacientes colonizados e/ou infectados pode tornar-se contaminado. A presença de bactérias é comum em superfícies inanimadas e equipamentos (HUANG, 2006). Observa-se que a participação ambiental pode ser maior nas unidades de terapia intensiva (UTI) devido à gravidade e instabilidade do quadro clínico do paciente com necessidade de cuidados intensivos, somados a fatores como limpeza, desinfecção, estrutura física, quantidades de equipamentos e superfícies em determinadas unidades (PANIS, 2009). A disseminação das infecções associadas aos cuidados de saúde é complexa e multifatorial. Nesse sentido, a abordagem do ambiente na disseminação de bactérias visa contribuir para melhor compreensão das recomendações de controle das IRAS, definição de políticas de controle e aproximação dos profissionais de saúde com o tema (OLIVEIRA, 2009). Dentre os micro-organismos que podem ser encontrados nas IRAS, destacam-se os Bacilos Gram Negativos Não Fermentadores (BGNNF), membros da família Enterobacteriaceae, Staphylococcus spp., e Enterococcus spp. Essas bactérias podem sobreviver em condições adversas, sendo necessário apenas um local úmido para sua sobrevivência e viabilidade por vários meses. Tornam-se patogênicas ao entrarem no tecido do hospedeiro através da ruptura da barreira cutânea, a inoculação por agulhas na infusão intravenosa de soro, instalação de cateteres vasculares, urinários, neurocirúrgicos, entre outros (JULIET, 2002; ALMEIDA, 2004; SÁNCHEZ, 2006; D’AZEVEDO, 2008; LARANJEIRA et al., 2010;). A entrada desses micro-organismos no tecido hospedeiro faz com que uma gama de infecções possa ser desenvolvida. Geralmente, essas infecções estão associadas a pneumonias em pacientes com ventilação mecânica e bacteremias associadas a processos invasivos do cateter venoso central (DELIBERALI, 2011). Além disso, casos de endocardites infecciosas, meningite neonatal, endoftalmites, septicemia, peritonite, abscesso, tenossinovites e infecções de pele também podem estar associadas a esses tipos de micro-organismos (LLASAT, 2010; D’AZEVEDO, 2008; RIBOLDI, 2009). Embora todos os esforços sejam feitos para matar ou impedir o crescimento de micro-organismos no hospital, o ambiente hospitalar é um importante reservatório para uma variedade de patógenos, e certos membros da microbiota normal do corpo humano são oportunistas e apresentam um risco intenso para os pacientes hospitalizados (TORTORA, 2008). O presente trabalho teve como objetivo avaliar a população bacteriana presente no interior do corpo das torneiras de uma unidade de terapia intensiva (UTI) de um hospital no município de Volta Redonda, RJ. 2. Material e Métodos O presente trabalho foi desenvolvido no laboratório de Microbiologia do UniFOA e em um laboratório particular no município de Volta Redonda. 2.1. Coleta das amostras Foram coletadas amostras do interior do corpo de 12 torneiras de uma unidade de terapia intensiva (UTI) em um hospital da cidade de Volta Redonda. As amostras foram colhidas com swab estéril da parte superior da torneira retirando-se o aerador. O swab foi colocado no meio de transporte e encaminhado ao laboratório, onde foi processado. O meio escolhido para o transporte das amostras foi o Amies, pois nele oxigênio, superóxido e radicais livres são absorvidos e neutralizados por agentes desintoxicantes especialmente incorporados à fórmula do meio. Essa ação interrompe a oxidação, assegurando um ótimo desempenho para bactérias (SIMÕES, 2005). 2.2. Isolamento e identificação documento internacional M100S20 (CLSI 2012) pelo método de microdiluição conforme o equipamento de automação VITEK 2 (BioMérieux ®), cartão GN e GP (gram-negativo e gram-positivo respectivamente). Após a chegada ao laboratório, as amostras foram semeadas em placas de Petri, contendo Agar MacConkey e Agar Sangue. As mostras foram incubadas por até 48 horas a 37°C (+/-2°C) de onde foram selecionadas colônias para a coloração de Gram. Todas as colônias que foram identificadas como bacilos gram-negativos, foram submetidas ao teste da oxidase e catalase. As que obtiveram resultados positivos foram submetidas à identificação pelo sistema Vitek 2 (BioMérieux ®), cartão número AST105. Todas as colônias que foram identificadas como cocos gram-positivos, foram submetidas ao teste de catalase e tanto as catalase positivas, quanto as negativas, foram submetidas à identificação pelo sistema Vitek 2 (BioMérieux ®), cartão número ASTP585. 19 2.4. Armazenamento das amostras bacterianas Todas as amostras foram armazenadas em tubos (criotubos) contendo caldo BHI com glicerol a 20% e serão mantidas a -20oC, por seis meses. Após esse período, todas as amostras serão reativadas para avaliar o comportamento bioquímico e novamente congeladas (PEREIRA et al., 2004). 3. Resultados e Discussão Das 12 torneiras analisadas, 8 (66,7%) apresentaram crescimento bacteriano e 4 (33,3%) não apresentaram crescimento bacteriano. O Enterococcus durans foi a bactéria mais isolada nas torneiras, sendo esta encontrada em 3 torneiras, correspondendo a 25% dos achados (Tabela 1). 2.3. Teste de susceptibilidade aos antimicrobianos Todas as cepas identificadas foram submetidas ao teste de susceptibilidade aos antimicrobianos (TSA) segundo o padrão do Bactérias Isoladas Percentual 3 Enterococcus durans 25% 1 Pseudomonas aeroginosas 8,34% 1 Stenotrophomonas maltophilia 8,34% 1 Cupriavidus pauculis 8,34% 1 Pantoea spp 8,34% 1 Staphylococcus epidermidis 8,34% Os E. durans estão constantemente relacionados aos casos de infecções do trato urinário, mas também, podem ser encontrados em outros tipos de infecções endógenas como endocardites e bacteremia, infecções essas, adquiridas através da instalação de cateter (JULIET, 2002). Embora sejam bactérias encontradas no trato intestinal do homem e dos animais, são comumente isolados de ambientes contaminados pelo material fecal humano e animal, como exemplo, esgoto urbano, água e solos (AMARAL, 2007). De acordo com o antibiograma, os 3 isolados de E. durans, apresentaram sensibilidade a Benzilpenicilina, Ampicilina, Gentamicina Alto Nível, Estreptomicina Alto Nível, Ciprofloxacina, Moxifloxacina, Norfloxacina, Linezlid, Teicoplanina, vancomicina e Tigeciclina e resistência a Eritromicina e Clindamicina. Essa condição nos leva a pensar na possibilidade destas espécies apresentarem o mesmo perfil genotípico. As espécies Pseudomonas aeruginosa, Stenotrophomonas maltophilia e Cupriavidus pauculis são os BGNNF isolados, conforme tabela 1. Cadernos UniFOA N° de Torneiras Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Tabela 1- Tipos e percentuais de bactérias isoladas Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 20 Esses BGNNF são organismos onipresentes, que podem ser isolados a partir de inúmeras fontes de água, como rios, lagos, lagoas, garrafas de água, esgoto entre outras (LOPES, 2003). A Pseudomonas aeruginosa, além de receber destaque por ser relatada na literatura, como a bactéria mais envolvida em IRAS, foi a que apresentou resistência a um número maior de antibióticos testados (Ampicilina, Ampicilina/ sulbactam, Piperacilina/Tazobactam, Cefalotina, Cefoxitina, Cefotaxima e Tigeciclina). Os BGNNF encontrados estão frequentemente associados a casos de pneumonia em pacientes com ventilação mecânica e bacteremia, associadas ao cateter venoso central. Também são relatadas em casos de infecções do trato urinário, meningites, infecções de feridas cirúrgicas, epidermites, endocardites e celulites (DELIBERALI, 2011). A Pantoea spp foi isolada de uma das torneiras (Tabela 1). Esse gênero da família Enterobacteriaceae é um bacilo oportunista, dessa forma, encontrá-lo em ambiente (água) não foi surpresa. Em se tratando de UTI- onde os pacientes se encontram, na maioria das vezes, imunodeprimidos- este micro-organismo pode estar envolvido em casos de artrite séptica, peritonite e diversas outras (SÁNCHEZ, 2006). A espécie Staphylococcus epidermidis também foi isolada em 1 das 12 torneiras analisadas (Tabela 1) e apresentou resistência somente a Benzilpenicilina e Eritromicina. Ela é relatada na literatura como sendo responsável pelas maiores causas de mortalidade e morbidade relacionadas a IRAS. São micro-organismos oportunistas que se tornam patogênicos ao entrarem no tecido hospedeiro através da ruptura da barreira cutânea (procedimento realizado com frequência em UTI), podendo desencadear casos de bacteremias, endocardites, peritonites, entre outras infecções que podem comprometer a vida dos pacientes (D’AZEVEDO, 2008). Quando a equipe médica e/ou os demais funcionários e visitantes higienizam suas mãos para lidarem com os pacientes da unidade, provavelmente estão cientes de que processo foi bem realizado, mas diante deste “cenário”, onde 8 de 12 torneiras apresentaram em seu corpo interno bactérias com potencial patogênico, o simples ato de lavar as mãos poderá complicar ainda mais o estado de saúde dos doentes internados. Dessa forma se faz necessário mudanças no paradigma da limpeza do corpo das torneiras, com periodicidade, para reduzir a possível disseminação pela água de bactérias patogênicas. 4. Conclusão Com base nos resultados obtidos no presente trabalho, podemos concluir que: a. o corpo interior de 8 torneiras apresentaram crescimento bacteriano; b. asbactériasencontradasforam:Enterococcus durans em três torneiras, Pseudomonas aeruginosa, Stenotrophomonas maltophilia, Cupriavidus pauculis, Pantoea spp. e Staphylococcus epidermidis. 5. Referências Bibliográficas 1. ALMEIDA, A. et al. Bioplásticos: una alternativa ecológica. Revista Química Viva, p. 122-133 , 2004. 2. AMARAL, A. L. P. Microrganismos indicadores de qualidade de água. 2007, 40 f. Pós Graduação (Microbiologia). Universidade Federal de Minas Gerais, MG. 3. D’AZEVEDO, P. A. et al. Oxacilinresistant Coagulase-negative staphylococci (CoNS) bacteremia in a general hospital at São Paulo city, Brasil. Brazilian Journal of Microbiology, v. 39, p. 631-635, 2008. 4. DELIBERALI, B. et al. Prevalência de bacilos Gram-negativos não fermentadores de pacientes internados em Porto Alegre-RS. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, v. 47, p. 529-534, 2011. 5. HUANG, S. et al. Risk of acquiring antibiotic-resistant bacteria from prior room occupants. Archives of Internal Medicine, v. 16, p. 1945-1951, 2006. 6. JULIET, C. Estudio de susceptibilidad in vitro de Enterococcus spp. Revista chilena de infectologia, v.19, p.111-115, 2002. 7. LARANJEIRA, V. S. et al. Pesquisa de Acinetobacter sp. e Pseudomonas aeruginosa produtores de metalo-betalactamase em hospital de emergência de Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 43, p. 462-464, 2010. 8. LLASAT, J. M. B. et al. Cupriavidus pauculus Pseudo-Outbreak of Infection at an Outpatient Clinic Related to Rinsing Culturette Swabs in Tap Water. Journal of Clinical Microbiology, v. 48, p. 2645– 2647, 2010. 9. LOPES, R. R. Endocarditis por Stenotrophomonas maltophilia: presentación de um caso y revisión de La literatura. Anales de Medicina Interna, v. 20, p. 42-46, 2003. 10. OLIVEIRA, A. C. et al. Superfícies do ambiente hospitalar como possíveis reservatórios de bactérias resistentes: uma revisão. Revista da Escola de Enfermagem, v. 44, p. 1118-1123, 2009. 12. PEREIRA, C. A. S.; LUCHESE, R. H.; VALADÃO, R. C. Potencial probiótico de linajes de Lactobacillus plantarum y Lactobacillus fermentum. Alimentaria. n. 352, p. 53-59, 2004. 21 13. RIBOLDI, G. P. et al. Antimicrobial resistance profile of Enterococcus spp isolated from food in Southern Brazil. Brazilian Journal of Microbiology, v. 40, p. 125-128, 2009. 14. SÁNCHEZ, M. et al. Bacteremia por Pantoea agglomerans. Anales de Medicina Interna, v. 23, p. 250-251, 2006. 15. SIMÕES, J. A. et al. Influência do conteúdo vaginal de gestantes sobre a recuperação do estreptococo do grupo B nos meios de transporte Stuart e Amies. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, v. 27, p. 672-676, 2005. 16. TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia, 8. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2008. Carlos Alberto Sanches Pereira [email protected] Departamento de Ciências Biológicas – UniFOA Av. Paulo Erley Abrantes, 1325 Três Poços - Volta Redonda/RJ CEP: 27240-560 Cadernos UniFOA Endereço para Correspondência: Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 11. PANIS, C. Nosocomial Infections in Human Immunodeficiency Virus Type 1(HIV-1) Infected and AIDS Patients: Major Microorganisms and Immunological. Brazilian Journal of Microbiology, v. 40, p. 155-162, 2009. 23 Corpo e sexualidade: os processos de normalização na dança ISSN 1809-9475 Body and sexuality: the normalization processes in dance Aline Menezes de Oliveira1 Carla de Oliveira dos Santos1 Marcelo Paraíso Alves2 Sexualidade Biopoder Normalização Abstract This article aims to discuss the practice of dancing among boys within the normalization process, taking into account the sexuality history to explain how it came to the concept that men that dance are gays and explaining concepts such as biopower and normalization. The production of this research came from a project at the Future Generation Foundation, the COMUNI Project (United Community) where we taught dance lessons. The experience in the mentioned project has enabled us to reflect on certain aspects: is dancing a sport geared just for girls? Why do the dance classes have a predominance of girls, specially in the COMUNI project? Why is there such a big evasion in boys’ dance classes? Is there a process that standardizes, regulates and controls men and women behavior? What is the origin of this process of standardization? The objective of this work is to enable a discussion about sexuality, specifically discussing conflicts and tensions experienced in the cited project. The article intends to approximate the reader of the COMUNI project space, contextualizing the space experienced by the authors. Second the article proposes to discuss the historical constitution of the regulation and sexual control process, as well as the concept of biopower. Then it seeks to think the body from the corporeity that allows the understanding of the complex net which constitutes the process of subjectivity, among them the question of gender. Finally discussions about the role of the Physical Education professional in the exclusion process that come from such normalization processes. It is important to emphasize that the descriptive literature was opted. 1 Graduação e Licenciatura em Educação Física - Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA 2 Professor Doutor do Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA Original Paper Recebido em 10/2012 Aprovado em 04/2013 Keywords Dance Sexuality Biopower Normalization Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Dança Resumo O presente trabalho busca como centralidade a discussão da prática da dança por meninos dentro dos processos normalizadores, apropriando-se da história da sexualidade para explicar como surgiu a concepção de que homens que dançam são gays e explicitando conceitos como biopoder e normalização. A produção desta pesquisa partiu de um Projeto da Fundação Geração Futura, o Projeto COMUNI (Comunidade Unida) onde ministrávamos aulas de dança. A experiência no projeto mencionado nos permitiu refletir sobre alguns aspectos: dança é uma modalidade voltada apenas para meninas? Por que as turmas de dança, mais precisamente a do Projeto COMUNI existe a predominância de garotas? Por que há uma evasão tão grande de meninos nas turmas de dança? Existe um processo que normatiza, regula e controla os comportamentos do homem e da mulher? Qual a origem deste processo de normatização? O intuito do trabalho é possibilitar um debate acerca da sexualidade, mais especificamente discutindo os conflitos e tensões vivenciados no cerne do projeto citado. O artigo pretende inicialmente aproximar o leitor do espaço do Projeto COMUNI, contextualizando o espaço vivenciado pelos autores do trabalho. No segundo momento, o artigo se propõe a discutir a constituição histórica do processo de regulação e controle da sexualidade, bem como o conceito de biopoder. Posteriormente, buscou-se pensar o corpo a partir da corporeidade, permitindo compreender a complexa rede que constituí o processo de subjetividade, dentre eles, a questão de gênero. Por fim, perspectivaremos possíveis discussões acerca do papel do profissional de Educação Física frente aos processos exclusórios que emergem dos referidos processos de normatização. É relevante ressaltar que optou-se pela pesquisa bibliográfica descritiva. Cadernos UniFOA Palavras-chave Artigo Original Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 24 1. Introdução Na tentativa de propor soluções para alguns problemas que emergem na sociedade atual, Estado, empresas e instituições privadas, organizações não governamentais, dentre outros, se mobilizam para desenvolver projetos e atividades voltadas para crianças e adolescentes de comunidades carentes em situação de vulnerabilidade social, ou seja, que estejam em condição objetiva da situação de exclusão. Estes tem o intuito de direcioná-los para os referidos locais educativos, ao contrário de irem para as ruas, oferecendo a esses sujeitos oportunidades de vivenciarem atividades prazerosas e educativas, buscando desenvolver suas habilidades físicas, cognitivas, artísticas, dentre outras. Dentre os diversos projetos desenvolvidos no município de Volta Redonda e que buscam se articular às políticas públicas para ações dos sujeitos supracitados, encontra-se o Projeto COMUNI - Comunidade Unida (o projeto bem como as entidades envolvidas são fictícios), desenvolvido em parceria com diversos órgãos municipais. Esse surgiu com o objetivo de proporcionar informações, entretenimento saudável e vivência da cultura através de atividades direcionadas, além de possibilitar o resgate do equilíbrio e harmonia social, segundo consta no documento idealizador do projeto. O projeto constitui-se de várias oficinas: música, esporte (futebol, tênis, handebol e futsal) e dança (Jazz, balé, hip-hop, contemporânea, todas trabalhadas alternadamente nas aulas). Possui também atendimento e apoio psicológico para a família. Essas atividades são realizadas duas vezes durante a semana, atendendo crianças e adolescentes na faixa etária de 06 a 16 anos. Nossa inserção do projeto se deu nas turmas de dança, como estagiárias, e algumas situações começaram a nos chamar a atenção. Notamos, inicialmente, a predominância da participação das meninas em detrimento da presença dos meninos, mas, com o passar dos meses, ocorreram algumas mudanças na busca dos discentes pelas aulas, modificando a configuração da turma que passou a não ter apenas meninas. O que nos intrigou e nos levou a alguns questionamentos foi o comporta- mento apresentado pelas discentes (crianças e adolescentes) diante da presença dos meninos, seja na sua participação nas aulas, bem como quando observavam outras turmas do projeto de dança: a maneira como se referem aos meninos que dançam; como se dá a relação durante aula e, por outro lado, como os meninos percebem seu próprio corpo, as permissões e os interditos, por exemplo, em inúmeras situações, os meninos paravam na metade da aula e sentavam, pois afirmavam que as meninas estavam zombando deles, chamando-os de gays, “mocinhas”. Não era raro o depoimento de insultos e alunos relatando agressões verbais de outros garotos e até mesmo de meninas quando saíam das aulas de dança. Dessa forma, estabelecem-se como reflexão os seguintes aspectos: dança é uma modalidade voltada apenas para meninas? Por que nas turmas de dança, mais precisamente a do Projeto COMUNI, existe predominância de garotas? Por que há uma evasão tão grande de meninos em turmas de dança? Existe um processo que normatiza, regula e controla os comportamentos do homem e da mulher? Qual a origem deste processo de normatização? Na intenção de provocar um debate acerca dos questionamentos expostos, o presente estudo objetiva compreender os processos de regulação e controle dos corpos no espaço da dança. O presente estudo busca a sua relevância acadêmica ao discutir os aspectos vinculados a dimensões relacionadas ao biopoder (FOUCAULT, 1979), ao processo de subjetivação e à determinação dos corpos autorizados a dançar (NOLASCO, 1995). A opção metodológica foi a pesquisa bibliográfica descritiva, pois, tal ótica “procura explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas em artigos, dissertações e teses” (CERVO et al. 2007, p.60). Em certos meios acadêmicos, a pesquisa bibliográfica tem sido tratada como secundária e sem dados inéditos, porém, é preciso levar em consideração a originalidade dos raciocínios que ela desperta, pois fenômenos já publicados podem possibilitar raciocínios inéditos, entendendo-se que o conceito de inédito não se restringirá a uma nova realidade (SANTOS, 2006). A pesquisa foi de nível descritivo, pois o desenvolvimento do artigo detém-se em descrever, registrar e interpretar dados existentes a O projeto COMUNI é uma intervenção social, realizada em um município da região Sul Fluminense do estado do Rio de Janeiro. Essa ação social se desenvolve, por uma autarquia do poder executivo municipal (instituição criada em 1968, com o objetivo de auxiliar e assistir a crianças e adolescentes, em situação de risco, vítimas de maus tratos, abandono, abuso sexual, em situação de rua, ou qualquer outra que coloque em risco a sua integridade física, moral ou psicológica). De acordo com os documentos oficiais da instituição, 25 Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 2. Conhecendo os espaços e sujeitos do Projeto COMUNI a primeira mobilização para que ocorresse a criação do projeto iniciou-se em uma reunião ocorrida em dezembro de 2008, no Conselho Tutelar, articulada pelo posto de saúde da família (PSF) de um bairro periférico e com a presença de representantes dos mais variados setores do município. A reunião tinha como objetivo chamar a atenção de toda a rede municipal para os problemas que ocorriam constantemente na comunidade, visando propor soluções para amenizar alguns destes embates, sendo o principal deles o aumento significativo de crianças e adolescentes viciados em álcool e drogas. Uma vez ao mês ocorriam reuniões para discutir como sanar os problemas mais graves que ocorriam na comunidade: o abandono de crianças, maus tratos, déficit de aprendizagem, drogas e alcoolismo. No ano de 2009, esse grupo de representantes encaminhou diversos casos para tratamento em instituições especializadas, o que permitiu perceber “novas” possibilidades de intervenção para estes problemas sociais. Assim, crianças e adolescentes passariam a ser estimulados na direção de hábitos e práticas saudáveis, ocupando o seu tempo disponível com atividades que despertassem seus interesses, necessidades e, consequentemente, perspectivando uma trajetória de prevenção para os sujeitos envolvidos nas tramas sociais já enunciadas. Além das atividades proporcionadas pelo projeto, ainda seria disponibilizada às famílias um trabalho em grupo voltado para a área terapêutica, com o intuito de promover diálogos entre a comunidade e especialistas para a busca de soluções dos problemas sociais e individuais, como por exemplo, o apoio psicológico. Dessa forma, o projeto foi criado COMUNI (Comunidade Unida) – em 30 de julho de 2010, com ações específicas de fundações e secretarias municipais da cidade, tendo os seguintes objetivos: proporcionar através das oficinas culturais e esportivas, o bem-estar, a integração e a formação de hábitos saudáveis; criar oportunidades e realizar atividades voltadas para crianças e adolescentes, envolvendo cultura e esporte; apoiar e orientar as famílias diante dos problemas partilhados nos grupos. Na intenção de atingir os objetivos propostos, a comunidade, em conjunto com instituições e órgãos municipais, definiram as Cadernos UniFOA respeito do tema da sexualidade, bem como sua influência na organização social. A pesquisa descritiva é “um levantamento das características conhecidas que compõem o processo. É normalmente feita na forma de levantamentos ou observações sistemáticas do fato/fenômeno/ processo escolhido” (SANTOS, 2006, p.26). Este artigo se baseia principalmente nas referências de Foucault (1979, 1989, 2008) e Louro (1997, 2000, 2001, 2004, 2007, 2010), pois estes autores são referências em temas sobre a sexualidade e a maneira como ela é percebida diante da ótica social. O intuito do trabalho é possibilitar um debate acerca da sexualidade, pois segundo Louro (2010), ao longo de toda história, sempre observamos discussões referentes ao corpo, principalmente no que diz respeito à sua imagem diante da sociedade. O artigo , inicialmente, aproximar o leitor do espaço do Projeto COMUNI, contextualizando o espaço vivenciado pelos autores do trabalho. No segundo momento, se propõe a discutir a constituição histórica do processo de regulação e controle da sexualidade, bem como o conceito de biopoder(FOUCAULT, 1979). Posteriormente, busca-se pensar o corpo a partir da corporeidade permitindo compreender a complexa rede que constituí o processo de subjetividade, dentre eles a questão de gênero. Por fim, perspectivar-se-ão possíveis discussões acerca do papel do profissional de Educação Física frente aos processos exclusórios que emergem dos referidos processos de normatização. 26 ações sociais a partir das seguintes atividades: futebol, percussão, dança e tênis. Inicialmente, as oficinas eram realizadas duas vezes por semana. Os horários eram definidos semestralmente, de acordo com vários aspectos: disponibilidade das crianças, cronograma de atividades e disponibilidade do professor. Os atendimentos às famílias ocorriam toda quarta-feira e sexta-feira, no período da tarde, e aos sábados, no período da manhã, no Posto de Saúde da Família do bairro (PSF) e, as oficinas para as crianças e adolescentes no campo de futebol, quadra poliesportiva e na Casa Comunitária também localizada no bairro. Portanto, a presente pesquisa tem como ponto central a discussão das tensões que emergem das oficinas de dança, na tentativa de compreender os conflitos presentes cotidianamente nas aulas de dança. Nesse sentido, o item a seguir inicia a discussão necessária à compreensão dos problemas relacionados à temática da sexualidade. 3. Sexualidade Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 3.1. A história da sexualidade A sexualidade na modernidade tornou-se uma questão central da sociedade. Por toda parte, notam-se comportamentos e identidades sexuais sendo controladas, vigiadas, padronizadas e normatizadas assumindo tons e diretivas diferentes conforme o gênero, mas nem sempre foi assim. Conforme Foucault (1979), ela constituiu-se em um processo de pelo menos duzentos anos. O que antes parecia ser carregado de certezas e respostas estáveis traz agora uma gama de incertezas e modelos inúteis, sendo também impossível ignorar essas questões, levando-nos ao seguinte questionamento: “o que fazer?” Antes de tudo é preciso conhecer como essas questões e práticas emergiram e tornaram-se alvo de tantas discussões. Aproximadamente até o século XVIII, as anatomias dos sujeitos eram percebidas como uma matriz unissexual, pois “o corpo masculino era o modelo e o feminino a sua versão atenuada”, considerando-se então a mulher, um homem invertido (FRAGA, 2000 p. 134). A partir do referido século, os estudos anatômicos começavam a demonstrar as diferenças entre homens e mulheres, então, se criou uma nomenclatura específica para os órgãos femininos, mas ainda, associados aos masculinos. Fraga (2000) menciona que havia, nesse período histórico, uma sujeição do corpo feminino a um discurso biológico-moral. O autor reitera que ocorre um processo de aparecimento e sumiço do clitóris na literatura médica ocidental, que segundo Foucault (1979) faz parte de uma eficiente tecnologia de controle do corpo feminino a partir do discurso biológico e moral. Apresentar o processo contraditório de aparecimento e desaparecimento do clitóris é relevante pelo fato de ser uma explicitação do controle social sobre o corpo da mulher, pois o órgão mencionado era concebido apenas como a função de proporcionar prazer à mulher, sem caráter reprodutivo, o que era um problema, pois representava uma ameaça à normalidade na relação heterossexual. Contudo, estes estudos e controvérsias obtinham como principal finalidade, além de normatizar a reprodução humana, estruturar detalhadamente uma política sexual para os sujeitos tornarem-se seus próprios reguladores, instituindo uma série de condutas consideradas apropriadas (FRAGA, 2000). A todo este processo, Foucault (1979) intitula de histerização do corpo da mulher em que este passa a ser analisado como integralmente saturado de sexualidade e, posteriormente, colocado em comunicação com o corpo social, espaço familiar e com a vida das crianças, reafirmando, mais uma vez, uma série de normas e papéis socialmente impostos que devem ser seguidos. Posteriormente aos acontecimentos mencionados, mais precisamente no fim do século XVIII, as sociedades ocidentais modernas criaram e instalaram um novo dispositivo: o da sexualidade, que seria relacionado com as sensações corporais, a natureza das impressões, a qualidade dos prazeres. O dispositivo da sexualidade “tem como razão de ser não o reproduzir, mas o proliferar, inovar, anexar, inventar, penetrar nos corpos de maneira cada vez mais detalhada e controlar as populações de modo cada vez mais global” (FOUCAULT, 1979, p. 101). Para Foucault (1979), o dispositivo da sexualidade centra-se na família, tendo nela como 27 Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 O termo homossexualidade foi conceituado ainda no século XIX (LOURO, 2001) para caracterizar os indivíduos que fugiam dos padrões da normalidade no que diz respeito à sua opção sexual. À medida que a sociedade se tornou mais preocupada com a vida dos seus membros, ela passa a se atentar cada vez mais para o disciplinamento dos corpos e com a vida sexual dos indivíduos. O que antes era tido como uma atividade indesejável ou pecaminosa, agora passava a ser vista sob uma nova perspectiva: “a prática passava a definir um tipo especial de sujeito que viria assim a ser marcado e reconhecido. Categorizado e nomeado como desvio da norma, seu destino só poderia ser segredo ou segregação” (LOURO, 2001 p.542). É importante ressaltar que relações afetivas e amorosas entre sujeitos do mesmo sexo já existiam antes desta época, mas não eram nomeadas como homossexualidade, mas consideradas práticas pecaminosas. Com o advento desse novo conceito, essa prática passa a “indicar um tipo particular de pessoa, um tipo social, uma ‘espécie’ de gente que se desviara da ‘normalidade’ ” (LOURO, 2010). Nos anos que compreenderam o século XX, mas precisamente na década de 1940, houve certa preocupação com o controle da natalidade para que a família fosse constituída pelo tipo certo de indivíduo, e um zelo maior em relação aos papéis apropriados para homens e mulheres. Já a partir de 1950, houve uma caça àqueles que iam contra os padrões comportamentais e heterossexuais, pois eram considerados diante da sociedade como degenerados. A década de 1960 foi marcada por um período de transição, onde houve um relaxamento dos velhos códigos de autoritarismo e uma descoberta de novos modos de regulação social. Por volta dos anos de 1970 e 1980 houve uma reação contra aquilo que não foi tido como excessos da década anterior, devido ao fim da ditadura, o reestabelecimento da democracia, a abertura política e à anistia possibilitando estudos referentes a gênero, raça, etnia, classe social e sexualidade baseado nos estudos sobre mulheres e suas relações sociais (SILVA JÚNIOR, 2009) tornando então a sexualidade como “uma verdadeira questão política de primeira linha, com a Nova Direita identificando o Cadernos UniFOA principais agentes os pais e os cônjuges e exteriormente os médicos, pedagogos e psiquiatras. No decorrer do século XIX, percebe-se de uma maneira mais clara a presença e implantação mais acentuada do referido dispositivo no cotidiano social, pautado agora em um novo conceito, o de biopoder, utilizando-o como uma forma de repressão e controle dos corpos. A sociedade, neste período, volta seus olhares para as mulheres com o intuito de assegurar uma imagem de “pureza”. Mas isso não ocorria, pois ainda havia o predomínio da prostituição o que acarretava o aumento das doenças venéreas. Como diz Weeks (2000), esse século foi marcado por uma dose de hipocrisia moral, quando se aparentava respeitabilidade ao sujeito, e sua prática era totalmente contraditória e carregada de princípios pré-estabelecidos. No período compreendido entre 1860 até 1890, “a prostituição, as doenças venéreas, a imoralidade pública e os vícios privados estavam no centro dos debates devido o aumento dessas práticas no século, muitas pessoas viam na decadência moral um símbolo da decadência social” (WEEKS, 2000, p. 37). Esse modo de compreensão ou concepção de mundo fazia com que a sexualidade se tornasse uma obsessão pública, que buscava controlar, ao máximo, os corpos, ditando suas formas de ação e distinguindo o comportamento “normal” do “anormal”, começando então a transformar-se em uma questão, sendo “objeto de atenção do estado, da medicina, das leis, além de continuar a ser tema da religião” (LOURO, 2010, p.334) Ao longo de todo século XIX, o Estado preocupou-se cada vez mais com a organização e controle de suas populações, procurando meios de garantir a vida e a produtividade de seus povos, voltando-se para a disciplinarização, regulação da família, da reprodução e das práticas sexuais. Nas décadas finais deste século, surge uma nova disciplina: a sexologia, em que médicos, filósofos, moralistas e pensadores começaram a pesquisar mais profundamente sobre o sexo, inventando classificações de sujeitos, práticas sexuais e determinando o que era normal ou não, adequado e sadio. A partir de então, as diferenças entre sujeitos e suas práticas sexuais eram determinadas de acordo com o olhar de tais autoridades. (LOURO, 2010). Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 28 “declínio da família”, o feminismo e a nova militância homossexual como potentes símbolos do declínio nacional” (WEEKS, 2000, p. 49). Inspirados então no movimento feminista, em 1978, os/as homossexuais, criaram a primeira associação gay do Brasil, indicando o início da luta pelo reconhecimento social de suas identidades sexuais (SILVA JÚNIOR, 2009). Todo este movimento em busca do respeito e da visibilidade veio a transformar a vida cultural dos indivíduos, construindo espaços de lazer e arte, e constituindo aquilo que veio a se chamar política de identidades, conceituada como um “conjunto de movimentos sociais organizados que teve e tem como protagonistas grupos historicamente subalternizados (mulheres, jovens, negros, gays e lésbicas)” (LOURO, 2010, p. 336). Foi a partir deste marco que gays lésbicas e mulheres começaram a falar suas experiências amorosas e sexuais. Os debates acerca da sexualidade tornaram-se mais frequentes com a erotização dos corpos infantis, o aumento de adolescentes grávidas, das doenças sexualmente transmissíveis – DST, a desconstrução do arquétipo familiar tradicional (BRAGA, 2010) e, principalmente, a proliferação da AIDS, a partir dos anos de 1980, que, segundo Silva Júnior (2009), deu maior visibilidade à causa homossexual, transgredindo as fronteiras convencionais da heterossexualidade hegemônica. Com o advento da AIDS, surgiram diversas alianças de solidariedade entre amigos e parentes, não necessariamente homossexuais, para se discutir normas de sexo seguro e de prevenção com o intuito de mostrar à sociedade outras maneiras de vivenciar a sexualidade, o prazer e o desejo. Outro fator relevante e que influenciou nas futuras discussões acerca da sexualidade era a ideia que se tinha a respeito da AIDS, que era considerada um câncer gay, desencadeando assim um sentimento homofóbico em diversos indivíduos ( SILVA JÚNIOR, 2009). A partir de então, mais especificamente no Brasil, a sexualidade passa a ser discutida em várias instâncias sociais, inclusive nas escolas, através do Ministério da Educação e Cultura estimulando projetos de educação sexual (LOURO, 2010). Além de todo esse movimento promovido, principalmente, por homossexuais e o advento da AIDS, Louro (2010) ainda relata que: outros grupos não priorizam, propriamente as reivindicações de inclusão social, mas preferem desafiar as fronteiras tradicionais de gênero e sexuais – em outras palavras, esses grupos decidem por em xeque as dicotomias masculino/ feminino, homem/mulher, heterossexual/homossexual e pretendem, de muitos modos, atravessar e perturbar essas fronteiras. Há, ainda, aqueles que não se contentam em atravessar as divisões, mas decidem viver a ambiguidade da própria fronteira. Sujeitos que. deliberadamente, inscrevem em seus corpos, suas roupas, seu comportamento e atitudes signos masculinos e femininos buscando embaralhar esses signos, afirmando-se propositalmente, como diferentes, estranhos, queer – para usar um termo bem contemporâneo (p. 338) Como citado, Louro (2004) utiliza em suas obras o termo queer, que traduzido do inglês pode ser entendido como estranho, esquisito, palavra esta empregada para se referir, de forma pejorativa, a um sujeito não heterossexual. Enquanto para alguns, a referida palavra serviu e serve para marcar uma posição marginalizada e abominada, para outros, ela indica um movimento, a não acomodação, uma disposição, um modo de ser e viver. Do termo queer, surge uma nova teoria, intitulada por Teoria Queer, que segundo a autora, possibilita o pensamento em torno da “ambiguidade, a multiplicidade e a fluidez das identidades sexuais e de gênero, mas, além disso, também sugere novas formas de pensar a cultura, o conhecimento, o poder e a educação” (p. 47). Para Fraga (2000), a referida temática assumiu o caráter da verdade mais profunda a respeito de nós mesmos. Surge então a sexualidade como um dos temas centrais da atualidade, sendo vista como objeto de controle do corpo e também social. A construção da história da sexualidade, diante dos fatos supracitados, passa então por dois momentos de ruptura voltados para os mecanismos de repressão, um deles ocorre no século XVII com o nascimento das grandes proibições, uma valorização da sexualidade adulta e matrimonial, contenção e controle da linguagem e o outro no século XX, quando Para compreender o pensamento foucaultiano e seu conceito de biopoder, é relevante ressaltar que a sexualidade é considerada um dispositivo histórico, uma invenção social, que se constituiu a partir de diversos discursos sobre o sexo, que tinham como intenção regular, normatizar, instaurar saberes e produzir verdades (FOUCAULT, 1979). Para o autor, a definição de dispositivo é tida como um conjunto que possui componentes distintos que englobam discursos, instituições, leis, enunciados científicos, o dito e o não dito, entre outros, sendo o dispositivo a rede ou conexão que se estabelece entre esses elementos (FOUCAULT, 2008). 29 poder disciplinador e normalizador que já não se exercia sobre os corpos individualizados nem se encontrava disseminado no tecido institucional da sociedade, mas se concentrava na figura do Estado e se exercia a título de política estatal que pretendia administrar a vida e o corpo da população.(p. 3). Foucault (2008) pontua outros dois aspectos considerados relevantes para a constituição do conceito de biopoder na Idade Média, e que interferiu e interfere ainda hoje no processo de interjeição do sujeito. Primeiramente, a confissão (dispositivo religioso), pois através desse dispositivo de poder, os prazeres individuais, os sentimentos, desejos, vontades e as próprias emoções da alma, poderiam ser requisitados, conhecidos, medidos e regulados (MENDES, 2006). E, em um segundo plano, o exame de consciência, disposta enquanto circunstância, em que os sujeitos, através dos parâmetros impostos por instituições e quadros morais, avaliariam consigo mesmos suas atitudes e pensamentos analisando se corresponderia ou não com os valores morais socialmente estabelecidos (MENDES, 2006). A confissão e o exame de consciência são logo, considerados técnicas e dispositivos para a constituição do biopoder, atuando no sentido de estimular Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 3.2. Biopoder em Foucault Considerando as prerrogativas supracitadas, Foucault desenvolve seu estudo no campo da sexualidade, apropriando-se dos referidos conceitos como a base de toda sua discussão, principalmente no que concerne ao estabelecimento das definições de biopoder e biopolítica. O conceito de biopoder (e biopolítica) é citado pela primeira vez em sua obra História da Sexualidade, volume um, sendo abordada através de uma comparação sobre o poder que os pais de família romanos obtinham sobre o direito de vida e morte de seus filhos e escravos, afirmando então que o biopoder e a biopolítica vem com o intuito de regular e controlar os corpos como feito antigamente na sociedade romana (FOUCAULT, 1979). Segundo Duarte (2008), eles são idealizados por Foucault ao vislumbrar no decorrer do século XVIII e, sobretudo na virada para o século XIX, Cadernos UniFOA começa um afrouxamento dos mecanismos de repressão (FOUCAULT, 1979), tornando os debates acerca da sexualidade uma prática usual, mas que ainda objetiva o controle e dominação dos corpos, estabelecendo papéis socialmente padronizados. Diante dos aspectos históricos apresentados, percebemos que o corpo e a concepção de sexualidade que hoje se configura na sociedade incorporaram os valores vigentes em décadas anteriores, é uma transmissão cultural com idealizações, padronizações e normatizações advindas através dos séculos, portanto, uma construção sócio-histórica. Perfis de “beleza, saúde, doença, vida, juventude, virilidade, entre outras, não deixaram de existir, apenas transmudaram-se, incorporaram outros contornos, produziram outros contornos” (GOELLNER, 2010, p. 38). Partindo então desse constructo histórico referente à sexualidade, observamos, na atualidade, que esta será modelada a partir da junção de dois elementos: o subjetivo e o social que estão intimamente ligados através do corpo. A sociedade tornou-se cada vez mais preocupada com a vida de seus membros, assim como com o disciplinamento dos corpos e com as vidas sexuais dos indivíduos, possibilitando o surgimento de poderes que regulam o comportamento sexual (WEEKS, 2000). Que poder é esse que emerge capilarmente na sociedade estabelecendo padrões de comportamento? Responder a essa pergunta não é algo simples, mas complexo, o que nos move ao próximo item deste artigo. 30 os sujeitos a praticar uma estética de si, procurando alcançar o melhor que podem fazer de suas vidas em vários campos: no trabalho, em sua aparência, em suas relações familiares e com os amigos, estando tudo isso imbricado com valores morais que remetem a uma vasta gama de sentimentos, relativos a outros, mas em especial, a nós mesmos. Mais do que uma projeção externa sobre nós, é uma projeção nossa em nós Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 mesmos (MENDES, 2006, p. 175). A idealização do biopoder, partindo da afirmação, vem então com o intuito de se juntar às reflexões sobre as práticas disciplinares. Disciplinas essas que se centram no corpo de uma maneira mecânica: no seu adestramento, no acréscimo de suas aptidões, no crescimento de sua utilidade e docilidade, na sua conexão em sistemas de controle eficazes e econômicos (FOUCAULT, 1979), ou seja, se voltam para o sujeito, seu corpo, sua normalização (linha auferida nas proporções e variáveis aceitas pelo coletivo os pelos padrões institucionais) e domesticação (saber que limita a liberdade e o espaço de um corpo, invadindo e delineando seu meio social) por meio das inúmeras instituições panópticas, como, por exemplo, a escola, a fábrica, o hospital, a prisão (Foucault, 1989) dentre outras e que poderíamos inclusive acrescentar os espaços da Dança. Segundo Foucault (1989), eram instituições que docilizavam os corpos e os colocavam prontos à produção industrial, em vigência enquanto produção central na fase do capitalismo Nesse sentido, o biopoder é concebido com o intuito de reger a vida da população, organizando-a e vigiando-a para assim buscar atender a determinadas expectativas de modernização e progresso. O biopoder é entendido então como “a gestão da vida como um todo, uma técnica, um poder sobre o biológico que vira tema central nas discussões políticas” (CUPELLO, 2010, p. 3). Pode-se afirmar, diante dos aspectos supramencionados, que o biopoder é baseado na disciplina e vigilância do sujeito. Badiali (2009) afirma que: “o poder disciplinar age através da inscrição desses corpos em espaços determinados, do controle do tempo sobre eles, da vigilância contínua e permanente, e da produção de saber por meio dessas práticas de poder” (p. 21). Então, se a disciplina opera sobre os indivíduos, o biopoder age sobre o ser humano, no corpo, que perpassa pelo aspecto orgânico do ser vivo, como base nos processos biológicos, por intermédio dos processos de saúde coletiva, nascimentos, mortalidades e longevidades. Para o autor, o ato de cuidar desse corpo acarretará, dessa forma, em modelos controlados nos aparelhos de produção capitalistas. Ainda sobre biopoder, Duarte (2008) menciona a relação que Foucault faz com a sexualidade, aqui intitulada por ele de dispositivo da sexualidade: a partir do momento em que passou à análise dos dispositivos de produção da sexualidade, Foucault percebeu que o sexo e, portanto, a própria vida, se tornaram alvos privilegiados da atuação de um poder que já não tratava simplesmente de disciplinar e regrar comportamentos individuais, mas que pretendia normalizar a própria conduta da espécie ao regrar, manipular, incentivar e observar fenômenos que não se restringiam mais ao homem no singular, como as taxas de natalidade e mortalidade, as condições sanitárias das grandes cidades, o fluxo das infecções e contaminações, a duração e as condições da vida etc. A partir do século XIX já não importava apenas disciplinar as condutas individuais, mas, sobretudo, implantar um gerenciamento planificado da vida das populações. Assim, o que se produzia por meio da atuação específica do biopoder não era mais apenas o indivíduo dócil e útil, mas era a própria gestão da vida do corpo social. O sexo se tornou então um foco privilegiado para o controle disciplinar do corpo e para a regulação dos fenômenos da população, constituindo-se o que o autor denominou como dispositivo da sexualidade (Op. cit., p.3). Diante do exposto, o autor anuncia o corpo e a sexualidade, como técnicas e dispositivos centrais de controle para além do indivíduo: a sociedade, o coletivo. Duarte (2008), a partir de estudos foucaultianos, nos permite perceber como as instituições, historicamente construídas na atualidade, reproduzem as marcas deixadas nos corpos, e, o espaço da dança como parte de todo esse processo, nos revela esses interditos, os fechamentos aos corpos proibidos de estarem ali, participando e expressando uma forma particular de cultura. A discussão do conceito de biopoder remete-nos ao próximo tópico deste artigo, buscando pensar o corpo a partir da corporeidade, procurando compreender como se constitui a complexa rede de subjetividades, dentre essas questões, o gênero, para posteriormente discutir-se como o biopoder, o gênero, os processos de normalização e a sexualidade influenciarão nas concepções de comportamentos modelos, esperados para meninos e meninas durante suas práticas cotidianas, mais especificamente nas aulas de dança. normais, inscrevendo e hierarquizando as práticas sexuais, em que os sujeitos são marcados e denominados a partir dessa referência que, posteriormente, os classifica como desviantes da norma, cabendo aos mesmos o destino ou a segregação (MORAES, 2006). Pode-se considerar que gênero e sexualidade atrelam-se em um constructo histórico, que se consolidou no decorrer dos séculos, e cultural, que determina, de acordo com a cultura, as variadas formas de sentir-se homem e mulher e seus respectivos papéis, definindo o que é normal e anormal na ótica de determinada sociedade (LOURO, 2007). De acordo com Louro (2000), 31 a inscrição dos gêneros — feminino ou masculino — nos corpos é feita, sempre, no contexto de uma determinada cultura e, portanto, com as marcas des- 4. Sexualidade e Gênero: possíveis enredamentos sa cultura. As possibilidades da sexualidade — das formas de expressar os desejos e prazeres — também são sempre socialmente estabelecidas e codificadas. As identidades de gênero e sexuais são, portanto, compostas e definidas por relações sociais, elas são moldadas pelas redes de poder de uma sociedade Torna-se claro, diante de tais discussões, que é, no âmbito cultural e histórico que se definem as identidades sociais mais especificamente aqui tratadas identidades referentes a gênero e sexualidade, que constituirão os sujeitos a partir de diferentes situações, instituições ou agrupamentos sociais. Então, reconhecer-se em uma determinada identidade pressupõe-se pertencer a um grupo social de referência (LOURO, 2000), ou seja, a sexualidade e a questão do gênero são carregadas de valores próprios de cada cultura e períodos históricos, podendo-se afirmar que, por exemplo, atos sexuais fisicamente idênticos podem ter significação social variada e variado sentido subjetivo, de acordo com a cultura (WEEKS, 2000). Diante dos conceitos já explicitados, (biopoder, sexualidade, gênero) e, traçados seus possíveis enredamentos, cabe-nos, por fim, relacioná-los à dança e, aos processos de normalização construídos no decorrer da história, pois estes se mantêm ainda hoje como Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 (Op. cit., p. 9). Cadernos UniFOA Sexualidade e gênero são dois conceitos que inúmeras vezes são confundidos ou considerados palavras sinônimas, mas na realidade não são, apesar de estarem intimamente interligados. Suas diferenças demarcarão lugares, influenciarão comportamentos, maneiras e determinadas práticas no exercício do prazer sexual, intitulado como feminino e masculino, partindo de corpos que correspondem de maneira diferente, na sua interface com o campo biológico (SILVA, 2008). Para Louro (1997), a questão do gênero está ligada à identificação histórica e social dos sujeitos, que se denominam como femininos ou masculinos, já a sexualidade indica diretamente a forma com que os sujeitos experienciam seus desejos corporais, de variadas maneiras, podendo ser sozinhos/as, com parceiros do mesmo sexo ou não. Esta dada sexualidade, segundo Souza (1999) não é fixa, mas se constrói ao longo da vida, ela se torna a verdade definitiva sobre cada sujeito e seus corpos suscitando também segundo Foucault (1979) como elemento especulativo a noção do sexo. O gênero perpassa a sexualidade, possibilitando em determinados momentos históricos, a delimitação das características principais que compõem a masculinidade e feminilidade 32 dispositivos de controle e vigilância dos sujeitos, perspectivando algumas discussões relacionadas ao papel do professor de Educação Física, que busca se posicionar contrário aos processos exclusórios. Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 5. Biopoder e os processos de normalização na dança A dança tem se constituído ao longo dos anos em um espaço de corporificação de sexualidades que, articuladas com as representações culturais, define e regula comportamentos adequados para homens e mulheres. Cada estilo de dança trará consigo um mecanismo cultural que produzirá tipos específicos de políticas de masculinidades e feminilidades (ANDREOLI, 2010). Um corpo quando é definido como sendo do sexo masculino, torna-se codificado por uma rede de valores culturais, com comportamentos e atitudes sociais esperadas da referida masculinidade (SANTOS, 2009), comportamentos estes que se estabelecem socialmente e que compreendem a dança como uma ação não estabelecida para homens. Os referidos valores culturais, considerados essencialmente masculinos e femininos, configurarão tipificações dos papéis pertinentes ao homem e a mulher, englobando aprovações, restrições e proibições que são transmitidas ao longo das gerações e influenciarão na sexualidade do sujeito enquanto ser subjetivo e membro da sociedade. Bandeira e Domingues (2010) afirmam que: os homens são reconhecidos dentro dos inúmeros espaços que estão inseridos e, para que isso ocorra, primeiramente, é preciso localizar o tempo e o espaço no qual eles estão circulando, isso porque as masculinidades são construídas socialmente e historicamente, variando de uma cultura para outra (Op. cit., p.3). Na cultura vigente ocidental, cabe aos meninos serem fortes, independentes, dominantes, competentes e agressivos, eliminando expressões físicas de conteúdo emocional ou que transpareçam sensibilidade, enquanto às meninas compete serem dependentes, sensíveis e afetuosas (NEGREIROS E CARNEIRO, 2004). Para se entender melhor o processo da dança, enquanto modalidade voltada para meninas, torna-se necessário conceituá-la e discuti-la dentro da esfera do biopoder. Achar (1998) define a dança como “o entendimento completo das possibilidades físicas do corpo humano, a qual permite exteriorizar um estado latente, pelos jogos dos músculos, segundo as leis naturais do ritmo e da estética” (p. 15). O aparato físico mencionado emerge das expressões corporais embebidos de sentimentos e emoções fazendo com que o homem transcenda ao movimento simples, técnico e sem sentido ou significado. Então, a dança enquanto expressão corporal, é a exteriorização de sentimentos, partindo opostamente aos valores socialmente julgados como masculinos. Meninos que dançam são considerados gays, pois os mecanismos articulados pelo biopoder disciplinar (MAIA, 2011), vinculam à sociedade o valor de que o homem não pode se expressar corporalmente de forma suave e demonstrar seus sentimentos através da dança. O biopoder é um dispositivo que orienta a vida em sociedade por dentro, decifrando-a e rearticulando-a (BRAGA, 2004). A atuação do biopoder na dança como objeto de controle dos corpos, afirma-se em dois níveis de exercício: de um lado as técnicas, implicadas nos corpos através da disciplina e do poder disciplinar, e, do outro o corpo percebido, como parte de uma espécie (população) com suas leis e regularidades determinadas. Dos referidos níveis, surge o processo de disciplinarização, que através do biopoder irá padronizar e normatizar os papéis e atividades pré-determinadas para homens e mulheres. Para Foucault (1979), a fabricação do biopoder se processa e se insere nas fábricas, hospitais, hospícios, prisões e outras instituições necessárias para a vida da sociedade: em nosso estudo, revela-se nas aulas de dança. Com relação ao exposto, Mondardo (2009) afirma que a ação do poder sobre o corpo atua para a normatização do comportamento, a partir do adestramento e da imposição na forma de movimento dos sujeitos. O objetivo é controlar as inúmeras formas territoriais que se formam para admi- para a manutenção dos comportamentos dos corpos através da mobilidade adestrada, buscando torná-la cada vez mais “limitada”, e desta forma, controlada (p. 4). Portanto, o processo de ação do biopoder sobre os corpos julga, condena e classifica (BRAGA,2004) homens que dançam como indivíduos que vivem à margem da sociedade, transformando então as práticas dançantes como exclusivamente femininas. Partindo do referido pressuposto, além dos já mencionados, outro fator que reafirma nas crianças e adolescentes o panóptico de papéis pré-determinados, em que dançar é considerado, ao ver da sociedade, prática de homossexuais, mais popularmente falada como “coisa de gay”, advém inicialmente da própria família como os processos de normalização, que simultaneamente também produzem e reproduzem os panópticos sociais, constituídos pela cultura, auxiliando assim, a normatização, regulação e instituição dos modos masculinos de ser e suas respectivas práticas. Quando há esta interferência negativa por parte da família, ocasiona um determinado medo de se perder a identidade masculina, um choque de identidades, ou seja, neste processo de normatização, para constituir-se “como um sujeito heterossexual um indivíduo é estimulado e obrigado a negar tudo àquilo que possa o mais vagamente possível ser associado à homossexualidade” (ANDREOLI, 2010, p.87). Nota-se, então, que o biopoder determina todo e qualquer papel social, investindo sobre toda a vida do sujeito, desde a biológica até a cultural (FERREIRA, 2008). Dessa forma, para ser aceito, ser considerado normal e estar dentro dos padrões sociais, os sujeitos devem abnegar suas vontades e desejos, permitindo que suas práticas e sua construção sexual sejam determinadas pelos mecanismos de poder estabelecidos socialmente. Esses mecanismos de poder trazem, em seu bojo, o imaginário de que homens, ao dançar, se aproximam de uma tendência ao homossexualismo, tornando-a então um elemento marcante e de peso na prática da dança por parte dos homens, sendo apontada como um obstáculo social por não estar enquadrada nas representações culturais hegemônicas de masculinidade (ANDREOLI, 2010). Este rótulo homossexual aos praticantes da dança, afeta não somente a vida externa, mas também sua própria consciência (BANDEIRA; DOMINGUES, 2010). Justifica-se assim a procura quase que absoluta das meninas no campo da dança, e para não ficar à margem ou ser um sujeito desviante da norma, cabe aos meninos praticar esportes, principalmente o futebol, considerado interesse masculino obrigatório e um elemento essencial para manutenção/produção da masculinidade (SANTOS, 2009). No Projeto COMUNI, notou-se, com frequência, atitudes preconceituosas e carregadas desses valores culturais e processos normalizadores, construídos e impostos pela sociedade no decorrer dos anos. Em várias aulas, pode-se observar como os meninos se sentiam coagidos com a presença de garotos que não fossem da turma e até mesmo das próprias companheiras. Em inúmeras situações os meninos paravam na metade da aula e sentavam, pois afirmavam que as meninas estavam zombando deles, chamando-os de gays, “mocinhas”, entre outros. Quando outros meninos assistiam, nenhum dos alunos (homens) fazia aula e, quando ao término os chamávamos para conversar, afirmavam não participar, pois não se sentiam à vontade de dançar na frente dos outros garotos. Não era raro o depoimento de insultos e alunos relatando as agressões verbais. Outro relato interessante foram as afirmações em que os alunos admitiam dançar escondidos e que não participariam de nenhuma apresentação por medo de serem classificados como afeminados. Por esse motivo, percebemos que parece haver uma relação entre o quantitativo de alunos e alunas que participam das aulas de dança no Projeto COMUNI em decorrência do processo de normalização estabelecido pela sociedade. A nomenclatura na qual foram classificados a zombaria dos amigos, vizinhos, familiares, e até mesmo durante as aulas por parte das companheiras de turma, os tornam infrequentes ou desistentes, pois são diversas vezes coagidos e inibidos, apresentando comportamentos retraídos ou agressivos. Diante dessa problemática, cabe ao profissional de Educação Física intervir durante 33 Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 nesse sentido, é de suma importância Cadernos UniFOA nistrar os corpos. A produção do poder, 34 as aulas com diálogos ou até mesmo propiciando experiências para que haja uma desconstrução do conceito de que dançar é “coisa de gay”, mostrando aos sujeitos que a sexualidade é algo subjetivo e construído ao longo do tempo, cabendo a cada um escolher o local e a opção sexual que se sentir melhor. É evidente que essa prática não trará resultados imediatos, é uma construção e uma mudança gradual e em longo prazo, que exigirá do profissional paciência e determinação. Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 6. Considerações Finais Na intenção de compreender os processos exclusórios que emergiam de nossa experiência em um projeto de dança no município de Volta Redonda, buscou-se o referido trabalho. O processo de discutir como a constituição do processo de normalização dos corpos cotidianamente se produz na sociedade atual, nos permitiu acessar outros conhecimentos antes não vislumbrados em nossas leituras e debates acadêmicos. Portanto, acreditamos que, a intenção de discutir os processos de controle que a sociedade “usa” para normatizar as ações dos sujeitos- estabelecendo papéis que definem os indivíduos como sendo masculino ou feminino, e inscrevendo em seus corpos padrões que devem ser seguidos, tendo a sexualidade como referência - foi atingido. Percebemos que, diante da padronização, refletem-se, atualmente, determinadas ações, sendo a dança uma prática que inibe e coíbe a participação de meninos, gerando aos que a praticam, comentários que vão muitas vezes confrontar suas identidades sexuais pelo fato da dança se caracterizar enquanto expressão de sentimentos. Assim, a prática da dança não define a sexualidade dos sujeitos e cabe aos profissionais de Educação Física trabalhar nesta vertente, conscientizando os alunos que a identidade sexual de cada sujeito é construída subjetivamente, independente do indivíduo dançar ou não, possibilitando a eles a vivência de todas as modalidades, sejam elas esportivas ou apenas expressivas. Outro aspecto importante a ser ressaltado, é a percepção de que o corpo é um processo de construção histórica, pois muitos fatos importantes e marcantes que ocorreram desde o início do século XVIII até o fim do século XX interferiram na sexualidade como uma forma de controle dos corpos e da sociedade: do dispositivo da sexualidade ao biopoder. Assim, entendendo a sexualidade como um dispositivo histórico e uma invenção da sociedade a fim de regular os comportamentos, temos o biopoder como forma de disciplinarização normalizando e domesticando os seres através de instituições panópticas, regendo assim, a vida da população para que atendam às expectativas de modernização e progresso. Sendo assim, ficou evidente que o biopoder se baseia na disciplina e vigilância do sujeito. Outro aspecto importante a ser salientado é a impossibilidade de tratar de sexualidade sem levar em consideração sua íntima relação com as questões de gênero. Vimos que podemos entender como gênero a identificação histórica dos sujeitos denominando-se como femininos ou masculinos. Já a sexualidade trata da forma como esses sujeitos optam em vivenciar seus desejos sexuais. Essa forma não é fixa, ela se constrói ao longo da vida. Quando o gênero perpassa a sexualidade, delimita as características que compõem a feminilidade e a masculinidade, marcando e denominando os sujeitos que fogem a essa delimitação como ‘anormais’. Falamos aqui como o gênero e a sexualidade, de forma atrelada, determinam as várias formas de sentir-se homem ou mulher e quais são seus papéis, definindo o que é normal e desvio sob a visão de uma determinada sociedade. Entendemos que as identidades sociais, inclusive as de gênero e sexualidade, são compostas e definidas por relações sociais que formam grupos com identidade determinada e os sujeitos reconhecem-se como parte desses grupos de acordo com suas atitudes. Em nossa pesquisa vimos que a dança se constitui em um desses espaços em que a sexualidade se corporifica articulando as representações culturais, definindo e regulando comportamentos que são adequados aos homens e às mulheres. Um comportamento masculino deve expressar força, competência e agressividade, sem conteúdo emocional, como a dança é uma prática de expressão corporal e de exteriorização de sentimentos, meninos que dançam são considerados gays. Esses valores culturais são transmitidos de geração a gera- 1. ACHAR, D. Ballet: uma arte. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998. 354p. 2. ANDREOLI, G. S. Representações de masculinidades na dança contemporânea. 2010. 158 f. Dissertação (mestrado) Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2010. 3. BADIALI, M. F. Marias: biopolítica, vida nua e resiliência. 2009. 124 f. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2009. 4. BANDEIRA, E.; DOMINGUES, J. V. Entre malhas, sapatilhas e corpos esguios: as masculinidades do ballet clássico em Rio Grande. In: CONGRESSO SULBRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 5., 2010, Itajaí, Anais eletrônicos. 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Cadernos UniFOA ção influenciando na sexualidade dos sujeitos enquanto ser subjetivo e membro da sociedade. Enfim, a homossexualidade é apontada como um obstáculo à prática da dança por meninos, pois, mesmo de forma inconsciente eles agem de forma a contribuir com a manutenção da masculinidade. Observamos em nossas aulas de dança várias atitudes preconceituosas e depois de nossa pesquisa pudemos entender que essas atitudes fazem parte de uma construção histórica e cultural que viabilizam os processos normalizadores construídos no decorrer dos anos. Entende-se que os profissionais de Educação Física podem contribuir de maneira a esclarecer que todos têm o direito de expressar seus sentimentos da maneira como preferirem, e que não é a dança que define a sexualidade das pessoas. Acredita-se então, que trabalhando de forma a incentivar o respeito às diversidades, contribuir-se-á na diminuição dos processos exclusórios e/ou discriminatórios na sociedade. 36 14. ______. Microfísica do poder. 26. ed. São Paulo: Graal, 2008. 295p. 15. ______. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 1989. 277p. 16. GOELLNER, S. V. A produção cultural do corpo. In: LOURO, Guacira Lopes et al(org). Corpo, gênero e sexualidade. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2010. 17. KASPER, K. M. Dos corpos sentados aos gestos em fuga: corpos em processo de formação. Revista da Faculdade de Educação. ano IX, n. 15, p. 79-95, 2011. 18. LOURO, G. L. Gênero e sexualidade: as múltiplas “verdades” da contemporaneidade. In: GARCIA, Regina Leite. Diálogos cotidianos. Rio de Janeiro: DP et al., 2010. 357 p. Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 19. ______. Gênero, sexualidade e educação. Petrópolis: Vozes, 1997. 25. MENDES, C. L. O corpo em Foucault: superfície de disciplinamento e governo. Revista de Ciências Humanas. n. 39, p. 167-181, 2006. 26. MONDARDO, M. L. 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Carla de Oliveira dos Santos [email protected] Cadernos UniFOA Endereço para Correspondência: Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 35. WEEKS, J. O corpo e a sexualidade. In: LOURO, Guacira Lopes. O corpo educado: pedagogias da sexualidade. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. 168 p. 39 Luciana Aparecida Cruz de Siqueira Pegas1 Sabrina Kelly Alves Honório1 Valesca da Silva Gonzalez1 Carolina Lorejam Crespo1 Bianca Ribeiro Barreto1 Henrique José do Nascimento1 Antonio Macedo D’Acri2 Maria Inês Fernandes Pimentel1,3 Sandro Javier Bedoya Pacheco1,3 Palavras-chave Dermatoses Idosos Diagnóstico Prevalência Resumo Estudos demonstram que, comparados com outros grupos de doenças, as dermatoses estão entre as mais frequentes patologias em consulta com médico generalista. Além disso, a faixa etária de 60 anos ou mais (idosos) é particularmente relevante, tendo em vista o envelhecimento gradual da população e necessidade cada vez maior de serviço médico qualificado, direcionado a este grupo populacional para diagnosticar e tratar as doenças específicas dessa idade. São necessários estudos epidemiológicos para determinar as dermatoses prevalentes, de modo a planejar melhor o atendimento e estabelecer prioridades e estratégias de cuidado, definindo áreas da Dermatologia que necessitam de maior atenção. O presente estudo tem o objetivo de conhecer a prevalência das dermatoses nos idosos atendidos pela especialidade Dermatologia da Policlínica do UniFOA, de modo a prover subsídios para melhorar o atendimento. Como metodologia, informações foram obtidas a partir de prontuários de 4.928 pacientes atendidos pela Dermatologia na Policlínica- UniFOA e os dados referentes a fevereiro de 2002 até maio de 2010 foram transferidos para um banco de dados e armazenados em computador. Diagnósticos dermatológicos foram divididos em grandes categorias para efeito de análise, realizada com o auxílio do pacote estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 16.0. Os idosos corresponderam a 10,24% do total dos pacientes e, dentre eles, a mediana de idade foi de 67 anos. Dermatoses infecciosas / infestações corresponderam à maioria dos casos (24,2%), seguida por eczemas (19,8%) e fotoenvelhecimento (8,9%). As neoplasias representaram 3,8% das afecções cutâneas. Saber quais são as doenças dermatológicas que mais comumente acometem este parcela de pacientes é importante para a otimização de estratégias voltadas ao seu diagnóstico e tratamento, principalmente daquelas que tem maior prevalência. 1 Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA), Curso de Medicina. 2 Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNI-RIO). 3 Fundação Oswaldo Cruz, Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (IPEC). Artigo Original Original Paper Recebido em 10/2012 Aprovado em 04/2013 Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Prevalent dermatological diseases in elderly treated in an outpatient dermatologic clinic in a primary care unit (Polyclinic UniFOA) in Volta Redonda, RJ, between 2002 and 2010. ISSN 1809-9475 Cadernos UniFOA Dermatoses prevalentes em idosos atendidos em um ambulatório de dermatologia de uma unidade básica de saúde (Policlínica UniFOA) de Volta Redonda, RJ, entre 2002 e 2010. 40 Abstract Studies show that, compared to other groups, skin diseases are among the most frequent diseases in consultation with a general practitioner. Furthermore, aged 60 or older (elderly) are particularly relevant in view of the gradual aging of the population and increasing need for qualified medical service directed to this population group to diagnose and treat specific diseases of this age. Epidemiological studies are needed to determine the prevalent skin diseases in order to better plan and prioritize care strategies, defining areas of Dermatology that need more attention. This study aims to determine the prevalence of skin diseases in the elderly served by Dermatology specialty at Polyclinic UniFOA, in order to improve care. Information was obtained from medical records of 4,928 patients seen by the Dermatology outpatient clinics at Polyclinic-UniFOA from February 2002 through May 2010, and data were transferred to a database and stored in computer. Dermatological diagnoses were divided into broad categories for analysis, performed with the aid of the Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) version 16.0. Elderly accounted for 10.24% of the total of the patients, and, among them, the median age was 67 years. Most cases corresponded to skin infections / infestations (24.2%), followed by eczema (19.8%) and photoaging (8.9%). Neoplasms accounted for 3.8% of skin disorders. It is important to learn the most common skin diseases that affect this portion of patients to optimize strategies aimed at diagnosis and treatment, particularly for those that have a higher prevalence. Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 1. Introdução Espera-se que, em 2050, muitos países tenham mais de 30% de suas populações constituídas por pessoas idosas (ONU, Madrid International Plan of Action on Ageing, 2002). No Brasil, o Estatuto do Idoso (Lei no 10.741, de 1º de Outubro de 2003) em seu artigo 1º, considera como tais “as pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos”. Queixas dermatológicas são muito frequentes na atenção básica de saúde, tornando extremamente necessário o treinamento médico em doenças cutâneas (AL SHOBAILI, 2010; NORMAN; MÖLSTAD, 2010). Alguns estudos demonstram que, comparados com outros grupos de doenças, as dermatoses são mais frequentes ou estão entre as mais frequentes razões para consulta ao médico generalista (SCHOFIELD et al., 2011). Estudos epidemiológicos são necessários para determinar as dermatoses mais prevalentes, de modo a planejar melhor o atendimento e estabelecer prioridades e estratégias de cuidado, definindo áreas da Dermatologia que necessitam de mais atenção. Educação e treinamento apropriados em doenças dermatológicas são necessários para os estudantes de Medicina e para todos os profissionais que lidam ou lidarão com aten- Keywords Dermatological Diseases Elderly Prevalence ção básica de saúde. A faixa etária de 60 anos ou mais é particularmente relevante, tendo em vista o envelhecimento gradual da população. O presente projeto visa conhecer a frequência das dermatoses na faixa de idade acima de 60 anos, de modo a aprofundar o conhecimento sobre as doenças na pele do idoso, bem como prover subsídios para melhorar o atendimento dermatológico aos pacientes atendidos na Policlínica Três Poços (UniFOA). É necessário conhecer a ocorrência de doenças cutâneas infecciosas, dermatites ou eczemas, distúrbios dos pelos e dos pigmentos, neoplasias em idosos. Esperamos fornecer informações que possam auxiliar na elaboração de futuros parâmetros diagnósticos e terapêuticos direcionados às dermatoses nos idosos, especialmente no que se refere à identificação dos pacientes com doenças de maior gravidade ou de maior risco de insucesso no tratamento. Por outro lado, pretendemos contribuir para melhorar as medidas de controle e prevenção das doenças cutâneas nesta faixa etária, considerando que a Policlínica UniFOA é um centro de referência para o atendimento em Dermatologia no município de Volta Redonda e municípios vizinhos (Pinheiral, Barra Mansa, Barra do Piraí, Arrozal, Quatis). Acreditamos ser o ponto de partida de projetos Trata-se de um estudo descritivo retrospectivo. Desde 2002, são computados todos os atendimentos realizados pelo ambulatório de Dermatologia na Policlínica UniFOA. As informações são obtidas a partir dos prontuários (informações secundárias) e constam das seguintes variáveis: gênero, idade, cor, diagnóstico(s) dermatológico(s), CID-10. Os dados referentes a fevereiro de 2002 até maio de 2010 foram coletados e transferidos para um banco de dados, ficando sob o cuidado dos professores responsáveis e dos alunos envolvidos no projeto. A anonimidade dos pacientes foi totalmente garantida. A análise dos dados constou de medidas de proporção para as variáveis categóricas (gênero, cor, diagnóstico(s), CID-10), bem como medidas de tendência central e dispersão para a variável quantitativa contínua (idade). Os diagnósticos dermatológicos foram 41 3. Resultados Dentre 4.928 pacientes atendidos no ambulatório de Dermatologia da Policlínica UniFOA, entre 01 de fevereiro de 2002 e 31 de maio de 2010, 505 pacientes tinham idade entre 60 e 98 anos, perfazendo 10,24% do total (Fig.1), sendo a mediana de idade 67 anos. Dentre estes, trezentos e quarenta e um (67,5%) eram do sexo feminino, e 163 (32,3%) do sexo masculino. Quanto a cor, havia 1% de pardos, 31,3% de negros e 67,5% de brancos (Fig. 2). Figura 1 - Proporção de idosos quanto à idade (n=505) Figura 2 - Proporção de idosos quanto à cor Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 2. Materiais e métodos divididos em grandes categorias para efeito de análise, a saber: dermatoses infecciosas / infestações (produzidas por vírus, bactérias, fungos, protozoários, ácaros, larvas, etc); eczemas e afins (englobando as diversas formas de dermatites); distúrbios da pigmentação (hipercromia, hipocromia, acromia); distúrbios dos pelos (alopecias, hirsutismo, etc); neoplasias; fotoenvelhecimento; nevos; e outras (dermatoses não passíveis de agrupamento nas categorias acima discriminadas). Os dados foram analisados com o auxílio do pacote estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS for Windows versão 16.0). Cadernos UniFOA relacionados às dermatoses nos idosos, grupo etário que cresce em importância à medida que ocorre o processo natural de envelhecimento da população. 42 Dentre as dermatoses encontradas neste grupo de idosos, aquelas caracterizadas como infecciosas / infestações corresponderam à maioria dos casos (24,2%), seguida por eczemas (19,8%) e fotoenvelhecimento (8,9%) (Fig. 3). Figura 3 - Distribuição dos pacientes quanto às dermatoses prevalentes Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 4. Discussão Existem dermatoses que estão relacionadas com a idade, estando os pacientes idosos em risco para uma grande variedade de alterações da pele, desde a xerose cutânea até o melanoma, de alto risco para a vida. Um estudo no México relacionou como as dermatoses mais frequentes encontradas em idosos, tanto em um serviço geriátrico quanto em um serviço de dermatologia (com achados semelhantes em ambos): ceratose actínica, onicodistrofia, xerose, prurigo, doenças vasculocutâneas, lentigos solares, ceratose seborreica, doença de Favre-Racouchot, angiomas rubi e hipomelanose guttata (Vargas-Alvarado et al, 2009). Já na Croácia, estudo semelhante com pacientes geriátricos em um ambulatório de dermatologia, revelou que os diagnósticos mais comuns entre as pessoas de 65 anos ou mais foram: ceratose actínica, ceratose seborreica, eczema numular, dermatite alérgica de contato, micoses, psoríase, verrugas vulgares, fibromas, nevos; e que o número de pacientes com ceratose actínica, ceratose seborreica e micose foi significativamente maior entre os idosos do que em uma população mais jovem (CVITANOVIC et al., 2010). Os pacientes por nós estudados tiveram como suas principais queixas dermatológicas as infecções/infestações cutâneas e os eczemas ou lesões afins; e, em menor escala, o fotoenvelhecimento, os distúrbios da pigmentação, e as neoplasias. Quase 24% dos pacientes idosos atendidos na Policlínica UniFOA entre 2002 e 2010 apresentaram infecções ou infestações cutâneas. Uma susceptibilidade aumentada a infecções entre idosos é observada (Maillard, 2011) e é indicativa de que a imunidade cutânea se torna defeituosa com a idade (VUKMANOVIC-STEJIC et al., 2011). Os eczemas e lesões afins representaram cerca de 1/5 das queixas principais dos pacientes analisados. O conteúdo de ácidos graxos livres na pele é bastante diferente entre pessoas jovens e pessoas idosas (JACOBSON et al., 1990). Fatores intrínsecos (predisposição genética), fatores extrínsecos próprios da idade (efeito do dano causado pelo sol e debilidade geral da saúde) (DAVIES, 2008), uso de diuréticos e medicações similares, abuso de aquecedores ou ar condicionado (WHITECHU; REDDY, 2011) são fatores contribuintes que podem afetar a pele em idosos. Três fatores fisiológicos ocorrem com a idade e podem conduzir à alta prevalência de problemas dermatológicos pruriginosos em idosos: o reparo da barreira epidérmica está diminuído; o sistema imune nos idosos apresenta um balanço alterado entre as funções dos linfócitos T helper 1 (Th1) e T helper 2 (Th2); e desordens neurodegenerativas podem levar ao prurido através de efeitos centrais ou periféricos (BERGER; STEINHOFF, 2011). O sobrevivência específica relacionada à doença significativamente menor em pacientes mais idosos. A probabilidade de desenvolvimento de melanoma nos Estados Unidos aumenta de 0,15% (homens) e 0,28% (mulheres), entre o nascimento e 39 anos, para 1,85% (homens) e 0,81% (mulheres) para pessoas com 70 anos ou mais (AMERICAN CANCER SOCIETY, CANCER FACTS & FIGURES, 2011). 43 5. Conclusão O conhecimento das dermatoses que afetam os idosos é importante para o estabelecimento de estratégias voltadas ao seu diagnóstico e tratamento, por exemplo, a verificação da possibilidade de realização de exames complementares como o exame micológico, e o entendimento com outros serviços em nível municipal para viabilizar o tratamento de lesões como as neoplasias cutâneas. Com este estudo, esperamos contribuir para um melhor atendimento voltado aos pacientes com 60 anos ou mais na Policlínica UniFOA, nos anos vindouros. 6. Bibliografia 2. Arabia: What the primary care physician should know. Annals of Saudi Medicine, v. 30, p. 448–453, 2010. 3. ALERIC, Z.; BAUER, V. 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A xerose causa prurido, que leva a escoriações e a risco aumentado de infecções cutâneas (WHITE-CHU; REDDY, 2011). Fotoenvelhecimento foi encontrado em pouco menos de 10% dos nossos pacientes idosos, e distúrbios da pigmentação foram encontrados em menos de 5% destes. Nesta faixa etária, são comuns os lentigos solares e outras alterações com fisiopatologia menos definida, como a hipomelanose guttata idiopática (SHIN et al., 2011). O aumento da ocorrência de câncer na população em geral é principalmente explicado pelo progressivo envelhecimento da população (BUZZONI et al., 2011). O câncer de pele é particularmente importante entre os idosos, e o diagnóstico precoce e tratamentos adequados constituem-se em fatores cruciais para reduzir a morbimortalidade com ele relacionada. A ocorrência de câncer cutâneo não melanoma é comum em pacientes nesta faixa etária, sendo sua principal causa a exposição ao sol (PERROTTA et al., 2011); a deficiência da imunidade cutânea nos idosos aumenta também a susceptibilidade ao câncer (VUKMANOVIC-STEJIC et al., 2011). Metade de todas as lesões cirurgicamente removidas da cabeça e pescoço de pessoas com 60 anos ou mais, em um hospital da Croácia, eram tumores malignos, dentre os quais os mais comuns eram carcinomas basocelulares (ALERIC; BAUER, 2011). A incidência do melanoma cutâneo está crescendo nos Estados unidos, especialmente em pacientes com 65 anos ou mais (SIMARD et al., 2012). Num estudo de 364 pacientes, com diagnóstico de melanoma atendidos na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo entre maio de 1993 e janeiro de 2006, 52% tinham mais de 60 anos, e a mediana de idade foi de 61 anos; os idosos foram significativamente mais afetados por lesões de pior prognóstico – mais espessas e ulceradas (FERRARI JR et al., 2008). Rutkowski et al. (2010) também observaram que as lesões de melanoma em pacientes idosos (≥ 65 anos) eram mais espessas e 70% apresentavam ulceração, sendo a 44 6. CVITANOVIC, H.; KNEZEVIC, E.; KULJANAC, I.; JANCIC, E. Skin disease in a geriatric patients group in outpatient dermatologic clinic – Karlovac, Croatia. Collegium Antropologicum, v. 34, p. 247–251, 2010. 7. DAVIES, A. Management of dry skin conditions in older people. British Journal of Community Nursing, v.13, p. 250, 252, 254–257, 2008. 8. FERRARI JR, N.M.; MULLER, H.; RIBEIRO, M.; MAIA, M.; SANCHES JR, J.A. Cutaneous melanoma: Descriptive epidemiological study. 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BMC Family Practice, v. 31, p. 11–62, 2010. 47 O Médico a partir do imaginário coletivo de último anistas de Medicina The Medical Doctor from the collective imaginary of last year of Medicine students Maria Auxiliadora Motta Barreto¹ Glauber Correia de Oliveira² Rosana Gonçalves Oliveira² Samara Guerra Carneiro² Desenho-Estória com Tema Medicina Original Paper Resumo O objetivo do trabalho foi considerar o imaginário coletivo de último anistas de um curso de medicina, sobre a profissão do médico, a partir de pesquisa feita em um projeto de Iniciação Científica. Foram realizados encontros coletivos com alunos voluntários do 11º e 12º períodos. Utilizou-se o procedimento de Desenhos-Estória com Tema, tendo sido analisados 17 Desenhos-Estória. A partir de uma abordagem psicanalítica, foram descritos determinantes lógico-emocionais, destacando a predominância de campos psicológicos não conscientes, como o que diz respeito às produções em que são expressas a imagem que os alunos têm sobre o médico e seu paciente, percebendo-se descaracterização da figura de ambos. Destacaram-se concepções mercantilistas, como a representação da profissão apenas como um cifrão e representações estereotipadas, como o “homem vitruviano”, mostrando dificuldade em integrar ideias pré-concebidas acerca da profissão. Assim, constata-se a necessidade de reapropriação do jovem, da própria escolha profissional e aproximação da realidade que será vivenciada enquanto médico. Abstract This study was aimed to consider the collective imagination of their last year of medical students about the medical profession, from a research done on a project of Undergraduate Research. Group meetings were performed with students from 11 and 12 periods. We used the procedure with DrawingsStory theme whose were analyzed 17. From the psychoanalytic approach, we obtained logical-emotional determinants that sustain the collective imagination as conduct, highlighting the prevalence of unconscious psychological fields, which refers to productions that are expressed in images that students have about the doctor and his patient, noticing the picture is distorted in both. Mercantilist concepts were highlight, for example, the representation of the profession as a dollar sign and stereotypical representations, as the “vitruvian man”, showing difficulty in integrating pre-conceived ideas on the profession. So, we can realize the necessity of reappropriation of their own choice and approximation of the reality to be experienced as a medical professional. Recebido em 09/2012 Aprovado em 04/2013 Key-words Collective imaginary Draw Stories with a Theme Medicine 1 Doutora em Psicologia como Profissão e Ciência, PUC-Campinas; docente e orientadora de projeto de iniciação científica no Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA) e da Universidade de São Paulo (USP-Lorena) 2 Graduandos em Medicina na Escola de Ciências Médicas de Volta Redonda (UniFOA); pesquisadores do projeto de iniciação científica) Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Imaginário coletivo Artigo Original Cadernos UniFOA Palavras-chave: ISSN 1809-9475 Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 48 1. Introdução mação generalista, humanista, crítica e reflexiva, capacitado a atuar, pautado Sabe-se que a satisfação laboral e pessoal do indivíduo está relacionada com o estilo de vida e com a personalidade de cada um (BARRETO, 2000; BARRETO et al., 2009). Partimos do princípio de que a escolha profissional está diretamente relacionada com essa satisfação e optamos por pesquisar o que pensam jovens médicos, sobre a profissão, em um momento em que já atuam como internos e em que as práticas individuais e coletivas vão se consolidando. O trabalho, além de uma atividade humana natural e que promove desenvolvimento e manutenção da saúde do ser humano é, também, uma atividade comercial criada pela sociedade, exigindo gastos e energia física e mental. Portanto, é uma atividade que, invariavelmente, acompanha as várias mudanças da vida cotidiana e que sofre alterações constantemente, ao longo de toda a história, caracterizando-se como fenômeno de grande complexidade (BARRETO; VAISBERG, 2007). Dessa forma, o trabalho é parte da vida física e emocional de cada pessoa, sendo sua escolha influenciada diretamente pelos sentimentos do indivíduo. Em se tratando da área da saúde, com a constante desvalorização que o setor vem sofrendo, nos últimos anos, devido às dificuldades impostas pelo mercado de trabalho, os jovens estão se sentindo cada vez menos atraídos pela área, embora ainda exista a marca do status, já que a medicina é uma das faculdades mais conceituadas como promissora e de grande sucesso, como apontam diversas obras sobre escolha e orientação profissional (BARRETO; VAISBERG, 2007; SPARTA, 2003; NORONHA; AMBIEL, 2006, WOLECK, 2002). Como participantes ativos na escola de medicina, seja como docente ou como discentes, podemos observar claramente a diferença entre como os estudantes se portam e falam sobre a profissão, em função de diversas concepções, daquilo que é preconizado nas diretrizes curriculares nacionais da graduação em medicina. Art. 3º O Curso de Graduação em Medicina tem como perfil do formando egresso/profissional o médico, com for- em princípios éticos, no processo de saúde-doença em seus diferentes níveis de atenção, com ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação à saúde, na perspectiva da integralidade da assistência, com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania, como promotor da saúde integral do ser humano (CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2001) Essas diferenças entre as atitudes e verbalizações dos estudantes do curso, do que é preconizado, despertam a necessidade de atuar preventivamente junto aos jovens que fazem parte dessa realidade. É muito comum os estudantes encontrarem dúvidas, medo, insegurança e vários outros sentimentos que podem prejudicar seu desempenho profissional e sua satisfação na carreira escolhida (BARRETO, 2000; BARRETO; VAISBERG, 2007). Assim, consideramos, neste trabalho, a dramática do viver adolescente a respeito da escolha profissional (WINNICOTT, 1975), em especial a escolha da profissão do médico. Para isso, utilizamos a visão blegeriana (BLEGER, 1963) sobre a necessidade de considerar todas as condições concretas em que um fenômeno ocorre. A escolha profissional é uma conduta eminentemente humana e o que é aplicado à conduta é também aplicado às escolhas, sendo que ambas são influenciadas pelo pessoal e pelo social. Baseamo-nos no conceito de campos psicológicos propostos por Bleger (1975), enfatizando que a dramática humana é forjada na relação com o outro (BARRETO; VAISBERG, 2007) e em conjunto com a coletividade. A partir desse contexto, este artigo foi escrito como resultado de um projeto de iniciação científica. O objetivo da pesquisa foi avaliar o imaginário coletivo de estudantes de medicina, sobre a profissão do médico. Para esse estudo foram considerados estudantes de uma escola médica do interior do estado do Rio de Janeiro, prestes a se formar, ou seja, que cursavam o 11º e o 12º períodos no ano de 2009. 49 3. Resultados e Discussão Foram obtidos 17 desenhos-estórias dos últimos anistas, considerados válidos, produzidos por nove (9) alunos do 11° e por oito (8 ) alunos do 12° períodos do curso de Medicina. Durante a realização do procedimento, houve certa dificuldade em encontrar os alunos devido à diferença de horários entre eles, por serem internos. Entre os que foram contatados, a maioria mostrou interesse em participar da pesquisa, porém, houve aqueles que se recusaram ou copiaram o desenho do colega. Na análise dos Desenhos-Estória com Tema, percebemos uma predominância de alguns campos psicológicos não conscientes e dentre eles destacamos: 3.1. Sem cara, sem coração Esse campo diz respeito às produções em que são expressas as imagens que os alunos têm sobre o médico e seu paciente. Nota-se que, na maioria dos desenhos-estória, o paciente não é sequer referenciado, o mesmo acontecendo com a figura do próprio médico. Foi percebida uma descaracterização da figura de ambos e, quando representados, foi de forma incompleta como, por exemplo, a presença apenas do tronco de um médico (figura 1), ou sem características relacionadas ao solicita- Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 O desenho metodológico empregado nesta pesquisa foi qualitativo. Assim, esperamos compreender as idealizações acerca da profissão e as expectativas de quem estará no mercado de trabalho, em breve. Baseando-nos no conceito de que o homem é um ser essencialmente social e considerando que cada pessoa expressa sua conduta tanto em âmbito individual, quanto em âmbito coletivo (BLEGER, 1963), abordamos o imaginário de estudantes de medicina, enquanto um grupo que representa uma coletividade. Podemos abordar as atitudes humanas de maneira singular e subjetiva, porém, é possível também que o coletivo represente uma ação mais globalizada e que não especifica a particularidade de cada indivíduo e, assim, a análise é feita em sua totalidade. O imaginário coletivo avalia um conjunto de ideias e imaginações, dando a conhecer expressões afetivas e emocionais inconscientes, através de condutas manifestas. O conceito de transicionalidade de Winnicott (1967/1975) também foi aqui empregado, uma vez que atribui, ao lugar a que nos referimos, o significado de espaço intermediário, ou transicional, entre o que é percebido objetivamente e concebido subjetivamente (AIELLOVAISBERG, 2004). Nesse espaço intermediário é que julgamos encontrar o real significado de pensamentos, sentimentos e ações humanas. (BARRETO; VAISBERG, 2007). Fizemos uso, assim, do procedimento de Desenhos-Estória com Tema, para tal investigação. Realizamos a pesquisa com alunos do 11º e 12º períodos durante o ano de 2009, convidando os estudantes a participarem de uma atividade que se tornaria uma pesquisa. Ressaltamos que os procedimentos somente foram desenvolvidos após submissão e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos do UniFOA. Para obtermos a produção, foram distribuídas folhas de sulfite A4 e foi solicitado, aos alunos, que desenhassem um médico, da seguinte forma: “Desenhe um (a) médico(a) e, depois, escreva uma estória sobre ele(a), no verso da folha. Pedimos não assinar a folha, mas colocar sua idade e sexo”. O procedimento de Desenho-Estórias com Tema, nos modelos de Aiello-Vaisberg (2004) e Trinca (1987) para análise do imaginário coletivo, é bastante utilizado como recurso de abordagem de temas com difícil acesso e que não se apresentam no campo consciente e/ou suscitam emoções indesejáveis (BARRETO, 2006). Após a obtenção dos desenhos-estória, foi iniciada a análise dos mesmos, no grupo responsável pela pesquisa. Numa abordagem psicanalítica, foi feito o uso de associações livres e atenção flutuante, devidamente ajustado da prática clínica para a pesquisa. Utilizamos as ideias que Silva (1993, p. 20) destaca, adotando, como nossa, a concepção que o método em psicanálise caracteriza-se: ...por uma espécie de jogo em que fantasias de ambos os interlocutores organizam-se em busca de um consenso sempre questionado a respeito do avesso do que foi dito. Ou seja, o método da psicanálise caracteriza-se por abertura, construção e participação. Cadernos UniFOA 2. Metodologia 50 do, como no desenho de um surfista (figura 3). Também chama a atenção a falta total de figura 1 alusão a pessoas, caracterizando a despersonalização (figura 2). figura 2 figura 3/ Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 3.2. Real versus Ideal Em trabalho anterior (BARRETO et al., 2009), na mesma linha que seguimos aqui, mas com outra população, a idealização aparecia de forma imatura, impregnada da fantasia do ideal de médico. Nesse campo, eram apresentados médicos como responsáveis únicos pela saúde e bem-estar do paciente, capazes de solucionar todos os problemas, totalmente incansáveis e a medicina aparecia como verdade absoluta. Aqui, com este grupo, pelo estágio de formação – último anistas –, era esperado que os estudantes estivessem mais próximos da realidade profissional do médico, até mesmo pelo que preconizam as próprias DCN´s (2001, p.3): Art. 5º A formação do médico tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentos figura 4 requeridos para o exercício das seguintes competências e habilidades específicas: XVI - lidar criticamente com a dinâmica do mercado de trabalho e com as políticas de saúde; No entanto, os jovens apresentaram, por exemplo, concepções como: apenas um cifrão (figura 4) ou a medicina exclusivamente como doação de si (figura 5), ou ainda, representações estereotipadas, como o “homem vitruviano” (figura 6) ou a representação do paciente com o corpo e do médico apenas com cabeça (figura 7), atestando uma certa soberania deste e fragilidade daquele. Tais representações mostram a dificuldade em integrar ideias pré-concebidas acerca da profissão com a prática profissional. figura 5 51 Esse campo do imaginário retrata a existência de uma dúvida persistente que envolve a dificuldade em lidar com aquilo que se considera como oposto. O imaginário configura-se de acordo com as linhas que definem uma estrutura de conduta onde se distinguem o bom e o mau, o certo e o errado, o desejado e o encontrado, como polaridades inconciliáveis. O médico é apresentado como sujeito à indecisão total, pura e simples, o que foi retratado por pontos de interrogação (figura 8) ou à escolha entre dois caminhos (figura 9), ou ainda é apresentado como pendendo sempre entre polos opostos. Por exemplo, quando é apresentado como escravo e senhor – crucificado (figura 10), ou ainda quando coloca a profissão como uma profissão de contrastes, antagonizando o relacionamento interpessoal com remuneração (figura 11). figura 8 figura 9 figura 10 figura 11 Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 3.3. E agora? figura 7 Cadernos UniFOA figura 6 52 4. Considerações Finais A análise do material coletado na pesquisa nos faz considerar que, nos moldes preconizados pelas DCN´s, a formação do profissional médico não vem proporcionando uma representação da profissão que possa ser considerada integrada. O imaginário apresentado não condiz com a ênfase humanista esperada, e demonstra preocupações voltadas ao mercado de trabalho, mais do que quanto ao exercício da profissão. Na amostra em questão, em similaridade com pesquisa anterior foi identificada uma tendência a encarar a medicina como negócio, com onipotência, independente do paciente, ou como um estereótipo que, ao longo da formação, precisaria estar mais próximo da práxis. Encarada assim, a opção pela profissão e a formação profissional deixam de ser momentos integrados e passam a ser um sintoma de problema que impede a expressão do self, acarretando diversas desadaptações. O que se apresenta indica a necessidade de reapropriação, pelo jovem, da própria escolha e aproximação da realidade que será vivenciada enquanto profissional de medicina, apontando para a importância de estratégias psicoprofiláticas a serem desenvolvidas junto aos futuros médicos. Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 5. Referências 1. AIELLO-VAISBERG, T. M. J. Ser e fazer: Enquadres diferenciados na clínica winnicottiana. São Paulo, SP: Ideias & Letras, 2004. 2. 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Revista Leonardo Pós – Instituto Catarinense de Pós-Graduação, v. 1, p. 1, 2002. Endereço para Correspondência: Maria Auxiliadora Motta Barreto [email protected] Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA Av. Paulo Erley Abrantes, 1325 Três Poços - Volta Redonda/RJ CEP: 27240-560 53 O uso não prescrito de metilfenidato entre acadêmicos de Medicina The nonmedical use of methylphenidate among medical students Samara Guerra Carneiro1 Airton Salviano Teixeira Prado1 Hermiton Canedo Moura1 João Francesco Strapasson1 Natália Ferreira Rabelo1 Tiago Turci Ribeiro1 Eliane Camargo de Jesus2 Automedicação Estudantes de Medicina Original Paper Resumo O metilfenidato é um fármaco do grupo dos anfetamínicos. A potencialização do desempenho cognitivo apresentado pelo medicamento atrai pessoas saudáveis que buscam a melhora de sua performance. Este estudo teve como objetivo analisar a prevalência do uso não prescrito do metilfenidato entre os estudantes de Medicina. Estudo transversal no qual obtivemos informações a partir de um questionário aplicado aos alunos do 1° ao 8 ° períodos do curso de Medicina. Encontramos uma prevalência de 23,72% para o uso indiscriminado desse estimulante entre os acadêmicos. Não houve diferença significativa de consumo entre homens e mulheres. Dentre as pessoas que fazem o uso indiscriminado, 64,86% informaram ter apresentado efeitos colaterais. Desses 23,72%, 13,51% usam o fármaco para estudar para todas as provas do período letivo, e 10,81% tiveram que aumentar a dose da droga para tentar obter o mesmo efeito de quando iniciaram o uso. Por outro lado, 86,49% dos que usam indiscriminadamente relataram aumento do poder de concentração e ainda 54,05% observaram uma melhora do rendimento acadêmico. Observamos um relevante aumento do uso com o decorrer do curso, pois, a distribuição dos 37 participantes que já fizeram uso do metilfenidato de forma indiscriminada se deu entre o 3º e 8º períodos, sendo a maior distribuição no último período analisado. Por fim, existe a necessidade de melhor compreender os diferentes fatores envolvidos na resposta e na adaptação ao estresse inerente ao curso de Medicina para poder ajudar na prevenção do uso inadequado de metilfenidato pelos futuros médicos. Abstract Methylphenidate is a drug that belongs to the group of amphetamine. The enhancement of cognitive performance presented by the drug attracts healthy people seeking to improve their performance. This study aimed to analyze the prevalence of non-prescribed use of methylphenidate substance among medical students. Crosssectional study in which we obtained information from a questionnaire, was applied over students from 1st to 8th semesters of medical school. We found a prevalence of 23.72% for the indiscriminate use of this stimulant among academics. There was no significant difference in consumption between males and females. Among the people who make indiscriminate use, 64.86% of them reported side effects. Also out of this 23.72%, 13.51% used the drug to study for all tests of the school year, and 10.81% had to increase the dosage to get the same effect as when they started using it. Moreover, the remaining 86.49% of whom use indiscriminately, reported increase in power of concentration and yet, 54.05% observed an improvement in academic performance. We noticed a significant increase in the use of the drug throughout the Medical Degree. Once there is no report of usage in the early semesters, the distribution of the 37 participants, who have used methylphenidate indiscriminately, took place between the 3rd and 8th semesters, with the largest concentration in the last period analyzed. Finally, there is the need to better understand the different factors involved in the response and adaptation to the stress, inherent to medical school, in order to help preventing the inappropriate use of methylphenidate by future doctors. 1 Discente do curso de medicina do Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA 2 Docente do curso de medicina do Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA Keywords Amethylphenidate Self medication Medical students Recebido em 10/2012 Aprovado em 04/2013 Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Metilfenidato Artigo Original Cadernos UniFOA Palavras-chave ISSN 1809-9475 Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 54 1. Introdução O metilfenidato é um fármaco do grupo dos anfetamínicos que tem como forma comercial mais conhecida a Ritalina®. Essa substância, classificada como estimulante do sistema nervoso central, apresenta efeitos mais proeminentes sobre a atividade mental do que a motora. (COCCARO et al., 2006). Seu mecanismo de ação está relacionado ao estímulo direto de receptores alfa e beta adrenérgicos ou à liberação, indiretamente, de dopamina e noradrenalina nos terminais sinápticos (PASTURA; MATTOS, 2004). Tem como principais indicações, o tratamento da narcolepsia, em que se observa sonolência diurna, episódios de sono inapropriados e ocorrência súbita de perda de tônus muscular voluntário, e do transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) que consiste em um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade. Surge antes dos sete anos de idade e interfere em pelo menos duas áreas de atuação da criança, como lar, colégio e grupo de amigos (PASTURA; MATTOS, 2004). Devido ao aumento de casos diagnosticados de TDAH, prevalente transtorno neurocomportamental, foi facilitado o acesso ao metilfenidato e às anfetaminas, medicamentos indicados ao controle dessa síndrome (WILENS et al., 2008). A potencialização do desempenho cognitivo apresentado pelo medicamento atrai pessoas saudáveis que buscam melhorar seu desempenho. Isso, frequentemente, ocorre quando são submetidas a situações que exijam uma maior capacidade neste sentido. O termo “Cognitive enhancement” traduzido como “aperfeiçoamento cognitivo”, surgiu, segundo Teixeira (2005) no início do ano 2000 para indicar a possibilidade de uma droga - além de sua indicação médica - “aperfeiçoar” artificialmente uma capacidade já presente. Os universitários, devido a suas obrigações e cobranças internas, representam grande parcela dos usuários que não apresentam indicações clínicas, como TDAH (DE SANTIS et al., 2008). No Brasil, ainda não existe uma palavra ou expressão estabelecida para nomear essa prática, porém, surgiram algumas denominações, tais como: “uso instrumental de remédios”, “drogas para turbinar o cére- bro”, “neurologia cosmética”, “dopping cerebral” e “drogas de inteligência” (BARROS; ORTEGA, 2009) . Cruz et al. (2011), em um estudo realizado na Universidade Federal da Bahia encontraram uma prevalência de 8,3% para o uso não prescrito do metilfenidato entre os acadêmicos de Medicina. O uso desse fármaco tem autorização legal para o tratamento de pessoas com doenças e transtornos psiquiátricos. O metilfenidato está incluído na Convenção de Substâncias Psicotrópicas de 1971 da ONU, assim, esse medicamento necessita de um controle especial, pois apresenta risco de abuso e dependência (BARROS; ORTEGA, 2011). Apesar disso, estudantes de medicina- por serem sobrecarregados com vasto conteúdo e pelos momentos de estresse, que correspondem principalmente ao período de avaliações- representam o grupo de estudantes que mais comumente faz uso indiscriminado da droga, sem se preocupar com os efeitos colaterais (POSADA, 1996, apud MENDONZA, 2002). Entre os de curto prazo, destacam-se anorexia e insônia, seguidas de dor abdominal e cefaleia. Já, em longo prazo, o destaque maior é para a dependência, sendo esse um risco mais teórico do que prático, segundo Pastura e Mattos (2004). Apesar da realidade vivenciada, poucos estudos têm sido realizados no mundo com o intuito de verificar a prevalência do uso indiscriminado de metilfenidato. Em estudo realizado pelo Ministério da Saúde da Colômbia, Posada (1996, apud MENDONZA, 2002) demonstrou que os acadêmicos de Medicina foram os maiores consumidores entre os grupos de universitários selecionados. Alguns estudos norte-americanos mostraram uma importante prevalência do uso dessa droga, principalmente entre universitários. Babcock e Byrne (2000) encontraram a prevalência de 16% em estudo realizado numa universidade do Estado de Massachusetts. De Santis et al. (2008), em estudo realizado na Universidade de Kentucky, mostraram uma frequência de 34%. McCabe et al. (2005) apontaram que 6,9% dos estudantes de diversas faculdades norte-americanas faziam uso. Por outro lado, Bassols et al. (2008) mostraram que nenhum acadêmico da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul informou usar a droga. Estudo transversal, cuja amostra foi os alunos do curso de Medicina do Centro Universitário de Volta Redonda, localizado na cidade de Volta Redonda, no Estado do Rio de Janeiro, no período de agosto a novembro de 2011. Após o trabalho ter sido aprovado pelo Comitê de Ética, foi aplicado um questionário padronizado e autoexplicativo aos alunos do 1° ao 8° períodos. Foram sorteados aleatoriamente 20 alunos de cada sala, totalizando 160 pessoas. Todos os estudantes do curso de Medicina do 1° ao 8° períodos, independente do sexo, foram incluídos no estudo. Foram 55 3. Resultados A pesquisa foi realizada entre os dias 31 de outubro e 16 de novembro de 2011, no Centro Universitário de Volta Redonda. Alunos do 1° ao 8 ° períodos do curso de Medicina participaram do estudo. Foram sorteados 20 alunos de cada sala, de forma aleatória, totalizando 160 pessoas, sendo que 4 recusaram-se a participar, 3 destes do primeiro período e 1 do quinto período. Entre os participantes, 72 (45%) eram do sexo feminino e 88 (55%) do sexo masculino. Dos resultados avaliados, 94,23% (147) dos participantes já ouviram falar da droga metilfenidato e 62,82% (98) do total conhecem o mecanismo de ação. Todos os alunos analisados, 23,72% (37) relatam que já fizeram ou fazem o uso indiscriminado da droga e apenas 2,56% (4) utilizam a medicação sob prescrição médica para o tratamento de T.D.A.H. Figura 1: Comparação do uso e não uso do metilfenidato pelos entrevistados Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 2. Materiais e Métodos excluídos os indivíduos que se recusaram a participar da pesquisa e os menores de dezoito anos, além dos internos, alunos do 9° ao 12° períodos do curso, pois esses não eram submetidos a períodos de prova como os demais. Cadernos UniFOA Esse estudo teve como objetivo geral identificar a prevalência do uso indiscriminado da substância metilfenidato entre os estudantes de Medicina do Centro Universitário de Volta Redonda - RJ. Entre os específicos, destacam-se: analisar se há aumento do uso da droga no decorrer do curso, comparar o uso entre alunos calouros e veteranos, investigar os benefícios e riscos da sua utilização, descrever os efeitos colaterais observados pelos estudantes e por fim, conscientizar os alunos sobre o uso errado do fármaco. 56 Dentre as pessoas que utilizam o medicamento indiscriminadamente, 22 são homens, representando 25% da amostra masculina e 15 são do sexo feminino, representando cerca de 20% das mulheres que participaram da pesquisa. Das pessoas que fazem o uso indiscriminado, 64,86% (24) informaram ter apresentado efeitos colaterais, sendo os mais fre- quentes, taquicardia e ansiedade seguidos de tremores, perda de apetite e boca seca, respectivamente. Mesmo apresentando efeitos colaterais, 27,03% (10) continuam fazendo o uso da droga de acordo com as necessidades da faculdade. E ainda 51,35% (19) sentem-se cansados após o término do efeito. Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Figura 2: Efeitos colaterais mais frequentes em função do uso de metilfenidato Desses 23,72% (37), 13,51% (5) usam o fármaco pra estudar para todas as provas do período letivo, e 10,81% (4) tiveram que aumentar a dose da droga para tentar obter o mesmo efeito de quando iniciou o uso. Por outro lado, mesmo com todas essas desvantagens citadas, 86,49% (32) dos que usam indiscriminadamente relataram melhora do poder de concentração e ainda 54,05% (20) observaram uma melhora do rendimento acadêmico. A partir das informações coletadas, observamos um relevante aumento do uso com o decorrer do curso, uma vez que nos períodos iniciais (primeiro e segundo), não há relato de uso. A distribuição dos 37 participantes que já fizeram uso do metilfenidato de forma indiscriminada se deu entre o 3º e 8º período, da seguinte forma: no 3º período, tivemos 2 alunos, assim como no 4º período (onde também observamos 2), no 5º período, 3 relataram uso. No 6º período, oito pessoas já fizeram o uso, este mesmo número foi observado no 7º período, enquanto que no 8º período, 14 relataram fazer o uso. Com isso podemos constatar que o uso do medicamento aumenta progressivamente. Figura 3: Porcentagem de estudantes por período que fazem uso indiscriminado do metilfenidato 57 5. Conclusão Observarmos que a prevalência do uso indiscriminado do metilfenidato entre os acadêmicos de medicina do Centro Universitário de Volta Redonda é considerada alta quando comparada aos outros estudos analisados, perdendo apenas para a prevalência encontrada por De Santis et al. (2008). Há necessidade de melhor compreender os diferentes fatores envolvidos na resposta e na adaptação ao estresse inerente ao curso de medicina para poder ajudar na prevenção do uso inadequado de metilfenidato pelos futuros médicos. Uma política clara quanto ao uso indiscriminado pelos estudantes, informação científica, educação com treino de habilidades para melhor lidar com estresse, podem se mostrar úteis na prevenção. Normas e regras bem explicitadas, bem como o oferecimento de atividades recreativas e de relaxamento que não incluam substâncias alteradoras do psiquismo podem vir a melhorar a situação. Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 O metilfenidato é um recurso para aqueles que buscam uma potencialização do desempenho cognitivo, o que é bastante observado entre os estudantes quando são submetidos a situações que exijam uma maior capacidade neste sentido. Pelos estudos analisados, podemos perceber que estudantes de medicina parecem formar um grupo em que se observa com frequência a utilização deste medicamento para este fim, pelo grande esforço determinado pelo curso. Nesse trabalho, foi avaliado o uso não prescrito da droga por uma população específica de universitários. Encontramos uma prevalência de 23,72% para o uso indiscriminado desse estimulante entre os estudantes de medicina do Centro Universitário de Volta Redonda. Os valores que mais se aproximaram dessa prevalência, foram os encontrados por Babcock e Byrne (2000) e DeSantis et al. (2008), 16% e 34%, respectivamente. Já Mc Cabe et al. (2005)mostraram a frequência de 6,9% e Cruz et al. (2011) apresentou uma prevalência de 8,6%. Esses dados ajudam a confirmar a hipótese que o uso não prescrito dessa substância é uma prática comum entre os universitários e que o curso de Medicina pode ser considerado um fator de risco importante, como propunha Posada (1996, apud MENDONZA, 2002), em um estudo realizado pelo Ministério da Saúde da Colômbia, uma vez que, dentre grupos pré-selecionados, os maiores consumidores foram os futuros médicos. Entre os acadêmicos de Medicina do Centro Universitário de Volta Redonda, não houve diferença significativa de consumo entre os gêneros masculino e feminino. Tal situação também foi observada por Teter et al. (2006) em um estudo realizado em universidades do sudeste dos Estados Unidos. Por outro lado, Cruz et al. (2011) encontrou diferença marcante entre os dois gêneros, sendo o masculino o maior consumidor da droga sem prescrição. Percebemos que a maioria dos indivíduos que faz o uso indiscriminado da substância relata ter apresentado algum efeito colateral e sentir-se cansados após o término do efeito. Por outro lado, apesar disso, essas pessoas veem algumas vantagens na sua utilização como o aumento da capacidade de concen- tração e uma melhora do rendimento acadêmico após o início do uso. De Santis (2008) demonstrou que a maioria dos usuários ilegais fazia o uso da droga em períodos de stress elevado e que a substância fazia reduzir a fadiga e aumentar o entendimento de leitura, o interesse, a cognição e por fim, a memória. Notamos ainda que alguns participantes relataram que precisam usar a substância para conseguir estudar para todas as provas do período letivo, e, outros informaram a necessidade de aumentar a dose com o decorrer do tempo para tentar obter o mesmo efeito de quando iniciou o uso, configurando um quadro de tolerância ao medicamento. Porém, segundo Pastura e Mattos (2004), o quadro de dependência medicamentosa ao metilfenidato é algo mais teórico que prático. Foi observado que o uso da substância aumenta com o decorrer do curso, uma vez que uma maior distribuição dos participantes que usam indiscriminadamente se deu nos últimos períodos analisados. Talvez, uma maior carga horária somada a uma maior quantidade de conteúdo administrado aos períodos acima possa ser uma explicação para tal situação. Cadernos UniFOA 4. Discussão 58 6. Anexo Questionário de pesquisa: O Uso indiscriminado de Metilfenidato entre os estudantes de medicina. Sexo: Masc. ( ) Fem. ( ) Idade: ______ Período: ____ 1. Hoje em dia vê-se muito o uso indiscriminado da substância Metilfenidato, cujo nome comercial mais famoso é Ritalina. Você conhece e/ou já ouviu falar dessa droga? Sim ( ) Não ( ) Caso a resposta seja sim, prossiga. Caso contrário pode encerrar as respostas. 2. Conhece mecanismo de ação da droga? Sim ( ) Não ( ) 3. Já fez uso da substância? Sim ( ) Não ( ) 4. Caso a resposta da questão anterior tenha sido sim, o seu uso é feito sob prescrição médica, uso para tratamento do Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade? Sim ( ) Não ( ) Se a resposta for sim, obrigado pela participação. 5. A droga aumenta o seu poder de concentração? Sim ( ) Não ( ) 6. Já apresentou algum efeito colateral? Sim ( ) Não ( ) Caso a resposta seja não, vá para a questão 9. 7. Caso a resposta tenha sido sim, quais dos efeitos abaixo você já apresentou? Obs: a resposta a seguir tem mais de uma resposta: Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 ( ) Taquicardia ( ) Perda de apetite ( ) Tremores nas mãos ( ) Boca seca ( ) Ansiedade 8. Mesmo apresentando esses sintomas, continua fazendo o uso indiscriminado da droga de acordo com suas necessidades na faculdade? Sim ( ) Não ( ) 9. Você utiliza a droga para estudar para todas as provas do período letivo? Sim ( ) Não ( ) 10.Sente-se cansado após acabar o efeito da droga? Sim ( ) Não ( ) 11.Desde que você começou a utilizar o fármaco, notou que teve de aumentar a sua dose para obter o mesmo efeito de quando iniciou o uso da droga? Sim ( ) Não ( ) 12.Você tem notado melhora no seu rendimento acadêmico com o uso da substância? Sim ( ) Não ( ) 2. CALDEIRA, K.M.; VICENTE, K.B.; OGRADY, K.E.; WISH, E.D. Perceived harmfulness predicts nonmedical use of prescription drugs among college students: interactions with sensationseeking. Journal Prevention Science, v. 9, p. 191–201, 2008. 3. BABCOCK, Q.; BYRNE, T. Student perceptions of methylphenidate abuse at a public liberal arts college. Journal of American College Health, v. 49, p. 143– 145, 2000. 4. BARROS, D.B.; ORTEGA, F. Metilfenidato e aprimoramento cognitivo farmacológico: representações sociais de universitários. Revista Saúde e Sociedade, v. 20, p. 176–182, 2011. 5. BASSOLS, A.M.; SORDI, A.O.; EIZIRIK, C. L.; SEEGER, G.M.; RODRIGUES, G.S.; RECHE, M. A prevalência de estresse em uma amostra de estudantes do curso de medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Revista HCPA, v. 28, p.153–157, 2008. 6. COCCARO, E.F.; LAWRENCE, T.; TRESTMAN, R.; GABRIEL, S.; KLAR, H.M.; SIEVER, L.J. Growth hormone response to intravenous clonidine challenge correlate with behavioral irritability in psychiatric patients and health volunteers. Psychiatry Research, v. 39, p. 129–139, 1991. 7. CRUZ, T.C.S.C.; JUNIOR, E.P.S.B.; GAMA, M.L M.; MAIA, L.C.M.; FILHO, M.J.X.M.; NETO, O.M.; COUTINHO, D.M. Uso não-prescrito de metilfenidato entre estudantes de medicina da Universidade Federal da Bahia. Gazeta Médica da Bahia, v. 81, n. 1, p. 3–6, 2011. 59 9. MCCABE, S.E.; KNIGHT, J.R.; TETER, C.J.; WECHSLER, H. Non-medical use of prescription stimulants among US college students: prevalence and correlates from a national survey. Adiction, v. 99, p. 96–106, 2005. 10. MENDONZA, D.Z.U. Consumo de Substâncias psicoativas em Estudiantes de Especialidades Médicas, Bogotá 2011. Revista de Salud Pública, v. 4, n. 1, p. 59–73, 2002. 11. PASTURA, G.; MATTOS, P. Efeitos colaterais do metilfenidato. Revisão de Literatura. Revista de Psiquiatria Clínica, v. 31, p. 100–104, 2004. 12. TEIXEIRA, M. Notícia preliminar sobre uma tendência contemporânea:o “aperfeiçoamento cognitivo”, do ponto de vista da pesquisa em neurociências. Revista Latino-americana de Psicopatologia Fundamental, v. 10, p. 495–503, 2007. 13. TETER, C.J.; MCCABE, S.E.; LAGRANGE, K.; CRANFORD, J.A.; BOYD, C.J. Illicit use of specific prescription stimulants among college students: prevalence, motives, and routes of administration. Pharmacotherapy, v. 26, p. 1501–1510, 2006. 14. WILENS, T.E.; ADLER, L.A.; ADAMS, J.; SGAMBATI, E.; ROTROSEN, J.; SAWTELLEER, R.; UTZINGER, L.; FUSILLO, S. Misuse and diversion of stimulants prescribed for ADHD: a systematic review of the literature. Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry, v. 47, p. 21–31, 2008. Endereço para Correspondência: Samara Guerra Carneiro [email protected] Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 1. ARRIA, A.M.; Figura 3: Porcentagem de estudantes por período que fazem uso indiscriminado do metilfenidato 8. DESANTIS, A.D.; WEBB, E.M.; NOAR, S.M. Illicit use of prescription ADHD medications on a college campus: a multimethodological approach. Journal of American College Health, v.57, p. 315–324, 2008. Cadernos UniFOA 7. Referências Bibliográficas 61 Para comer, para beber ou para remédio? Categorias de uso múltiplo em Etnobotânica. ISSN 1809-9475 To eat, to drink or to remedy? Multipurpose use categories in Ethnobotany. Artigo Original Odara Horta Boscolo1 Original Paper Comunidades tradicionais Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba Plantas Medicinais Abstract The use of plants combines a number of factors, showing the interdependence of the biological, social and cultural man. This way the relationship between men and environment are established. Ethnobotanic studies faces the difficult task of organizing the information and observation of the use of plants by traditional communities into categories based on the cultural references of the communities themselves. During this process, a fine line is drawn between the medicine and food categories. For some communities, however, this distinction simply does not exist. The aim of this work is to register which plants are used both as food and medicine by selected respondents in City of Quissamã and investigate this duality. In total, 39 plants species were found, belonging to 23 botanic families, of which Myrtaceae (5 species), Cucurbitaceae (4 species) and Solanaceae (4 species) are the most representative ones. The ambiguity of plants utilization for food and medicinal purposes shows the complexity of the native categories. Despite the scientific advances, these categories, which are part of structures of beliefs and representations of local people, do not disappear. This research exemplifies that the inclusion of emic information in categories is unclear and alert to a greater dialogue between the various disciplines that form the framework of ethnobotany. 1 Universidade Federal Fluminense (UFF), Departamento de Biologia Geral, Setor Botânica. Keywords Traditional Knowledge Traditional Communities Restinga de Jurubatiba National Park Medicinal Plants Recebido em 11/2012 Aprovado em 04/2013 Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Conhecimento tradicional Resumo A utilização de plantas combina uma série de fatores, mostrando a interdependência entre o homem biológico, social e cultural. Dessa forma, as relações entre o homem e o meio ambiente são estabelecidas. Estudos etnobotânicos enfrentam a difícil tarefa de organizar as informações e observações do uso de plantas por comunidades locais em categorias com base nas referências culturais das próprias comunidades. Durante esse processo, uma linha tênue é desenhada entre a categoria medicinal e a alimentícia. Para algumas comunidades, no entanto, esta distinção, simplesmente não existe. O objetivo deste trabalho é registrar quais plantas são usadas como alimentos e remédios, ao mesmo tempo, por entrevistados selecionados no Município de Quissamã, para averiguar essa dualidade. No total, 39 espécies de plantas foram encontradas, pertencentes a 23 famílias botânicas, sendo que Myrtaceae (5 espécies), Cucurbitaceae (4 espécies) e Solanaceae (4 espécies) as mais representativas. A ambiguidade das utilizações para fins alimentícios e medicinais mostra a complexidade das categorias nativas. Apesar dos avanços científicos, essas categorias, que fazem parte das estruturas de crenças e representações da população local, não desaparecem. Esta pesquisa exemplifica de forma prática como é obscura a inserção das informações êmicas em categorias e atenta para diálogo maior entre as diversas disciplinas que formam o arcabouço da etnobotânica. Cadernos UniFOA Palavras-chave Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 62 1. Introdução A Etnobotânica pode ser definida como o estudo da relação existente entre o Homem e as Plantas e o modo como essas plantas são usadas como recursos. Alguns autores a definem como: campo científico, que estuda as inter-relações as quais se estabelecem entre o ser humano e as plantas, através do tempo e em diferentes ambientes (XOLOCOTZI, 1982); estudo das sociedades humanas, passadas e presentes e todos os tipos de inter-relações ecológicas, evolucionárias e simbólicas (ALEXIADES, 1996). A Etnobotânica passou por diversas tendências, desde simples trabalhos com listagens das plantas úteis em determinadas populações, até a compreensão de como essas populações interagem com as plantas, considerando o conhecimento êmico, sua cosmologia; a diversidade vegetal e a diversidade cultural; o uso, o manejo e a conservação da biodiversidade, dentre outros. Porém, se for pensado bem, assim que o ser humano começou a interagir com o reino vegetal, nasceu a Etnobotânica (SCHULTES; REIS, 1995). Atualmente, a etnobotânica tenta se comprometer com o mundo em desenvolvimento, adotando uma posição estratégica com seu foco integrativo (ALCORN, 1995). Permite um melhor entendimento das formas pelas quais as pessoas pensam, classificam, controlam, manipulam e utilizam espécies de plantas e comunidades. Pesquisas de cunho etnobotânico podem ajudar planejadores, agências de desenvolvimento, organizações, governos e comunidades a conceber e implementar práticas de conservação e desenvolvimento (TUXILL; NABHAN, 2001). O homem é e sempre foi dependente do uso de plantas para a sua sobrevivência. Essa utilização vai desde as necessidades mais básicas como alimento e medicina até para fins mágicos, ritualísticos e simbólicos. Porém, ele não é só dependente, mas também manipulador de paisagens e responsável por uma parcela da coevolução com os vegetais. Para alguns autores, como Balée (1991), o manejo realizado pelas populações traz uma diversidade ao ambiente maior que a existente nas condições naturais onde não existe a presença humana. Por mais que algumas espécies se extingam, a intervenção humana resulta num aumento real da diversidade ecológica e biológica de um lugar específico ou região. Ao considerar que as populações locais possuam um conhecimento sobre os ambientes que ocupam, que é de real valia para sua adaptação, o saber-fazer acumulado é e pode ser transmitido oralmente ao longo das gerações. Esse conhecimento é dinâmico, e novos conhecimentos são adicionados aos conhecimentos locais (OLFIELD; ALCORN, 1991). Estudos etnobotânicos enfrentam a difícil tarefa de organizar as informações e observações do uso de plantas por comunidades locais em categorias com base nas referências culturais das próprias comunidades. Durante esse processo, uma linha tênue é desenhada entre a categoria medicinal e a alimentícia. Para algumas comunidades, no entanto, essa distinção, simplesmente não existe. O objetivo deste trabalho é registrar quais plantas são usadas como alimentos e remédios, ao mesmo tempo, por entrevistados selecionados no Município de Quissamã, para averiguar essa dualidade. Esse local mostrou-se interessante para desenvolver este trabalho etnobotânico devido a suas peculiaridades como a diversidade da população residente (descendentes de escravos, de índios Goytacazes e trabalhadores rurais vindos de outros locais para lidar na lavoura açucareira) e a diversidade religiosa que inclui católicos, evangélicos, espíritas e umbandistas. O Município abriga a maior parte do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, único Parque Nacional em área totalmente de restinga, sendo uma das mais conservadas do país (BOSCOLO, 2003). 2. Material e Métodos O Município de Quissamã (22º05’S, 41º28’W) localiza-se na região norte do Estado do Rio de Janeiro, possui em seu território o maior ecossistema de restinga do estado, com cerca de 50 mil hectares, onde se localiza o Parque Nacional de Jurubatiba. Esse ambiente abriga diversas comunidades vegetais distintas quanto à fisionomia e composição florística (ZONEAMENTO AGROECOLÓGICO DA RESTINGA, 1994). posse das informações acerca das plantas utilizadas, acompanhamos os informantes aos locais de onde usualmente eles as obtêm, seja em seus próprios quintais e ruas, seja na restinga. Todo material foi devidamente herborizado e depositado no Herbário do Museu Nacional do Rio de Janeiro (R). Para a identificação do material, foi utilizado microscópio estereoscópico, comparação com outros materiais de herbário, envio de alguns espécimes para especialistas e consulta à literatura especializada. 63 Uma das tarefas mais árduas dos trabalhos de Etnobotânica é encaixar as indicações das plantas que os informantes (visão êmica) indicam, nas categorias predeterminadas pelos pesquisadores (visão ética). Essa tradução do êmico ao ético se faz necessária para que as respostas sejam uniformizadas para as análises subsequentes. Porém, perguntado para os entrevistados, quais as plantas que eles utilizam e para que fim, as respostas mostram que, para eles, a comida é também remédio. Não fazem uma distinção formal do que é só para comer ou só para se medicar, acreditam que quando se alimentam, ao mesmo tempo estão “fortalecendo e curando o organismo”. Este conceito “alimento/medicamento” é muito natural para os informantes e segue a mesma filosofia do que atualmente a sociedade chama de alimentos funcionais ou nutracêuticos. Ou seja, os alimentos ou bebidas que são consumidos na alimentação cotidiana podem trazer benefícios fisiológicos específicos, graças à presença de ingredientes fisiologicamente saudáveis (CÂNDIDO; CAMPOS, 2005). No total, 39 espécies de plantas foram encontradas, pertencentes a 23 famílias botânicas, sendo que Myrtaceae (5 espécies), Cucurbitaceae (4 espécies) e Solanaceae (4 espécies) as mais representativas (Tabela 1). Os frutos são a parte mais utilizada (26 indicações), seguida das folhas (18 indicações) e cascas do tronco (6 indicações) (Tabela 1). Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 3. Resultados e Discussão Cadernos UniFOA De fevereiro de 2001 a janeiro de 2002 foram realizadas excursões mensais à referida localidade. Optou-se pela abordagem da Observação Direta na qual o pesquisador tem um grande contato com a comunidade, mas sem um envolvimento total. Para a seleção dos informantes, foram feitos contatos com os moradores que demonstraram possuir conhecimento sobre os usos das plantas e, a partir desses, foram obtidos outros informantes, caracterizando a técnica da “bola de neve” (BAILEY, 1994). Foram contatados 10 informantes que, além de sua ocupação profissional, agiam também como curandeiros e benzedores. O primeiro instrumento a ser elaborado foi o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O processo de consentimento livre e esclarecido teve por objetivo permitir que a pessoa que está sendo convidada a participar da pesquisa compreenda os procedimentos, riscos, desconfortos, benefícios e direitos envolvidos, visando permitir uma decisão autônoma. A obtenção de consentimento livre e esclarecido é um dever moral do pesquisador, é a manifestação do respeito às pessoas envolvidas no projeto (CLOTET, 1995). Esse termo documenta a autorização do sujeito da pesquisa e permite que as informações básicas possam ser mantidas para leitura posterior. Seus princípios estão resguardados pela Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) nº 196/96, que atualmente regula as pesquisas em questão. Também foi confeccionado formulário com perguntas abertas e fechadas (REA; PARKER, 2000) que trata dos dados pessoais de cada informante e sobre as plantas informadas. Depois foram realizadas entrevistas visando obter dados acerca das plantas por eles indicadas como alimento e ao mesmo medicinal. Foram consideradas como alimentícias aquelas plantas consumidas cruas ou cozidas como, por exemplo, frutas in natura, bebidas, infusões alcoólicas, condimentos, alimentos para animais, dentre outros. E como plantas medicinais, aquelas capazes de promover cura, bem estar e prevenção de doenças. De 64 Tabela 1- Plantas informadas tanto para alimento como para medicamento: Família e Nome científico, Nome Popular, Indicações, Parte vegetal utilizada. Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Família e nome científico Nome popular Indicações Parte vegetal utilizada ANACARDIACEAE Anacardium occidentale L. R- 202068 (OHB 78) caju Diabete, dor de garganta, feridas, aftas, cólicas intestinais, tosse, bronquite, fraqueza do organismo, debilidade muscular. Cascas do tronco, folhas e fruto. Mangifera indica L. R- 202069 (OHB 102) manga Feridas, tosse, bronquite, asma, cólicas, diarreia, inflamações em geral. Cascas do tronco, folhas e frutos. Schinus terebinthifolius Raddi R- 202042 (OHB 90) aroeira Gripe com febre, bronquite, feridas, inflamação no útero. Cascas do tronco e frutos ANNONACEAE Annona muricata L. R- 202035 (OHB 45) graviola Diabete Folhas e frutos ARACEAE Colocasia esculenta (L.) Schott (OHB 94) inhame-branco Reumatismo, moléstias da pele, convalescença, fraqueza Tubérculos ARECACEAE Cocos nucifera L. R- 202072 (OHB 62) coco Raquitismo, vermes, prisão de ventre, anemia, erisipelas, fraqueza, desnutrição. Frutos BRASSICACEAE Sinapis nigra L. R- 202059 (OHB103) mostarda Dores nas costas, dores nas articulações, pulmão congestionado, inflamações localizadas. Flores e folhas BROMELIACEAE Ananas comosus (L.) Merr. (OHB 63) abacaxi Dor de garganta, vermes, inflamações em geral, doenças da bexiga, reumatismo, restaura o fluxo menstrual, tosse, problemas nos pulmões, queimaduras, coceiras. Frutos CARICACEAE Carica papaya L. R- 202048 (OHB 60) mamão Bronquite, tosse, gripe, vermes, dermatoses, prisão de ventre. Flores, frutos, látex e sementes. CONVOLVULACEAE Ipomoea batatas (L.) Poir. R- 202050 (OHB 80) batata-doce Cicatrização, furúnculos Folhas e tubérculos CUCURBITACEAE Cucumis anguria L. R- 202002 (OHB 75) maxixe Hemorroidas, feridas, furúnculos. Frutos Cucumis sativus L. R- 202003 (OHB 76) pepino Problemas na bexiga, rins, inflamações dos olhos, sarna, coceira. Casca do fruto e frutos Lagenaria vulgaris Ser. R- 202010 (OHB 86) abóbora d`agua Problemas no fígado e baço Flores, frutos e pecíolo. Momordica charantia L. R- 202070 (OHB 119) melão-de-são-caetano Febre, reumatismo Folhas e frutos LAMIACEAE Ocimum gratissimum L. R- 202062 (OHB 116) alfavacão Gripe, artrite, gases Folhas Ocimum micranthum Willd. R- 202001 (OHB 48) alfavaca Reumatismo, cólicas menstruais e intestinais, ânsia de vômito, bronquite, tosse, expectorante Folhas Rosmarinus officinalis L. R- 202017 (OHB 61) alecrim Dores de barriga, bronquite, reumatismo, cicatrizante Folhas LAURACEAE Persea americana Mill. R- 202083 (OHB 46) abacate Problema nos rins, diurético, restaurador do fluxo menstrual, gases, prisão de ventre, reumatismo Folhas e frutos MALVACEAE Hibiscus esculentum L. R- 202071 (OHB 118) quiabo Furúnculos, puxar o pus de dentro das feridas Folhas e frutos Indicações Parte vegetal utilizada MALPIGHIACEAE Byrsonima sericea DC. R- 202038 (OHB 125) murici Diarreia, diabete Frutos e raiz Malpighia glabra L. R- 202057 (OHB 104) acerola Gripe Frutos MORACEAE Artocarpus integrifolia L. R- 202011 (OHB 92) jaca Diarreia Folhas Morus nigra L. R- 201999 (OHB 98) amora Aftas, diarreia, dor de garganta, inflamações na boca, diabete, problemas de menstruação e de ovário. Folhas e frutos MUSACEAE Musa paradisiaca L. R- 202073 (OHB 44) banana Machucadura, queimaduras, hemorragias, hemorroidas, inflamações, feridas, verrugas, artrite, úlceras no intestino, laxativo. Cascas dos frutos, frutos e seiva MYRTACEAE Eugenia cauliflora O. Berg (OHB 101) jabuticaba Asma, diarreia, inflamação da garganta. Cascas do tronco e frutos Eugenia uniflora L. R- 202034 (OHB 110) pitanga Gota, reumatismo, gripe. Folhas e frutos Psidium cattleianum Sabine R- 202018 (OHB 54) araçá-da-praia Doenças das vias urinárias, diarreia. Brotos, cascas do tronco e frutos. Psidium guajava L. R- 202009 (OHB 95) goiaba Diarreia, dor de garganta, tosse. Brotos, folhas e frutos. Syzygium cumini (L.) Skeels R- 202088 (OHB 42) jamelão Diabete, diarreia Cascas do tronco, folhas e frutos. OXALIDACEAE Averrhoa carambola L. R- 202032 (OHB 93) carambola Pressão alta, diabete, problemas nos rins, feridas na pele Folhas e frutos PASSIFLORACEAE Passiflora edulis Sims R- 202079 (OHB 111) maracujá Dor de cabeça, nervoso, insônia, asma, diarreia, vermes. Folhas e frutos POACEAE Saccharum officinarum L. R- 202008 (OHB 114) cana-de-açúcar Cansaço, anemia, cólicas, digestiva, aftas, dor no fígado, prisão de ventre, rachaduras dos seios, coceiras, feridas, infecções, catarro, bronquite. Parte interna dos colmos Zea mays L. (OHB 96) milho Diurético, inflamações da bexiga, rins, olhos. Estigmas e frutos PUNICACEAE Punica granatum L. R- 202082 (OHB 89) romã Dor de garganta, vermes. Cascas dos frutos e frutos SAPOTACEAE Pouteria caimito (Ruiz & Pav.) Radlk. R- 202080 (OHB 79) abiu Tosse, bronquite, diarreia. Folhas e frutos SOLANACEAE Capsicum annuum L. R- 201995 (OHB 121) pimentão Hemorroidas, dor de estômago, prisão de ventre, pneumonia. Frutos Lycopersicon esculentum Mill. R- 202046 (OHB 132) tomate Inflamações purulentas, gripe, tosse, rouquidão, picadas de insetos, queimaduras, reumatismo. Frutos Solanum paniculatum L. R- 202075 (OHB 135) jurubeba Problemas nos rins, doenças venéreas, diurético, problemas no fígado, úlceras no estômago, inflamações em geral. Folhas e frutos ZINGIBERACEAAE Zingiber officinale Rosc. R- 202076 (OHB 139) gengibre Digestivo, falta de apetite, cólicas, gases, tosse, bronquite, resfriado, catarro, asma, rouquidão, gripe. Rizoma 65 Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Nome popular Cadernos UniFOA Família e nome científico Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 66 Os resultados encontrados neste trabalho, com relação às principais famílias botânicas e aos órgãos das plantas mais utilizadas (folhas e frutos) coincidem com diversas publicações sobre plantas medicinais (VARGAS; RIOS, 1990; WAIZEL, 1990; STALCUP, 2000; CARVALHO et al., 2001). Os resultados revelam que existe uma ambiguidade das utilizações para fins alimentícios e medicinais, mostrando a complexidade das categorias nativas. Apesar dos avanços científicos, essas categorias, que fazem parte das estruturas de crenças e representações da população local, não desaparecem. Ou seja, essas plantas não são estritamente medicinais e nem alimentícias. Quando o pesquisador enquadra essas citações em categorias fixas, ele opta por uma visão reducionista e acaba perdendo a essência das informações obtidas em campo. Por exemplo, uma planta indicada para se benzer uma determinada enfermidade, ela será incluída na Categoria de Uso ritual ou medicinal, já que a finalidade dela é trazer cura e bem estar? Ao mesmo tempo este pesquisador encontra-se em um dilema, pois se não incluí-las em Categorias de Uso, não terá como tratar estatisticamente os dados e nem como compará-los com outros trabalhos. Neste momento, ainda persiste uma segunda dificuldade, porque não existem Categorias pré-fixadas, dessa forma, cada um define suas próprias categorias, que nem sempre correspondem as definições de outros investigadores. Na etnobotânica, a problemática das Categorias de Uso é recorrente, porém, nunca foi explicitada essa necessidade de se chegar a um lugar comum. São necessários estudos mais complexos sobre a classificação dessas categorias e seus significados, visto que, não há trabalhos científicos que proponham uma solução para tal dificuldade. Esta pesquisa exemplifica de forma prática como é obscura a inserção das informações êmicas em categorias e atenta para diálogo maior entre as diversas disciplinas que formam o arcabouço da etnobotânica como a biologia, antropologia, ciências sociais, agronomia, dentre outras. 4. Referências Bibliográficas 1. ALCORN, J. B. The scope and aims of ethnobotany in a developing world. In: SCHULTES, R.E.; REIS, S. VON. (Eds.) Ethnobotany: evolution of a discipline. Portland: Dioscorides Press, 1995. p. 23-39. 2. ALEXIADES, M. N. Selected guidelines for ethnobotanical research: a field manual. Bronx: The New York Botanical Garden, 1996. 3. BAILEY, K. Methods of social research. New York: The Free Press, 1994. 4. BALÉE, W.; MOORE, D. Similarity and variation in plant names in five Tupi Guarani languages (Eastern Amazonia). Bulletin of the Florida Museum of Natural History, v. 35, n. 4, p. 209-262, 1991. 5. BOSCOLO, O. H. Estudos Etnobotânicos no Município de Quissamã, RJ. 2003. Dissertação (Mestrado em Botânica). Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003. 6. CÂNDIDO, L. M. B.; CAMPOS, A. M. Alimentos funcionais. Uma revisão. Boletim da Sociedade Brasileira da Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 29, n. 2, p. 193-203, 2005. 7. CARVALHO, M. S.; SANTANA, M. D.; SILVA, A. D.; BISPO, S. Análise da flora medicinal do campus – UBM. Estudos de Biologia, n. 23, p. 4-42, 2001. 8. CLOTET J. O consentimento informado nos Comitês de Ética em pesquisa e na prática médica: conceituação, origens e atualidade. Bioética, v. 3, n. 1, p. 51-59, 1995. 9. OLFIELD, M. L.; ALCORN, J. B. Biodiversity: culture, conservation and ecodevelopment. Boulder: Westview Press, 1991. 12. SCHULTES, R. E.; REIS, S. V. (eds.) Ethnobotany: evolution of a discipline. Cambridge: Timber Press, 1995. 13. STALCUP, M. M. Plantas de Uso Medicinal ou Ritual Numa Feira Livre no Rio de Janeiro, Brasil. Dissertação (Mestrado em Botânica). Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2000. 14. TUXILL, J.; NABHAN, G.P. Plantas, comunidades y áreas protegidas: una guía para El manejo in situ. Pueblos y plantas . Manual de conservacion. Montevidéu: Editora Nordan Comunidad, 2001. 67 16. XOLOCOTZI, E. H. El concepto de Etnobotânica. In: SIMPOSIO DE ETNOBOTANICA, 1992, Cidade de México. Memórias Del., Cidade de México, p. 12-17, 1982. 17. WAIZEL, J. B. Panorama del projecto botanica medica de la escuela nacional de medicina y homeopatia. Revista Cubana de Plantas Medicinales, v. 13, n. 17, p. 34-41, 1990. 18. ZONEAMENTO AGROECOLÓGICO DA RESTINGA: Contribuição ao plano diretor de ocupação, Estudos do Meio Biótico. Prefeitura Municipal de Quissamã, Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente, Coletivo Interdisciplinar de Consultores CIC, 1994. Endereço para Correspondência: Odara Horta Boscolo [email protected] Universidade Federal Fluminense (UFF) Departamento de Biologia Geral - Setor Botânica Outeiro de São João Batista s/n° - Niterói - RJ CEP: 24020-150 Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 11. Paulo: Editora Pioneira, 2000. 15. VARGAS, S. C.; RÍOS, P. J. Etnobotanica medicinal de Quimixtlan, Puebla. Revista Cubana de Plantas Medicinales, v. 22, n. 8, p. 65-87, 1990. Cadernos UniFOA 10. REA, L. M.; PARKER, R. A. Metodologia de Pesquisa: do planejamento à execução. São 69 Pseudocisto Antral: Prevalência na cidade de Volta Redonda, Rio de Janeiro, Brasil. Antral pseudocyst: prevalence in the city of Volta Redonda, Rio de Janeiro, Brazil. Sérgio Elias Vieira Cury1 Maria Dorotéa Pires Neves Cury2 Brunno dos Santos de Freitas Silva3 Omar Tinoco Franklin Molina4 Jimmy de Oliveira Araújo5 Luiz Roberto Manhães Jr6 Luciana Butini Oliveira7 Palavras-chave Radiografias Panorâmicas Seios maxilares Pseudocisto antral Cisto mucoso do seio maxilar Poluição do ar Siderurgia ISSN 1809-9475 Artigo Original Original Paper Resumo O objetivo deste foi o de avaliar, através da análise de radiografias panorâmicas, a ocorrência do pseudocisto antral na cidade de Volta Redonda, Rio de Janeiro, associando condições geográficas e poluição do ar. Duas mil e quatrocentas radiografias panorâmicas pertencentes ao arquivo do RADIOCENTRO - Centro Odontológico de Documentação Ortodôntica, localizado na cidade de Volta Redonda, obtidas no período de janeiro a dezembro de 2008, foram analisadas em relação à presença de imagens radiográficas compatíveis com Pseudocisto Antral. Concluiu-se que a prevalência média encontrada (6,83%) está dentro dos índices relatados na literatura (variação de 1,4 e 9,6%), porém, quando estudadas as condições geográficas do município e poluição do ar, verificou-se que a incidência nos bairros localizados na margem esquerda em relação ao Rio Paraíba do Sul (8,67% e 17,5%) esteve acima da média relatada na literatura, indicando a participação da poluição do ar na gênese do pseudocisto antral. Recebido em 09/2012 Aprovado em 04/2013 Volta Redonda Panoramic radiography maxillary sinus antral pseudocyst mucous cyst of the maxillary sinus Air pollution Steel Volta Redonda 1 DDS, PhD - Disciplina Patologia Bucal – Curso de Odontologia - UniFOA - Centro Universitário de Volta Redonda 2 MDS - Disciplina Odontologia Social – Curso de Odontologia - UniFOA - Centro Universitário de Volta Redonda 3 DDS, PhD - Disciplina Patologia Bucal – Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo 4 DDS, PhD - Disciplina de Disfunção Têmporo-mandibular – Faculdade de odontologia - UNIRG-TO 5 MDS - Disciplina de Disfunção Têmporo-mandibular – Faculdade de Odontologia – SLMandic 6 DDS, PhD – Disciplina de Radiologia e Imaginologia - Faculdade de Odontologia – SLMandic, 7 DDS, PhD – Disciplina de Radiologia e Imaginologia - Faculdade de Odontologia – SLMandic, Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Keywords Cadernos UniFOA Abstract Our objective was to evaluate through analysis of panoramic radiographs, the occurrence of antral pseudocyst in the city of Volta Redonda, involving geographic and air pollution. Two thousand and four hundred panoramic radiographs from the files of RADIOCENTRO - Dental Orthodontic Documentation Center in Volta Redonda, Rio de Janeiro, and obtained from January to December 2008, were analyzed for the presence of radiographic images compatible with Antral pseudocyst. We concluded that the average incidence found in the city of Volta Redonda (6,83%) is within the rates reported in the literature (ranging from 1,4 to 9,6%), but when studied the geographical conditions of the city and poluition, it was verified that the incidence in the districts located on the left of the Paraíba do Sul river (8,67% ande 17,5%), was above the average reported in the literature, indicating the involvement of air pollution in the genesis of antral pseudocyst. Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 70 1. Introdução Com o surgimento das áreas urbanas, ocorreu um agravamento na qualidade do ar, causando problemas na saúde populacional. Dessa forma, houve uma maior preocupação com esse tipo de problema, que não é simples de ser tratado, por englobar diversos fatores: desde a dispersão dos poluentes e composição química dos mesmos até seu efeito na saúde da população (YARA et al., 2006). Dentre as alterações patológicas que acometem os seios maxilares, a entidade considerada a mais comum é o pseudocisto antral, frequentemente diagnosticada em radiografias panorâmicas como exames de rotina nos consultórios odontológicos. A patogenia do pseudocisto antral é incerta (WHITE, PHAROAH, 2000), porém, sua etiologia tem possível relação com quadros alérgicos diversos, e períodos de elevação da umidade relativa do ar (GONÇALVES; SILVEIRA, 1993; MARQUES et al., 2006). Volta Redonda é uma cidade localizada na macro região do Vale do Paraíba, ao sul do Rio de Janeiro, onde situa-se a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), maior usina siderúrgica da América Latina. Por tratar-se de uma cidade onde localiza-se uma grande usina, capaz de lançar no ar local diversos tipos de poluentes atmosféricos, apresentou-se a dúvida se a poluição produzida por uma usina siderúrgica participaria na gênese do pseudocisto antral. Sendo a poluição atmosférica reconhecidamente um fator de risco para a saúde (PEITTER; TOBAR, 1998), surgiu-nos a hipótese de que sim. A não existência de trabalhos que associassem a poluição do ar e a gênese do pseudocisto nos motivou para a realização deste estudo, que tem por objetivo avaliar, através da análise de radiografias panorâmicas, a ocorrência do pseudocisto antral na cidade de Volta Redonda, associando condições geográficas e poluição do ar. 2. Revisão da Literatura 2.1. O município de Volta Redonda Volta Redonda é um município brasileiro situado na macrorregião do Vale do Paraíba dentro da mesorregião Sul Fluminense, no estado do Rio de Janeiro. Também é conhecida como a “Cidade do Aço”, localiza-se a 22º31’23” de latitude sul e 44º06’15” de longitude oeste, a uma altitude de 390 metros. Situada entre as serras do Mar e da Mantiqueira, é cortada pelo Rio Paraíba do Sul, que corre de Oeste para Leste, sendo a principal fonte de abastecimento do município e também responsável pelo seu nome, devido a um acidente geográfico no seu curso (DIAS, 2005; WIKIPEDIA, 2009; EPD - PMVR, 2008). O clima é mesotérmico, com verões quentes e chuvosos e invernos secos. A umidade relativa do ar é alta (77%), mesmo nos meses de frio, quando varia entre 71% e 72%. A temperatura média compensada é de 20°C, a média mínima anual de 16,5°C e média máxima anual de 27,8°C. A precipitação média anual é de 1.377,9 mm, sendo janeiro e fevereiro os meses com maior incidência de chuvas. É comum, no inverno, o fenômeno da inversão térmica, causado pela camada de poluição que permanece sobre a cidade, formando uma barreira à penetração dos raios solares, diminuindo a insolação e impedindo a liberação do calor e das novas cargas de poluentes lançados a cada dia. Os ventos dominantes atingem a região, predominantemente em sentido noroeste, porém, a localização do município, em fundo de vale, faz com que na maior parte do tempo haja calmaria. Isso dificulta a dispersão dos gases e partículas, lançadas principalmente pela usina siderúrgica, e provoca alterações no microclima (WIKIPEDIA, 2009; IPPUPMVR, 2009). 2.2. Poluição do ar O ar é um recurso natural, sem fronteiras definidas, e que, juntamente com a água e o solo, é responsável pela sustentabilidade da vida em nosso planeta. Por isso, ao se classificar a atmosfera como uma parte do ambiente com a qual o organismo humano está permanentemente em contato, entende-se que muitas das reações ocorridas nesse mesmo organismo podem ser explicadas como um tipo de resposta às mudanças observadas nos estados físico, químico e biológico da atmosfera (JENDRITZKY, 2008). A poluição atmosférica pode ser definida, de maneira simplificada, como a presença ciliar, permitindo uma maior penetração e acesso de partículas e alérgenos às células do sistema imune. Dentre os efeitos da poluição sobre e trato respiratório incluem-se: diminuição da atividade ciliar; produção de dano epitelial e aumento da permeabilidade da mucosa brônquica; diminuição da produção dos antioxidantes gerados naturalmente; indução da secreção de citocinas proinflamatórias e a expressão de moléculas de adesão, que orquestram, por sua vez, as funções de células inflamatórias (CROCE et al., 1998). 71 A siderurgia, sendo uma indústria de base, é tida como uma grande causadora de impactos ambientais, especialmente no que se refere à poluição do ar, devido à natureza dos seus processos de produção do aço. Na indústria siderúrgica integrada a coque, dentre os poluentes gerados, destaca-se o material particulado, proveniente principalmente das operações de estocagem, manuseio e transporte de matérias-primas, bem como da queima de combustíveis utilizados nas várias etapas do processo produtivo (MELO; MITKIEWICZ, 2002). Segundo Cançado et al. (2006), o material particulado é uma mistura de partículas líquidas e sólidas em suspensão no ar. Sua composição e tamanho dependem das fontes de emissão. As partículas podem ser divididas em dois grupos: partículas grandes (coarse mode), com diâmetro entre 2,5 e 30 mm, emitidas através de combustões descontroladas, dispersão mecânica do solo ou outros materiais da crosta terrestre (polens, esporos e materiais biológicos também se encontram nesta faixa de tamanho); e partículas pequenas (fine mode), com diâmetro menor que 2,5 mm, emitidas pela combustão de fontes móveis e estacionárias, como automóveis, incineradores e termoelétricas, que, por serem de menor tamanho e mais ácidas, podem atingir as porções mais inferiores do trato respiratório. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) é a maior indústria siderúrgica do Brasil e da América Latina e uma das maiores do mundo (WIKIPEDIA, 2009). Desde a sua fundação, a cidade de Volta Redonda vem enfrentando inúmeros problemas ambientais, onde destaca-se a poluição do ar por gases e Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 2.3. Siderurgia e a poluição do ar Cadernos UniFOA no ar de matérias ou formas de energias que impliquem em risco, dano ou moléstia grave para as pessoas e bens de qualquer natureza (BALLESTER; TENÍAS; PÉREZ-HOYOS, 1999; HASEGAWA, 2001). O problema da poluição atmosférica vem sendo trabalhado, no campo da saúde pública, com diversos enfoques, em numerosos estudos sobre os efeitos da poluição do ar na saúde. Nos subcampos da saúde ambiental e especificamente da toxicologia, estudos apontam que os efeitos da poluição do ar se manifestam em geral sob forma de doenças crônicas, prejudicando a qualidade de vida das populações afetadas (HOFMEISTER, 1991; HOFMEISTER et al., 1992; DUCHIADE, 1992). A relação entre danos à saúde e poluição atmosférica foi estabelecida a partir de episódios agudos de contaminação do ar, entre eles se destacando o excesso de mortes ocorridas em Londres nos anos de 1948 e 1952, onde foram descritos incrementos de aproximadamente 300 e 4.000 mortes, respectivamente (FREITAS et al., 2002). No Brasil, o primeiro episódio agudo de contaminação do ar ocorreu na cidade de São Paulo em 1972, e foi provocado por emissões de veículos e indústrias, em fenômeno de inversão térmica, com ausência de ventos e de chuvas. A cidade ficou coberta por uma densa névoa (VIGIAR, 2006). A dispersão dos poluentes atmosféricos em uma determinada região depende das condições meteorológicas e topográficas do local, influenciando na quantidade de poluentes a qual a população desta região estará sujeita, além da diferença na quantidade de fontes poluidoras e dos tipos de poluentes mais abundantes em cada região (YARA et al., 2006). A poluição do ar causa uma resposta inflamatória no aparelho respiratório, induzida pela ação de substâncias oxidantes, as quais acarretam aumento da produção da acidez, da viscosidade e da consistência do muco produzido pelas vias aéreas, levando, consequentemente, à diminuição da resposta e/ou eficácia do sistema mucociliar (GONÇALVES et al., 2005; CANÇADO, 2006). As modificações ou alterações do epitélio respiratório têm repercussões diretas sobre o mecanismo funcional respiratório. Estudos têm demonstrado que a poluição induz um dano epitelial e alterações no mecanismo Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 72 partículas emitidas no processo de produção do aço (PEITER; TOBAR, 1998). Gioda et al. (2004) realizaram um importante estudo para avaliar a qualidade do ar em Volta Redonda, distribuindo filtros de ar em cinco estações localizadas em lugares estratégicos no perímetro do município, realizando duas avaliações em períodos diferentes. Segundo os autores, o total de partículas supensas (TSP) em Volta Redonda, apresentou níveis médios que não excederam os padrões propostos pelo CONAMA (240 mg/m3) e que os níveis de Partículas inaladas (PM10) ficaram abaixo do limite diário estabelecido pelo mesmo órgão (150 mg/m3), sendo as concentrações encontradas desses poluentes, semelhantes às de outras cidades. Destaca-se no estudo, porém, a informação de que a grande maioria dos metais monitorados estava em altas concentrações nas estações localizadas no bairro Belmonte e na FEEMA, sendo as mais altas as de ferro (Fe), cobre (Cu), zinco (Zn) e manganês (Mn), metais esses que estão entre os mais utilizados pelas indústrias locais, em especial na CSN, e que estão correlacionados com doença pulmonar. O estudo realizado por Gioda et al. (2004) avaliou também a concentração de outros poluentes atmosféricos na cidade. Benzeno, Tolueno e Xileno (B, T e X), principalmente B e T, apresentaram altas concentrações na primeira avaliação, sendo reduzidas na segunda, mas os valores de B foram ainda elevados. Tolueno e xileno não ultrapassaram o limite sugerido pela WHO. O benzeno é tóxico em qualquer concentração, portanto, pode ser considerado o maior poluente no ar em Volta Redonda. Os mais altos níveis de B, T e X foram obtidos nas estações Belmonte e FEEMA, em especial quando os ventos sopravam mais fortes em direção a essas estações, principalmente quando o coque era realizado pela CSN, apontando-a como sua principal fonte de emissão. Concentrações elevadas de benzeno podem ter influenciando diretamente a saúde da população em Volta Redonda, fato confirmado pelo elevado índice de benzenismo (688 casos registrados entre 1984 e 1999). Concentrações de Dióxido de enxofre (SO2) foram abaixo da média de acordo com CONAMA (365 mg/m3), mas excedeu os limites estabelecidos pela WHO na primeira amostra. Na segunda, os níveis foram reduzidos, porém ainda são altos para vegetação. Segundo os autores, O manuseio de minérios de ferro e da queima de carvão vegetal na CSN, associados à direção dos ventos na região, possivelmente são responsáveis pela nuvem de poluição que atingiram as estações Belmonte e Retiro. 2.4. Radiografia panorâmica A radiografia panorâmica constitui um método radiográfico prático e atual, que fornece uma visão global do complexo maxilomandibular, de toda região dento-alveolar e estruturas adjacentes. É um procedimento que se realiza em um único filme radiográfico, em curto espaço de tempo e com menor exposição biológica à radiação para o paciente, sendo de muito valor para uma interpretação precoce ou exame de triagem (TIEPO et al., 2002). Como técnica radiográfica, as panorâmicas apresentam a vantagem de visualização de todo o complexo maxilomandibular, articulação temporomandibular e devido a sua abrangência, possibilita avaliar as estruturas circunvizinhas, como os seios maxilares ou antrum, cavidades aéreas revestidas de mucosa respiratória, em forma de pirâmide invertida (COSTA et al., 2007). Segundo Ohba et al. (1991), a radiografia panorâmica permite a visualização do assoalho do seio maxilar devido ao tangencionamento do feixe de Raios X à parede posterior. Os autores explicaram que isso permite identificar com clareza a presença do cisto mucoso, principalmente, em sua parede inferior. Poyton e Pharoah (1992) referiram-se ao cisto mucoso como cisto de retenção da mucosa do seio, e que são observados em maior parte dos casos e em tomadas intrabucais e radiografias panorâmicas. Em relação aos seios da face, uma análise, realizada através da radiografia panorâmica, possibilita a visualização das seguintes regiões antrais: inferior, posterior e médio superior (VAN DIS; MILLES, 1994). Segundo Costa et al. (2007), as doenças inflamatórias não odontogênicas e as lesões antrais idiopáticas, quando localizadas no assoalho do seio maxilar, são bem definidas nas radiografias panorâmicas. Segundo Dood e Jing (1978), a vasta maioria dos cistos mucosos ou cistos de retenção são pequenos, não preenchem completamente a cavidade sinusal, não causam deformidade nas paredes do seio maxilar, rompem-se espontaneamente e raramente apresentam sintomatologia. Radiograficamente são homogêneos, cupulares, bem definidos, frequentemente situados no assoalho do seio maxilar, geralmente associados à mucosa do seio, e não mudam de posição. Segundo Milles et al. (1991), o acúmulo de fluidos abaixo da mucosa do seio maxilar pode causar uma lesão elevada e em forma de cúpula. Lesões com essas características são chamadas de pseudocisto antral (cisto mucoso, cisto seroso ou cisto não secretor). O cisto de retenção mucoso ou cisto de retenção antral é o resultado do bloqueio parcial acarretando, consequentemente, a dilatação do ducto de uma glândula, de causa infecciosa, odontogênica ou alérgica. A mucocele é causada pelo bloqueio do óstio e por uma expansão destrutiva, limitada por epitélio, preenchido por uma secreção mucoide. O termo pseudocisto antral é apropriado para lesões que não tenham forro epitelial. Freitas (1992) conferiu que o cisto de retenção do seio maxilar tem sido referido com os nomes de cisto mucoso e mucocele do seio maxilar. Essas lesões são usualmente descobertas em exames radiográficos de rotina, principalmente, com o advento das radiografias pantomográficas. Esses cistos aparecem como radiopacidades esféricas, ovoides, em forma de cúpula, com limites uniformes, contrastando com a imagem francamente radiolúcida do conteúdo aéreo da cavidade sinusal, em radiografias das regiões de pré-molares e molares da maxila. De acordo com Bohay e Gordon (1997), os cistos de retenção mucosos dos maxilares ocorrem em todas as idades, ambos os sexos podem variar de tamanho, raramente podem completar todo o seio maxilar e, nesse caso, é impossível distingui-lo de uma sinusite. Segundo os autores, no diagnóstico diferencial devem ser considerados os pólipos antrais, as mucoceles do seio e os cistos odontogênicos, sendo a biópsia raramente necessária para estabelecer o diagnóstico. 73 Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Sicher e Du Brull (1977) descreveram os seios paranasais como cavidades pneumáticas localizadas na parte craniana e facial, que são revestidas por membrana mucosa, comunicando-se direta ou indiretamente com o aparelho respiratório. O seio maxilar é a cavidade mais ampla dentre os seios paranasais, ocupando todo o corpo da maxila. Figun e Garrino (1986) descreveram o seio maxilar como uma ampla cavidade escavada no corpo da maxila, consequentemente, tem comunicação com a cavidade nasal em nível de meato médio, através do óstio sinusal. A parede superior corresponde ao assoalho de órbita, a parede anterior é delgada e utilizada para abordagens cirúrgicas, a parede posterior se relaciona com a tuberosidade do maxilar e o assoalho do seio tem relação com as raízes dos pré-molares e molares superiores. Os seios paranasais são cavidades pneumáticas localizados na parte craniana e facial, sendo os mesmos revestidos por membrana mucosa, comunicando-se direta ou indiretamente com o aparelho respiratório. Dos seios paranasais, a cavidade mais ampla é o seio maxi lar, ocupando todo o corpo da maxila (GONÇALVES; SILVEIRA, 1993) Madeira (2003) descreveu que o seio maxilar é o maior de todos os seios paranasais, o primeiro a se desenvolver, ficando entre as paredes anterior (voltada para a face), posterior (para a fossa infratemporal), medial (para a cavidade nasal), superior ou teto (para a órbita) e inferior ou soalho (para o processo alveolar). Mais precisamente, o seio maxilar tem a forma piramidal, com sua base na parede nasosinusal e o ápice na raiz do zigoma. A parede superior situa-se sob a órbita e é constituída pela lâmina orbital da maxila. Seu assoalho é formado pelo processo alveolar da maxila. A parede posterior consiste de uma lâmina fina de osso, separando a cavidade da fossa infratemporal. Medialmente, a parede nasal separa o seio da cavidade nasal. A parede ântero-lateral ou fossa canina representa a parte facial da maxila. A cavidade nasal contém a saída do seio, o óstium, que se situa logo abaixo do teto do antrum (TIEPO, 2004; COSTA 2007). 2.6. Pseudo Cisto Antral Cadernos UniFOA 2.5. Seios maxilares 74 O cisto mucoso do seio maxilar é uma lesão de relevante importância, por ser a entidade patológica que mais atinge o seio maxilar. São achados comuns nas radiografias panorâmicas, periapicais e nas incidências para seios maxilares; são citados na literatura mundial por diversas terminologias, e muitos autores os consideram como uma lesão benigna situada nos seios maxilares (BULGARELLI et al., 2002; MANHÃES JR. et al., 2004; PONTES, 2006). Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 2.7. Características anátomopatológicas Pontes em 2006 realizou um estudo histológico onde mostrou que a grande maioria dos cistos mucosos é composta por falsos cistos, a luz não é forrada por epitélio e não apresenta elementos glandulares associados a estes cistos. Após explorações cirúrgicas, clinicamente foram observadas massas redondas, dilatadas, translúcidas, azuladas ou amareladas, com paredes finas que se rompem com facilidade saindo um líquido aquoso, ou mucoide. O autor ainda relatou que os cistos mucosos devem ser diferenciados de outras lesões de tecidos moles do seio maxilar como pólipos, infecções dentárias sinusites, mucoceles de seio maxilar e principalmente tumores malignos. Neville et al. (2009) diferenciaram os pseudocistos antrais, cistos de retenção e mucoceles como lesões distintas. O pseudocisto antral é o acúmulo de exudato inflamatório (soro não mucina) sob a mucosa do seio maxilar causando uma elevação séssil, circundada por tecido conjuntivo sendo o revestimento epitelial do seio superior ao fluido; as mucoceles são acúmulos de mucina completamente coberta por epitélio ocorrendo a partir de uma cirurgia no seio maxilar (cisto cirúrgico ciliado) ou a obstrução do óstio bloqueando a drenagem, aumentando em tamanho e a pressão intraluminal aumenta podendo distender e desgastar o osso. Os cistos de retenção aparecem a partir de um bloqueio parcial das glândulas seromucosas ou invaginação do epitélio respiratório. O pseudocisto do seio maxilar e o cisto de retenção não requerem tratamento, somente uma avaliação dos dentes adjacentes; as mucoceles devem ser removidas cirurgicamente. 2.8. Características radiográficas Segundo Wood e Goaz (1983), radiograficamente são descritos como uma área radiopaca, homogênea, curva, de forma esférica, ovoide, ou em cúpula; contorno regular uniforme de base de inserção estreita ou larga, única ou bilateral, encontrados em todas as idades e, segundo o sexo, varia de estudo para estudo. Coleman e Nelson (1993) relataram que radiograficamente caracteriza-se por um aumento radiopaco homogêneo, em forma de cúpula, bordas bem delineadas, curvas, de base localizada ao longo da parede inferior ou posterior dos seios maxilares; não se indica tratamento algum. De acordo com Langlais et al. (1995), os cistos de retenção mucoso dos seios maxilares, em sua maioria, são assintomáticos, não destroem o osso, permanecem estáticos por anos ou podem romper e desaparecer completamente. Radiograficamente são radiopacos, cupulares ou semicirculares situados geralmente no assoalho do seio maxilar. Em estudo realizado no ano de 2003, Whaites descreveu o cisto mucoso de retenção como achado acidental, opacidade bem definida, circular, em forma de cúpula, no interior do seio maxilar, desde diminuta até um preenchimento completo do seio; normalmente não há alteração do contorno sinusal, ocasionalmente é bilateral e a causa é desconhecida. A imagem radiográfica do cisto mucoso é característica, sendo discretamente radiopaca, bem definida, com bordos arredondados, lisos, cupulares, nítidos, de base larga, únicos, homogêneos, geralmente situados no assoalho do seio maxilar, uni ou bilateral, sem deformar as corticais sinusais, aparecendo com boa nitidez nas radiografias panorâmicas (PONTES, 2006). Marques et al. (2006) relataram que o pseudo cisto antral apresenta-se como área homogeneamente radiopaca, com limites bem definidos, em forma de cúpula ou esférica, de dimensão variável e sem cortical óssea circunscrevendo-a, sendo sua presença mais evidente devido ao comprometimento unilateral, na maioria dos casos. Allard et al. (1981) chegaram à conclusão de que a patogênese do cisto mucoso é obscura e de que a incidência dessas lesões foi de 1,4 a 9,6%. Afirmaram ainda que o cisto mucoso é mais bem visualizado nas radiografias panorâmicas, sendo descrito como uma lesão ovoide, redonda ou em forma de cúpula. Wood e Goaz (1983) constataram que os cistos mucosos, em sua maioria, são falsos cistos que ocorrem predominantemente no assoalho do seio maxilar, por vezes na parede lateral, podem regredir espontaneamente, são lesões comuns e ocorrem entre 2% e 9,6% na população geral. Ruprecht et al. (1986) revisaram 1685 radiografias panorâmicas, dentre as quais 44 apresentaram um ou mais pseudocistos antrais, totalizando 2,6% da amostra estudada. Gonçalves e Silveira (1993) realizaram um estudo onde foram analisados 3.180 laudos de radiografias panoramicas, efetuadas no período compreendido entre agosto de I988 a fevereiro de 1992, pertencentes a pacientes atendidos por um Serviço Privado de Documentação Odontológica da Cidade do Recife - PE. Verificaram 143 imagens compatives com cistos mucosos em 139 pacientes, perfazendo 4,4 % da amostra. Foi observado predileção pelo sexo masculino, não havendo diferença estatisticamente significante em relação ao lado comprometido e faixa etária, bem como, não foi possível estabelecer a inter-relação de condições odontogênicas com o desenvolvimento dessa alteração. Ralatam ser possível que a elevação da umidade relativa do ar tenha contribuido para o aparecimento destes cistos. Concluiram citando que nenhu- 75 Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 2.9. Incidência ma conduta terapêutica foi instituída, visto que todos os pacientes eram assintomáticos, recomendando-se acompanhamento radiográfico periódico. Pontes em 2006 realizou um estudo no qual foram observadas 600 radiografias panorâmicas, sendo 270 pertencentes à pacientes do gênero masculino (45%) e 330 pacientes do sexo feminino (55%). Relatou que foram observados 30 pacientes acometidos com cistos mucosos, sendo 12 do sexo masculino e 18 do gênero feminino, isto é, 5% da amostra estudada. A faixa etária estudada foi diversificada, havendo pacientes com treze anos de idade até setenta anos na maior idade pesquisada. O cisto mucoso no seio maxilar do lado esquerdo foi observado em 21 pacientes (70%), no lado direito foram analisados 09 casos (30%), ao passo que bilateralmente nenhum paciente foi acometido por esta lesão. Costa em 2007 realizou uma seleção aleatória de 252 radiografias panorâmicas realizadas para o tratamento odontológico de rotina, em um total de 1980 exames panorâmicos dos arquivos digitais do ano de 2003, do centro de diagnóstico por imagem, CEDRUL, na cidade de João Pessoa – PB, perfazendo um total de 12,73% da população em questão. A idade dos pacientes variou entre 4 e 80 anos, divididos por faixa etária, determinando as diferentes fases da vida humana: 0 a 11 anos (infância), 12 a 20 anos (adolescência), 21 a 39 anos (primeira fase da vida adulta) e acima de 60 anos (terceira idade). Os índices de prevalência para o lado direito foram de 2,38%, para o lado esquerdo foi de 1,98%. No gênero feminino, foi de 0,79%; para o gênero masculino foi de 3,57%. A prevalência dessa alteração ocorreu apenas nos indivíduos das faixas etárias correspondentes à infância (0 a 11 anos), à adolescência (12 a 20 anos) e à primeira fase adulta (21 a 39 anos). Com o objetivo de analisar a prevalência de pseudocistos antrais, Rodrigues et al. (2009) analisaram 6293 radiografias panorâmicas no período de novembro de 2002 a maio de 2003 na cidade de Goiânia – GO, encontrando como resultado 201 casos (3,19%). Acrescentaram que não houve correlação significante com a incidência da lesão e a umidade relativa do ar ou temperatura. Cadernos UniFOA As características radiográficas do cisto mucoso são fáceis de serem observadas, principalmente nas tomadas panorâmicas, e são de extrema importância para que os profissionais dentistas possam distingui-la de outras alterações que ocorrem nesta região anatômica. Em sua maioria, os cistos mucosos se situam no assoalho e por vezes na parede lateral do seio maxilar, e os pacientes acometidos por esta lesão não apresentam sintomatologia, sendo descobertos em exames radiográficos de rotina (PONTES, 2006; RAMESH; PABLA, 2008). 76 3. Material e Método Duas mil e quatrocentas radiografias panorâmicas, obtidas no período de janeiro a dezembro de 2008, pertencentes ao arquivo do RADIOCENTRO - Centro Odontológico de Documentação Ortodôntica localizado na cidade de Volta Redonda, Rio de Janeiro, foram analisadas em relação à presença de imagens radiográficas compatíveis com Pseudocisto Antral (figuras 1 a 3). Figura 1 – Radiografia Panorâmica - imagem compatível com Pseudocisto antral lado direito. Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Imagem gentilmente cedida pela Drª Maria Dorotéa Cury Figura 2 – Radiografia Panorâmica: imagem compatível com Pseudocisto antral lado esquerdo. Imagem gentilmente cedida pela Drª Maria Dorotéa Cury Figura 3 – Radiografia Panorâmica: imagem compatível com Pseudocisto antral ambos os lados Imagem gentilmente cedida pela Drª Maria Dorotéa Cury O aparelho utilizado para a realização dos exames foi um modelo Panoura Ultra (Yoshida – Japão). Os filmes e soluções processadoras foram da marca Kodak, e para o processamento foi utilizada a processadora para filmes odontológicos Revell (Revell – Brasil), no intuito de padronizar a qualidade das imagens radiográficas. As radiografias foram examinadas em negatoscópio com tela composta por diodos emissores de luz branca (LEDs) modelo Driller (VK Driller – Brasil), e com o auxílio de uma lupa com cabo, 60 mm de diâmetro, aumento de 2x, modelo LP-60 (Western – Brasil). A Cidade de Volta Redonda foi dividida em bairros, de acordo com a localização geográfica dos mesmos, localizados na margem direita, e bairros de localizados na margem esquerda em relação ao Rio Paraíba do Sul, sendo demarcada área onde se encontrava a maior concentração de poluição (figura 8). 77 Figura 8 – Divisão geográfica da cidade de Volta Redonda minhado ao Comitê de Ética em Pesquisa do UniFOA - Centro Universitário de Volta Redonda (Processo nº 199/09, Protocolo nº 067740 de 26/10/2009). Carta de solicitação para autorização da realização da pesquisa, juntamente com cópia do Protocolo do COEP-UniFOA, foi enviada à empresa RADIOCENTRO, obtendo autorização em 02/11/2009. 4. Resultados Do total de 2400 radiografias panorâmicas estudadas, 6,83% (n=164) apresentaram imagens com características de pseudocisto antral. Cadernos UniFOA Os dados de prontuário como idade, sexo, lado afetado e alteração patológica, no quadrante homólogo, também foram analisados, associados à localização geográfica da residência de cada indivíduo pesquisado. Após serem registrados, os dados obtidos foram transportados para um banco de dados, com intuito único de facilitar o processo de análise e interpretação. Para a organização dos mesmos, foi utilizado o programa Microsoft Excel versão 2010. Toda a análise foi realizada através de cálculo numérico e percentual. Os dados foram apresentados em tabelas. Para avaliação dos critérios éticos e atendimento às recomendações da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1997), um Protocolo foi enca- Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 (Adaptado de Peiter e Tobar, 1998). 78 4.1. Gênero Dos 164 casos encontrados, houve predileção por indivíduos do genero masculino, totalizando 57,9% dos casos (n=95), quando comparados ao gênero feminino com 42,1% (n=69), numa relação de 1,37X1 (tabela 1). Tabela 1 - Gênero GÊNERO n % MASCULINO 95 57,9 FEMININO 69 42,1 TOTAL 164 100 4.2. Idade A idade variou de 8 a 60 anos, com média de 25 anos, apresentando uma maior concentração na faixa etária entre 10 e 40 anos (tabela 2). Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Tabela 2 - Idade IDADE n % 1 a 10 5 3,04 10 a 20 60 36,58 20 a 30 52 31,7 30 a 40 30 18,29 40 a 50 9 5,48 50 a 60 8 4,88 TOTAL 164 100 4.3. Lado afetado O lado mais afetado foi o direito com 54,88% (n=90) em relação ao esquerdo com 34,14% (n=56). A imagem compatível com o pseudocisto localizada em ambos os lados foi encontrada em 10,98% dos casos (n=18) (tabela 3). Tabela 3 – Lado afetado LADO n % DIREITO 90 54,88 ESQUERDO 56 34,14 AMBOS 18 10,98 4.4. Alteração patológica no quadrante homólogo 79 Mais da metade dos casos (51,83%) não apresentou alteração associada no quadrante afetado (n=85). Dentre as alterações patológicas observadas, a ausência dentária foi a mais encontrada (n=43), totalizando 26,22% dos casos (tabela 4). Tabela 4 - Alteração patológica no quadrante homólogo ALTERAÇÃO ASSOCIADA n % LESÃO APICAL 4 2,44 LESÃO PERIODONTAL 12 7,31 DENTE INCLUSO 20 12,19 DENTE AUSENTE 43 26,22 S/ ALTERAÇÃO 85 51,83 TOTAL 164 100 indivíduos residentes nessa região, sendo a estimativa da proporção média encontrada p = 0.086, e desvio padrão s = 0.086. A área de maior concentração de poluentes apresentou alto índice de incidência (17,5%) quando analisada a relação entre o número de radiografias estudas (n=440) e os casos encontrados (n=77), sendo a estimativa da proporção média encontrada p = 0.175, e desvio padrão s = 0.418 . (tabela 5). Tabela 5 - Relação casos x radiografias estudadas x distribuição geográfica da poluição POLUIÇÃO/REGIÃO nº radiografias nº casos % POUCO ELEVADA 1764 (73,5%) 70 3,96 ELEVADA 196 (8,16%) 17 8,67 MUITO ELEVADA 440 (18,34%) 77 17,50 TOTAL 2400 (100%) 164 6,83 Cadernos UniFOA A maioria das radiografias estudas pertenceram a área de poluição pouco elevada (n= 1764) correspondendo a 73,5% da amostra. Nessa região, foram encontrados 70 casos de pseudocisto antral, correspondendo à 3,96%, sendo a estimativa da proporção média encontrada p = 0.039, e desvio padrão s = 0.197 . Na área de concentração de poluentes elevada, foram encontrados 17 casos, correspondendo à 8,67% das 196 radiografias pertencentes a Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 4.5. Relação casos x radiografias estudadas x poluição Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 80 5. Discussão A dispersão dos poluentes e seu impacto na saúde ainda parecem-nos um assunto complexo, pois uma quantidade de poluente as quais as pessoas estão expostas é diferente para cada uma delas, dependendo de sua faixa etária, do seu estado imunológico e herança familiar, tornando-as mais ou menos sensíveis à poluição do ar. A quantidade de poluição a qual as pessoas estão sujeitas varia significativamente conforme o local onde elas trabalham e moram, e a frequência com que mudam de residência ou cidade, fatores esses que influenciam na quantidade e qualidade do ar a qual cada um está sujeito (YARA et al., 2006). A maioria dos trabalhos sobre os efeitos dos poluentes atmosféricos na saúde tem sido realizada nos países mais desenvolvidos, localizados, principalmente, no hemisfério norte. De um modo geral, países situados nessas regiões apresentam características meteorológicas, composição dos poluentes e perfis socioeconômicos bastante distintos das demais regiões do planeta, criando dúvidas quando seus resultados são aplicados em outros locais, como no Brasil (comentário pessoal). Diversos fatores podem estar associados aos distúrbios respiratórios, destacando-se, dentre esses, a qualidade do ar. Sabe-se que a poluição atmosférica pode trazer danos manifestados de diferentes formas. A exposição total diária de um indivíduo aos poluentes atmosféricos é a soma dos contatos com os poluentes ao longo de diversas fontes durante todo o dia. Sendo Volta Redonda considerada uma cidade com áreas de concentração de poluentes, onde a qualidade do ar está diretamente relacionada à indústria siderúrgica, é compreensível a ocorrência de doenças associadas ao trato respiratório, dentre elas, alterações localizadas nos seios da face, responsáveis pelo aquecimento e filtragem do ar, promovendo importante barreira imunológica para as vias respiratórias (Comentário pessoal). A radiografia panorâmica é uma radiografia que permite ao examinador observar grande parte das estruturas que compõem o complexo maxilomandibular, com o conforto de uma única exposição radiográfica. É utilizada em diversas áreas da prática odontológica, pois, além de possibilitar uma cobertura de todos os dentes das arcadas e avaliação do posiciona- mento dos terceiros molares, apresenta visão panorâmica de lesões patológicas e alterações ósseas de desenvolvimento, abrangendo ainda as articulações têmporomandibulares e fossas nasais. É utilizada para diagnóstico de fraturas ósseas, e, frequentemente, para verificação do desenvolvimento e crescimento dentário e ósseo em ortodontia e odontopediatria (OHBA et al., 1991; VAN DIS; MILLES, 1994; TIEPO et al., 2002; COSTA et al., 2007). Com o advento das radiografias panorâmicas, o número de casos descobertos de pseudocistos antrais aumentou conside ravelmente, em razão dessa tomada ser amplamente utilizada para outros fins, sendo o pseudocisto diagnosticado como achado radiográfico, pelo falo do paciente mostrar-se assintomático, não despertando ao profissional atenção para essa área. Em relação ao nosso estudo, as imagens radiográficas compatíveis com pseudocisto antral encontradas foram semelhantes a todas as imagens descritas na literatura para a lesão, onde foram observadas estruturas cupulares, homogêneas, bem definidas, moderadamente radiopacas em nítido contraste com a radiolucidez do seio maxilar, e situadas em seu assoalho, uni ou bilaterais (WOOD; GOAZ, 1983; COLEMAN; NELSON, 1993; LANGLAIS et al., 1995; WHAITES, 2003; PONTES, 2006; MARQUES et al., 2006; RAMESH; PABLA, 2008). A radiografia panorâmica, mesmo não sendo a técnica de eleição para o diagnóstico de alterações nos seios maxilares, nos pareceu satisfatória para a execução do nosso trabalho. Sendo o pseudocisto antral um achado radiográfico, a técnica panorâmica deve ser valorizada, devido sua grande utilização em tratamentos de rotina. Neste estudo, não foi observada discrepância na ocorrência do pseudocisto antral em relação ao gênero, com pequena predileção pelo masculino, o que está de acordo com os estudos de Gonçalves e Silveira (1993) realizado na cidade de Recife, e Costa (2007), realizado na cidade de João Pessoa, diferente, porém, do estudo realizado por Pontes, em 2006, no qual o autor encontrou maior incidência em pacientes do gênero feminino. Quanto à idade, notou-se maior prevalência entre os adolescentes e adultos jovens, diminuindo após os 40 anos, resultado semelhante encontrado no estudo Costa (2007). Esses dados não refletem a prevalência do pseudocisto antral na cidade, principalmente, impedindo a liberação do calor e das novas cargas de poluentes lançados no ar a cada dia (IPPU, 2009). Dentre os poluentes atmosféricos relatados no estudo de Gouda et al. (2004), aparecem os metais ferro, cobre, zinco e manganês, que apresentavam-se em altas concentrações nas estações localizadas na zona considerada mais poluída de Volta Redonda. O benzeno também foi citado pelos autores como o principal componente da poluição atmosférica na cidade. Estando essa região, segundo nossos resultados, como de alta incidência do pseudocisto antral, surge então uma nova especulação de que os poluentes citados pelos referidos autores, possam estar associados à gênese da patologia, o que não foi possível avaliar, em função de o nosso estudo estar fundamentado apenas em imagens radiográficas. Levando-se em conta essa nova especulação, maiores estudos deverão ser realizados no intuito de avaliar os componentes da poluição local e seus efeitos na mucosa dos seios maxilares. Os resultados poderão ser utilizados na avaliação do programa de monitoramento da qualidade do ar existente, e poderá contribuir para a geração de novas estratégias e de novas políticas de controle da poluição na cidade. 81 Avaliada a ocorrência de imagens compatíveis com pseudocisto antral em radiografias panorâmicas pode-se concluir que: a. A incidência média encontrada na cidade de Volta Redonda está dentro dos índices relatados na literatura. b. Quando estudadas as condições geográficas do município, observa-se que a incidência nos bairros localizados na margem esquerda em relação ao Rio Paraíba do Sul esteve acima da média relatada na literatura. c. Comparando-se as condições geográficas e poluição do ar, observou-se alto índice de pacientes portadores da lesão nos bairros mais poluídos, indicando a participação da poluição do ar na gênese do pseudocisto antral. Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 6. Conclusão Cadernos UniFOA nenhuma especificidade regional, o que corrobora as afirmações de Wood e Goaz (1983), no qual os autores relataram que a lesão pode ser encontrada em todas as idades e, segundo o sexo, pode variar de estudo para estudo. A ocorrência do pseudocisto antral em nosso estudo foi maior no lado direito, semelhante ao encontrado por Costa em 2007, porém, resultado diferente foi relatado no estudo de Pontes em 2006, onde o autor relata uma incidência bem maior no lado esquerdo. No estudo de Gonçalves e Silveira (1993), os autores relataram que não encontraram diferença estatisticamente significante em relação ao lado comprometido. No estudo de Pontes (2006), o autor cita o fato de não haver encontrado ocorrência bilateral, o que difere do nosso estudo, onde aproximadamente 11% dos casos foram bilaterais. Não foi encontrado qualquer evidência em relação ao porque da predileção de um lado ou outro em nossos estudos, não existindo qualquer relato na literatura para explicar o fato. Mais da metade das lesões observadas em nosso estudo, não apresentavam alterações patológicas no quadrante homólogo, não podendo atribuir a qualquer uma delas a causa do pseudocisto. Relato semelhante foi feito por Gonçalves e Silveira (1993), em que os autores mencionam que não foi possível estabelecer a inter-relação de condições odontogênicas com o desenvolvimento do pseudocisto antral. As estações de monitoramento do ar de Volta Redonda, descritas nos relatos de Goida et al. (2004), incluem como as que apresentaram maior captação de poluentes, as estações do Belmonte, do Retiro e da FEEMA, estações situadas na margem esquerda do rio Paraíba do Sul, e que coincidem com a região de maior concentração de poluentes, descrita no estudo de Peiter e Tobar (1996). Esses relatos vão ao encontro ao nosso estudo, que encontrou maior incidência do pseudocisto antral nessa mesma área, indicando a associação da poluição do ar com a ocorrência de casos de pseudocisto antral na cidade. No trabalho realizado por Rodrigues et al. (2009), os autores relataram que não encontraram correlação significante entre a incidência do pseudocisto antral e a umidade do ar ou temperatura, cabe porém ressaltar, que o fenômeno de inversão térmica que ocorre nos períodos de inverno, pode ter contribuído com 82 7. Referências 1. ALLARD, R.H.; KWAST, W.A.; WAAL, I. Mucosal antral cysts. Review of the literature and report of a radiographic survey. Oral Surg Oral Med Oral Pathol v. 51, n. 1, p. 2-9, 1981. 2. BALLESTER, F.; TENIAS, F.; PEREZHOYOS, S. Air pollution and emergency hospital admissions for cardiovascular diseases in Valencia, Spain. J Epidemiol Community Health v. 55, n. 1, p. 57-65, 2001. 3. BOHAY, R.N.; GORDON, S.C. 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Paulo Erley Abrantes, 1325 Três Poços - Volta Redonda/RJ CEP: 27240-560 85 Riqueza e composição de formigas de serapilheira na Reserva Florestal da Vista Chinesa, Rio de Janeiro, Brasil Inventory of ground-dwelling ants in the Chinese View Forest Reserve, Rio de Janeiro, Brazil André Barbosa Vargas1 Antônio José Mayhé-Nunes2 Jarbas Marçal Queiroz3 Biodiversidade Inventário Extrator de Winkler Original Paper Resumo Inventário das formigas de serapilheira na Reserva Florestal da Vista Chinesa, Rio de Janeiro, Brasil. A mirmecofauna da Reserva Florestal da Vista Chinesa (RFVC) foi amostrada por 50 parcelas de 1m2 de serapilheira, submetidas ao extrator de Winkler, onde 90 espécies/morfoespécies foram registradas. A composição de espécies apresentou similaridade de 24% (índice de Jaccard) e 38% (índice de Sorensen) entre as amostras. A distribuição de abundância das espécies não diferiu estatisticamente da distribuição série logarítmica. A riqueza estimada foi 129 (Chao2); em média cada amostra apresentou 112,5 (±68,9) indivíduos e 15,8 (±4,4) espécies/morfoespécies. O fragmento de floresta estudado na Cidade do Rio de Janeiro apresentou uma fauna rica e diversificada de formigas de serapilheira e como essa diversidade pode indicar a diversidade de outros grupos e processos no ecossistema, a manutenção dessa reserva é importante para a conservação da biodiversidade na Mata Atlântica brasileira. Abstract Inventory of ground-dwelling ants in the Chinese View Forest Reserve, Rio de Janeiro, Brazil. We sampled the ants from Reserva Florestal da Vista Chinesa (RFVC) using 50 litter plots with 1m2, which were submitted to Winkler extractor. We found 90 species/morphospecies, and similarity in species composition among samples was quite low (24%, Jaccard index, and 38% Sorensen index). Abundance distribution followed a logarithm series model. Each sample had 112.5 (±68.9) specimens and 15.8 (±4.4) species/ morphospecies, although estimated richness was 129 (Chao2), on average. The forest fragment in the City of Rio de Janeiro showed a rich and varied fauna of ground-dwelling ants, and as the diversity of ants can be correlated with the diversity of other organisms, as well as ecosystem process, the maintenance of this urban forest reserve is important to the conservation of biodiversity in the Brazilian Atlantic Forest. Recebido em 11/2012 Aprovado em 04/2013 Key words Atlantic Forest Biodiversity Inventory Winkler extractor 1 Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA), Centro de Ciências da Saúde. 2 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Instituto de Biologia, Departamento de Biologia Animal. 3 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Instituto de Florestas, Departamento de Ciências Ambientais. Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Mata Atlântica Artigo Original Cadernos UniFOA Palavras-chave ISSN 1809-9475 Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 86 1. Introdução Os remanescentes florestais urbanos, além de possuírem importância estética podem promover o lazer e contribuir na relação “homem e natureza” a fim de proporcionar maior conhecimento sobre a diversidade biológica e na compreensão de sua importância. Além disso, são úteis, pois contribuem na manutenção da biodiversidade, funcionando como refúgio da vida silvestre, e de um possível elo entre áreas adjacentes. Entretanto, fragmentos florestais, inseridos em áreas urbanas, podem ser inadequados para organismos com hábitos mais restritos como, por exemplo, espécies que dependem de condições específicas de temperatura e recurso alimentar. Tais fragmentos podem apresentar maior efeito de borda, maiores incidência de ventos e variações bruscas na temperatura, favorecendo espécies com hábitos generalistas, aumentando a competição e assim ocasionando desequilíbrios na estrutura destes ecossistemas (MCINTYRE et al., 2001). No entanto, pouco se sabe sobre a biodiversidade dessas áreas, seu estado de conservação ou mesmo como as espécies se distribuem nestes fragmentos. As formigas são componentes importantes da biodiversidade de florestas por desempenharem funções biológicas e ecológicas vitais para a manutenção dos processos ecossistêmicos (HÖLLDOBLER; WILSON, 1990). Elas são bons bioindicadores, por serem sensíveis a mudanças ambientais (AGOSTI et al., 2000; RIBAS et al., 2012), e podem ser utilizadas em programas de monitoramento (ANDERSEN; MAJER, 2004; BRAGA et al., 2010). Além disso, formigas destacam-se por seu papel estruturador da comunidade de artrópodes (HÖLLDOBLER; WILSON, 1990), por sua influência significativa em processos edáficos (BROWN, 1997) e pela predação e dispersão de sementes (FOLGARAIT, 1998). A riqueza e composição dessas assembleias de formigas estão intimamente relacionadas com a complexidade estrutural dos ambientes (NAKAMURA et al., 2003; LASSAU; HOCHULI, 2004; VARGAS et al., 2007; MARTINS et al., 2011). A Mata Atlântica brasileira é considerada uma área prioritária para a conservação da biodiversidade, possuindo alta diversidade de plantas endêmicas, vertebrados e invertebrados (MITTERMEIER et al., 2004; GALINDOLEAL; CÂMARA, 2005). Mas apesar da cobertura original de Mata Atlântica ter sido reduzida para menos de 10%, o Estado do Rio de Janeiro ainda possui remanescentes florestais deste bioma relativamente bem conectados, formando grandes blocos florestais (ROCHA et al., 2003). Esses blocos compõem um mosaico de fragmentos florestais em paisagens distintas, nas quais espécies da flora e fauna desempenham serviços ecossistêmicos como polinização, decomposição de matéria orgânica e controle biológico (CUMMING, 2007). A fragmentação florestal afeta diretamente esses organismos, limitando os serviços por eles desempenhados ou até mesmo causando sua extinção em escala local ou regional (STEFFAN-DEWENTER et al., 2002). Na região metropolitana do Rio de Janeiro, o maciço da Tijuca representa a principal área com cobertura florestal (ROCHA et al., 2003) e dentro dele se localiza a Reserva Florestal da Vista Chinesa (RFVC) que é o foco deste estudo. A região onde se encontra a RFVC foi severamente desmatada durante o período da colonização portuguesa e, posteriormente, por decreto real, foi reflorestada como medida de recuperação dos mananciais. Na época, foram plantadas quase 60.000 árvores (MOULTON et al., 2007). Atualmente, a RFVC apresenta uma formação florestal em estado avançado de regeneração, embora a região do maciço da Tijuca sofra queimadas constantes, mais frequentes na vertente Norte (OLIVEIRA et al., 1995). Por se tratar de um dos maiores remanescentes florestais em área urbana no Brasil, a necessidade de sua conservação justifica a realização de estudos sobre sua biodiversidade. Estudos anteriores, em florestas urbanas, revelaram padrões importantes de distribuição, riqueza e composição da fauna de formigas (FEITOSA; RIBEIRO, 2005; MIRANDA et al., 2006; MORINI et al., 2007). Neste estudo realizamos uma descrição da fauna de formigas de serapilheira na RFVC, descrevendo parâmetros básicos da comunidade como riqueza e composição de espécies. Além disso, comparamos, com o objetivo de fornecer subsídios a futuros estudos realizados em escala regional, dados sobre espécies de formigas de serapilheira da RFVC A Reserva Florestal da Vista Chinesa (RFVC) possui cerca de 15 ha e localiza-se no Maciço da Tijuca (11.870 ha), que por sua vez situa-se em uma região exclusivamente urbana sobre forte pressão antrópica. O clima na região é considerado tropical quente e úmido, apresentando um ou dois meses secos ao longo do ano. A temperatura anual média varia entre 22 e 24ºC, apresentando máxima absoluta de 38 a 40ºC nos meses de dezembro a fevereiro, e mínimas de 4 a 8ºC nos meses de junho e julho. A pluviosidade anual varia de 1.250 a 1.500 mm (MATOS et al., 2002). A amostragem da fauna de formigas foi realizada em fevereiro de 2004, empregando o extrator de Winkler, descrito em Bestelmeyer et al. (2000). Essa técnica de amostragem é extremamente eficiente na serapilheira e possibilita a captura de formigas, de tamanho reduzido, que apresentam comportamento críptico (PARR; CHOWN, 2001, VARGAS et al., 2009). Foram demarcadas e peneiradas 50 parcelas de 1 m2 de serapilheira, ao longo de uma transecção de 1.200 m de comprimento, marcada com 25 pontos espaçados por 50 m um do outro. Em cada ponto demarcado na transecção foram esticadas duas linhas perpendiculares de 25 m, uma para o lado esquerdo e outra para o direito da transecção, sob as quais foram demarcadas parcelas de serapilheira, caracterizando assim unidades amostrais independentes. As amostras obtidas em cada parcela foram individualizadas e submetidas aos extratores de Winkler por 48 h, em condições de laboratório. Exemplares coletados de cada espécie foram montados em via seca e depositados na Coleção Entomológica Costa Lima (CECL) do Instituto de Biologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Os gêneros foram identificados com base na chave de Bolton (1994) e as subfamílias de acordo com a proposta de Bolton (2003). Para analisar a acumulação de espécies, com o esforço de amostragem, foram utilizados os métodos Mao Tau e Chao2, ambos com 100 aleatorizações, com auxílio do programa 87 3. Resultados Foram coletados 5.627 indivíduos, pertencentes a dez subfamílias, 32 gêneros e 90 espécies/morfoespécies de formigas na Reserva Florestal da Vista Chinesa. A subfamília Myrmicinae foi a mais rica em espécies (n=51); seguida de Ponerinae (n=17), Ectatomminae (n=8), Formicinae (n=5); Amblyoponinae, Ceraphachyinae e Heteroponerinae tiveram duas espécies e Dolichoderinae, Ecitoninae e Proceratiinae, uma espécie cada. Pheidole e Hypoponera foram os gêneros mais ricos com dez espécies, seguidos por Solenopsis (n=8); juntos estes gêneros representaram 31% das espécies coletadas. Dezenove espécies foram registradas com apenas um exemplar capturado, correspondendo a 21,1% do total de espécies amostradas. As cinco espécies mais abundantes responderam por 43% do total de indivíduos capturados (Tabela 1). O número médio de espécies por amostra foi de 15,8 (± 4,4), variando entre seis e 26 espécies por metro quadrado. A curva de acumulação de espécies gerada por meio de amostras aleatorizadas apresenta uma tendência a se estabilizar. A estimativa de riqueza de Chao2 foi de 129 em 50 amostras (Figura 1). A similaridade na composição em espécies entre as amostras de 1 m2 de serapilheira foi de 24% pelo índice de Jaccard e 38% pelo índice de Sorensen. A distribuição de abundância das espécies não diferiu estatisticamente da distribuição série logarítmica (Teste Qui-quadrado, P > 0,05) (Figura 2). Essa distribuição prevê poucas espécies abundantes e um grande número de espécies raras. 4. Discussão Em florestas tropicais, são comuns as curvas de riqueza de espécies não atingirem Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 2. Material e Métodos EstimateS (COWELL 2000). A similaridade entre as amostras foi calculada pelo índice de Jaccard e de Sorensen. A distribuição de abundância das espécies observada foi comparada à distribuição série logarítmica e submetida ao teste de Qui-quadrado disponível no programa SYSTAT® versão 8.0. Cadernos UniFOA com trabalhos previamente realizados em outros fragmentos florestais. Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 88 a assíntota (estabilização), diante da enorme diversidade de espécies que exploram uma multiplicidade de recursos alimentares e sítios de nidificação (LEPONCE et al., 2004). Por outro lado, estudos apontam a necessidade de um maior esforço amostral e o emprego de outras técnicas de amostragem que resultariam em uma fauna mais rica e diversa (ROMERO; JAFFÉ, 1989; ALONSO; AGOSTI, 2000; SCHUTTE et al., 2007). Entretanto, a viabilidade econômica, o espaço físico, o tempo gasto em campo e no processamento de todo o material coletado é extenso. Nesse sentido, o que se tem feito é a escolha de uma técnica mais eficiente e apropriada ao ambiente. Os resultados obtidos aqui mostram uma tendência à estabilização para a curva de riqueza observada na RFVC. A riqueza observada corresponde a 70% da riqueza estimada. Em fragmento (Parque Estadual da Cantareira, SP) com condições semelhantes à RFVC e com o mesmo esforço amostral empregado aqui Feitosa; Ribeiro (2005) observaram 62 espécies, porém alcançando 78% das espécies estimadas. Morini et al. (2007) estudaram três fragmentos de tamanhos diferentes, também sob influência antrópica, em São Paulo, e encontraram 79 espécies. Para todos esses estudos, as diferenças de riqueza estão relacionadas ao tamanho dos remanescentes e/ou o grau de conservação da paisagem do entorno. A RFVC faz parte do maciço da Tijuca, cuja área de florestas é de quase 12 mil hectares, sua riqueza em espécies de formigas é muito mais próxima do encontrado por VeigaFerreira et al. (2005) na Reserva Biológica do Tinguá, com área de 26.000 ha. Assim, suportando a hipótese de que áreas maiores comportam maior riqueza de espécies. Além disso, áreas maiores podem proporcionar mais recursos, sejam alimentares ou de sítios de nidificação (KASPARI, 1993), aumentando a área para o forrageamento das espécies. Com relação aos dados de Morini et al. (2007), o fator seria o tamanho amostral, fisionomia e o tipo de técnica utilizada, já que empregaram iscas atrativas e armadilhas de solo, respectivamente, tornando suas amostragens mais seletivas quanto à guilda de formigas capturada. O padrão de distribuição de abundância das espécies de formigas na RFVC sugere que poucos fatores são dominantes na estruturação da comunidade (MAGURRAN, 1988). A subfamília Myrmicinae, que apresentou a maior abundância e riqueza de espécies, é a mais diversificada em termos de hábitos alimentares e de nidificação (HÖLLDOBLER; WILSON, 1990), sendo frequentemente o grupo a representar a maior porção da diversidade de formigas de serapilheira na maioria dos ambientes (MARINHO et al., 2002; VEIGA-FERREIRA et al., 2005; VARGAS et al., 2007). Os gêneros Hypoponera, Pheidole e Solenopsis, que representaram 31% das espécies encontradas na RFVC, apresentam grande variedade de espécies em amostragens na serapilheira de ambientes de Cerrado (MARINHO et al., 2002), Caatinga (LEAL, 2003) e Mata Atlântica (VEIGA-FERREIRA et al., 2005; VARGAS et al., 2007). Mesmo outros remanescentes florestais em ambientes urbanos, localizados em região de Mata Atlântica, apresentam esses gêneros como os mais ricos em espécies (FEITOSA; RIBEIRO, 2005; MORINI et al., 2007). Estudos que utilizam a técnica dos extratores de Winkler raramente amostram espécies do gênero Atta e Acromyrmex (VEIGAFERREIRA et al., 2005), embora eles tenham sido observados na RFVC, durante os trabalhos de campo. Além de Acromyrmex e Atta, cabe ressaltar a ausência de gêneros como Azteca, Camponotus, Cephalotes, Dolichoderus e Pseudomyrmex, todos comuns em florestas tropicais e predominantemente arborícolas, exceto Camponotus que também é frequente na serapilheira. Fatores como o comportamento das formigas e a limitação da técnica de amostragem estão relacionados ao não registro desses gêneros na RFVC (ver VARGAS et al., 2009), corroborando ao exposto por Longino et al. (2002). Com base no modelo de guildas propostas por Delabie et al. (2000), a composição da fauna de formigas, amostradas na RFVC, só não abriga representantes da guilda das “subterrâneas dependentes de honeydew”, o que de fato deve-se à técnica utilizada, a qual inviabiliza a captura de formigas subterrâneas, amostrando-as eventualmente (ver BESTELMEYER et al., 2000). Isso mostra que, apesar de ter sido utilizado apenas uma técnica de amostragem, os resultados são relevantes e que o acréscimo de técnicas de amostragem aumentaria a riqueza de espécies nas guildas já presentes. A Rafael D. Loyola pelas considerações propostas em versão prévia do manuscrito. 6. Referências Bibliográficas 1. AGOSTI, D.; ALONSO, L. E. 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Eds, Perth: Curtin University School of Environmental Biology Bulletin, p.1-17, 2000. 11. Feitosa, R. S. M. & Ribeiro, A. S. Mirmecofauna (Hymenoptera: Formicidae) de serapilheira de uma área de Floresta Atlântica no Parque Estadual da Cantareira – São Paulo, Brasil. Biotemas, v. 18, p. 51-71, 2005. 12. Folgarait, P. J. Ant biodiversity and its relationship to ecosystem functioning: a review. Biodiversity and Conservation, v. 7, p. 1221-1244, 1998. 13. Galindo-Leal, C.; Câmara, I. G. Mata Atlântica: Biodiversidade, ameaças e perspectivas. São Paulo: Fundação SOS Mata Atlântica e Conservação Internacional, p. 472, 2005. Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 5. Agradecimentos 5. Bolton, B. Synopsis and classification of formicidae. Memoirs of the American Entomological Institute, p.370, 2003. Cadernos UniFOA Conforme exposto anteriormente, a riqueza de espécies observadas para a RFVC é elevada se comparada a outras áreas, mesmo com esforço amostral menor e/ou equivalente. Como as formigas podem ser bons indicadores da diversidade outros grupos de organismos (ANDERSEN; MAJER, 2004), a conservação desse fragmento florestal urbano na Cidade do Rio de Janeiro torna-se essencial para ajudar na proteção e conservação de numerosas espécies da fauna e flora da Mata Atlântica. 90 14. HÖlldobler, B. & Wilson, E. O. The Ants. Cambridge: Harvard University Press, p.732, 1990. 15. Kaspari, M. Body size and microclimate use in Neotropical granivorous ants, Oecologia, v. 96, p. 500-507, 1993. 16. Lassau, S. A. & Hochuli, D. F. Effects of habitat complexity on ant assemblages. Ecography, v. 27, p. 157164, 2004. 17. Leal, I. R. Diversidade de formigas em diferentes unidades de paisagem da caatinga. In: LEAL, I.R., TABARELLI, M., SILVA, J.M.C. Eds. Ecologia e Conservação da Caatinga Recife: Ed. UFPE, p. 593-624, 2003. 18. LEPONCE, M.; THEUNIS, L.; DELABIE, J. H. C.; ROISIN, Y. Scale dependence of diversity measures in a leaf-litter ant assemblage. Ecography, v. 27, n. 2, p. 253-267, 2004. Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 19. LONGINO, J. T., CODDINGTON, J., COLWELL, R. K. 2002. The ant fauna of a tropical rain forest: estimating species richness tree different ways. Ecology, v. 83, p. 689-702. 20. Magurran, A. E. Ecological diversity and its measurement. London: Croom Helm. p.179, 1988. 21. Marinho, C. G. S., Zanetti, R., Delabie, J. H. C., Schlindwein, M. N., Ramos, L. S. Diversidade de formigas (Hymenoptera-Formicidae) da serapilheira em eucaliptais (Myrtaceae) e áreas de cerrado de Minas Gerais. Neotropical Entomological, v. 31, p. 187-195, 2002. 22. Martins, L., Almeida, F. S., Mayhé-Nunes, A. J., Vargas, A. B. Efeito da complexidade estrutural do ambiente sobre as comunidades de formigas (hymenoptera: formicidae) no município de Resende, RJ, Brasil, Revista Brasileira de Biociências, v. 9, n. 2, p. 174-179, 2011. 23. Matos, D. M. S., Santos, C. J. F., Chevalier, D. R. Fire and restoration of the largest urban forest of the world in Rio de Janeiro City, Brazil. Urban Ecossystems, v. 6, p. 151-161, 2002. 24. McIntyre, N. E., Rango, J., Fagan, W. F., Faeth, S. H. Ground arthropod community structure in a heterogeneous urban environment. Landscape and Urban Planning, v. 52, p. 257-274, 2001. 25. MIRANDA, M., ANDRADE, V. B., MARQUES, G. D. V., MOREIRA, V. S. S. Mirmecofauna (Hymenoptera, Formicidae) em fragmento urbano de mata mesófila semidecídua. Revista Brasileira de Zoologia, v. 8, p. 49-54, 2006. 26. Mittermeier, R. A., RoblesGil, P., Hoffman, M., Pilgrim, J., Brooks, T., MITTERMEIER, C. G., LAMOREUX, J., FONSECA, G. A. B. 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Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 32. Ribas, C. S.; Campos, R. B. F.; Schmidt, F. A.; Solar, R. R. C. Ants as indicators in Brazil: a review with suggestions to improve the use of ants in environmental monitoring programs. Psyche. v. 2012, p.1-23, 2012. 35. Vargas, A. B., Mayhe-Nunes, A. J., Queiroz, J. M., Orsolon, G. S., Folly-Ramos, E. Efeito de fatores ambientais sobre a mirmecofauna em comunidade de restinga no Rio de Janeiro, RJ. Neotropical Entomology, v. 36, p. 28-37, 2007. Cadernos UniFOA 31. Parr, C. L. & Chown, S. L. Inventory and bioindicator sampling: testing pitfall and winkler methods with ants in a South African savanna. Journal of Insect Conservation, v. 5, p. 27-36, 2001. 92 TABELA 1: Lista de espécies de formigas amostradas na Reserva Florestal da Vista Chinesa (RFVC), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. (fev/2004). TABLE 1: List of ant species sampled in Reserva Florestal da Vista Chinesa (RFVC), Rio de Janeiro, Brazil. (Feb/2004). Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Grupo Taxonômico Subfamília Amblyoponinae Amblyopone armigera Mayr, 1897 Amblyopone sp.2 Subfamília Ceraphachyinae Cerapachys splendens Borgmeier, 1957 Cerapachys cf toltecus Subfamília Dolichoderinae Linepithema sp. Subfamília Ecitoninae Labidus sp. Subfamília Ectatomminae Ectatomma edentatum Roger, 1863 Gnamptogenys cf porcata Gnamptogenys cf lucaris Gnamptogenys rastrata (Mayr, 1866) Gnamptogenys horni Santschi, 1929 Gnamptogenys continua Mayr, 1887 Gnamptogenys cf horni Gnamptogenys sp.7 Subfamília Formicinae Brachymyrmex sp.1 Brachymyrmex sp.2 Brachymyrmex sp.3 Nylanderia sp.1 Nylanderia sp.2 Subfamília Heteroponerinae Heteroponera sp.1 Heteroponera sp.2 Subfamília Myrmicinae Apterostigma sp. 1 Apterostigma sp. 2 Basiceros disciger (Mayr, 1887) Carebara urichi (Wheeler, 1922) Crematogaster nigropilosa Mayr, 1870 Cyphomyrmex strigatus Mayr, 1887 Cyphomyrmex gr rimosus Hylomyrma balzani (Emery, 1894) Hylomyrma reitteri (Mayr, 1887) Megalomyrmex sp.1 Megalomyrmex sp.2 Megalomyrmex sp.3 Megalomyrmex sp.4 Octostruma rugifera (Mayr, 1887) Octostruma iheringi (Emery, 1887) Octostruma sp.3 Oxyepoecus sp.1 Oxyepoecus sp.2 Pheidole gr Gertrudae Abundância Registros 1 1 1 1 22 1 9 1 22 6 4 1 8 276 6 11 2 18 1 1 3 33 4 8 2 3 1 1 101 347 29 8 131 6 16 10 1 11 12 1 10 1 44 152 51 3 1 8 125 53 63 37 4 1 1 95 2 3 2 1 2 9 23 15 1 1 5 31 15 22 8 2 1 1 20 1 1 1 1 1 Registros 820 212 1 3 69 8 18 1 7 5 8 1 1 37 401 382 74 42 68 84 71 1 37 429 48 1 12 1 3 286 413 1 44 19 1 2 12 5 7 1 2 2 6 1 1 6 31 35 14 8 17 11 15 1 10 41 12 1 9 1 2 19 33 1 18 139 4 75 29 41 29 11 3 44 2 2 19 5 3 1 2 11 27 3 21 9 12 9 5 1 8 2 2 12 3 2 1 1 4 2 93 Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Pheidole sp.1 Pheidole sp.2 Pheidole sp.3 Pheidole sp.4 Pheidole sp.5 Pheidole sp.6 Pheidole sp.7 Pheidole sp.8 Pheidole sp.9 Pheidole sp.10 Rogeria sp.1 Rogeria sp.2 Rogeria sp.3 Sericomyrmex sp. Solenopsis sp.1 Solenopsis sp.2 Solenopsis sp.3 Solenopsis sp.4 Solenopsis sp.5 Solenopsis sp.6 Solenopsis sp.7 Solenopsis sp.8 Strumigenys sp.1 Strumigenys sp.2 Strumigenys sp.3 Strumigenys sp.4 Strumigenys sp.5 Strumigenys sp.6 Trachymyrmex sp. Wasmannia auropunctata (Roger, 1863) Wasmannia cf rochai Wasmannia cf scrobifera Subfamília Ponerinae Anochetus mayri Hypoponera sp.1 Hypoponera sp.2 Hypoponera sp.3 Hypoponera sp.4 Hypoponera sp.5 Hypoponera sp.6 Hypoponera sp.7 Hypoponera sp.8 Hypoponera sp.9 Hypoponera sp.10 Odontomachus chelifer (Latreille, 1802) Odontomachus meinerti Forel, 1905 Pachycondyla harpax (Fabricius, 1804) Pachycondyla lunaris (Emery, 1896) Pachycondyla striata Fr. Smith, 1858 Thaumatomyrmex sp. Subfamília Proceratiinae Discothyrea sp. Abundância Cadernos UniFOA Grupo Taxonômico 94 Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 FIGURA 1: Curva de acumulação de espécies de formigas de serapilheira para a Reserva Florestal da Vista Chinesa, Rio de Janeiro, RJ, Brasil (fev/2004). A riqueza (S) observada foi calculada pelo método Mao Tau e a estimada pelo método Chao2; ambas com 100 aleatorizações. FIGURA 2: Distribuição da abundância de espécies de formigas de serapilheira na Reserva Florestal da Vista Chinesa, Rio de Janeiro, RJ, Brasil (fev/2004). Endereço para Correspondência: André Barbosa Vargas [email protected] Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA Campus Olezio Galotti, Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, 1325 - Três Poços. CEP: 27240-560 Volta Redonda, RJ – Brasil. 95 Stent Multicamadas - uma nova alternativa no tratamento de Aneurismas. Revisão de Literatura Stent Multilayer - a new alternative in the treatment of Aneurysms. Literature Review Augusto Frederico Martins Lopes Oliveira 1 Gabriel Costa Miziara 1 Lívia Gomes de Oliveira Garani 2 Marcela Sousa Cruz de Oliveira 3 Rodrigo Leal de Jesus Alves 3 ISSN 1809-9475 Artigo Original Original Paper Recebido em 10/2012 Aorta Reconstrução Endoluminal Abstract The objective of this study is to demonstrate the emergence of a new safe and effective alternative for the endovascular treatment of aneurysms via 3D Multilayer Stent, which has multiple layers of braided cobalt alloy, giving a 3D geometric structure, because unlike the conventional treatment of embolization coils or by exclusion grafts, stent Multilayer reduces the speed and pressure of blood flow within the aneurysm sac, while maintaining the flow to collaterals, with this implementation the probability of rupture of the aneurysm sac becomes minimum. Studies support the efficacy and safety of its implantation in aortic aneurysms, peripheral and visceral, and the retraction of the aneurysm occurs in the months following implantation of Multilayer Stent, when compared to traditional treatment is a reduction of complications and mortality. This therapeutic option appears as a very promising breakthrough for the endovascular treatment of aneurysms. 1 Acadêmicos do curso de Medicina da Universidade Gama Filho - RJ 2 Acadêmica do curso de Medicina da Universidade Severino Sombra - RJ 3 Acadêmicos do curso de Medicina do Centro Universitário de Volta Redonda - RJ Keywords Aneurysm Aorta Endoluminal Repair Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Aneurisma Resumo O objetivo deste estudo é demonstrar o surgimento de uma nova alternativa segura e eficaz no tratamento endovascular dos aneurismas através do Stent Multicamadas 3D, que possui múltiplas camadas trançadas de liga de cobalto, dando uma estrutura geométrica em 3D, pois, ao contrário do tratamento convencional de embolização de bobinas ou exclusão pelos enxertos, o Stent Multicamadas reduz a velocidade e a pressão do fluxo sanguíneo dentro do saco aneurismático ao mesmo tempo em que mantém o fluxo para as artérias colaterais, com essa implantação, a probabilidade de ruptura do saco do aneurisma se torna mínima. Estudos corroboram a eficácia e a segurança de sua implantação nos aneurismas aórticos, viscerais e periféricos, além de ocorrer a retração do aneurisma nos meses seguintes à implantação do Stent Multicamadas, sendo assim, quando comparado ao tratamento tradicional, ocorre uma redução das complicações e das mortalidades. Essa opção terapêutica surge como um avanço bastante promissor para o tratamento endovascular dos aneurismas. Cadernos UniFOA Palavras-chave Aprovado em 04/2013 Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 96 1. Introdução Um aneurisma ocorre quando há uma dilatação na parede da artéria de, pelo menos, 50% maior que seu diâmetro normal. Tradicionalmente, considera-se a aterosclerose como causa primária em 90% dos casos. Os aneurismas das artérias viscerais são aqueles aneurismas intra-abdominais que afetam a artéria celíaca, as artérias mesentéricas superior e inferior e as artérias renais e seus ramos[12]. Os aneurismas periféricos são poucos comuns, porém, quando surgem, podem trazer consequências graves ao paciente, como no caso de aneurismas de artérias poplíteas que se destacam pela maioria dos casos periféricos. Tem como complicação, a amputação do membro, devido à trombose ou embolia[2]. A prevalência de aneurisma de artéria aorta torácica está crescendo, tendo atenção especial também dos cardiologistas, visto que traz complicações de valva aórtica, pois causa refluxo sanguíneo para o ventrículo esquerdo quando a válvula se fecha, caracterizando uma insuficiência aórtica[3].A maior incidência de aneurismas está na aorta abdominal, pois é comum surgir em hipertensos e tabagistas; possui grande chance de ruptura, pois se trata de um aneurisma assintomático, talvez este seja o motivo da alta taxa de mortalidade em relação aos outros aneurismas[12]. Estudos promissores indicam uma nova linha terapêutica para o tratamento endovascular de aneurisma aórticos, periféricos e viscerais, trata-se do Stent Multilayer 3D Cardiatis, sua plataforma tecnológica se baseia na técnica de múltiplas camadas de ligas de cobalto trançadas desenvolvendo nos stents estruturas geométricas tridimensionais espacias[4]. A estrutura do Stent Multilayer, em virtude de sua geometria 3D, confere ao stent alta resistência e flexibilidade, sendo que sua principal vantagem está no fato de modular o fluxo hemodinâmico dentro do aneurisma, pois reduz a velocidade no vórtex do mesmo, com isso, forma-se um trombo organizado e estável, mantendo o fluxo laminar na artéria principal e preservando os ramos colaterais e distais [2]. Ao ocorrer um fluxo laminar e lento dentro do saco aneurismático, reduz-se a probabilididade de ruptura e há retração do aneurisma ao longo do tratamento, ao mesmo tempo que assegura perfusão sanguínea para as artérias colaterais e distais, isso torna o Stent Multilayer uma evolução terapêutica no tratamento endovascular dos aneurismas. Países como Bélgica, Grécia, Alemanha, França e Itália demostraram por relatos de casos a eficiência e segurança do uso do Stent Multilayer[5], portanto, foi constatado, através desta revisão bibliográfica, que o Stent Multilayer surge como alternativa segura e de excelentes resultados nos casos de aneurismas aórticos, periféricos e viscerais[13]. 2. Métodos Trata-se de uma revisão de literatura, realizada por meio de levantamento de artigos científicos, publicados entre os anos de 2007 e 2012. As buscas bibliográficas foram realizadas através de banco de dados eletrônicos internacionais, como a Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), National Library of Medicine (MEDLINE), Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) e na biblioteca virtual Pubmed. As palavras-chave utilizadas para a busca dos artigos foram às seguintes: Aneurismas; Stent Multilayer 3D Cardiatis; Tratamento Endovascular; Efeitos Hemodinâmicos. Os critérios de inclusão dos artigos foram aqueles em que usaram o Stent Multilayer para o tratamento endovascular dos aneurismas e os seus respectivos prognósticos. Os artigos selecionados foram publicados em periódicos internacionais e no idioma inglês. 3. Resultados 97 TABELA 1 Estudos científicos relatados. Número de Casos Sucesso Técnico Sucesso Clínico [1] Balderi et al. (2010) Itália Relato de caso 1 100% 100% [2] Carrafiello et al. (2011) Itália Relato de caso 1 100% 100% [3]Ferrero et al. (2010) Itália Relato de caso 2 100% 100% [4] Henry et al. (2010) Bélgica, França e Grécia Série 30 100% 100% [5] Henry et al. (2008) França Relato de caso 1 100% 100% [6] Meyer et al. (2010) Alemanha Relato de caso 1 100% 100% [7] Polydorou et al. (2010) Grécia Relato de caso 19 100% 100% [8] Polydorou (2007) Grécia Relato de caso 1 100% 100% [9] Polydorou (2007) Grécia Relato de caso 1 100% 100% [10] Rabbia (2010) Itália Série 45 100% 100% [11] Ruffino et al. (2010) Itália Série 52 92.3% 94.1% TOTAL 4. Discussão A principal vantagem da plataforma tecnológia das multicamadas reside no fato de tornar possível modular o fluxo hemodinâmico dentro do segmento arterial acometido[11]. O design do Stent Multilayer, em virtude de sua geometria 3D, reduz a velocidade do fluxo dentro do vórtex do aneurisma, melhorando o fluxo laminar na artéria principal e nas colaterias. Isso permite a redução da pressão dentro do saco aneurismático, reduz também a estase e a formação de um trombo organizado[11]. Balderi et al.[1] relata o caso de um paciente, do sexo masculino, de 74 anos de idade, com aneurisma de artéria hepática de 85mm de diâmetro, originário da artéria hepática comum, envolvendo até a artéria gastroduodenal. Por causa do risco de ruptura espontânea do aneurisma foi utilizada a angiografia por subtração digital, já no pós-operatório imediato, pode-se observar uma formação inicial de trombos organizados, isso levou à redução do fluxo turbulento dentro do saco aneurismático e manteve o fluxo para os ramos colaterais e para as artérias esplênicas, hepáticas direita e esquerda e gastroduodenal. Após seis meses, houve completa redução do aneurisma e os ramos mantiveram perfundidos. - 154 Já Carrafielo et al.[2] relata o caso de um paciente do sexo masculino de 60 anos de idade, com aneurisma de tronco celíaco, que foi tratado com Stent Multilayer com objetivo de preservar os ramos colaterais do aneurisma. Sucesso clínico foi obtido em aproximadamente seis meses, e a confirmação ocorreu após doze meses, com trombose completa do saco aneurismático sem comprometer ramos e a perfusão regular do fígado e baço. Ferrero et al.[3], relatam o caso de dois pacientes do sexo masculino, um de 71 anos e o outro de 73 anos de idade, ambos com aneurisma de artéria hepática (34 mm e 48 mm de diâmetro respectivamente). Imediatamente, no pós-operatório, demonstrou formação inicial de um trombo com redução do fluxo dentro do saco aneurismático e perfusão para os ramos colaterais. Com seis meses após a colocação do Stent Multilayer, ocorreu trombose completa do aneurisma e perfusão contínua para os ramos colaterais, em seguida, após doze meses, foi realizada outra avaliação que confirmou o sucesso clínico no tratamento do aneurisma. O primeiro paciente teve alta em três dias e o segundo em dois dias. Ferrero et al.[3] relatam ainda que as limitações deste novo stent são determinadas pelo fato de que não pode ser usado em casos de emergência, como em Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Tipo de estudo Cadernos UniFOA Autoria e País Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 98 uma ruptura de aneurisma de artéria visceral porque não é um stent recoberto. Além disso, o posicionamento do dispositivo requer um apoio que ainda hoje é grande no tamanho. Finalmente, as dificuldades de canulação do vaso alvo podem ocorrer devido à anatomia do vaso, a pouca flexibilidade dos materiais e da necessidade de usar guias bastante rígidos para a liberação do stent. Henry et al.[4] relata uma série de 30 pacientes, sendo 22 de aneurismas periféricos (Ilíaca: 14; Femoral: 1; Poplíteo: 2 ; Renal: 4; Mesentérica: 1); 6 de aneurismas torácicos e 2 de aneurismas abdominais. O sucesso técnico foi obtido em todos os pacientes. Para os aneurismas periféricos ocorreu a exclusão e o fluxo permaneceu para as artérias colaterais, em relação aos aneurismas tóraco-abdominais, todos mantiveram o fluxo para as colaterais, sendo que a total exclusão necessitaria de um período de 06, 12 e 30 meses de pós operatório respectivamente, para aneurismas periféricos, torácicos e abdominais, para confirmar a total exclusão do aneurisma. Henry et al.[5] relata o caso de um paciente do sexo masculino, 78 anos de idade, com múltiplas comorbidades, apresentando aneurisma sacular de artéria renal direita com 30 mm de diâmetro, que foi submetido ao tratamento endovascular com o Stent Multilayer e imediatamente após a colocação do stent houve redução do fluxo turbulento no saco aneurismático e perfusão sanguínea para as artérias colaterais. Após seis meses, o paciente apresentou completa exclusão do aneurisma e com contínuo fluxo para as colaterais e alta hospitalar no dia seguinte. Henry et al. escrevem ainda que o mecanismo pelo qual o Stent Multilayer pode causar a absorção do aneurisma se deve a hemodinâmica dentro do saco. Para um aneurisma sem colaterais, o sangue flui para dentro do saco, gerando um vórtex, uma após a outra, todas ao longo da parede do aneurisma, à medida que estes progressos geram perturbações de fluxo, tornam-se mais fortes e estes movimentos contínuos induzem o estresse na parede arterial. Quando o Stent Multilayer é colocado na frente do colo do aneurisma, a geometria 3D reduz a velocidade do fluxo dentro do vórtex do saco aneurismático, melhorando o fluxo laminar na artéria principal e nos ramos colaterais. Meyer et al.[6] relatam o caso de um paciente do sexo masculino, 74 anos de idade, com aneurisma de artéria renal esquerda de 26mm de diâmetro que tratado com Stent Multilayer, imediatamente após a colocação do stent, apresentou diminuição do fluxo turbulento dentro do aneurisma, e a angiografia, obtida após 20 minutos à colocação do stent, demonstrou uma completa exclusão do fluxo turbulento no aneurisma e a perfusão preservada para as artérias colaterais. Cinco meses após da implantação do Stent Multilayer, o paciente mostrou exclusão do saco aneurismático e, sem sinais de infarto renal, o paciente teve alta hospitalar no dia seguinte. Polydorou et al.[7] relatou 19 pacientes com aneurismas, sendo 4 de artérias renais, 15 de artérias ilíacas, 1 artéria poplítea, 1 artéria aorta torácica e 1 de artéria aorta abdominal. Foi obtido o sucesso técnico em todos os casos . A taxa de exclusão dos aneurismas periféricos foi de 100% e todos os ramos colaterais com perfusão. Para os aneurismas de tórax e abdômen, a angiografia, realizada após três meses, mostrou redução do fluxo sanguíneo no interior do saco aneurismático e perfusão mantida para os ramos colaterais, porém, concluiu-se que havia necessidade um tempo maior para excluir completamente os aneurismas de artérias de maior calibre, como aorta torácica e abdominal. O autor descreve ainda que isso se deve ao número e o tamanho dos ramos dentro do aneurisma, bem como o tamanho do vaso alvo em si. Polydorou et al.[8] relata o caso uma paciente, de 78 anos de idade, do sexo feminino, com aneurisma de artéria poplítea direita, com 5 mm de diâmetro. Após a colocação do Stent Multilayer com sucesso técnico de 100%, houve uma redução do fluxo turbulento dentro do aneurisma. Dois meses após, foi realizado uma angiografia, revelando um trombo organizado dentro do aneurisma ao mesmo tempo em que se observava a redução do fluxo turbulento. Sete meses após, outra angiografia mostrou exclusão completa do aneurisma e sem alteração na perfusão dos ramos colaterais. Polydorou et al.[9] relata o caso de uma paciente do sexo feminino, de 78 anos de idade, com aneurisma sacular de artéria renal direita de 30 mm de diâmetro. No pós-operatório, a angiografia mostrou redução da velocidade do Através desta revisão, podemos concluir que o novo Stent Multilayer surge como uma alternativa segura e eficaz no tratamento endovascular dos aneurismas. O sucesso técnico aliado ao clínico faz com que ocorra a exclusão dos aneurismas pela formação de um trombo organizado, enfatizando que aneurismas de vasos de maior calibre levam um tempo maior para serem excluídos em relação aos de pequeno calibre e ao mesmo tempo em que mantém a perfusão sanguínea para os ramos colaterais. Sem dúvida, os resultados obtidos na utilização 99 6. Referências 1. BALDERI, A.; ANTONIETTI, A.; PEDRAZZINI, F. et al. Treatment of a Hepatic Artery Aneurysm by Endovascular Exclusion Using the Multilayer Cardiatis Stent. Cardiovascular and interventional Radiology, v. 33, n. 6, p. 1282-1286, 2010. 2. CARRAFIELLO, G.; RIVOLTA, N.; ANNONI, M. et al. Endovascular Repair of a Celiac Trunk Aneurysm with a new Multilayer Stent. Disponível em < http:// www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21684712>. Acessado em 23 jul. 2012. 3. FERRERO, E.; FERRI, M.; VIAZZO, A.; et al. Endovascular Treatment of Hepatic Artery Aneurysm by Multilayer Stent: Two Cases and one- year follow-up. Interactive Cardiovascular and Thoracic Surgery, doi: 10,1510/icvts, 2011, 280842, 2011. 4. HENRY, M.; HUGEL, M.; BENJELLOUN, A. et al. A new Concept of Stent: the Multilayer Stent. First Human Study in arterial Aneurysms. Disponível em <http://content.onlinejacc. org/cgi/reprint/56/13_MeetingAbstracts/ B93. pdf>. Acessado em 20 Jun. 2012. 5. HENRY, M.; POLYDOROU, A.; FRID, N. et al. Treatment of Renal Artery Aneurysm With the Multilayer Stent. Journal of Endovascular Therapy, v. 15, n. 2, p. 231-236, 2008. 6. MEYER, C.; VERREL, F.; WEYER, G.; WILHELM, K. Endovascular Management of Complex Renal Artery Aneurysm using Multilayer Stent. Cardiovascular and Interventional Radiology, v. 34, n. 3, p. 637-641, 2011. Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 5. Conclusão do Stent Multilayer foram superiores ao tratamento convencional. Serão necessários, ainda, mais estudos para que se possa afirmar que o Stent Multilayer é a evolução definitiva para o tratamento endovascular dos aneurismas, porém, é bastante promissor para o futuro. Conflitos de interesses: Nenhum e não houve qualquer auxílio por parte do fabricante da endoprótese. Cadernos UniFOA fluxo dentro do saco aneurismático e perfusão para os ramos colaterais. Três meses após, a angiografia mostrou completa exclusão do aneurisma bem como os ramos colaterais preservados. Paciente teve alta hospitalar no dia seguinte. Rabbia et al.[10] descreve uma série de estudos que foram realizadas em centros de estudos na Itália, o relato foi feito com 45 pacientes entre aneurismas periféricos e viscerais. A taxa de sucesso foi avaliada em 30 dias, 3 meses e 6 meses, respectivamente, com isso o sucesso obtido em 30 dias foi de 88,9% (40/45), em 3 meses foi de 93.3% (28/30) e em 6 meses chegou 100% (16/16). Ao final do estudo preliminar ficou firmada a eficácia da utilização do Stent Multilayer no tratamento endovascular dos aneurismas realizada neste estudo. Ruffino et al.[11] relatam uma série de 52 pacientes com aneurismas, sendo 36 periféricos e 16 viscerais, tratados em 32 centros clínicos da Itália. Dos 52 pacientes, 39 tinham ramos colaterais mal perfundidos. O sucesso técnico foi alcançado no intraoperatório em 48 pacientes (92.3%). O sucesso clínico foi obtido naqueles pacientes em que houve a formação de trombo organizado dentro do aneurisma, perfusão contínua para os ramos colaterais e a exclusão do aneurisma, a avaliação angiográfica foi programada para três fases, sendo após 30 dias, 3 meses e 6 meses, respectivamente, e obtiveram os seguintes resultados, em 30 dias: 91.6% (44/48), em 3 meses: 93.3% (24/26) e em 6 meses: 94.1% (16/17). Portanto, conclui-se que ao longo de 6 meses os resultados são ainda melhores se comparado ao tratamento convencional. 100 7. POLYDOROU, A.; HENRY, M.; BELLENIS, I. et al. Endovascular Treatment of Aneurysm With Side Branches - A Simple Method. Myth or Reality? Hospital Chronicles, v. 5, n. 2, p. 88-95, 2010. 8. POLYDOROU, A. Treatment of Popliteal Aneurysm with FluidSmart 3D Multilayer Stent System. Disponível em < http://www.cardiatis. com/images/stories/info/popliteal-aneurysmcase.pdf> Acessado em 20 Jan. 2012. 9. POLYDOROU, A. Treatment of Renal Artery Branched Saccular Aneurysm with Fluid Smart 3D Multilayer Stent. Disponível em < http://www.cardiatis. com/images/stories/info/renal-aneurysmcase.pdf> Acessado em 20 Jan. 2012. Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 10. RABBIA, C. Experience With The Use of the Multilayer Stent for the treatment of Peripheral and Visceral Aneurysms. Disponível em < http://www.veithpress.org/pdf/vei/3724.pdf> Acessado em 23 Nov. 2011. 11. RUFFINO, M.; MURATORE, P.; MANCINI, A. et al. Endovascular Peripheral and Visceral Aneurysm Repair With Cardiatis Multilayer Stent: Italian Multicenter Preliminary Experience. Disponível em < http://content.onlinejacc. org/cgi/reprint/56/13_MeetingAbstracts/ B93.pdf> Acessado em 20 Jan. 2012. 12. SABISTON JUNIOR, D. C.; TOWNSEND, C. M.; BEAUCHAMP, R. D.; EVERS, B. M.; MATTOX, K. L. Sabiston tratado de cirurgia: a base biológica da prática cirúrgica moderna, v. 2. 18. ed. Rio de Janeiro: Saunders Elsevier, 2010. 13. WAILLIEZ, C.; COUSSEMENT, G. CFD study of multilayer stent haemodynamics effects in abdominl aortic aneurysms. Disponível em < http://www.cardiatis. com/images/stories/info/fluid-19(105)_c. wailliez_g.coussement_fpms.pdf> Acessado em 03 Set. 2012. Endereço para Correspondência: Augusto Frederico Martins Lopes Oliveira [email protected] Rua 41, 360 - Vila Santa Cecília Volta Redonda - RJ. CEP: 27253-070 9 Editorial O periódico Cadernos UniFOA é um veículo de divulgação de pesquisas em Ciência e Tecnologia do Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA), que tem como objetivo primordial, divulgar para a comunidade científica resultados de pesquisas realizadas dentro e fora da Instituição que, de alguma forma, contribuam para o desenvolvimento das diversas áreas do conhecimento científico. O Cadernos UniFOA tem trabalhado para que, cada vez mais, a qualidade dos artigos publicados esteja em primeiro lugar, incentivando autores internos e externos à Instituição a divulgarem os resultados de suas pesquisas por meio deste periódico. É com enorme satisfação que apresento a Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas, de maio de 2013, do Cadernos UniFOA. Nesta edição, são apresentados dez artigos originais de grande relevância científica, todos contendo dados inéditos, ou na forma de artigos de revisão. Em nome de todo o Corpo Editorial do Cadernos UniFOA, agradeço a todos que, de alguma forma, colaboraram para a elaboração, revisão e edição dos artigos que compõe esta edição especial. Prof. Dr. André Resende de Senna Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Editor da Área de Ciências da Saúde e Biológicas 11 Ação da giberelina no crescimento de pimenta (Capsicum frutescens) Effects of the action of gibberellin in the initial growth of pepper plants (Capsicum frutescens) ISSN 1809-9475 Artigo Original Rafaela Cinigalha Torres1 Kelly Carla Almeida de Souza Borges2 Original Paper Ácido giberélico Pimenta Abstract The present work was aimed at evaluating the effects of the action of gibberellin in the initial growth of pepper plants (Capsicum frutescens) below foliar spray at different concentrations of plant regulator. The experiment was conducted at the Laboratory of Biotechnology UniFOA. The seeds of Capsicum frutescens were sown in fertilized soil substrate in black polyethylene bags (10cm x 20cm) with a capacity of 1000ml. Four treatments were performed (Table 1) with the plant regulator gibberellin concentrations 25mg / L (T1), 50 mg / L (T2) and 100 mg / L (T3), and the control in the absence of the regulator (T4), being three replications with ten seeds in each. The sprayings made with bioregulators gibberellin provided significant growth in shoots of Capsicum frutescens, where best results were associated with GA3 dosage of 50 mg / l (T2), allowing to reach the 30 days after germination, the average values of 15 cm height and about 7 leaves per plant. However, no influence of gibberellin in root growth. 1 Discente do Curso de Ciências Biológicas - UniFOA 2 Professora Mestra do Curso de Ciências Biológicas - UniFOA Recebido em 03/2012 Aprovado em 04/2013 Keywords Growth Gibberellic acid Pepper Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Crescimento Resumo O presente trabalho teve como objetivo avaliar os efeitos da ação da giberelina no crescimento inicial de plantas de pimenta (Capsicum frutescens) sob pulverização foliar, em diferentes concentrações desse fitorregulador. O experimento foi realizado no Laboratório de Biotecnologia do UniFOA. As sementes de Capsicum frutescens foram semeadas no substrato terra adubada em sacos de polietileno preto (10cm x 20cm) com capacidade de 1000ml. Foram realizados quatro tratamentos (Tabela 1) com o fitorregulador giberelina nas concentrações 25mg/L (T1), 50 mg/L (T2) e 100 mg/L (T3), além do controle na ausência do regulador (T4), sendo três repetições com dez sementes em cada. As pulverizações realizadas com o biorregulador giberelina proporcionaram crescimento significativo na parte aérea de Capsicum frutescens, onde os melhores resultados estiveram associados à dosagem de GA3 50 mg/l (T2), permitindo atingir, aos 30 dias após a germinação, os valores médios de 15 cm de altura e cerca de 7 folhas por planta. No entanto, não houve influência da giberelina no crescimento de raiz. Cadernos UniFOA Palavras-chave Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 12 1. Introdução A pimenta (Capsicum frutescens) tem origem no continente americano e pertence à família Solanaceae. Apresenta caule ramificado, ereto e folhas lanceoladas, verdes e brilhantes, com nervuras bem marcadas, as flores são brancas ou arroxeadas, o fruto é do tipo baga, de forma cônica, alongada e cor verde ou vermelha, com 8 a 12 cm de comprimento e 1 a 2 cm de diâmetro (CARVALHO; BIANCHETTI, 2004). O mercado para as pimentas pode ser dividido em dois grandes grupos: o consumo in natura e as formas processadas, através de molhos, conservas, flocos desidratados e pó como ingrediente de alimentos processados (LOPES, et al., 2007). A pimenta (Capsicum spp) é uma especiaria bastante apreciada pela sua pungência, flavor e como conservante alimentar, assim como por suas propriedades fisiológicas e farmacêuticas, devido à presença de determinados componentes como a capsaicina e a dihidrocapsaicina (CISNEROS-PINEDA, et al, 2007). Alguns estudos têm apontado que as pimentas também são boas fontes de antioxidantes alimentares, como vitamina C, vitamina E, carotenóides e compostos fenólicos (REIFSCHNEIDER, 2000). O fruto é usado popularmente no combate a diversas doenças, como nas inflamações na garganta, diarréia, dilatador capilar, expectorante, para diminuir o broncoespasmo e na obstrução da passagem de ar pulmonar induzido pela histamina (PIRES et al., 2004). No entanto, devido ao interesse por essas atividades medicinais, alimentícias e nos benefícios promovidos por ela, existe a necessidade de um aumento e melhora na produção de pimenta visando melhorar qualitativa e quantitativamente a produtividade das culturas, e isso pode ser feito com a aplicação de fitorreguladores (VIEIRA; CASTRO, 2004). Dentre os diversos grupos de fitorreguladores está a giberelina (ácido giberélico) que age de forma expressiva na germinação de sementes, tanto na quebra de dormência quanto no controle da hidrólise de reserva (TAIZ; ZEIGER, 2004). As giberelinas têm apresentado resultados favoráveis no aumento do número e o comprimento das células em várias espécies vegetais e tem sido utilizada para modificar o crescimento e desenvolvimento de plantas, além de funcionar como regulador da divisão e alongamento das células (RODRIGUES; LEITE, 2004). A aplicação exógena da giberelina provoca o crescimento foliar e alongamento do caule (MODESTO et al.,1996). Também apresenta efeitos sobre a parede celular, promove o alongamento dos entrenós em várias espécies, pois o alvo da ação das giberelinas é o meristema intercalar, o qual está localizado próximo à base do entrenó (TAIZ; ZEIGER, 2008). Sendo assim, o presente trabalho teve como objetivo avaliar o efeito da giberelina no crescimento das plantas de pimenta (Capsicum frutescens) no cultivo in vivo. 2. Material e Métodos O experimento foi realizado no Centro Universitário de Volta Redonda, no Laboratório de Biotecnologia, entre os meses de maio a outubro de 2012. As sementes de Capsicum frutescens foram semeadas no substrato terra adubada em sacos de polietileno preto (10cm x 20cm) com capacidade de 1000ml. Foram realizados quatro tratamentos (Tabela 1) com o fitorregulador giberelina nas concentrações 25mg/L (T1), 50 mg/L (T2) e 100 mg/L (T3), além do controle na ausência do regulador (T4), sendo três repetições com dez sementes em cada. 2.1. Aplicação do regulador de crescimento Ao completarem 20 dias, as plantas foram submetidas à aplicação de giberelina uma vez ao dia, a cada dois dias, entre 6 e 7h da manhã com auxílio de borrifador manual com capacidade de 100ml, totalizando quatro pulverizações foliares durante 10 dias. No trigésimo dia após a germinação foi realizada a análise de crescimento para avaliar o efeito do fitorregulador sobre as plantas. 3. Resultados e Discussão As sementes de pimenta (Capsicum frutescens) germinaram no substrato terra vegetal apresentando 90 % de germinação aos 11 dias. Os parâmetros avaliados apontaram que houve influência do fitorregulador giberelina no crescimento de Capsicum frutescens aos 30 dias de cultivo, momento em que a análise de crescimento foi realizada com diferença significativa entre os tratamentos na análise da altura e número de folhas. O ácido giberélico, em todas as concentrações testadas, promoveu um aumento na altura de plantas. Porém, os melhores resultados foram obtidos a partir da aplicação das maiores concentrações de giberelina, sendo cerca de 15 cm de comprimento na presença do T2 (50mg/L) e 14 cm no T3 (100 mg/L), ambos diferindo dos demais tratamentos em que a concentração do fitorregulador foi menor (T1 = 25mg/L: 13cm) ou ausente (T4 = 0 mg/L – controle: 9 cm). Para o número de folhas, os resultados evidenciaram efeito significativo em função das doses de giberelina aplicadas via pulverização foliar. Verificou-se que o maior valor obtido, aos 30 dias de cultivo, foi de 7,78 folhas por planta para a concentração de 50 mg/L de giberelina que corresponde ao tratamento T2. Contudo, a maior concentração de giberelina (T3=100mg/L com 6,52 folhas), apesar de ter produzido maior número de folhas que T1 (25mg/L com 6,21 folhas) e T4 (0 mg/L com 6,15 folhas), não diferiu estatisticamente desses tratamentos, exibindo diferença significativa apenas de T2 com 95% de probabilidade. 13 Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 A análise de crescimento foi semanal e aos 30 dias após a germinação foram avaliados os seguintes parâmetros: tempo de germinação, altura, número de folhas, presença de raiz e comprimento de raiz. Os resultados obtidos foram submetidos ao programa “Statgraphics” para a realização da análise de variância (teste F) e as médias dos tratamentos comparadas pelo teste Tukey, utilizando-se o nível de 5% de significância. Como pode ser observado na figura 1, a pulverização foliar com giberelina promoveu aumento expressivo na parte aérea de plantas de pimenta (Capsicum frutescens) aos 30 dias de cultivo. No entanto, não foi significativa para o crescimento de raiz (tabela 2). Estes resultados confirmam o papel ativo da giberelina na divisão celular e no alongamento da planta (HIGASHI et al., 2002), que promove a extensibilidade da parede da célula (RAVEN et al., 2001). Agem também no desenvolvimento reprodutivo afetando a transição do estado juvenil para o maduro, bem como a indução da floração, determinação do sexo e o estabelecimento do fruto (TAIZ; ZEIGER, 2004). Esse regulador age durante todo ciclo das plantas, desde a germinação até o crescimento da semente e pericarpo, além disso, são mediadoras dos estímulos ambientais e, portanto, a biossíntese desse hormônio é de fundamental importância para desenvolvimento das plantas e sua adaptação ao ambiente (RODRIGUES; LEITE, 2004). O efeito positivo do ácido giberélico sobre crescimento de plantas tem sido relatado por vários autores, especialmente quando aplicado durante o desenvolvimento inicial das plantas (COELHO et al, 1983; MODESTO et al, 1996; LEITE et al, 2003; LEONEL; PEDROSO, 2005). Em maracujazeiro-doce, as aplicações com giberelina através de pulverizações foliares nas concentrações 0, 100, 200, 300 e 400 mg/L resultou na aceleração do crescimento das plantas, e a aplicação de 300 mg/L apresentou maiores valores para altura média do caule e no número de folhas deferindo estatisticamente dos demais (LEONEL; PEDROSO, 2005). A aplicação em soja, via foliar, de 100mg/L de giberelina permitiu a obtenção de aumento significativo na altura das plantas, altura do primeiro nó e diâmetro do caule (LEITE et al, 2003). Para o comprimento de raiz, os resultados demonstraram não haver diferença significativa entre os tratamentos, pois os valores obtidos no tratamento controle (T4 = 0mg/L com 2,42cm de raiz), marcado pela ausência de giberelina, foram semelhantes aos encontrados nas plantas que foram submetidas às aplicações com este fitorregulador. Cadernos UniFOA 2.2. Análise de crescimento 14 Estes resultados para raiz corroboram com o fato da giberelina influenciar de forma pouco acentuada no crescimento da raiz (TAIZ; ZEIGER, 2009). Além disso, o efeito da giberelina no crescimento da raiz é indireto em função da sua ação no crescimento da parte aérea (LEITE, 2003). 4. Conclusão As pulverizações realizadas com o biorregulador giberelina proporcionaram crescimento significativo na parte aérea de Capsicum frutescens, onde os melhores resultados estiveram associados à dosagem de 50 mg/l (T2), permitindo atingir, aos 30 dias após a germinação, os valores médios de 15 cm de altura e cerca de 7 folhas por planta. No entanto, não houve influência da giberelina no crescimento de raiz. J.O.A.; KLUGE, R.A. Introdução à fisiologia do desenvolvimento vegetal. Maringá: Eduem. cap. 9, 2002, p. 139 -158. 5. LEITE, V.M.; ROSOLEM, C.A.; RODRIGUES, J.D. Gibberellin and cytokinin effects on soybean growth. Scientia Agrícola, Piracicaba, v. 60, n. 3, p. 537-541, 2003. 6. LEONEL, S.; PEDROSO, C.J. Produção de mudas de maracujazeiro-doce com uso de biorregulador. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.27, n.1, p. 107-109, 2005. 7. LOPES, C. A.; RIBEIRO, C. S. C.; CRUZ, D. M. R.; FRANÇA, F. H.; REIFSCHNEIDER, F. J. B.; HENZ, G. P.; SILVA, H. R.; PESSOA, H. S.; BIANETTI, L. B.; JUNQUEIRA N. V.; MAKISHIMA N.; FONTES R. R.; CARVALHO S. I. C.; MAROUELLI W. A.; PEREIRA W. Sistema de produção de pimentas (Capsicum spp): Botânica, importância econômica, colheita, consumo e comercialização. 2007. Embrapa Hortaliças, Sistema de Produção, 4 ISSN 1678. Versão eletrônica. Disponível em:<http: www. cnph.embrapa. br/sistprod/ pimenta /botanica.htm>. Acesso em 25 de outubro de 2012. 8. MODESTO, J.C., RODRIGUES, J. D., PINHO, S. Z. Efeito do ácido giberélico sobre o comprimento e diâmetro do caule de plântulas de limão ‘Cravo’ (Citrus limonia Osbeck). Scientia agrícola, Piracicaba, vol.53, n.2-3, 7- 12, 1996. 9. PIRES, P. A., MALVAR, D. C., BLANCO, L. C., VIGNOLI, T., CUNHA, A. F., VIEIRA,E.; DANTAS, T. N. C., MACIEL, M. A. M., CÔTES, W. S., VANDERLINDE, F. A. Estudo das atividades analgésicas do extrato metanólico da Capsicum frutescens –solanaceae (Pimenta Malagueta). Revista Universidade Rural. Série Ciências da Vida, v. 4, n. 2, jul.-dez., p. 129-134, 2004. Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 5. Referências 1. CARVALHO, S.I.C.; BIANCHETTI; L.B. 2004 Sistema de Produção de Pimentas (Capsicum spp.): Botânica. Embrapa Hortaliças, Sistemas de Produção. Disponível em http://www.cnph. embrapa.br/sistprod/pimenta/botanica.html <Acesso em 15 de outubro de 2012> 2. CISNEROS-PINEDA, O.; TORRES-TAPIA, L. W.; GUTIÉRREZ-PACHECO, L. C; CONTRERAS-MARTÍN F.; GONZÁLESESTRADA, T.; PERADA-SÁNCHEZ, S. R. Capsaicinoids quantification in chili peppers cultivated in the state of, Yucatan, Mexico. Food Chemistry. n.104, p. 1755-1760, 2007. 3. COELHO, Y.S.; OLIVEIRA, A.A.R.; CALDAS, R.C. Efeitos do ácido giberélico (GA3) no crescimento de porta-enxertos para citros. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 18, n. 11, p. 1229-1232, 1983. 4. HIGASHI, E.N.; SILVEIRA, R.L.V.A.; GOUVÊA, C. F.; BASSO, L.H. Ação fisiológica de hormônios vegetais na condição hídrica, metabolismo e nutrição mineral. In: CASTRO, P.R.C.; SENA, 10. RAVEN, P.H.; EVERT, R.F.; EICHHORN S.E. Regulando o crescimento e o desenvolvimento: os 12. RODRIGUES, T de J. D. , LEITE, I. C. Fisiologia vegetal – hormônios das plantas. Jaboticabal: Funep. 2004. 15 14. Taiz, L., Zeiger, E. Fisiologia Vegetal. Artmed, Porto Alegre, Brasil. 820p., 2008. 15. TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 4.ed. Artmed, Porto Alegre, Brasil. 819p., 2009. 16. VIEIRA, E.L.; CASTRO, P.R.C. Ação de bioestimulante na cultura da soja (Glycine max L. Merrill). Cosmópolis: Stoller do Brasil. 2004, 47p. Endereço para Correspondência: Rafaela Cinigalha Torres [email protected] Av. Paulo Erley Abrantes, 1325 Três Poços - Volta Redonda/RJ CEP: 27240-560 Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 11. REIFSCHNEIDER, F. J. B. (Org.) Capsicum: pimentas e pimentões no Brasil. Brasília: Embrapa Comunicação para Transferência de Tecnologia/ Embrapa Hortaliças. 113p, 2000. 13. TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 3.ed. Porto Alegre: Artmed, 719p, 2004. Cadernos UniFOA hormônios vegetais. In: RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. (Ed.). Biologia vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara Kogan. 2001, p. 649-674. 16 6. ANEXO Figura 1 - Plantas de Capsicum frutescens, aos 30 dias após a germinação, submetidas à aplicação dos tratamentos com giberelina. Comprimento da barra: 2cm Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Tabela 1 - Concentração do regulador vegetal aplicado no cultivo in vivo de pimenta (Capsicum frutescens) Tratamentos Concentração (mg/L) T1 25 T2 50 T3 100 T4 Sem regulador de crescimento Tabela 2: Ação da giberelina no crescimento de pimenta (Capsicum frutescens) aos 30 dias após a germinação Tratamentos Concentração Giberelina Altura (cm) Folha Raiz (cm) T1 25mg/L 13 b 6,21 b 2,26 a T2 50 mg/L 15,47 a 7,78 a 2,73 a T3 100 mg/L 14,89 a 6,52 b 2,42a T4 0mg/L 9c 6,15 b 2,42a Médias seguidas da mesma letra na mesma coluna não diferem estatisticamente entre si com 95% de confiança Avaliação da População Microbiana Presente no Interior do Corpo das Torneiras de uma UTI em um Hospital no Município de Volta Redonda. Evaluation of Microbial Population present inside the body taps in an ICU of a hospital in the city of Volta Redonda Tayane Cristine da Silva Corrêa1 Hellen Avelar Duarte2 Ester Albuquerque Lourenço3 Gabriel José Ribeiro3 Leoni Ferreira da Silva3 Jessica Rizkalla Correa Medeiros3 Nathália Cristinne Pereira de Souza3 Carlos Alberto Sanches Pereira4 17 ISSN 1809-9475 Artigo Original Original Paper Recebido em 09/2012 Bacilos gramnegativos não fermentadores Infecção relacionada à assistência em saúde Abstract The spread of infections related to health care (IRHC) often comes from crosscontamination. The most common way of transfer pathogens occurs between the hands of health professionals and patients. It is observed that the environmental contribution can be higher in intensive care units (ICU) and despite effort is being made to kill or prevent the growth of micro-organisms in the hospital, the hospital environment is an important reservoir for a variety of pathogens that present a great risk to hospitalized patients. This study aimed to evaluate the bacterial population present inside the body taps in an intensive care unit (ICU) of a hospital in the city of Volta Redonda, RJ. The samples were collected in 12 ICU taps and after isolation, the colonies were identified and subjected to antimicrobial susceptibility testing by the Vitek 2 system (BioMérieux ®). Eight taps had bacterial growth, and in three of them, there was a predominance of Enterococcus durans. 1 Graduada em Ciências Biológicas - Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA 2 Discente do Curso de Ciências Biológicas - Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA 3 Discente do Curso de Medicina - Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA 4 Docente do Curso de Ciências Biológicas - Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA Aprovado em 04/2013 Key-works Body of taps Non-fermenting gram negative bacilli Infection related to health care Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Corpo de torneiras Resumo A disseminação de infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS) frequentemente advém da contaminação cruzada. A via mais comum de transferência de patógenos ocorre entre as mãos de profissionais de saúde e pacientes. Observa-se que a participação ambiental pode ser maior nas unidades de terapia intensiva (UTI) e, embora todos os esforços sejam feitos para matar ou impedir o crescimento de micro-organismos no hospital, o ambiente hospitalar é um importante reservatório para uma variedade de patógenos que apresentam um risco intenso para os pacientes hospitalizados. O presente trabalho teve como objetivo avaliar a população bacteriana presente no interior do corpo das torneiras de uma unidade de terapia intensiva (UTI) de um hospital no município de Volta Redonda, RJ. As amostras foram coletadas em 12 torneiras de UTI e, após isoladas, as colônias foram identificadas e submetidas ao teste de susceptibilidade aos antimicrobianos pelo sistema Vitek 2 (BioMérieux ®). Oito torneiras apresentaram crescimento bacteriano, sendo que em três delas, houve predomínio da espécie Enterococcus durans. Cadernos UniFOA Palavra-chave Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 18 1. Introdução A disseminação de infecções relacionadas à assistência em saúde (IRAS) frequentemente advém da contaminação cruzada. A via mais comum de transferência de patógenos ocorre entre as mãos de profissionais de saúde e pacientes (OLIVEIRA, 2009). No entanto, o ambiente hospitalar pode contribuir para disseminação de patógenos. Geralmente o ambiente ocupado por pacientes colonizados e/ou infectados pode tornar-se contaminado. A presença de bactérias é comum em superfícies inanimadas e equipamentos (HUANG, 2006). Observa-se que a participação ambiental pode ser maior nas unidades de terapia intensiva (UTI) devido à gravidade e instabilidade do quadro clínico do paciente com necessidade de cuidados intensivos, somados a fatores como limpeza, desinfecção, estrutura física, quantidades de equipamentos e superfícies em determinadas unidades (PANIS, 2009). A disseminação das infecções associadas aos cuidados de saúde é complexa e multifatorial. Nesse sentido, a abordagem do ambiente na disseminação de bactérias visa contribuir para melhor compreensão das recomendações de controle das IRAS, definição de políticas de controle e aproximação dos profissionais de saúde com o tema (OLIVEIRA, 2009). Dentre os micro-organismos que podem ser encontrados nas IRAS, destacam-se os Bacilos Gram Negativos Não Fermentadores (BGNNF), membros da família Enterobacteriaceae, Staphylococcus spp., e Enterococcus spp. Essas bactérias podem sobreviver em condições adversas, sendo necessário apenas um local úmido para sua sobrevivência e viabilidade por vários meses. Tornam-se patogênicas ao entrarem no tecido do hospedeiro através da ruptura da barreira cutânea, a inoculação por agulhas na infusão intravenosa de soro, instalação de cateteres vasculares, urinários, neurocirúrgicos, entre outros (JULIET, 2002; ALMEIDA, 2004; SÁNCHEZ, 2006; D’AZEVEDO, 2008; LARANJEIRA et al., 2010;). A entrada desses micro-organismos no tecido hospedeiro faz com que uma gama de infecções possa ser desenvolvida. Geralmente, essas infecções estão associadas a pneumonias em pacientes com ventilação mecânica e bacteremias associadas a processos invasivos do cateter venoso central (DELIBERALI, 2011). Além disso, casos de endocardites infecciosas, meningite neonatal, endoftalmites, septicemia, peritonite, abscesso, tenossinovites e infecções de pele também podem estar associadas a esses tipos de micro-organismos (LLASAT, 2010; D’AZEVEDO, 2008; RIBOLDI, 2009). Embora todos os esforços sejam feitos para matar ou impedir o crescimento de micro-organismos no hospital, o ambiente hospitalar é um importante reservatório para uma variedade de patógenos, e certos membros da microbiota normal do corpo humano são oportunistas e apresentam um risco intenso para os pacientes hospitalizados (TORTORA, 2008). O presente trabalho teve como objetivo avaliar a população bacteriana presente no interior do corpo das torneiras de uma unidade de terapia intensiva (UTI) de um hospital no município de Volta Redonda, RJ. 2. Material e Métodos O presente trabalho foi desenvolvido no laboratório de Microbiologia do UniFOA e em um laboratório particular no município de Volta Redonda. 2.1. Coleta das amostras Foram coletadas amostras do interior do corpo de 12 torneiras de uma unidade de terapia intensiva (UTI) em um hospital da cidade de Volta Redonda. As amostras foram colhidas com swab estéril da parte superior da torneira retirando-se o aerador. O swab foi colocado no meio de transporte e encaminhado ao laboratório, onde foi processado. O meio escolhido para o transporte das amostras foi o Amies, pois nele oxigênio, superóxido e radicais livres são absorvidos e neutralizados por agentes desintoxicantes especialmente incorporados à fórmula do meio. Essa ação interrompe a oxidação, assegurando um ótimo desempenho para bactérias (SIMÕES, 2005). 2.2. Isolamento e identificação documento internacional M100S20 (CLSI 2012) pelo método de microdiluição conforme o equipamento de automação VITEK 2 (BioMérieux ®), cartão GN e GP (gram-negativo e gram-positivo respectivamente). Após a chegada ao laboratório, as amostras foram semeadas em placas de Petri, contendo Agar MacConkey e Agar Sangue. As mostras foram incubadas por até 48 horas a 37°C (+/-2°C) de onde foram selecionadas colônias para a coloração de Gram. Todas as colônias que foram identificadas como bacilos gram-negativos, foram submetidas ao teste da oxidase e catalase. As que obtiveram resultados positivos foram submetidas à identificação pelo sistema Vitek 2 (BioMérieux ®), cartão número AST105. Todas as colônias que foram identificadas como cocos gram-positivos, foram submetidas ao teste de catalase e tanto as catalase positivas, quanto as negativas, foram submetidas à identificação pelo sistema Vitek 2 (BioMérieux ®), cartão número ASTP585. 19 2.4. Armazenamento das amostras bacterianas Todas as amostras foram armazenadas em tubos (criotubos) contendo caldo BHI com glicerol a 20% e serão mantidas a -20oC, por seis meses. Após esse período, todas as amostras serão reativadas para avaliar o comportamento bioquímico e novamente congeladas (PEREIRA et al., 2004). 3. Resultados e Discussão Das 12 torneiras analisadas, 8 (66,7%) apresentaram crescimento bacteriano e 4 (33,3%) não apresentaram crescimento bacteriano. O Enterococcus durans foi a bactéria mais isolada nas torneiras, sendo esta encontrada em 3 torneiras, correspondendo a 25% dos achados (Tabela 1). 2.3. Teste de susceptibilidade aos antimicrobianos Todas as cepas identificadas foram submetidas ao teste de susceptibilidade aos antimicrobianos (TSA) segundo o padrão do Bactérias Isoladas Percentual 3 Enterococcus durans 25% 1 Pseudomonas aeroginosas 8,34% 1 Stenotrophomonas maltophilia 8,34% 1 Cupriavidus pauculis 8,34% 1 Pantoea spp 8,34% 1 Staphylococcus epidermidis 8,34% Os E. durans estão constantemente relacionados aos casos de infecções do trato urinário, mas também, podem ser encontrados em outros tipos de infecções endógenas como endocardites e bacteremia, infecções essas, adquiridas através da instalação de cateter (JULIET, 2002). Embora sejam bactérias encontradas no trato intestinal do homem e dos animais, são comumente isolados de ambientes contaminados pelo material fecal humano e animal, como exemplo, esgoto urbano, água e solos (AMARAL, 2007). De acordo com o antibiograma, os 3 isolados de E. durans, apresentaram sensibilidade a Benzilpenicilina, Ampicilina, Gentamicina Alto Nível, Estreptomicina Alto Nível, Ciprofloxacina, Moxifloxacina, Norfloxacina, Linezlid, Teicoplanina, vancomicina e Tigeciclina e resistência a Eritromicina e Clindamicina. Essa condição nos leva a pensar na possibilidade destas espécies apresentarem o mesmo perfil genotípico. As espécies Pseudomonas aeruginosa, Stenotrophomonas maltophilia e Cupriavidus pauculis são os BGNNF isolados, conforme tabela 1. Cadernos UniFOA N° de Torneiras Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Tabela 1- Tipos e percentuais de bactérias isoladas Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 20 Esses BGNNF são organismos onipresentes, que podem ser isolados a partir de inúmeras fontes de água, como rios, lagos, lagoas, garrafas de água, esgoto entre outras (LOPES, 2003). A Pseudomonas aeruginosa, além de receber destaque por ser relatada na literatura, como a bactéria mais envolvida em IRAS, foi a que apresentou resistência a um número maior de antibióticos testados (Ampicilina, Ampicilina/ sulbactam, Piperacilina/Tazobactam, Cefalotina, Cefoxitina, Cefotaxima e Tigeciclina). Os BGNNF encontrados estão frequentemente associados a casos de pneumonia em pacientes com ventilação mecânica e bacteremia, associadas ao cateter venoso central. Também são relatadas em casos de infecções do trato urinário, meningites, infecções de feridas cirúrgicas, epidermites, endocardites e celulites (DELIBERALI, 2011). A Pantoea spp foi isolada de uma das torneiras (Tabela 1). Esse gênero da família Enterobacteriaceae é um bacilo oportunista, dessa forma, encontrá-lo em ambiente (água) não foi surpresa. Em se tratando de UTI- onde os pacientes se encontram, na maioria das vezes, imunodeprimidos- este micro-organismo pode estar envolvido em casos de artrite séptica, peritonite e diversas outras (SÁNCHEZ, 2006). A espécie Staphylococcus epidermidis também foi isolada em 1 das 12 torneiras analisadas (Tabela 1) e apresentou resistência somente a Benzilpenicilina e Eritromicina. Ela é relatada na literatura como sendo responsável pelas maiores causas de mortalidade e morbidade relacionadas a IRAS. São micro-organismos oportunistas que se tornam patogênicos ao entrarem no tecido hospedeiro através da ruptura da barreira cutânea (procedimento realizado com frequência em UTI), podendo desencadear casos de bacteremias, endocardites, peritonites, entre outras infecções que podem comprometer a vida dos pacientes (D’AZEVEDO, 2008). Quando a equipe médica e/ou os demais funcionários e visitantes higienizam suas mãos para lidarem com os pacientes da unidade, provavelmente estão cientes de que processo foi bem realizado, mas diante deste “cenário”, onde 8 de 12 torneiras apresentaram em seu corpo interno bactérias com potencial patogênico, o simples ato de lavar as mãos poderá complicar ainda mais o estado de saúde dos doentes internados. Dessa forma se faz necessário mudanças no paradigma da limpeza do corpo das torneiras, com periodicidade, para reduzir a possível disseminação pela água de bactérias patogênicas. 4. Conclusão Com base nos resultados obtidos no presente trabalho, podemos concluir que: a. o corpo interior de 8 torneiras apresentab. ram crescimento bacteriano; asbactériasencontradasforam:Enterococcus durans em três torneiras, Pseudomonas aeruginosa, Stenotrophomonas maltophilia, Cupriavidus pauculis, Pantoea spp. e Staphylococcus epidermidis. 5. Referências Bibliográficas 1. ALMEIDA, A. et al. Bioplásticos: una alternativa ecológica. Revista Química Viva, p. 122-133 , 2004. 2. AMARAL, A. L. P. Microrganismos indicadores de qualidade de água. 2007, 40 f. Pós Graduação (Microbiologia). Universidade Federal de Minas Gerais, MG. 3. D’AZEVEDO, P. A. et al. Oxacilinresistant Coagulase-negative staphylococci (CoNS) bacteremia in a general hospital at São Paulo city, Brasil. Brazilian Journal of Microbiology, v. 39, p. 631-635, 2008. 4. DELIBERALI, B. et al. Prevalência de bacilos Gram-negativos não fermentadores de pacientes internados em Porto Alegre-RS. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, v. 47, p. 529-534, 2011. 5. HUANG, S. et al. Risk of acquiring antibiotic-resistant bacteria from prior room occupants. Archives of Internal Medicine, v. 16, p. 1945-1951, 2006. 6. JULIET, C. Estudio de susceptibilidad in vitro de Enterococcus spp. Revista chilena de infectologia, v.19, p.111-115, 2002. 7. 8. 9. LARANJEIRA, V. S. et al. Pesquisa de Acinetobacter sp. e Pseudomonas aeruginosa produtores de metalo-betalactamase em hospital de emergência de Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 43, p. 462-464, 2010. LLASAT, J. M. B. et al. Cupriavidus pauculus Pseudo-Outbreak of Infection at an Outpatient Clinic Related to Rinsing Culturette Swabs in Tap Water. Journal of Clinical Microbiology, v. 48, p. 2645– 2647, 2010. LOPES, R. R. Endocarditis por Stenotrophomonas maltophilia: presentación de um caso y revisión de La literatura. Anales de Medicina Interna, v. 20, p. 42-46, 2003. 10. OLIVEIRA, A. C. et al. Superfícies do ambiente hospitalar como possíveis reservatórios de bactérias resistentes: uma revisão. Revista da Escola de Enfermagem, v. 44, p. 1118-1123, 2009. 12. PEREIRA, C. A. S.; LUCHESE, R. H.; VALADÃO, R. C. Potencial probiótico de linajes de Lactobacillus plantarum y Lactobacillus fermentum. Alimentaria. n. 352, p. 53-59, 2004. 21 13. RIBOLDI, G. P. et al. Antimicrobial resistance profile of Enterococcus spp isolated from food in Southern Brazil. Brazilian Journal of Microbiology, v. 40, p. 125-128, 2009. 14. SÁNCHEZ, M. et al. Bacteremia por Pantoea agglomerans. Anales de Medicina Interna, v. 23, p. 250-251, 2006. 15. SIMÕES, J. A. et al. Influência do conteúdo vaginal de gestantes sobre a recuperação do estreptococo do grupo B nos meios de transporte Stuart e Amies. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, v. 27, p. 672-676, 2005. 16. TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia, 8. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2008. Carlos Alberto Sanches Pereira [email protected] Departamento de Ciências Biológicas – UniFOA Av. Paulo Erley Abrantes, 1325 Três Poços - Volta Redonda/RJ CEP: 27240-560 Cadernos UniFOA Endereço para Correspondência: Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 11. PANIS, C. Nosocomial Infections in Human Immunodeficiency Virus Type 1(HIV-1) Infected and AIDS Patients: Major Microorganisms and Immunological. Brazilian Journal of Microbiology, v. 40, p. 155-162, 2009. 23 Corpo e sexualidade: os processos de normalização na dança ISSN 1809-9475 Body and sexuality: the normalization processes in dance Aline Menezes de Oliveira1 Carla de Oliveira dos Santos1 Marcelo Paraíso Alves2 Sexualidade Biopoder Normalização Abstract This article aims to discuss the practice of dancing among boys within the normalization process, taking into account the sexuality history to explain how it came to the concept that men that dance are gays and explaining concepts such as biopower and normalization. The production of this research came from a project at the Future Generation Foundation, the COMUNI Project (United Community) where we taught dance lessons. The experience in the mentioned project has enabled us to reflect on certain aspects: is dancing a sport geared just for girls? Why do the dance classes have a predominance of girls, specially in the COMUNI project? Why is there such a big evasion in boys’ dance classes? Is there a process that standardizes, regulates and controls men and women behavior? What is the origin of this process of standardization? The objective of this work is to enable a discussion about sexuality, specifically discussing conflicts and tensions experienced in the cited project. The article intends to approximate the reader of the COMUNI project space, contextualizing the space experienced by the authors. Second the article proposes to discuss the historical constitution of the regulation and sexual control process, as well as the concept of biopower. Then it seeks to think the body from the corporeity that allows the understanding of the complex net which constitutes the process of subjectivity, among them the question of gender. Finally discussions about the role of the Physical Education professional in the exclusion process that come from such normalization processes. It is important to emphasize that the descriptive literature was opted. 1 Graduação e Licenciatura em Educação Física - Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA 2 Professor Doutor do Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA Original Paper Recebido em 10/2012 Aprovado em 04/2013 Keywords Dance Sexuality Biopower Normalization Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Dança Resumo O presente trabalho busca como centralidade a discussão da prática da dança por meninos dentro dos processos normalizadores, apropriando-se da história da sexualidade para explicar como surgiu a concepção de que homens que dançam são gays e explicitando conceitos como biopoder e normalização. A produção desta pesquisa partiu de um Projeto da Fundação Geração Futura, o Projeto COMUNI (Comunidade Unida) onde ministrávamos aulas de dança. A experiência no projeto mencionado nos permitiu refletir sobre alguns aspectos: dança é uma modalidade voltada apenas para meninas? Por que as turmas de dança, mais precisamente a do Projeto COMUNI existe a predominância de garotas? Por que há uma evasão tão grande de meninos nas turmas de dança? Existe um processo que normatiza, regula e controla os comportamentos do homem e da mulher? Qual a origem deste processo de normatização? O intuito do trabalho é possibilitar um debate acerca da sexualidade, mais especificamente discutindo os conflitos e tensões vivenciados no cerne do projeto citado. O artigo pretende inicialmente aproximar o leitor do espaço do Projeto COMUNI, contextualizando o espaço vivenciado pelos autores do trabalho. No segundo momento, o artigo se propõe a discutir a constituição histórica do processo de regulação e controle da sexualidade, bem como o conceito de biopoder. Posteriormente, buscou-se pensar o corpo a partir da corporeidade, permitindo compreender a complexa rede que constituí o processo de subjetividade, dentre eles, a questão de gênero. Por fim, perspectivaremos possíveis discussões acerca do papel do profissional de Educação Física frente aos processos exclusórios que emergem dos referidos processos de normatização. É relevante ressaltar que optou-se pela pesquisa bibliográfica descritiva. Cadernos UniFOA Palavras-chave Artigo Original Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 24 1. Introdução Na tentativa de propor soluções para alguns problemas que emergem na sociedade atual, Estado, empresas e instituições privadas, organizações não governamentais, dentre outros, se mobilizam para desenvolver projetos e atividades voltadas para crianças e adolescentes de comunidades carentes em situação de vulnerabilidade social, ou seja, que estejam em condição objetiva da situação de exclusão. Estes tem o intuito de direcioná-los para os referidos locais educativos, ao contrário de irem para as ruas, oferecendo a esses sujeitos oportunidades de vivenciarem atividades prazerosas e educativas, buscando desenvolver suas habilidades físicas, cognitivas, artísticas, dentre outras. Dentre os diversos projetos desenvolvidos no município de Volta Redonda e que buscam se articular às políticas públicas para ações dos sujeitos supracitados, encontra-se o Projeto COMUNI - Comunidade Unida (o projeto bem como as entidades envolvidas são fictícios), desenvolvido em parceria com diversos órgãos municipais. Esse surgiu com o objetivo de proporcionar informações, entretenimento saudável e vivência da cultura através de atividades direcionadas, além de possibilitar o resgate do equilíbrio e harmonia social, segundo consta no documento idealizador do projeto. O projeto constitui-se de várias oficinas: música, esporte (futebol, tênis, handebol e futsal) e dança (Jazz, balé, hip-hop, contemporânea, todas trabalhadas alternadamente nas aulas). Possui também atendimento e apoio psicológico para a família. Essas atividades são realizadas duas vezes durante a semana, atendendo crianças e adolescentes na faixa etária de 06 a 16 anos. Nossa inserção do projeto se deu nas turmas de dança, como estagiárias, e algumas situações começaram a nos chamar a atenção. Notamos, inicialmente, a predominância da participação das meninas em detrimento da presença dos meninos, mas, com o passar dos meses, ocorreram algumas mudanças na busca dos discentes pelas aulas, modificando a configuração da turma que passou a não ter apenas meninas. O que nos intrigou e nos levou a alguns questionamentos foi o comporta- mento apresentado pelas discentes (crianças e adolescentes) diante da presença dos meninos, seja na sua participação nas aulas, bem como quando observavam outras turmas do projeto de dança: a maneira como se referem aos meninos que dançam; como se dá a relação durante aula e, por outro lado, como os meninos percebem seu próprio corpo, as permissões e os interditos, por exemplo, em inúmeras situações, os meninos paravam na metade da aula e sentavam, pois afirmavam que as meninas estavam zombando deles, chamando-os de gays, “mocinhas”. Não era raro o depoimento de insultos e alunos relatando agressões verbais de outros garotos e até mesmo de meninas quando saíam das aulas de dança. Dessa forma, estabelecem-se como reflexão os seguintes aspectos: dança é uma modalidade voltada apenas para meninas? Por que nas turmas de dança, mais precisamente a do Projeto COMUNI, existe predominância de garotas? Por que há uma evasão tão grande de meninos em turmas de dança? Existe um processo que normatiza, regula e controla os comportamentos do homem e da mulher? Qual a origem deste processo de normatização? Na intenção de provocar um debate acerca dos questionamentos expostos, o presente estudo objetiva compreender os processos de regulação e controle dos corpos no espaço da dança. O presente estudo busca a sua relevância acadêmica ao discutir os aspectos vinculados a dimensões relacionadas ao biopoder (FOUCAULT, 1979), ao processo de subjetivação e à determinação dos corpos autorizados a dançar (NOLASCO, 1995). A opção metodológica foi a pesquisa bibliográfica descritiva, pois, tal ótica “procura explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas em artigos, dissertações e teses” (CERVO et al. 2007, p.60). Em certos meios acadêmicos, a pesquisa bibliográfica tem sido tratada como secundária e sem dados inéditos, porém, é preciso levar em consideração a originalidade dos raciocínios que ela desperta, pois fenômenos já publicados podem possibilitar raciocínios inéditos, entendendo-se que o conceito de inédito não se restringirá a uma nova realidade (SANTOS, 2006). A pesquisa foi de nível descritivo, pois o desenvolvimento do artigo detém-se em descrever, registrar e interpretar dados existentes a O projeto COMUNI é uma intervenção social, realizada em um município da região Sul Fluminense do estado do Rio de Janeiro. Essa ação social se desenvolve, por uma autarquia do poder executivo municipal (instituição criada em 1968, com o objetivo de auxiliar e assistir a crianças e adolescentes, em situação de risco, vítimas de maus tratos, abandono, abuso sexual, em situação de rua, ou qualquer outra que coloque em risco a sua integridade física, moral ou psicológica). De acordo com os documentos oficiais da instituição, 25 Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 2. Conhecendo os espaços e sujeitos do Projeto COMUNI a primeira mobilização para que ocorresse a criação do projeto iniciou-se em uma reunião ocorrida em dezembro de 2008, no Conselho Tutelar, articulada pelo posto de saúde da família (PSF) de um bairro periférico e com a presença de representantes dos mais variados setores do município. A reunião tinha como objetivo chamar a atenção de toda a rede municipal para os problemas que ocorriam constantemente na comunidade, visando propor soluções para amenizar alguns destes embates, sendo o principal deles o aumento significativo de crianças e adolescentes viciados em álcool e drogas. Uma vez ao mês ocorriam reuniões para discutir como sanar os problemas mais graves que ocorriam na comunidade: o abandono de crianças, maus tratos, déficit de aprendizagem, drogas e alcoolismo. No ano de 2009, esse grupo de representantes encaminhou diversos casos para tratamento em instituições especializadas, o que permitiu perceber “novas” possibilidades de intervenção para estes problemas sociais. Assim, crianças e adolescentes passariam a ser estimulados na direção de hábitos e práticas saudáveis, ocupando o seu tempo disponível com atividades que despertassem seus interesses, necessidades e, consequentemente, perspectivando uma trajetória de prevenção para os sujeitos envolvidos nas tramas sociais já enunciadas. Além das atividades proporcionadas pelo projeto, ainda seria disponibilizada às famílias um trabalho em grupo voltado para a área terapêutica, com o intuito de promover diálogos entre a comunidade e especialistas para a busca de soluções dos problemas sociais e individuais, como por exemplo, o apoio psicológico. Dessa forma, o projeto foi criado COMUNI (Comunidade Unida) – em 30 de julho de 2010, com ações específicas de fundações e secretarias municipais da cidade, tendo os seguintes objetivos: proporcionar através das oficinas culturais e esportivas, o bem-estar, a integração e a formação de hábitos saudáveis; criar oportunidades e realizar atividades voltadas para crianças e adolescentes, envolvendo cultura e esporte; apoiar e orientar as famílias diante dos problemas partilhados nos grupos. Na intenção de atingir os objetivos propostos, a comunidade, em conjunto com instituições e órgãos municipais, definiram as Cadernos UniFOA respeito do tema da sexualidade, bem como sua influência na organização social. A pesquisa descritiva é “um levantamento das características conhecidas que compõem o processo. É normalmente feita na forma de levantamentos ou observações sistemáticas do fato/fenômeno/ processo escolhido” (SANTOS, 2006, p.26). Este artigo se baseia principalmente nas referências de Foucault (1979, 1989, 2008) e Louro (1997, 2000, 2001, 2004, 2007, 2010), pois estes autores são referências em temas sobre a sexualidade e a maneira como ela é percebida diante da ótica social. O intuito do trabalho é possibilitar um debate acerca da sexualidade, pois segundo Louro (2010), ao longo de toda história, sempre observamos discussões referentes ao corpo, principalmente no que diz respeito à sua imagem diante da sociedade. O artigo , inicialmente, aproximar o leitor do espaço do Projeto COMUNI, contextualizando o espaço vivenciado pelos autores do trabalho. No segundo momento, se propõe a discutir a constituição histórica do processo de regulação e controle da sexualidade, bem como o conceito de biopoder(FOUCAULT, 1979). Posteriormente, busca-se pensar o corpo a partir da corporeidade permitindo compreender a complexa rede que constituí o processo de subjetividade, dentre eles a questão de gênero. Por fim, perspectivar-se-ão possíveis discussões acerca do papel do profissional de Educação Física frente aos processos exclusórios que emergem dos referidos processos de normatização. 26 ações sociais a partir das seguintes atividades: futebol, percussão, dança e tênis. Inicialmente, as oficinas eram realizadas duas vezes por semana. Os horários eram definidos semestralmente, de acordo com vários aspectos: disponibilidade das crianças, cronograma de atividades e disponibilidade do professor. Os atendimentos às famílias ocorriam toda quarta-feira e sexta-feira, no período da tarde, e aos sábados, no período da manhã, no Posto de Saúde da Família do bairro (PSF) e, as oficinas para as crianças e adolescentes no campo de futebol, quadra poliesportiva e na Casa Comunitária também localizada no bairro. Portanto, a presente pesquisa tem como ponto central a discussão das tensões que emergem das oficinas de dança, na tentativa de compreender os conflitos presentes cotidianamente nas aulas de dança. Nesse sentido, o item a seguir inicia a discussão necessária à compreensão dos problemas relacionados à temática da sexualidade. 3. Sexualidade Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 3.1. A história da sexualidade A sexualidade na modernidade tornou-se uma questão central da sociedade. Por toda parte, notam-se comportamentos e identidades sexuais sendo controladas, vigiadas, padronizadas e normatizadas assumindo tons e diretivas diferentes conforme o gênero, mas nem sempre foi assim. Conforme Foucault (1979), ela constituiu-se em um processo de pelo menos duzentos anos. O que antes parecia ser carregado de certezas e respostas estáveis traz agora uma gama de incertezas e modelos inúteis, sendo também impossível ignorar essas questões, levando-nos ao seguinte questionamento: “o que fazer?” Antes de tudo é preciso conhecer como essas questões e práticas emergiram e tornaram-se alvo de tantas discussões. Aproximadamente até o século XVIII, as anatomias dos sujeitos eram percebidas como uma matriz unissexual, pois “o corpo masculino era o modelo e o feminino a sua versão atenuada”, considerando-se então a mulher, um homem invertido (FRAGA, 2000 p. 134). A partir do referido século, os estudos anatômicos começavam a demonstrar as diferenças entre homens e mulheres, então, se criou uma nomenclatura específica para os órgãos femininos, mas ainda, associados aos masculinos. Fraga (2000) menciona que havia, nesse período histórico, uma sujeição do corpo feminino a um discurso biológico-moral. O autor reitera que ocorre um processo de aparecimento e sumiço do clitóris na literatura médica ocidental, que segundo Foucault (1979) faz parte de uma eficiente tecnologia de controle do corpo feminino a partir do discurso biológico e moral. Apresentar o processo contraditório de aparecimento e desaparecimento do clitóris é relevante pelo fato de ser uma explicitação do controle social sobre o corpo da mulher, pois o órgão mencionado era concebido apenas como a função de proporcionar prazer à mulher, sem caráter reprodutivo, o que era um problema, pois representava uma ameaça à normalidade na relação heterossexual. Contudo, estes estudos e controvérsias obtinham como principal finalidade, além de normatizar a reprodução humana, estruturar detalhadamente uma política sexual para os sujeitos tornarem-se seus próprios reguladores, instituindo uma série de condutas consideradas apropriadas (FRAGA, 2000). A todo este processo, Foucault (1979) intitula de histerização do corpo da mulher em que este passa a ser analisado como integralmente saturado de sexualidade e, posteriormente, colocado em comunicação com o corpo social, espaço familiar e com a vida das crianças, reafirmando, mais uma vez, uma série de normas e papéis socialmente impostos que devem ser seguidos. Posteriormente aos acontecimentos mencionados, mais precisamente no fim do século XVIII, as sociedades ocidentais modernas criaram e instalaram um novo dispositivo: o da sexualidade, que seria relacionado com as sensações corporais, a natureza das impressões, a qualidade dos prazeres. O dispositivo da sexualidade “tem como razão de ser não o reproduzir, mas o proliferar, inovar, anexar, inventar, penetrar nos corpos de maneira cada vez mais detalhada e controlar as populações de modo cada vez mais global” (FOUCAULT, 1979, p. 101). Para Foucault (1979), o dispositivo da sexualidade centra-se na família, tendo nela como 27 Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 O termo homossexualidade foi conceituado ainda no século XIX (LOURO, 2001) para caracterizar os indivíduos que fugiam dos padrões da normalidade no que diz respeito à sua opção sexual. À medida que a sociedade se tornou mais preocupada com a vida dos seus membros, ela passa a se atentar cada vez mais para o disciplinamento dos corpos e com a vida sexual dos indivíduos. O que antes era tido como uma atividade indesejável ou pecaminosa, agora passava a ser vista sob uma nova perspectiva: “a prática passava a definir um tipo especial de sujeito que viria assim a ser marcado e reconhecido. Categorizado e nomeado como desvio da norma, seu destino só poderia ser segredo ou segregação” (LOURO, 2001 p.542). É importante ressaltar que relações afetivas e amorosas entre sujeitos do mesmo sexo já existiam antes desta época, mas não eram nomeadas como homossexualidade, mas consideradas práticas pecaminosas. Com o advento desse novo conceito, essa prática passa a “indicar um tipo particular de pessoa, um tipo social, uma ‘espécie’ de gente que se desviara da ‘normalidade’ ” (LOURO, 2010). Nos anos que compreenderam o século XX, mas precisamente na década de 1940, houve certa preocupação com o controle da natalidade para que a família fosse constituída pelo tipo certo de indivíduo, e um zelo maior em relação aos papéis apropriados para homens e mulheres. Já a partir de 1950, houve uma caça àqueles que iam contra os padrões comportamentais e heterossexuais, pois eram considerados diante da sociedade como degenerados. A década de 1960 foi marcada por um período de transição, onde houve um relaxamento dos velhos códigos de autoritarismo e uma descoberta de novos modos de regulação social. Por volta dos anos de 1970 e 1980 houve uma reação contra aquilo que não foi tido como excessos da década anterior, devido ao fim da ditadura, o reestabelecimento da democracia, a abertura política e à anistia possibilitando estudos referentes a gênero, raça, etnia, classe social e sexualidade baseado nos estudos sobre mulheres e suas relações sociais (SILVA JÚNIOR, 2009) tornando então a sexualidade como “uma verdadeira questão política de primeira linha, com a Nova Direita identificando o Cadernos UniFOA principais agentes os pais e os cônjuges e exteriormente os médicos, pedagogos e psiquiatras. No decorrer do século XIX, percebe-se de uma maneira mais clara a presença e implantação mais acentuada do referido dispositivo no cotidiano social, pautado agora em um novo conceito, o de biopoder, utilizando-o como uma forma de repressão e controle dos corpos. A sociedade, neste período, volta seus olhares para as mulheres com o intuito de assegurar uma imagem de “pureza”. Mas isso não ocorria, pois ainda havia o predomínio da prostituição o que acarretava o aumento das doenças venéreas. Como diz Weeks (2000), esse século foi marcado por uma dose de hipocrisia moral, quando se aparentava respeitabilidade ao sujeito, e sua prática era totalmente contraditória e carregada de princípios pré-estabelecidos. No período compreendido entre 1860 até 1890, “a prostituição, as doenças venéreas, a imoralidade pública e os vícios privados estavam no centro dos debates devido o aumento dessas práticas no século, muitas pessoas viam na decadência moral um símbolo da decadência social” (WEEKS, 2000, p. 37). Esse modo de compreensão ou concepção de mundo fazia com que a sexualidade se tornasse uma obsessão pública, que buscava controlar, ao máximo, os corpos, ditando suas formas de ação e distinguindo o comportamento “normal” do “anormal”, começando então a transformar-se em uma questão, sendo “objeto de atenção do estado, da medicina, das leis, além de continuar a ser tema da religião” (LOURO, 2010, p.334) Ao longo de todo século XIX, o Estado preocupou-se cada vez mais com a organização e controle de suas populações, procurando meios de garantir a vida e a produtividade de seus povos, voltando-se para a disciplinarização, regulação da família, da reprodução e das práticas sexuais. Nas décadas finais deste século, surge uma nova disciplina: a sexologia, em que médicos, filósofos, moralistas e pensadores começaram a pesquisar mais profundamente sobre o sexo, inventando classificações de sujeitos, práticas sexuais e determinando o que era normal ou não, adequado e sadio. A partir de então, as diferenças entre sujeitos e suas práticas sexuais eram determinadas de acordo com o olhar de tais autoridades. (LOURO, 2010). Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 28 “declínio da família”, o feminismo e a nova militância homossexual como potentes símbolos do declínio nacional” (WEEKS, 2000, p. 49). Inspirados então no movimento feminista, em 1978, os/as homossexuais, criaram a primeira associação gay do Brasil, indicando o início da luta pelo reconhecimento social de suas identidades sexuais (SILVA JÚNIOR, 2009). Todo este movimento em busca do respeito e da visibilidade veio a transformar a vida cultural dos indivíduos, construindo espaços de lazer e arte, e constituindo aquilo que veio a se chamar política de identidades, conceituada como um “conjunto de movimentos sociais organizados que teve e tem como protagonistas grupos historicamente subalternizados (mulheres, jovens, negros, gays e lésbicas)” (LOURO, 2010, p. 336). Foi a partir deste marco que gays lésbicas e mulheres começaram a falar suas experiências amorosas e sexuais. Os debates acerca da sexualidade tornaram-se mais frequentes com a erotização dos corpos infantis, o aumento de adolescentes grávidas, das doenças sexualmente transmissíveis – DST, a desconstrução do arquétipo familiar tradicional (BRAGA, 2010) e, principalmente, a proliferação da AIDS, a partir dos anos de 1980, que, segundo Silva Júnior (2009), deu maior visibilidade à causa homossexual, transgredindo as fronteiras convencionais da heterossexualidade hegemônica. Com o advento da AIDS, surgiram diversas alianças de solidariedade entre amigos e parentes, não necessariamente homossexuais, para se discutir normas de sexo seguro e de prevenção com o intuito de mostrar à sociedade outras maneiras de vivenciar a sexualidade, o prazer e o desejo. Outro fator relevante e que influenciou nas futuras discussões acerca da sexualidade era a ideia que se tinha a respeito da AIDS, que era considerada um câncer gay, desencadeando assim um sentimento homofóbico em diversos indivíduos ( SILVA JÚNIOR, 2009). A partir de então, mais especificamente no Brasil, a sexualidade passa a ser discutida em várias instâncias sociais, inclusive nas escolas, através do Ministério da Educação e Cultura estimulando projetos de educação sexual (LOURO, 2010). Além de todo esse movimento promovido, principalmente, por homossexuais e o advento da AIDS, Louro (2010) ainda relata que: outros grupos não priorizam, propriamente as reivindicações de inclusão social, mas preferem desafiar as fronteiras tradicionais de gênero e sexuais – em outras palavras, esses grupos decidem por em xeque as dicotomias masculino/ feminino, homem/mulher, heterossexual/homossexual e pretendem, de muitos modos, atravessar e perturbar essas fronteiras. Há, ainda, aqueles que não se contentam em atravessar as divisões, mas decidem viver a ambiguidade da própria fronteira. Sujeitos que. deliberadamente, inscrevem em seus corpos, suas roupas, seu comportamento e atitudes signos masculinos e femininos buscando embaralhar esses signos, afirmando-se propositalmente, como diferentes, estranhos, queer – para usar um termo bem contemporâneo (p. 338) Como citado, Louro (2004) utiliza em suas obras o termo queer, que traduzido do inglês pode ser entendido como estranho, esquisito, palavra esta empregada para se referir, de forma pejorativa, a um sujeito não heterossexual. Enquanto para alguns, a referida palavra serviu e serve para marcar uma posição marginalizada e abominada, para outros, ela indica um movimento, a não acomodação, uma disposição, um modo de ser e viver. Do termo queer, surge uma nova teoria, intitulada por Teoria Queer, que segundo a autora, possibilita o pensamento em torno da “ambiguidade, a multiplicidade e a fluidez das identidades sexuais e de gênero, mas, além disso, também sugere novas formas de pensar a cultura, o conhecimento, o poder e a educação” (p. 47). Para Fraga (2000), a referida temática assumiu o caráter da verdade mais profunda a respeito de nós mesmos. Surge então a sexualidade como um dos temas centrais da atualidade, sendo vista como objeto de controle do corpo e também social. A construção da história da sexualidade, diante dos fatos supracitados, passa então por dois momentos de ruptura voltados para os mecanismos de repressão, um deles ocorre no século XVII com o nascimento das grandes proibições, uma valorização da sexualidade adulta e matrimonial, contenção e controle da linguagem e o outro no século XX, quando Para compreender o pensamento foucaultiano e seu conceito de biopoder, é relevante ressaltar que a sexualidade é considerada um dispositivo histórico, uma invenção social, que se constituiu a partir de diversos discursos sobre o sexo, que tinham como intenção regular, normatizar, instaurar saberes e produzir verdades (FOUCAULT, 1979). Para o autor, a definição de dispositivo é tida como um conjunto que possui componentes distintos que englobam discursos, instituições, leis, enunciados científicos, o dito e o não dito, entre outros, sendo o dispositivo a rede ou conexão que se estabelece entre esses elementos (FOUCAULT, 2008). 29 poder disciplinador e normalizador que já não se exercia sobre os corpos individualizados nem se encontrava disseminado no tecido institucional da sociedade, mas se concentrava na figura do Estado e se exercia a título de política estatal que pretendia administrar a vida e o corpo da população.(p. 3). Foucault (2008) pontua outros dois aspectos considerados relevantes para a constituição do conceito de biopoder na Idade Média, e que interferiu e interfere ainda hoje no processo de interjeição do sujeito. Primeiramente, a confissão (dispositivo religioso), pois através desse dispositivo de poder, os prazeres individuais, os sentimentos, desejos, vontades e as próprias emoções da alma, poderiam ser requisitados, conhecidos, medidos e regulados (MENDES, 2006). E, em um segundo plano, o exame de consciência, disposta enquanto circunstância, em que os sujeitos, através dos parâmetros impostos por instituições e quadros morais, avaliariam consigo mesmos suas atitudes e pensamentos analisando se corresponderia ou não com os valores morais socialmente estabelecidos (MENDES, 2006). A confissão e o exame de consciência são logo, considerados técnicas e dispositivos para a constituição do biopoder, atuando no sentido de estimular Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 3.2. Biopoder em Foucault Considerando as prerrogativas supracitadas, Foucault desenvolve seu estudo no campo da sexualidade, apropriando-se dos referidos conceitos como a base de toda sua discussão, principalmente no que concerne ao estabelecimento das definições de biopoder e biopolítica. O conceito de biopoder (e biopolítica) é citado pela primeira vez em sua obra História da Sexualidade, volume um, sendo abordada através de uma comparação sobre o poder que os pais de família romanos obtinham sobre o direito de vida e morte de seus filhos e escravos, afirmando então que o biopoder e a biopolítica vem com o intuito de regular e controlar os corpos como feito antigamente na sociedade romana (FOUCAULT, 1979). Segundo Duarte (2008), eles são idealizados por Foucault ao vislumbrar no decorrer do século XVIII e, sobretudo na virada para o século XIX, Cadernos UniFOA começa um afrouxamento dos mecanismos de repressão (FOUCAULT, 1979), tornando os debates acerca da sexualidade uma prática usual, mas que ainda objetiva o controle e dominação dos corpos, estabelecendo papéis socialmente padronizados. Diante dos aspectos históricos apresentados, percebemos que o corpo e a concepção de sexualidade que hoje se configura na sociedade incorporaram os valores vigentes em décadas anteriores, é uma transmissão cultural com idealizações, padronizações e normatizações advindas através dos séculos, portanto, uma construção sócio-histórica. Perfis de “beleza, saúde, doença, vida, juventude, virilidade, entre outras, não deixaram de existir, apenas transmudaram-se, incorporaram outros contornos, produziram outros contornos” (GOELLNER, 2010, p. 38). Partindo então desse constructo histórico referente à sexualidade, observamos, na atualidade, que esta será modelada a partir da junção de dois elementos: o subjetivo e o social que estão intimamente ligados através do corpo. A sociedade tornou-se cada vez mais preocupada com a vida de seus membros, assim como com o disciplinamento dos corpos e com as vidas sexuais dos indivíduos, possibilitando o surgimento de poderes que regulam o comportamento sexual (WEEKS, 2000). Que poder é esse que emerge capilarmente na sociedade estabelecendo padrões de comportamento? Responder a essa pergunta não é algo simples, mas complexo, o que nos move ao próximo item deste artigo. 30 os sujeitos a praticar uma estética de si, procurando alcançar o melhor que podem fazer de suas vidas em vários campos: no trabalho, em sua aparência, em suas relações familiares e com os amigos, estando tudo isso imbricado com valores morais que remetem a uma vasta gama de sentimentos, relativos a outros, mas em especial, a nós mesmos. Mais do que uma projeção externa sobre nós, é uma projeção nossa em nós Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 mesmos (MENDES, 2006, p. 175). A idealização do biopoder, partindo da afirmação, vem então com o intuito de se juntar às reflexões sobre as práticas disciplinares. Disciplinas essas que se centram no corpo de uma maneira mecânica: no seu adestramento, no acréscimo de suas aptidões, no crescimento de sua utilidade e docilidade, na sua conexão em sistemas de controle eficazes e econômicos (FOUCAULT, 1979), ou seja, se voltam para o sujeito, seu corpo, sua normalização (linha auferida nas proporções e variáveis aceitas pelo coletivo os pelos padrões institucionais) e domesticação (saber que limita a liberdade e o espaço de um corpo, invadindo e delineando seu meio social) por meio das inúmeras instituições panópticas, como, por exemplo, a escola, a fábrica, o hospital, a prisão (Foucault, 1989) dentre outras e que poderíamos inclusive acrescentar os espaços da Dança. Segundo Foucault (1989), eram instituições que docilizavam os corpos e os colocavam prontos à produção industrial, em vigência enquanto produção central na fase do capitalismo Nesse sentido, o biopoder é concebido com o intuito de reger a vida da população, organizando-a e vigiando-a para assim buscar atender a determinadas expectativas de modernização e progresso. O biopoder é entendido então como “a gestão da vida como um todo, uma técnica, um poder sobre o biológico que vira tema central nas discussões políticas” (CUPELLO, 2010, p. 3). Pode-se afirmar, diante dos aspectos supramencionados, que o biopoder é baseado na disciplina e vigilância do sujeito. Badiali (2009) afirma que: “o poder disciplinar age através da inscrição desses corpos em espaços determinados, do controle do tempo sobre eles, da vigilância contínua e permanente, e da produção de saber por meio dessas práticas de poder” (p. 21). Então, se a disciplina opera sobre os indivíduos, o biopoder age sobre o ser humano, no corpo, que perpassa pelo aspecto orgânico do ser vivo, como base nos processos biológicos, por intermédio dos processos de saúde coletiva, nascimentos, mortalidades e longevidades. Para o autor, o ato de cuidar desse corpo acarretará, dessa forma, em modelos controlados nos aparelhos de produção capitalistas. Ainda sobre biopoder, Duarte (2008) menciona a relação que Foucault faz com a sexualidade, aqui intitulada por ele de dispositivo da sexualidade: a partir do momento em que passou à análise dos dispositivos de produção da sexualidade, Foucault percebeu que o sexo e, portanto, a própria vida, se tornaram alvos privilegiados da atuação de um poder que já não tratava simplesmente de disciplinar e regrar comportamentos individuais, mas que pretendia normalizar a própria conduta da espécie ao regrar, manipular, incentivar e observar fenômenos que não se restringiam mais ao homem no singular, como as taxas de natalidade e mortalidade, as condições sanitárias das grandes cidades, o fluxo das infecções e contaminações, a duração e as condições da vida etc. A partir do século XIX já não importava apenas disciplinar as condutas individuais, mas, sobretudo, implantar um gerenciamento planificado da vida das populações. Assim, o que se produzia por meio da atuação específica do biopoder não era mais apenas o indivíduo dócil e útil, mas era a própria gestão da vida do corpo social. O sexo se tornou então um foco privilegiado para o controle disciplinar do corpo e para a regulação dos fenômenos da população, constituindo-se o que o autor denominou como dispositivo da sexualidade (Op. cit., p.3). Diante do exposto, o autor anuncia o corpo e a sexualidade, como técnicas e dispositivos centrais de controle para além do indivíduo: a sociedade, o coletivo. Duarte (2008), a partir de estudos foucaultianos, nos permite perceber como as instituições, historicamente construídas na atualidade, reproduzem as marcas deixadas nos corpos, e, o espaço da dança como parte de todo esse processo, nos revela esses interditos, os fechamentos aos corpos proibidos de estarem ali, participando e expressando uma forma particular de cultura. A discussão do conceito de biopoder remete-nos ao próximo tópico deste artigo, buscando pensar o corpo a partir da corporeidade, procurando compreender como se constitui a complexa rede de subjetividades, dentre essas questões, o gênero, para posteriormente discutir-se como o biopoder, o gênero, os processos de normalização e a sexualidade influenciarão nas concepções de comportamentos modelos, esperados para meninos e meninas durante suas práticas cotidianas, mais especificamente nas aulas de dança. normais, inscrevendo e hierarquizando as práticas sexuais, em que os sujeitos são marcados e denominados a partir dessa referência que, posteriormente, os classifica como desviantes da norma, cabendo aos mesmos o destino ou a segregação (MORAES, 2006). Pode-se considerar que gênero e sexualidade atrelam-se em um constructo histórico, que se consolidou no decorrer dos séculos, e cultural, que determina, de acordo com a cultura, as variadas formas de sentir-se homem e mulher e seus respectivos papéis, definindo o que é normal e anormal na ótica de determinada sociedade (LOURO, 2007). De acordo com Louro (2000), 31 a inscrição dos gêneros — feminino ou masculino — nos corpos é feita, sempre, no contexto de uma determinada cultura e, portanto, com as marcas des- 4. Sexualidade e Gênero: possíveis enredamentos sa cultura. As possibilidades da sexualidade — das formas de expressar os desejos e prazeres — também são sempre socialmente estabelecidas e codificadas. As identidades de gênero e sexuais são, portanto, compostas e definidas por relações sociais, elas são moldadas pelas redes de poder de uma sociedade Torna-se claro, diante de tais discussões, que é, no âmbito cultural e histórico que se definem as identidades sociais mais especificamente aqui tratadas identidades referentes a gênero e sexualidade, que constituirão os sujeitos a partir de diferentes situações, instituições ou agrupamentos sociais. Então, reconhecer-se em uma determinada identidade pressupõe-se pertencer a um grupo social de referência (LOURO, 2000), ou seja, a sexualidade e a questão do gênero são carregadas de valores próprios de cada cultura e períodos históricos, podendo-se afirmar que, por exemplo, atos sexuais fisicamente idênticos podem ter significação social variada e variado sentido subjetivo, de acordo com a cultura (WEEKS, 2000). Diante dos conceitos já explicitados, (biopoder, sexualidade, gênero) e, traçados seus possíveis enredamentos, cabe-nos, por fim, relacioná-los à dança e, aos processos de normalização construídos no decorrer da história, pois estes se mantêm ainda hoje como Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 (Op. cit., p. 9). Cadernos UniFOA Sexualidade e gênero são dois conceitos que inúmeras vezes são confundidos ou considerados palavras sinônimas, mas na realidade não são, apesar de estarem intimamente interligados. Suas diferenças demarcarão lugares, influenciarão comportamentos, maneiras e determinadas práticas no exercício do prazer sexual, intitulado como feminino e masculino, partindo de corpos que correspondem de maneira diferente, na sua interface com o campo biológico (SILVA, 2008). Para Louro (1997), a questão do gênero está ligada à identificação histórica e social dos sujeitos, que se denominam como femininos ou masculinos, já a sexualidade indica diretamente a forma com que os sujeitos experienciam seus desejos corporais, de variadas maneiras, podendo ser sozinhos/as, com parceiros do mesmo sexo ou não. Esta dada sexualidade, segundo Souza (1999) não é fixa, mas se constrói ao longo da vida, ela se torna a verdade definitiva sobre cada sujeito e seus corpos suscitando também segundo Foucault (1979) como elemento especulativo a noção do sexo. O gênero perpassa a sexualidade, possibilitando em determinados momentos históricos, a delimitação das características principais que compõem a masculinidade e feminilidade 32 dispositivos de controle e vigilância dos sujeitos, perspectivando algumas discussões relacionadas ao papel do professor de Educação Física, que busca se posicionar contrário aos processos exclusórios. Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 5. Biopoder e os processos de normalização na dança A dança tem se constituído ao longo dos anos em um espaço de corporificação de sexualidades que, articuladas com as representações culturais, define e regula comportamentos adequados para homens e mulheres. Cada estilo de dança trará consigo um mecanismo cultural que produzirá tipos específicos de políticas de masculinidades e feminilidades (ANDREOLI, 2010). Um corpo quando é definido como sendo do sexo masculino, torna-se codificado por uma rede de valores culturais, com comportamentos e atitudes sociais esperadas da referida masculinidade (SANTOS, 2009), comportamentos estes que se estabelecem socialmente e que compreendem a dança como uma ação não estabelecida para homens. Os referidos valores culturais, considerados essencialmente masculinos e femininos, configurarão tipificações dos papéis pertinentes ao homem e a mulher, englobando aprovações, restrições e proibições que são transmitidas ao longo das gerações e influenciarão na sexualidade do sujeito enquanto ser subjetivo e membro da sociedade. Bandeira e Domingues (2010) afirmam que: os homens são reconhecidos dentro dos inúmeros espaços que estão inseridos e, para que isso ocorra, primeiramente, é preciso localizar o tempo e o espaço no qual eles estão circulando, isso porque as masculinidades são construídas socialmente e historicamente, variando de uma cultura para outra (Op. cit., p.3). Na cultura vigente ocidental, cabe aos meninos serem fortes, independentes, dominantes, competentes e agressivos, eliminando expressões físicas de conteúdo emocional ou que transpareçam sensibilidade, enquanto às meninas compete serem dependentes, sensíveis e afetuosas (NEGREIROS E CARNEIRO, 2004). Para se entender melhor o processo da dança, enquanto modalidade voltada para meninas, torna-se necessário conceituá-la e discuti-la dentro da esfera do biopoder. Achar (1998) define a dança como “o entendimento completo das possibilidades físicas do corpo humano, a qual permite exteriorizar um estado latente, pelos jogos dos músculos, segundo as leis naturais do ritmo e da estética” (p. 15). O aparato físico mencionado emerge das expressões corporais embebidos de sentimentos e emoções fazendo com que o homem transcenda ao movimento simples, técnico e sem sentido ou significado. Então, a dança enquanto expressão corporal, é a exteriorização de sentimentos, partindo opostamente aos valores socialmente julgados como masculinos. Meninos que dançam são considerados gays, pois os mecanismos articulados pelo biopoder disciplinar (MAIA, 2011), vinculam à sociedade o valor de que o homem não pode se expressar corporalmente de forma suave e demonstrar seus sentimentos através da dança. O biopoder é um dispositivo que orienta a vida em sociedade por dentro, decifrando-a e rearticulando-a (BRAGA, 2004). A atuação do biopoder na dança como objeto de controle dos corpos, afirma-se em dois níveis de exercício: de um lado as técnicas, implicadas nos corpos através da disciplina e do poder disciplinar, e, do outro o corpo percebido, como parte de uma espécie (população) com suas leis e regularidades determinadas. Dos referidos níveis, surge o processo de disciplinarização, que através do biopoder irá padronizar e normatizar os papéis e atividades pré-determinadas para homens e mulheres. Para Foucault (1979), a fabricação do biopoder se processa e se insere nas fábricas, hospitais, hospícios, prisões e outras instituições necessárias para a vida da sociedade: em nosso estudo, revela-se nas aulas de dança. Com relação ao exposto, Mondardo (2009) afirma que a ação do poder sobre o corpo atua para a normatização do comportamento, a partir do adestramento e da imposição na forma de movimento dos sujeitos. O objetivo é controlar as inúmeras formas territoriais que se formam para admi- para a manutenção dos comportamentos dos corpos através da mobilidade adestrada, buscando torná-la cada vez mais “limitada”, e desta forma, controlada (p. 4). Portanto, o processo de ação do biopoder sobre os corpos julga, condena e classifica (BRAGA,2004) homens que dançam como indivíduos que vivem à margem da sociedade, transformando então as práticas dançantes como exclusivamente femininas. Partindo do referido pressuposto, além dos já mencionados, outro fator que reafirma nas crianças e adolescentes o panóptico de papéis pré-determinados, em que dançar é considerado, ao ver da sociedade, prática de homossexuais, mais popularmente falada como “coisa de gay”, advém inicialmente da própria família como os processos de normalização, que simultaneamente também produzem e reproduzem os panópticos sociais, constituídos pela cultura, auxiliando assim, a normatização, regulação e instituição dos modos masculinos de ser e suas respectivas práticas. Quando há esta interferência negativa por parte da família, ocasiona um determinado medo de se perder a identidade masculina, um choque de identidades, ou seja, neste processo de normatização, para constituir-se “como um sujeito heterossexual um indivíduo é estimulado e obrigado a negar tudo àquilo que possa o mais vagamente possível ser associado à homossexualidade” (ANDREOLI, 2010, p.87). Nota-se, então, que o biopoder determina todo e qualquer papel social, investindo sobre toda a vida do sujeito, desde a biológica até a cultural (FERREIRA, 2008). Dessa forma, para ser aceito, ser considerado normal e estar dentro dos padrões sociais, os sujeitos devem abnegar suas vontades e desejos, permitindo que suas práticas e sua construção sexual sejam determinadas pelos mecanismos de poder estabelecidos socialmente. Esses mecanismos de poder trazem, em seu bojo, o imaginário de que homens, ao dançar, se aproximam de uma tendência ao homossexualismo, tornando-a então um elemento marcante e de peso na prática da dança por parte dos homens, sendo apontada como um obstáculo social por não estar enquadrada nas representações culturais hegemônicas de masculinidade (ANDREOLI, 2010). Este rótulo homossexual aos praticantes da dança, afeta não somente a vida externa, mas também sua própria consciência (BANDEIRA; DOMINGUES, 2010). Justifica-se assim a procura quase que absoluta das meninas no campo da dança, e para não ficar à margem ou ser um sujeito desviante da norma, cabe aos meninos praticar esportes, principalmente o futebol, considerado interesse masculino obrigatório e um elemento essencial para manutenção/produção da masculinidade (SANTOS, 2009). No Projeto COMUNI, notou-se, com frequência, atitudes preconceituosas e carregadas desses valores culturais e processos normalizadores, construídos e impostos pela sociedade no decorrer dos anos. Em várias aulas, pode-se observar como os meninos se sentiam coagidos com a presença de garotos que não fossem da turma e até mesmo das próprias companheiras. Em inúmeras situações os meninos paravam na metade da aula e sentavam, pois afirmavam que as meninas estavam zombando deles, chamando-os de gays, “mocinhas”, entre outros. Quando outros meninos assistiam, nenhum dos alunos (homens) fazia aula e, quando ao término os chamávamos para conversar, afirmavam não participar, pois não se sentiam à vontade de dançar na frente dos outros garotos. Não era raro o depoimento de insultos e alunos relatando as agressões verbais. Outro relato interessante foram as afirmações em que os alunos admitiam dançar escondidos e que não participariam de nenhuma apresentação por medo de serem classificados como afeminados. Por esse motivo, percebemos que parece haver uma relação entre o quantitativo de alunos e alunas que participam das aulas de dança no Projeto COMUNI em decorrência do processo de normalização estabelecido pela sociedade. A nomenclatura na qual foram classificados a zombaria dos amigos, vizinhos, familiares, e até mesmo durante as aulas por parte das companheiras de turma, os tornam infrequentes ou desistentes, pois são diversas vezes coagidos e inibidos, apresentando comportamentos retraídos ou agressivos. Diante dessa problemática, cabe ao profissional de Educação Física intervir durante 33 Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 nesse sentido, é de suma importância Cadernos UniFOA nistrar os corpos. A produção do poder, 34 as aulas com diálogos ou até mesmo propiciando experiências para que haja uma desconstrução do conceito de que dançar é “coisa de gay”, mostrando aos sujeitos que a sexualidade é algo subjetivo e construído ao longo do tempo, cabendo a cada um escolher o local e a opção sexual que se sentir melhor. É evidente que essa prática não trará resultados imediatos, é uma construção e uma mudança gradual e em longo prazo, que exigirá do profissional paciência e determinação. Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 6. Considerações Finais Na intenção de compreender os processos exclusórios que emergiam de nossa experiência em um projeto de dança no município de Volta Redonda, buscou-se o referido trabalho. O processo de discutir como a constituição do processo de normalização dos corpos cotidianamente se produz na sociedade atual, nos permitiu acessar outros conhecimentos antes não vislumbrados em nossas leituras e debates acadêmicos. Portanto, acreditamos que, a intenção de discutir os processos de controle que a sociedade “usa” para normatizar as ações dos sujeitos- estabelecendo papéis que definem os indivíduos como sendo masculino ou feminino, e inscrevendo em seus corpos padrões que devem ser seguidos, tendo a sexualidade como referência - foi atingido. Percebemos que, diante da padronização, refletem-se, atualmente, determinadas ações, sendo a dança uma prática que inibe e coíbe a participação de meninos, gerando aos que a praticam, comentários que vão muitas vezes confrontar suas identidades sexuais pelo fato da dança se caracterizar enquanto expressão de sentimentos. Assim, a prática da dança não define a sexualidade dos sujeitos e cabe aos profissionais de Educação Física trabalhar nesta vertente, conscientizando os alunos que a identidade sexual de cada sujeito é construída subjetivamente, independente do indivíduo dançar ou não, possibilitando a eles a vivência de todas as modalidades, sejam elas esportivas ou apenas expressivas. Outro aspecto importante a ser ressaltado, é a percepção de que o corpo é um processo de construção histórica, pois muitos fatos importantes e marcantes que ocorreram desde o início do século XVIII até o fim do século XX interferiram na sexualidade como uma forma de controle dos corpos e da sociedade: do dispositivo da sexualidade ao biopoder. Assim, entendendo a sexualidade como um dispositivo histórico e uma invenção da sociedade a fim de regular os comportamentos, temos o biopoder como forma de disciplinarização normalizando e domesticando os seres através de instituições panópticas, regendo assim, a vida da população para que atendam às expectativas de modernização e progresso. Sendo assim, ficou evidente que o biopoder se baseia na disciplina e vigilância do sujeito. Outro aspecto importante a ser salientado é a impossibilidade de tratar de sexualidade sem levar em consideração sua íntima relação com as questões de gênero. Vimos que podemos entender como gênero a identificação histórica dos sujeitos denominando-se como femininos ou masculinos. Já a sexualidade trata da forma como esses sujeitos optam em vivenciar seus desejos sexuais. Essa forma não é fixa, ela se constrói ao longo da vida. Quando o gênero perpassa a sexualidade, delimita as características que compõem a feminilidade e a masculinidade, marcando e denominando os sujeitos que fogem a essa delimitação como ‘anormais’. Falamos aqui como o gênero e a sexualidade, de forma atrelada, determinam as várias formas de sentir-se homem ou mulher e quais são seus papéis, definindo o que é normal e desvio sob a visão de uma determinada sociedade. Entendemos que as identidades sociais, inclusive as de gênero e sexualidade, são compostas e definidas por relações sociais que formam grupos com identidade determinada e os sujeitos reconhecem-se como parte desses grupos de acordo com suas atitudes. Em nossa pesquisa vimos que a dança se constitui em um desses espaços em que a sexualidade se corporifica articulando as representações culturais, definindo e regulando comportamentos que são adequados aos homens e às mulheres. Um comportamento masculino deve expressar força, competência e agressividade, sem conteúdo emocional, como a dança é uma prática de expressão corporal e de exteriorização de sentimentos, meninos que dançam são considerados gays. Esses valores culturais são transmitidos de geração a gera- 1. ACHAR, D. Ballet: uma arte. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998. 354p. 2. ANDREOLI, G. S. Representações de masculinidades na dança contemporânea. 2010. 158 f. Dissertação (mestrado) Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2010. 3. 4. BADIALI, M. F. Marias: biopolítica, vida nua e resiliência. 2009. 124 f. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2009. BANDEIRA, E.; DOMINGUES, J. V. Entre malhas, sapatilhas e corpos esguios: as masculinidades do ballet clássico em Rio Grande. In: CONGRESSO SULBRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 5., 2010, Itajaí, Anais eletrônicos. 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Enfim, a homossexualidade é apontada como um obstáculo à prática da dança por meninos, pois, mesmo de forma inconsciente eles agem de forma a contribuir com a manutenção da masculinidade. Observamos em nossas aulas de dança várias atitudes preconceituosas e depois de nossa pesquisa pudemos entender que essas atitudes fazem parte de uma construção histórica e cultural que viabilizam os processos normalizadores construídos no decorrer dos anos. Entende-se que os profissionais de Educação Física podem contribuir de maneira a esclarecer que todos têm o direito de expressar seus sentimentos da maneira como preferirem, e que não é a dança que define a sexualidade das pessoas. Acredita-se então, que trabalhando de forma a incentivar o respeito às diversidades, contribuir-se-á na diminuição dos processos exclusórios e/ou discriminatórios na sociedade. 36 14. ______. Microfísica do poder. 26. ed. São Paulo: Graal, 2008. 295p. 15. ______. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 7. ed. 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Belo Horizonte: Autêntica, 2000. 168 p. 39 Luciana Aparecida Cruz de Siqueira Pegas1 Sabrina Kelly Alves Honório1 Valesca da Silva Gonzalez1 Carolina Lorejam Crespo1 Bianca Ribeiro Barreto1 Henrique José do Nascimento1 Antonio Macedo D’Acri2 Maria Inês Fernandes Pimentel1,3 Sandro Javier Bedoya Pacheco1,3 Palavras-chave Dermatoses Idosos Diagnóstico Prevalência Resumo Estudos demonstram que, comparados com outros grupos de doenças, as dermatoses estão entre as mais frequentes patologias em consulta com médico generalista. Além disso, a faixa etária de 60 anos ou mais (idosos) é particularmente relevante, tendo em vista o envelhecimento gradual da população e necessidade cada vez maior de serviço médico qualificado, direcionado a este grupo populacional para diagnosticar e tratar as doenças específicas dessa idade. São necessários estudos epidemiológicos para determinar as dermatoses prevalentes, de modo a planejar melhor o atendimento e estabelecer prioridades e estratégias de cuidado, definindo áreas da Dermatologia que necessitam de maior atenção. O presente estudo tem o objetivo de conhecer a prevalência das dermatoses nos idosos atendidos pela especialidade Dermatologia da Policlínica do UniFOA, de modo a prover subsídios para melhorar o atendimento. Como metodologia, informações foram obtidas a partir de prontuários de 4.928 pacientes atendidos pela Dermatologia na Policlínica- UniFOA e os dados referentes a fevereiro de 2002 até maio de 2010 foram transferidos para um banco de dados e armazenados em computador. Diagnósticos dermatológicos foram divididos em grandes categorias para efeito de análise, realizada com o auxílio do pacote estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 16.0. Os idosos corresponderam a 10,24% do total dos pacientes e, dentre eles, a mediana de idade foi de 67 anos. Dermatoses infecciosas / infestações corresponderam à maioria dos casos (24,2%), seguida por eczemas (19,8%) e fotoenvelhecimento (8,9%). As neoplasias representaram 3,8% das afecções cutâneas. Saber quais são as doenças dermatológicas que mais comumente acometem este parcela de pacientes é importante para a otimização de estratégias voltadas ao seu diagnóstico e tratamento, principalmente daquelas que tem maior prevalência. 1 Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA), Curso de Medicina. 2 Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNI-RIO). 3 Fundação Oswaldo Cruz, Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (IPEC). Artigo Original Original Paper Recebido em 10/2012 Aprovado em 04/2013 Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Prevalent dermatological diseases in elderly treated in an outpatient dermatologic clinic in a primary care unit (Polyclinic UniFOA) in Volta Redonda, RJ, between 2002 and 2010. ISSN 1809-9475 Cadernos UniFOA Dermatoses prevalentes em idosos atendidos em um ambulatório de dermatologia de uma unidade básica de saúde (Policlínica UniFOA) de Volta Redonda, RJ, entre 2002 e 2010. 40 Abstract Studies show that, compared to other groups, skin diseases are among the most frequent diseases in consultation with a general practitioner. Furthermore, aged 60 or older (elderly) are particularly relevant in view of the gradual aging of the population and increasing need for qualified medical service directed to this population group to diagnose and treat specific diseases of this age. Epidemiological studies are needed to determine the prevalent skin diseases in order to better plan and prioritize care strategies, defining areas of Dermatology that need more attention. This study aims to determine the prevalence of skin diseases in the elderly served by Dermatology specialty at Polyclinic UniFOA, in order to improve care. Information was obtained from medical records of 4,928 patients seen by the Dermatology outpatient clinics at Polyclinic-UniFOA from February 2002 through May 2010, and data were transferred to a database and stored in computer. Dermatological diagnoses were divided into broad categories for analysis, performed with the aid of the Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) version 16.0. Elderly accounted for 10.24% of the total of the patients, and, among them, the median age was 67 years. Most cases corresponded to skin infections / infestations (24.2%), followed by eczema (19.8%) and photoaging (8.9%). Neoplasms accounted for 3.8% of skin disorders. It is important to learn the most common skin diseases that affect this portion of patients to optimize strategies aimed at diagnosis and treatment, particularly for those that have a higher prevalence. Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 1. Introdução Espera-se que, em 2050, muitos países tenham mais de 30% de suas populações constituídas por pessoas idosas (ONU, Madrid International Plan of Action on Ageing, 2002). No Brasil, o Estatuto do Idoso (Lei no 10.741, de 1º de Outubro de 2003) em seu artigo 1º, considera como tais “as pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos”. Queixas dermatológicas são muito frequentes na atenção básica de saúde, tornando extremamente necessário o treinamento médico em doenças cutâneas (AL SHOBAILI, 2010; NORMAN; MÖLSTAD, 2010). Alguns estudos demonstram que, comparados com outros grupos de doenças, as dermatoses são mais frequentes ou estão entre as mais frequentes razões para consulta ao médico generalista (SCHOFIELD et al., 2011). Estudos epidemiológicos são necessários para determinar as dermatoses mais prevalentes, de modo a planejar melhor o atendimento e estabelecer prioridades e estratégias de cuidado, definindo áreas da Dermatologia que necessitam de mais atenção. Educação e treinamento apropriados em doenças dermatológicas são necessários para os estudantes de Medicina e para todos os profissionais que lidam ou lidarão com aten- Keywords Dermatological Diseases Elderly Prevalence ção básica de saúde. A faixa etária de 60 anos ou mais é particularmente relevante, tendo em vista o envelhecimento gradual da população. O presente projeto visa conhecer a frequência das dermatoses na faixa de idade acima de 60 anos, de modo a aprofundar o conhecimento sobre as doenças na pele do idoso, bem como prover subsídios para melhorar o atendimento dermatológico aos pacientes atendidos na Policlínica Três Poços (UniFOA). É necessário conhecer a ocorrência de doenças cutâneas infecciosas, dermatites ou eczemas, distúrbios dos pelos e dos pigmentos, neoplasias em idosos. Esperamos fornecer informações que possam auxiliar na elaboração de futuros parâmetros diagnósticos e terapêuticos direcionados às dermatoses nos idosos, especialmente no que se refere à identificação dos pacientes com doenças de maior gravidade ou de maior risco de insucesso no tratamento. Por outro lado, pretendemos contribuir para melhorar as medidas de controle e prevenção das doenças cutâneas nesta faixa etária, considerando que a Policlínica UniFOA é um centro de referência para o atendimento em Dermatologia no município de Volta Redonda e municípios vizinhos (Pinheiral, Barra Mansa, Barra do Piraí, Arrozal, Quatis). Acreditamos ser o ponto de partida de projetos Trata-se de um estudo descritivo retrospectivo. Desde 2002, são computados todos os atendimentos realizados pelo ambulatório de Dermatologia na Policlínica UniFOA. As informações são obtidas a partir dos prontuários (informações secundárias) e constam das seguintes variáveis: gênero, idade, cor, diagnóstico(s) dermatológico(s), CID-10. Os dados referentes a fevereiro de 2002 até maio de 2010 foram coletados e transferidos para um banco de dados, ficando sob o cuidado dos professores responsáveis e dos alunos envolvidos no projeto. A anonimidade dos pacientes foi totalmente garantida. A análise dos dados constou de medidas de proporção para as variáveis categóricas (gênero, cor, diagnóstico(s), CID-10), bem como medidas de tendência central e dispersão para a variável quantitativa contínua (idade). Os diagnósticos dermatológicos foram 41 3. Resultados Dentre 4.928 pacientes atendidos no ambulatório de Dermatologia da Policlínica UniFOA, entre 01 de fevereiro de 2002 e 31 de maio de 2010, 505 pacientes tinham idade entre 60 e 98 anos, perfazendo 10,24% do total (Fig.1), sendo a mediana de idade 67 anos. Dentre estes, trezentos e quarenta e um (67,5%) eram do sexo feminino, e 163 (32,3%) do sexo masculino. Quanto a cor, havia 1% de pardos, 31,3% de negros e 67,5% de brancos (Fig. 2). Figura 1 - Proporção de idosos quanto à idade (n=505) Figura 2 - Proporção de idosos quanto à cor Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 2. Materiais e métodos divididos em grandes categorias para efeito de análise, a saber: dermatoses infecciosas / infestações (produzidas por vírus, bactérias, fungos, protozoários, ácaros, larvas, etc); eczemas e afins (englobando as diversas formas de dermatites); distúrbios da pigmentação (hipercromia, hipocromia, acromia); distúrbios dos pelos (alopecias, hirsutismo, etc); neoplasias; fotoenvelhecimento; nevos; e outras (dermatoses não passíveis de agrupamento nas categorias acima discriminadas). Os dados foram analisados com o auxílio do pacote estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS for Windows versão 16.0). Cadernos UniFOA relacionados às dermatoses nos idosos, grupo etário que cresce em importância à medida que ocorre o processo natural de envelhecimento da população. 42 Dentre as dermatoses encontradas neste grupo de idosos, aquelas caracterizadas como infecciosas / infestações corresponderam à maioria dos casos (24,2%), seguida por eczemas (19,8%) e fotoenvelhecimento (8,9%) (Fig. 3). Figura 3 - Distribuição dos pacientes quanto às dermatoses prevalentes Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 4. Discussão Existem dermatoses que estão relacionadas com a idade, estando os pacientes idosos em risco para uma grande variedade de alterações da pele, desde a xerose cutânea até o melanoma, de alto risco para a vida. Um estudo no México relacionou como as dermatoses mais frequentes encontradas em idosos, tanto em um serviço geriátrico quanto em um serviço de dermatologia (com achados semelhantes em ambos): ceratose actínica, onicodistrofia, xerose, prurigo, doenças vasculocutâneas, lentigos solares, ceratose seborreica, doença de Favre-Racouchot, angiomas rubi e hipomelanose guttata (Vargas-Alvarado et al, 2009). Já na Croácia, estudo semelhante com pacientes geriátricos em um ambulatório de dermatologia, revelou que os diagnósticos mais comuns entre as pessoas de 65 anos ou mais foram: ceratose actínica, ceratose seborreica, eczema numular, dermatite alérgica de contato, micoses, psoríase, verrugas vulgares, fibromas, nevos; e que o número de pacientes com ceratose actínica, ceratose seborreica e micose foi significativamente maior entre os idosos do que em uma população mais jovem (CVITANOVIC et al., 2010). Os pacientes por nós estudados tiveram como suas principais queixas dermatológicas as infecções/infestações cutâneas e os eczemas ou lesões afins; e, em menor escala, o fotoenvelhecimento, os distúrbios da pigmentação, e as neoplasias. Quase 24% dos pacientes idosos atendidos na Policlínica UniFOA entre 2002 e 2010 apresentaram infecções ou infestações cutâneas. Uma susceptibilidade aumentada a infecções entre idosos é observada (Maillard, 2011) e é indicativa de que a imunidade cutânea se torna defeituosa com a idade (VUKMANOVIC-STEJIC et al., 2011). Os eczemas e lesões afins representaram cerca de 1/5 das queixas principais dos pacientes analisados. O conteúdo de ácidos graxos livres na pele é bastante diferente entre pessoas jovens e pessoas idosas (JACOBSON et al., 1990). Fatores intrínsecos (predisposição genética), fatores extrínsecos próprios da idade (efeito do dano causado pelo sol e debilidade geral da saúde) (DAVIES, 2008), uso de diuréticos e medicações similares, abuso de aquecedores ou ar condicionado (WHITECHU; REDDY, 2011) são fatores contribuintes que podem afetar a pele em idosos. Três fatores fisiológicos ocorrem com a idade e podem conduzir à alta prevalência de problemas dermatológicos pruriginosos em idosos: o reparo da barreira epidérmica está diminuído; o sistema imune nos idosos apresenta um balanço alterado entre as funções dos linfócitos T helper 1 (Th1) e T helper 2 (Th2); e desordens neurodegenerativas podem levar ao prurido através de efeitos centrais ou periféricos (BERGER; STEINHOFF, 2011). O sobrevivência específica relacionada à doença significativamente menor em pacientes mais idosos. A probabilidade de desenvolvimento de melanoma nos Estados Unidos aumenta de 0,15% (homens) e 0,28% (mulheres), entre o nascimento e 39 anos, para 1,85% (homens) e 0,81% (mulheres) para pessoas com 70 anos ou mais (AMERICAN CANCER SOCIETY, CANCER FACTS & FIGURES, 2011). 43 5. Conclusão O conhecimento das dermatoses que afetam os idosos é importante para o estabelecimento de estratégias voltadas ao seu diagnóstico e tratamento, por exemplo, a verificação da possibilidade de realização de exames complementares como o exame micológico, e o entendimento com outros serviços em nível municipal para viabilizar o tratamento de lesões como as neoplasias cutâneas. Com este estudo, esperamos contribuir para um melhor atendimento voltado aos pacientes com 60 anos ou mais na Policlínica UniFOA, nos anos vindouros. 1. AL SHOBAILI, H.A. The pattern of skin diseases in the Qassim region of Saudi. 2. Arabia: What the primary care physician should know. 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A xerose causa prurido, que leva a escoriações e a risco aumentado de infecções cutâneas (WHITE-CHU; REDDY, 2011). Fotoenvelhecimento foi encontrado em pouco menos de 10% dos nossos pacientes idosos, e distúrbios da pigmentação foram encontrados em menos de 5% destes. Nesta faixa etária, são comuns os lentigos solares e outras alterações com fisiopatologia menos definida, como a hipomelanose guttata idiopática (SHIN et al., 2011). O aumento da ocorrência de câncer na população em geral é principalmente explicado pelo progressivo envelhecimento da população (BUZZONI et al., 2011). O câncer de pele é particularmente importante entre os idosos, e o diagnóstico precoce e tratamentos adequados constituem-se em fatores cruciais para reduzir a morbimortalidade com ele relacionada. A ocorrência de câncer cutâneo não melanoma é comum em pacientes nesta faixa etária, sendo sua principal causa a exposição ao sol (PERROTTA et al., 2011); a deficiência da imunidade cutânea nos idosos aumenta também a susceptibilidade ao câncer (VUKMANOVIC-STEJIC et al., 2011). Metade de todas as lesões cirurgicamente removidas da cabeça e pescoço de pessoas com 60 anos ou mais, em um hospital da Croácia, eram tumores malignos, dentre os quais os mais comuns eram carcinomas basocelulares (ALERIC; BAUER, 2011). A incidência do melanoma cutâneo está crescendo nos Estados unidos, especialmente em pacientes com 65 anos ou mais (SIMARD et al., 2012). Num estudo de 364 pacientes, com diagnóstico de melanoma atendidos na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo entre maio de 1993 e janeiro de 2006, 52% tinham mais de 60 anos, e a mediana de idade foi de 61 anos; os idosos foram significativamente mais afetados por lesões de pior prognóstico – mais espessas e ulceradas (FERRARI JR et al., 2008). Rutkowski et al. (2010) também observaram que as lesões de melanoma em pacientes idosos (≥ 65 anos) eram mais espessas e 70% apresentavam ulceração, sendo a 44 6. CVITANOVIC, H.; KNEZEVIC, E.; KULJANAC, I.; JANCIC, E. Skin disease in a geriatric patients group in outpatient dermatologic clinic – Karlovac, Croatia. Collegium Antropologicum, v. 34, p. 247–251, 2010. 7. DAVIES, A. Management of dry skin conditions in older people. British Journal of Community Nursing, v.13, p. 250, 252, 254–257, 2008. 8. 9. FERRARI JR, N.M.; MULLER, H.; RIBEIRO, M.; MAIA, M.; SANCHES JR, J.A. Cutaneous melanoma: Descriptive epidemiological study. 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BMC Family Practice, v. 31, p. 11–62, 2010. 47 O Médico a partir do imaginário coletivo de último anistas de Medicina The Medical Doctor from the collective imaginary of last year of Medicine students Maria Auxiliadora Motta Barreto¹ Glauber Correia de Oliveira² Rosana Gonçalves Oliveira² Samara Guerra Carneiro² Desenho-Estória com Tema Medicina Original Paper Resumo O objetivo do trabalho foi considerar o imaginário coletivo de último anistas de um curso de medicina, sobre a profissão do médico, a partir de pesquisa feita em um projeto de Iniciação Científica. Foram realizados encontros coletivos com alunos voluntários do 11º e 12º períodos. Utilizou-se o procedimento de Desenhos-Estória com Tema, tendo sido analisados 17 Desenhos-Estória. A partir de uma abordagem psicanalítica, foram descritos determinantes lógico-emocionais, destacando a predominância de campos psicológicos não conscientes, como o que diz respeito às produções em que são expressas a imagem que os alunos têm sobre o médico e seu paciente, percebendo-se descaracterização da figura de ambos. Destacaram-se concepções mercantilistas, como a representação da profissão apenas como um cifrão e representações estereotipadas, como o “homem vitruviano”, mostrando dificuldade em integrar ideias pré-concebidas acerca da profissão. Assim, constata-se a necessidade de reapropriação do jovem, da própria escolha profissional e aproximação da realidade que será vivenciada enquanto médico. Abstract This study was aimed to consider the collective imagination of their last year of medical students about the medical profession, from a research done on a project of Undergraduate Research. Group meetings were performed with students from 11 and 12 periods. We used the procedure with DrawingsStory theme whose were analyzed 17. From the psychoanalytic approach, we obtained logical-emotional determinants that sustain the collective imagination as conduct, highlighting the prevalence of unconscious psychological fields, which refers to productions that are expressed in images that students have about the doctor and his patient, noticing the picture is distorted in both. Mercantilist concepts were highlight, for example, the representation of the profession as a dollar sign and stereotypical representations, as the “vitruvian man”, showing difficulty in integrating pre-conceived ideas on the profession. So, we can realize the necessity of reappropriation of their own choice and approximation of the reality to be experienced as a medical professional. Recebido em 09/2012 Aprovado em 04/2013 Key-words Collective imaginary Draw Stories with a Theme Medicine 1 Doutora em Psicologia como Profissão e Ciência, PUC-Campinas; docente e orientadora de projeto de iniciação científica no Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA) e da Universidade de São Paulo (USP-Lorena) 2 Graduandos em Medicina na Escola de Ciências Médicas de Volta Redonda (UniFOA); pesquisadores do projeto de iniciação científica) Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Imaginário coletivo Artigo Original Cadernos UniFOA Palavras-chave: ISSN 1809-9475 Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 48 1. Introdução mação generalista, humanista, crítica e reflexiva, capacitado a atuar, pautado Sabe-se que a satisfação laboral e pessoal do indivíduo está relacionada com o estilo de vida e com a personalidade de cada um (BARRETO, 2000; BARRETO et al., 2009). Partimos do princípio de que a escolha profissional está diretamente relacionada com essa satisfação e optamos por pesquisar o que pensam jovens médicos, sobre a profissão, em um momento em que já atuam como internos e em que as práticas individuais e coletivas vão se consolidando. O trabalho, além de uma atividade humana natural e que promove desenvolvimento e manutenção da saúde do ser humano é, também, uma atividade comercial criada pela sociedade, exigindo gastos e energia física e mental. Portanto, é uma atividade que, invariavelmente, acompanha as várias mudanças da vida cotidiana e que sofre alterações constantemente, ao longo de toda a história, caracterizando-se como fenômeno de grande complexidade (BARRETO; VAISBERG, 2007). Dessa forma, o trabalho é parte da vida física e emocional de cada pessoa, sendo sua escolha influenciada diretamente pelos sentimentos do indivíduo. Em se tratando da área da saúde, com a constante desvalorização que o setor vem sofrendo, nos últimos anos, devido às dificuldades impostas pelo mercado de trabalho, os jovens estão se sentindo cada vez menos atraídos pela área, embora ainda exista a marca do status, já que a medicina é uma das faculdades mais conceituadas como promissora e de grande sucesso, como apontam diversas obras sobre escolha e orientação profissional (BARRETO; VAISBERG, 2007; SPARTA, 2003; NORONHA; AMBIEL, 2006, WOLECK, 2002). Como participantes ativos na escola de medicina, seja como docente ou como discentes, podemos observar claramente a diferença entre como os estudantes se portam e falam sobre a profissão, em função de diversas concepções, daquilo que é preconizado nas diretrizes curriculares nacionais da graduação em medicina. Art. 3º O Curso de Graduação em Medicina tem como perfil do formando egresso/profissional o médico, com for- em princípios éticos, no processo de saúde-doença em seus diferentes níveis de atenção, com ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação à saúde, na perspectiva da integralidade da assistência, com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania, como promotor da saúde integral do ser humano (CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2001) Essas diferenças entre as atitudes e verbalizações dos estudantes do curso, do que é preconizado, despertam a necessidade de atuar preventivamente junto aos jovens que fazem parte dessa realidade. É muito comum os estudantes encontrarem dúvidas, medo, insegurança e vários outros sentimentos que podem prejudicar seu desempenho profissional e sua satisfação na carreira escolhida (BARRETO, 2000; BARRETO; VAISBERG, 2007). Assim, consideramos, neste trabalho, a dramática do viver adolescente a respeito da escolha profissional (WINNICOTT, 1975), em especial a escolha da profissão do médico. Para isso, utilizamos a visão blegeriana (BLEGER, 1963) sobre a necessidade de considerar todas as condições concretas em que um fenômeno ocorre. A escolha profissional é uma conduta eminentemente humana e o que é aplicado à conduta é também aplicado às escolhas, sendo que ambas são influenciadas pelo pessoal e pelo social. Baseamo-nos no conceito de campos psicológicos propostos por Bleger (1975), enfatizando que a dramática humana é forjada na relação com o outro (BARRETO; VAISBERG, 2007) e em conjunto com a coletividade. A partir desse contexto, este artigo foi escrito como resultado de um projeto de iniciação científica. O objetivo da pesquisa foi avaliar o imaginário coletivo de estudantes de medicina, sobre a profissão do médico. Para esse estudo foram considerados estudantes de uma escola médica do interior do estado do Rio de Janeiro, prestes a se formar, ou seja, que cursavam o 11º e o 12º períodos no ano de 2009. 49 3. Resultados e Discussão Foram obtidos 17 desenhos-estórias dos últimos anistas, considerados válidos, produzidos por nove (9) alunos do 11° e por oito (8 ) alunos do 12° períodos do curso de Medicina. Durante a realização do procedimento, houve certa dificuldade em encontrar os alunos devido à diferença de horários entre eles, por serem internos. Entre os que foram contatados, a maioria mostrou interesse em participar da pesquisa, porém, houve aqueles que se recusaram ou copiaram o desenho do colega. Na análise dos Desenhos-Estória com Tema, percebemos uma predominância de alguns campos psicológicos não conscientes e dentre eles destacamos: 3.1. Sem cara, sem coração Esse campo diz respeito às produções em que são expressas as imagens que os alunos têm sobre o médico e seu paciente. Nota-se que, na maioria dos desenhos-estória, o paciente não é sequer referenciado, o mesmo acontecendo com a figura do próprio médico. Foi percebida uma descaracterização da figura de ambos e, quando representados, foi de forma incompleta como, por exemplo, a presença apenas do tronco de um médico (figura 1), ou sem características relacionadas ao solicita- Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 O desenho metodológico empregado nesta pesquisa foi qualitativo. Assim, esperamos compreender as idealizações acerca da profissão e as expectativas de quem estará no mercado de trabalho, em breve. Baseando-nos no conceito de que o homem é um ser essencialmente social e considerando que cada pessoa expressa sua conduta tanto em âmbito individual, quanto em âmbito coletivo (BLEGER, 1963), abordamos o imaginário de estudantes de medicina, enquanto um grupo que representa uma coletividade. Podemos abordar as atitudes humanas de maneira singular e subjetiva, porém, é possível também que o coletivo represente uma ação mais globalizada e que não especifica a particularidade de cada indivíduo e, assim, a análise é feita em sua totalidade. O imaginário coletivo avalia um conjunto de ideias e imaginações, dando a conhecer expressões afetivas e emocionais inconscientes, através de condutas manifestas. O conceito de transicionalidade de Winnicott (1967/1975) também foi aqui empregado, uma vez que atribui, ao lugar a que nos referimos, o significado de espaço intermediário, ou transicional, entre o que é percebido objetivamente e concebido subjetivamente (AIELLOVAISBERG, 2004). Nesse espaço intermediário é que julgamos encontrar o real significado de pensamentos, sentimentos e ações humanas. (BARRETO; VAISBERG, 2007). Fizemos uso, assim, do procedimento de Desenhos-Estória com Tema, para tal investigação. Realizamos a pesquisa com alunos do 11º e 12º períodos durante o ano de 2009, convidando os estudantes a participarem de uma atividade que se tornaria uma pesquisa. Ressaltamos que os procedimentos somente foram desenvolvidos após submissão e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos do UniFOA. Para obtermos a produção, foram distribuídas folhas de sulfite A4 e foi solicitado, aos alunos, que desenhassem um médico, da seguinte forma: “Desenhe um (a) médico(a) e, depois, escreva uma estória sobre ele(a), no verso da folha. Pedimos não assinar a folha, mas colocar sua idade e sexo”. O procedimento de Desenho-Estórias com Tema, nos modelos de Aiello-Vaisberg (2004) e Trinca (1987) para análise do imaginário coletivo, é bastante utilizado como recurso de abordagem de temas com difícil acesso e que não se apresentam no campo consciente e/ou suscitam emoções indesejáveis (BARRETO, 2006). Após a obtenção dos desenhos-estória, foi iniciada a análise dos mesmos, no grupo responsável pela pesquisa. Numa abordagem psicanalítica, foi feito o uso de associações livres e atenção flutuante, devidamente ajustado da prática clínica para a pesquisa. Utilizamos as ideias que Silva (1993, p. 20) destaca, adotando, como nossa, a concepção que o método em psicanálise caracteriza-se: ...por uma espécie de jogo em que fantasias de ambos os interlocutores organizam-se em busca de um consenso sempre questionado a respeito do avesso do que foi dito. Ou seja, o método da psicanálise caracteriza-se por abertura, construção e participação. Cadernos UniFOA 2. Metodologia 50 do, como no desenho de um surfista (figura 3). Também chama a atenção a falta total de figura 1 alusão a pessoas, caracterizando a despersonalização (figura 2). figura 2 figura 3/ Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 3.2. Real versus Ideal Em trabalho anterior (BARRETO et al., 2009), na mesma linha que seguimos aqui, mas com outra população, a idealização aparecia de forma imatura, impregnada da fantasia do ideal de médico. Nesse campo, eram apresentados médicos como responsáveis únicos pela saúde e bem-estar do paciente, capazes de solucionar todos os problemas, totalmente incansáveis e a medicina aparecia como verdade absoluta. Aqui, com este grupo, pelo estágio de formação – último anistas –, era esperado que os estudantes estivessem mais próximos da realidade profissional do médico, até mesmo pelo que preconizam as próprias DCN´s (2001, p.3): Art. 5º A formação do médico tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentos figura 4 requeridos para o exercício das seguintes competências e habilidades específicas: XVI - lidar criticamente com a dinâmica do mercado de trabalho e com as políticas de saúde; No entanto, os jovens apresentaram, por exemplo, concepções como: apenas um cifrão (figura 4) ou a medicina exclusivamente como doação de si (figura 5), ou ainda, representações estereotipadas, como o “homem vitruviano” (figura 6) ou a representação do paciente com o corpo e do médico apenas com cabeça (figura 7), atestando uma certa soberania deste e fragilidade daquele. Tais representações mostram a dificuldade em integrar ideias pré-concebidas acerca da profissão com a prática profissional. figura 5 51 Esse campo do imaginário retrata a existência de uma dúvida persistente que envolve a dificuldade em lidar com aquilo que se considera como oposto. O imaginário configura-se de acordo com as linhas que definem uma estrutura de conduta onde se distinguem o bom e o mau, o certo e o errado, o desejado e o encontrado, como polaridades inconciliáveis. O médico é apresentado como sujeito à indecisão total, pura e simples, o que foi retratado por pontos de interrogação (figura 8) ou à escolha entre dois caminhos (figura 9), ou ainda é apresentado como pendendo sempre entre polos opostos. Por exemplo, quando é apresentado como escravo e senhor – crucificado (figura 10), ou ainda quando coloca a profissão como uma profissão de contrastes, antagonizando o relacionamento interpessoal com remuneração (figura 11). figura 8 figura 9 figura 10 figura 11 Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 3.3. E agora? figura 7 Cadernos UniFOA figura 6 52 4. Considerações Finais A análise do material coletado na pesquisa nos faz considerar que, nos moldes preconizados pelas DCN´s, a formação do profissional médico não vem proporcionando uma representação da profissão que possa ser considerada integrada. O imaginário apresentado não condiz com a ênfase humanista esperada, e demonstra preocupações voltadas ao mercado de trabalho, mais do que quanto ao exercício da profissão. Na amostra em questão, em similaridade com pesquisa anterior foi identificada uma tendência a encarar a medicina como negócio, com onipotência, independente do paciente, ou como um estereótipo que, ao longo da formação, precisaria estar mais próximo da práxis. Encarada assim, a opção pela profissão e a formação profissional deixam de ser momentos integrados e passam a ser um sintoma de problema que impede a expressão do self, acarretando diversas desadaptações. O que se apresenta indica a necessidade de reapropriação, pelo jovem, da própria escolha e aproximação da realidade que será vivenciada enquanto profissional de medicina, apontando para a importância de estratégias psicoprofiláticas a serem desenvolvidas junto aos futuros médicos. 5. Referências Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 1. 2. 3. 4. AIELLO-VAISBERG, T. M. J. Ser e fazer: Enquadres diferenciados na clínica winnicottiana. São Paulo, SP: Ideias & Letras, 2004. 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Revista Leonardo Pós – Instituto Catarinense de Pós-Graduação, v. 1, p. 1, 2002. Endereço para Correspondência: Maria Auxiliadora Motta Barreto [email protected] Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA Av. Paulo Erley Abrantes, 1325 Três Poços - Volta Redonda/RJ CEP: 27240-560 53 O uso não prescrito de metilfenidato entre acadêmicos de Medicina The nonmedical use of methylphenidate among medical students Samara Guerra Carneiro1 Airton Salviano Teixeira Prado1 Hermiton Canedo Moura1 João Francesco Strapasson1 Natália Ferreira Rabelo1 Tiago Turci Ribeiro1 Eliane Camargo de Jesus2 Automedicação Estudantes de Medicina Original Paper Resumo O metilfenidato é um fármaco do grupo dos anfetamínicos. A potencialização do desempenho cognitivo apresentado pelo medicamento atrai pessoas saudáveis que buscam a melhora de sua performance. Este estudo teve como objetivo analisar a prevalência do uso não prescrito do metilfenidato entre os estudantes de Medicina. Estudo transversal no qual obtivemos informações a partir de um questionário aplicado aos alunos do 1° ao 8 ° períodos do curso de Medicina. Encontramos uma prevalência de 23,72% para o uso indiscriminado desse estimulante entre os acadêmicos. Não houve diferença significativa de consumo entre homens e mulheres. Dentre as pessoas que fazem o uso indiscriminado, 64,86% informaram ter apresentado efeitos colaterais. Desses 23,72%, 13,51% usam o fármaco para estudar para todas as provas do período letivo, e 10,81% tiveram que aumentar a dose da droga para tentar obter o mesmo efeito de quando iniciaram o uso. Por outro lado, 86,49% dos que usam indiscriminadamente relataram aumento do poder de concentração e ainda 54,05% observaram uma melhora do rendimento acadêmico. Observamos um relevante aumento do uso com o decorrer do curso, pois, a distribuição dos 37 participantes que já fizeram uso do metilfenidato de forma indiscriminada se deu entre o 3º e 8º períodos, sendo a maior distribuição no último período analisado. Por fim, existe a necessidade de melhor compreender os diferentes fatores envolvidos na resposta e na adaptação ao estresse inerente ao curso de Medicina para poder ajudar na prevenção do uso inadequado de metilfenidato pelos futuros médicos. Abstract Methylphenidate is a drug that belongs to the group of amphetamine. The enhancement of cognitive performance presented by the drug attracts healthy people seeking to improve their performance. This study aimed to analyze the prevalence of non-prescribed use of methylphenidate substance among medical students. Crosssectional study in which we obtained information from a questionnaire, was applied over students from 1st to 8th semesters of medical school. We found a prevalence of 23.72% for the indiscriminate use of this stimulant among academics. There was no significant difference in consumption between males and females. Among the people who make indiscriminate use, 64.86% of them reported side effects. Also out of this 23.72%, 13.51% used the drug to study for all tests of the school year, and 10.81% had to increase the dosage to get the same effect as when they started using it. Moreover, the remaining 86.49% of whom use indiscriminately, reported increase in power of concentration and yet, 54.05% observed an improvement in academic performance. We noticed a significant increase in the use of the drug throughout the Medical Degree. Once there is no report of usage in the early semesters, the distribution of the 37 participants, who have used methylphenidate indiscriminately, took place between the 3rd and 8th semesters, with the largest concentration in the last period analyzed. Finally, there is the need to better understand the different factors involved in the response and adaptation to the stress, inherent to medical school, in order to help preventing the inappropriate use of methylphenidate by future doctors. 1 Discente do curso de medicina do Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA 2 Docente do curso de medicina do Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA Keywords Amethylphenidate Self medication Medical students Recebido em 10/2012 Aprovado em 04/2013 Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Metilfenidato Artigo Original Cadernos UniFOA Palavras-chave ISSN 1809-9475 Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 54 1. Introdução O metilfenidato é um fármaco do grupo dos anfetamínicos que tem como forma comercial mais conhecida a Ritalina®. Essa substância, classificada como estimulante do sistema nervoso central, apresenta efeitos mais proeminentes sobre a atividade mental do que a motora. (COCCARO et al., 2006). Seu mecanismo de ação está relacionado ao estímulo direto de receptores alfa e beta adrenérgicos ou à liberação, indiretamente, de dopamina e noradrenalina nos terminais sinápticos (PASTURA; MATTOS, 2004). Tem como principais indicações, o tratamento da narcolepsia, em que se observa sonolência diurna, episódios de sono inapropriados e ocorrência súbita de perda de tônus muscular voluntário, e do transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) que consiste em um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade. Surge antes dos sete anos de idade e interfere em pelo menos duas áreas de atuação da criança, como lar, colégio e grupo de amigos (PASTURA; MATTOS, 2004). Devido ao aumento de casos diagnosticados de TDAH, prevalente transtorno neurocomportamental, foi facilitado o acesso ao metilfenidato e às anfetaminas, medicamentos indicados ao controle dessa síndrome (WILENS et al., 2008). A potencialização do desempenho cognitivo apresentado pelo medicamento atrai pessoas saudáveis que buscam melhorar seu desempenho. Isso, frequentemente, ocorre quando são submetidas a situações que exijam uma maior capacidade neste sentido. O termo “Cognitive enhancement” traduzido como “aperfeiçoamento cognitivo”, surgiu, segundo Teixeira (2005) no início do ano 2000 para indicar a possibilidade de uma droga - além de sua indicação médica - “aperfeiçoar” artificialmente uma capacidade já presente. Os universitários, devido a suas obrigações e cobranças internas, representam grande parcela dos usuários que não apresentam indicações clínicas, como TDAH (DE SANTIS et al., 2008). No Brasil, ainda não existe uma palavra ou expressão estabelecida para nomear essa prática, porém, surgiram algumas denominações, tais como: “uso instrumental de remédios”, “drogas para turbinar o cére- bro”, “neurologia cosmética”, “dopping cerebral” e “drogas de inteligência” (BARROS; ORTEGA, 2009) . Cruz et al. (2011), em um estudo realizado na Universidade Federal da Bahia encontraram uma prevalência de 8,3% para o uso não prescrito do metilfenidato entre os acadêmicos de Medicina. O uso desse fármaco tem autorização legal para o tratamento de pessoas com doenças e transtornos psiquiátricos. O metilfenidato está incluído na Convenção de Substâncias Psicotrópicas de 1971 da ONU, assim, esse medicamento necessita de um controle especial, pois apresenta risco de abuso e dependência (BARROS; ORTEGA, 2011). Apesar disso, estudantes de medicina- por serem sobrecarregados com vasto conteúdo e pelos momentos de estresse, que correspondem principalmente ao período de avaliações- representam o grupo de estudantes que mais comumente faz uso indiscriminado da droga, sem se preocupar com os efeitos colaterais (POSADA, 1996, apud MENDONZA, 2002). Entre os de curto prazo, destacam-se anorexia e insônia, seguidas de dor abdominal e cefaleia. Já, em longo prazo, o destaque maior é para a dependência, sendo esse um risco mais teórico do que prático, segundo Pastura e Mattos (2004). Apesar da realidade vivenciada, poucos estudos têm sido realizados no mundo com o intuito de verificar a prevalência do uso indiscriminado de metilfenidato. Em estudo realizado pelo Ministério da Saúde da Colômbia, Posada (1996, apud MENDONZA, 2002) demonstrou que os acadêmicos de Medicina foram os maiores consumidores entre os grupos de universitários selecionados. Alguns estudos norte-americanos mostraram uma importante prevalência do uso dessa droga, principalmente entre universitários. Babcock e Byrne (2000) encontraram a prevalência de 16% em estudo realizado numa universidade do Estado de Massachusetts. De Santis et al. (2008), em estudo realizado na Universidade de Kentucky, mostraram uma frequência de 34%. McCabe et al. (2005) apontaram que 6,9% dos estudantes de diversas faculdades norte-americanas faziam uso. Por outro lado, Bassols et al. (2008) mostraram que nenhum acadêmico da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul informou usar a droga. Estudo transversal, cuja amostra foi os alunos do curso de Medicina do Centro Universitário de Volta Redonda, localizado na cidade de Volta Redonda, no Estado do Rio de Janeiro, no período de agosto a novembro de 2011. Após o trabalho ter sido aprovado pelo Comitê de Ética, foi aplicado um questionário padronizado e autoexplicativo aos alunos do 1° ao 8° períodos. Foram sorteados aleatoriamente 20 alunos de cada sala, totalizando 160 pessoas. Todos os estudantes do curso de Medicina do 1° ao 8° períodos, independente do sexo, foram incluídos no estudo. Foram 55 3. Resultados A pesquisa foi realizada entre os dias 31 de outubro e 16 de novembro de 2011, no Centro Universitário de Volta Redonda. Alunos do 1° ao 8 ° períodos do curso de Medicina participaram do estudo. Foram sorteados 20 alunos de cada sala, de forma aleatória, totalizando 160 pessoas, sendo que 4 recusaram-se a participar, 3 destes do primeiro período e 1 do quinto período. Entre os participantes, 72 (45%) eram do sexo feminino e 88 (55%) do sexo masculino. Dos resultados avaliados, 94,23% (147) dos participantes já ouviram falar da droga metilfenidato e 62,82% (98) do total conhecem o mecanismo de ação. Todos os alunos analisados, 23,72% (37) relatam que já fizeram ou fazem o uso indiscriminado da droga e apenas 2,56% (4) utilizam a medicação sob prescrição médica para o tratamento de T.D.A.H. Figura 1: Comparação do uso e não uso do metilfenidato pelos entrevistados Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 2. Materiais e Métodos excluídos os indivíduos que se recusaram a participar da pesquisa e os menores de dezoito anos, além dos internos, alunos do 9° ao 12° períodos do curso, pois esses não eram submetidos a períodos de prova como os demais. Cadernos UniFOA Esse estudo teve como objetivo geral identificar a prevalência do uso indiscriminado da substância metilfenidato entre os estudantes de Medicina do Centro Universitário de Volta Redonda - RJ. Entre os específicos, destacam-se: analisar se há aumento do uso da droga no decorrer do curso, comparar o uso entre alunos calouros e veteranos, investigar os benefícios e riscos da sua utilização, descrever os efeitos colaterais observados pelos estudantes e por fim, conscientizar os alunos sobre o uso errado do fármaco. 56 Dentre as pessoas que utilizam o medicamento indiscriminadamente, 22 são homens, representando 25% da amostra masculina e 15 são do sexo feminino, representando cerca de 20% das mulheres que participaram da pesquisa. Das pessoas que fazem o uso indiscriminado, 64,86% (24) informaram ter apresentado efeitos colaterais, sendo os mais fre- quentes, taquicardia e ansiedade seguidos de tremores, perda de apetite e boca seca, respectivamente. Mesmo apresentando efeitos colaterais, 27,03% (10) continuam fazendo o uso da droga de acordo com as necessidades da faculdade. E ainda 51,35% (19) sentem-se cansados após o término do efeito. Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Figura 2: Efeitos colaterais mais frequentes em função do uso de metilfenidato Desses 23,72% (37), 13,51% (5) usam o fármaco pra estudar para todas as provas do período letivo, e 10,81% (4) tiveram que aumentar a dose da droga para tentar obter o mesmo efeito de quando iniciou o uso. Por outro lado, mesmo com todas essas desvantagens citadas, 86,49% (32) dos que usam indiscriminadamente relataram melhora do poder de concentração e ainda 54,05% (20) observaram uma melhora do rendimento acadêmico. A partir das informações coletadas, observamos um relevante aumento do uso com o decorrer do curso, uma vez que nos períodos iniciais (primeiro e segundo), não há relato de uso. A distribuição dos 37 participantes que já fizeram uso do metilfenidato de forma indiscriminada se deu entre o 3º e 8º período, da seguinte forma: no 3º período, tivemos 2 alunos, assim como no 4º período (onde também observamos 2), no 5º período, 3 relataram uso. No 6º período, oito pessoas já fizeram o uso, este mesmo número foi observado no 7º período, enquanto que no 8º período, 14 relataram fazer o uso. Com isso podemos constatar que o uso do medicamento aumenta progressivamente. Figura 3: Porcentagem de estudantes por período que fazem uso indiscriminado do metilfenidato 57 5. Conclusão Observarmos que a prevalência do uso indiscriminado do metilfenidato entre os acadêmicos de medicina do Centro Universitário de Volta Redonda é considerada alta quando comparada aos outros estudos analisados, perdendo apenas para a prevalência encontrada por De Santis et al. (2008). Há necessidade de melhor compreender os diferentes fatores envolvidos na resposta e na adaptação ao estresse inerente ao curso de medicina para poder ajudar na prevenção do uso inadequado de metilfenidato pelos futuros médicos. Uma política clara quanto ao uso indiscriminado pelos estudantes, informação científica, educação com treino de habilidades para melhor lidar com estresse, podem se mostrar úteis na prevenção. Normas e regras bem explicitadas, bem como o oferecimento de atividades recreativas e de relaxamento que não incluam substâncias alteradoras do psiquismo podem vir a melhorar a situação. Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 O metilfenidato é um recurso para aqueles que buscam uma potencialização do desempenho cognitivo, o que é bastante observado entre os estudantes quando são submetidos a situações que exijam uma maior capacidade neste sentido. Pelos estudos analisados, podemos perceber que estudantes de medicina parecem formar um grupo em que se observa com frequência a utilização deste medicamento para este fim, pelo grande esforço determinado pelo curso. Nesse trabalho, foi avaliado o uso não prescrito da droga por uma população específica de universitários. Encontramos uma prevalência de 23,72% para o uso indiscriminado desse estimulante entre os estudantes de medicina do Centro Universitário de Volta Redonda. Os valores que mais se aproximaram dessa prevalência, foram os encontrados por Babcock e Byrne (2000) e DeSantis et al. (2008), 16% e 34%, respectivamente. Já Mc Cabe et al. (2005)mostraram a frequência de 6,9% e Cruz et al. (2011) apresentou uma prevalência de 8,6%. Esses dados ajudam a confirmar a hipótese que o uso não prescrito dessa substância é uma prática comum entre os universitários e que o curso de Medicina pode ser considerado um fator de risco importante, como propunha Posada (1996, apud MENDONZA, 2002), em um estudo realizado pelo Ministério da Saúde da Colômbia, uma vez que, dentre grupos pré-selecionados, os maiores consumidores foram os futuros médicos. Entre os acadêmicos de Medicina do Centro Universitário de Volta Redonda, não houve diferença significativa de consumo entre os gêneros masculino e feminino. Tal situação também foi observada por Teter et al. (2006) em um estudo realizado em universidades do sudeste dos Estados Unidos. Por outro lado, Cruz et al. (2011) encontrou diferença marcante entre os dois gêneros, sendo o masculino o maior consumidor da droga sem prescrição. Percebemos que a maioria dos indivíduos que faz o uso indiscriminado da substância relata ter apresentado algum efeito colateral e sentir-se cansados após o término do efeito. Por outro lado, apesar disso, essas pessoas veem algumas vantagens na sua utilização como o aumento da capacidade de concen- tração e uma melhora do rendimento acadêmico após o início do uso. De Santis (2008) demonstrou que a maioria dos usuários ilegais fazia o uso da droga em períodos de stress elevado e que a substância fazia reduzir a fadiga e aumentar o entendimento de leitura, o interesse, a cognição e por fim, a memória. Notamos ainda que alguns participantes relataram que precisam usar a substância para conseguir estudar para todas as provas do período letivo, e, outros informaram a necessidade de aumentar a dose com o decorrer do tempo para tentar obter o mesmo efeito de quando iniciou o uso, configurando um quadro de tolerância ao medicamento. Porém, segundo Pastura e Mattos (2004), o quadro de dependência medicamentosa ao metilfenidato é algo mais teórico que prático. Foi observado que o uso da substância aumenta com o decorrer do curso, uma vez que uma maior distribuição dos participantes que usam indiscriminadamente se deu nos últimos períodos analisados. Talvez, uma maior carga horária somada a uma maior quantidade de conteúdo administrado aos períodos acima possa ser uma explicação para tal situação. Cadernos UniFOA 4. Discussão 58 6. Anexo Questionário de pesquisa: O Uso indiscriminado de Metilfenidato entre os estudantes de medicina. Sexo: Masc. ( ) Fem. ( ) Idade: ______ Período: ____ 1. Hoje em dia vê-se muito o uso indiscriminado da substância Metilfenidato, cujo nome comercial mais famoso é Ritalina. Você conhece e/ou já ouviu falar dessa droga? Sim ( ) Não ( ) Caso a resposta seja sim, prossiga. Caso contrário pode encerrar as respostas. 2. Conhece mecanismo de ação da droga? Sim ( ) Não ( ) 3. Já fez uso da substância? Sim ( ) Não ( ) 4. Caso a resposta da questão anterior tenha sido sim, o seu uso é feito sob prescrição médica, uso para tratamento do Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade? Sim ( ) Não ( ) Se a resposta for sim, obrigado pela participação. 5. A droga aumenta o seu poder de concentração? Sim ( ) Não ( ) 6. Já apresentou algum efeito colateral? Sim ( ) Não ( ) Caso a resposta seja não, vá para a questão 9. 7. Caso a resposta tenha sido sim, quais dos efeitos abaixo você já apresentou? Obs: a resposta a seguir tem mais de uma resposta: Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 ( ) Taquicardia ( ) Perda de apetite ( ) Tremores nas mãos ( ) Boca seca ( ) Ansiedade 8. Mesmo apresentando esses sintomas, continua fazendo o uso indiscriminado da droga de acordo com suas necessidades na faculdade? Sim ( ) Não ( ) 9. Você utiliza a droga para estudar para todas as provas do período letivo? Sim ( ) Não ( ) 10. Sente-se cansado após acabar o efeito da droga? Sim ( ) Não ( ) 11. Desde que você começou a utilizar o fármaco, notou que teve de aumentar a sua dose para obter o mesmo efeito de quando iniciou o uso da droga? Sim ( ) Não ( ) 12. Você tem notado melhora no seu rendimento acadêmico com o uso da substância? Sim ( ) Não ( ) ARRIA, A.M.; Figura 3: Porcentagem de estudantes por período que fazem uso indiscriminado do metilfenidato 2. CALDEIRA, K.M.; VICENTE, K.B.; OGRADY, K.E.; WISH, E.D. Perceived harmfulness predicts nonmedical use of prescription drugs among college students: interactions with sensationseeking. Journal Prevention Science, v. 9, p. 191–201, 2008. 3. 4. 5. 6. 7. BABCOCK, Q.; BYRNE, T. Student perceptions of methylphenidate abuse at a public liberal arts college. Journal of American College Health, v. 49, p. 143– 145, 2000. BARROS, D.B.; ORTEGA, F. Metilfenidato e aprimoramento cognitivo farmacológico: representações sociais de universitários. 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Artigo Original Odara Horta Boscolo1 Original Paper Comunidades tradicionais Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba Plantas Medicinais Abstract The use of plants combines a number of factors, showing the interdependence of the biological, social and cultural man. This way the relationship between men and environment are established. Ethnobotanic studies faces the difficult task of organizing the information and observation of the use of plants by traditional communities into categories based on the cultural references of the communities themselves. During this process, a fine line is drawn between the medicine and food categories. For some communities, however, this distinction simply does not exist. The aim of this work is to register which plants are used both as food and medicine by selected respondents in City of Quissamã and investigate this duality. In total, 39 plants species were found, belonging to 23 botanic families, of which Myrtaceae (5 species), Cucurbitaceae (4 species) and Solanaceae (4 species) are the most representative ones. The ambiguity of plants utilization for food and medicinal purposes shows the complexity of the native categories. Despite the scientific advances, these categories, which are part of structures of beliefs and representations of local people, do not disappear. This research exemplifies that the inclusion of emic information in categories is unclear and alert to a greater dialogue between the various disciplines that form the framework of ethnobotany. 1 Universidade Federal Fluminense (UFF), Departamento de Biologia Geral, Setor Botânica. Keywords Traditional Knowledge Traditional Communities Restinga de Jurubatiba National Park Medicinal Plants Recebido em 11/2012 Aprovado em 04/2013 Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Conhecimento tradicional Resumo A utilização de plantas combina uma série de fatores, mostrando a interdependência entre o homem biológico, social e cultural. Dessa forma, as relações entre o homem e o meio ambiente são estabelecidas. Estudos etnobotânicos enfrentam a difícil tarefa de organizar as informações e observações do uso de plantas por comunidades locais em categorias com base nas referências culturais das próprias comunidades. Durante esse processo, uma linha tênue é desenhada entre a categoria medicinal e a alimentícia. Para algumas comunidades, no entanto, esta distinção, simplesmente não existe. O objetivo deste trabalho é registrar quais plantas são usadas como alimentos e remédios, ao mesmo tempo, por entrevistados selecionados no Município de Quissamã, para averiguar essa dualidade. No total, 39 espécies de plantas foram encontradas, pertencentes a 23 famílias botânicas, sendo que Myrtaceae (5 espécies), Cucurbitaceae (4 espécies) e Solanaceae (4 espécies) as mais representativas. A ambiguidade das utilizações para fins alimentícios e medicinais mostra a complexidade das categorias nativas. Apesar dos avanços científicos, essas categorias, que fazem parte das estruturas de crenças e representações da população local, não desaparecem. Esta pesquisa exemplifica de forma prática como é obscura a inserção das informações êmicas em categorias e atenta para diálogo maior entre as diversas disciplinas que formam o arcabouço da etnobotânica. Cadernos UniFOA Palavras-chave Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 62 1. Introdução A Etnobotânica pode ser definida como o estudo da relação existente entre o Homem e as Plantas e o modo como essas plantas são usadas como recursos. Alguns autores a definem como: campo científico, que estuda as inter-relações as quais se estabelecem entre o ser humano e as plantas, através do tempo e em diferentes ambientes (XOLOCOTZI, 1982); estudo das sociedades humanas, passadas e presentes e todos os tipos de inter-relações ecológicas, evolucionárias e simbólicas (ALEXIADES, 1996). A Etnobotânica passou por diversas tendências, desde simples trabalhos com listagens das plantas úteis em determinadas populações, até a compreensão de como essas populações interagem com as plantas, considerando o conhecimento êmico, sua cosmologia; a diversidade vegetal e a diversidade cultural; o uso, o manejo e a conservação da biodiversidade, dentre outros. Porém, se for pensado bem, assim que o ser humano começou a interagir com o reino vegetal, nasceu a Etnobotânica (SCHULTES; REIS, 1995). Atualmente, a etnobotânica tenta se comprometer com o mundo em desenvolvimento, adotando uma posição estratégica com seu foco integrativo (ALCORN, 1995). Permite um melhor entendimento das formas pelas quais as pessoas pensam, classificam, controlam, manipulam e utilizam espécies de plantas e comunidades. Pesquisas de cunho etnobotânico podem ajudar planejadores, agências de desenvolvimento, organizações, governos e comunidades a conceber e implementar práticas de conservação e desenvolvimento (TUXILL; NABHAN, 2001). O homem é e sempre foi dependente do uso de plantas para a sua sobrevivência. Essa utilização vai desde as necessidades mais básicas como alimento e medicina até para fins mágicos, ritualísticos e simbólicos. Porém, ele não é só dependente, mas também manipulador de paisagens e responsável por uma parcela da coevolução com os vegetais. Para alguns autores, como Balée (1991), o manejo realizado pelas populações traz uma diversidade ao ambiente maior que a existente nas condições naturais onde não existe a presença humana. Por mais que algumas espécies se extingam, a intervenção humana resulta num aumento real da diversidade ecológica e biológica de um lugar específico ou região. Ao considerar que as populações locais possuam um conhecimento sobre os ambientes que ocupam, que é de real valia para sua adaptação, o saber-fazer acumulado é e pode ser transmitido oralmente ao longo das gerações. Esse conhecimento é dinâmico, e novos conhecimentos são adicionados aos conhecimentos locais (OLFIELD; ALCORN, 1991). Estudos etnobotânicos enfrentam a difícil tarefa de organizar as informações e observações do uso de plantas por comunidades locais em categorias com base nas referências culturais das próprias comunidades. Durante esse processo, uma linha tênue é desenhada entre a categoria medicinal e a alimentícia. Para algumas comunidades, no entanto, essa distinção, simplesmente não existe. O objetivo deste trabalho é registrar quais plantas são usadas como alimentos e remédios, ao mesmo tempo, por entrevistados selecionados no Município de Quissamã, para averiguar essa dualidade. Esse local mostrou-se interessante para desenvolver este trabalho etnobotânico devido a suas peculiaridades como a diversidade da população residente (descendentes de escravos, de índios Goytacazes e trabalhadores rurais vindos de outros locais para lidar na lavoura açucareira) e a diversidade religiosa que inclui católicos, evangélicos, espíritas e umbandistas. O Município abriga a maior parte do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, único Parque Nacional em área totalmente de restinga, sendo uma das mais conservadas do país (BOSCOLO, 2003). 2. Material e Métodos O Município de Quissamã (22º05’S, 41º28’W) localiza-se na região norte do Estado do Rio de Janeiro, possui em seu território o maior ecossistema de restinga do estado, com cerca de 50 mil hectares, onde se localiza o Parque Nacional de Jurubatiba. Esse ambiente abriga diversas comunidades vegetais distintas quanto à fisionomia e composição florística (ZONEAMENTO AGROECOLÓGICO DA RESTINGA, 1994). posse das informações acerca das plantas utilizadas, acompanhamos os informantes aos locais de onde usualmente eles as obtêm, seja em seus próprios quintais e ruas, seja na restinga. Todo material foi devidamente herborizado e depositado no Herbário do Museu Nacional do Rio de Janeiro (R). Para a identificação do material, foi utilizado microscópio estereoscópico, comparação com outros materiais de herbário, envio de alguns espécimes para especialistas e consulta à literatura especializada. 63 Uma das tarefas mais árduas dos trabalhos de Etnobotânica é encaixar as indicações das plantas que os informantes (visão êmica) indicam, nas categorias predeterminadas pelos pesquisadores (visão ética). Essa tradução do êmico ao ético se faz necessária para que as respostas sejam uniformizadas para as análises subsequentes. Porém, perguntado para os entrevistados, quais as plantas que eles utilizam e para que fim, as respostas mostram que, para eles, a comida é também remédio. Não fazem uma distinção formal do que é só para comer ou só para se medicar, acreditam que quando se alimentam, ao mesmo tempo estão “fortalecendo e curando o organismo”. Este conceito “alimento/medicamento” é muito natural para os informantes e segue a mesma filosofia do que atualmente a sociedade chama de alimentos funcionais ou nutracêuticos. Ou seja, os alimentos ou bebidas que são consumidos na alimentação cotidiana podem trazer benefícios fisiológicos específicos, graças à presença de ingredientes fisiologicamente saudáveis (CÂNDIDO; CAMPOS, 2005). No total, 39 espécies de plantas foram encontradas, pertencentes a 23 famílias botânicas, sendo que Myrtaceae (5 espécies), Cucurbitaceae (4 espécies) e Solanaceae (4 espécies) as mais representativas (Tabela 1). Os frutos são a parte mais utilizada (26 indicações), seguida das folhas (18 indicações) e cascas do tronco (6 indicações) (Tabela 1). Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 3. Resultados e Discussão Cadernos UniFOA De fevereiro de 2001 a janeiro de 2002 foram realizadas excursões mensais à referida localidade. Optou-se pela abordagem da Observação Direta na qual o pesquisador tem um grande contato com a comunidade, mas sem um envolvimento total. Para a seleção dos informantes, foram feitos contatos com os moradores que demonstraram possuir conhecimento sobre os usos das plantas e, a partir desses, foram obtidos outros informantes, caracterizando a técnica da “bola de neve” (BAILEY, 1994). Foram contatados 10 informantes que, além de sua ocupação profissional, agiam também como curandeiros e benzedores. O primeiro instrumento a ser elaborado foi o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O processo de consentimento livre e esclarecido teve por objetivo permitir que a pessoa que está sendo convidada a participar da pesquisa compreenda os procedimentos, riscos, desconfortos, benefícios e direitos envolvidos, visando permitir uma decisão autônoma. A obtenção de consentimento livre e esclarecido é um dever moral do pesquisador, é a manifestação do respeito às pessoas envolvidas no projeto (CLOTET, 1995). Esse termo documenta a autorização do sujeito da pesquisa e permite que as informações básicas possam ser mantidas para leitura posterior. Seus princípios estão resguardados pela Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) nº 196/96, que atualmente regula as pesquisas em questão. Também foi confeccionado formulário com perguntas abertas e fechadas (REA; PARKER, 2000) que trata dos dados pessoais de cada informante e sobre as plantas informadas. Depois foram realizadas entrevistas visando obter dados acerca das plantas por eles indicadas como alimento e ao mesmo medicinal. Foram consideradas como alimentícias aquelas plantas consumidas cruas ou cozidas como, por exemplo, frutas in natura, bebidas, infusões alcoólicas, condimentos, alimentos para animais, dentre outros. E como plantas medicinais, aquelas capazes de promover cura, bem estar e prevenção de doenças. De 64 Tabela 1- Plantas informadas tanto para alimento como para medicamento: Família e Nome científico, Nome Popular, Indicações, Parte vegetal utilizada. Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Família e nome científico Nome popular Indicações Parte vegetal utilizada ANACARDIACEAE Anacardium occidentale L. R- 202068 (OHB 78) caju Diabete, dor de garganta, feridas, aftas, cólicas intestinais, tosse, bronquite, fraqueza do organismo, debilidade muscular. Cascas do tronco, folhas e fruto. Mangifera indica L. R- 202069 (OHB 102) manga Feridas, tosse, bronquite, asma, cólicas, diarreia, inflamações em geral. Cascas do tronco, folhas e frutos. Schinus terebinthifolius Raddi R- 202042 (OHB 90) aroeira Gripe com febre, bronquite, feridas, inflamação no útero. Cascas do tronco e frutos ANNONACEAE Annona muricata L. R- 202035 (OHB 45) graviola Diabete Folhas e frutos ARACEAE Colocasia esculenta (L.) Schott (OHB 94) inhame-branco Reumatismo, moléstias da pele, convalescença, fraqueza Tubérculos ARECACEAE Cocos nucifera L. R- 202072 (OHB 62) coco Raquitismo, vermes, prisão de ventre, anemia, erisipelas, fraqueza, desnutrição. Frutos BRASSICACEAE Sinapis nigra L. R- 202059 (OHB103) mostarda Dores nas costas, dores nas articulações, pulmão congestionado, inflamações localizadas. Flores e folhas BROMELIACEAE Ananas comosus (L.) Merr. (OHB 63) abacaxi Dor de garganta, vermes, inflamações em geral, doenças da bexiga, reumatismo, restaura o fluxo menstrual, tosse, problemas nos pulmões, queimaduras, coceiras. Frutos CARICACEAE Carica papaya L. R- 202048 (OHB 60) mamão Bronquite, tosse, gripe, vermes, dermatoses, prisão de ventre. Flores, frutos, látex e sementes. CONVOLVULACEAE Ipomoea batatas (L.) Poir. R- 202050 (OHB 80) batata-doce Cicatrização, furúnculos Folhas e tubérculos CUCURBITACEAE Cucumis anguria L. R- 202002 (OHB 75) maxixe Hemorroidas, feridas, furúnculos. Frutos Cucumis sativus L. R- 202003 (OHB 76) pepino Problemas na bexiga, rins, inflamações dos olhos, sarna, coceira. Casca do fruto e frutos Lagenaria vulgaris Ser. R- 202010 (OHB 86) abóbora d`agua Problemas no fígado e baço Flores, frutos e pecíolo. Momordica charantia L. R- 202070 (OHB 119) melão-de-são-caetano Febre, reumatismo Folhas e frutos LAMIACEAE Ocimum gratissimum L. R- 202062 (OHB 116) alfavacão Gripe, artrite, gases Folhas Ocimum micranthum Willd. R- 202001 (OHB 48) alfavaca Reumatismo, cólicas menstruais e intestinais, ânsia de vômito, bronquite, tosse, expectorante Folhas Rosmarinus officinalis L. R- 202017 (OHB 61) alecrim Dores de barriga, bronquite, reumatismo, cicatrizante Folhas LAURACEAE Persea americana Mill. R- 202083 (OHB 46) abacate Problema nos rins, diurético, restaurador do fluxo menstrual, gases, prisão de ventre, reumatismo Folhas e frutos MALVACEAE Hibiscus esculentum L. R- 202071 (OHB 118) quiabo Furúnculos, puxar o pus de dentro das feridas Folhas e frutos Indicações Parte vegetal utilizada MALPIGHIACEAE Byrsonima sericea DC. R- 202038 (OHB 125) murici Diarreia, diabete Frutos e raiz Malpighia glabra L. R- 202057 (OHB 104) acerola Gripe Frutos MORACEAE Artocarpus integrifolia L. R- 202011 (OHB 92) jaca Diarreia Folhas Morus nigra L. R- 201999 (OHB 98) amora Aftas, diarreia, dor de garganta, inflamações na boca, diabete, problemas de menstruação e de ovário. Folhas e frutos MUSACEAE Musa paradisiaca L. R- 202073 (OHB 44) banana Machucadura, queimaduras, hemorragias, hemorroidas, inflamações, feridas, verrugas, artrite, úlceras no intestino, laxativo. Cascas dos frutos, frutos e seiva MYRTACEAE Eugenia cauliflora O. Berg (OHB 101) jabuticaba Asma, diarreia, inflamação da garganta. Cascas do tronco e frutos Eugenia uniflora L. R- 202034 (OHB 110) pitanga Gota, reumatismo, gripe. Folhas e frutos Psidium cattleianum Sabine R- 202018 (OHB 54) araçá-da-praia Doenças das vias urinárias, diarreia. Brotos, cascas do tronco e frutos. Psidium guajava L. R- 202009 (OHB 95) goiaba Diarreia, dor de garganta, tosse. Brotos, folhas e frutos. Syzygium cumini (L.) Skeels R- 202088 (OHB 42) jamelão Diabete, diarreia Cascas do tronco, folhas e frutos. OXALIDACEAE Averrhoa carambola L. R- 202032 (OHB 93) carambola Pressão alta, diabete, problemas nos rins, feridas na pele Folhas e frutos PASSIFLORACEAE Passiflora edulis Sims R- 202079 (OHB 111) maracujá Dor de cabeça, nervoso, insônia, asma, diarreia, vermes. Folhas e frutos POACEAE Saccharum officinarum L. R- 202008 (OHB 114) cana-de-açúcar Cansaço, anemia, cólicas, digestiva, aftas, dor no fígado, prisão de ventre, rachaduras dos seios, coceiras, feridas, infecções, catarro, bronquite. Parte interna dos colmos Zea mays L. (OHB 96) milho Diurético, inflamações da bexiga, rins, olhos. Estigmas e frutos PUNICACEAE Punica granatum L. R- 202082 (OHB 89) romã Dor de garganta, vermes. Cascas dos frutos e frutos SAPOTACEAE Pouteria caimito (Ruiz & Pav.) Radlk. R- 202080 (OHB 79) abiu Tosse, bronquite, diarreia. Folhas e frutos SOLANACEAE Capsicum annuum L. R- 201995 (OHB 121) pimentão Hemorroidas, dor de estômago, prisão de ventre, pneumonia. Frutos Lycopersicon esculentum Mill. R- 202046 (OHB 132) tomate Inflamações purulentas, gripe, tosse, rouquidão, picadas de insetos, queimaduras, reumatismo. Frutos Solanum paniculatum L. R- 202075 (OHB 135) jurubeba Problemas nos rins, doenças venéreas, diurético, problemas no fígado, úlceras no estômago, inflamações em geral. Folhas e frutos ZINGIBERACEAAE Zingiber officinale Rosc. R- 202076 (OHB 139) gengibre Digestivo, falta de apetite, cólicas, gases, tosse, bronquite, resfriado, catarro, asma, rouquidão, gripe. Rizoma 65 Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Nome popular Cadernos UniFOA Família e nome científico Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 66 Os resultados encontrados neste trabalho, com relação às principais famílias botânicas e aos órgãos das plantas mais utilizadas (folhas e frutos) coincidem com diversas publicações sobre plantas medicinais (VARGAS; RIOS, 1990; WAIZEL, 1990; STALCUP, 2000; CARVALHO et al., 2001). Os resultados revelam que existe uma ambiguidade das utilizações para fins alimentícios e medicinais, mostrando a complexidade das categorias nativas. Apesar dos avanços científicos, essas categorias, que fazem parte das estruturas de crenças e representações da população local, não desaparecem. Ou seja, essas plantas não são estritamente medicinais e nem alimentícias. Quando o pesquisador enquadra essas citações em categorias fixas, ele opta por uma visão reducionista e acaba perdendo a essência das informações obtidas em campo. Por exemplo, uma planta indicada para se benzer uma determinada enfermidade, ela será incluída na Categoria de Uso ritual ou medicinal, já que a finalidade dela é trazer cura e bem estar? Ao mesmo tempo este pesquisador encontra-se em um dilema, pois se não incluí-las em Categorias de Uso, não terá como tratar estatisticamente os dados e nem como compará-los com outros trabalhos. Neste momento, ainda persiste uma segunda dificuldade, porque não existem Categorias pré-fixadas, dessa forma, cada um define suas próprias categorias, que nem sempre correspondem as definições de outros investigadores. Na etnobotânica, a problemática das Categorias de Uso é recorrente, porém, nunca foi explicitada essa necessidade de se chegar a um lugar comum. São necessários estudos mais complexos sobre a classificação dessas categorias e seus significados, visto que, não há trabalhos científicos que proponham uma solução para tal dificuldade. Esta pesquisa exemplifica de forma prática como é obscura a inserção das informações êmicas em categorias e atenta para diálogo maior entre as diversas disciplinas que formam o arcabouço da etnobotânica como a biologia, antropologia, ciências sociais, agronomia, dentre outras. 4. Referências Bibliográficas 1. ALCORN, J. B. The scope and aims of ethnobotany in a developing world. In: SCHULTES, R.E.; REIS, S. VON. (Eds.) Ethnobotany: evolution of a discipline. Portland: Dioscorides Press, 1995. p. 23-39. 2. ALEXIADES, M. N. Selected guidelines for ethnobotanical research: a field manual. Bronx: The New York Botanical Garden, 1996. 3. BAILEY, K. Methods of social research. New York: The Free Press, 1994. 4. BALÉE, W.; MOORE, D. Similarity and variation in plant names in five Tupi Guarani languages (Eastern Amazonia). Bulletin of the Florida Museum of Natural History, v. 35, n. 4, p. 209-262, 1991. 5. BOSCOLO, O. H. Estudos Etnobotânicos no Município de Quissamã, RJ. 2003. Dissertação (Mestrado em Botânica). Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003. 6. CÂNDIDO, L. M. B.; CAMPOS, A. M. Alimentos funcionais. Uma revisão. Boletim da Sociedade Brasileira da Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 29, n. 2, p. 193-203, 2005. 7. CARVALHO, M. S.; SANTANA, M. D.; SILVA, A. D.; BISPO, S. Análise da flora medicinal do campus – UBM. Estudos de Biologia, n. 23, p. 4-42, 2001. 8. CLOTET J. O consentimento informado nos Comitês de Ética em pesquisa e na prática médica: conceituação, origens e atualidade. Bioética, v. 3, n. 1, p. 51-59, 1995. 9. OLFIELD, M. L.; ALCORN, J. B. Biodiversity: culture, conservation and ecodevelopment. Boulder: Westview Press, 1991. 12. SCHULTES, R. E.; REIS, S. V. (eds.) Ethnobotany: evolution of a discipline. Cambridge: Timber Press, 1995. 13. STALCUP, M. M. Plantas de Uso Medicinal ou Ritual Numa Feira Livre no Rio de Janeiro, Brasil. Dissertação (Mestrado em Botânica). Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2000. 14. TUXILL, J.; NABHAN, G.P. Plantas, comunidades y áreas protegidas: una guía para El manejo in situ. Pueblos y plantas . Manual de conservacion. Montevidéu: Editora Nordan Comunidad, 2001. 67 16. XOLOCOTZI, E. H. El concepto de Etnobotânica. In: SIMPOSIO DE ETNOBOTANICA, 1992, Cidade de México. Memórias Del., Cidade de México, p. 12-17, 1982. 17. WAIZEL, J. B. Panorama del projecto botanica medica de la escuela nacional de medicina y homeopatia. Revista Cubana de Plantas Medicinales, v. 13, n. 17, p. 34-41, 1990. 18. ZONEAMENTO AGROECOLÓGICO DA RESTINGA: Contribuição ao plano diretor de ocupação, Estudos do Meio Biótico. Prefeitura Municipal de Quissamã, Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente, Coletivo Interdisciplinar de Consultores CIC, 1994. Endereço para Correspondência: Odara Horta Boscolo [email protected] Universidade Federal Fluminense (UFF) Departamento de Biologia Geral - Setor Botânica Outeiro de São João Batista s/n° - Niterói - RJ CEP: 24020-150 Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 11. Paulo: Editora Pioneira, 2000. 15. VARGAS, S. C.; RÍOS, P. J. Etnobotanica medicinal de Quimixtlan, Puebla. Revista Cubana de Plantas Medicinales, v. 22, n. 8, p. 65-87, 1990. Cadernos UniFOA 10. REA, L. M.; PARKER, R. A. Metodologia de Pesquisa: do planejamento à execução. São 69 Pseudocisto Antral: Prevalência na cidade de Volta Redonda, Rio de Janeiro, Brasil. Antral pseudocyst: prevalence in the city of Volta Redonda, Rio de Janeiro, Brazil. Sérgio Elias Vieira Cury1 Maria Dorotéa Pires Neves Cury2 Brunno dos Santos de Freitas Silva3 Omar Tinoco Franklin Molina4 Jimmy de Oliveira Araújo5 Luiz Roberto Manhães Jr6 Luciana Butini Oliveira7 Palavras-chave Radiografias Panorâmicas Seios maxilares Pseudocisto antral Cisto mucoso do seio maxilar Poluição do ar Siderurgia ISSN 1809-9475 Artigo Original Original Paper Resumo O objetivo deste foi o de avaliar, através da análise de radiografias panorâmicas, a ocorrência do pseudocisto antral na cidade de Volta Redonda, Rio de Janeiro, associando condições geográficas e poluição do ar. Duas mil e quatrocentas radiografias panorâmicas pertencentes ao arquivo do RADIOCENTRO - Centro Odontológico de Documentação Ortodôntica, localizado na cidade de Volta Redonda, obtidas no período de janeiro a dezembro de 2008, foram analisadas em relação à presença de imagens radiográficas compatíveis com Pseudocisto Antral. Concluiu-se que a prevalência média encontrada (6,83%) está dentro dos índices relatados na literatura (variação de 1,4 e 9,6%), porém, quando estudadas as condições geográficas do município e poluição do ar, verificou-se que a incidência nos bairros localizados na margem esquerda em relação ao Rio Paraíba do Sul (8,67% e 17,5%) esteve acima da média relatada na literatura, indicando a participação da poluição do ar na gênese do pseudocisto antral. Recebido em 09/2012 Aprovado em 04/2013 Volta Redonda Panoramic radiography maxillary sinus antral pseudocyst mucous cyst of the maxillary sinus Air pollution Steel Volta Redonda 1 DDS, PhD - Disciplina Patologia Bucal – Curso de Odontologia - UniFOA - Centro Universitário de Volta Redonda 2 MDS - Disciplina Odontologia Social – Curso de Odontologia - UniFOA - Centro Universitário de Volta Redonda 3 DDS, PhD - Disciplina Patologia Bucal – Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo 4 DDS, PhD - Disciplina de Disfunção Têmporo-mandibular – Faculdade de odontologia - UNIRG-TO 5 MDS - Disciplina de Disfunção Têmporo-mandibular – Faculdade de Odontologia – SLMandic 6 DDS, PhD – Disciplina de Radiologia e Imaginologia - Faculdade de Odontologia – SLMandic, 7 DDS, PhD – Disciplina de Radiologia e Imaginologia - Faculdade de Odontologia – SLMandic, Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Keywords Cadernos UniFOA Abstract Our objective was to evaluate through analysis of panoramic radiographs, the occurrence of antral pseudocyst in the city of Volta Redonda, involving geographic and air pollution. Two thousand and four hundred panoramic radiographs from the files of RADIOCENTRO - Dental Orthodontic Documentation Center in Volta Redonda, Rio de Janeiro, and obtained from January to December 2008, were analyzed for the presence of radiographic images compatible with Antral pseudocyst. We concluded that the average incidence found in the city of Volta Redonda (6,83%) is within the rates reported in the literature (ranging from 1,4 to 9,6%), but when studied the geographical conditions of the city and poluition, it was verified that the incidence in the districts located on the left of the Paraíba do Sul river (8,67% ande 17,5%), was above the average reported in the literature, indicating the involvement of air pollution in the genesis of antral pseudocyst. Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 70 1. Introdução Com o surgimento das áreas urbanas, ocorreu um agravamento na qualidade do ar, causando problemas na saúde populacional. Dessa forma, houve uma maior preocupação com esse tipo de problema, que não é simples de ser tratado, por englobar diversos fatores: desde a dispersão dos poluentes e composição química dos mesmos até seu efeito na saúde da população (YARA et al., 2006). Dentre as alterações patológicas que acometem os seios maxilares, a entidade considerada a mais comum é o pseudocisto antral, frequentemente diagnosticada em radiografias panorâmicas como exames de rotina nos consultórios odontológicos. A patogenia do pseudocisto antral é incerta (WHITE, PHAROAH, 2000), porém, sua etiologia tem possível relação com quadros alérgicos diversos, e períodos de elevação da umidade relativa do ar (GONÇALVES; SILVEIRA, 1993; MARQUES et al., 2006). Volta Redonda é uma cidade localizada na macro região do Vale do Paraíba, ao sul do Rio de Janeiro, onde situa-se a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), maior usina siderúrgica da América Latina. Por tratar-se de uma cidade onde localiza-se uma grande usina, capaz de lançar no ar local diversos tipos de poluentes atmosféricos, apresentou-se a dúvida se a poluição produzida por uma usina siderúrgica participaria na gênese do pseudocisto antral. Sendo a poluição atmosférica reconhecidamente um fator de risco para a saúde (PEITTER; TOBAR, 1998), surgiu-nos a hipótese de que sim. A não existência de trabalhos que associassem a poluição do ar e a gênese do pseudocisto nos motivou para a realização deste estudo, que tem por objetivo avaliar, através da análise de radiografias panorâmicas, a ocorrência do pseudocisto antral na cidade de Volta Redonda, associando condições geográficas e poluição do ar. 2. Revisão da Literatura 2.1. O município de Volta Redonda Volta Redonda é um município brasileiro situado na macrorregião do Vale do Paraíba dentro da mesorregião Sul Fluminense, no estado do Rio de Janeiro. Também é conhecida como a “Cidade do Aço”, localiza-se a 22º31’23” de latitude sul e 44º06’15” de longitude oeste, a uma altitude de 390 metros. Situada entre as serras do Mar e da Mantiqueira, é cortada pelo Rio Paraíba do Sul, que corre de Oeste para Leste, sendo a principal fonte de abastecimento do município e também responsável pelo seu nome, devido a um acidente geográfico no seu curso (DIAS, 2005; WIKIPEDIA, 2009; EPD - PMVR, 2008). O clima é mesotérmico, com verões quentes e chuvosos e invernos secos. A umidade relativa do ar é alta (77%), mesmo nos meses de frio, quando varia entre 71% e 72%. A temperatura média compensada é de 20°C, a média mínima anual de 16,5°C e média máxima anual de 27,8°C. A precipitação média anual é de 1.377,9 mm, sendo janeiro e fevereiro os meses com maior incidência de chuvas. É comum, no inverno, o fenômeno da inversão térmica, causado pela camada de poluição que permanece sobre a cidade, formando uma barreira à penetração dos raios solares, diminuindo a insolação e impedindo a liberação do calor e das novas cargas de poluentes lançados a cada dia. Os ventos dominantes atingem a região, predominantemente em sentido noroeste, porém, a localização do município, em fundo de vale, faz com que na maior parte do tempo haja calmaria. Isso dificulta a dispersão dos gases e partículas, lançadas principalmente pela usina siderúrgica, e provoca alterações no microclima (WIKIPEDIA, 2009; IPPUPMVR, 2009). 2.2. Poluição do ar O ar é um recurso natural, sem fronteiras definidas, e que, juntamente com a água e o solo, é responsável pela sustentabilidade da vida em nosso planeta. Por isso, ao se classificar a atmosfera como uma parte do ambiente com a qual o organismo humano está permanentemente em contato, entende-se que muitas das reações ocorridas nesse mesmo organismo podem ser explicadas como um tipo de resposta às mudanças observadas nos estados físico, químico e biológico da atmosfera (JENDRITZKY, 2008). A poluição atmosférica pode ser definida, de maneira simplificada, como a presença ciliar, permitindo uma maior penetração e acesso de partículas e alérgenos às células do sistema imune. Dentre os efeitos da poluição sobre e trato respiratório incluem-se: diminuição da atividade ciliar; produção de dano epitelial e aumento da permeabilidade da mucosa brônquica; diminuição da produção dos antioxidantes gerados naturalmente; indução da secreção de citocinas proinflamatórias e a expressão de moléculas de adesão, que orquestram, por sua vez, as funções de células inflamatórias (CROCE et al., 1998). 71 A siderurgia, sendo uma indústria de base, é tida como uma grande causadora de impactos ambientais, especialmente no que se refere à poluição do ar, devido à natureza dos seus processos de produção do aço. Na indústria siderúrgica integrada a coque, dentre os poluentes gerados, destaca-se o material particulado, proveniente principalmente das operações de estocagem, manuseio e transporte de matérias-primas, bem como da queima de combustíveis utilizados nas várias etapas do processo produtivo (MELO; MITKIEWICZ, 2002). Segundo Cançado et al. (2006), o material particulado é uma mistura de partículas líquidas e sólidas em suspensão no ar. Sua composição e tamanho dependem das fontes de emissão. As partículas podem ser divididas em dois grupos: partículas grandes (coarse mode), com diâmetro entre 2,5 e 30 mm, emitidas através de combustões descontroladas, dispersão mecânica do solo ou outros materiais da crosta terrestre (polens, esporos e materiais biológicos também se encontram nesta faixa de tamanho); e partículas pequenas (fine mode), com diâmetro menor que 2,5 mm, emitidas pela combustão de fontes móveis e estacionárias, como automóveis, incineradores e termoelétricas, que, por serem de menor tamanho e mais ácidas, podem atingir as porções mais inferiores do trato respiratório. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) é a maior indústria siderúrgica do Brasil e da América Latina e uma das maiores do mundo (WIKIPEDIA, 2009). Desde a sua fundação, a cidade de Volta Redonda vem enfrentando inúmeros problemas ambientais, onde destaca-se a poluição do ar por gases e Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 2.3. Siderurgia e a poluição do ar Cadernos UniFOA no ar de matérias ou formas de energias que impliquem em risco, dano ou moléstia grave para as pessoas e bens de qualquer natureza (BALLESTER; TENÍAS; PÉREZ-HOYOS, 1999; HASEGAWA, 2001). O problema da poluição atmosférica vem sendo trabalhado, no campo da saúde pública, com diversos enfoques, em numerosos estudos sobre os efeitos da poluição do ar na saúde. Nos subcampos da saúde ambiental e especificamente da toxicologia, estudos apontam que os efeitos da poluição do ar se manifestam em geral sob forma de doenças crônicas, prejudicando a qualidade de vida das populações afetadas (HOFMEISTER, 1991; HOFMEISTER et al., 1992; DUCHIADE, 1992). A relação entre danos à saúde e poluição atmosférica foi estabelecida a partir de episódios agudos de contaminação do ar, entre eles se destacando o excesso de mortes ocorridas em Londres nos anos de 1948 e 1952, onde foram descritos incrementos de aproximadamente 300 e 4.000 mortes, respectivamente (FREITAS et al., 2002). No Brasil, o primeiro episódio agudo de contaminação do ar ocorreu na cidade de São Paulo em 1972, e foi provocado por emissões de veículos e indústrias, em fenômeno de inversão térmica, com ausência de ventos e de chuvas. A cidade ficou coberta por uma densa névoa (VIGIAR, 2006). A dispersão dos poluentes atmosféricos em uma determinada região depende das condições meteorológicas e topográficas do local, influenciando na quantidade de poluentes a qual a população desta região estará sujeita, além da diferença na quantidade de fontes poluidoras e dos tipos de poluentes mais abundantes em cada região (YARA et al., 2006). A poluição do ar causa uma resposta inflamatória no aparelho respiratório, induzida pela ação de substâncias oxidantes, as quais acarretam aumento da produção da acidez, da viscosidade e da consistência do muco produzido pelas vias aéreas, levando, consequentemente, à diminuição da resposta e/ou eficácia do sistema mucociliar (GONÇALVES et al., 2005; CANÇADO, 2006). As modificações ou alterações do epitélio respiratório têm repercussões diretas sobre o mecanismo funcional respiratório. Estudos têm demonstrado que a poluição induz um dano epitelial e alterações no mecanismo Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 72 partículas emitidas no processo de produção do aço (PEITER; TOBAR, 1998). Gioda et al. (2004) realizaram um importante estudo para avaliar a qualidade do ar em Volta Redonda, distribuindo filtros de ar em cinco estações localizadas em lugares estratégicos no perímetro do município, realizando duas avaliações em períodos diferentes. Segundo os autores, o total de partículas supensas (TSP) em Volta Redonda, apresentou níveis médios que não excederam os padrões propostos pelo CONAMA (240 mg/m3) e que os níveis de Partículas inaladas (PM10) ficaram abaixo do limite diário estabelecido pelo mesmo órgão (150 mg/m3), sendo as concentrações encontradas desses poluentes, semelhantes às de outras cidades. Destaca-se no estudo, porém, a informação de que a grande maioria dos metais monitorados estava em altas concentrações nas estações localizadas no bairro Belmonte e na FEEMA, sendo as mais altas as de ferro (Fe), cobre (Cu), zinco (Zn) e manganês (Mn), metais esses que estão entre os mais utilizados pelas indústrias locais, em especial na CSN, e que estão correlacionados com doença pulmonar. O estudo realizado por Gioda et al. (2004) avaliou também a concentração de outros poluentes atmosféricos na cidade. Benzeno, Tolueno e Xileno (B, T e X), principalmente B e T, apresentaram altas concentrações na primeira avaliação, sendo reduzidas na segunda, mas os valores de B foram ainda elevados. Tolueno e xileno não ultrapassaram o limite sugerido pela WHO. O benzeno é tóxico em qualquer concentração, portanto, pode ser considerado o maior poluente no ar em Volta Redonda. Os mais altos níveis de B, T e X foram obtidos nas estações Belmonte e FEEMA, em especial quando os ventos sopravam mais fortes em direção a essas estações, principalmente quando o coque era realizado pela CSN, apontando-a como sua principal fonte de emissão. Concentrações elevadas de benzeno podem ter influenciando diretamente a saúde da população em Volta Redonda, fato confirmado pelo elevado índice de benzenismo (688 casos registrados entre 1984 e 1999). Concentrações de Dióxido de enxofre (SO2) foram abaixo da média de acordo com CONAMA (365 mg/m3), mas excedeu os limites estabelecidos pela WHO na primeira amostra. Na segunda, os níveis foram reduzidos, porém ainda são altos para vegetação. Segundo os autores, O manuseio de minérios de ferro e da queima de carvão vegetal na CSN, associados à direção dos ventos na região, possivelmente são responsáveis pela nuvem de poluição que atingiram as estações Belmonte e Retiro. 2.4. Radiografia panorâmica A radiografia panorâmica constitui um método radiográfico prático e atual, que fornece uma visão global do complexo maxilomandibular, de toda região dento-alveolar e estruturas adjacentes. É um procedimento que se realiza em um único filme radiográfico, em curto espaço de tempo e com menor exposição biológica à radiação para o paciente, sendo de muito valor para uma interpretação precoce ou exame de triagem (TIEPO et al., 2002). Como técnica radiográfica, as panorâmicas apresentam a vantagem de visualização de todo o complexo maxilomandibular, articulação temporomandibular e devido a sua abrangência, possibilita avaliar as estruturas circunvizinhas, como os seios maxilares ou antrum, cavidades aéreas revestidas de mucosa respiratória, em forma de pirâmide invertida (COSTA et al., 2007). Segundo Ohba et al. (1991), a radiografia panorâmica permite a visualização do assoalho do seio maxilar devido ao tangencionamento do feixe de Raios X à parede posterior. Os autores explicaram que isso permite identificar com clareza a presença do cisto mucoso, principalmente, em sua parede inferior. Poyton e Pharoah (1992) referiram-se ao cisto mucoso como cisto de retenção da mucosa do seio, e que são observados em maior parte dos casos e em tomadas intrabucais e radiografias panorâmicas. Em relação aos seios da face, uma análise, realizada através da radiografia panorâmica, possibilita a visualização das seguintes regiões antrais: inferior, posterior e médio superior (VAN DIS; MILLES, 1994). Segundo Costa et al. (2007), as doenças inflamatórias não odontogênicas e as lesões antrais idiopáticas, quando localizadas no assoalho do seio maxilar, são bem definidas nas radiografias panorâmicas. Segundo Dood e Jing (1978), a vasta maioria dos cistos mucosos ou cistos de retenção são pequenos, não preenchem completamente a cavidade sinusal, não causam deformidade nas paredes do seio maxilar, rompem-se espontaneamente e raramente apresentam sintomatologia. Radiograficamente são homogêneos, cupulares, bem definidos, frequentemente situados no assoalho do seio maxilar, geralmente associados à mucosa do seio, e não mudam de posição. Segundo Milles et al. (1991), o acúmulo de fluidos abaixo da mucosa do seio maxilar pode causar uma lesão elevada e em forma de cúpula. Lesões com essas características são chamadas de pseudocisto antral (cisto mucoso, cisto seroso ou cisto não secretor). O cisto de retenção mucoso ou cisto de retenção antral é o resultado do bloqueio parcial acarretando, consequentemente, a dilatação do ducto de uma glândula, de causa infecciosa, odontogênica ou alérgica. A mucocele é causada pelo bloqueio do óstio e por uma expansão destrutiva, limitada por epitélio, preenchido por uma secreção mucoide. O termo pseudocisto antral é apropriado para lesões que não tenham forro epitelial. Freitas (1992) conferiu que o cisto de retenção do seio maxilar tem sido referido com os nomes de cisto mucoso e mucocele do seio maxilar. Essas lesões são usualmente descobertas em exames radiográficos de rotina, principalmente, com o advento das radiografias pantomográficas. Esses cistos aparecem como radiopacidades esféricas, ovoides, em forma de cúpula, com limites uniformes, contrastando com a imagem francamente radiolúcida do conteúdo aéreo da cavidade sinusal, em radiografias das regiões de pré-molares e molares da maxila. De acordo com Bohay e Gordon (1997), os cistos de retenção mucosos dos maxilares ocorrem em todas as idades, ambos os sexos podem variar de tamanho, raramente podem completar todo o seio maxilar e, nesse caso, é impossível distingui-lo de uma sinusite. Segundo os autores, no diagnóstico diferencial devem ser considerados os pólipos antrais, as mucoceles do seio e os cistos odontogênicos, sendo a biópsia raramente necessária para estabelecer o diagnóstico. 73 Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Sicher e Du Brull (1977) descreveram os seios paranasais como cavidades pneumáticas localizadas na parte craniana e facial, que são revestidas por membrana mucosa, comunicando-se direta ou indiretamente com o aparelho respiratório. O seio maxilar é a cavidade mais ampla dentre os seios paranasais, ocupando todo o corpo da maxila. Figun e Garrino (1986) descreveram o seio maxilar como uma ampla cavidade escavada no corpo da maxila, consequentemente, tem comunicação com a cavidade nasal em nível de meato médio, através do óstio sinusal. A parede superior corresponde ao assoalho de órbita, a parede anterior é delgada e utilizada para abordagens cirúrgicas, a parede posterior se relaciona com a tuberosidade do maxilar e o assoalho do seio tem relação com as raízes dos pré-molares e molares superiores. Os seios paranasais são cavidades pneumáticas localizados na parte craniana e facial, sendo os mesmos revestidos por membrana mucosa, comunicando-se direta ou indiretamente com o aparelho respiratório. Dos seios paranasais, a cavidade mais ampla é o seio maxilar, ocupando todo o corpo da maxila (GONÇALVES; SILVEIRA, 1993) Madeira (2003) descreveu que o seio maxilar é o maior de todos os seios paranasais, o primeiro a se desenvolver, ficando entre as paredes anterior (voltada para a face), posterior (para a fossa infratemporal), medial (para a cavidade nasal), superior ou teto (para a órbita) e inferior ou soalho (para o processo alveolar). Mais precisamente, o seio maxilar tem a forma piramidal, com sua base na parede nasosinusal e o ápice na raiz do zigoma. A parede superior situa-se sob a órbita e é constituída pela lâmina orbital da maxila. Seu assoalho é formado pelo processo alveolar da maxila. A parede posterior consiste de uma lâmina fina de osso, separando a cavidade da fossa infratemporal. Medialmente, a parede nasal separa o seio da cavidade nasal. A parede ântero-lateral ou fossa canina representa a parte facial da maxila. A cavidade nasal contém a saída do seio, o óstium, que se situa logo abaixo do teto do antrum (TIEPO, 2004; COSTA 2007). 2.6. Pseudo Cisto Antral Cadernos UniFOA 2.5. Seios maxilares 74 O cisto mucoso do seio maxilar é uma lesão de relevante importância, por ser a entidade patológica que mais atinge o seio maxilar. São achados comuns nas radiografias panorâmicas, periapicais e nas incidências para seios maxilares; são citados na literatura mundial por diversas terminologias, e muitos autores os consideram como uma lesão benigna situada nos seios maxilares (BULGARELLI et al., 2002; MANHÃES JR. et al., 2004; PONTES, 2006). Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 2.7. Características anátomopatológicas Pontes em 2006 realizou um estudo histológico onde mostrou que a grande maioria dos cistos mucosos é composta por falsos cistos, a luz não é forrada por epitélio e não apresenta elementos glandulares associados a estes cistos. Após explorações cirúrgicas, clinicamente foram observadas massas redondas, dilatadas, translúcidas, azuladas ou amareladas, com paredes finas que se rompem com facilidade saindo um líquido aquoso, ou mucoide. O autor ainda relatou que os cistos mucosos devem ser diferenciados de outras lesões de tecidos moles do seio maxilar como pólipos, infecções dentárias sinusites, mucoceles de seio maxilar e principalmente tumores malignos. Neville et al. (2009) diferenciaram os pseudocistos antrais, cistos de retenção e mucoceles como lesões distintas. O pseudocisto antral é o acúmulo de exudato inflamatório (soro não mucina) sob a mucosa do seio maxilar causando uma elevação séssil, circundada por tecido conjuntivo sendo o revestimento epitelial do seio superior ao fluido; as mucoceles são acúmulos de mucina completamente coberta por epitélio ocorrendo a partir de uma cirurgia no seio maxilar (cisto cirúrgico ciliado) ou a obstrução do óstio bloqueando a drenagem, aumentando em tamanho e a pressão intraluminal aumenta podendo distender e desgastar o osso. Os cistos de retenção aparecem a partir de um bloqueio parcial das glândulas seromucosas ou invaginação do epitélio respiratório. O pseudocisto do seio maxilar e o cisto de retenção não requerem tratamento, somente uma avaliação dos dentes adjacentes; as mucoceles devem ser removidas cirurgicamente. 2.8. Características radiográficas Segundo Wood e Goaz (1983), radiograficamente são descritos como uma área radiopaca, homogênea, curva, de forma esférica, ovoide, ou em cúpula; contorno regular uniforme de base de inserção estreita ou larga, única ou bilateral, encontrados em todas as idades e, segundo o sexo, varia de estudo para estudo. Coleman e Nelson (1993) relataram que radiograficamente caracteriza-se por um aumento radiopaco homogêneo, em forma de cúpula, bordas bem delineadas, curvas, de base localizada ao longo da parede inferior ou posterior dos seios maxilares; não se indica tratamento algum. De acordo com Langlais et al. (1995), os cistos de retenção mucoso dos seios maxilares, em sua maioria, são assintomáticos, não destroem o osso, permanecem estáticos por anos ou podem romper e desaparecer completamente. Radiograficamente são radiopacos, cupulares ou semicirculares situados geralmente no assoalho do seio maxilar. Em estudo realizado no ano de 2003, Whaites descreveu o cisto mucoso de retenção como achado acidental, opacidade bem definida, circular, em forma de cúpula, no interior do seio maxilar, desde diminuta até um preenchimento completo do seio; normalmente não há alteração do contorno sinusal, ocasionalmente é bilateral e a causa é desconhecida. A imagem radiográfica do cisto mucoso é característica, sendo discretamente radiopaca, bem definida, com bordos arredondados, lisos, cupulares, nítidos, de base larga, únicos, homogêneos, geralmente situados no assoalho do seio maxilar, uni ou bilateral, sem deformar as corticais sinusais, aparecendo com boa nitidez nas radiografias panorâmicas (PONTES, 2006). Marques et al. (2006) relataram que o pseudo cisto antral apresenta-se como área homogeneamente radiopaca, com limites bem definidos, em forma de cúpula ou esférica, de dimensão variável e sem cortical óssea circunscrevendo-a, sendo sua presença mais evidente devido ao comprometimento unilateral, na maioria dos casos. Allard et al. (1981) chegaram à conclusão de que a patogênese do cisto mucoso é obscura e de que a incidência dessas lesões foi de 1,4 a 9,6%. Afirmaram ainda que o cisto mucoso é mais bem visualizado nas radiografias panorâmicas, sendo descrito como uma lesão ovoide, redonda ou em forma de cúpula. Wood e Goaz (1983) constataram que os cistos mucosos, em sua maioria, são falsos cistos que ocorrem predominantemente no assoalho do seio maxilar, por vezes na parede lateral, podem regredir espontaneamente, são lesões comuns e ocorrem entre 2% e 9,6% na população geral. Ruprecht et al. (1986) revisaram 1685 radiografias panorâmicas, dentre as quais 44 apresentaram um ou mais pseudocistos antrais, totalizando 2,6% da amostra estudada. Gonçalves e Silveira (1993) realizaram um estudo onde foram analisados 3.180 laudos de radiografias panoramicas, efetuadas no período compreendido entre agosto de I988 a fevereiro de 1992, pertencentes a pacientes atendidos por um Serviço Privado de Documentação Odontológica da Cidade do Recife - PE. Verificaram 143 imagens compatives com cistos mucosos em 139 pacientes, perfazendo 4,4 % da amostra. Foi observado predileção pelo sexo masculino, não havendo diferença estatisticamente significante em relação ao lado comprometido e faixa etária, bem como, não foi possível estabelecer a inter-relação de condições odontogênicas com o desenvolvimento dessa alteração. Ralatam ser possível que a elevação da umidade relativa do ar tenha contribuido para o aparecimento destes cistos. Concluiram citando que nenhu- 75 Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 2.9. Incidência ma conduta terapêutica foi instituída, visto que todos os pacientes eram assintomáticos, recomendando-se acompanhamento radiográfico periódico. Pontes em 2006 realizou um estudo no qual foram observadas 600 radiografias panorâmicas, sendo 270 pertencentes à pacientes do gênero masculino (45%) e 330 pacientes do sexo feminino (55%). Relatou que foram observados 30 pacientes acometidos com cistos mucosos, sendo 12 do sexo masculino e 18 do gênero feminino, isto é, 5% da amostra estudada. A faixa etária estudada foi diversificada, havendo pacientes com treze anos de idade até setenta anos na maior idade pesquisada. O cisto mucoso no seio maxilar do lado esquerdo foi observado em 21 pacientes (70%), no lado direito foram analisados 09 casos (30%), ao passo que bilateralmente nenhum paciente foi acometido por esta lesão. Costa em 2007 realizou uma seleção aleatória de 252 radiografias panorâmicas realizadas para o tratamento odontológico de rotina, em um total de 1980 exames panorâmicos dos arquivos digitais do ano de 2003, do centro de diagnóstico por imagem, CEDRUL, na cidade de João Pessoa – PB, perfazendo um total de 12,73% da população em questão. A idade dos pacientes variou entre 4 e 80 anos, divididos por faixa etária, determinando as diferentes fases da vida humana: 0 a 11 anos (infância), 12 a 20 anos (adolescência), 21 a 39 anos (primeira fase da vida adulta) e acima de 60 anos (terceira idade). Os índices de prevalência para o lado direito foram de 2,38%, para o lado esquerdo foi de 1,98%. No gênero feminino, foi de 0,79%; para o gênero masculino foi de 3,57%. A prevalência dessa alteração ocorreu apenas nos indivíduos das faixas etárias correspondentes à infância (0 a 11 anos), à adolescência (12 a 20 anos) e à primeira fase adulta (21 a 39 anos). Com o objetivo de analisar a prevalência de pseudocistos antrais, Rodrigues et al. (2009) analisaram 6293 radiografias panorâmicas no período de novembro de 2002 a maio de 2003 na cidade de Goiânia – GO, encontrando como resultado 201 casos (3,19%). Acrescentaram que não houve correlação significante com a incidência da lesão e a umidade relativa do ar ou temperatura. Cadernos UniFOA As características radiográficas do cisto mucoso são fáceis de serem observadas, principalmente nas tomadas panorâmicas, e são de extrema importância para que os profissionais dentistas possam distingui-la de outras alterações que ocorrem nesta região anatômica. Em sua maioria, os cistos mucosos se situam no assoalho e por vezes na parede lateral do seio maxilar, e os pacientes acometidos por esta lesão não apresentam sintomatologia, sendo descobertos em exames radiográficos de rotina (PONTES, 2006; RAMESH; PABLA, 2008). 76 3. Material e Método Duas mil e quatrocentas radiografias panorâmicas, obtidas no período de janeiro a dezembro de 2008, pertencentes ao arquivo do RADIOCENTRO - Centro Odontológico de Documentação Ortodôntica localizado na cidade de Volta Redonda, Rio de Janeiro, foram analisadas em relação à presença de imagens radiográficas compatíveis com Pseudocisto Antral (figuras 1 a 3). Figura 1 – Radiografia Panorâmica - imagem compatível com Pseudocisto antral lado direito. Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Imagem gentilmente cedida pela Drª Maria Dorotéa Cury Figura 2 – Radiografia Panorâmica: imagem compatível com Pseudocisto antral lado esquerdo. Imagem gentilmente cedida pela Drª Maria Dorotéa Cury Figura 3 – Radiografia Panorâmica: imagem compatível com Pseudocisto antral ambos os lados Imagem gentilmente cedida pela Drª Maria Dorotéa Cury O aparelho utilizado para a realização dos exames foi um modelo Panoura Ultra (Yoshida – Japão). Os filmes e soluções processadoras foram da marca Kodak, e para o processamento foi utilizada a processadora para filmes odontológicos Revell (Revell – Brasil), no intuito de padronizar a qualidade das imagens radiográficas. As radiografias foram examinadas em negatoscópio com tela composta por diodos emissores de luz branca (LEDs) modelo Driller (VK Driller – Brasil), e com o auxílio de uma lupa com cabo, 60 mm de diâmetro, aumento de 2x, modelo LP-60 (Western – Brasil). A Cidade de Volta Redonda foi dividida em bairros, de acordo com a localização geográfica dos mesmos, localizados na margem direita, e bairros de localizados na margem esquerda em relação ao Rio Paraíba do Sul, sendo demarcada área onde se encontrava a maior concentração de poluição (figura 8). 77 Figura 8 – Divisão geográfica da cidade de Volta Redonda minhado ao Comitê de Ética em Pesquisa do UniFOA - Centro Universitário de Volta Redonda (Processo nº 199/09, Protocolo nº 067740 de 26/10/2009). Carta de solicitação para autorização da realização da pesquisa, juntamente com cópia do Protocolo do COEP-UniFOA, foi enviada à empresa RADIOCENTRO, obtendo autorização em 02/11/2009. 4. Resultados Do total de 2400 radiografias panorâmicas estudadas, 6,83% (n=164) apresentaram imagens com características de pseudocisto antral. Cadernos UniFOA Os dados de prontuário como idade, sexo, lado afetado e alteração patológica, no quadrante homólogo, também foram analisados, associados à localização geográfica da residência de cada indivíduo pesquisado. Após serem registrados, os dados obtidos foram transportados para um banco de dados, com intuito único de facilitar o processo de análise e interpretação. Para a organização dos mesmos, foi utilizado o programa Microsoft Excel versão 2010. Toda a análise foi realizada através de cálculo numérico e percentual. Os dados foram apresentados em tabelas. Para avaliação dos critérios éticos e atendimento às recomendações da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1997), um Protocolo foi enca- Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 (Adaptado de Peiter e Tobar, 1998). 78 4.1. Gênero Dos 164 casos encontrados, houve predileção por indivíduos do genero masculino, totalizando 57,9% dos casos (n=95), quando comparados ao gênero feminino com 42,1% (n=69), numa relação de 1,37X1 (tabela 1). Tabela 1 - Gênero GÊNERO n % MASCULINO 95 57,9 FEMININO 69 42,1 TOTAL 164 100 4.2. Idade A idade variou de 8 a 60 anos, com média de 25 anos, apresentando uma maior concentração na faixa etária entre 10 e 40 anos (tabela 2). Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Tabela 2 - Idade IDADE n % 1 a 10 5 3,04 10 a 20 60 36,58 20 a 30 52 31,7 30 a 40 30 18,29 40 a 50 9 5,48 50 a 60 8 4,88 TOTAL 164 100 4.3. Lado afetado O lado mais afetado foi o direito com 54,88% (n=90) em relação ao esquerdo com 34,14% (n=56). A imagem compatível com o pseudocisto localizada em ambos os lados foi encontrada em 10,98% dos casos (n=18) (tabela 3). Tabela 3 – Lado afetado LADO n % DIREITO 90 54,88 ESQUERDO 56 34,14 AMBOS 18 10,98 4.4. Alteração patológica no quadrante homólogo 79 Mais da metade dos casos (51,83%) não apresentou alteração associada no quadrante afetado (n=85). Dentre as alterações patológicas observadas, a ausência dentária foi a mais encontrada (n=43), totalizando 26,22% dos casos (tabela 4). Tabela 4 - Alteração patológica no quadrante homólogo ALTERAÇÃO ASSOCIADA n % LESÃO APICAL 4 2,44 LESÃO PERIODONTAL 12 7,31 DENTE INCLUSO 20 12,19 DENTE AUSENTE 43 26,22 S/ ALTERAÇÃO 85 51,83 TOTAL 164 100 indivíduos residentes nessa região, sendo a estimativa da proporção média encontrada p = 0.086, e desvio padrão s = 0.086. A área de maior concentração de poluentes apresentou alto índice de incidência (17,5%) quando analisada a relação entre o número de radiografias estudas (n=440) e os casos encontrados (n=77), sendo a estimativa da proporção média encontrada p = 0.175, e desvio padrão s = 0.418 . (tabela 5). Tabela 5 - Relação casos x radiografias estudadas x distribuição geográfica da poluição POLUIÇÃO/REGIÃO nº radiografias nº casos % POUCO ELEVADA 1764 (73,5%) 70 3,96 ELEVADA 196 (8,16%) 17 8,67 MUITO ELEVADA 440 (18,34%) 77 17,50 TOTAL 2400 (100%) 164 6,83 Cadernos UniFOA A maioria das radiografias estudas pertenceram a área de poluição pouco elevada (n= 1764) correspondendo a 73,5% da amostra. Nessa região, foram encontrados 70 casos de pseudocisto antral, correspondendo à 3,96%, sendo a estimativa da proporção média encontrada p = 0.039, e desvio padrão s = 0.197 . Na área de concentração de poluentes elevada, foram encontrados 17 casos, correspondendo à 8,67% das 196 radiografias pertencentes a Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 4.5. Relação casos x radiografias estudadas x poluição Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 80 5. Discussão A dispersão dos poluentes e seu impacto na saúde ainda parecem-nos um assunto complexo, pois uma quantidade de poluente as quais as pessoas estão expostas é diferente para cada uma delas, dependendo de sua faixa etária, do seu estado imunológico e herança familiar, tornando-as mais ou menos sensíveis à poluição do ar. A quantidade de poluição a qual as pessoas estão sujeitas varia significativamente conforme o local onde elas trabalham e moram, e a frequência com que mudam de residência ou cidade, fatores esses que influenciam na quantidade e qualidade do ar a qual cada um está sujeito (YARA et al., 2006). A maioria dos trabalhos sobre os efeitos dos poluentes atmosféricos na saúde tem sido realizada nos países mais desenvolvidos, localizados, principalmente, no hemisfério norte. De um modo geral, países situados nessas regiões apresentam características meteorológicas, composição dos poluentes e perfis socioeconômicos bastante distintos das demais regiões do planeta, criando dúvidas quando seus resultados são aplicados em outros locais, como no Brasil (comentário pessoal). Diversos fatores podem estar associados aos distúrbios respiratórios, destacando-se, dentre esses, a qualidade do ar. Sabe-se que a poluição atmosférica pode trazer danos manifestados de diferentes formas. A exposição total diária de um indivíduo aos poluentes atmosféricos é a soma dos contatos com os poluentes ao longo de diversas fontes durante todo o dia. Sendo Volta Redonda considerada uma cidade com áreas de concentração de poluentes, onde a qualidade do ar está diretamente relacionada à indústria siderúrgica, é compreensível a ocorrência de doenças associadas ao trato respiratório, dentre elas, alterações localizadas nos seios da face, responsáveis pelo aquecimento e filtragem do ar, promovendo importante barreira imunológica para as vias respiratórias (Comentário pessoal). A radiografia panorâmica é uma radiografia que permite ao examinador observar grande parte das estruturas que compõem o complexo maxilomandibular, com o conforto de uma única exposição radiográfica. É utilizada em diversas áreas da prática odontológica, pois, além de possibilitar uma cobertura de todos os dentes das arcadas e avaliação do posiciona- mento dos terceiros molares, apresenta visão panorâmica de lesões patológicas e alterações ósseas de desenvolvimento, abrangendo ainda as articulações têmporomandibulares e fossas nasais. É utilizada para diagnóstico de fraturas ósseas, e, frequentemente, para verificação do desenvolvimento e crescimento dentário e ósseo em ortodontia e odontopediatria (OHBA et al., 1991; VAN DIS; MILLES, 1994; TIEPO et al., 2002; COSTA et al., 2007). Com o advento das radiografias panorâmicas, o número de casos descobertos de pseudocistos antrais aumentou consideravelmente, em razão dessa tomada ser amplamente utilizada para outros fins, sendo o pseudocisto diagnosticado como achado radiográfico, pelo falo do paciente mostrar-se assintomático, não despertando ao profissional atenção para essa área. Em relação ao nosso estudo, as imagens radiográficas compatíveis com pseudocisto antral encontradas foram semelhantes a todas as imagens descritas na literatura para a lesão, onde foram observadas estruturas cupulares, homogêneas, bem definidas, moderadamente radiopacas em nítido contraste com a radiolucidez do seio maxilar, e situadas em seu assoalho, uni ou bilaterais (WOOD; GOAZ, 1983; COLEMAN; NELSON, 1993; LANGLAIS et al., 1995; WHAITES, 2003; PONTES, 2006; MARQUES et al., 2006; RAMESH; PABLA, 2008). A radiografia panorâmica, mesmo não sendo a técnica de eleição para o diagnóstico de alterações nos seios maxilares, nos pareceu satisfatória para a execução do nosso trabalho. Sendo o pseudocisto antral um achado radiográfico, a técnica panorâmica deve ser valorizada, devido sua grande utilização em tratamentos de rotina. Neste estudo, não foi observada discrepância na ocorrência do pseudocisto antral em relação ao gênero, com pequena predileção pelo masculino, o que está de acordo com os estudos de Gonçalves e Silveira (1993) realizado na cidade de Recife, e Costa (2007), realizado na cidade de João Pessoa, diferente, porém, do estudo realizado por Pontes, em 2006, no qual o autor encontrou maior incidência em pacientes do gênero feminino. Quanto à idade, notou-se maior prevalência entre os adolescentes e adultos jovens, diminuindo após os 40 anos, resultado semelhante encontrado no estudo Costa (2007). Esses dados não refletem a prevalência do pseudocisto antral na cidade, principalmente, impedindo a liberação do calor e das novas cargas de poluentes lançados no ar a cada dia (IPPU, 2009). Dentre os poluentes atmosféricos relatados no estudo de Gouda et al. (2004), aparecem os metais ferro, cobre, zinco e manganês, que apresentavam-se em altas concentrações nas estações localizadas na zona considerada mais poluída de Volta Redonda. O benzeno também foi citado pelos autores como o principal componente da poluição atmosférica na cidade. Estando essa região, segundo nossos resultados, como de alta incidência do pseudocisto antral, surge então uma nova especulação de que os poluentes citados pelos referidos autores, possam estar associados à gênese da patologia, o que não foi possível avaliar, em função de o nosso estudo estar fundamentado apenas em imagens radiográficas. Levando-se em conta essa nova especulação, maiores estudos deverão ser realizados no intuito de avaliar os componentes da poluição local e seus efeitos na mucosa dos seios maxilares. Os resultados poderão ser utilizados na avaliação do programa de monitoramento da qualidade do ar existente, e poderá contribuir para a geração de novas estratégias e de novas políticas de controle da poluição na cidade. 81 Avaliada a ocorrência de imagens compatíveis com pseudocisto antral em radiografias panorâmicas pode-se concluir que: a. b. c. A incidência média encontrada na cidade de Volta Redonda está dentro dos índices relatados na literatura. Quando estudadas as condições geográficas do município, observa-se que a incidência nos bairros localizados na margem esquerda em relação ao Rio Paraíba do Sul esteve acima da média relatada na literatura. Comparando-se as condições geográficas e poluição do ar, observou-se alto índice de pacientes portadores da lesão nos bairros mais poluídos, indicando a participação da poluição do ar na gênese do pseudocisto antral. Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 6. Conclusão Cadernos UniFOA nenhuma especificidade regional, o que corrobora as afirmações de Wood e Goaz (1983), no qual os autores relataram que a lesão pode ser encontrada em todas as idades e, segundo o sexo, pode variar de estudo para estudo. A ocorrência do pseudocisto antral em nosso estudo foi maior no lado direito, semelhante ao encontrado por Costa em 2007, porém, resultado diferente foi relatado no estudo de Pontes em 2006, onde o autor relata uma incidência bem maior no lado esquerdo. No estudo de Gonçalves e Silveira (1993), os autores relataram que não encontraram diferença estatisticamente significante em relação ao lado comprometido. No estudo de Pontes (2006), o autor cita o fato de não haver encontrado ocorrência bilateral, o que difere do nosso estudo, onde aproximadamente 11% dos casos foram bilaterais. Não foi encontrado qualquer evidência em relação ao porque da predileção de um lado ou outro em nossos estudos, não existindo qualquer relato na literatura para explicar o fato. Mais da metade das lesões observadas em nosso estudo, não apresentavam alterações patológicas no quadrante homólogo, não podendo atribuir a qualquer uma delas a causa do pseudocisto. Relato semelhante foi feito por Gonçalves e Silveira (1993), em que os autores mencionam que não foi possível estabelecer a inter-relação de condições odontogênicas com o desenvolvimento do pseudocisto antral. As estações de monitoramento do ar de Volta Redonda, descritas nos relatos de Goida et al. (2004), incluem como as que apresentaram maior captação de poluentes, as estações do Belmonte, do Retiro e da FEEMA, estações situadas na margem esquerda do rio Paraíba do Sul, e que coincidem com a região de maior concentração de poluentes, descrita no estudo de Peiter e Tobar (1996). Esses relatos vão ao encontro ao nosso estudo, que encontrou maior incidência do pseudocisto antral nessa mesma área, indicando a associação da poluição do ar com a ocorrência de casos de pseudocisto antral na cidade. No trabalho realizado por Rodrigues et al. (2009), os autores relataram que não encontraram correlação significante entre a incidência do pseudocisto antral e a umidade do ar ou temperatura, cabe porém ressaltar, que o fenômeno de inversão térmica que ocorre nos períodos de inverno, pode ter contribuído com 82 7. Referências 1. 2. 3. 4. 5. Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 6. 7. ALLARD, R.H.; KWAST, W.A.; WAAL, I. Mucosal antral cysts. Review of the literature and report of a radiographic survey. Oral Surg Oral Med Oral Pathol v. 51, n. 1, p. 2-9, 1981. BALLESTER, F.; TENIAS, F.; PEREZHOYOS, S. Air pollution and emergency hospital admissions for cardiovascular diseases in Valencia, Spain. 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Paulo Erley Abrantes, 1325 Três Poços - Volta Redonda/RJ CEP: 27240-560 85 Riqueza e composição de formigas de serapilheira na Reserva Florestal da Vista Chinesa, Rio de Janeiro, Brasil Inventory of ground-dwelling ants in the Chinese View Forest Reserve, Rio de Janeiro, Brazil André Barbosa Vargas1 Antônio José Mayhé-Nunes2 Jarbas Marçal Queiroz3 Biodiversidade Inventário Extrator de Winkler Original Paper Resumo Inventário das formigas de serapilheira na Reserva Florestal da Vista Chinesa, Rio de Janeiro, Brasil. A mirmecofauna da Reserva Florestal da Vista Chinesa (RFVC) foi amostrada por 50 parcelas de 1m2 de serapilheira, submetidas ao extrator de Winkler, onde 90 espécies/morfoespécies foram registradas. A composição de espécies apresentou similaridade de 24% (índice de Jaccard) e 38% (índice de Sorensen) entre as amostras. A distribuição de abundância das espécies não diferiu estatisticamente da distribuição série logarítmica. A riqueza estimada foi 129 (Chao2); em média cada amostra apresentou 112,5 (±68,9) indivíduos e 15,8 (±4,4) espécies/morfoespécies. O fragmento de floresta estudado na Cidade do Rio de Janeiro apresentou uma fauna rica e diversificada de formigas de serapilheira e como essa diversidade pode indicar a diversidade de outros grupos e processos no ecossistema, a manutenção dessa reserva é importante para a conservação da biodiversidade na Mata Atlântica brasileira. Abstract Inventory of ground-dwelling ants in the Chinese View Forest Reserve, Rio de Janeiro, Brazil. We sampled the ants from Reserva Florestal da Vista Chinesa (RFVC) using 50 litter plots with 1m2, which were submitted to Winkler extractor. We found 90 species/morphospecies, and similarity in species composition among samples was quite low (24%, Jaccard index, and 38% Sorensen index). Abundance distribution followed a logarithm series model. Each sample had 112.5 (±68.9) specimens and 15.8 (±4.4) species/ morphospecies, although estimated richness was 129 (Chao2), on average. The forest fragment in the City of Rio de Janeiro showed a rich and varied fauna of ground-dwelling ants, and as the diversity of ants can be correlated with the diversity of other organisms, as well as ecosystem process, the maintenance of this urban forest reserve is important to the conservation of biodiversity in the Brazilian Atlantic Forest. Recebido em 11/2012 Aprovado em 04/2013 Key words Atlantic Forest Biodiversity Inventory Winkler extractor 1 Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA), Centro de Ciências da Saúde. 2 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Instituto de Biologia, Departamento de Biologia Animal. 3 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Instituto de Florestas, Departamento de Ciências Ambientais. Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Mata Atlântica Artigo Original Cadernos UniFOA Palavras-chave ISSN 1809-9475 Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 86 1. Introdução Os remanescentes florestais urbanos, além de possuírem importância estética podem promover o lazer e contribuir na relação “homem e natureza” a fim de proporcionar maior conhecimento sobre a diversidade biológica e na compreensão de sua importância. Além disso, são úteis, pois contribuem na manutenção da biodiversidade, funcionando como refúgio da vida silvestre, e de um possível elo entre áreas adjacentes. Entretanto, fragmentos florestais, inseridos em áreas urbanas, podem ser inadequados para organismos com hábitos mais restritos como, por exemplo, espécies que dependem de condições específicas de temperatura e recurso alimentar. Tais fragmentos podem apresentar maior efeito de borda, maiores incidência de ventos e variações bruscas na temperatura, favorecendo espécies com hábitos generalistas, aumentando a competição e assim ocasionando desequilíbrios na estrutura destes ecossistemas (MCINTYRE et al., 2001). No entanto, pouco se sabe sobre a biodiversidade dessas áreas, seu estado de conservação ou mesmo como as espécies se distribuem nestes fragmentos. As formigas são componentes importantes da biodiversidade de florestas por desempenharem funções biológicas e ecológicas vitais para a manutenção dos processos ecossistêmicos (HÖLLDOBLER; WILSON, 1990). Elas são bons bioindicadores, por serem sensíveis a mudanças ambientais (AGOSTI et al., 2000; RIBAS et al., 2012), e podem ser utilizadas em programas de monitoramento (ANDERSEN; MAJER, 2004; BRAGA et al., 2010). Além disso, formigas destacam-se por seu papel estruturador da comunidade de artrópodes (HÖLLDOBLER; WILSON, 1990), por sua influência significativa em processos edáficos (BROWN, 1997) e pela predação e dispersão de sementes (FOLGARAIT, 1998). A riqueza e composição dessas assembleias de formigas estão intimamente relacionadas com a complexidade estrutural dos ambientes (NAKAMURA et al., 2003; LASSAU; HOCHULI, 2004; VARGAS et al., 2007; MARTINS et al., 2011). A Mata Atlântica brasileira é considerada uma área prioritária para a conservação da biodiversidade, possuindo alta diversidade de plantas endêmicas, vertebrados e invertebrados (MITTERMEIER et al., 2004; GALINDOLEAL; CÂMARA, 2005). Mas apesar da cobertura original de Mata Atlântica ter sido reduzida para menos de 10%, o Estado do Rio de Janeiro ainda possui remanescentes florestais deste bioma relativamente bem conectados, formando grandes blocos florestais (ROCHA et al., 2003). Esses blocos compõem um mosaico de fragmentos florestais em paisagens distintas, nas quais espécies da flora e fauna desempenham serviços ecossistêmicos como polinização, decomposição de matéria orgânica e controle biológico (CUMMING, 2007). A fragmentação florestal afeta diretamente esses organismos, limitando os serviços por eles desempenhados ou até mesmo causando sua extinção em escala local ou regional (STEFFAN-DEWENTER et al., 2002). Na região metropolitana do Rio de Janeiro, o maciço da Tijuca representa a principal área com cobertura florestal (ROCHA et al., 2003) e dentro dele se localiza a Reserva Florestal da Vista Chinesa (RFVC) que é o foco deste estudo. A região onde se encontra a RFVC foi severamente desmatada durante o período da colonização portuguesa e, posteriormente, por decreto real, foi reflorestada como medida de recuperação dos mananciais. Na época, foram plantadas quase 60.000 árvores (MOULTON et al., 2007). Atualmente, a RFVC apresenta uma formação florestal em estado avançado de regeneração, embora a região do maciço da Tijuca sofra queimadas constantes, mais frequentes na vertente Norte (OLIVEIRA et al., 1995). Por se tratar de um dos maiores remanescentes florestais em área urbana no Brasil, a necessidade de sua conservação justifica a realização de estudos sobre sua biodiversidade. Estudos anteriores, em florestas urbanas, revelaram padrões importantes de distribuição, riqueza e composição da fauna de formigas (FEITOSA; RIBEIRO, 2005; MIRANDA et al., 2006; MORINI et al., 2007). Neste estudo realizamos uma descrição da fauna de formigas de serapilheira na RFVC, descrevendo parâmetros básicos da comunidade como riqueza e composição de espécies. Além disso, comparamos, com o objetivo de fornecer subsídios a futuros estudos realizados em escala regional, dados sobre espécies de formigas de serapilheira da RFVC A Reserva Florestal da Vista Chinesa (RFVC) possui cerca de 15 ha e localiza-se no Maciço da Tijuca (11.870 ha), que por sua vez situa-se em uma região exclusivamente urbana sobre forte pressão antrópica. O clima na região é considerado tropical quente e úmido, apresentando um ou dois meses secos ao longo do ano. A temperatura anual média varia entre 22 e 24ºC, apresentando máxima absoluta de 38 a 40ºC nos meses de dezembro a fevereiro, e mínimas de 4 a 8ºC nos meses de junho e julho. A pluviosidade anual varia de 1.250 a 1.500 mm (MATOS et al., 2002). A amostragem da fauna de formigas foi realizada em fevereiro de 2004, empregando o extrator de Winkler, descrito em Bestelmeyer et al. (2000). Essa técnica de amostragem é extremamente eficiente na serapilheira e possibilita a captura de formigas, de tamanho reduzido, que apresentam comportamento críptico (PARR; CHOWN, 2001, VARGAS et al., 2009). Foram demarcadas e peneiradas 50 parcelas de 1 m2 de serapilheira, ao longo de uma transecção de 1.200 m de comprimento, marcada com 25 pontos espaçados por 50 m um do outro. Em cada ponto demarcado na transecção foram esticadas duas linhas perpendiculares de 25 m, uma para o lado esquerdo e outra para o direito da transecção, sob as quais foram demarcadas parcelas de serapilheira, caracterizando assim unidades amostrais independentes. As amostras obtidas em cada parcela foram individualizadas e submetidas aos extratores de Winkler por 48 h, em condições de laboratório. Exemplares coletados de cada espécie foram montados em via seca e depositados na Coleção Entomológica Costa Lima (CECL) do Instituto de Biologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Os gêneros foram identificados com base na chave de Bolton (1994) e as subfamílias de acordo com a proposta de Bolton (2003). Para analisar a acumulação de espécies, com o esforço de amostragem, foram utilizados os métodos Mao Tau e Chao2, ambos com 100 aleatorizações, com auxílio do programa 87 3. Resultados Foram coletados 5.627 indivíduos, pertencentes a dez subfamílias, 32 gêneros e 90 espécies/morfoespécies de formigas na Reserva Florestal da Vista Chinesa. A subfamília Myrmicinae foi a mais rica em espécies (n=51); seguida de Ponerinae (n=17), Ectatomminae (n=8), Formicinae (n=5); Amblyoponinae, Ceraphachyinae e Heteroponerinae tiveram duas espécies e Dolichoderinae, Ecitoninae e Proceratiinae, uma espécie cada. Pheidole e Hypoponera foram os gêneros mais ricos com dez espécies, seguidos por Solenopsis (n=8); juntos estes gêneros representaram 31% das espécies coletadas. Dezenove espécies foram registradas com apenas um exemplar capturado, correspondendo a 21,1% do total de espécies amostradas. As cinco espécies mais abundantes responderam por 43% do total de indivíduos capturados (Tabela 1). O número médio de espécies por amostra foi de 15,8 (± 4,4), variando entre seis e 26 espécies por metro quadrado. A curva de acumulação de espécies gerada por meio de amostras aleatorizadas apresenta uma tendência a se estabilizar. A estimativa de riqueza de Chao2 foi de 129 em 50 amostras (Figura 1). A similaridade na composição em espécies entre as amostras de 1 m2 de serapilheira foi de 24% pelo índice de Jaccard e 38% pelo índice de Sorensen. A distribuição de abundância das espécies não diferiu estatisticamente da distribuição série logarítmica (Teste Qui-quadrado, P > 0,05) (Figura 2). Essa distribuição prevê poucas espécies abundantes e um grande número de espécies raras. 4. Discussão Em florestas tropicais, são comuns as curvas de riqueza de espécies não atingirem Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 2. Material e Métodos EstimateS (COWELL 2000). A similaridade entre as amostras foi calculada pelo índice de Jaccard e de Sorensen. A distribuição de abundância das espécies observada foi comparada à distribuição série logarítmica e submetida ao teste de Qui-quadrado disponível no programa SYSTAT® versão 8.0. Cadernos UniFOA com trabalhos previamente realizados em outros fragmentos florestais. Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 88 a assíntota (estabilização), diante da enorme diversidade de espécies que exploram uma multiplicidade de recursos alimentares e sítios de nidificação (LEPONCE et al., 2004). Por outro lado, estudos apontam a necessidade de um maior esforço amostral e o emprego de outras técnicas de amostragem que resultariam em uma fauna mais rica e diversa (ROMERO; JAFFÉ, 1989; ALONSO; AGOSTI, 2000; SCHUTTE et al., 2007). Entretanto, a viabilidade econômica, o espaço físico, o tempo gasto em campo e no processamento de todo o material coletado é extenso. Nesse sentido, o que se tem feito é a escolha de uma técnica mais eficiente e apropriada ao ambiente. Os resultados obtidos aqui mostram uma tendência à estabilização para a curva de riqueza observada na RFVC. A riqueza observada corresponde a 70% da riqueza estimada. Em fragmento (Parque Estadual da Cantareira, SP) com condições semelhantes à RFVC e com o mesmo esforço amostral empregado aqui Feitosa; Ribeiro (2005) observaram 62 espécies, porém alcançando 78% das espécies estimadas. Morini et al. (2007) estudaram três fragmentos de tamanhos diferentes, também sob influência antrópica, em São Paulo, e encontraram 79 espécies. Para todos esses estudos, as diferenças de riqueza estão relacionadas ao tamanho dos remanescentes e/ou o grau de conservação da paisagem do entorno. A RFVC faz parte do maciço da Tijuca, cuja área de florestas é de quase 12 mil hectares, sua riqueza em espécies de formigas é muito mais próxima do encontrado por VeigaFerreira et al. (2005) na Reserva Biológica do Tinguá, com área de 26.000 ha. Assim, suportando a hipótese de que áreas maiores comportam maior riqueza de espécies. Além disso, áreas maiores podem proporcionar mais recursos, sejam alimentares ou de sítios de nidificação (KASPARI, 1993), aumentando a área para o forrageamento das espécies. Com relação aos dados de Morini et al. (2007), o fator seria o tamanho amostral, fisionomia e o tipo de técnica utilizada, já que empregaram iscas atrativas e armadilhas de solo, respectivamente, tornando suas amostragens mais seletivas quanto à guilda de formigas capturada. O padrão de distribuição de abundância das espécies de formigas na RFVC sugere que poucos fatores são dominantes na estruturação da comunidade (MAGURRAN, 1988). A subfamília Myrmicinae, que apresentou a maior abundância e riqueza de espécies, é a mais diversificada em termos de hábitos alimentares e de nidificação (HÖLLDOBLER; WILSON, 1990), sendo frequentemente o grupo a representar a maior porção da diversidade de formigas de serapilheira na maioria dos ambientes (MARINHO et al., 2002; VEIGA-FERREIRA et al., 2005; VARGAS et al., 2007). Os gêneros Hypoponera, Pheidole e Solenopsis, que representaram 31% das espécies encontradas na RFVC, apresentam grande variedade de espécies em amostragens na serapilheira de ambientes de Cerrado (MARINHO et al., 2002), Caatinga (LEAL, 2003) e Mata Atlântica (VEIGA-FERREIRA et al., 2005; VARGAS et al., 2007). Mesmo outros remanescentes florestais em ambientes urbanos, localizados em região de Mata Atlântica, apresentam esses gêneros como os mais ricos em espécies (FEITOSA; RIBEIRO, 2005; MORINI et al., 2007). Estudos que utilizam a técnica dos extratores de Winkler raramente amostram espécies do gênero Atta e Acromyrmex (VEIGAFERREIRA et al., 2005), embora eles tenham sido observados na RFVC, durante os trabalhos de campo. Além de Acromyrmex e Atta, cabe ressaltar a ausência de gêneros como Azteca, Camponotus, Cephalotes, Dolichoderus e Pseudomyrmex, todos comuns em florestas tropicais e predominantemente arborícolas, exceto Camponotus que também é frequente na serapilheira. Fatores como o comportamento das formigas e a limitação da técnica de amostragem estão relacionados ao não registro desses gêneros na RFVC (ver VARGAS et al., 2009), corroborando ao exposto por Longino et al. (2002). Com base no modelo de guildas propostas por Delabie et al. (2000), a composição da fauna de formigas, amostradas na RFVC, só não abriga representantes da guilda das “subterrâneas dependentes de honeydew”, o que de fato deve-se à técnica utilizada, a qual inviabiliza a captura de formigas subterrâneas, amostrando-as eventualmente (ver BESTELMEYER et al., 2000). Isso mostra que, apesar de ter sido utilizado apenas uma técnica de amostragem, os resultados são relevantes e que o acréscimo de técnicas de amostragem aumentaria a riqueza de espécies nas guildas já presentes. BOLTON, B. Synopsis and classification of formicidae. Memoirs of the American Entomological Institute, p.370, 2003. 6. BRAGA, D. L., LOUZADA, J. N. C., ZANETTI, Z., DELABIE, J. H. 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Como as formigas podem ser bons indicadores da diversidade outros grupos de organismos (ANDERSEN; MAJER, 2004), a conservação desse fragmento florestal urbano na Cidade do Rio de Janeiro torna-se essencial para ajudar na proteção e conservação de numerosas espécies da fauna e flora da Mata Atlântica. 90 14. HÖLLDOBLER, B. & WILSON, E. O. The Ants. Cambridge: Harvard University Press, p.732, 1990. 15. KASPARI, M. Body size and microclimate use in Neotropical granivorous ants, Oecologia, v. 96, p. 500-507, 1993. 16. LASSAU, S. A. & HOCHULI, D. F. Effects of habitat complexity on ant assemblages. Ecography, v. 27, p. 157164, 2004. 17. LEAL, I. R. Diversidade de formigas em diferentes unidades de paisagem da caatinga. In: LEAL, I.R., TABARELLI, M., SILVA, J.M.C. Eds. Ecologia e Conservação da Caatinga Recife: Ed. UFPE, p. 593-624, 2003. 18. LEPONCE, M.; THEUNIS, L.; DELABIE, J. H. C.; ROISIN, Y. Scale dependence of diversity measures in a leaf-litter ant assemblage. 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Ants as indicators in Brazil: a review with suggestions to improve the use of ants in environmental monitoring programs. Psyche. v. 2012, p.1-23, 2012. 35. VARGAS, A. B., MAYHE-NUNES, A. J., QUEIROZ, J. M., ORSOLON, G. S., FOLLY-RAMOS, E. Efeito de fatores ambientais sobre a mirmecofauna em comunidade de restinga no Rio de Janeiro, RJ. Neotropical Entomology, v. 36, p. 28-37, 2007. Cadernos UniFOA 31. PARR, C. L. & CHOWN, S. L. Inventory and bioindicator sampling: testing pitfall and winkler methods with ants in a South African savanna. Journal of Insect Conservation, v. 5, p. 27-36, 2001. 92 TABELA 1: Lista de espécies de formigas amostradas na Reserva Florestal da Vista Chinesa (RFVC), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. (fev/2004). TABLE 1: List of ant species sampled in Reserva Florestal da Vista Chinesa (RFVC), Rio de Janeiro, Brazil. (Feb/2004). Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Grupo Taxonômico Subfamília Amblyoponinae Amblyopone armigera Mayr, 1897 Amblyopone sp.2 Subfamília Ceraphachyinae Cerapachys splendens Borgmeier, 1957 Cerapachys cf toltecus Subfamília Dolichoderinae Linepithema sp. Subfamília Ecitoninae Labidus sp. Subfamília Ectatomminae Ectatomma edentatum Roger, 1863 Gnamptogenys cf porcata Gnamptogenys cf lucaris Gnamptogenys rastrata (Mayr, 1866) Gnamptogenys horni Santschi, 1929 Gnamptogenys continua Mayr, 1887 Gnamptogenys cf horni Gnamptogenys sp.7 Subfamília Formicinae Brachymyrmex sp.1 Brachymyrmex sp.2 Brachymyrmex sp.3 Nylanderia sp.1 Nylanderia sp.2 Subfamília Heteroponerinae Heteroponera sp.1 Heteroponera sp.2 Subfamília Myrmicinae Apterostigma sp. 1 Apterostigma sp. 2 Basiceros disciger (Mayr, 1887) Carebara urichi (Wheeler, 1922) Crematogaster nigropilosa Mayr, 1870 Cyphomyrmex strigatus Mayr, 1887 Cyphomyrmex gr rimosus Hylomyrma balzani (Emery, 1894) Hylomyrma reitteri (Mayr, 1887) Megalomyrmex sp.1 Megalomyrmex sp.2 Megalomyrmex sp.3 Megalomyrmex sp.4 Octostruma rugifera (Mayr, 1887) Octostruma iheringi (Emery, 1887) Octostruma sp.3 Oxyepoecus sp.1 Oxyepoecus sp.2 Pheidole gr Gertrudae Abundância Registros 1 1 1 1 22 1 9 1 22 6 4 1 8 276 6 11 2 18 1 1 3 33 4 8 2 3 1 1 101 347 29 8 131 6 16 10 1 11 12 1 10 1 44 152 51 3 1 8 125 53 63 37 4 1 1 95 2 3 2 1 2 9 23 15 1 1 5 31 15 22 8 2 1 1 20 1 1 1 1 1 Registros 820 212 1 3 69 8 18 1 7 5 8 1 1 37 401 382 74 42 68 84 71 1 37 429 48 1 12 1 3 286 413 1 44 19 1 2 12 5 7 1 2 2 6 1 1 6 31 35 14 8 17 11 15 1 10 41 12 1 9 1 2 19 33 1 18 139 4 75 29 41 29 11 3 44 2 2 19 5 3 1 2 11 27 3 21 9 12 9 5 1 8 2 2 12 3 2 1 1 4 2 93 Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Pheidole sp.1 Pheidole sp.2 Pheidole sp.3 Pheidole sp.4 Pheidole sp.5 Pheidole sp.6 Pheidole sp.7 Pheidole sp.8 Pheidole sp.9 Pheidole sp.10 Rogeria sp.1 Rogeria sp.2 Rogeria sp.3 Sericomyrmex sp. Solenopsis sp.1 Solenopsis sp.2 Solenopsis sp.3 Solenopsis sp.4 Solenopsis sp.5 Solenopsis sp.6 Solenopsis sp.7 Solenopsis sp.8 Strumigenys sp.1 Strumigenys sp.2 Strumigenys sp.3 Strumigenys sp.4 Strumigenys sp.5 Strumigenys sp.6 Trachymyrmex sp. Wasmannia auropunctata (Roger, 1863) Wasmannia cf rochai Wasmannia cf scrobifera Subfamília Ponerinae Anochetus mayri Hypoponera sp.1 Hypoponera sp.2 Hypoponera sp.3 Hypoponera sp.4 Hypoponera sp.5 Hypoponera sp.6 Hypoponera sp.7 Hypoponera sp.8 Hypoponera sp.9 Hypoponera sp.10 Odontomachus chelifer (Latreille, 1802) Odontomachus meinerti Forel, 1905 Pachycondyla harpax (Fabricius, 1804) Pachycondyla lunaris (Emery, 1896) Pachycondyla striata Fr. Smith, 1858 Thaumatomyrmex sp. Subfamília Proceratiinae Discothyrea sp. Abundância Cadernos UniFOA Grupo Taxonômico 94 Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 FIGURA 1: Curva de acumulação de espécies de formigas de serapilheira para a Reserva Florestal da Vista Chinesa, Rio de Janeiro, RJ, Brasil (fev/2004). A riqueza (S) observada foi calculada pelo método Mao Tau e a estimada pelo método Chao2; ambas com 100 aleatorizações. FIGURA 2: Distribuição da abundância de espécies de formigas de serapilheira na Reserva Florestal da Vista Chinesa, Rio de Janeiro, RJ, Brasil (fev/2004). Endereço para Correspondência: André Barbosa Vargas [email protected] Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA Campus Olezio Galotti, Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, 1325 - Três Poços. CEP: 27240-560 Volta Redonda, RJ – Brasil. 95 Stent Multicamadas - uma nova alternativa no tratamento de Aneurismas. Revisão de Literatura Stent Multilayer - a new alternative in the treatment of Aneurysms. Literature Review Augusto Frederico Martins Lopes Oliveira 1 Gabriel Costa Miziara 1 Lívia Gomes de Oliveira Garani 2 Marcela Sousa Cruz de Oliveira 3 Rodrigo Leal de Jesus Alves 3 ISSN 1809-9475 Artigo Original Original Paper Recebido em 10/2012 Aorta Reconstrução Endoluminal Abstract The objective of this study is to demonstrate the emergence of a new safe and effective alternative for the endovascular treatment of aneurysms via 3D Multilayer Stent, which has multiple layers of braided cobalt alloy, giving a 3D geometric structure, because unlike the conventional treatment of embolization coils or by exclusion grafts, stent Multilayer reduces the speed and pressure of blood flow within the aneurysm sac, while maintaining the flow to collaterals, with this implementation the probability of rupture of the aneurysm sac becomes minimum. Studies support the efficacy and safety of its implantation in aortic aneurysms, peripheral and visceral, and the retraction of the aneurysm occurs in the months following implantation of Multilayer Stent, when compared to traditional treatment is a reduction of complications and mortality. This therapeutic option appears as a very promising breakthrough for the endovascular treatment of aneurysms. 1 Acadêmicos do curso de Medicina da Universidade Gama Filho - RJ 2 Acadêmica do curso de Medicina da Universidade Severino Sombra - RJ 3 Acadêmicos do curso de Medicina do Centro Universitário de Volta Redonda - RJ Keywords Aneurysm Aorta Endoluminal Repair Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Aneurisma Resumo O objetivo deste estudo é demonstrar o surgimento de uma nova alternativa segura e eficaz no tratamento endovascular dos aneurismas através do Stent Multicamadas 3D, que possui múltiplas camadas trançadas de liga de cobalto, dando uma estrutura geométrica em 3D, pois, ao contrário do tratamento convencional de embolização de bobinas ou exclusão pelos enxertos, o Stent Multicamadas reduz a velocidade e a pressão do fluxo sanguíneo dentro do saco aneurismático ao mesmo tempo em que mantém o fluxo para as artérias colaterais, com essa implantação, a probabilidade de ruptura do saco do aneurisma se torna mínima. Estudos corroboram a eficácia e a segurança de sua implantação nos aneurismas aórticos, viscerais e periféricos, além de ocorrer a retração do aneurisma nos meses seguintes à implantação do Stent Multicamadas, sendo assim, quando comparado ao tratamento tradicional, ocorre uma redução das complicações e das mortalidades. Essa opção terapêutica surge como um avanço bastante promissor para o tratamento endovascular dos aneurismas. Cadernos UniFOA Palavras-chave Aprovado em 04/2013 Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 96 1. Introdução Um aneurisma ocorre quando há uma dilatação na parede da artéria de, pelo menos, 50% maior que seu diâmetro normal. Tradicionalmente, considera-se a aterosclerose como causa primária em 90% dos casos. Os aneurismas das artérias viscerais são aqueles aneurismas intra-abdominais que afetam a artéria celíaca, as artérias mesentéricas superior e inferior e as artérias renais e seus ramos[12]. Os aneurismas periféricos são poucos comuns, porém, quando surgem, podem trazer consequências graves ao paciente, como no caso de aneurismas de artérias poplíteas que se destacam pela maioria dos casos periféricos. Tem como complicação, a amputação do membro, devido à trombose ou embolia[2]. A prevalência de aneurisma de artéria aorta torácica está crescendo, tendo atenção especial também dos cardiologistas, visto que traz complicações de valva aórtica, pois causa refluxo sanguíneo para o ventrículo esquerdo quando a válvula se fecha, caracterizando uma insuficiência aórtica[3].A maior incidência de aneurismas está na aorta abdominal, pois é comum surgir em hipertensos e tabagistas; possui grande chance de ruptura, pois se trata de um aneurisma assintomático, talvez este seja o motivo da alta taxa de mortalidade em relação aos outros aneurismas[12]. Estudos promissores indicam uma nova linha terapêutica para o tratamento endovascular de aneurisma aórticos, periféricos e viscerais, trata-se do Stent Multilayer 3D Cardiatis, sua plataforma tecnológica se baseia na técnica de múltiplas camadas de ligas de cobalto trançadas desenvolvendo nos stents estruturas geométricas tridimensionais espacias[4]. A estrutura do Stent Multilayer, em virtude de sua geometria 3D, confere ao stent alta resistência e flexibilidade, sendo que sua principal vantagem está no fato de modular o fluxo hemodinâmico dentro do aneurisma, pois reduz a velocidade no vórtex do mesmo, com isso, forma-se um trombo organizado e estável, mantendo o fluxo laminar na artéria principal e preservando os ramos colaterais e distais [2]. Ao ocorrer um fluxo laminar e lento dentro do saco aneurismático, reduz-se a probabilididade de ruptura e há retração do aneurisma ao longo do tratamento, ao mesmo tempo que assegura perfusão sanguínea para as artérias colaterais e distais, isso torna o Stent Multilayer uma evolução terapêutica no tratamento endovascular dos aneurismas. Países como Bélgica, Grécia, Alemanha, França e Itália demostraram por relatos de casos a eficiência e segurança do uso do Stent Multilayer[5], portanto, foi constatado, através desta revisão bibliográfica, que o Stent Multilayer surge como alternativa segura e de excelentes resultados nos casos de aneurismas aórticos, periféricos e viscerais[13]. 2. Métodos Trata-se de uma revisão de literatura, realizada por meio de levantamento de artigos científicos, publicados entre os anos de 2007 e 2012. As buscas bibliográficas foram realizadas através de banco de dados eletrônicos internacionais, como a Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), National Library of Medicine (MEDLINE), Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) e na biblioteca virtual Pubmed. As palavras-chave utilizadas para a busca dos artigos foram às seguintes: Aneurismas; Stent Multilayer 3D Cardiatis; Tratamento Endovascular; Efeitos Hemodinâmicos. Os critérios de inclusão dos artigos foram aqueles em que usaram o Stent Multilayer para o tratamento endovascular dos aneurismas e os seus respectivos prognósticos. Os artigos selecionados foram publicados em periódicos internacionais e no idioma inglês. 3. Resultados 97 TABELA 1 Estudos científicos relatados. Número de Casos Sucesso Técnico Sucesso Clínico [1] Balderi et al. (2010) Itália Relato de caso 1 100% 100% [2] Carrafiello et al. (2011) Itália Relato de caso 1 100% 100% [3]Ferrero et al. (2010) Itália Relato de caso 2 100% 100% [4] Henry et al. (2010) Bélgica, França e Grécia Série 30 100% 100% [5] Henry et al. (2008) França Relato de caso 1 100% 100% [6] Meyer et al. (2010) Alemanha Relato de caso 1 100% 100% [7] Polydorou et al. (2010) Grécia Relato de caso 19 100% 100% [8] Polydorou (2007) Grécia Relato de caso 1 100% 100% [9] Polydorou (2007) Grécia Relato de caso 1 100% 100% [10] Rabbia (2010) Itália Série 45 100% 100% [11] Ruffino et al. (2010) Itália Série 52 92.3% 94.1% TOTAL 4. Discussão A principal vantagem da plataforma tecnológia das multicamadas reside no fato de tornar possível modular o fluxo hemodinâmico dentro do segmento arterial acometido[11]. O design do Stent Multilayer, em virtude de sua geometria 3D, reduz a velocidade do fluxo dentro do vórtex do aneurisma, melhorando o fluxo laminar na artéria principal e nas colaterias. Isso permite a redução da pressão dentro do saco aneurismático, reduz também a estase e a formação de um trombo organizado[11]. Balderi et al.[1] relata o caso de um paciente, do sexo masculino, de 74 anos de idade, com aneurisma de artéria hepática de 85mm de diâmetro, originário da artéria hepática comum, envolvendo até a artéria gastroduodenal. Por causa do risco de ruptura espontânea do aneurisma foi utilizada a angiografia por subtração digital, já no pós-operatório imediato, pode-se observar uma formação inicial de trombos organizados, isso levou à redução do fluxo turbulento dentro do saco aneurismático e manteve o fluxo para os ramos colaterais e para as artérias esplênicas, hepáticas direita e esquerda e gastroduodenal. Após seis meses, houve completa redução do aneurisma e os ramos mantiveram perfundidos. - 154 Já Carrafielo et al.[2] relata o caso de um paciente do sexo masculino de 60 anos de idade, com aneurisma de tronco celíaco, que foi tratado com Stent Multilayer com objetivo de preservar os ramos colaterais do aneurisma. Sucesso clínico foi obtido em aproximadamente seis meses, e a confirmação ocorreu após doze meses, com trombose completa do saco aneurismático sem comprometer ramos e a perfusão regular do fígado e baço. Ferrero et al.[3], relatam o caso de dois pacientes do sexo masculino, um de 71 anos e o outro de 73 anos de idade, ambos com aneurisma de artéria hepática (34 mm e 48 mm de diâmetro respectivamente). Imediatamente, no pós-operatório, demonstrou formação inicial de um trombo com redução do fluxo dentro do saco aneurismático e perfusão para os ramos colaterais. Com seis meses após a colocação do Stent Multilayer, ocorreu trombose completa do aneurisma e perfusão contínua para os ramos colaterais, em seguida, após doze meses, foi realizada outra avaliação que confirmou o sucesso clínico no tratamento do aneurisma. O primeiro paciente teve alta em três dias e o segundo em dois dias. Ferrero et al.[3] relatam ainda que as limitações deste novo stent são determinadas pelo fato de que não pode ser usado em casos de emergência, como em Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 Tipo de estudo Cadernos UniFOA Autoria e País Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 98 uma ruptura de aneurisma de artéria visceral porque não é um stent recoberto. Além disso, o posicionamento do dispositivo requer um apoio que ainda hoje é grande no tamanho. Finalmente, as dificuldades de canulação do vaso alvo podem ocorrer devido à anatomia do vaso, a pouca flexibilidade dos materiais e da necessidade de usar guias bastante rígidos para a liberação do stent. Henry et al.[4] relata uma série de 30 pacientes, sendo 22 de aneurismas periféricos (Ilíaca: 14; Femoral: 1; Poplíteo: 2 ; Renal: 4; Mesentérica: 1); 6 de aneurismas torácicos e 2 de aneurismas abdominais. O sucesso técnico foi obtido em todos os pacientes. Para os aneurismas periféricos ocorreu a exclusão e o fluxo permaneceu para as artérias colaterais, em relação aos aneurismas tóraco-abdominais, todos mantiveram o fluxo para as colaterais, sendo que a total exclusão necessitaria de um período de 06, 12 e 30 meses de pós operatório respectivamente, para aneurismas periféricos, torácicos e abdominais, para confirmar a total exclusão do aneurisma. Henry et al.[5] relata o caso de um paciente do sexo masculino, 78 anos de idade, com múltiplas comorbidades, apresentando aneurisma sacular de artéria renal direita com 30 mm de diâmetro, que foi submetido ao tratamento endovascular com o Stent Multilayer e imediatamente após a colocação do stent houve redução do fluxo turbulento no saco aneurismático e perfusão sanguínea para as artérias colaterais. Após seis meses, o paciente apresentou completa exclusão do aneurisma e com contínuo fluxo para as colaterais e alta hospitalar no dia seguinte. Henry et al. escrevem ainda que o mecanismo pelo qual o Stent Multilayer pode causar a absorção do aneurisma se deve a hemodinâmica dentro do saco. Para um aneurisma sem colaterais, o sangue flui para dentro do saco, gerando um vórtex, uma após a outra, todas ao longo da parede do aneurisma, à medida que estes progressos geram perturbações de fluxo, tornam-se mais fortes e estes movimentos contínuos induzem o estresse na parede arterial. Quando o Stent Multilayer é colocado na frente do colo do aneurisma, a geometria 3D reduz a velocidade do fluxo dentro do vórtex do saco aneurismático, melhorando o fluxo laminar na artéria principal e nos ramos colaterais. Meyer et al.[6] relatam o caso de um paciente do sexo masculino, 74 anos de idade, com aneurisma de artéria renal esquerda de 26mm de diâmetro que tratado com Stent Multilayer, imediatamente após a colocação do stent, apresentou diminuição do fluxo turbulento dentro do aneurisma, e a angiografia, obtida após 20 minutos à colocação do stent, demonstrou uma completa exclusão do fluxo turbulento no aneurisma e a perfusão preservada para as artérias colaterais. Cinco meses após da implantação do Stent Multilayer, o paciente mostrou exclusão do saco aneurismático e, sem sinais de infarto renal, o paciente teve alta hospitalar no dia seguinte. Polydorou et al.[7] relatou 19 pacientes com aneurismas, sendo 4 de artérias renais, 15 de artérias ilíacas, 1 artéria poplítea, 1 artéria aorta torácica e 1 de artéria aorta abdominal. Foi obtido o sucesso técnico em todos os casos . A taxa de exclusão dos aneurismas periféricos foi de 100% e todos os ramos colaterais com perfusão. Para os aneurismas de tórax e abdômen, a angiografia, realizada após três meses, mostrou redução do fluxo sanguíneo no interior do saco aneurismático e perfusão mantida para os ramos colaterais, porém, concluiu-se que havia necessidade um tempo maior para excluir completamente os aneurismas de artérias de maior calibre, como aorta torácica e abdominal. O autor descreve ainda que isso se deve ao número e o tamanho dos ramos dentro do aneurisma, bem como o tamanho do vaso alvo em si. Polydorou et al.[8] relata o caso uma paciente, de 78 anos de idade, do sexo feminino, com aneurisma de artéria poplítea direita, com 5 mm de diâmetro. Após a colocação do Stent Multilayer com sucesso técnico de 100%, houve uma redução do fluxo turbulento dentro do aneurisma. Dois meses após, foi realizado uma angiografia, revelando um trombo organizado dentro do aneurisma ao mesmo tempo em que se observava a redução do fluxo turbulento. Sete meses após, outra angiografia mostrou exclusão completa do aneurisma e sem alteração na perfusão dos ramos colaterais. Polydorou et al.[9] relata o caso de uma paciente do sexo feminino, de 78 anos de idade, com aneurisma sacular de artéria renal direita de 30 mm de diâmetro. No pós-operatório, a angiografia mostrou redução da velocidade do do Stent Multilayer foram superiores ao tratamento convencional. Serão necessários, ainda, mais estudos para que se possa afirmar que o Stent Multilayer é a evolução definitiva para o tratamento endovascular dos aneurismas, porém, é bastante promissor para o futuro. Conflitos de interesses: Nenhum e não houve qualquer auxílio por parte do fabricante da endoprótese. 1. BALDERI, A.; ANTONIETTI, A.; PEDRAZZINI, F. et al. Treatment of a Hepatic Artery Aneurysm by Endovascular Exclusion Using the Multilayer Cardiatis Stent. Cardiovascular and interventional Radiology, v. 33, n. 6, p. 1282-1286, 2010. 2. CARRAFIELLO, G.; RIVOLTA, N.; ANNONI, M. et al. Endovascular Repair of a Celiac Trunk Aneurysm with a new Multilayer Stent. Disponível em < http:// www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21684712>. Acessado em 23 jul. 2012. 3. FERRERO, E.; FERRI, M.; VIAZZO, A.; et al. Endovascular Treatment of Hepatic Artery Aneurysm by Multilayer Stent: Two Cases and one- year follow-up. Interactive Cardiovascular and Thoracic Surgery, doi: 10,1510/icvts, 2011, 280842, 2011. 4. HENRY, M.; HUGEL, M.; BENJELLOUN, A. et al. A new Concept of Stent: the Multilayer Stent. First Human Study in arterial Aneurysms. Disponível em <http://content.onlinejacc. org/cgi/reprint/56/13_MeetingAbstracts/ B93. pdf>. Acessado em 20 Jun. 2012. 5. HENRY, M.; POLYDOROU, A.; FRID, N. et al. Treatment of Renal Artery Aneurysm With the Multilayer Stent. Journal of Endovascular Therapy, v. 15, n. 2, p. 231-236, 2008. 6. MEYER, C.; VERREL, F.; WEYER, G.; WILHELM, K. Endovascular Management of Complex Renal Artery Aneurysm using Multilayer Stent. Cardiovascular and Interventional Radiology, v. 34, n. 3, p. 637-641, 2011. Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 6. Referências 5. Conclusão Através desta revisão, podemos concluir que o novo Stent Multilayer surge como uma alternativa segura e eficaz no tratamento endovascular dos aneurismas. O sucesso técnico aliado ao clínico faz com que ocorra a exclusão dos aneurismas pela formação de um trombo organizado, enfatizando que aneurismas de vasos de maior calibre levam um tempo maior para serem excluídos em relação aos de pequeno calibre e ao mesmo tempo em que mantém a perfusão sanguínea para os ramos colaterais. Sem dúvida, os resultados obtidos na utilização 99 Cadernos UniFOA fluxo dentro do saco aneurismático e perfusão para os ramos colaterais. Três meses após, a angiografia mostrou completa exclusão do aneurisma bem como os ramos colaterais preservados. Paciente teve alta hospitalar no dia seguinte. Rabbia et al.[10] descreve uma série de estudos que foram realizadas em centros de estudos na Itália, o relato foi feito com 45 pacientes entre aneurismas periféricos e viscerais. A taxa de sucesso foi avaliada em 30 dias, 3 meses e 6 meses, respectivamente, com isso o sucesso obtido em 30 dias foi de 88,9% (40/45), em 3 meses foi de 93.3% (28/30) e em 6 meses chegou 100% (16/16). Ao final do estudo preliminar ficou firmada a eficácia da utilização do Stent Multilayer no tratamento endovascular dos aneurismas realizada neste estudo. Ruffino et al.[11] relatam uma série de 52 pacientes com aneurismas, sendo 36 periféricos e 16 viscerais, tratados em 32 centros clínicos da Itália. Dos 52 pacientes, 39 tinham ramos colaterais mal perfundidos. O sucesso técnico foi alcançado no intraoperatório em 48 pacientes (92.3%). O sucesso clínico foi obtido naqueles pacientes em que houve a formação de trombo organizado dentro do aneurisma, perfusão contínua para os ramos colaterais e a exclusão do aneurisma, a avaliação angiográfica foi programada para três fases, sendo após 30 dias, 3 meses e 6 meses, respectivamente, e obtiveram os seguintes resultados, em 30 dias: 91.6% (44/48), em 3 meses: 93.3% (24/26) e em 6 meses: 94.1% (16/17). Portanto, conclui-se que ao longo de 6 meses os resultados são ainda melhores se comparado ao tratamento convencional. 100 7. POLYDOROU, A.; HENRY, M.; BELLENIS, I. et al. Endovascular Treatment of Aneurysm With Side Branches - A Simple Method. Myth or Reality? Hospital Chronicles, v. 5, n. 2, p. 88-95, 2010. 8. POLYDOROU, A. Treatment of Popliteal Aneurysm with FluidSmart 3D Multilayer Stent System. Disponível em < http://www.cardiatis. com/images/stories/info/popliteal-aneurysmcase.pdf> Acessado em 20 Jan. 2012. 9. POLYDOROU, A. Treatment of Renal Artery Branched Saccular Aneurysm with Fluid Smart 3D Multilayer Stent. Disponível em < http://www.cardiatis. com/images/stories/info/renal-aneurysmcase.pdf> Acessado em 20 Jan. 2012. Cadernos UniFOA Edição Especial Ciências da Saúde e Biológicas - Maio/2013 10. RABBIA, C. Experience With The Use of the Multilayer Stent for the treatment of Peripheral and Visceral Aneurysms. Disponível em < http://www.veithpress.org/pdf/vei/3724.pdf> Acessado em 23 Nov. 2011. 11. RUFFINO, M.; MURATORE, P.; MANCINI, A. et al. Endovascular Peripheral and Visceral Aneurysm Repair With Cardiatis Multilayer Stent: Italian Multicenter Preliminary Experience. Disponível em < http://content.onlinejacc. org/cgi/reprint/56/13_MeetingAbstracts/ B93.pdf> Acessado em 20 Jan. 2012. 12. SABISTON JUNIOR, D. C.; TOWNSEND, C. M.; BEAUCHAMP, R. D.; EVERS, B. M.; MATTOX, K. L. Sabiston tratado de cirurgia: a base biológica da prática cirúrgica moderna, v. 2. 18. ed. Rio de Janeiro: Saunders Elsevier, 2010. 13. WAILLIEZ, C.; COUSSEMENT, G. CFD study of multilayer stent haemodynamics effects in abdominl aortic aneurysms. Disponível em < http://www.cardiatis. com/images/stories/info/fluid-19(105)_c. wailliez_g.coussement_fpms.pdf> Acessado em 03 Set. 2012. Endereço para Correspondência: Augusto Frederico Martins Lopes Oliveira [email protected] Rua 41, 360 - Vila Santa Cecília Volta Redonda - RJ. CEP: 27253-070