GAL COSTA APRESENTA O SHOW RECANTO EM SALVADOR
Concebido e dirigido por Caetano Veloso, o espetáculo apresenta músicas do CD
Recanto e resgata sucessos da carreira da cantora.
A Maurício Pessoa Produções realiza o novo show da cantora Gal
Costa, intitulado Recanto, no dia 13 de abril (sábado), às 19h, na
Concha
Acústica
do
Teatro
Castro
Alves,
em
Salvador.
A
apresentação é baseada no disco homônimo e traz canções de
Caetano Veloso, que também assina a produção musical, ao lado do
seu filho Moreno Veloso.
No repertório da cantora, além das canções novas “Madre Deus” e
“Mansidão”,
destaque
para
alguns
clássicos
como
“Da
Maior
Importância”, “Divino Maravilhoso”, “Folhetim”, “Barato Total”, “Dom
de Iludir”, “Baby”, “Vapor Barato”, “Força estranha” e “Meu bem, Meu
Mal”. No palco, Gal Gosta é acompanhada por Domenico Lancellotti
(bateria e MPC), Pedro Baby (guitarra e violão) e Bruno Di Lullo
(baixo).
Gal Costa – Recanto, por Caetano Veloso.
Quando voltei do exílio londrino, me apresentava usando batom vermelho. Meu
cabelo descia até os ombros e era repartido no meio. Um retrato vivo de Gal,
pensado como uma homenagem a ela ter encarnado os tropicalistas expatriados
durante aqueles anos.
Rimbaud: “J´est un autre” – “eu é um outro”.
Anônimo favelado carioca: “é nós”.
O disco é meu trabalho composicional de agora. Quis fazê-lo com o som da voz
dela. Não se tratava de meramente relembrar o passado de Gal, mas de produzir
com ela uma peça que fosse forte como expressão atual e, assim, estivesse à altura
do nosso histórico. Sonhei com isso por um bom tempo. É que tudo o que conto em
“Verdade Tropical” (do reitor Edgard Santos à axé music, passando pela Banda
Tropicalista de Rogério Duprat) ficaria sem substância se a voz de Gal não soasse
agora em contexto contundente. Finalmente comecei a compor e a imaginar
arranjos e sonoridades.
Chamei Moreno, que é afilhado dela e um mago no comando de um estúdio, e ele
logo me disse que Kassin era o indicado para tratar os temas que eu ia lhe
mostrando. Por isso Kassin tem o maior número de faixas sob sua responsabilidade
de programador/arranjador. Mas há toda uma turma de músicos do Rio que fiz
questão de convidar para combinar seus sons com a voz de Gal. Desde sempre
pensei que o Rabotnik teria que estar numa faixa. E Bartolo, um dos componentes
do Duplexx (o outro é Leo Ribeiro), tinha sido, junto com Kassin, um dos primeiros
nomes em que Moreno e eu pensamos. Meu outro filho, Zeca, que gosta de música
eletrônica e já tem até se apresentado como DJ, estava fazendo, em casa, um
remix para uma música francesa. Ao ouvir uma base que ele inventara para
substituir a original, percebi que algo como aquilo deveria estar no disco. Zeca riu e
disse que poderia partir do que eu ouvira e tentar fazer algo realmente
aproveitável. Cobrei depois e ele me veio com a base do que se tornou “Neguinho”.
Tanto eu quanto Kassin achávamos satisfatório o que ele tinha feito no Live (um
programa de música eletrônica), mas ele queria um som mais rico e pediu a Kassin
e a Pedro Sá para adicionarem baixo e guitarra.
Comecei por mostrar a Kassin “Tudo dói”, no violão. E logo “Recanto escuro” e
“Cara do mundo”. Kassin, que é uma personalidade fascinante pois parece
refratário
a
sustos
mas
na
verdade
é
demasiado
sensível,
ficou
surpreendentemente (para mim, que me assusto à toa) animado com os temas. E
desde o começo eu vi que não haveria ruído no diálogo. Tudo fluiu muito rápido (o
tempo que tomamos foi para fazer tudo com naturalidade, interrompendo para
cumprir nossas agendas apertadas e voltando a pôr a mão na massa quando
estivéssemos relaxados). Kassin é assim. Parece não se surpreender mas
surpreende muito com seu jeito sonso. Tivemos conversas em que demonstrei meu
fascínio pelos dribles rítmicos do hip hop. Em “Recanto escuro” ele criou “ilusões
auditivas” que têm o mesmo efeito que as levadas equívocas do rap mais inventivo.
E ainda citou uma repetição do baixo do meu violão a que eu tinha sido obrigado
pela necessidade de passar a página com a letra ao gravar no GarageBand. Depois,
encontrando Luís Felipe de Lima no estúdio, extraiu dele essas intervenções de
violão de sete cordas que, ao mesmo tempo, rasgam nosso coração e o consolam.
Depois pediu a Donatinho e a Pedro Sá que somassem comentários. Moreno e eu
editamos o material. A voz de Gal que ficou na versão definitiva dessa faixa é a
voz-guia que ela gravou, de cara, apenas para Kassin poder continuar trabalhando.
As gravações provisórias da voz dela foram todas feitas por Moreno em Salvador.
Essa de “Recanto escuro” nunca foi refeita. As outras, gravamos depois no estúdio
Ilha dos Sapos, no Candeal. Estivemos sempre ali só Moreno, Gal e eu. Nem
mesmo um assistente de estúdio para pegar um cabo ou desligar o ar
condicionado. Fui para a Bahia e lá dei de cara com esse método de Moreno.
Parecia, dentro do Ilha dos Sapos, que nós 3 não tínhamos compromisso com o
mundo lá fora. Não sentíamos nem mesmo a responsabilidade profissional como
uma coisa real. Foi muito estranho. Muito bom, sem parecer que era bom.
Compus “O menino” em minha casa da Bahia, na presença de meus dois filhos
menores. Tom e Zeca riam dos primeiros esboços cantados ao violão, sem letra,
pois achavam que parecia tema do videogame Zelda. Na verdade, eu estava
pensando no Rabotnik. As palavras da letra surgiram quando pensei no filho de Gal,
Gabriel, e em como ele traz alegria a ela. Mas logo a imagem do surgimento de
uma criança me trouxe Hanna Arendt dizendo que o maior acontecimento da
história da humanidade foi o nascimento de Cristo, Jorge Mautner dizendo “uma
criança nasceu entre nós” e “Jesus de Nazaré inaugurou a ideia de direitos
humanos”, e, finalmente, a fé cristã dos meus filhos que estavam sentados ali
comigo. Não tenho fé religiosa, mas tenho sido levado a pensar muito nesse tema
do cristianismo como núcleo da modernidade.
As letras desse disco são ao mesmo tempo muito diretas e um tanto enigmáticas.
Não pude evitar. Atribuo ao fato de eu ter pensado nos sons eletrônicos envolvendo
a voz de Gal. “Recanto escuro”, que é uma biografia cifrada da própria Gal (mas
tem elementos de minha própria biografia), foi composta primeiro sem palavras. Eu
queria
que
estas
confirmassem
o
clima
que
poderíamos
obter
com
as
programações. Mesmo “Sexo e dinheiro”, que tem parentesco com as canções de
reflexão de Gil, parece ir desfazendo o raciocínio inicial – mas sempre esbarra em
frases cruas, diretas. Todas as letras me surpreenderam à medida que foram se
construindo. O crítico Tarik de Souza tinha me perguntado se eu não pensava em
fazer algo com música eletrônica. Respondi que não, ressalvando que seria lógico
que eu quisesse pois é como pintar Ao imaginar um disco para Gal me vi
começando a fazer o que Tárik profetizou em forma de pergunta.
“Miami Maculelê” é uma observação sobre o funk carioca ter começado pelo Miami
bass e chegado ao maculelê de Santo Amaro via umbanda. Kassin, Moreno e eu
pensamos em unir diretamente o maculelê às produções do DJ Marlboro. De fato,
Moreno gravou com o grupo autêntico de Santo Amaro. Mas Marlboro, embora
tenha dito que faria as programações, nos deixou na mão (talvez sentindo que isso
podia ser uma usurpação, por parte de uma turminha da MPB, da vitalidade do funk
do Rio – no que ele não estaria de todo errado). Kassin terminou fazendo toda a
programação e, comigo e Moreno, editando-a sobre a base santamarense. (Edu
Krieger me falou, faz algum tempo, de um projeto seu de fazer trabalhos
harmonicamente complexos sobre ritmo de funk carioca. Eu lhe disse que tinha um
lance semelhante para o disco de Gal, embora não se tratasse de harmonias
complexas. Ele me mostrou algo do que estava fazendo. Espero que ele torne
público seu experimento pelo menos ao mesmo tempo em que exponho o nosso.
São coisas diferentes, mas devo registrar a relativa coincidência de intenções).
Gosto imensamente da letra (os bandidos santos e a lembrança de Paulinho da
Viola dando a volta por cima).
Escrevi “Autotune autoerótico” pensando em usar a ferramenta do título sobre a
voz de Gal. Cheguei a fazer isso com Igor. Mas é tão natural todo o trabalho vocal
do disco que essa estranha balada soava falsa com a voz de Gal assim trabalhada.
Só usamos o efeito nas partes improvisadas sem letra. E deixamos o papel de
afinador duro do Auto-tune exclusivamente para “Miami maculelê”, onde o
ambiente do funk acolhe bem a voz entoada artificialmente. No mais, deixamos Gal
soar como ela soa. E aqui particularmente sóbria. Basta-lhe o timbre e o
relaxamento. Sem intenções interpretativas óbvias e sem demonstrações de
capacidade musical. Quanto mais simples, mais simplesmente Gal, maior a
integração com os sons às vezes ásperos, às vezes etéreos da eletrônica. A faixa
que ia dar nome ao CD, “Segunda”, não tem sons eletrônicos: só um bordão de
violão, um cello dobrado e um prato – todos tocados por Moreno. E não soa
incoerente com o resto.
As únicas canções não inéditas são “Madre Deus” e “Mansidão”. A primeira foi feita
para o bale “Onqotô”, do grupo Corpo, onde ela aparece gravada por Ze Miguel
Wisnik. A segunda foi escrita para Jane Duboc, que a gravou já faz anos.
Foi tudo um sonho meu. Mas ouvir o que a turma que reuni aprontou para Gal,
sobretudo tendo dois dos meus filhos envolvidos, me faz sentir que me aproximei
mais do que entendi sobre nosso grupo núcleo, Gil, Bethânia, Gal e eu, desde que
começamos à beira da Bahia de Todos os Santos.
Ficha Técnica:
Direção: Caetano Veloso.
Assistente de direção musical e sonora: Moreno Veloso.
Músicos: Domenico Lancellotti - Bateria acústica e MPC. Pedro Baby guitarra e violão. Bruno Di Lullo - Baixo e violão.
Som: Vavá Furquim e Beto Santana.
Luz: Zé Carlos.
Roadie: Alexandres Soares.
Produção: Ricardo Frugoli.
Produtor e diretor Técnico: Guilherme Ruiz Calicchio.
Serviço:
Show Gal Costa – Recanto
Data e hora: 13 de abril, sábado, às 19h.
Local: Concha Acústica do Teatro Castro Alves – Praça Dois de Julho,
Campo Grande.
Ingresso: R$70 (inteira) e R$35 (meia)
Vendas: SAC’s dos shoppings Barra e Iguatemi, e, Bilheteria do TCA.
Informações: 71 3535.0600.
Informações para imprensa:
COMO COMUNICAÇÃO INTEGRADA
(71) 3013.1141 / 3015.9335
Jamil Moreira Castro – (71) 8221.3480
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José Mion – (71) 9991.2085
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