Medicina Azteca
Resenha histórica: As crónicas dos conquistadores espanhóis descrevem detalhadamente a alimentação das elites como, por exemplo, as
comidas de Moctezuma, e ajudam-nos a compreender como viviam, de que males padeciam e como os minoravam as populações indígenas, no caso os
Aztecas. As refeições continham carne de galinha, faisões, perdizes, codornizes, patos, veado, porco da terra, passaritos e pombas, lebres e coelhos,
havendo referências ao consumo de carne humana.
Os habitantes de Tenochtitlan, a área ocupada nos nossos dias pelo Centro Histórico da capital mexicana, Ciudad de México, possuíam bom
surtido de excedentes de proteínas vegetais, milho (Zea mays) e feijões (frijoles); no entanto, não é possível saber em que consistia a alimentação do
grosso da população, se bem que seja questão pacífica entre os especialistas a manifesta carência de animais produtores de leite, donde o costume
consagrado de amassar a massa de milho a cozinhar com cal – mixtamal – para prover o tão necessário cálcio.
Foto de maqueta de Tenochtitlan – cidade dos Aztecas ou Mexicas (2004) Etno-medicina: As febres (calenturas), a tuberculose pulmonar, diarreias,
parasitoses intestinais, hemorróides, reumatismo, tosses e catarros, para além de
problemas de pele (sarna, furúnculos) e doenças de olhos (glaucoma, conjuntivite
e cataratas) parecem ter sido os padecimentos mais frequentemente relatados ou
relevantes, de acordo com a documentação histórica consultada. O chicalote e o
milho eram plantas medicinais muito populares.
Não há registo de surtos epidémicos devastadores até ao século XVI, quando a
varicela, o sarampo, a lepra e tifo produziram grande mortalidade entre os
indígenas, tal como a sífilis entre os europeus.
O ser humano era percebido como um microcosmos que continha todos os
sectores do universo. Sobre ele actuavam pequenos espíritos dos ventos ou das
águas que podiam causar mal-estares vários. O deus da Chuva e senhor das
águas, que tem várias designações, sendo a mais conhecida ‘Tlaloc’, era o que
maior número de enfermidades provocava. Os residentes do México Central que
trabalhavam nas chinampas (cultivos sobre as águas) estavam sujeitos a
resfriados e diarreias, devido ao contacto com águas contaminadas por
excrementos humanos.
Foto de espécimes de chicalote e milho
do Museu da Medicina.
Ciudad de México (2004)
Foto de chinampa de Xochimilco, a leste da Ciudad de México.(2004) Cultura Azteca: Tenochtitlan tinha apenas três séculos quando foi subjugada por Hernán Cortés.
Bernal Díaz del Castillo, na sua “Historia Verdadera de la Conquista de Nueva España”, reeditada em 1982,
compara esta cidade a Roma, Paris e Constantinopla, avaliando a sua população no séc. XVI em cerca de
meio milhão de habitantes. Textos coevos de Fray Juan de Torquemada dão-nos conta de que a calvície era
extremamente rara entre os Aztecas, embora os homens tivessem barba e bigode ralos; viam bem, sobretudo
ao longe, tinham ouvido e gosto apurados, eram dotados de grande sensibilidade táctil mas “de parca
resistência a golpes e maus tratos”.
O México Central foi grandemente apreciado pelos conquistadores espanhóis pela enorme diversidade e
quantidade de produção agrícola, estando Tenochtitlan bem abastecida de víveres.
A possibilidade de que o sol e o mundo por ele iluminado pudessem ser destruídos atormentava as populações
indígenas do México Central. Alguns autores (Treviño 2000) atribuem a antropofagia à necessidade de manter
vivas as forças da natureza e de alimentar o ciclo reprodutivo das coisas vivas. O tempo astral, do sol e do
mundo, era cíclico, quatro ciclos ou quatro sóis, correspondendo aos quatro pontos cardeais, com um quinto
sol ao centro, cuja queda anunciaria o fim de muitos ciclos de vida humana, obviamente muito mais curtos,
mas também o início de novos tempos.
Cada morte era, portanto, apenas o fim dum ciclo e início de outro, no caso do ser humano era o início de uma
nova vida, num eterno recomeço.
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