POLÍTICA 2 — TERÇA-FEIRA, 23 de maio de 2006 CORREIO DO POVO Plano para dívida causa divergência Judiciário rejeita compartilhamento dos débitos do Estado entre os poderes, proposto pelo Legislativo A proposta da Assembléia Legislativa de compartilhamento da dívida pública do Estado entre os poderes provocou ontem reações divergentes dos dirigentes das instituições. Enquanto representantes do Tribunal de Justiça (TJ) e do Ministério Público (MP) apontaram dificuldadades para reduzir gastos, o presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Sandro Pires, afirmou que o espírito de solidariedade deve prevalecer. “Se podemos apertar o cinto para não deixar o Estado tão sufocado, não há por que as instituições não colaborarem”, avaliou Pires. Lembrou que, em exercícios anteriores, os poderes concordaram com a redução dos índices de repasse previstos no orçamento do Estado. Disse, porém, que o contingenciamento não pode criar obstáculos para a realização do trabalho de cada poder. Salientou ainda que anualmente, na análise da prestação de contas do Executivo, o Tribunal dá parecer favorável, mas aponta medidas urgentes a serem adotadas para sanear as finanças. Ao enfatizar que o MP executa 100% do seu orçamento, o sub-procurador de Justiça Cláudio Barros Silva afirmou que o plano sugerido pela Assembléia não tem a mínima viabilidade. “Não há margem dentro do orçamento para abrirmos mão de receita. Esta não é a melhor solução”, disse. O vice-presidente do TJ, desembargador Vasco Della Giustina, declarou que o Tribunal pretende colaborar com o enfrentamento da crise financeira, Sugestões de combate à crise Executivo — Dar continuidade ao esforço de redução de despesas, buscar o estabelecimento de política nacional de compensação que permita a equalização das perdas tributárias, realizar ajuste drástico da situação fiscal e redefinir as relações do Rio Grande do Sul com a União. Judiciário — Cobrar da União suas responsabilidades e repasses sobre a desoneração das exportações, criar política penitenciária efetiva, priorizar e direcionar gastos nas áreas de educação, saúde e assistência social, buscar revisão dos limites comprometidos com o pagamento de pessoal e reduzir a inadimplência de precatórios. Ministério Público (MP) — Buscar o reconhecimento das autonomias estaduais, aprofundar o combate a crimes de ordem tributária em trabalho conjunto entre MP, Secretaria da Fazenda e Judiciário, ampliar a atuação do MP nas políticas públicas e aproximar o Estado dos canais sociais. Tribunal de Contas — Combater a sonegação, renegociar a dívida com a União, constituir fundo previdenciário, aumentar a eficácia na cobrança da dívida ativa, planejar ações integradas, implementar políticas públicas que aumentem os investimentos em áreas prioritárias, desburocratizar ações do Estado, estabelecer políticas de longo prazo em governos de partidos diferentes e exercer controle social sobre as ações governamentais. Heloísa afirma que PSol é alternativa A senadora Heloísa Helena afirmou ontem que o PSol enfrentará com garra a campanha, apesar de reconhecer que PT e PSDB têm estruturas muito poderosas. “Estão articulados com a máquina pública, mas não vamos deixar nos assolar pelo medo”, salientou. Ela acredita que há espaço para propostas concretas capazes de romper a polarização entre PT e PSDB. Heloísa também elogiou a disposição de Pedro Simon em entrar na disputa, dizendo ter por ele respeito e admiração. Cristovam Buarque considerou que o país não deve ficar aprisionado aos discursos de Lula e de Geraldo Alckmin. “São iguais”, disse. mas ponderou que a instituição alcançou o limite de restrições. “Estamos juntos na elaboração de propostas para viabilizar o Estado. Não vejo, porém, como poderíamos abdicar de recursos do orçamento”, afirmou. No seminário, ele atribuiu o déficit à má gestão dos gastos e à estrutura pesada do Executivo, entre outras distorções. O coordenador do Pacto pelo Rio Grande, deputado Cézar Busatto, explicou que, em caso de aprovação do compartilhamento da dívida pública entre os poderes, os percentuais serão pagos a partir do ano que vem. Se houver consenso, destacou Busatto, será firmado acordo estabelecendo o período de contribuição. “Ocorrendo o acerto, representará gesto de solidariedade de todos os responsáveis pela dívida”, ressaltou. Brum Torres: contas Hohlfeldt cobra os passaram por todos repasses da União Representante do Executivo no encontro entre os poderes, o secretário estadual da Coordenação e do Planejamento, João Carlos Brum Torres, expôs ontem as principais causas do histórico de desequilíbrio das finanças estaduais e enfatizou que o combate à crise não ocorrerá com isolamento. “Passaram pelo comando das contas públicas representantes de todos os partidos. O problema merece qualificação de desequilíbrio estrutural e não absolve nenhum governo se o critério for a análise dos resultados obtidos no final dos mandatos”, ressaltou. Acrescentou que a sociedade espera por serviços públicos qualificados. O vice-governador Antonio Hohlfeldt enfatizou ontem a necessidade de os cidadãos conhecerem em detalhes a situação das finanças do Estado para não cometerem escolhas equivocadas na próxima eleição. “É preciso se defender de falsos profetas que podem estar na pele de algum candidato”, afirmou Hohlfeldt durante o seminário entre os poderes, na Assembléia. Ele defendeu forte mobilização para cobrar do governo federal os repasses previstos na Lei Kandir e impedir que a União continue centralizando o recolhimento de tributos. “Sem isso, teremos resultado pequeno diante do ônus que nos é imposto”, disse. Cristovam admite apoiar o PMDB em aliança O pré-candidato do PDT à Presidência, senador Cris- sinalizou favoravelmente a entendimento. tovam Buarque, disse ontem, em Porto Alegre, que não Cristovam, Simon e a senadora Heloísa Helena, do criará obstáculos caso o seu partido resolva se aliar ao PSol, se encontraram ontem à tarde na Assembléia. Eles DIEGO VARA reagiram à polarização que se PMDB. Ele acredita que será difícil para os peemedebistas criou entre PT e PSDB e consolidarem a candidatura disseram que suas propostas de Pedro Simon à sucessão do têm condições de superá-la. presidente Lula, porém eloSimon propôs que o PMDB ligiou a sua disposição. “Se tidere operação mãos limpas, vesse sido lançado há mais como ocorreu na Itália, que tempo, Simon reuniria condidesvendou esquema de fraude ções de estimular entendinas campanhas eleitorais, lemento, como uma das persovando para a cadeia políticos, nalidades mais respeitadas empresários e integrantes da no Brasil. Acho difícil o PMDB Cristovam Buarque e Heloísa Helena em Porto Alegre máfia. “O PMDB precisa ter aceitar, porque muitos acordos foram fechados nos esta- candidato próprio para limpar o Brasil. O Executivo e o dos, mas, se a candidatura vingar, não serei empecilho”, Congresso estão no chão, não decidem nada. Em São disse. Cristovam considerou prematuro abrir mão de Paulo, há máfia organizada”, afirmou, ao reforçar sua sua candidatura sem consultar a direção do PDT, mas disposição: “Se ninguém quer concorrer, eu vou”. Alckmin critica viagens com dinheiro público O candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, criticou ontem à noite em Porto Alegre o presidente Lula “que viajou 64 mil quilômetros em précampanha à reeleição com recurso público. Ele deveria fazer menos campanha e trabalhar mais”. Alckmin destacou que, em encontro à tarde, em São Paulo, foi celebrada a aliança com o PFL e a formação da chapa que disputará a eleição de outubro. “Recebemos o pré-candidato a vice José Jorge. Ele é um homem preparado. Junto ao PFL vamos elaborar e cumprir um programa ambicioso para o Brasil”, disse. Salientou que está em negociações para ampliar ainda mais as alianças e aguarda a decisão do PMDB sobre a candidatura própria ao Palácio do Planalto. “A maioria dos tucanos foi do velho MDB. Tenho muito respeito. Se eles lançarem re- presentante, vamos disputar com civilidade. Caso contrário, queremos o PMDB conosco”, destacou. Segundo Alckmin, a agricultura será prioridade em seu programa de governo. Afirmou que o país somente crescerá com o fortalecimento do setor. O tucano avaliou ainda como totalmente equivocada a taxa de juros praticadas na gestão Lula. Garantiu que, caso seja eleito, aplicará medidas como maior qualidade no gasto de recursos públicos e a redução de impostos do setor produtivo e da taxa de juros. “Somos capazes para isso. Vamos fazer com que o Brasil volte a ser um país de oportunidades”, disse. Às 16h30min, Alckmin participa de reunião na Assembléia Legislativa com as bancadas do PSDB, PFL e PP. Também estarão presentes os presidentes dos partidos. À noite, retorna a São Paulo. Simon: ‘Decisão está na mão dos caciques’ O senador Pedro Simon admitiu ontem que garantir candidatura presidencial no PMDB tornou-se batalha difícil, porque a decisão não depende da base, mas de um pequeno grupo que, segundo ele, age à revelia do partido. “Lamentavelmente, a decisão está na mão dos caciques. Esta é a realidade do PMDB”, afirmou, referindo-se aos senadores Renan Calheiros e José Sarney. Simon aguarda a volta deles dos Estados Unidos para, em reunião, apelar que aceitem a candidatura própria. Resumo ORAÇÃO — O presidente Lula pediu ontem a uma platéia de mais de cem representantes de igrejas evangélicas que orem pela Bolívia. Lula defendeu a necessidade de negociar com os bolivianos o preço do gás, avisando que não pretende brigar com eles. EMBARAÇOS — O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares depõe hoje na CPI dos Bingos sem a proteção de habeas corpus. O relator Garibaldi Alves quer saber se ele pediu cerca de R$ 50 milhões ao banqueiro Daniel Dantas para que PT não criasse embaraços ao banco Opportunity, que controlava a Brasil Telecom. ENCONTRO — O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, declarou ontem que não há nada de errado no encontro que teve semana passada com o banqueiro Daniel Dantas. Afirmou ainda que o conteúdo da conversa pode ser obtido com os deputados José Eduardo Cardozo e Sigmaringa Seixas, que estavam na reunião. Dantas contestou a denúncia feita pela revista Veja de que está usando um dossiê para ameaçar integrantes do governo. ABSOLVIDO — A Comissão de Ética Pública absolveu ontem o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, no caso da quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa. A comissão considerou que ele não feriu a ética ao indicar o advogado Arnaldo Malheiros Filho para o ex-ministro Antonio Palocci. DESISTÊNCIA — O ex-presidente Itamar Franco confirmou ontem que desistiu de concorrer à Presidência da República pelo PMDB. Itamar disputará indicação do partido ao Senado. Disse que por enquanto não pode comentar a candidatura do senador Pedro Simon, seu aliado histórico, porque ela ainda não é realidade. DESLEALDADE — O governador paulista Cláudio Lembo recebeu ontem apoio integral da cúpula do PFL. Ele afirmou que sofreu momentos de deslealdade durante a crise de segurança que atinge o Estado, mas não citou nomes e isentou o seu partido. CRÍTICAS — O senador Antônio Carlos Magalhães, do PFL, criticou ontem o governador Cláudio Lembo por suas queixas públicas à falta de solidariedade do PSDB, que incluíram o candidato do partido à Presidência da República, Geraldo Alckmin. “Fico preocupado quando o presidente Lula elogia o governador do PFL e Lembo critica nossos companheiros do PSDB”, afirmou o senador. MUDANÇA — Pela segunda vez em menos de um ano, o PT mudará de sede em Brasília. A direção sairá do edifício Brasília Trade Center para ocupar sala de 600 metros quadrados no Palácio da Imprensa. O aluguel com o condomínio terá custo de R$ 10,1 mil mensais. O partido fará economia de R$ 1.850,00 por mês.