FATORES QUE INFLUENCIAM A CLASSE ENERGÉTICA
PROBLEMAS E SOLUÇÕES
Almeida, Pedro; Engenheiro Civil; Instituto Superior de Engenharia de Lisboa
Ordem dos Engenheiros Nº 59254; ADENE PQ Nº 1343 (SCE - RCCTE) – [email protected]
Resumo
O Sistema Nacional de Certificação Energética, regulado pela ADENE, permitiu aumentar a qualidade da construção nacional e a responsabilização de todos os intervenientes, na fase de projeto e
de obra, estabelecendo um patamar mínimo de conforto para todos os edifícios novos de habitação e serviços.
O Certificado de Desempenho Energético e do Ar Interior de cada fração depende da sua localização geográfica e das soluções adotadas a nível construtivo e de projeto.
O principal objetivo deste estudo é sensibilizar todos os intervenientes no processo, relativamente ás opções mais vantajosas, tendo em conta os investimentos e respetivos períodos de retorno. Para
tal, estudou-se o comportamento de uma fração autónoma considerando várias características que influenciam a sua classificação energética, obtendo-se variações significativas na classe energética
final.
Em paralelo, foram identificados alguns dos problemas que se colocam aos engenheiros e aos restantes intervenientes no processo projeto/obra.
Introdução
O RCCTE (Regulamento das Características de
Comportamento Térmico dos Edifícios) estabelece
requisitos mínimos na verificação da qualidade e conforto
térmico de edifícios, tendo como objetivo implementar a
aplicação de soluções construtivas, a par das soluções de
energias renováveis, que induzam um crescente interesse
pela conservação de energia.
É essencial conhecer as melhores soluções e
processos, com vista a cumprir o regulamento e melhorar
o comportamento energético dos nossos edifícios.
Objetivos
• Caracterizar e aprofundar os fatores que mais influenciam
o desempenho energético de edifícios de habitação
e, dessa forma, ter noção de quais os momentos da obra
com maior necessidade de controlo e fiscalização.
• Alcançar resultados que facilitem as opções que, tanto
projetistas como construtores, têm que tomar no início e no
decorrer de uma obra, prevendo eventuais problemas e
propondo possíveis soluções.
Metodologia
Análise da localização geográfica:
foram
efetuados
cálculos
considerando
a
construção
da
moradia do estudo base, mas agora
no centro de cada uma das restantes
capitais
de
distrito
do
país:
Lisboa, Setúbal, Évora, Beja, Faro, Fu
nchal,
Ponta
Delgada, Santarém, Portalegre, Coim
bra,
Castelo
Branco, Guarda, Aveiro, Viseu, Porto,
Braga, Viana do Castelo, Vila Real e
Bragança.
Análise da envolvente mediante as soluções construtivas adotadas:
1ª Opção: estudo base, mas sem isolamento na parede exterior;
2ª Opção: estudo base, mas com isolamento na cobertura interior com apenas 4cm;
3ª Opção: estudo base, mas com 5cm de isolamento na parede exterior;
4ª Opção: estudo base, mas com envidraçados sem corte térmico;
5ª Opção: estudo base, mas com 2cm de XPS (poliestireno extrudido) nos pilares e vigas.
Resultados
• Encontrar as melhores soluções, dentro de um vasto
leque de opções, e salientar os principais fatores que
poderão influenciar o desempenho energético de um
edifício de forma a contribuir para um contínuo processo de
entendimento entre todas as entidades participantes.
Análise considerando várias opções de aparelhos de climatização e de
produção de AQS, com determinadas características:
1ª Opção: estudo base;
2ª Opção: 1ª opção com ar condicionado para climatização;
3ª Opção: 1ª opção, mas com substituição do esquentador a gás por
termoacumulador elétrico;
4ª Opção: 1ª opção sem coletores solares térmicos;
5ª Opção: 1ª opção, mas com substituição do esquentador por outro com
rendimento de 50%;
6ª Opção: 1ª opção, mas com isolamento em toda a rede de AQS com pelo
menos 10mm de espessura.
Ntc/Nt
1,2
1
Metodologia – Estudo Base
0,8
Cálculo de uma moradia unifamiliar no concelho de Caldas
da Rainha:
a) Sem climatização;
b) Produção de AQS através de esquentador a gás
natural, rendimento 95%, sem isolamento na rede de
distribuição;
c) Parede exterior dupla (tijolo 11), caixa de ar com
5cm, preenchida parcialmente com 4cm de
poliestireno extrudido;
d) Pontes térmicas planas (pilares de talões de
vigas), 25cm de betão armado, 3 cm de poliestireno
extrudido;
e) Cobertura em terraço com laje aligeirada de vigotas
de
betão
pré-esforçado
e
abobadilhas
cerâmicas, isolamento em poliestireno extrudido com
4cm e betão leve de regularização com 4cm antes do
revestimento de piso;
f)
Cobertura interior sob desvão, em laje aligeirada de
vigotas de betão pré-esforçado e abobadilhas
cerâmicas, com isolamento de 12cm em poliestireno
extrudido;
g) Pavimento sobre o exterior, em laje aligeirada de
vigotas de betão pré-esforçado e abobadilhas
cerâmicas, isolamento em poliestireno extrudido com
4cm e camada de betão leve de regularização com
6cm sob o revestimento;
h) Vãos envidraçados de caixilharia de alumínio, com
corte térmico, de classe 3, vidro duplo incolor de
5+16+6 mm, com fator solar 0,75 e dispositivo de
proteção solar exterior em portada de alumínio de cor
escura.
0,6
0,4
0,2
0
1
3
5
7
9 11 13 15 17 19
1.Estudo Base
2.Lisboa
3.Setubal
4.Évora
5.Beja
6.Faro
7.Funchal
8.Ponta Delgada
9.Satarém
10,Portalegre
11.Coimbra
12.Castelo
Branco
13.Guarda
14. Aveiro
15.Viseu
16.Porto
17. Braga
18.Viana do
Castelo
19.Vila Real
20.Bragança
Gráfico 1 – Classe Energética Mediante Distrito
Ntc/Nt
Ntc/Nt
0,78
0,76
1.Estudo Base
2.Sem isolamento
na Parede Exterior
3.Com 4cm de XPS
na cobertura
Interior
4.Com 5cm de XPS
na Parede Exterior
5.Com
envidraçados sem
corte térmico
6.Pilares e vigas
com 2cm de XPS.
0,74
0,72
0,7
0,68
0,66
0,64
0,62
0,6
0,58
1
2
3
4
5
6
Gráfico 3 – Classe Energética Mediante Soluções Construtivas
1,2
1.Estudo Base
2.Com Ar Condicionado
3.Com Termoacumulador
Elétrico para AQS
4.Sem Coletores Solares
5.Com Esquentador com
n=50%
6.Com isolamento na rede
de AQS
1
0,8
0,6
0,4
0,2
Ntc/Nt < 0.25 - Classe A+
0.25 < Ntc/Nt < 0.50 - Classe A
0.50 < Ntc/Nt < 0.75 - Classe B
0.75 < Ntc/Nt < 1.00 - Classe B-
0
1
2
3
4
5
6
Gráfico 2 – Classe Energética Mediante Equipamentos
Conclusões
• Da análise do gráfico 1 pode-se concluir que na fase de projeto não é possível padronizar soluções tipo, mas sim efetuar
uma análise concreta e específica para cada projeto e para a zona geográfica onde este se insere.
• A análise do gráfico 2 permite concluir que, contrariamente ao que seria de esperar e contrariamente a um dos objetivos do
Referências
A Casa Eficiente, Imobiliário Energético (29/10/2008). Climatização - Suplemento Especial da Revista
Semanal FOCUS. Nº 472, Pag. 12.
2 - Camelo, S., Santos, C. P., Ramalho, A., Horta, C., Gonçalves, H., Maldonado, E. (2005). Regulamento das
Características do Comportamento Térmico dos Edifícios - Manual de Apoio à Aplicação do RCCTE. Lisboa:
INETI.
3 - Carvalho, G. (Outubro/2007). Opinião: Soluções Construtivas Sobre a Envolvente Exterior de Edifícios –
O XPS - Destaque 2 – Isolamento em Edifícios. Revista Mensal Engenharia e Vida. Ano IV, Nº 39, Pag. 50.
4 - Ferreira, A. J. (Outubro/2007). Cálculo das Necessidades de Aquecimento e de Arrefecimento, de
Acordo com o Decreto-Lei Nº80/2006 – Destaque 2 – Isolamento em Edifícios. Revista Mensal Engenharia
e Vida. Ano IV, Nº 39, Pag. 46.
5 - Gonçalves, H, Graça, J. M. (Novembro/2004). Conceitos Bioclimáticos para os Edifícios em Portugal.
Lisboa: DGGE/IP-3E.
6 - Informações Gerais. Retrieved Outubro 5, from www.adene.pt.
7 - Mascarenhas, J. (2007). Sistemas de Construção, IX – Contributos para Cumprimento do
RCCTE, Detalhes Construtivos sem Pontes Térmicas Materiais Básicos (6ª parte): o Betão (1ª Ed.). Lisboa:
Livros Horizonte.
8 - Os Passos a Dar, Certificação Energética (29/10/2008). Climatização - Suplemento Especial da Revista
Semanal FOCUS. Nº 472, Pag. 20.
9 - Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios (RCCTE). Diário da República
- I Série – A, Nº 67 (4 de Abril de 2006), Decreto-Lei nº 80/2006.
10 - Rodrigues, V. (Junho 2008). Certificação Energética de Edifícios. Revista Técnica de Engenharia da
Associação Nacional dos Engenheiros Técnicos. Nº5, Pag. 16.
11 - Santos, C. A. P., Matias L. (2007). Coeficientes de Transmissão Térmica de Elementos da Envolvente
dos Edifícios, Versão Actualizada 2006 (11ª Ed.). Lisboa: Laboratório Nacional de Engenharia Civil.
Patrocínios:
regulamento, a utilização de aparelhos de ar-condicionado (elétricos) contribui bastante para a melhoria da classe
energética. Os coletores solares térmicos beneficiam significativamente o desempenho da moradia do estudo base. O
ideal seria aplicar os dois equipamentos em simultâneo: um para climatização e o outro para produção de AQS.
• Problemas durante o processo “pós-projeto”: é determinante sensibilizar todos os intervenientes na obra para possíveis
alterações que têm obrigatoriamente que ser alvo de aprovação pelo projetista e pelo perito qualificado, que emitiu a declaração de
conformidade regulamentar. Caso contrário, incorre-se no risco de no final da obra existirem não conformidades que podem
impedir a emissão do certificado energético final.
• Da análise do gráfico 3 pode identificar-se os principais pontos que são desrespeitados e que podem tornar-se em não
conformidades graves.
• Uma forma de minimizar a incidência destes problemas seria tornar requisito legal obrigatório a presença do perito
qualificado em determinadas fases da obra, acompanhando o diretor técnico no processo.
• Melhor compreensão por parte dos intervenientes na indústria
e, consequentemente, grandes exigências do RCCTE e seu cumprimento.
da
construção
sobre
os
grandes
objetivos
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