Redação e dinâmica da
produção científica:
dicas para publicar em revistas
internacionais
Sidinei M. Thomaz
(baseado – ca. 10% dos slides –
no curso oferecido pelo Dr.
Koen Martens - Royal Belgian
Institute of Natural Sciences,
Brussels, Belgium – aos alunos
do PEA/UEM no ano de 2008)
Volpato (2010)
O escriba
O que vamos abordar?
1) Porque os cientistas escrevem?
2) Antes de iniciar um artigo – o que fazer?
3) A importância de hipóteses e predições.
4) Organização de um artigo de pesquisa primária:
título, abstract, introdução, métodos, resultados,
discussão, agradecimentos e referências.
5) O processo de publicação: da submissão ao
aceite final.
O que vamos abordar?
6) Qual revista escolher? Fatores de Impacto de
revistas e autores.
7) Trabalhos de interesse restrito versus interesse
amplo.
8) Trabalhos descritivos e experimentais: como
torná-los mais atrativos.
9) Ética na ciência (incluindo co-autorias).
O que não vamos abordar?
Outras atividades importantes na vida acadêmica:
1) Qualquer forma de extensão acadêmica (serviços
à comunidade);
2) Atuação direta em práticas de conservação (p.
ex., assessorias à órgãos de meio ambiente);
3) Atuação junto ao terceiro setor visando à
conservação;
4) Atividades de divulgação científica e educação
ambiental.
Como será a avaliação?
- Escolha de um artigo publicado (em inglês) em
qualquer revista indexada na WoS;
- Criticar o artigo, com base no que vamos abordar
no curso;
- Apresentar na forma de um seminário (15 minutos
+ 5 para discussão);
- Use 2-3 minutos no início para abordar o conteúdo
do artigo;
- Grupos de 3 pessoas.
O curso abordará princípios gerais;
Revistas importantes (em especial)
dão mais liberdade para a escrita
(embora a maioria dos
componentes importantes do texto
científico devam aparecer na
publicação)
A Ciência envolve várias atividades:
Administração
Ensino
Orientação
Execução de processos industriais
Divulgação científica
Pesquisa (publicação)
Breve histórico sobre publicações no
Brasil
- a valorização de publicações em revistas com maior
impacto é recente (2 décadas);
- acompanhou a internacionalização da ciência
brasileira (ca. 15 anos);
- alguns pesquisadores discordam desse processo;
- o curso pretende oferecer dicas importantes que
nós tivemos que aprender sozinhos.
Cientista:
Usa a investigação para entender fenômenos
gerais, universais
Pesquisador:
Contenta-se em relatar dados e compará-los
com a literatura (“Discussão Fofoca”)
Volpato (2010 – Dicas para Redação Científica)
Porque somos rejeitados (enquete
(editores internacionais):
- Estilo inapropriado;
- Excesso de referências;
- Objetivos pouco definidos;
- Discussão que não extrapola os resultados
ou extrapolações excessivas;
- Excesso de resultados sem contexto
teórico;
- Objetivo restrito.
Volpato (2010 – Dicas para Redação Científica)
A ciência brasileira está crescendo...
Porém, nem tudo
são flores!
http://media.folha.uol.com.br/saber/2010/09/15/ranking_universidades-2.swf
Subject Category: Total (# de documentos em 2011)
Subject Category: Total (# de citações em 2011)
Esse debate
já chegou à
grande mídia
“O vice-campeão é apenas
o primeiro perdedor ”.
Nelson Piquet
(filósofo e corredor
de F1 nas horas
vagas)
Seria um curso de redação
científica, uma forma de
ensinar a maquiar o trabalho ou
“enganar” o leitor?
A redação difere em cada forma
de conhecimento humano,
seguindo seus objetivos
específicos
Religião x Artes x Ciência
Todas tentam convencer, mas
de formas diferentes
Dogmatismo,
hierarquia,
ameaças (em
algumas)...
Impressões,
argumentos
sensitivos e
subjetivos...
Profeta Maomé....reações diferentes entre
cientistas e religiosos!
Razão baseada em testes
de hipóteses
e
Abordaremos
a
redação
para
argumentos que podem ser
expressar
os resultados dessa
DESMORONADOS.
Menos
sujeita
a
subjetivismos.
forma específica de
conhecimento humano
“In science, the credit
goes to the man who
convinces the world,
not the man to whom
the idea first occurs.”
Sir Francis Darwin (1848 - 1925)
The better you write, the more people will take notice
“A naturalist's life
would be a happy
one if he had only
to observe and
never to write.”
Charles Darwin
O curso será voltado
para a redação de
artigos científicos,
mas o mesmo
raciocínio pode (e
deve) ser empregado
em projetos,
dissertações, teses
etc.
Volpato (2010)
Erros conceituais
aparecem no texto
Epistemologia: também chamada de teoria do conhecimento, é o ramo da filosofia que trata da natureza, das origens e da validade do conhecimento
1) Porque os cientistas
escrevem?
Porque escrever um artigo
científico?
“Publish or perish”
or
“Publish and flourish”
 Para conseguir emprego
 Para manter o emprego
 Para conseguir um
emprego melhor … e
ganhar mais dinheiro
 Para se tornar famoso
 Para ganhar o Nobel!
Por razões científicas
 Para comunicar seus
resultados:
– Tornar suas descobertas
públicas
– Evitar pesquisas repetidas
– Para conseguir mais fundos
para pesquisa
– Para aprender a partir de
outros
Por razões científicas
 Para melhorar a avaliação do seu programa de pósgraduação na CAPES
– Cursos bem avaliados produzem alunos com melhores
perspectivas de mercado.
 Para melhorar a avaliação do seu curso de graduação
– Cursos bem avaliados produzem alunos com melhores
perspectivas de mercado.
“...uma redação científica descuidada indica
um pensamento também descuidado e ambos
são desastrosos para a pesquisa e para a
divulgação da mesma.”
Matthews et al. (1996)
Pode-se ter uma ideia acerca da cozinha de
um restaurante pelo seu banheiro
Porque os cientistas escrevem ?
 Tornar as descobertas públicas é uma boa forma
de dar satisfação à sociedade sobre o dinheiro
investido no seu laboratório!
ATENÇÃO:
Desconfie de um pesquisador que possui vários
resumos em eventos mas não publica. É sinal que
ele recebe verbas, faz pesquisa e viaja (na
maioria das vezes com dinheiro público) mas suas
conclusões não passam pela REVISÃO POR
PARES! (L. M. Bini)
Que língua usar?
Que língua usar?
 A linguagem científica internacional é o inglês
 Porque não utilizar espanhol, português?
 Em termos democráticos, deveria ser o chinês (>
1 bilhão de pessoas!) – sorte nossa que é o
inglês!
Alguém se habilita?
Que língua usar?
 A escrita em inglês deve ser padrão e sem falhas
(tanto o inglês britânico como o estadunidense
podem ser utilizados, mas nunca misturados)
 Esse ponto tem sido contestado: e os
canadenses?
=> Sempre peça a ajuda de alguma colega nativo
na língua (ou busque ajuda profissional)
Serviço profissional:
American Journal Experts, English Journal
Experts, as próprias revistas (algumas) etc.
Para quem os cientistas escrevem?
 Embora você escreva para seus pares,
seus artigos também devem ser
compreensíveis pelos seguintes leitores:
1. Cientistas cuja língua nativa não é o inglês
2. Estudantes que estão somente iniciando suas
carreiras
3. Cientistas que leem artigos de fora de sua disciplina
4. Jornalistas com uma compreensão razoável do
método científico
Um exemplo de sucesso do item 4
Para quem os cientistas escrevem?
Para quem os cientistas escrevem?
Para seu (sua) namorado(a), principalmente se
ele(a) for cientista!
2) Antes de iniciar um
artigo – o que fazer?
Conteúdo
 Um artigo começa a ser escrito na
concepção da pesquisa
DICA IMPORTANTE
Antes mesmo de iniciar seu trabalho:
– Tente visualizar as principais tabelas e
figuras que ele vai produzir
– Quais análises você vai utilizar
– Principalmente, qual sua hipótese
Ou seja, tente traçar uma
trajetória
Em um projeto, testou-se a hipótese de que
“uma espécie de planta exótica afetava
negativamente a diversidade de plantas
nativas”.
Pelo menos duas predições foram geradas:
(i) As curvas cumulativas de espécies
resultariam em menor riqueza em
quadrados colonizadas pela exótica;
(ii) Haveria redução da S de espécies
nativas com o aumento da biomassa da
exótica.
As curvas cumulativas de
espécies resultariam em
menor riqueza em
quadrados colonizadas
pela exótica
Número de espécies
Predição (i):
Locais não invadidos
Locais invadidos
Número de espécies
Número de espécies
Quadrados
lagoas
Quadrados
Quadrados
Haveria redução da S de
espécies nativas com o
aumento da biomassa da
exótica
Número de espécies
Predição (ii):
Número de espécies
Número de espécies
Biomassa da espécie exótica
Biomassa da espécie exótica
Biomassa da espécie exótica
Figuras e tabelas extras:
- Mapa dos locais e estações amostradas;
- Tabelas com os resultados estatísticos (podem
ser apresentados no texto);
- Tabelas com espécies (podem ser
apresentadas como apêndice).
Antes de iniciar...
É sempre bom lembrar: faça um bom planejamento
amostral, pois NÃO HÁ REMÉDIO PARA ERROS
FATAIS (“FATAL FLAWS”)!
Então, leve MUITO A SÉRIO seu planejamento
experimental, de outra forma seu trabalho não
será publicado em uma revista internacional.
Exemplo real de um erro fatal: criação de gradiente de
temperatura em uma casa de vegetação para testar efeito do
aquecimento global sobre o crescimento de plantas
Gradiente de temperatura
leste
entrada da estufa
oeste
fundo da estufa
Antes de iniciar...
Um trabalho recentemente submetido à revista Aquatic
Botany, e praticamente aceito:
Editor's comments:
dear dr Becker Rodrigues,
thank you for your revision. I have several minor points left,
and a more serious question on your experimental design.
Did you, and how did you randomise? Please inspect the
annotated pdf.
Best regards
Jan Vermaat
OU SEJA,
PLANEJAMENTO
É TUDO!
Antes de iniciar...
 Faça um levantamento bibliográfico
– Use várias possibilidades (Thomson ISI (WoS),
Biological Abstracts..) – disponíveis no Portal
de Periódicos da CAPES
– Faça várias combinações de palavras-chaves
10504 papers
Macrophyte*
10124 papers
Antes de iniciar...
Faça um bom levantamento bibliográfico porque...
HÁ UMA ENORME CHANCE DE QUE ALGUÉM
JÁ TENHA FEITO ALGO PARECIDO OU...
EXATAMENTE IGUAL AO QUE VOCÊ
ACHA QUE SERÁ INÉDITO!
Antes de iniciar...
Um exemplo próprio...
um índice unificador de diversidade baseado em
uma família de índices
A família de Hill (e a entropia de Tsallis)
Mendes et al. (2008)
Mendes et al. (2008)
Antes de iniciar...
OU SEJA:
Publicar é importante mas... SER RÁPIDO PODE
SER MAIS!
Existem milhares de pessoas no mundo
EXATAMENTE agora com ideias parecidas com
as suas!
Cuidado na hora de escolher um projeto...
Escolha um problema importante, para a
ciência ou para a sociedade.
“...um cientista de
qualquer idade que quer
fazer descobertas
importantes, deve estudar
problemas importantes.”
“Uma grande parte da arte do solúvel é a
arte de propor hipóteses que possam ser
testadas por experimentos praticáveis.”
3) A importância de
hipóteses e predições
Conteúdo: a importância das
hipóteses
A hipótese direciona o estudo, determinando
o que o pesquisador pretende buscar, dentro
de um universo maior.
Algumas perguntas são mais facilmente respondidas
com a formulação de uma hipótese (Volpato, 2010).
Nem sempre a hipótese é a melhor estratégia
da pesquisa (Volpato, 2010).
Pesquisa descritiva
Conteúdo: a importância das
hipóteses
HIPÓTESE: ideia pré-concebida acerca dos
resultados que serão obtidos;
Uma pergunta que já contém a resposta.
Conteúdo: a importância das
hipóteses
Não se esqueça:
- Uma hipótese DEVE ser passível de rejeição
Exemplo:
“No presente trabalho testou-se a hipótese de que a
comunidade de peixes difere entre os ambientes
investigados.”
Dificilmente essa hipótese será rejeitada,
porque SEMPRE haverá diferença em algum
atributo (ex., diversidade, riqueza,
equitabilidade ...)
Evitar hipóteses gerais do tipo:
Nesse trabalho testamos a hipótese que:
... o ambiente X difere do Y.
... a espécie W difere da Z.
... o tempo T difere do tempo T+1.
Essas hipóteses são fracas, pois:
- são desprovidas de um contexto teórico
mais geral;
- são praticamente impassíveis de rejeição;
- aproximam-se mais de predições (resultados
a serem testados com testes estatísticos) do
que de hipóteses (associadas com conceitos
gerais).
“A menos que uma hipótese restrinja o
número de observações possíveis de eventos
no universo, um experimento não produzirá
nenhum efeito. Uma hipótese totalmente
permissível diz nada.”
P. Medawar
Hipóteses gerais do tipo:
... o ambiente X difere do Y.
... a espécie W difere da Z.
... o tempo T difere do tempo T+1.
Podem ser testadas desde que BEM
CONTEXTUALIZADA EM UMA
ABORDAGEM TEÓRICA MAIS
ABRANGENTE.
Evite o uso de hipóteses ad hoc:
É uma construção teórica sem o intuito de
ser testada, pois apenas visa evitar que a
hipótese principal seja derrubada.
Volpato (2013)
Exemplo:
Hipótese: “O mordomo matou o patrão”
Os dados coletados indicam que o mordomo é
inocente (por ex., houve um álibi)
Hipótese ad-hoc: “O mordomo conseguiu um
sósia seu para lhe garantir um álibi”.
Conteúdo: a importância das
hipóteses
Re-organizando as ideias (segundo FarjiBrener, 2003 e Singer, 2007)
A distinção entre hipóteses, predições e
pressupostos (ou premissas) não é clara
para a maioria dos pesquisadores.
Uso
parcialmente
correto ou
incorreto das
hipóteses e
predições
Hipótese: suposição de uma coisa possível, da qual se
extraem consequências (Larousse).
Predição: consequências das hipóteses (as predições
são testadas).
O uso de uma predição como se fosse uma
hipótese não permite ao leitor conhecer as
IDEIAS que estão sendo avaliadas pelo autor.
Exemplo:
Hipótese de trabalho:
“A complexidade estrutural de habitats afeta
positivamente a diversidade de espécies.”
Stiling (2002)
Predições:
“Córregos com fundo pedregoso terão maior
diversidade de invertebrados do que córregos com
fundo arenoso.”
“A diversidade de invertebrados associados a
macrófitas aumenta com a dimensão fractal (um
indicador da complexidade).”
“Florestas com maior número de estratos suportam
maior diversidade de insetos”.
“Florestas com maior número de estratos suportam
maior diversidade de aves”.
Predição 2
HIPÓTESE OU
TEORIA: IDEIAS
GERAIS
Predição 5
O uso dessas predições como hipóteses não
permitiria avaliar A PRINCIPAL IDEIA OU OS
CONCEITOS que cercam a pesquisa.
Relação entre complexidade estrutural
de habitats e diversidade de espécies
Pressupostos (premissas):
O que levou a formular a hipótese.
Stiling (2002)
A maior complexidade estrutural dos habitats
fornece abrigo e mais nichos (inclusive
alimentar), o que eleva a diversidade.
“Testei experimentalmente duas predições da hipótese de
que a relação positiva entre diversidade de habitat e
diversidade de espécies surge a partir da redução nos efeitos
negativos da competição inter-específica. Por permitir que as
espécies partilhem o habitat e evitem competição, a
diversidade de habitat deveria 1) facilitar a adição de uma
espécie intermediária em uma comunidade pré-existente e 2)
reduzir os efeitos negativos daquela espécie sobre os
membros da comunidade.”
Ex. duas espécies de Typha aparentemente
colonizam profundidades diferentes.
Ex. duas espécies de Typha aparentemente colonizam
profundidades diferentes.
Hipótese: a
profundidade
determina a
distribuição
dessas espécies.
Predição 1: uma
das espécies
colonizará
regiões mais
profundas que a
outra.
Ex. duas espécies de Typha apresentam preferência por
profundidades diferentes.
Hipótese: a
profundidade
determina a
distribuição das
espécies.
Predição 2: quando
ambas crescem
isoladamente, uma das
espécies continuará
colonizando locais mais
profundos.
Exemplo anterior:
A zonação era aparentemente o fator determinante,
mas a competição parece ser mais importante
Ou seja,
uma hipótese aceita pode ser refutada por um
futuro experimento.
Assim, filosoficamente, rejeitar uma
hipótese seria mais robusto do que aceitá-la!
Pontos para reflexão:
1) Deveríamos encarar as rejeições de
hipóteses de forma natural;
2) Editores e revisores deveriam encarar
“resultados negativos” com naturalidade.
Conselho de P. Medawar (sobre hipóteses):
“Não posso oferecer a nenhum cientista de
qualquer idade melhor conselho que esse: a
intensidade da convicção de que uma hipótese
é verdadeira não tem nenhuma influência
sobre o fato de ela ser verdadeira ou não.”
“Every experiment may be said to exist only in
order to give the facts a chance of disproving
the null hypothesis. Yet in many experiments
it is well known (or at least well accepted) that
there are differences among the treatments.
The point of the experiment is to estimate the
magnitude of these differences and provide
estimates of the standard errors associated
with the estimates of these differences.“
Fisher, R.A. (1935) The Design of Experiments. Edinburgh: Oliver and
Boyd.
Tipos de trabalhos (Volpato, 2010):
Descritivos: descrevem fenômenos, medem e
comparam resultados de variáveis etc.
De associação: testam associação entre
variáveis
De interferência: testam relação de
interferência entre variáveis
As duas últimas envolvem testes de
hipóteses
Volpato (2010)
Exemplos de trabalhos:
Descritivos: comparar a diversidade de
duas áreas
De associação: testar a hipótese de que a
complexidade de habitats encontra-se
positivamente relacionada com a diversidade
De interferência: testar uma hipótese
acerca dos mecanismos envolvidos na relação
entre complexidade de habitats e
diversidade
Revistas melhores:
Em geral, o mesmo trabalho deve mostrar a
associação e os mecanismos envolvidos
Caso você tenha feito um trabalho de
associação, pode inferir sobre os mecanismos
com base em dados da literatura
Volpato (2010)
Importante:
O conteúdo de um artigo científico
(título, introdução, métodos,
resultados e discussão) deve ser
coerente com cada uma dessas formas
de trabalho.
Uma experiência recente...
Ególogos: quando o EGO – e não a curiosidade – dirige
sua forma de trabalho.
- Apaixonam-se pelas ideias e as mantêm
independente dos resultados (dados);
- Encaram a rejeição de uma hipótese como uma
derrota.
Maneiras para ACEITAR hipóteses:
1) Apostar no seguro – testar hipóteses que quase
certamente serão aceitas.
2) Indiferença acadêmica – prestar atenção
somente aos dados que se ajustam.
3) Coleta inconsciente de dados que se “ajustam”
à hipótese.
4) Amostragem (im)perfeita – criticar a amostragem
quando os resultados refutam uma hipótese, mas
desconsiderar críticas quando os resultados levam à
aceitação da hipótese. As críticas do desenho
amostral devem ser feitas independente dos
resultados e sempre a priori.
5) Tortura dos dados – utilização de métodos
estatísticos convenientes para a aceitação da
hipótese.
6) Manipulação numérica
Pode-se incluir o “outlier” e deixar o leitor
decidir
Carvalho et al.
(2013)
Muitos cientistas usam essas estratégias para
aumentar a quantidade de artigos publicados, pois
hipóteses aceitas são mais facilmente publicáveis.
Porém...
Esses cientistas
nunca vão ser
inovadores!
Conteúdo: a importância das
hipóteses
De onde surgem as ideias (hipóteses e perguntas)?
Uma das fases menos compreendidas (Peters,
1991) e ignoradas pelos professores (Singer,
2007)
Interesse dos filósofos versus interesse dos
cientistas
“A maneira como uma nova ideia ocorre a um homem
[...] é irrelevante para a análise lógica do
conhecimento científico. Este não se ocupa com
questões de fato [...] mas apenas com questões de
justificativa ou validade” (Popper, 1968 in Mayr
(1997).
“...aos olhos do cientista, o método que se usa para
refutar uma hipótese errônea é em geral algo de
interesse trivial, ao passo que a descoberta de um
novo fato ou a formulação de uma nova teoria é
frequentemente da maior importância” (Mayr, 1997).
Ex 1 (Singer, 2007).
um pesquisador notou que corvos que utilizavam uma
carcaça “gritavam”.
Para um desavisado, a observação soaria como uma
“festa de corvos”.
A observação interessou ao pesquisador porque ele
compreendia seleção natural e sabia que grupos de
corvos são incomuns. Porque os corvos gritam,
chamando a atenção de outros, se seria melhor não
fazer alarde e ficar com a carcaça sozinho?
Na sequência, o pesquisador gerou uma lista de
hipóteses baseadas em observações em trabalhos
com espécies relacionadas.
Finalmente, delineou métodos observacionais e
experimentais, aplicáveis aos corvos para testar
suas hipóteses.
Lição:
O pesquisador SOMENTE se interessou pelo objeto
da pesquisa e GEROU HIPÓTESES (IDEIAS)
porque tinha conhecimento sobre seleção natural e
sobre o funcionamento da sociedade dos corvos.
Ou seja...
Sem muita leitura e conhecimento,
nada se produz ideias novas!
“The writer who
produces more than
he reads…a sure
mark of an amateur.”
Contos proibidos do marques de Sade
“Chance favours the prepared mind...”
Louis Pasteur
1822-1895
Surgimento de ideias a partir de outras
áreas da ciência:
Ex2. Índice de Shannon (R. Margalef, a partir da
teoria da informação).
Ex3. Uso da
dimensão fractal
como indicador da
complexidade de
habitats
Ex. 4: Surgimento inusitado
Arthur Hasler:
Demonstração da impressão olfativa como explicação
para os salmões migrarem para os mesmos rios onde
nasceram.
Caminhando pelas montanhas e córregos
em sua cidade natal, ficou surpreso como
os aromas das plantas nativas o remetiam
à infância.
SILnews 34 (sep 2001)
…he suddenly had what he called a "déjà senti" experience, "as a cool
breeze, bearing the fragrance of mosses and columbine, swept around
the rocky abutment, the details of this waterfall and its setting on the face
of the mountain suddenly leapt into my mind's eye" (1966, p. 65). Among
other things these smells reminded him of childhood memories and of
home. If smells could trigger such memories in a human, they must be at
least as evocative for salmon, Hasler reasoned. This revelation led to a
rich and productive series of experiments and field trials on olfactory and
solar orientation in fishes.
G. Likens (Nat Ac Sci)
Conteúdo
 Algumas possibilidades:
1) Resultados fantásticos, discussão
pertinente e bem contextualizada nos
paradigmas modernos = publicação garantida
nas melhores revistas
Conteúdo
2) Resultados não tão bons, mas bem
contextualizados nos paradigmas modernos
= publicação garantida em boas ou mesmo
nas melhores revistas
A arte de lapidar, transformar pedra bruta
em joia rara!
Alguns exemplos bem sucedidos:
Conteúdo
3) Resultados fantásticos, mas discutidos
fora de contexto ou dos paradigmas
modernos = insucesso na publicação em boas
revistas
A arte de transformar ouro em lixo!
Conteúdo
4) Resultados ruins, discutidos fora de
contexto ou dos paradigmas modernos;
pesquisa mal conduzida = insucesso na
publicação em qualquer revista!
4) Organização de um
artigo de pesquisa
primária: título, abstract,
introdução, métodos,
resultados, discussão,
agradecimentos e
referências
Conteúdo
 A estrutura de um artigo segue a sequência
de argumentos críticos:
– Apresenta-se uma pergunta (ou hipótese)
– Mostra-se evidências que suportam possíveis
respostas para a questão
– Tenta-se persuadir o leitor de que as respostas
escolhidas são verdadeiras.
Regra 1
Um artigo,
uma (es)história!!!
PORÉM, evite fazer
“ciência salami”!
Quando todos os resultados
juntos produzem uma
mensagem única que pode
ser apresentada em um
artigo com tamanho normal,
elas se completam e devem
ficar juntas.
Regra 2
SEJA SIMPLES!
 “Todas as coisas grandes têm nomes pequenos,
como vida e morte, paz e guerra, ou poente, dia,
noite, amor, casa. Aprenda a usar pequenas
palavras de forma grande – é difícil fazer isso.
Mas elas dizem o que você quer dizer.”
 Quando você não sabe o que você quer dizer, use
palavras grandes: elas frequentemente enganam
pessoas pequenas”
Pratique a habilidade de síntese, pois
ela é de extrema importância para
um cientista.
Regra 3
USE A
LINGUAGEM
CORRETA
Organização de um artigo científico
primário
 No século 17, Newton e seus colegas escreviam
os resultados de sua pesquisa em ordem
cronológica:
– Primeiro eu fiz isso...
– Então eu fiz aquilo...
– Depois eu fiz aquele outro …
 Após a década de 40, a maioria das revistas:
– Segue formatos padrões
– Passam por revisões pelos pares
 IMRAD-system – introduzido pelo Instituto de
Padronização Nacional dos EUA, em 1979
Organização de um artigo científico
primário
Organização de um artigo científico
primário – IMRAD:
 INTRODUÇÃO
– O que você fez? Porque você fez essa pesquisa?
 MATERIAIS E MÉTODOS
– Como você fez sua pesquisa?
 RESULTADOS
– O que você encontrou?
 DISCUSSÃO
– Qual o significado dos seus resultados?
 (CONCLUSÕES)
Organização de um artigo científico
primário











Título
Abstract
Introdução
Materiais e Métodos (Métodos)
Resultados
Discussão
(Conclusões)
Agradecimentos
Referências
Tabelas e Figuras, legendas
(Apêndices)
Mas...antes de abordar cada uma dessas
sessões...
Transforme um escritor nato em um estúpido
“Parabéns, agora
você é capaz de
escrever artigos
técnicos,
impessoais e
chatos como eu
e os outros
senhores – bem
vindo à
Academia”.
10 regras para escrever artigos chatos
1) Evite foco:
- Introduza várias questões, ideias e evite a
formulação de hipóteses claras;
- Super-enfatize o que não é importante.
2) Evite originalidade:
- Faça questão de repetir experimentos que
já foram realizados mais de 100 vezes!
“It has been shown numerous times that seagrasses are very
important to coastal productivity (Abe 1960, Bebe 1970). It was
decided to examine whether this was also the case in Atlantis ’’
Fictive Cebe
Não há nada errado em repetir experimentos, mas deve
haver uma boa razão para você fazer isso.
3) Escreva artigos longos:
- Nunca se inspire em artigos curtos, como os
que são escritos na Nature ou Science.
4) Remova implicações e especulações:
... pois elas podem atrasar o reconhecimento
de uma descoberta.
5) Não use ilustrações, principalmente as
mais informativas:
- “Muitas ideias
complexas podem ser
melhor visualizadas
em uma figura que
em 1000 palavras!”
6) Omita degraus necessários para a razão e
7) Abuse de termos técnicos e abreviações:
- Esses quesitos tornam uma publicação quase
algo secreto, acessível a um público restrito;
além disso, evita o uso das descobertas por
cientistas de outras áreas e a potencial
inter-disciplinaridade.
8) Suprima completamente o humor e a
linguagem florida:
A linguagem científica não tem que ser
angustiante! Um pouco de humor faz bem.
“According to Garfield (2005), impact critics cite all sorts of anecdotal
citation behaviour which does not represent average behavior of IF.
Everybody would probably agree with this statement, except those
who are outliers!”
Thomaz & Martens, 2009
9) Transforme espécies e biologia em pura
estatística.
10) Cite numerosos papers com afirmações
auto-evidentes:
Cite vários, mesmo aqueles que corroboram as
afirmações mais triviais – isso realmente
vai contribuir para que seu artigo fique
muito chato mesmo!
Os leitores agradecem!
A despeito da resistência das
revistas, dos editores e dos
pares, porque não tentar
transformar a ciência em algo
mais agradável?
Um exemplo extremo
Download

Redação Científica