Exemplo de um ecossistema: O mercado das porcelanas chinesas de exportação em Portugal Um ecossistema de ecossistemas onde todos os intervenientes têm interesse em manter reputações e preços MUSEUS, BIENAIS, PRÉMIOS RETALHISTAS NÍVEL A-D LEILOEIRAS E FEIRAS CÂNONES E CONVENÇÕES OBRAS DE ARTE INSTITUCIONAL IZADORES E CERTIFICAÇÃO COLECCIONADORES E COMPRADORES , mecenato ARTISTAS LEGISLAÇÃO E CRIME PROCURA E OFERTA COLECIONADORES • Colecionadores de topo • Colecionadores regulares • Colecionadores pontuais Ainda que, no presente, existam poucos colecionadores portugueses de dimensão internacional no mundo das porcelanas chinesas de exportação, ao contrário do período de c.1950-1974, época em que competiam juntamente com colecionadores japoneses pelas peças mais relevantes apresentadas no mercado, subsistem ainda alguns colecionadores com relevantes coleções das dinastias Ming e Qing. PROCURA E OFERTA • • • • • Práticas culturais de colecionismo de porcelana chinesa remontam ao reinado de D. Manuel. Este tipo de peças encontra-se bem representado nos principais museus nacionais, bem como nos museus relacionados com a cultura asiática e em museus dedicados às artes decorativas. O Museu Nacional de Arte Antiga (Lisboa) e o Museu Soares dos Reis (Porto) exibem algumas peças deste tipo, sobretudo as que possuem ligações à presença portuguesa na Ásia, do mesmo modo que o Museu do Oriente (Lisboa) e o Museu do Centro Científico e Cultural de Macau (Lisboa) incluem diversas porcelanas chinesas nas suas coleções. Além dos dados documentais e arqueológicos conhecidos referentes a esse período, casos como o do teto de uma das salas do Palácio de Santos (Lisboa) elucidam-nos sobre a difusão do culto da porcelana chinesa na sociedade portuguesa desde o período moderno. O exemplo do Palácio de Santos dá o mote para as coleções mais recentes (séculos XIX e XX) reunidas na Casa Museu Guerra Junqueiro (Porto) e na Casa Museu Medeiros e Almeida (Lisboa). PROCURA E OFERTA CONSUMO e COLEÇÕES em PORTUGAL desde 1500 Londres, 1967, 5.000£ Em 2014 = 60.750£ (5000x12,15), tendo por base um cálculo relativo ao poder de compra de 1£ nessa altura e hoje em dia. PROCURA E OFERTA COMERCIANTES • Especializados e internacionais – Jorge Welsh (Londres e Lisboa) – Luís Alegria (Feiras internacionais/nacionais) – Alberto Varela Santos (SANTOS, Londres; Companhia das Índias, Portugal) Serviço de jantar. Qianlong. LUÍS ALEGRIA Grande Prato em Porcelana da China Porcelana, China c. 1720, Kangxi. Dim.: 47 cm Prato em porcelana da China verde-imari com armas da “Provincia” de Artois. Kangxi COMPANHIA DAS ÍNDIAS / SANTOS (ALBERTO VARELA SANTOS) Par de pratos Porcelana. China. c. 1750. Qianlong, dinastia Qing. Dim.: Ø 23 cm. D. Quixote e Sancho Pança. PROCURA E OFERTA COMERCIANTES • Especializados e nacionais – Porcelana da China (Estoril) • Outros nacionais – São Roque Antiguidades (Ming e Qing) – Manuel Castilho Antiguidades (Tang, Song, Yuan, Ming) – AR-PAB (Álvaro Roquette e Pedro Aguiar Branco) Prato de Grandes Dimensões com Dragão Imperial Porcelana pintada a azul cobalto e vidrada. China. Dinastia Ming, reinado Jiajing (1522-1566). Dim.: Ø 49,5 cm CAVALO. Terracota. China, Dinastia Tang (618-907). 55x56 cm. VALIDAÇÃO E PERITAGEM ESPECIALISTAS E PERITOS • Maria Antónia Pinto de Matos • Artur Ângelo PROCURA E OFERTA LEILÕES • Presença constante de peças de porcelana de exportação, sobretudo de valor baixo e médiobaixo. • Presença pontual de lotes de valores mais elevados (>5.000€ = 5,4% do total de lotes vendidos) Total de lotes leiloados - artes decorativas - tipologias (2005-2011) 12000 10000 8000 6000 4000 2000 0 Porcelanas chinesas 0,45% 0,43% 0,18% 0,04% 13,71% 0,88% 4,65% 0,37% Ming (1368-1643) Kangxi (1662-1722) 14,28% Yongzheng (1723-1735) Qianlong (1736-1795) Jiaqing (1796-1820) Daoguang (1821-1850) 65,01% Xianfeng (1851-1861) Tongzhi (1862-1874) Guangxu (1875-1908) Indefinido/outros Média - Artes decorativas por tipologias (lotes vendidos 2005-2011) 2.500,00 € 2.330,60 € 2.314,66 € 2.000,00 € 1.451,58 € 1.500,00 € 1.401,64 € 1.232,79 € 1.000,00 € 1.010,48 € 978,84 € 852,21 € 811,61 € 717,89 € 696,64 € 500,00 € - € 1.215,72 € 579,14 € 510,95 € 372,81 € 311,98 € 403,50 € 372,37 € Mediana - Artes decorativas por tipologias (lotes vendidos 2005-2011) 900,00 € 800,00 € 800,00 € 750,00 € 700,00 € 650,00 € 600,00 € 600,00 € 500,00 € 400,00 € 400,00 € 400,00 € 100,00 € - € 400,00 € 350,00 € 320,00 € 300,00 € 300,00 € 200,00 € 380,00 € 180,00 € 200,00 € 180,00 € 200,00 € 300,00 € 220,00 € 160,00 € Cafeteira gomada. Decoração Imari. CML, Dezembro de 2007. Leilão 93, lote 20. Qianlong, séc. XVIII. Dim. 23cm alt. Estimativa: €350-525. Vendido por: €350 Par de pratos recortados. CML, Dezembro de 2007. Leilão 93, lote 25. Qianlong, séc. XVIII. Dim. 23 cm diam. Estimativa: €350-525. Vendido por: €350 Mediana (valor que divide ao meio o total deste tipo de lotes): € 350. Pote. CML, Novembro de 2011. Leilão 133, lote 690. Estimativa: 200-300€. Martelo: 200€. Qianlong. Prato de doce. PCV, Julho de 2011. Leilão 207, lote 91. Estimativa: 200-300€. Martelo: 200€. Qianlong. Par de pratos de doce. CML, Dezembro de 2011. Leilão 134, lote 388. Estimativa: 200-300€. Martelo: 200€. Qianlong. Valor mais frequente: 200€ Prato raso. PCV, Abril de 2010. Leilão 236, lote 141. Estimativa: 200-300€. Martelo: 200€. Qianlong. Travessa. PCV, Outubro de 2010. Leilão 245, lote 223. Estimativa: 200-400€. Martelo: 200€. Qianlong. Valor mais frequente: 200€ Taça. CML, Janeiro de 2005. Leilão 69, lote 562. Estimativa: 200-300€. Martelo: 200€. Ming (séc. XVII). PORCELANA Par de potes. PCV, leilão 223, lote 220, 8 de Outubro de 2009. Qianlong. Estimativas: 100.000 / 150.000. Martelo: 110.000€. 135cm PORCELANA Par de potes. PCV, leilão 259, lote 174, 29 de Março de 2011. Estimativas: 100.000 / 150.000. Martelo : 100.000€. 139,5x19cm. C.1760. Bases em talha. PORCELANA Galo. PCV, leilão 180, lote 130, 19 de Junho de 2007. Estimativas: 10.000/15.000. Martelo: 100.000€. 20,5cm. Colecção Fernando Mendes de Almeida PORCELANA Parte de serviço de jantar. PCV, leilão 180, lote 180, 19 de Junho de 2007. Estimativas: 70.000/100.000. Martelo: 70.000€. 79 peças. Serviço do 1º Marquês de Castelo Melhor. PORCELANA PCV, leilão 207, lote 223, 19 de Setembro de 2011. Estimativas: 20.000/30.000. Martelo: 52.000€. 61 cm. Transição Yongzheng para Qianlong. PORCELANA Garrafa. PCV, leilão 185, lote 208, 20 de Maio de 2008. Estimativas: 3.000/5.000. Martelo : 40.000€. Kangxi. 32cm alt. Colecção Arq.º José Sommer Ribeiro. Veritas, 9-10 Outubro 2013 Lote 268- Garrafa de peregrino em porcelana da China, com insígnias da Ordem de S. Francisco. Reinado Kangxi (1677-1722) Alt.: 32 cm Base de licitação: € 20.000 - Retirado Nota: Peça vendida em Maio 2008 por € 40.000 no PCV Veritas, 9-10 Outubro 2013 Lote 269- Raríssimo prato covo em porcelana da China de encomenda portuguesa, ca. 1530/50 Dim.: 7,5x30,5cm Base de licitação: sob consulta. Vendido € 120.000 Covilhete (c.1515-25) Veritas, 9-10 Outubro 2013 Lote 269- Raríssimo prato covo em porcelana da China de encomenda portuguesa, ca. 1530/50 Dim.: 7,5x30,5cm Base de licitação: sob consulta. Vendido € 120.000 Covilhete (c.1515-25) Garrafa Jorge Álvares, Ming, reinado Jiajing (1522– 66), 1552. 24,8cm alt. Fundação Jorge Álvares (em depósito no CCCM). Sotheby’s, Londres, 12/07/2006 (50.000-70.000 £. Martelo: 254.400£) Esta garrafa apresenta o qiling. Fundação Jorge Álvares (depósito no CCCM). “ISTO MANDOU FAZER IORGE ÁLV[A]R[E]Z N // A ERA DE 1552 REINA”. Constrangimentos • Estamos perante um ecossistema robusto, em termos de oferta, de procura e de peritagem, com elevada valorização comercial e cultural das obras de arte em questão. • Porém, existem alguns pontos preocupantes em relação à robustez deste ecossistema: – uma claríssima diminuição dos colecionadores deste tipo de peças; – um envelhecimento significativo dos colecionadores; – saída das melhores peças para o estrangeiro, sobretudo para colecionadores asiáticos e da América Latina; – as porcelanas chinesas têm um limitado reconhecimento académico e científico em Portugal (estudo artístico, histórico, investigação de arquivo, análise estética, estudo laboratorial, conservação e restauro); – o sistema universitário português não oferece formação e investigação que faça justiça à importância que este ecossistema alcançou entre nós (eco da desconsideração das artes decorativas na academia, menorizadas em relação às chamadas “belas artes”).