Tipo II
REDAÇÃO
2011
RENATA
8º
UNIDADE I
Pontuação
Atividades:
● Leia o texto a seguir:
Micro:
Prova:
Total:
SALVO PELO FLAMENGO
Desde garotinho que não sou Flamengo, mas tenho pelo clube da Gávea uma dívida séria, que torno pública
nesse escrito. Em 1956, passei uma semana em Estocolmo, hospedado em um hotel chamado Aston. Era primavera,
pelo menos teoricamente, havia um congresso internacional na cidade, os hotéis estavam lotados, criando contratempo
para turistas do interior ou estrangeiros. A recepção do Aston, por exemplo, vivia sempre cheia de gente implorando por
um quarto ou discutindo a respeito de uma reserva feita por telegrama ou telefone.
Estava há dois ou três dias na cidade, quando me pediram para receber um brasileiro e encaminhá-lo ao hotel,
onde lhe fora reservado de fato um apartamento. Era uma hora da madrugada quando entramos no hotel e me
encaminhei até o empregado do balcão, dando-lhe o nome do meu amigo e lembrando-lhe a reserva. O funcionário,
homem, de uns sessenta anos e de uma honesta cara escandinava, tomou uma atitude estranha e difusa, que a
princípio me surpreendeu e ia acabando por me indagar: ele não confirmava a existência da reserva, nem deixava de
confirmar. Como começasse a protestar, vi que seu rosto tomava uma expressão aflita; eu entendendo cada vez
menos. Quando passei a exigir o apartamento com alguma energia, o homem, trêmulo, nervoso, pediu-me desculpa e
trouxe afinal a ficha de identificação. Foi aí que vi levantar-se da penumbra de uma saleta contígua e gigante.
Se o leitor conhece um homem forte, muito forte mesmo, imagine uma pessoa duas vezes mais forte, e terá uma
ideia desse gigante que veio andando até nós, botando ódio pelos olhos e espetacularmente bêbedo. O monstro
passou por cima com desprezo e, agarrando o empregado pela gola do uniforme, entrou a sacudi-lo e insultá-lo em
sueco. Às vezes, éramos arrolados nessa invectiva, pois o gigante nos apontava enquanto dizia coisas. O empregado,
demonstrando possuir um bom instinto de conservação, deixava-se sacolejar à vontade. Rosnando, o ciclope foi
sentar-se de novo na saleta, onde só então dei pela presença de outro sujeito, também bêbado, mas sinistramente
silencioso.
É hoje, pensei. Saí do meu Brasilzinho tão bom, fazer uma viagem imensa, para ser trucidado sem explicação
por um bêbado. O fato de ser na Suécia, onde arbitrários atos de violência não são comuns, ainda tornava mais
absurdo, um absurdo existencialista, o meu triste fim.
Indaguei ao empregado o que se passava. Ficou mudo. Insistia na pergunta, e ele, sussurrando
desamparadamente, explicou-me que o gigante estava a pensar: primeiro, que não conseguira vaga no hotel por ser
sueco e estar embriagado; segundo, que nós conseguiríamos por ser americanos, e norte-americanos. Ora, se meu
amigo de fato era meio ruivo, seu jeitão era mineiro; quanto a mim, se fosse americano só poderia ser filho de
portugueses. Por outro lado, o meu inglês amarrado não deixava a menor dúvida sobre a questão de ser ou não ser
americano. Só mesmo um sueco bêbado em uma madrugada de neve e vento iria supor que fôssemos americanos.
Mas agora era o próprio gigante que bradava para nós com sarcasmo e ira:
─ American! American!
Fiquei um pouco mais esperançoso, acreditando que ele falasse inglês, e disse-lhe, exagerando minha alegria e
o meu orgulho por isso, que não éramos americanos coisa nenhuma, éramos brasileiros.
Não entendeu ou talvez pensou que estivéssemos covardemente a renegar a nossa pátria, voltando vociferar,
em um esforço linguístico que contraia todos os músculos do seu rosto:
─ American! Dólar! No like!
Essa versátil discussão ia levar-me ao abismo, quando de súbito me apareceu que a palavra “Brasilian” havia
penetrado enfim em sua testa granítica. Descontraindo os músculos, o gigante me perguntou:
─ Brazil?! No american? Brazil?
Não tinha certeza se ele estava me gozando, mas sua expressão era tão estranhamente deslumbrada e infantil
que afirmei cheio de entusiasmo:
─ Yes, Brazil.
Ele se levantou, cambaleou, aproximou-se, apontou meu amigo:
─ Brazil, Brazil.
Veio chegando, sorrindo, em pleno estado de graça e grito com alma, como se saltasse o nascimento de um
mundo novo.
─ Flamengo!! Flamengo!!
Imediatamente o gigante entrou em transe e começou a fazer problemáticas firulas com uma bola imaginária,
mas dando a entender cabalmente o quanto ele admirava (admirava é pouco: o quanto ele amava) o malabarismo dos
nossos jogadores. O gigante se desencantara, virando menino. A certa altura, depois de fazer um passe de letra,
parou e confessou-me com um orgulho caloroso:
─ I Flamengo! I Rubens!
Ele não era sueco, não era gigante, não era bêbado, não era um ex-campeão de hóquei (conforme soube
depois), era Flamengo, era Rubens.
─ You! Flamengo?
Que o Botafogo me perdoe, mas era um caso de vida ou morte, e também gritei descaradamente:
─ Flamengo! Yes! Flamengo! The greatest one!
CAMPOS. Paulo Mendes. Salvo pelo Flamengo. In: SANTOS, Joaquim Ferreira dos. As cem melhores crônicas
brasileiras. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. p.117.
01. De acordo com seus conhecimentos acerca do gênero em questão, identifique, no texto em estudo, as
características que nos permitem classificá-lo como uma crônica. (0,5)
Texto curto; apresenta elementos da narrativa (narrador, personagem, tempo, espaço, ação), uma vez é
crônica narrativa; apresenta o ponto de vista do autor; há humor;provoca reflexão e tem como ponto de partida
uma situação retirada do cotidiano, contada, provavelmente, com certo exagero.
02.
Há passagens no texto recheadas de humor. Localize, nos parágrafos indicados a seguir, frases ou expressões
engraçadas. (0,5)
Parágrafo 1:
Uma boa parte do parágrafo contém frases ou expressões engraçadas. O importante é o aluno localizar o
parágrafo com precisão.
Parágrafo 4:
Uma boa parte do parágrafo contém frases ou expressões engraçadas. O importante é o aluno localizar o
parágrafo com precisão.
Parágrafo 7:
Uma boa parte do parágrafo contém frases ou expressões engraçadas. O importante é o aluno localizar o
parágrafo com precisão.
02. No trecho “É hoje, pensei. Saí do meu Brasilzinho tão bom, fazer uma viagem imensa, para ser trucidado sem
explicação por um bêbado. O fato de ser na Suécia, onde arbitrários atos de violência não são comuns, ainda
tornava mais absurdo, um absurdo existencialista, o meu triste fim.”, qual crítica o narrador faz? (0,5)
O autor faz crítica à violência, demonstrando que há em todo lugar. Mostra também que há contradição, pois,
na Suécia, “arbitrários atos de violência não são comuns”.
03. Ao desconfiar que o narrador e seu amigo eram norte-americanos, o “gigante” demonstra claramente
insatisfação. Quais hipóteses poderíamos apontar diante desse comportamento? (0,5)
Podemos supor que ele não gostava de norte-americanos; ppodemos apontar o preconceito, além de apontar a
indignação quanto ao tratamento privilegiado que os norte-americanos recebem.
04. No final do texto, o autor pede “perdão” ao Botafogo. Ele não poderia ter pedido apenas “desculpa”? Diante
disso, o que podemos inferir quanto ao comportamento dos torcedores diante de seus times de coração? (0,5)
Podemos inferir que há adoração, endeusamento diante dos seus times, que são tratados como algo sagrado.
06.
07.
O texto “Salvo pelo Flamengo” apresenta elementos da narrativa. Insira, no quadro a seguir, os elementos
solicitados. (1,0)
Personagens:
Autor + pessoas que estão
a sua volta.
Fato:
As ações vividas pelos
personagens.
Espaço:
É o do próprio autor,
restrito a sua presença.
Tempo:
Relacionado à existência
do autor.
O narrador, um brasileiro, o
funcionário e o sueco
(gigante).
Conquista de uma vaga
no hotel; tentativa de
comunicação a fim de
esclarecer um mal
entendido.
Estocolmo, em um
hotel.
Primavera de 1956,(por
volta de uma hora da
madrugada).
Leia este texto: (1,0)
MINHA CAMA É UM VELEIRO
A minha cama é um veleiro;
nela me sinto seguro:
com minha roupa de marinheiro,
vou navegando no escuro.
De noite embarco e sacudo a mão
para os amigos no cais;
fecho os olhos e pego o timão;
não ouço nem vejo mais.
Cauto marujo, levo em segredo
para a cama uma fatia
de bolo e também algum brinquedo,
pois é longa a travessia.
Corremos de noite o mundo inteiro:
Mas
quando chega a alvorada,
eis-me a salvo em meu quarto e o veleiro
de proa bem amarrada.
Robert Louis Steverson
Alvorada: amanhecer
Cauto: cauteloso, cuidadoso
Proa: parte dianteira das embarcações
Timão: roda que serve para guiar uma embarcação
●
Com a finalidade de tornar o texto por completo coeso, é necessário inserir elementos coesivos, tais como as
preposições e conjunções. Dessa forma, leia o texto com atenção e complete os espaços com os elementos
adequados.
●
No texto, há um eu lírico que sonha. Em que se baseiam esses sonhos?
Seus sonhos se baseiam em um veleiro, em viagens no mar.
08.
Após a leitura atenta do texto abaixo, destaque os elementos (conjunções) que contribuem para a sua coesão. (0,5)
Seu relógio está certo?
“Os pontuais que me desculpem, mas a resposta para a pergunta acima é não. Mesmo que você tenha acertado
os ponteiros hoje pela manhã. Isso porque o tempo é um conceito bem mais abstrato do que imaginamos”.
Revista Superinteressante. Ed. 209.
09.
A coerência das frases a seguir está comprometida devido ao emprego inadequado dos termos destacados.
Assim, reescreva-as com as conjunções adequadas, a fim de dar-lhes unidade de sentido. (1,0)
a) Eles estudaram com muita dedicação, ou conseguiram uma excelente colocação no concurso.
Eles estudaram com muita dedicação, por isso conseguiram uma excelente colocação no concurso.
b) O dia estava chuvoso, porque nós fomos à praia.
O dia estava chuvoso, mas/porém/contudo/entretanto/todavia nós fomos à praia.
c) Fique calmo, porque não permita que o façam de bobo.
Fique calmo, mas não permita que o façam de bobo.
d) O Brasil será um país melhor, todavia todas as crianças estiverem na escola.
O Brasil será um país melhor quando todas as crianças estiverem na escola.
e) Muitas crianças não precisariam trabalhar para os pais fossem tão pobres.
Muitas crianças não precisariam trabalhar se os pais fossem tão pobres.
10.
Leia a tira. (1,0)
●
Explique por que a conclusão de Hagar está coerente. Para isso, indique os elementos presentes no texto.
O fato de o ambiente estar vazio prova que o leilão foi um sucesso.
Indique o elemento coesivo presente no segundo quadrinho e explique a sua contribuição para o humor da
tira.
A conjunção “mas”. O elemento coesivo retoma e, ao mesmo tempo, contradiz o que foi dito no quadrinho
anterior, uma vez que a ausência de Hagar não interferiu na venda dos móveis usados.
●
A árvore forte, mesmo sujeita a tempestades, continua produzindo seus frutos!
☻BOA PROVA!!!☻
GS
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